UNIVERSIDADE ESTADUAL DO CEARÁ CENTRO DE … · A minha irmã Isabelly, Por me ajudar com Nicole....

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UNIVERSIDADE ESTADUAL DO CEARÁ CENTRO DE CIÊNCIAS E TECNOLOGIA PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM GEOGRAFIA MESTRADO ACADÊMICO EM GEOGRAFIA EVELINE ANDRADE MESQUITA CONSERVAÇÃO DA VEGETAÇÃO NA SUB-BACIA HIDROGRÁFICA RIACHO DO SANGUE, CEARÁ- BRASIL: DINÂMICA ESPAÇO-TEMPORAL (2003-2014) FORTALEZA - CEARÁ 2016

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UNIVERSIDADE ESTADUAL DO CEARÁ

CENTRO DE CIÊNCIAS E TECNOLOGIA

PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM GEOGRAFIA

MESTRADO ACADÊMICO EM GEOGRAFIA

EVELINE ANDRADE MESQUITA

CONSERVAÇÃO DA VEGETAÇÃO NA SUB-BACIA HIDROGRÁFICA RIACHO

DO SANGUE, CEARÁ- BRASIL: DINÂMICA ESPAÇO-TEMPORAL (2003-2014)

FORTALEZA - CEARÁ

2016

EVELINE ANDRADE MESQUITA

CONSERVAÇÃO DA VEGETAÇÃO NA SUB-BACIA HIDROGRÁFICA RIACHO DO

SANGUE, CEARÁ- BRASIL: DINÂMICA ESPAÇO-TEMPORAL (2003-2014)

Dissertação apresentada ao Curso de Mestrado Acadêmico em Geografia do Programa de Pós-Graduação em Geografia do Centro de Ciências e Tecnologia da Universidade Estadual do Ceará, como requisito parcial à obtenção do título de mestre em Geografia. Área de Concentração: Análise Geoambiental e Ordenação do Território nas Regiões Semiáridas e Litorâneas. Orientadora: Prof.ª Dr.ª Maria Lucia Brito da Cruz

FORTALEZA - CEARÁ

2016

Dados Internacionais de Catalogação na Publicação

Universidade Estadual do Ceará

Sistema de Bibliotecas

Mesquita, Eveline Andrade.

Conservação da vegetação na sub-bacia hidrográfica

Riacho do Sangue, Ceará: dinâmica espaço-temporal

(2003-2014) [recurso eletrônico] / Eveline

Andrade Mesquita. – 2016.

1 CD-ROM: 4 ¾ pol.

CD-ROM contendo o arquivo no formato PDF do

trabalho acadêmico com 162 folhas, acondicionado em

caixa de DVD Slim (19 x 14 cm x 7 mm).

Dissertação (mestrado acadêmico) – Universidade

Estadual do Ceará, Centro de Ciências e Tecnologia,

Programa de Pós-Graduação em Geografia, Fortaleza,

2016.

Área de concentração: Análise Geoambiental e

Ordenação do Território nas Regiões Semiáridas e

Litorâneas.

Orientação: Prof.ª Dra. Maria Lucia Brito da

Cruz.

1. Bacia hidrográfica. 2. riacho do Sangue. 3.

Recursos Naturais. 4. Conservação da vegetação. 5.

Mapeamento I. Título.

EVELINE ANDRADE MESQUITA

CONSERVAÇÃO DA VEGETAÇÃO NA SUB-BACIA HIDROGRÁFICA RIACHO DO

SANGUE, CEARÁ- BRASIL: DINÂMICA ESPAÇO-TEMPORAL (2003-2014)

Dissertação apresentada ao Curso de Mestrado Acadêmico em Geografia do Programa de Pós-Graduação em Geografia do Centro de Ciências e Tecnologia da Universidade Estadual do Ceará, como requisito parcial à obtenção do título de mestre em Geografia. Área de Concentração: Análise Geoambiental e Ordenação do Território nas Regiões Semiáridas e Litorâneas.

Aprovada em: 05 de agosto de 2016.

BANCA EXAMINADORA

___________________________________________________

Profª. Drª. Maria Lucia Brito da Cruz (Orientadora)

Universidade Estadual do Ceará – UECE

___________________________________________________ Profª. Drª. Andrea Almeida Cavalcante

Universidade Estadual do Ceará – UECE

____________________________________________________

Profª. Drª Sheila Cavalcante Pitombeira

Universidade de Fortaleza - UNIFOR

Ministério Público do Estado do Ceará - ESMP

Dedico a Nicole,

In memoriam

,

Dedico, ainda, a todos que têm

um sonho,

uma ideia e

um segredo.

AGRADECIMENTOS

Ao chegar ao cume da montanha

Relembro o seu sopé

A geografia me ensinou

A saber, andar a pé.

A subir cada degrau

A perceber o sinal

De onde se vem a fé.

Agradeço aos meus pais

O sacrifício ofertado

Na minha criação e educação

Todo esforço empenhado.

Mamis Rocheli e Papis Chiquin

Nosso amor nunca terá fim,

Pois é sentimento sagrado.

Sei que foi difícil pra vocês

Entender o mundo acadêmico

Meus medos nessa jornada,

Explicar era polêmico.

Vocês me deram asas.

Como eu fui, enfim, amada

Guardarei todos os momentos.

Agradeço aos amigos

A dupla Laize e Leo

Na hora do desespero

Vocês foram o meu céu

Nossa boa capanguince,

Desculpe minhas tolices

Vocês têm sabor de mel.

Foi na origem da vida

Desse nosso universo.

Que Liza, minha amiga,

Foi poesia e verso.

Foi tempo presente nas horas,

Foi a calma da aurora

Quando tudo era adverso.

Agradeço a minha orientadora

Por ter aceitado este trabalho.

Obrigada, Lúcia Brito,

Por crédito me ter dado.

Foram tantas ideias

Parecia a Pangeia,

Minha tese de mestrado.

Juliane, Vanessa, Valeska e Alanna,

Pensem num tempo bom.

A nossa amizade é música,

As dificuldades só deram o tom

Tantas coisas foram vividas.

E quem venha mais ainda

Deus fortalece com o dom.

Paulo Thiers e Andreia Almeida,

Agradeço a contribuição.

Meus queridos professores,

Vocês deram a emoção.

Foram a força da defesa,

Mostraram toda grandeza

No exame de qualificação.

Agradeço a minha irmã Juliana

Por toda preocupação.

Pelo bom humor

Nessa hora de apreensão

Às sobrinhas Ayla e Brenna,

Fazer rir valeu a pena

Foi total descontração.

A minha irmã Isabelly,

Por me ajudar com Nicole.

Enfim, ela se foi,

Deixou uma saudade enorme.

Estávamos juntas pra dizer adeus

Só ela e eu,

Não tem quem não chore!

Aos meus amigos

João Victor, Italo e Raquel,

Por me fazerem sentir amada

E também confiante.

Sei que dei uma sumida

Vocês não entenderam a partida

Mas nossa amizade não diminuiu

em mim um só instante.

Agradeço ao IPECE, FUNCEME e

CPRM,

Pelo auxílio e disposição

O embasamento da minha pesquisa

Saiu dessa atenção

De Niveo, Guilherme e Manoel

Vocês caíram do céu

Foram demais, foram brilhantes.

Agradeço ao amigo,

O chato Antônio José,

Ao Carlim, pelas xerox

E suas risadas de fé.

À FUNCAP eu agradeço

Pelo financiamento e apreço

Colocando a pesquisa de pé.

Aos funcionários da Pós,

Em especial Adriana,

Sua ajuda era constante

Uma paciência que emana.

Ao bom Deus agradeço,

Isso tudo não tem preço,

Vai além da força humana.

O universo conspira

Quando o desejo é da alma.

Eu mal sabia o que viria

Quando iniciei a jornada.

Foi aqui que cresci

Adulta, me fiz,

Nessa bela caminhada.

Colhi tantas histórias,

Conheci tantas pessoas,

Ajudei e fui ajudada,

Escuto uma canção que soa,

Ela fala de passado

Que no coração guardado

Hoje no peito ressoa.

Lembro como se fosse hoje,

Antes de me matricular

Os documentos perdidos

Foi coisa de endoidar.

Se eu pudesse mexer no tempo,

Por pelo menos um momento

Fazia tudo voltar.

As tardes no laboratório,

Amigos que foram passando,

Amigos que ficaram,

E assim foi passando os anos.

Quatro anos de graduação,

Dois de mestrado, que emoção,

Um filme está rodando.

A geografia me ensinou

A saber onde pousar;

Palavras de Saint-Exupery,

No deserto a voar.

Hoje sou mestre, porque descobri,

Sou apenas um aprendiz

Dessa Terra, doce lar.

Por fim, a pesquisa me fez ver,

Que este ciclo se encerrou.

É difícil dizer adeus,

Mas esse não me traz dor.

Estou indo, não se queixem.

Obrigada pelos peixes,

A vida só começou.

Eu finalizei uma etapa.

“Quando você está acostumado com

privilégio, igualdade parece com

opressão”

(Autor desconhecido)

“O sábio pode mudar de opinião.

O ignorante, nunca.”

(Immanuel Kant)

RESUMO

O estudo tem como recorte uma bacia hidrográfica, esta se comporta como uma

unidade natural de análise permitindo o estudo dos diversos elementos que

compõem a paisagem de forma integrada, favorecendo uma série de observações

quanto ao uso e à conservação dos recursos naturais existentes com destaque para

a vegetação que corresponde à síntese do equilíbrio dinâmico do meio ambiente.

Assim, a presente pesquisa visa à compreensão da relação do uso e cobertura da

terra com o estado de conservação da vegetação na bacia do Riacho do Sangue,

localizado na região semiárida do Ceará, mais especificamente na bacia hidrográfica

de planejamento do Médio Jaguaribe. A área da pesquisa apresenta uma extensão

de aproximadamente 2.463 km² e engloba os municípios de Deputado Irapuan

Pinheiro, Milhã, Solonópole e Jaguaretama. Destaca-se que a bacia do Riacho do

Sangue desagua no açude Castanhão, que representa um importante mecanismo

de reserva hídrica estratégica para o estado do Ceará. Foram empregadas na

pesquisa as bases teórico-metodológicas e sistêmicas por possibilitarem a análise

integrada das relações existentes entre a natureza e sociedade. De modo a

complementar a análise, utilizou-se a Ecodinâmica de Tricart adaptada para o

semiárido por Souza no estudo da conservação da vegetação. Foram usadas ainda

as técnicas de sensoriamento remoto e de geoprocessamento que subsidiaram os

mapeamentos temáticos específicos, referentes aos sistemas ambientais, ao uso e

cobertura e as classes de conservação da vegetação por meio da aplicação do

Índice de Vegetação Ajustado ao Solo, SAVI. Os resultados obtidos na pesquisa

apresentam conflitos na relação entre sociedade natureza, ou seja, a configuração

da apropriação dos recursos naturais trazem implicações ambientais que imprimem

o estado de conservação da vegetação, principalmente, quando se considera as

especificidades ambientais da região semiárida no tocante a oferta, procura e

necessidades social e econômica da população. Assim, o estudo demonstrou, após

análise temporal aplicada à bacia hidrográfica Riacho do Sangue, que o modo de

uso da terra desenvolvido na região trouxe uma redução da conservação da

vegetação.

Palavras-chave: Bacia hidrográfica. Riacho do Sangue. Recursos naturais.

Conservação da vegetação. Mapeamento.

ABSTRACT

The study is to cut a watershed, it behaves as a natural unit of analysis allowing the

study of the various elements that make up the landscape in an integrated manner,

promoting a series of observations on the use and conservation of natural resources

especially vegetation which corresponds to synthesis of dynamic equilibrium of the

environment. Thus, this research aims to understand the relationship between land

use and land cover with vegetation conservation status in the basin of Riacho do

Sangue, located in the semiarid region of Ceará, specifically in river basin planning in

the Médio Jaguaribe. The research area has an extension of approximately 2,463

kilometers and encompasses the municipalities of Deputado Irapuan Pinheiro, Milhã,

Solonópole and Jaguaretama. It is noteworthy that the basin of Riacho do Sangue

flows into the dam Castanhão, which is an important mechanism for strategic water

reserve for the state of Ceará. in the research were used theoretical and

methodological and systemic basis as they allow the integrated analysis of the

relationship between nature and society. In order to complement the analysis used to

ecodynamic Tricart adapted to semiarid by Souza the vegetation conservation study.

They were also used remote sensing and geoprocessing that supported specific

thematic maps, related to environmental systems, use and coverage and

conservation classes of vegetation through the application of Soil-Adjusted

Vegetation Index, SAVI. The results of the research have conflicts in the relationship

between society nature, ie, setting the appropriation of natural resources bring

environmental implications that print the conservation status of vegetation, especially

when considering the environmental specificities of the semiarid region regarding the

offer , demand and social and economic needs of the population. Thus, the study

showed, after temporal analysis applied to the basin Riacho do Sangue, the land use

so developed in the region brought a reduction in the conservation of vegetation.

Keywords: Basin. Riacho do Sangue. Natural Resource Conservation. vegetation

mapping.

LISTA DE FIGURAS

Figura 1- Geossistema ............................................................................................. 30

Figura 2 - Localização da sub-bacia Riacho do Sangue em referência às bacias

hidrográficas do Ceará, assim como as bacias hidrográficas de

Planejamento Jaguaribe ........................................................................... 44

Figura 3 - Localização da bacia Riacho do Sangue ................................................. 59

Figura 4 - Baixo curso da Bacia Riacho do Sangue exibe vegetação cactácea,

jurema-preta e marmeleiro, indicando áreas de sucessão ecológica ..... 133

Figura 5 - Esquema de sucessão ecológica das caatingas, baseado em Oliveira

(2014) .................................................................................................... 135

LISTA DE MAPAS

Mapa 1 - Básico da bacia Riacho do Sangue ........................................................ 61

Mapa 2 - Mapa litológico da bacia Riacho do Sangue ........................................... 69

Mapa 3 - Mapa hipsômetro da bacia Riacho do Sangue ....................................... 73

Mapa 4 - Mapa de declividade da bacia Riacho do Sangue .................................. 74

Mapa 5 - Mapa hidrográfico da bacia Riacho do Sangue – Médio Jaguaribe ........ 87

Mapa 6 - Mapa de microbacias da bacia Riacho do Sangue – Médio Jaguaribe ... 90

Mapa 7 - Mapa Pedológico da bacia Riacho do Sangue ....................................... 93

Mapa 8 - Mapa de uso e cobertura, 2003 ............................................................ 119

Mapa 9 - Mapa de uso e cobertura, 2014 ............................................................ 122

Mapa 10 - Análise comparativa do uso e da cobertura dos anos 2003 e 2014 ...... 124

Mapa 11 - Mapa dos sistemas ambientais da bacia Riacho do Sangue – Médio

Jaguaribe ............................................................................................ 131

Mapa 12 - Conservação da vegetação 2003 ......................................................... 147

Mapa 13 - Conservação da vegetação 2014 ......................................................... 148

LISTA DE GRÁFICOS

Gráfico 1 - Série histórica de média mensal da Precipitação na bacia Riacho do

Sangue (1974-2014) .............................................................................. 80

Gráfico 2 - Série histórica de média anual da Precipitação na bacia Riacho do

Sangue (1974-2014) ............................................................................. 80

Gráfico 3 - Extrato do Balanço Hídrico Climático de Jaguaretama 1993, Ano

seco....................................................................................................... 82

Gráfico 4 - Extrato do Balanço Hídrico Climático de Jaguaretama 2004, Ano

chuvoso ................................................................................................. 82

Gráfico 5 - Extrato do Balanço Hídrico Climático de Jaguaretama 2007, Ano

habitual .................................................................................................. 82

Gráfico 6 - Extrato do Balanço Hídrico de Solonópole 1993, Ano seco82

Gráfico 7 - Extrato do Balanço Hídrico de Solonópole 2004, Ano chuvoso ............. 82

Gráfico 8 - Extrato do Balanço Hídrico de Solonópole 2007, Ano habitual .............. 82

Gráfico 9 - Extrato do Balanço Hídrico Climático de Deputado Irapuan Pinheiro

1993, Ano seco. .................................................................................... 83

Gráfico 10 - Extrato do Balanço Hídrico Climático de Deputado Irapuan Pinheiro

2004, Ano chuvoso. ............................................................................... 83

Gráfico 11- Extrato do Balanço Hídrico Climático de Deputado Irapuan Pinheiro

2007, Ano habitual. ................................................................................ 83

Gráfico 12 -Extrato do Balanço Hídrico Climático de Milhã 1993, Ano seco ............. 83

Gráfico 13 -Extrato do Balanço Hídrico Climático de Milhã 2004, Ano chuvoso ....... 83

Gráfico 14 -Extrato do Balanço Hídrico Climático de Milhã 2007, Ano habitual ........ 83

Gráfico 15 -Pirâmide Etária do Município de Jaguaretama..................................... 100

Gráfico 16 -Pirâmide Etária do Município de Solonópole ....................................... 101

Gráfico 17 -Pirâmide Etária do Município de Dep. Irapuan Pinheiro ....................... 101

Gráfico 18 -Pirâmide Etária do Município de Milhã ................................................. 102

Gráfico 19 -Representatividade espacial dos padrões de uso e cobertura da terra

da sub-bacia hidrográfica do Riacho do Sangue referente ao ano de

2003 .................................................................................................... 118

Gráfico 20 - Representatividade espacial dos padrões de uso e cobertura da terra

da sub-bacia hidrográfica do Riacho do Sangue referente ao ano de

2014 .................................................................................................... 121

Gráfico 21 - Comparação entre as áreas das classes de uso e cobertura da terra

na sub-bacia hidrográfica Riacho do Sangue ...................................... 123

Gráfico 22- Representação, em quilômetros, das classes de conservação da

vegetação na bacia Riacho do Sangue nos anos de 2003 e 2014 ....... 146

LISTA DE QUADROS

Quadro 1 - Embasamento do levantamento bibliográfico temático ........................ 45

Quadro 2 - Síntese dos mapeamentos e dos procedimentos ................................ 51

Quadro 3 - Classes de uso e cobertura da terra da bacia Riacho do Sangue e

classes de interpretação ..................................................................... 56

Quadro 4 - Intervalo de classes adaptadas de Souza, Cruz e Vinces (2014) e

identificação da conservação proposta por Souza (2013) ................... 58

Quadro 5 - Síntese do histórico dos municípios na área de estudo ....................... 64

Quadro 6 - Relações tectonoestratigráficas da bacia Riacho do Sangue .............. 70

Quadro 7 - Condições geológicas geomorfológicas da bacia Riacho do Sangue .. 76

Quadro 8 - Aspectos hidrográficos da bacia Riacho do Sangue ............................ 86

Quadro 9 - Principais características dos solos encontradas na bacia Riacho do

Sangue ............................................................................................... 92

Quadro 10 - Aspectos fitogeográficos da bacia Riacho do Sangue ......................... 95

Quadro 11 - Cenário de uso e cobertura da terra da bacia hidrográfica do Riacho

do Sangue referente ao ano de 2003 ................................................ 117

Quadro 12 - Cenário de uso e cobertura da terra da sub-bacia hidrográfica do

riacho do Sangue referente ao ano de 2014. Fonte: Elaborado pela

autora ............................................................................................... 120

Quadro 13 - Características naturais dominantes dos sistemas ambientais da

Depressão encontradas na bacia Riacho do Sangue........................ 129

Quadro 14 - Características naturais dominantes dos sistemas ambientais da

Planície de acumulação encontradas na bacia Riacho do Sangue ... 130

Quadro 15 - Características naturais dominantes dos sistemas ambientais de

Maciços/Planaltos encontrados na bacia Riacho do Sangue. ........... 130

Quadro 16 - Classes do estágio de conservação da bacia do Riacho do Sangue.

Adaptadas de Souza, Cruz e Vinces (2014) e Souza (2012) ............ 136

Quadro 17 - Cenário da conservação da vegetação da bacia Riacho do Sangue

para 2003 ......................................................................................... 142

Quadro 18 - Ambientes degradados ..................................................................... 143

Quadro 19 - Aspecto da conservação em ambientes derivados ............................ 144

Quadro 20 - Ambientes fitoestabilizados ............................................................... 144

Quadro 21 - Representante da água ..................................................................... 145

Quadro 22 - Cenário da conservação da vegetação da bacia Riacho do Sangue

para 2014 ......................................................................................... 145

LISTA DE TABELAS

Tabela 1 - Representatividade dos municípios que fazem parte da bacia Riacho

do Sangue ............................................................................................. 60

Tabela 2 - Vias de acesso e distância da capital. ................................................... 60

Tabela 3 - Normais Climatológicas (1969/1990) - Estação Jaguaruana ................. 78

Tabela 4 - População rural e urbana dos municípios da bacia do Riacho do

Sangue .................................................................................................. 98

Tabela 5 - População por gênero e faixa etária. ..................................................... 99

Tabela 6 - Índice de Desenvolvimento Social – IDS – Oferta/ Resultado em 2009

............................................................................................................ 102

Tabela 7 - Docentes dos municípios que fazem parte da bacia do Riacho do

Sangue ................................................................................................ 103

Tabela 8 - Indicadores Educacionais no Ensino Fundamental e Médio dos

municípios que fazem parte da bacia – 2014....................................... 104

Tabela 9 - Unidades de Saúde Ligadas ao Sistema Único de Saúde (SUS) dos

municípios que fazem parte da sub-bacia ........................................... 105

Tabela 10 - Profissionais de Saúde Ligados ao Sistema Único de Saúde (SUS)

dos municípios que fazem parte da sub-bacia – 2011 ......................... 105

Tabela 11 - Formas de abastecimento de água dos municípios que fazem parte

da bacia por domicílio .......................................................................... 106

Tabela 12 - Taxas de cobertura dos serviços de água, por situação do domicílio,

segundo os municípios e distritos – Ceará .......................................... 107

Tabela 13 - Esgotamento sanitário dos municípios da bacia do Riacho do Sangue

por domicílio ........................................................................................ 108

Tabela 14 - Destino do lixo dos municípios que fazem parte da bacia por

domicílio .............................................................................................. 109

Tabela 15 - Número de Empregos Formais dos municípios da bacia do Riacho do

Sangue ................................................................................................ 110

Tabela 16 - Renda Domiciliar per capita dos municípios da bacia do Riacho do

Sangue ................................................................................................ 111

Tabela 17 - Produto Interno Bruto dos municípios da bacia do Riacho do Sangue –

2011 .................................................................................................... 112

Tabela 18 - Estrutura Fundiária .............................................................................. 113

Tabela 19 - Comparação entre as áreas das classes de uso e cobertura da terra

na bacia hidrográfica Riacho do Sangue ............................................. 123

LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS

BHC Balanço Hídrico Climático

CAD Capacidade Máxima de Água Disponível

COELCE Companhia Energética do Ceará

COGERH Gerenciamento dos Recursos Hídricos do Ceará

CONER Conselho de Recursos Hídricos do Ceará

COPAM Coordenadoria de Políticas Ambientais do Estado

CPRM Companhia de Pesquisa de Recursos Minerais

DN Números Digitais

DNPM Departamento Nacional de Produção Mineral

FUNCEME Fundação Cearense de Meteorologia e Recursos Hídricos

GPS Global Position System

IBGE Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística

IDS Índices de Desenvolvimento Social

INMET Instituto Nacional de Meteorologia

INPE Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais

IPECE Instituto de Pesquisa e Estratégia Econômica do Ceará

IUCN International Union for Conservation of Nature and Natural

Resouces

LANDSAT Land Remote Sensing Satellite

MDE Modelo Digital de Elevação

OIL Operational Land Imager

OSGeo Open Source Geospatial Foundation

PDI Processamento Digital de Imagens

PIB Produto Interno Bruto

PNRH Política Nacional de Recursos Hídricos

PNRS Política Nacional de Resíduos Sólidos

PNUMA Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente

PPA Plano Plurianual

ProPGEO Programa de Pós

SAVI Índice de Vegetação Ajustado ao Solo

SCM Sistemas Convectivos de Mesoescala

SEDUC Secretaria da Educação Básica

SESA Secretaria da Saúde do Estado do Ceará

SiBCS Sistema Brasileiro de Classificação de Solos

SIDRA Sistema IBGE de Recuperação Automática

SIRGAS Sistema de Referencia Geocêntrico para as Américas

SPOT Satellite Pour l'Observation de la Terre

SRH Secretaria de Recursos Hídricos

SRTM Shuttle Radar Topography Mission

SUS Sistema Único de Saúde,

TM Thematic Mapper

UECE Estadual do Ceará

UFC Universidade Federal do Ceará

USGS United States Geological Survey

UTM Universal Transversa de Mercator

VCAN Vórtices Ciclônicos de Altos Níveis

WRI World Resources Institute

ZCIT Zona de Convergência Intertropical

21

SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO ........................................................................................... 23

2 ORIENTAÇÃO TEÓRICA CONCEITUAL ................................................... 26

2.1 GEOGRAFIA FÍSICA E A ANÁLISE INTEGRADA NOS ESTUDOS

AMBIENTAIS .............................................................................................. 26

2.2 A RELAÇÃO SOCIEDADE-NATUREZA E A CONSERVAÇÃO

AMBIENTAL ............................................................................................... 33

2.3 BACIA HIDROGRÁFICA COMO UNIDADE DE ESTUDOS AMBIENTAIS .. 39

3 ESTRUTURA OPERACIONAL METODOLÓGICA .................................... 45

3.1 MATERIAL BIBLIOGRÁFICO, DE CAMPO E GEOCARTOGRÁFICO ........ 45

3.1.1 Levantamento bibliográfico ..................................................................... 45

3.1.2 Levantamento de campo .......................................................................... 46

3.1.3 Levantamento geocartográfico ................................................................ 47

3.2 ESTRUTURA GEOCARTOGRÁFICA E SENSORIAMENTO REMOTO ..... 50

3.2.1 Processamento digital de imagens ......................................................... 52

4 LOCALIZAÇÃO GEOGRÁFICA E CONTEXTO HISTÓRICO DA BACIA

RIACHO DO SANGUE ............................................................................... 59

4.1 LOCALIZAÇÃO GEOGRÁFICA .................................................................. 59

4.2 BREVE CONTEXTUALIZAÇÃO HISTÓRICA DOS MUNICÍPIOS QUE

PERTENCEM À BACIA RIACHO DO SANGUE ......................................... 62

5 CONTEXTUALIZAÇÃO FÍSICO-AMBIENTAL DA BACIA RIACHO DO

SANGUE .................................................................................................... 66

5.1 CONDICIONANTES GEOLÓGICOS-GEOMORFOLÓGICOS .................... 66

5.2 CARACTERIZAÇÃO HIDROCLIMÁTICA .................................................... 77

5.3 CARACTERÍSTICAS PEDOLÓGICAS E FITOGEOGRÁFICAS.................. 91

6 USO E COBERTURA DA TERRA NO PERÍODO DE 2003 E 2014 ........... 98

6.1 ASPECTOS SOCIOAMBIENTAIS ............................................................... 98

6.2 USO E COBERTURA DA TERRA DA BACIA HIDROGRÁFICA DO

RIACHO DO SANGUE ............................................................................. 116

6.2.1 Uso e cobertura – 2003 ........................................................................... 117

6.2.2 Uso e cobertura – 2014 ........................................................................... 120

6.2.3 Análise comparativa de uso e ocupação no período de 2003 e 2014 . 123

7 SÚMULA DOS SISTEMAS AMBIENTAIS ................................................ 128

22

8 A CONSERVAÇÃO DA VEGETAÇAO NA BACIA RIACHO DO

SANGUE .................................................................................................. 132

8.1 CONTEXTUALIZAÇÃO DAS ATIVIDADES ECONÔMICAS E A

CONSERVAÇÃO DA VEGETAÇÃO (2003 E 2014) .................................. 137

9 CONCLUSÃO........................................................................................... 149

REFERÊNCIAS ........................................................................................ 151

APÊNDICES ............................................................................................. 159

APÊNDICE A – CULTURAS TEMPORÁRIAS, PERMANENTES E

CRIAÇÃO. ................................................................................................ 160

23

1 INTRODUÇÃO

As utilizações dos recursos naturais para atender às necessidades

humanas expressas pelos modelos econômicos sociais e culturais vigentes tendem

a acarretar alterações na paisagem. Em suma, para tudo que é utilizado há um

recurso natural que foi aproveitado para se tornar útil à sociedade. Entretanto, estes

podem ser utilizados de maneira indiscriminada, muitas vezes ocasionando

problemas que interferem na própria qualidade de vida daqueles que os utilizam.

As modificações nos ambientes físico-naturais – ocasionadas pela

demanda do consumo dos recursos naturais – acabaram por despertar a atenção da

sociedade mundial devido, principalmente, às rápidas mudanças ambientais

ocorridas em escala global. Desta feita, reflexões acerca das questões ambientais

eclodiram e convenções internacionais foram articuladas e posteriormente acabaram

por orientar soluções aos problemas resultantes da exploração dos recursos

naturais, assim como apontaram destinos para os resíduos gerados nesse processo.

Entre os aparatos resultantes das conferências, podem-se elencar as

diretrizes que propendem harmonizar as atividades socioeconômicas com as

potencialidades e as limitações da natureza preconizadas por políticas específicas.

Dentre essas políticas, destacam-se as normatizações que apresentam a

preservação e a conservação dos recursos naturais empreendidas em diversos

países; segundo WRI/IUCN/PNUMA (1992), são: uso sustentável, proteção,

manutenção, reabilitação, restruturação e melhoramento de populações naturais e

ecossistêmicas.

Especificamente no Brasil a questão ambiental adentrou debates e

articulações específicas, resultando em leis que primam pela manutenção e a

estrutura do meio natural vinculado à política de cunho territorial, como os planos de

manejo, institucionalização de áreas de preservação e conservação, zoneamentos

ecológicos, ordenamento do solo, gestão de bacias hidrográficas, entre outros.

As articulações empreendidas pautadas na questão ambiental levaram,

nos últimos anos, a estudos voltados à bacia hidrográfica como unidade de análise

por esta permitir uma inter-relação dos componentes físicos naturais e

socioeconômicos, ou seja, a bacia hidrográfica apresenta-se como uma unidade

natural de análise através da qual é possível reconhecer e estudar os diversos

elementos que compõem os sistemas ambientais de uma forma integrada,

24

permitindo uma série de observações quanto ao uso e à conservação dos recursos

naturais existentes.

Destarte, para o desenvolvimento desta pesquisa optou-se, como recorte

de análise, a sub-bacia do Riacho do Sangue, localizada na região semiárida

cearense, porção sudeste do Estado, especificamente inserida na bacia hidrográfica

de planejamento do Médio Jaguaribe, que, por sua vez, faz parte da bacia

hidrográfica do Jaguaribe. A área da bacia engloba os municípios de Deputado

Irapuan Pinheiro, Milhã, Solonópole e Jaguaretama, possuindo uma extensão de

aproximadamente 2.463 km².

As características ambientais da região da bacia expõem um quadro de

limitações naturais expressas, segundo Souza (2000), pelas especificidades

naturais, sendo que a dinâmica ambiental na região apresenta regimes pluviais

concentrados no primeiro semestre e expõem elevados coeficientes de temperatura

ao longo do ano, o que ocasiona altas taxas de evapotranspiração, justificando

balanços hídricos deficitários durante a maior parte ano.

Observa-se que os condicionantes climáticos, de acordo com Souza

(1988), apresentam efeitos destacáveis sobre os demais fatores naturais, que, em

paralelo às condições geológicas, substrato rochoso cristalino refletem a

predominância de rios com drenagem intermitente sazonal, que, em paralelo ao

caráter deficitário de água disponível no solo para as plantas, exprimem o

recobrimento quase generalizado das caatingas.

Souza (2000) ainda expõe que as condições ambientais naturais – em

paralelo às condições de uso as quais os recursos naturais foram submetidos na

região – contribuíram com modificações no estado de conservação do ambiente. Os

impactos advindos disso estão diretamente ligados ao assoreamento de rios e

reservatórios, na perda física e produtividade dos solos.

Diante dos elementos expostos, este estudo tem por objetivo geral a

compreensão da relação do uso e cobertura da terra com o estado de conservação

da vegetação na sub-bacia do Riacho do Sangue. Utilizou-se do arcabouço teórico-

metodológico da ciência geográfica, contextualizado a partir dos estudos integrados

dos sistemas ambientais, na busca por compreender a dinâmica ambiental e a

conservação da vegetação na mencionada bacia.

Assim, para o alcance do objetivo geral, elencam-se objetivos específicos

que amparam a percepção da área de estudo. São eles: delimitar os sistemas

25

ambientais no interior da sub-bacia do Riacho do Sangue; caracterizar os usos e as

coberturas da terra em escala temporal, compreendendo os anos de 2003 e 2014; e

classificar o estado de conservação da vegetação por meio do Índice de Vegetação

Ajustada ao Solo – SAVI (para o mesmo período – 2003 e 2014).

Cabe destacar que a sub-bacia do Riacho do Sangue apresenta a

desembocadura no açude Castanhão, ou seja, ela está situada a montante deste.

Por sua vez, o açude Castanhão representa um importante mecanismo de controle

das secas que atinge o Vale do Jaguaribe. Além disso, caracteriza-se como

importante reserva hídrica estratégica para o estado do Ceará, pois através da

construção do Eixão da Integração1 foi possível o transporte de água para o

abastecimento da população na capital cearense (Fortaleza), do Complexo Portuário

do Pecém e dos perímetros irrigados em Russas e na Chapada do Apodi (CEARÁ,

2009).

Contudo, a pesquisa visou aprofundar na discussão acerca do uso e

ocupação desenvolvidos no contexto da sub-bacia do Riacho do Sangue, que trouxe

implicações sobre o estado de conservação da vegetação.

1Faz a integração das bacias hidrográficas do Jaguaribe e da região metropolitana, beneficiando uma

população de mais de 3 milhões de habitantes (CEARÁ, 2009).

26

2 ORIENTAÇÃO TEÓRICA CONCEITUAL

Destacamos previamente que o arcabouço teórico-metodológico se

constitui em elemento indispensável a toda e qualquer investigação científica,

considerando que é responsável por organizar a realidade estudada e por orientar

todos os procedimentos para o desenvolvimento da pesquisa, auxiliando na

interpretação dos resultados e pontuando as características essenciais e distintas

dos fenômenos.

Portanto, este capítulo tem por objetivo apresentar as bases teóricas que

nortearam a pesquisa, tratando os conceitos e pressupostos sobre a temática

estudada.

2.1 GEOGRAFIA FÍSICA E A ANÁLISE INTEGRADA NOS ESTUDOS AMBIENTAIS

A temática ambiental é estudada por diversas áreas do conhecimento.

Segundo Mendonça (2012), no âmbito das ciências, a temática ambiental tem

estado sempre presente, sendo tratada de forma diversa de acordo com os

diferentes momentos históricos que caracterizam o desenvolvimento do

conhecimento.

Dentre as áreas do conhecimento que abordam a questão ambiental, tem-

se a ciência geográfica, conforme explana Mendonça (op. cit.):

Os princípios básicos e os objetivos principais, assim como o objeto de estudo da geografia desde sua origem como ciência, são de caráter eminentemente ambientalista. A geografia é, sem sombra de dúvida, a única ciência que desde sua formação se propôs ao estudo da relação entre os homens e o meio natural do planeta – o meio ambiente atualmente em voga é propalado na perspectiva que engloba o meio natural e o social (MENDONÇA, op. cit., p. 22-23).

Entretanto, Mendonça (op. cit., 2012, p. 23) elucida a fala expondo que

“não pretende dizer que a Geografia é a única ciência que sozinha consegue dar

conta de toda a problemática que envolve conhecimento do meio ambiente”.

Destaca-se que, a princípio, a abordagem da temática ambiental

apresentada pela Geografia exibia problemas conceituais e metodológicos, pois esta

tratava o meio ambiente apenas como a descrição do quadro natural, e o enfoque

era dado aos aspectos individuais, o que levou aos estudos

27

fragmentados/especializados dos elementos que formam a paisagem (relevo, clima,

vegetação, hidrografia, fauna e flora) dissociados do homem, que é

componente/sujeito dessa complexa relação.

Analisando a história da Geografia, que passou a usufruir do status de

conhecimento organizado2 a partir do século XIX através do pensamento dos

chamados geógrafos tradicionais, percebe-se que esta apresentava a concepção

positivista marcada pela referida época, por meio da observação e mediante a

classificação e comparação, chegando, por fim, à formulação de conclusões gerais,

ou seja, “[...] a interpretação do espaço geográfico descrevia a paisagem, sem inter-

relacionar as dinâmicas sociais com as potencialidades do ambiente físico, bem

como os resultados ou impactos que esta atuação gerava” (NUNES, 2008, p. 2).

No entanto, as relações de interdependência dos fatos geográficos já

podiam ser observadas pelo alemão naturalista e viajante Alexandre Von Humboldt

(1769-1859), que em suas viagens descrevia o que cada paisagem apresentava

quanto às características de relevo, vegetação etc., passando a oferecer um cunho

científico à paisagem.

Veado (1995), Humboldt e Karl Ritter (1779-1859) apresentavam uma

visão que encenava a perspectiva integrada da realidade, afirmando que o homem e

a natureza caminhavam juntos.

O que prevaleceu no final do século XIX e durante mais da metade do

século XX, na visão de Silveira e Vitte (2010), foi a fragmentação científica, que

acabou por acentuar a dualidade do pensamento geográfico, assumindo caminhos

adversos, de modo que a ciência acabou por trabalhar com a divisão ou separação

dos pressupostos metodológico-filosóficos das ciências naturais (Geografia Física) e

humanas (Geografia Humana).

A dualidade do pensamento geográfico já estava evidente e, a partir

disso, os estudos no âmbito geográfico foram cada vez mais

especializados/fragmentados. Como exemplo tem-se Emmanuel de Martonne, que

aprofundou a abordagem dos elementos naturais das paisagens e desenvolveu a

conceituação da chamada Geografia Física, ratificando esta como o segmento da

geografia que se ocupa do tratamento dos aspectos naturais/físicos.

2 Moreira (2008) pontua que a Geografia passa de seu estágio taxonômico e descritivo para outro,

orçado na teoria, elevando a Geografia à condição de ciência.

28

Mendonça (2012) afirma que a obra "Tratado de Geografia Física3", de

Martonne, ilustra bem as características desse primeiro momento da temática

ambiental na ciência geográfica. Segundo Amorim:

Este autor, inspirado na Geografia Vidalina, aprofunda a abordagem dos elementos naturais das paisagens e desenvolve a conceituação da chamada Geografia Física, parte da Geografia que se ocupa do tratamento da temática ambiental por estar ligada à abordagem do quadro natural do planeta (AMORIM, 2012 p. 83).

A abordagem setorial, segundo Mendonça (2012), perdurou na Geografia

Física até metade do século XX. Esta abordagem procurava compreender a

natureza setorizada sem levar em consideração a integração dos componentes

geoambientais no modelado das paisagens, e que, baseados em outras ciências,

tais como a Meteorologia, a Geologia, a Biologia, influenciaram o conhecimento

geográfico produzido até então.

Em contrapartida a essa percepção setorizada gerada de forma

mecanicista de estudar a natureza, surgiu, na década de 1930, uma nova

concepção, desta vez proposta pelo biólogo austríaco Bertalanffy, que propunha, a

partir do pressuposto da segunda lei da termodinâmica, uma teoria intitulada Teoria

Geral dos Sistemas (TGS), que posteriormente foi apropriada aos mais diversos

ramos das ciências, dentre estes o da Geografia Física.

De acordo com Veado (1995), os geógrafos físicos, com a teoria

sistêmica, encontraram o ponto de partida para estudar a dinâmica da paisagem de

modo que “a Geografia encontrava na análise de sistemas o método mais

apropriado para estudar e explicar a estrutura dinâmica dos fatos antrópicos-

naturais” (VEADO, op cit., p. 05).

Com base nessas concepções, dentro da pesquisa geográfica ficou

evidente a incorporação da concepção sistêmica, sobre a qual Gregory (1992)

destacou que:

A forma sistêmica de pensamento foi adotada sucessivamente pela Biogeografia, Geografia dos solos, Climatologia e Geomorfologia, e esse processo de adoção estenderam-se por trinta e cinco anos, de 1935 a 1971, quando foi publicado pela primeira vez Physical Geography: A systems

3 Obra clássica de Emanuel de Martonne, publicada pela primeira vez em 1909. Trata-se de uma tentativa

ousada de analisar o panorama dos fenômenos físicos que afetam a superfície terrestre, apresentando a natureza em capítulos: relevo, geologia, clima, bacia fluvial, solo e vegetação.

29

approach4 (Chorley e Kennedy, 1971). Contudo, o índice de incorporação

das ideias cresceu exponencialmente e foi mais significativo entre 1965 e 1975 (GREGORY, 1992, p. 218).

Sobre isso, escreve Tricart (1977) que:

O conceito de sistema é, atualmente, o melhor instrumento lógico de que dispomos para estudar os problemas do meio ambiente. Ele permite adotar uma atitude dialética entre a necessidade da análise – que resulta do próprio progresso da ciência e das técnicas de investigação – e a necessidade, contrária, de uma visão de conjunto, capaz de ensejar uma atuação eficaz sobre esse meio ambiente. (TRICART, 1977, p. 19).

Em 1963, Viktor Borisovich Sochava, bebendo da Teoria Geral dos

Sistemas, considera a Landschaft5 um sistema aberto e com influências do homem,

e acabou por elaborar uma concepção geográfica que denominou Geossistema.

De acordo com Sotchava (1977), "embora os geossistemas sejam

fenômenos naturais, todos os fatores econômicos e sociais, influenciando sua

estrutura e peculiaridades espaciais, são tomados em consideração durante o seu

estudo" (SOTCHAVA, 1977, p. 6).

A concepção geossistêmica dissemina-se entre os geógrafos físicos, de

acordo com Vicente e Perez Filho (2003), pois nela aparece a abordagem sistêmica

como alternativa ou complemento ao pensamento cartesiano, ressaltando que os

princípios que permeiam o entendimento da abordagem não carregam a intenção de

acabar com os métodos de investigação que existiam, mas buscam congregá-los a

fim de proporcionar a maior procura pela compreensão da realidade.

Bertrand (1972), bebendo do conceito de geossistema formulado por

Sotchava, definiu este como determinada porção do espaço resultante da

combinação dinâmica, portanto instável, dos elementos físicos, biológicos e

antrópicos, que, reagindo uns sobre os outros, fazem da paisagem um conjunto

único em perpétua evolução.

Segundo Bertrand (op cit.), o potencial ecológico é o resultado da

combinação de fatores geomorfológicos, climáticos e hidrológicos, em que é

possível observar uma continuidade ecológica dentro de um Geossistema de modo

4 A obra de Richard Chorley e Barbara Kennedy (1971) exemplifica uma abordagem de classificação dos

sistemas que consideram a complexidade estrutural. 5 Em 1908, Borzoy elegeu o termo Landschaft como objeto de pesquisa da geografia; em 1913, L. S.

Berg apresentou o termo Lanschaft natural como uma região em que o relevo, o solo e a vegetação organizavam-se em um conjunto geográfico, segundo um modelo que podia se repetir em uma mesma zona geográfica.

30

que a descontinuidade configure a passagem de um Geossistema a outro. Ainda

segundo o autor, a exploração biológica é derivada da vegetação, do solo e da

fauna, que em equilíbrio com o potencial ecológico estabelece um estado de clímax

ao Geossistema. A ação antrópica compreendida pela ocupação socioeconômica

onde as intervenções humanas no potencial ecológico e na exploração biológica são

sentidas por meio da noção de clímax e pela noção de biostasia e resistasia (Figura

1).

Figura 1- Geossistema

Fonte: Elaborada pela autora. Baseada em Bertrand, 1972.

Segundo Amorim (2012),

As concepções de Geossistema de Sotchava (1977) e Bertrand (1971) apresentam algumas divergências na sua concepção conceitual e na sua delimitação. Enquanto para Sotchava (1977) os Geossistemas definiriam o objeto de estudo da Geografia Física, constituindo de elementos do meio natural que podem sofrer alterações na sua funcionalidade, estrutura e organização em decorrência da ação antrópica, Bertrand (1971) considera a ação antrópica como um integrante dos Geossistemas (AMORIM, 2012, p. 90).

31

Apesar dos avanços teórico-metodológicos propostos inicialmente por

Sotchava, houve muitas críticas ao modelo por ele estabelecido, principalmente no

que se refere à análise da escala. Assim, em 1972, ao estudar os geossistemas,

Bertrand estabeleceu um sistema taxonômico em função da escala, caracterizando-

os em duas grandes unidades: superiores e inferiores. Este autor teve como base a

paisagem para elaborar os pressupostos dos geossistemas.

Bertrand (1972) definiu que uma determinada unidade de paisagem está

em função da escala, situando-se na dupla perspectiva do tempo e do espaço, e

afirma que a delimitação não deve ser um fim, e sim um meio de análise de acordo

com o objeto, assim o sistema taxonômico permite classificar a paisagem em função

da escala. O autor estipulou seis níveis temporoespaciais: zona, domínio e região

(unidades superiores) e o geossistema6, geofácies e geótopo (unidades inferiores);

além disso, enfatizou que o geossistema constitui uma boa base para os estudos de

organização do espaço porque ele é compatível com a escala humana.

A concepção geossistêmica, segundo Rodrigues (2001), deu à Geografia

Física melhor caráter metodológico, uma vez que há a necessidade em lidar com os

princípios de interdisciplinaridade, síntese e abordagem multiescalar. Também

calhou bastante nas análises ambientais, pois os “geossistemas têm ganhado

importância e aplicação crescente, e, entre outros objetivos, procura a conservação,

o uso racional e o desenvolvimento do espaço geográfico beneficiando toda

biosfera, em especial a sociedade humana” (TROPPMAIR e GALINA, 2006, p. 82)

Outra contribuição importante para a Geografia Física foi o conceito de

Ecodinâmica estabelecido por Tricart (1977), embasado no referencial sistêmico

como alicerce teórico para o estudo da influência mútua entre a resistência natural

dos ambientes e a intensidade das alterações provocadas pelo homem.

O conceito de unidades ecodinâmicas é integrado no conceito de ecossistema. Baseia-se no instrumento lógico de sistema, e enfoca as

6 Georges Bertrand, em curso ministrado no PPGG/FCT-UNESP (2007), mencionou certa

inadequação do uso do termo “geossistema” no âmbito de sua proposta. O próprio pesquisador citou uma nomenclatura que seria mais apropriada: geocomplexo, ao invés de geossistema. No início de sua elaboração teórica, Bertrand concebia o geossistema como uma escala de análise dentro de um conjunto hierárquico compreendido por seis níveis temporo-espaciais: zona, domínio, região natural, geossistema, geofácies e geótopos. Mas na verdade seria o geocomplexo a primeira escala de análise (entre as seis) que se presta ao estudo dos impactos humanos. “Geo+complexo” por englobar as geofácies e geótopo, bem como as relações estabelecidas entre elementos bióticos, abióticos e antrópicos. O geocomplexo é a escala de análise geográfica. O geossistema é a teoria que guia a abordagem desta escala (SOUZA, 2010, p. 33).

32

relações mútuas entre os diversos componentes da dinâmica e os fluxos de energia/matéria no meio ambiente (TRICART, 1977, p.32).

Tricart (op cit.) definiu uma unidade ecodinâmica (ecótopos) como aquela

que se caracteriza por certa dinâmica do meio ambiente e estabeleceu uma

avaliação baseada na instabilidade e/ou estabilidade do meio, tendo como

parâmetro o balanço entre morfogênese e pedogênese.

Assim, Tricart (1977) considera o ambiente em equilíbrio dinâmico como

sendo estável, ao passo que o ambiente em desequilíbrio é instável, devido à sua

alteração causada por algum tipo de intervenção do homem. Assim, propõem por

meio da classificação ecodinâmica e sua aplicação no estudo da paisagem, meios

distinguidos em estáveis, intergrades e fortemente instáveis.

Os meios estáveis são aqueles que possuem recobrimento vegetal pouco

alterado pela ação antrópica, de modo que a cobertura vegetal densa tende a frear

os processos mecânicos da morfogênese, o que ocasiona a proteção dos solos. Há

equilíbrio entre fatores de potencial ecológico e exploração biológica. O modelado

evolui lentamente, proporcionando o predomínio dos processos pedogenéticos.

Os meios intergrades são a transição de um meio estável para um meio

instável, podendo favorecer uma ou outra condição, de modo que esta tendência

pode ser influenciada pela ação das atividades socioeconômicas. A evolução da

interface apresenta-se sem separação abrupta da morfogênese e da pedogênese.

Nos meios fortemente instáveis, a morfogênese é predominante, de modo

que dentro do sistema natural é ele quem subordina todos os outros elementos e

tende a exibir uma dissecação acelerada e diminuição da densidade vegetacional,

que, aliadas às condições meteorológicas extremas, podem oferecer a incisão

violenta de cursos d’água, acarretando um grande potencial energético. Isso propicia

uma intensa atividade do potencial erosivo com nítidas evidências de deterioração

ambiental e da capacidade produtiva dos recursos naturais. Também podem ocorrer

por meio de eventos catastróficos, como manifestações vulcânicas.

Observa-se que a Ecodinâmica possibilita a identificação das

modificações desencadeadas por uma intervenção. Sobre o assunto, Lima (2013)

afirma que:

A cobertura vegetal tem papel de destaque na Ecodinâmica, pois nos estudos morfodinâmicos a vegetação atua como elemento estabilizador, salientando que ao passo que são feitas alterações nesse elemento,

33

modifica-se o valor econômico da água, gerando uma dificuldade de infiltração e acumulação natural desse recurso, reduzindo a capacidade de hidratar plantas, suprir animais e os homens. Além desse aspecto, a alteração na cobertura vegetal afeta a pedogênese aumentando o risco de erosão pluvial, pois com o solo descoberto as gotas de chuva tem sua capacidade energética aumentada por falta de obstáculos que retenham a água (LIMA, 2013, p. 41).

Tem-se a vegetação, segundo Lima (2014), “como um elemento sensível

às condições e tendências da paisagem, reagindo de forma distinta e rápida às

variações. Seu estudo permite conhecer as condições naturais do território e as

influências humanas recebidas” (LIMA, op cit., p. 77).

Na esfera nacional brasileira, destacam-se importantes nomes que foram

fundamentais na evolução do pensamento geográfico por meio de trabalhos teórico-

metodológicos marcados pelas influências francesa e alemã no que cerne aos

estudos ambientais na Geografia Física, como: Carlos Augusto de Figueiredo

Monteiro, Aziz Nacib Ab’Saber, Antonio Christofoletti, Francisco Mendonça e

Jurandir Ross.

Para os estudos ambientais e considerando as especificidades do

semiárido brasileiro, mais especificamente o semiárido cearense, destaca-se Marcos

José Nogueira de Souza (1979, 1988, 2000, 2009, 2013), o qual realiza uma grande

contribuição teórico-metodológica em que aplica geossistema e a ecodinâmica da

paisagem a partir da teoria sistêmica para a análise ambiental, buscando apresentar

a especificidade da potencialidade, das limitações, da vulnerabilidade, dos limites de

tolerância e da análise da conservação.

Contudo, aplicações de estudos que envolvem o geossistema (Bertrand,

1972) e a ecodinâmica da paisagem (Tricart, 1977), levando em consideração as

adaptações de Souza para a região semiárida, configuram-se na base para a análise

ambiental, em que se busca interpretar a dinâmica e as inter-relações das relações

mútuas entre os diversos componentes ambientais com as atividades

socioeconômicas, de modo a compatibilizar a compreensão da conservação dos

ambientais naturais, com ênfase na sub-bacia do riacho do Sangue.

2.2 A RELAÇÃO SOCIEDADE-NATUREZA E A CONSERVAÇÃO AMBIENTAL

Ao longo de sua história, a sociedade humana tem ocasionado alterações

na natureza para garantir sua sobrevivência e satisfazer suas necessidades. Na

34

modernidade, segundo Leff (2002), a relação entre sociedade e natureza é regida

pelo predomínio do desenvolvimento da razão tecnológica sobre a organização da

natureza, e esta é pautada para guiar os propósitos econômicos de alavancar os

lucros em curto prazo sem considerar os limites do meio ambiente, que começou a

apresentar sintomas de crise, fazendo eclodir a necessidade de colocar em pauta as

bases ecológicas e os princípios jurídicos e sociais para a gestão dos recursos

naturais.

Observa-se que a sociedade tem vivenciado uma série de problemas que

envolvem o modo como o homem se relaciona com a natureza, pois este realiza

profundas modificações, harmônicas ou não, guiadas pelo modo de produção

vigente, que, de acordo com Casseti (1995), “[...] a dilapidação de suas riquezas,

esboçou-se nas primeiras etapas da história da sociedade e se acentuou na época

feudal, porém, alcançou um grau máximo no curso da sociedade capitalista”

(CASSETI, op cit., p. 12).

A partir da Revolução Industrial, marco histórico do aumento do incentivo

ao consumo em massa, houve um aumento significativo da velocidade de utilização

de recursos naturais sem as condições e o tempo necessário para que a natureza

consiga realizar o seu ciclo e assim se recompor.

Acerca dessa ideia, Leff (2009) afirma:

O que marcou as formas dominantes de produção e de crescimento econômico a partir da Revolução Industrial é o caráter determinante da apropriação capitalista e da transformação tecnológica dos recursos naturais em relação a seus processos de formação e regeneração, o que repercutiu no esgotamento progressivo dos recursos abióticos e na degradação do potencial produtivo dos ecossistemas criadores dos recursos abióticos (LEFF, 2009, p 51).

Compreende-se que a lógica de exploração da natureza é configurada

pela demanda por recursos naturais para se alcançar o progresso, de modo a suprir

necessidades e desejos. Sendo assim, Oliveira (2014) expõe que “o meio ambiente

é visto como um recurso natural sujeito à utilização de acordo com suas diferentes

condições; e assim, numa tentativa de conservação e preservação os atributos

naturais, devem ser analisados e protegidos” (OLIVEIRA, op cit., p. 30).

Aprofundando o debate sobre o entendimento da apropriação da natureza

pela sociedade humana na busca por recursos naturais, Venturi (2006) trabalha a

conceituação de recurso natural como:

35

Recurso natural pode ser definido como qualquer elemento ou aspecto da natureza que esteja em demanda, seja passível de uso ou esteja sendo usado direta ou indiretamente pelo Homem como forma de satisfação de suas necessidades físicas e culturais, em determinado tempo e espaço (VENTURI, 2006, p. 15).

Ressalta-se que a dimensão espaço temporal da interação entre

sociedade e natureza modifica-se ao longo da história de modo que “o conteúdo

daquilo que denominamos recursos transforma-se historicamente e depende tanto

da evolução dos ambientes quanto da evolução das possibilidades técnicas, da

natureza, das necessidades sociais e das condições econômicas” (GODARD, 1997,

p. 207).

De acordo com Guerra e Cunha (2003), as modificações impressas na

paisagem, geradas a partir das relações estabelecidas entre a sociedade e a

natureza, não devem ser compreendidas separadamente.

Assim, Venturi (2014) continua o debate e estabelece a articulação entre

aspectos sociais e físicos na perspectiva dos recursos naturais:

Valorizando-se apenas o aspecto social, o recurso natural se torna um simples dado econômico, perdendo sua dimensão geográfica. O mesmo ocorre quando se valorizam apenas as propriedades naturais do recurso (físicas e bioquímicas), reduzindo-o a um elemento natural. Deste modo, recurso natural é algo que só pode ser compreendido pela articulação destas duas dimensões: social e natural. E a relação entre estas duas dimensões é ubíqua; ocorre em qualquer lugar, qualquer tempo e qualquer escala (VENTURI, 2014, p. 248).

Oliveira (2014) assim expõe que “recursos naturais correspondem a

elementos da paisagem, produto da dinâmica geoecológica, porém, a partir deste,

são associados valores econômicos e socioculturais que convergem para a sua

apropriação” (OLIVEIRA, op. cit., p. 30).

Esta apropriação intensa dos recursos naturais acabou por colocar em

risco a sua renovabilidade, o que levantou discussões acerca das decisões políticas

e econômicas que antes ficavam restritas aos Estados nacionais e, agora, passaram

a ser objeto de eventos nacionais e internacionais.

Sobre a questão da renovabilidade dos recursos, Venturi (2014) expõe

que o entendimento acerca dos recursos naturais perpassa a simplificação de uma

classificação estática de recursos naturais renováveis e recursos naturais não

renováveis. O debate sobre esta temática é bem mais profundo, e sua classificação

36

deve ser entendida pela relação das características físicas e bioquímicas, bem como

da dinâmica socioeconômica que lhe é imposta no que cerne aos recursos

renováveis, não renováveis, esgotáveis, reprodutíveis e recuperáveis.

Deste modo, as questões ambientais atreladas à renovabilidade dizem

respeito aos usos impostos sobre os recursos imprimidos pelos padrões de

produção e consumo que, por vezes, são explorados por meio de técnicas

inadequadas que comprometem, de modo irreversível, a capacidade produtiva do

potencial natural.

Com base nessas concepções “de que os recursos naturais são finitos,

surge, no século XIX, o registro das primeiras espécies ameaçadas de extinção pelo

homem e os primeiros registros de sua preocupação com a conservação dos

recursos naturais” (LIMA, 2013, p. 44)

A preocupação com o ambiente passou a atingir vários setores da

população mundial, em virtude da degradação ambiental observada em várias

partes do globo em que ocorreram acidentes ambientais, como o caso da Baía de

Minamata no Japão7; o caso de Seveso, no norte da Itália8; a catástrofe da usina de

Chernobyl9; e o acidente ambiental de Exxon Valdez10, por exemplo.

A tomada de consciência foi sendo construída, principalmente, após a

Segunda Guerra Mundial, momento no qual surgiram as primeiras preocupações

com as consequências negativas advindas do esgotamento ou da inviabilização da

apropriação dos recursos indispensáveis à sua própria sobrevivência.

As denúncias, os eventos, os debates e as conferências acerca da

“problemática ambiental – a poluição e degradação do meio à crise de recursos

naturais energéticos e de alimentos – surgiu nas últimas décadas do século XX;

houve um questionamento sobre a racionalidade econômica e tecnológica

dominante” (LEFF, 2009, p. 61) liderado por grandes pesquisadores dos mais

7 Ocorreu a contaminação por mercúrio da baía da Minamata, atingindo a cadeia alimentar até em

1951 e contaminando, pois, as pessoas. Mais de 17.000 residentes da região foram afetados. 8 Em 1976, a explosão de um reator com a liberação de mais de 8 toneladas de dioxina para a

atmosfera contaminou mais de 110.000 pessoas e animais. 9 Em 1986, um reator explodiu e descarregou na atmosfera uma quantidade de material com radiação

quarenta vezes maior que a das bombas de Hiroshima e Nagazaki juntas, matando mais de 10.000 pessoas no primeiro momento e contaminando milhares de pessoas. 10

Em 1989, um petroleiro, ao fazer manobras para descarregar, bateu o fundo e rompeu o casco, derramando mais de 24.000 barris de petróleo na Baía Príncipe Willians, no Alasca.

37

variados campos do conhecimento. Uma das primeiras publicações a denunciar

esses problemas foi o livro Primavera silenciosa11, em 1962.

Segundo Filho, Melo e Aguiar (2011), “outras publicações críticas

começaram a seguir, mas foram rapidamente capturadas pela superestrutura do

sistema, que passou a tratar do tema de acordo com os interesses dos grandes

empresários” (FILHO e MELO, 2011, p. 87).

É importante frisar que as formações sociais buscam conceitos e

significações sobre a natureza que é funcional aos seus modos de produção (LEFF,

2013). Nessa conjuntura emergiram proposições conceituais balizadas no debate

ambiental, tais como o conservacionismo e o preservacionismo.

A ideia de conservação surge, segundo Cardoso (2006), como doutrina

desenvolvida por Gifford Pinchot, que prega a definição para a exploração

sustentada de recursos naturais, considerando as situações de risco pelas quais

passavam as áreas naturais norte-americanas, sem que esses ambientes fossem

completamente fechados à ocupação de usos futuros.

Em contrapartida, Cardoso (2006) apresentou a noção preservacionista

representada por John Muir, a qual contempla a apreciação estética e espiritual da

vida selvagem e influencia instituições governamentais de proteção ambiental.

Fundamentada no preservacionismo nas décadas de 1970 e 1980, as

diretrizes normativas e políticas ambientais visavam a institucionalização de

unidades de preservação12

regidas por leis rigorosas no que cerne ao uso e ao

acesso à terra, bem como à exclusão de grupos sociais de ecossistemas

considerados frágeis e ameaçados, de modo que essa postura tem como objetivo a

preservação intacta à diversidade biológica, ou seja, a institucionalização de área

sem a presença humana (CUNHA e COELHO, 2003).

Bebendo dessas fontes, na segunda metade do século XX, várias

conferências foram organizadas na tentativa de encontrar soluções mais adequadas

para um desenvolvimento, com exploração de recursos naturais feitos de modo

controlado e planejado.

11

A escritora Rachel Louise Carson, autora do livro com título original Silent Spring, desencadeou um debate sobre o uso de DDT - Dicloro-difenil-tricloretano (pesticida), incitando o despertar da consciência ambiental, o que acabou por culminar em uma legislação mais rígida e protetiva do meio-ambiente nos Estados Unidos. 12

Diegues, em sua obra Mito Moderno da Natureza Intocada, apresenta reflexão e crítica sobre a criação de espaços naturais e selvagens sem a presença humana.

38

Em 1972, foi realizada em Estocolmo, na Suécia, a Conferência das

Nações Unidas sobre o Meio Ambiente Humano. A Conferência foi resultado da

crescente atenção internacional para a questão ambiental. Segundo Leff (2013):

Naquele momento é que foram assinalados os limites da racionalidade econômica e os desafios da interação ambiental ao projeto civilizatório da modernidade. A escassez, alicerces da teoria e prática econômica, converteu-se numa escassez global que já não se resolve mediante ao progresso técnico, pela substituição de recursos escassos por outros mais abundantes ou pelo aproveitamento de espaços não saturados para o depósito de rejeitos gerados pelo crescimento desenfreado da produção (LEFF, 2013, p. 16).

Dando prosseguimento ao debate ambiental na esfera internacional, em

1980 foi lançado o relatório da Estratégia de Conservação Mundial13, que sugeria

esse conceito como uma aproximação estratégica do desenvolvimento

socioeconômico com a conservação do meio ambiente, apresentando a seguinte

definição classifica:

Conservação é o manejo do uso humano de organismos e ecossistemas, com o fim de garantir a sustentabilidade desse uso. Além do uso sustentável, a conservação inclui proteção, manutenção, reabilitação, restauração e melhoramento de populações (naturais) e ecossistemas (WRI/IUCN/PNUMA, 1992, p. 228).

Observa-se que o conceito de conservação diz respeito à preocupação

com a gestão dos recursos naturais, garantindo assim que estes não venham a

esgotar. Contudo, o entendimento do conceito tem sido utilizado em trabalhos

técnico-científicos e vinculado nos meios de comunicação de forma errônea,

simplista e com uma conotação preservacionista.

Acerca dessa ideia, Gama (2010) discorre:

.

A conservação é um conceito ambíguo que esteve sempre associado a diversos significados e percepções, dependendo das circunstâncias em questão. Esta ambiguidade deriva ainda do facto de lhe estarem associadas duas origens, nomeadamente a gestão dos recursos naturais e a história natural. A preocupação com a gestão dos recursos naturais, enunciada pelo norte-americano Giffor Pinchot, baseia-se na boa gestão dos recursos biológicos, garantindo assim que estes não sejam extintos. A origem do termo conservação, que se baseia na história natural, está intimamente ligada à preocupação com a perda de espécies e com a degradação ou perda das paisagens naturais (GAMA, 2010, p. 07).

13

"World Conservation Strategy" evidencia prioridades conservacionistas e propõe que cada país estabeleça suas diretrizes de ações baseadas no tripé: manutenção dos processos ecológicos, preservação da diversidade genética e uso sustentável dos recursos (IUCN, 1993).

39

Assim sendo, na concepção de Meneguzzo e Chaicouski (2010):

O termo conservação da natureza deve ser adotado para referir-se à exploração racional desta, ou seja, uma exploração que leva em consideração a legislação ambiental, os preceitos éticos e os aspectos técnicos dos recursos naturais de maneira a mantê-los em condições adequadas para o uso das atuais e futuras gerações. Ressalta-se que o termo preservação ambiental, em certos casos citado como sendo sinônimo de conservação da natureza, é totalmente diferenciado deste último, do ponto de vista conceitual, prático, bem como ideológico. (MENEGUZZO e

CHAICOUSKI, 2010, p. 184).

Tem-se, assim, que o propósito da conservação é a utilização racional

dos recursos naturais sem que haja implicações como a degradação ou o

desperdício, de modo que se adequem às especificidades dos ambientes. O homem

entra como elemento participativo na construção da gestão e do planejamento,

apresentando o propósito contrário ao preservacionismo, que visa proteger e

preservar a natureza de modo radical.

Os objetivos subordinados à adoção do conservacionismo abrangem

mudanças globais que culminaram no reconhecimento da necessidade de

internalizar as bases ecológicas e os princípios jurídicos e sociais para a gestão

democrática dos recursos naturais, levando nossa sociedade a procurar modelos

alternativos que harmonizem o desenvolvimento econômico com a indispensável

proteção ambiental, na busca por harmonizar a relação entre sociedade e natureza.

Todavia, isso não deve significar obstáculo ao desenvolvimento, mas sim

instrumentos que visem a uma gestão pautada na harmonia da utilização dos

recursos.

2.3 BACIA HIDROGRÁFICA COMO UNIDADE DE ESTUDOS AMBIENTAIS

A sociedade vivenciou, no final do século XX e início do século XXI,

problemas ambientais derivados da relação sociedade-natureza, de modo que o

objetivo mais recente da sociedade materializa-se na busca por encontrar

estratégias putadas no aproveitamento e na utilização dos recursos naturais,

visando práticas que compatibilizem as atividades socioeconômicas com a

capacidade de suporte do ambiente.

40

Neste contexto, a bacia hidrográfica, de acordo com Santos (2004a),

apresenta-se como delimitação de estudos ambientais por se constituir em um

sistema natural bem delimitado em um espaço onde as interações podem ser

avaliadas integralmente, o que facilita a identificação, interpretação e resolução de

algum evento.

Alves (2008) pontua:

A noção de Bacia hidrográfica é uma base consistente de abordagem. Trata-se da utilização de um espaço de drenagem, com seus múltiplos elementos, seus usos e reflexos. Para a realização de um trabalho que compreenda a análise ambiental, é necessário que se estabeleçam limites bem definidos acerca do objeto analisado. (ALVES, 2008, p. 27).

É importante expor que diversas definições de bacia hidrográfica foram

formuladas ao longo do tempo por diversos autores. Percebemos, nestes autores,

grande semelhança em consideração a este recorte espacial, baseado na área de

concentração de determinada rede de drenagem.

A conceituação de bacia hidrográfica é definida por Cunha (2009) e

Bigarella (2003) como uma compartimentação geográfica natural (unidade física)

formada pelo conjunto de terras drenadas por um rio e seus afluentes, sendo

limitada, perifericamente, pelo chamado divisor topográfico, onde a água das chuvas

ou escoa superficialmente, formando riachos e rios, ou infiltra no solo para a

formação de nascentes e de lençol freático. Águas superficiais escoam para as

partes mais baixas do terreno, sendo que as cabeceiras são formadas por riachos

que brotam em terrenos íngremes. À medida que as águas dos riachos descem,

juntam-se a outros riachos formando os rios; esses rios continuam seus trajetos

recebendo água de outros tributários, formando rios maiores até a seção de

exutório.

Segundo Coelho Netto (2009), a bacia hidrográfica pode ser considerada

um sistema físico aberto onde há entrada (input) e saída (output) de energia e

matéria, de modo que as bacias hidrográficas recebem energia fornecida pela

atuação do clima e de tectônicas locais, eliminando fluxos energéticos pela saída da

água, sedimentos e solúveis. Internamente, verificam-se constantes ajustes nos

elementos das formas e nos processos associados, em função das mudanças de

entrada e saída de energia. Além disso, como um membro do sistema pode

41

influenciar todos os demais, cada um é influenciado por todos os outros, havendo

assim uma interdependência por meio do sistema.

Assim, Santos (2004b) ilustra que:

Podemos, de maneira geral, afirmar que o arcabouço teórico dos sistemas se adapta perfeitamente ao estudo de bacias hidrográficas e faz com que os analistas do ambiente reconheçam o fato de que as partes dessa paisagem não são independentes, que a bacia hidrográfica, dentro de certos limites, constitui-se num todo interconectado, expressa espaço-temporalmente através de padrões, arranjos morfológicos e estruturais complexos (SANTOS, 2004b, p. 47).

Ademais, Christofoletti (1999) expõe que o uso da bacia como unidade de

estudo constitui-se em uma perspectiva holística que considera as bases conceituais

dos sistemas dinâmicos para a análise de unidades espaciais complexas. Deste

modo, a bacia hidrográfica “não enfoca apenas a questão do recurso hídrico, mas

todos os fatores do meio físico como a geologia, geomorfologia, solos, vegetação e

os de ordem socioeconômica que podem influenciar na dinâmica natural da bacia”

(SILVA, 2012, p. 41).

Coelho Netto (2009) alerta que quaisquer alterações que possam ocorrer

na composição ambiental no interior de uma bacia de drenagem, mesmo que de

forma pontual, poderá afetar outras áreas situadas à jusante. Significa, portanto, que

as modificações impressas na paisagem ocasionada pelos efeitos de processos

naturais ou socioeconômicos vão refletir em um determinado ponto de saída de uma

bacia de drenagem, podendo propagar-se à jusante por meio de bacias de

drenagens adjacentes.

Assim, os desequilíbrios ambientais, por mais que ocorram em setores

pontuais em uma bacia hidrográfica, provocam danos tanto para o físico natural

quanto para a sociedade, propagados pelo caráter integrador da dinâmica da bacia,

acenando a necessidade de a administração da bacia ser exercida também de forma

integrada, afim de que os impactos ambientais sejam minimizados.

No Brasil, diversas leis, decretos e portarias foram implantados para a

regulamentação do meio ambiente. Cabe destacar o desenvolvimento de políticas

voltadas aos aspectos hídricos instituídos pela Lei 9.433 de 1997, que estabeleceu a

Política Nacional de Recursos Hídricos (PNRH) e formulou diretrizes gerais para a

gestão da água no Brasil.

42

Entre os arranjados desta política, merece destaque a adoção da bacia

hidrográfica14 como unidade territorial para sua implantação. Mesmo centralizada no

recurso natural água, percebe-se que a legislação propõe-se ainda à integração das

políticas locais que englobam o parcelamento do uso do solo, a aplicação do

saneamento básico, a conservação do solo e de meio ambiente, dentre outros

fatores, ou seja, apresenta a necessidade de integração entre gestão dos recursos

hídricos e a gestão ambiental.

Em suma, tem-se balizado frente às perspectivas de análise ambiental a

bacia hidrográfica como um instrumento adequado para analisar a conservação

ambiental, pois a bacia acaba por envolver os componentes da dinâmica das inter-

relações entre as características físicas de uma bacia de drenagem e as formas de

uso e cobertura (apropriação dos recursos naturais) do território desenvolvido pelas

atividades socioeconômicas, de modo que os impactos ambientais advindos dessa

relação possam ser mensurados e ajustados às potencialidades e limitações do

meio.

Destaca-se que a bacia hidrográfica pode ser grande como a bacia do

Amazonas ou pequena como de um simples córrego de qualquer lugar do país, e

que “[...] bacias de diferentes tamanhos articulam-se a partir dos diversos divisores

de drenagem principais em direção a um canal troco ou coletor principal,

constituindo um sistema de drenagem hierarquicamente organizado” (COELHO

NETTO, 2009, p. 98).

Nos casos de médias e pequenas bacias, a literatura especializada

convencionou nomenclaturas denominadas de sub-bacia hidrográfica ou microbacia

hidrográfica. Entretanto, as definições que envolvem as subdivisões da bacia

hidrográfica apresentam abordagens diferentes, abrangendo fatores que vão do

físico ao ecológico (TEODORO et al., 2007).

A bacia de drenagem pode ser desmembrada em um número qualquer de

sub-bacias, dependendo do ponto de saída considerado ao longo do seu canal

principal (COELHO NETTO, 2009). A subdivisão de uma bacia hidrográfica de maior

ordem em seus componentes (sub-bacias) permite a pontuação de problemas

14

Bacia hidrográfica apresenta-se como uma unidade territorial com limites pautados em critérios geomorfológicos para a análise ambiental, enquanto o Gerenciamento de Recursos Hídricos verticaliza-se e ocupa-se de um único recurso, a água (CAMPOS, 2010).

43

difusos da natureza dos processos de degradação ambiental instalados e o grau de

comprometimento da produção sustentada existente (FERNANDES e SILVA, 1994).

Neste trabalho vamos adotar o termo sub-bacia, tendo em vista a

concepção elencada por Botelho (2014) que afirma: “[...] independe de suas

dimensões, pressupõe não só sua inserção em outra bacia de tamanho maior, mas

também seu vínculo com a mesma” (BOTELHO, 2014, p. 156). Assim, a unidade de

análise da presente pesquisa será a sub-bacia do Riacho do Sangue (Figura 2), que

faz parte de uma bacia maior: a sub-bacia hidrográfica do Médio Jaguaribe15. De

acordo com Ceará (2009), a sub-bacia Hidrográfica do Médio Jaguaribe é uma das

cinco sub-bacias que compõem a Bacia do Jaguaribe. Destaca-se que estas sub-

bacias são unidades de planejamento estratégico que visam melhorar a gestão e o

gerenciamento do recurso hídrico16.

A sub-bacia do riacho do Sangue apresenta-se como escala e recorte de

análise por ser uma unidade geográfica natural e também um recorte satisfatório

referente à análise ambiental pautada na abordagem sistêmica integrada que

envolve a perspectiva de estudo nas dimensões físico-natural, social e econômica

alinhadas, o que, segundo Souza (2011), é a análise da conservação. Ressalta-se

que, a partir daqui, a sub-bacia será denominada bacia a título de simplificação da

nomenclatura para o estudo.

15

Os Comitês de Bacias e as Gerências de Bacias compõem, respectivamente, o núcleo deliberativo e o núcleo de gestão do organograma operacional do sistema de gestão de recursos hídricos do estado. Já foram instalados 12 comitês de bacias hidrográficas no Ceará: Curu; Baixo Jaguaribe; Médio Jaguaribe; Banabuiú; Alto Jaguaribe; Salgado; Metropolitanas; Acaraú; Litoral; Coreaú; Sertões de Crateús e Serra da Ibiapaba. 16

Atualmente, o órgão responsável pela gestão dos recursos hídricos superficiais e subterrâneos é a Companhia de Gerenciamento dos Recursos Hídricos do Ceará (COGERH-CE), criada pela Lei nº 12.217/1993 e vinculada à Secretaria de Recursos Hídricos – SRH, em conjunto com o Conselho de Recursos Hídricos do Ceará (CONERH), que se encontra em funcionamento desde fevereiro de 1994.

44

Figura 2 - Localização da sub-bacia Riacho do Sangue em referência às bacias

hidrográficas do Ceará, assim como as bacias hidrográficas de Planejamento

Jaguaribe

Fonte: Elaborada pela autora.

45

(continua)

3 ESTRUTURA OPERACIONAL METODOLÓGICA

Para o desenvolvimento da pesquisa, os procedimentos metodológicos e

operacionais adotados para alcançar os objetivos estabelecidos, no presente estudo,

foram divididos em cinco etapas, as quais permitirão uma melhor análise dos dados

e das discussões referentes aos resultados e às conclusões. As etapas da pesquisa

consistem em: 1ª etapa – levantamentos de literatura referentes aos temas

específicos; 2ª etapa – levantamento de dados e material cartográfico sobre a área

de estudo; 3ª etapa – mapeamento preliminar; 4ª etapa – estudos de campo; 5ª

etapa – mapeamentos finais e resultados.

A seguir, visando facilitar a sistematização das etapas da pesquisa, foram

descritos tópicos para expor os levantamentos: da bibliográfia, de campo e da

estrutura geocartográfica empregada na pesquisa.

3.1 MATERIAL BIBLIOGRÁFICO, DE CAMPO E GEOCARTOGRÁFICO

3.1.1 Levantamento bibliográfico

No primeiro momento do desenvolvimento desta pesquisa, foi realizada

uma abordagem de natureza teórica pela procura de literaturas que fundamentam as

temáticas abordadas na pesquisa pertinentes ao objeto de estudo, além do

levantamento de informações referentes aos termos e conceitos tratados. Deste

modo, a pesquisa bibliográfica foi realizada em livros, revistas, periódicos,

dissertações e teses. Optou-se por destacar as principais bibliografias apresentadas

de acordo com o eixo de abordagem (Quadro 1):

Quadro 1 - Embasamento do levantamento bibliográfico temático

TEMÁTICA TEMA AUTORES

Geografia Física

Geossistemas

Análise geoambiental integrada

Ecodinâmica.

Mendonça (2012), Nunes (2008), Veado (1995), Silveira e Vitte (2010), Amorim (2012), Gregory (1992), Tricart, (1977), Sotchava (1977), Bertrand (1972), Rodrigues (2001), Troppmair e Galina (2006), Lima (2013), Lima (2014).

46

(conclusão)

Conservação Ambiental

Recursos naturais

Conservação

Legislação Ambiental

Leff (2002), Casseti (1995), Leff (2009), Oliveira (2014), Venturi (2006), Godard (1997), Guerra e Cunha (2003), Venturi (2014), Lima (2013), Filho, Melo e Aguiar (2011), Leff (2013), Cardoso (2006), Cunha e Coelho (2003), Wri/Iucn/Pnuma, (1992), Gama (2010), Meneguzzo e Chaicouski (2010), Silva e Francischett (2012).

Bacia Hidrográfica

Unidade de análise ambiental

Santos (2004a), Alves (2008), Cunha (2009), Bigarella (2003), Coelho Netto (2009), Santos (2004b), Silva (2012), Lei 9.433 de 1997, Teodoro et al. (2007), Fernandes e Silva (1994), Botelho (2014), Ceará (2009), Souza (2011).

Geotecnologias

SIGs – Sistemas de Informação Geográfica

Geoprocessamento

Sensoriamento Remoto

Instrumentos de Campo (GPS – Sistema de

Posicionamento Global)

Fitz (2008b), Brasil (1998), Fitz, (2008b), Florezano (2011), Marques Filho e Vieira Neto (1999), Araújo (2014), Leão et al. (2007), Brasil (2013), Gomes et al. (2011), Rocha e Cruz (2013), Souza, Cruz e Vinces (2014).

Fonte: Elaborada pela autora.

As coletas de dados e documentos concentraram-se em levantamentos

bibliográficos nas bibliotecas e laboratórios da Universidade Estadual do Ceará

(UECE) e Universidade Federal do Ceará (UFC), assim como em sites de revistas

científicas e em instituições que possuem ligação com as temáticas trabalhadas na

pesquisa e que possam subsidiar informações (material cartográfico e dados

secundários), como o Instituto de Pesquisa e Estratégia Econômica do Ceará

(IPECE); o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE); a Companhia de

Gestão de Recursos Hídricos (COGERH); a Companhia de Pesquisa de Recursos

Minerais (CPRM); a Fundação Cearense de Meteorologia e Recursos Hídricos

(FUNCEME); o Instituto Nacional de Meteorologia (INMET); o Departamento

Nacional de Produção Mineral (DNPM); e a Secretaria de Recursos Hídricos (SRH).

3.1.2 Levantamento de campo

As incursões in loco correspondem à etapa realizada após o

levantamento bibliográfico para observações empíricas dos conceitos trabalhados na

pesquisa e também validação da base cartográfica adquirida. As incursões também

auxiliam o mapeamento de novos elementos, como formas de uso, cobertura e

análise dos sistemas.

Foram utilizados:

Quadro 1 - Embasamento do levantamento bibliográfico temático

47

a) Receptor GPS (Global Position System) Garmim 62s, empregado para

coleta de coordenadas das amostras das chaves de interpretação das

formas de uso e cobertura;

b) Altímetro analógico empregado na coleta dos pontos altimétricos;

c) Câmera fotográfica Canon T3i para registro fotográfico;

d) Ficha de campo adaptada da disciplina de Geomorfologia Ambiental

ofertada pelo Programa em 2015.1 pelo professor Dr. Marcos José

Nogueira de Souza, docente do Programa de Pós-Graduação da UECE

(PROPGEO), que a utilizou como suporte para a análise da paisagem.

Ressalta-se que serão realizados diferentes levantamentos de campo,

que foram divididos em duas perspectivas de apreciação para a pesquisa,

denominados campo base e campo objeto, em que o campo base diz respeito à ida

em instituições (FUNCEME; IPCE; SRH; COGERH; CPRM; UFC e UECE) na

investigação por dados e documentos, e o segundo refere-se à ida a campo na área

de pesquisa propriamente dita.

O campo objeto foi dividido em duas etapas para a melhor análise das

informações. A primeira etapa diz respeito à caracterização de reconhecimento geral

da área, ou seja, é o que condiz à análise exploratória da sub-bacia onde foram

realizados registros fotográficos e coleta de coordenadas com apoio do receptor

GPS.

A segunda etapa, referente ao campo objeto, diz respeito à coleta de

dados de uso e cobertura da terra, bem como à análise dos elementos da paisagem

da bacia, validando a base cartográfica elaborada na primeira fase de

mapeamentos, com apoio de receptor GPS, câmera fotográfica e ficha de campo.

O percurso de reconhecimento é expresso de forma horizontal, onde

foram percorridas as vias asfaltadas, CE 371 e BR 226, assim como outras vias

carroçais, para a identificação/ratificação de algumas das formas de uso, cobertura e

conservação da vegetação.

3.1.3 Levantamento geocartográfico

48

Para a realização da pesquisa e confecção dos planos de informação

geocartográficos, foram utilizados os dados e materiais cartográficos empregados na

pesquisa listados a seguir junto com os respectivos órgãos que os disponibilizaram:

1) Base Geológica referente à da Folha SB.24-V-D-VI, Senador Pompeu,

Folha SB.24- X-C-IV, Jaguaretama, na escala de 1:100.000 no

formato shapefile, adquirido junto à CPRM;

2) Base da Geodiversidade do Ceará referente à da Folha AS-24

(Fortaleza) e Folha SB-24 (Jaguaribe) no formato shapefile na escala

de 1:500.000, adquirido junto à CPRM;

3) Zoneamento Geoambiental do Estado do Ceará, em escala de

1:600.000, adquirido junto à FUNCEME;

4) Base de solos Folha SB.24-V-D-VI, Senador Pompeu, Folha SB.24-

X-C-IV, Jaguaretama, na escala de 1:100.000, no formato shapefile,

adquirido junto à FUNCEME;

5) Base de solos com valores de Capacidade Máxima de Água

Disponível (CAD), em escala de 1:250.000, no formato shapefile,

adquirido junto à FUNCEME;

6) Arquivo shapefile dos recursos hídricos, bacias, sub-bacias e

espelhos d’água do estado do Ceará, na escala de 1:100.000,

disponibilizado pela SRH;

7) Arquivo shapefile das rodovias pavimentadas e não pavimentadas do

Estado do Ceará e açudes, na escala de 1:100.000, disponibilizado

pelo IPECE;

8) Arquivos no formato shapefile dos estados do Brasil, dos limites

municipais do Estado do Ceará e das sedes municipais, sedes

distritais e localidades, obtido juntamente ao IBGE, disponibilizado no

site <http://www.ibge.gov.br/home/geociencias >;

9) Arquivos no formato tabular dos dados pluviométricos referentes à

informação da precipitação dos municípios de Solonópole, Milhã,

Deputado Irapuan Pinheiro e Jaguaretama, fornecidos pela

FUNCEME no site:

<http://www.funceme.br/index.php/areas/tempo/downloadde-series-

istoricas>;

49

10) Arquivos no formato tabular referentes aos dados socioeconômicos

(de população, abastecimento de água, resíduos sólidos,

saneamento, PIB e renda) adquiridos junto ao banco de dados

SIDRA, disponibilizado pelo site do IBGE

<http://www.sidra.ibge.gov.br/>;

11) Imagem Landsat 5 TM, órbita/ponto: 217/064 e 216/064 de julho de

2003, resolução de 30 metros, disponibilizadas para download no

catalogo do INPE (Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais) através

do site <http://www.dgi.inpe.br/CDSR/>. As imagens serão utilizadas

no presente estudo para mapeamento de uso e cobertura;

12) Imagem Landsat 8 OIL, órbita/ponto: 217/064 e 216/064 de julho de

2014, ortorretificadas, resolução de 30 metros, disponibilizadas para

download pela USGS no site <http://earthexplorer.usgs.gov/>. As

imagens serão utilizadas no presente estudo para mapeamento de

uso e cobertura, e também como referência no processo de correção

geométrica das imagens Landsat –5;

13) Imagens SRTM, disponibilizadas pela USGS, com resolução de 30

metros referentes às cenas 1S06W039V3, 1S07W039V3,

1S06W040V3, ortorretificadas baixadas pelo site <http://earthex

plorer.usgs.gov/>. A imagem contém registros altimétricos que

permitem a geração dos dados que foram extraídos e trabalhados na

pesquisa como MDE, curvas de nível, declividade, hipsometria e

orientação de vertentes;

14) Imagem do satélite SPOT-5, datada de 2013, sensor HRG, com

resolução de 2,5 metros. Disponibilizada pelo IPECE, essa imagem

apresenta uma resolução espacial de alta qualidade, permitindo

realizar análises com bastante detalhe e que foram utilizadas no

auxílio para o mapeamento dos sistemas ambientais.

Para o processamento dos dados adquiridos na pesquisa, foi necessária

a utilização de SIGs e softwares na elaboração das tabelas e do texto elencados a

seguir:

50

1) Spring 5.2.7, desenvolvido pelo Instituto Nacional de Pesquisas

Espaciais (INPE), disponibilizado gratuitamente pelo site

<http://www.dpi.inpe.br/ spring/>. Esse software foi escolhido para

realizar os procedimentos referentes ao processamento digital de

imagens (PDI);

2) ArcGIS 10.2.2, versão free trial, disponibilizado pela Environmental

Systems Research Institute, adquirido pelo

site <www.esri.com/software/arcgis/arcgis-for-desktop/free-trial>.

Utilizado para a edição vetorial e laboração do layout dos mapas;

3) Gps TrackMaker 13.8, baixado a versão gratuita no site <http://www.tra

ckmaker.com/dwlpage.php?lang=port> para manuseio dos dados em

campo;

4) Microsoft, Pacotes Office 2010: Excel e World, utilizados para a

produção textual e elaboração de tabelas e gráficos.

3.2 ESTRUTURA GEOCARTOGRÁFICA E SENSORIAMENTO REMOTO

Para a elaboração da pesquisa, foi construído um banco de dados digital

alimentado por meio do tratamento e da extração das informações contidas nas

imagens, visando à geração de mapeamentos temáticos pertinentes a discussões

para se alcançar o objetivo proposto na pesquisa.

A geração de mapas temáticos, de acordo com Fitz (2008b), necessita de

informações específicas da representação de um fenômeno existente sobre a

superfície terrestre, fazendo uso de uma simbologia específica. Com certos

cuidados, pode-se afirmar que qualquer mapa que apresente outra informação

distinta da mera representação da porção analisada pode ser enquadrado como

temático.

Destaca-se que todo o mapeamento realizado seguiu uma padronização

cartográfica expressa pelo IBGE (BRASIL, 1998), apresentando as definições de

sistema de Projeção Universal Transverso de Mercator (UTM) e Sistema de

Referência Geocêntrico para as Américas (SIRGAS 2000), Zona 24 Sul, além de

outras informações relevantes, como a toponímia, fontes de informações, direção

norte, escala gráfica e de texto, legenda e título representativo (FITZ, 2008b).

51

(continua)

Ressalta-se que a escala é um fator determinante para a delimitação do

espaço físico, do grau de detalhamento de uma representação ou de sua

identificação. Conforme Fitz (2008), a escala é uma preocupação que se deve ter

para qualquer trabalho em que se utilizam mapas.

Para a elaboração do mapeamento da bacia Riacho do Sangue, a escala

adotada foi baseada nos critérios estabelecidos pelo IBGE (BRASIL, 1998) e por

Florezano (2011). O IBGE apresenta, em Noções Básicas de Cartografia, a precisão

gráfica necessária para a escolha da escala, como o menor acidente medido no

terreno capaz de ser representado em desenho.

Destaca-se que, segundo Florezano (2011), existe uma relação entre

escala e resolução espacial da imagem, embora sejam conceitualmente distintas. A

autora apresenta o exemplo das imagens com resolução espacial de 30m que

permitem extrair informações na escala de até 1:100.000.

Desse modo, considerando a resolução espacial das imagens e dos

mapeamentos prévios que serão utilizados, e ainda centrada com o esforço em

realizar uma ciência comprometida que não apresente lapsos de informações, a

pesquisa adota a representação da escala de mapeamento de 1:100.000.

A seguir (Quadro 2) são apresentados os mapeamentos realizados na

pesquisa, assim como é informada a descrição referente a cada mapa e base

utilizados na sua confecção.

Quadro 2 - Síntese dos mapeamentos e dos procedimentos

MAPAS DESCRIÇÃO

Localização Situa a localização geográfica da Sub-bacia na escala Mundo, Brasil e Ceará. Elaborado a partir de base de dados adquiridos pelo IBGE (2010) e IPECE (2015).

Básico

Apresenta as informações básicas sobre a bacia, com as curvas de nível de 50 m, drenagem, espelhos d’água, principais vias de acesso (CE e BR), área urbana, localidades. O mapa será utilizado em várias etapas de campo e utilizado também como base para a elaboração dos demais mapas. Elaborado a partir de base de dados adquiridos pelo IBGE (2010); USGS (2014); FUNCEME (2009); COGERH, (2009).

Carta Imagem Apresenta o mosaico das imagens de satélite Landsat (composição verdadeira RGB) disponibilizados pelo USGS, resolução espacial de 30m e também apresenta fotografias de pontos percorridos na área de estudo.

Litológico

Apresenta as informações das unidades litoestratigráficas e das constituições litológicas. Elaborado a partir das folhas SB-24-X-C-IV (Jaguaretama) e SB.24-V-D-VI (Senador Pompeu), disponibilizada pela CPRM (2011 e 2014) na escala de 1:100.000.

52

(conclusão)

Quadro 2 - Síntese dos mapeamentos e dos procedimentos

Hipsométrico Refere-se a uma representação das elevações através de cores. Elaboradas a partir da imagem SRTM, resolução espacial de 30 m disponibilizada pelo USGS.

Declividade

Apresenta informações relacionadas ao grau de dissecação do relevo. A declividade foi elaborada a partir da imagem SRTM de 30m, disponibilizada pelo USGS. Para a construção do mapa de declividade, estabeleceram-se as classes de declividade predominantes na área de interesse. As classes são: 0-3% – Relevo plano; 3-8% – Relevo suave ondulado; 8-20% – Relevo ondulado; e >25% – Relevo forte ondulado.

Recursos Hidrográficos

Apresenta a drenagem e os espelhos d’água da bacia e os poços. Elaborado a partir de base de dados adquiridos pelo COGERH (2009), como delimitação da sub-bacia e demais bacias do estado, rios e açudes na escala de 1:100.000.

Bacias hidrográficas do

Ceará/Sub-bacias do

Jaguaribe/Sub-bacias do Médio

Jaguaribe

Apresenta as bacias hidrográficas do Ceará e, posteriormente, traz as bacias de planejamento do Jaguaribe e na bacia do Jaguaribe enfatiza a Bacia do Médio Jaguaribe e suas sub-bacias. Elaborado a partir de base de dados adquiridos pelo IBGE (2010); SRH (2009).

Microbacias hidrográficas

Apresenta as microbacias existentes na bacia Riacho do Sangue, elaborado a partir do método de codificação de bacias hidrográficas oficialmente adotado no Brasil (resolução CNRH nº 30/2002).

Pedológico Apresenta as associações de solos existentes na área de estudo. Elaborado a partir do levantamento realizado pela FUNCEME, 2015.

Variações espaço

temporal da vegetação

(2003 e 2014)

Avaliar a vegetação da área de estudo em 2003 e 2014. Para a análise foi utilizado as imagens Landsat 5 e Landsat 8, respectivamente, com 30m de resolução espacial. As imagens foram trabalhadas no processamento digital.

Sistemas da bacia Riacho do

Sangue

Apresenta a análise integrada do ambiente por meio dos componentes ambientais, tomando como base os aspectos geomorfológicos, de maneira que as informações topográficas foram de fundamental importância na obtenção de um modelo para melhor definição do relevo. Neste caso, foi utilizado o modelo digital de terreno elaborado a partir da imagem SRTM de 30m disponibilizada pelo USGS, utilizando como critério ainda os setores ambientais (clima, pedologia, hidrografia, fitoecologia e geologia) com o auxílio das imagens SPOT, sob resolução espacial de 2,5 m. Elaborado a partir da metodologia proposta por Souza (2000; 2009; 2011).

Uso e cobertura da terra (2003 e

2014)

Apresenta os tipos de uso e a cobertura existentes na sub-bacia em 2003 e 2014, utilizando imagens Landsat 5 e Landsat 8, respectivamente, para cada ano, e que possuem 30m de resolução espacial. A análise foi elaborada com o apoio do método de classificação supervisionada, ratificando as informações adquiridas com o auxílio de receptor GPS em ida a campo. As classes foram definidas com base no Manual Técnico de Uso da Terra do IBGE (BRASIL, 2013).

Fonte: Elaborada pela autora.

3.2.1 Processamento digital de imagens

O Processamento Digital de Imagens (PDI) tem por objetivo a

manipulação de uma imagem em várias regiões do espectro eletromagnético em

sistemas dedicados de computação. O PDI tem por finalidade melhorar o aspecto

53

visual da imagem para fornecer subsídios à interpretação sobre fenômenos e

objetos, inclusive gerando produtos que possam ser posteriormente submetidos a

outros processamentos.

O processamento digital de imagens (PDI) visa à identificação, extração,

condensação e realce da informação de interesse, a partir da quantidade de dados

que usualmente compõem as imagens digitais. O processamento digital de imagens

fornece ferramentas para facilitar a identificação e a extração das informações

contidas nas imagens, para posterior interpretação (MARQUES FILHO e VIEIRA

NETO, 1999).

As técnicas de processamento digital de imagens, além de permitirem

analisar uma cena nas várias regiões do espectro eletromagnético, também

possibilitam a integração de vários tipos de dados devidamente georreferenciados

(FLORENZANO, 2011).

1) Mapeamento do uso e ocupação da terra

A variação temporal de análise da pesquisa compreende um intervalo de

onze anos (2003 e 2014). As imagens utilizadas para o mapeamento do ano de

2003 correspondem ao Landsat 5, sensor TM (Thematic Mapper). A articulação

correspondente à órbita 217 e ao ponto 64 de 24 de julho de 2003 e também a

articulação da órbita 216 e ponto 64 de 07 de julho de 2003.

Já as imagens referentes ao mapeamento de 2014 são concernentes à

Landsat, sensor 8 OLI (Operational Land Imager), e correspondem à órbita 217 e

ponto 64 de 12 de setembro de 2014, e também à articulação da órbita 216 e ponto

64 de 15 de setembro de 2014.

A escolha das imagens é explicada por apresentarem a menor cobertura

de nuvens do período do ano escolhido, sendo levado em consideração ainda a

análise dos totais pluviométricos do ano anterior e do ano em questão, no qual foi

adotado o posto de coleta nos postos pluviométricos de Deputado Irapuã Pinheiro,

Solonópole, Jaguaretama e Milhã.

As imagens Landsat dos sensores TM e OLI são distribuídas de forma

gratuita pelo Instituto de Pesquisas Espaciais (INPE) e United States Geological

Survey (USGS), respectivamente.

54

A imagem Landsat 8 é adquirida no modo ortorretificado. Já a imagem

Landsat 5 foi necessária à execução do georreferenciamento das imagens. Neste

caso, foi utilizada a imagem Landsat 8 para o registro da imagem Landsat 5.

O software utilizado no processamento das imagens foi o SPRING 5.2.7,

pois este possui uma boa interface e ferramentas de alto desempenho de

processamento, além de ser uma plataforma livre.

Os planos de informação geológicos, geomorfológicos, hidrológicos,

fitoecológicos e pedológicos foram utilizados como base para a identificação dos

fatores abióticos e bióticos da área de interesse cartografada, pois essas

informações nortearam a tomada de decisão das classes referentes ao mapeamento

de uso e cobertura da terra.

O processamento das imagens foi sintetizado em duas principais etapas,

conforme descrito por Florenzano (2011): pré-processamento, classificação

propriamente dita e pós-processamento.

O pré-processamento refere-se ao tratamento preliminar dos dados

brutos, onde a imagem é devidamente georreferenciada, no caso da Landsat 5. A

etapa de classificação refere-se à segmentação e classificação (supervisionada) da

imagem, onde seguidamente a seleção e caracterização das classes de interesse

serão realizadas com base na interpretação visual das imagens para definição das

amostras. Já o pós-processamento é a etapa em que os principais defeitos ou

imperfeições da segmentação são devidamente corrigidos.

O realce, utilizado na interpretação visual das imagens, tem como objetivo

evidenciar as áreas ocupadas na região da bacia hidrográfica. Para tanto, na área

de estudo foi aplicado um contraste linear: bandas de composição colorida R 5, G 4

e B 3 nas imagens Landsat 5. Já na imagem Landsat 8 foi aplicado o contraste linear

da composição colorida R 6, G 5 e B 4.

Essa etapa de realce da imagem é ideal para facilitar a interpretação

visual dos alvos, porém não pode basear o processo de segmentação e

classificação, pois a técnica de realce da imagem pode modificar os valores do pixel

e, por consequência, alterar o resultado da classificação (MENESES e ALMEIDA,

2012).

Na segmentação das imagens, após testes pela busca da combinação de

valores para a área, foram definidos 30 para a similaridade e 50 para a área. Para a

classificação da imagem, a técnica utilizada foi a região Bhattacharya. Este é um

55

classificador supervisionado por regiões que utiliza a distância Bhattacharya para

medir a separabilidade estatística entre cada par de classes espectrais, que é

calculada através da distância média entre as distribuições de probabilidades de

classes espectrais (LEÃO et al., 2007).

O mapeamento da imagem é a última fase da classificação e significa

associar às classes temáticas o significado real, ou seja, as classes de uso e

cobertura da terra onde, por meio de treinamento, serão adquiridas amostras para a

classificação do uso e cobertura da terra.

Foram definidas nove (09) classes de uso e cobertura da terra (Quadro 3),

tomando como base o Manual Técnico de Uso da Terra, do IBGE (BRASIL, 2013).

56

Quadro 3 - Classes de uso e cobertura da terra da bacia Riacho do Sangue e classes de interpretação

Nível I Classe (IBGE)

Nível II Subclasse (IBGE)

Classes de uso e cobertura da terra

para a Bacia Descrição do Uso

Chave de interpretação

Imagem de satélite

Fotografia

Áreas antrópicas

não agrícolas

Áreas urbanizadas Zona urbanizada Compreende as áreas ocupadas por aglomerados

edificados como cidades, sedes distritais, vilas, etc.

Áreas de mineração Solos expostos e

mineração

Aqueles cujas ações do homem modificaram a paisagem com a retirada da vegetação, deixando o

solo exposto.

Áreas antrópicas agrícolas

Culturas temporárias/ permanentes Agricultura

Esta categoria compreende as áreas que possuem terras com agricultura (culturas permanentes e

temporárias). Silvicultura

Uso não identificado

Áreas de vegetação

natural

Área Florestal

Caatinga arbórea/ arbustiva densa

Compreende as manchas de remanescente vegetal (áreas conservadas ou em estado de recuperação)

constituídas por vários tipos fisionômicos encontrados na caatinga.

Caatinga arbustiva aberta

Constitui a categoria de cobertura vegetal arbustiva por vezes espaçada, representada por vários tipos

fisionômicos encontrados na caatinga. c

Mata ciliar Ocupa os vales dos canais de drenagem bem

marcados, ou cabeceiras de nascentes.

l

Área campestre Pastagens

São as áreas cobertas predominantemente por gramíneas, ervas, arbustos e árvores dispersas

onde há pastagem natural ou refere-se à área de pousio.

Água Águas continentais Água Fazem parte desta categoria os cursos d’água

rios/riachos e espelhos d’água.

Fonte: Elaborado pela autora com base em IBGE (BRASIL, 2013) e Florenzano (2010).

57

2) Mapeamento do Índice da vegetação

A utilização de índices de vegetação tornou-se uma ferramenta de auxílio

aos estudos sobre a vegetação, pois é possível, por meio destes, obter informações

sobre quantidade de biomassa verde. Segundo Gomes et al. (2011), a importância

dos índices de vegetação consiste em delimitar a área de cobertura verde da

superfície analisada.

Existem diversos índices de vegetação que objetivam explorar as

respostas espectrais da vegetação. Os múltiplos índices de vegetação usados para

monitorar e mensurar as vegetações usam os dados digitais de reflectâncias

espectrais da radiação eletromagnética.

Na pesquisa, optou-se pelo Índice de Vegetação Ajustado ao Solo (SAVI),

que leva em consideração os efeitos do solo exposto nas imagens analisadas, para

ajuste do SAVI quando a superfície não está completamente coberta pela

vegetação.

No primeiro momento, segundo Rocha e Cruz (2013), converteram-se os

números digitais (DN) de cada pixel das imagens em radiância espectral

monocromátrica, onde posteriormente foi possível calcular a reflectância aparente

das imagens e por fim foram calculados o índice de vegetação SAVI.

O cálculo do SAVI foi gerado no software SPRING através da

programação em IMPIMA, cuja imagem resultante é composta por tons de cinza

situados entre -1 e +1. Sua classificação foi realizada com base em estudos

publicados por Ponzoni et. al (2015) e Jensen (2009), com aplicação da técnica de

classificação de imagens denominada fatiamento.

As reflectâncias das bandas 3 (vermelho – visível) e 4 (infravermelho –

próximo) do sensor Landsat 5 TM e Bandas 4 e 5 do sensor Landsat 8 OLI foram

utilizadas nas imagens datadas para a pesquisa.

O SAVI foi determinado pela equação:

Em que NIR é a reflectância no infravermelho próximo (0,75 – 0,90 µm),

Red é a reflectância no vermelho (0,75 – 0,90 µm) e L é uma constante que depende

do tipo de solo.

Destaca-se que L é uma constante denominada fator de ajuste do índice

SAVI, podendo assumir valores de 0,25 a 1, dependendo da cobertura do solo.

58

Conforme Huete (1988), um valor para L de 0,25 é indicado para vegetação densa e

de 0,5 para vegetação com densidade intermediária, quando o valor de L for 1 para

vegetação com baixa densidade.

Em seguida, serão calculados intervalos que, depois de obtidos e

interpretados, serão caracterizados, reclassificados e agrupados em quatro

categorias que expressam as condições da vegetação dos anos 2003 e 2014

(Quadro 4).

Quadro 4 - Intervalo de classes adaptadas de Souza, Cruz e Vinces (2014) e

identificação da conservação proposta por Souza (2013)

Tipologias da conservação ambiental

Intervalos da classe do SAVI (2003)

Intervalos da classe do SAVI (2014)

Ambientes fitoestabilizados

0,6 - 0,85 0,5 - 0,75

Ambientes derivados 0,4 – 0,6 0,3 – 0,5

Ambientes desestabilizados

0,26 – 0,4 0,19 – 0,3

Ambientes degradados 0,0 – 0,26 0,05 – 0,19

- -1-0 -1 - 0,05

Fonte: Elaborado pela autora.

.

59

4 LOCALIZAÇÃO GEOGRÁFICA E CONTEXTO HISTÓRICO DA BACIA

RIACHO DO SANGUE

4.1 LOCALIZAÇÃO GEOGRÁFICA

A bacia Riacho do Sangue localiza-se entre as coordenadas 5°20’00’’ e

6°10’00’’ de latitude sul, e 38°30’00” e 39°30’00’’ de longitude oeste de Greenwich

(Figura 3). Está inserida dentro da bacia hidrográfica de planejamento do Médio

Jaguaribe e esta, por sua vez, faz parte da Bacia do Jaguaribe.

Figura 3 - Localização da bacia Riacho do Sangue

Fonte: Elaborado pela autora.

60

A bacia Riacho do Sangue tem uma área de aproximadamente 2.463 km²,

o que representa 23% da Bacia do Médio Jaguaribe e abrange 5 (cinco) municípios.

A Tabela 1 exibe a representatividade de cada município dentro da bacia.

Tabela 1 - Representatividade dos municípios que fazem parte da bacia Riacho

do Sangue

Municípios Área do

município (km²)

Área municipal incluída na bacia (km²)

Porcentagem representativa ocupada pelo município na bacia

Deputado Irapuan Pinheiro

470,32 469,47 19,06

Solonópole 1.536,15 1035,31 42,03

Milhã 502,04 280,59 11,39

Jaguaretama 1.759,72 670,35 27,22

Jaguaribara17

668,29 7,1 0,29

Fonte: CEARÁ, 2014.

Assim, dentre os municípios estudados, o município Deputado Irapuan

Pinheiro é o mais distante da capital cearense, com cerca de aproximadamente

300km em linha reta. Existem outras estradas (carroçáveis) que oferecem acesso

precário, porém favorecem o percurso da bacia em diversas direções. Destaca-se na

Tabela 2 que é possível visualizar as principais vias de acesso.

Tabela 2 - Vias de acesso e distância da capital.

Município Principais vias de acesso Distância em linha reta de

Fortaleza (capital)

Deputado Irapuan Pinheiro CE 371 300 km

Solonópole BR 226/ CE 371 229 km

Milhã BR 226 / CE 371 228 km

Jaguaretama CE 371 213 km

Fonte: CEARÁ, 2014.

O riacho do Sangue apresenta o leito principal com aproximadamente

100km de extensão, projetando a direção de fluxo sudoeste-nordeste com

desembocadura no Açude Castanhão, mais precisamente no município de

Jaguaretama. A nascente do riacho do Sangue ocorre no município de Deputado

Irapuan Pinheiro em altitudes aproximadas de 380m. Observa-se que, no alto curso

deste riacho, as cotas altimétricas projetam os níveis mais dissecados desta bacia

(Mapa 1).

17

A área da sub-bacia que corresponde ao município de Jaguaribara representa uma porcentagem inferior a 1%, por esse motivo, os dados referentes a este município não serão levados em consideração na pesquisa.

61

Mapa 1 - Básico da bacia Riacho do Sangue

Fonte: Elaborado pela autora.

62

4.2 BREVE CONTEXTUALIZAÇÃO HISTÓRICA DOS MUNICÍPIOS QUE

PERTENCEM À BACIA RIACHO DO SANGUE

Segundo Girão (1986), o processo de formação do território do Ceará

ocorreu tardiamente, pois no primeiro momento deu-se interesse maior de ocupação

na zona da mata com o cultivo da cana-de-açúcar. De acordo com CEARÁ (2009)

“a interiorização das capitanias do Ceará, Paraíba e Rio Grande do Norte se deram

pela formação de territórios da pecuária, onde as populações nativas foram

dizimadas em função da mercantilização do território, além da subordinação ao

europeu” (CEARÁ, op. cit., p. 18).

Neste contexto, o processo histórico de ocupação do território do Ceará

pode ser compreendido em dois períodos, de acordo com CEARÁ (op. cit.): o

primeiro diz respeito à ocupação portuguesa que culminou na apropriação dos

territórios indígenas; e no segundo momento tem-se a pecuária, que teria

desencadeado um fluxo comercial e de serviços a partir de seus produtos.

Cabe destacar que o Ceará, com suas especificidades climáticas,

encontrou possibilidades de pecuária extensiva ao longo das margens de seus rios,

que, segundo Girão (1986), serviram como caminhos naturais e como fonte de

alimentação e água para a sobrevivência, assim como contribuíram para a formação

dos primeiros povoados e vilas.

De acordo com Reges (2014), os rios cearenses que mais contribuíram

para a penetração dos conquistadores foram o Acaraú e o Jaguaribe, que

transitavam o fluxo de mercadorias vindo de Pernambuco e da Bahia, construindo

assim uma organização econômica e sociocultural pelos sertões da província do

Ceará.

Deste modo, Chaves (2002) relata:

O roteiro das boiadas que impulsionaram a colonização da Capitania do Ceará nos séculos XVII e XVIII, as ribeiras do Rio Jaguaribe representavam a mais importante via de acesso por onde entraram as vias imigratórias oriundas das regiões açucareiras da Bahia e Pernambuco. Ao encontrarem a facilidade de água e terras férteis, os primeiros colonizadores foram instalando, ao longo das várzeas do Jaguaribe, currais para a criação de gado, dando início assim, assim, à pratica da pecuária extensiva (CHAVES, 2002, p. 13).

63

Estudos demonstram que já havia relativa concentração populacional ao

longo do Jaguaribe e seus afluentes. De acordo com Regis (2014, p. 02, grifo do

autor), “uma das estratégias da Coroa para povoar os sertões nordestinos foi à

concessão de sesmarias”.

As primeiras sesmarias, de acordo com CEARÁ (2009, p.10), “as

sesmarias ocupavam as margens dos rios de forma perpendicular, talvez para

possibilitar um maior número de beneficiados com este recurso tão escasso no

semiárido”.

A seguir, Bezerra (2001) aborda a efetivação de fazendas implantadas

pelos sesmeiros:

Das cercanias da Fortaleza passaram os exploradores às ribeiras do Pacoti, do Choró, do Pirangi, do Jaguaribe, do Palhano, do Figueiredo, do Banabuiú, do Riacho do Sangue, do Quixeramobim, do Acarahú etc., primeiramente nas barras, e depois pelo curso dos rios: e assim por todo o centro, de sorte que no ano de 1720 mais ou menos não havia um rio que não fosse conhecido e habitado (BEZERRA, 2001, p. 09).

De acordo com Girão (1986), a estrutura da propriedade da terra

decorrente do processo de sesmarias acabou por propiciar grandes latifúndios que,

no contexto político local, foram responsáveis pelas emancipações dos municípios

no período colônia, quando o estado do Ceará apresentava 16 vilas. Dentre as vilas,

tem-se a vila de Icó, que, de acordo com CEARÁ (2009), englobava a área da bacia

Riacho do Sangue.

No período colonial, segundo CEARÁ (op. cit.):

Essas vilas passaram por experiências comuns, enquanto principais territórios de concentração da riqueza pecuária que, associada à produção do algodão, permitiu que a população local se estabelecesse e pudesse enfrentar as adversidades climáticas. A economia algodoeira, além de permitir o consórcio com o gado, constituiu-se no grande fomentador econômico da fragmentação territorial, tendo por suporte a política local e imperial de enfrentamento das questões da seca, pois se adequou aos sistemas de poder e de produção vigente (CEARÁ, op. cit., p. 33).

Posteriormente, as 16 vilas foram fragmentadas, apresentando em

seguida um total de 64 municípios. Icó foi desmembrado e originou outros

municípios. Dentre os municípios que surgiram, tem-se Jaguaretama e Solonópole,

que englobavam a área da bacia Riacho do Sangue. O município de Solonópole, por

64

sua vez, foi dividido e deu origem a mais dois municípios: Milhã e Deputado Irapuan

Pinheiro.

Contudo, observa-se que os municípios da área de estudo tiveram sua

história atrelada ao desenvolvimento das bases econômicas que impulsionaram a

ocupação do Ceará. O Quadro 5 refere-se aos dados de Formação Administrativa

dos municípios inseridos na bacia Riacho do Sangue. Destaca-se que a

compreensão das condições históricas da ocupação da bacia Riacho do Sangue faz-

se necessária para o entendimento dos atuais usos.

Quadro 5 - Síntese do histórico dos municípios na área de estudo

Município Histórico

Jaguaretama

Palco de sangrenta luta, o riacho das Pedras passou a se chamar Riacho do Sangue. Desde 1784 já era sede da freguesia de Nossa Sra. da Conceição, criada por Provisão de 6 abril com território desmembrado de Icó. A Resolução Provincial de 6 de maio de 1833 elevou aquela povoação à categoria de Vila. O município foi criado pela Lei nº 1179, de 29 de agosto de 1865, com sede no núcleo Riacho do Sangue, então reerguido em vila com o nome de Riachuelo. Extinto por vários decretos, finalmente pelo Decreto nº 488, de 20 de dezembro de 1938, a vila do Riacho do Sangue passou a denominar-se Frade, sendo elevada à categoria de cidade. A crônica popular registra que um rico fazendeiro resolveu abandonar a vida do campo e internar-se num Claustro para ser frade, daí chamarem o lugar como sítio do Frade. Em 1956, o topônimo Frade cedeu lugar ao de Jaguaretama. Origem do Topônimo: Jaguaretama é composição artificial, pretendendo significar lugar ou região de Jaguar ou Onça. Permanecendo em divisão territorial, o município de Jaguaretama é constituído de 1 distrito: Jaguaretama. Gentílico: jaguaretamense.

Solonópole

Da fazenda Umari, localizada próximo a uma queda d'água localizada no Riacho do Sangue, nasceu o município. Por isso, sua denominação antiga era Cachoeira. Em 1870, pela Lei provincial nº 1.337, de 22/10/1870, foi transformando em território elevado à categoria de vila. Origem do topônimo: Homenagem ao Dr. Solon Pinheiro. Em divisão territorial datada de 01/07/1995, o município é constituído de 6 distritos: Solonópole, Assunção, Cangati, Pasta, Prefeita Suely Pinheiro e São José do Solonópole. E assim permanece em divisão territorial. Gentílico: solonopolitano.

Deputado Irapuan Pinheiro

Chamou-se inicialmente Tataíra, composição tópica que se traduz por ira = abelha + tatá = fogo, donde se obtém abelha cor de fogo. Em segunda denominação, chamou-se São Bernardo do Ceará, terminando com a denominação atual. Elevado à categoria de município com a denominação São Bernardo do Ceará, pela Lei estadual nº 6.320, de 28/05/1963, desmembrou-se de Solonópole. Origem do topônimo: Nome do Deputado que representou o município na Assembleia Legislativa do Ceará. Em divisão territorial, o município é constituído de 6 distritos: Deputado Irapuan Pinheiro, Aurora, Baixio, Betânia, Maratoã e Velame. Gentílico: irapuense.

Milhã

O município foi recentemente desmembrado de Solonópole Elevado novamente à categoria de município pela Lei estadual nº 11.011, com a denominação de Milhã em de 05/02/1985. A povoação é formada por pequenos agricultores, comerciantes e criadores de espécies diversas. Origem do topônimo: Milhã é o nome de uma gramínea existente na região. Constituído de 6 distritos: Milhã, Carnaubinha, Baixa Verde, Barra, Ipueira, Monte Grave. Gentílico: milhaense.

Fonte: BRASIL/CEARÁ (2015)

65

Após essa configuração básica é importante expor que a dominação

política se fazia sentir desde as primeiras Vilas que se firmaram como células

básicas originadas das fazendas de criação do gado e de produção do algodão.

Assim, segundo CEARÁ (2009), as estruturas que conduzem o poder político e

econômico do estado do Ceará durante séculos iniciais ainda hoje mantêm fortes

elementos que se manifestam e se materializam nas relações políticas

clientelísticas, nas desigualdades socioespaciais e na concentração da renda, com

ampliação da pobreza e da miséria.

66

5 CONTEXTUALIZAÇÃO FÍSICO-AMBIENTAL DA BACIA RIACHO DO

SANGUE

5.1 CONDICIONANTES GEOLÓGICOS-GEOMORFOLÓGICOS

Do ponto de vista geológico, a bacia Riacho do Sangue repousa na

província estrutural da Borborema, porção nordeste da Plataforma Sul-Americana

que, segundo Santos e Brito Neves (1984), se limita a sul com o Cráton do São

Francisco e a oeste com a Bacia do Parnaíba e apresenta-se marcada pela atuação

de eventos tectônicos neoproterozoicos, também conhecidos como palco de intensa

atuação do Ciclo Brasiliano.

De acordo com Maia, Bezerra e Sales (2010), o Ciclo Brasiliano foi o

último evento orogênico importante que o afetou, consolidando a arquitetura regional

e esboçando as paisagens atuais:

O Ciclo Brasiliano originou o megacontinente Panotia, que foi posteriormente reorganizado no Cretáceo, durante a divisão do megacontinente Pangea. Essas paisagens desenvolvem-se sobre zonas de cisalhamento que foram reativadas durante o Cretáceo e o Cenozoico, originando áreas arqueadas que, uma vez submetidas à erosão diferencial, formam alinhamento de cristas com direções preferenciais NE-SW e E-W (MAIA, BEZERRA e SALES, 2010, p. 07)

Ainda acerca dos eventos Brasiliano, ressalta-se a Província da

Borborema, que, segundo Campelo (1999):

A Província Borborema vem sendo entendida como uma complexa faixa colisional originada pela convergência de placas, incluindo a do São Francisco e a do Oeste da África. Destarte, a evolução da província pode abrigar um histórico de amalgamação de microplacas e terrenos, consolidada ao final do evento Brasiliano, e a extensa rede de cisalhamentos é prova da grande mobilidade a qual a mesma foi submetida. Sob essa ótica, pode-se considerar uma evolução bem mais dinâmica da província, incluindo a possibilidade de descontinuidades entre seus domínios (CAMPELO, 1999, p. 18).

A província da Borborema é individualizada em três segmentos tectônicos

fundamentais, limitados por importantes zonas de cisalhamento brasilianas,

denominadas: Subprovíncia Setentrional, Subprovíncia da Zona Transversal ou

Central e Subprovíncia Externa ou Meridional. E estes segmentos são ainda

subdivididos em domínios, terrenos ou faixas, com base no patrimônio

67

litoestratigráfico, feições estruturais, dados geocronológicos e assinaturas geofísicas

(BRASIL, 2003).

A bacia Riacho do Sangue está situada no segmento tectônico da

Subprovíncia Setentrional, que compreende uma porção da Província Borborema

situada ao norte do Lineamento Patos, sendo subdividida, de oeste para leste, nos

domínios Médios Coreaú, Ceará Central e Rio Grande do Norte (BRASIL, op. cit.).

Mais especificamente o Domínio Ceará Central e o Sistema Orós-

Jaguaribe (Domínio Rio Grande do Norte), localizado no Setor Setentrional da

Província Borborema, exibem o contexto estrutural da área de estudo.

Especificamente o Domínio Ceará Central tem maior expressão no

território do estado do Ceará e compreende o Bloco Tróia-Pedra Branca e a Faixa

Ceará Central, apresentando como limitante ao norte o cisalhamento Sobral-Pedro II

e ao sul as zonas de cisalhamento de Orós e Aiuaba (BRASIL, op. cit.).

De acordo com Vitório (2010), a maior extensão da área do Domínio

Ceará Central (Faixa Ceará Central) é ocupada por complexos de rochas

metassedimentares proterozoicas e compreendem os complexos Ceará (unidades

Canindé, Independência, Quixeramobim e Arneiroz) e Acopiara, Grupo Novo Oriente

e Unidade Choró.

O Sistema Orós-Jaguaribe compõe o Domínio Rio Grande do Norte e

limita-se pelas zonas de cisalhamento Orós Oeste/Aiuaba e Portalegre. Segundo

Campelo (1999), este sistema é constituído, de maneira simplificada, por duas

faixas metavulcano-sedimentares (Orós e Jaguaribe), separadas por um

embasamento que pode ser subdividido em dois blocos (Jaguaretama na porção

NS e o bloco São Nicolau na porção EW).

A Faixa Jaguaribe é composta, essencialmente, por uma associação

vulcano-plutônica e, subordinadamente, por metassedimentos. A Faixa Orós é

composta por sequências metassedimentares, rochas intrusivas e rochas

gnáissicas, as quais representam os maciços residuais dispostos em faixas

contínuas de direção NNE, sendo subdividida nas formações Santarém, Campo

Alegre e pela Suíte Magmática Serra do Deserto (CAMPELO, 1999).

O Bloco Jaguaretama é caracterizado por Ortognaisses tonalíticos,

Ortognaisses graníticos, ambos geralmente bandados e parcialmente

migmatizados, e rochas metassedimentares e frequentemente migmatizadas.

Ressalta-se que o Bloco Jaguaretama se comportou de maneira rígida durante o

68

Ciclo Brasiliano (PARENTE e HENRIARTHAUD, 1995).

De acordo com BRASIL (2011 e 2014), a área de estudo compreende

treze unidades litoestratigráficas que estão espacializadas no mapa litológico (Mapa

2), as quais são palco de processos complexos que ajudam a forjar a

compartimentação regional do relevo e as feições correspondentes do modelado do

ambiente local

69

Mapa 2 - Mapa litológico da bacia Riacho do Sangue

Fonte: Elaborado pela autora.

70

Os elementos litológicos existentes na bacia Riacho do Sangue estão

dispostos no Quadro 6 e são baseados no BRASIL (1981) e BRASIL (2011 e 2014).

Quadro 6 - Relações tectonoestratigráficas da bacia Riacho do Sangue

RELAÇÕES TECTONOESTRATIGRÁFICAS FANEROZOICAS

Era Período Letra

símbolo Unidade

Litoestratificada Constituição litológica

QUATERNÁRIO N23c Depósito Eluvial Areias, cascalhos e argilas.

QUATERNÁRIO Q2a Depósitos

Aluvionares Areias quartzosas, de coloração

branca.

RELAÇÕES TECTONOESTRATIGRÁFICAS PRÉ-CAMBRIANAS PROVÍNCIA BORBOREMA/SUB-PROVÍNCIA SETENTRIONAL DOMÍNIO CEARÁ CENTRAL - SISTEMA ORÓS-JAGUARIBE

Era Período Letra

símbolo Unidade

Litoestratificada Constituição litológica

EDIACARIANO NP3γq Suíte Quixadá Composição predominantemente

metaluminosa, cálcio-alcalina.

EDIACARIANO NP3γ2pc Piquet Carneiro Composição metaluminosa a

peraluminosa e cálcio-alcalina.

EDIACARIANO NP3γbb Granito Banabuiú Sheets e plútons de sienogranitos

e monzogranitos de cor cinza

EDIACARIANO NP3δ3ds Suíte Dr. Severiano

Dioritos/tonalitos ricos em enclaves biotíticos

CRIOGENIANO NPacod Diatexitos Migmatitos de composição

granítica com enclaves de xisto, gnaisse

CRIOGENIANO NPacom Metatexitos Composições graníticas

TONIANO NPaco Acopiara Xistos diversos, lentes de rochas calcissilicáticas (cs), anfibolitos

(af) e quartzitos (q).

ESTATERIANO PP4ocr Campo Alegre

Composição metarcóseos blastoporfiríticos com

intercalações de metassiltitos e sericita xistos

ESTATERIANO PP4os Santarém Metarcóseos de coloração cinza e

foliados.

ESTATERIANO PP4γosd Serra do Deserto Granito, Granodiorito

RIACIANO PP2γcz Ortognaisse

Cajazeira Composição metaluminosa,

cálcio-alcalina.

RIACIANO Prj Jaguaretama

Ortognaisses de composição ortognaisses monzograníticos a granodioríticos com hornblenda, biotita, plagioclásio e quartzo, como minerais constituintes

principais.

Fonte: BRASIL (1981; 2011 e 2014).

Em relação aos aspectos geomorfológicos, as feições do relevo

encontradas na região da bacia Riacho do Sangue decorrem, de acordo com Souza

NE

OP

RO

TE

RO

ICO

P

ALE

OP

RO

TE

RO

ICO

C

EN

OZ

OIC

A

71

et. al. (1979), de eventos naturais que ocorreram no Período Pleistocênico,

desenvolvidas em terrenos do embasamento cristalino da estrutura geológica

composta de escudos ou crátons constituídos de rochas ígneas de consolidação

intrusivas pré-Cambrianas ao lado dos fatores paleoclimáticos e também da

dinâmica morfogenética atual.

Segundo Nascimento (2006), os conhecimentos do arcabouço geológico

desempenham funções centrais na complexa elaboração das formas de relevo,

seguidos de fatores paleoclimáticos e morfogenéticos atuantes. Assim, a partir das

características litológicas que respondem aos processos morfodinâmicos, Souza

(1988) demarca espacialmente as unidades morfoestruturais do Ceará.

A classificação das unidades morfoestruturais realizadas por Souza

(1988, 2000) são espacializadas em: Domínio dos depósitos sedimentares

cenozoicos: planícies; Domínio das bacias sedimentares paleomesozóicas: Chapada

do Araripe, Chapada do Apodi e Planalto da Ibiapaba/Serra Grande; e Domínio dos

escudos e maciços antigos: Planaltos residuais e Depressões sertanejas. Essa

última subdivide-se em duas porções distintas: área conservada e área dissecada.

A bacia Riacho do Sangue está compreendida pelo domínio dos escudos

e dos maciços antigos que foram concebidos pela depressão sertaneja em formas

erosivas, dissecadas, conservadas e pelas cristas residuais. Também verifica a

ocorrência do domínio dos depósitos sedimentares cenozoicos representados na

área de estudo pelas áreas de deposição recentes, concebidos em planícies fluviais,

comportando solos de melhor qualidade e maior umidade, além de permitir uma

atividade agrária mais intensa.

Ressalta-se que a evolução geomorfológica se baseia, segundo

Bigarella (2003), na ocorrência de epirogênese (soerguimento) pós-cretáceo,

acompanhada por fases de dissecação e pediplanação (rebaixamento) ocorridas

em climas secos ou de alternâncias climáticas, mais especificamente durante o

Quaternário. Esses ciclos morfoclimáticos foram grandes responsáveis pela

modificação dos níveis de pediplanação, como apontam Maia, Bezerra e Sales

(2010):

Fases pedogenéticas de clima úmido alternaram-se com fases morfogenéticas em clima seco, com chuvas violentas e esporádicas, onde vigoraram os processos de pediplanação. Nesse processo ocorre a retração lateral das escarpas das vertentes e, por consequência, o acúmulo de material detrítico em sua base, formando rampas suaves em

72

direção ao fundo dos vales, denominadas pedimentos. No caso de mantidas as mesmas condições climáticas, ocorre a coalscência dos pedimentos e a formação de amplas superfícies aplainadas denominadas pediplanos (MAIA, BEZERRA e SALES, 2010, p. 09).

Assim, observa-se na área de estudo a unidade referente à depressão

sertaneja, que, apesar da complexidade geológica, apresenta superfície aplainada,

se portando como local de depósitos dos pedimentos que compõem os pediplanos

sertanejos relacionados às fases glaciais. Exibem a morfologia que apresenta

inclinação (Mapa 4) desde os níveis altímetros mais elevados, com cotas de 400m,

com direção de caimento topográfico suavemente inclinada (3 a 8%) no sentido dos

fundos dos vales e do litoral. No Mapa 3 é possível visualizar os níveis altimétricos

da sub-bacia, de modo que se visualiza compartimentação topográfica de caimento

(SW-NE).

Souza et al. (1979) diz que:

Na maior parte do sertão, a capacidade de incisão linear da drenagem é incipiente, o que justifica a pequena amplitude entre os interflúvios e fundos de vales. Quando a drenagem se adensa e as rochas tenras prevalecem, há condições para que a topografia se mostre mais dissecada e os interflúvios assumam formas de topos convexizados (SOUZA et. al, 1979, p. 81).

A depressão sertaneja (Quadro 7, Figuras a e b), de acordo com Sousa

(2000), compreende dois níveis altimétricos: o primeiro com altitude média de 130 –

150m, expondo os níveis rebaixados com topografias planas ou levemente

onduladas, e o segundo nível com altitude superior a 300m, que apresentam a

dissecação mais evidente e constituem os níveis mais elevados da depressão

sertaneja.

Souza et. al. (1979) descreve a morfodinâmica atual das depressões

sertanejas balizadas diretamente com os condicionantes climáticos (intemperismo

físico e ações pluviais/fluviais) e com o revestimento florístico das caatingas de

caráter caducifólio. A acentuada amplitude das temperaturas durante o dia é o

fundamental fator que acarreta a desagregação física das rochas. Já as chuvas de

caráter eminentemente torrencial esboçam o papel decisivo no processo de

remoção do material alterado.

73

Mapa 3 - Mapa hipsômetro da bacia Riacho do Sangue

Fonte: Elaborado pela autora.

74

Mapa 4 - Mapa de declividade da bacia Riacho do Sangue

Fonte: Elaborado pela autora.

75

Os relevos residuais (Quadro 7, Figura e) encontrados na bacia Riacho do

Sangue ocorrem na forma de cristas ao longo da depressão sertaneja,

posicionando-se em níveis entre os planaltos elevados e a depressão sertaneja,

apresentando-se como resultantes da erosão diferencial que rebaixou as áreas

circundantes de constituição litológica menos resistente, ou seja, as rochas mais

resistentes permanecerão (CHRISTOFOLETTI, 1974).

A planície fluvial (Quadro 7, Figuras c e d) da bacia Riacho do Sangue

correspondem a formas bem características de acumulação por processos fluviais,

constituindo depósitos aluviais ao longo da calha dos rios e exibindo as melhores

condições edafoclimáticas no semiárido.

As planícies fluviais, conforme Souza et. al. (1979), apresentam

características de acumulação, abrigando as melhores condições de solo e

disponibilidade hídrica, constituindo um ambiente de exceção na depressão

sertaneja, ocupado em seu período seco pela agricultura de vazante.

Transversalmente, podem ser observadas nestas planícies setores de

vazante homogêneos e classificados de acordo com Souza et. al. (op cit.) em

várzea baixa, várzea alta e rampas de interflúvio. As vazantes dizem respeito ao

talvegue e ao leito menor do rio, podendo ser submetido à inundação por cheias

periódicas marginadas pela vegetação arbórea, normalmente uma área de terras

planas, sendo que sua largura é função do regime fluvial.

As várzeas que apresentam compartimentos mais elevados são

conhecidas como várzeas altas, porém, o que prevalece é a chamada várzea baixa

coberta pela mata ciliar de carnaúba. Os interflúvios são caracterizados pela

ocorrência de terraços fluviais, ou seja, áreas recobertas por seixos arrestados,

expondo pretéritos leitos de inundação.

76

Quadro 7 - Condições geológicas geomorfológicas da bacia Riacho do Sangue

Figura a: Superfície pediplanada conservada em

Jaguaretana. Figura b: Superfície pediplanada dissecada em Solonópole.

Figura c: Planície Fluvial do Riacho Capitão Mor.

Figura d: Planície fluvial do Riacho do Sangue próximo à área urbana de Solonópole.

Figura e: Cristas residuais em Solonópole. Fonte: Elaborado pela autora.

77

5.2 CARACTERIZAÇÃO HIDROCLIMÁTICA

De acordo com Souza (2009 p. 39), “as condições climáticas têm

influência direta sobre o regime e a disponibilidade dos recursos hídricos

superficiais e subterrâneos.” Desse modo, o clima estabelece a atuação dos

processos exógenos sobre a forma do planeta. Assim, para a compreensão das

condições ambientais presentes, devem-se considerar os indicadores dos fatores

meteorológicos, dentre os quais: insolação, precipitação pluviométrica e

temperatura atmosférica, evaporação, nebulosidade, umidade relativa e pressão

atmosférica.

As análises dos dados climáticos podem ocorrer em diversas escalas,

destacando-se nos estudos ambientais das mudanças climáticas o nível global,

regional e local. Neste contexto, diversos fatores influem no estado meteorológico

de determinada região ou lugar. Assim, considerando um nível mais regional, tem-

se o Estado do Ceará, que está localizado na zona do Equador, sofrendo

permanentemente influências das oscilações oceânicas, o que provoca fenômenos

atmosféricos.

Destarte, entre os fenômenos que atuam sobre o clima do Ceará, a Zona

de Convergência Intertropical (ZCIT) compreende um dos principais sistemas

atmosféricos do clima regional, influenciando principalmente a distribuição e

variação do regime de chuva nestas áreas. Tal sistema sinótico influencia a

atuação das chuvas nos quatro primeiros meses do ano, determinando uma quadra

chuvosa de fevereiro a maio.

Cabe destacar que outros fenômenos também influenciam a dinâmica

climática do Estado. Dentre estes, destacam-se: os Vórtices Ciclônicos de Altos

Níveis (VCAN) (atuação em dezembro, janeiro e fevereiro); os Sistemas

Convectivos de Mesoescala (SCM) (atuação de fevereiro a maio); as Linhas de

Instabilidades (atuação de fevereiro a maio); e as Ondas de Leste (atuação de

junho a agosto). A atuação de tais fenômenos garante uma concentração,

geralmente, nos seis primeiros meses do ano, fato recorrente no Nordeste

setentrional do país.

Para a contextualização, cabe ainda destacar a dificuldade existente no

estudo dos aspectos meteorológicos, dada a falta de dados históricos de alguns

locais específicos para melhor apreensão da realidade natural. Nesse sentido,

78

especificamente para o desenvolvimento deste estudo, optou-se em alguns

momentos pelas normais climatológicas, com o levantamento de dados de

estações em município adjacentes que não pertencem aos municípios que

englobam a bacia Riacho do Sangue, mas que podem ser utilizados em caso de

proximidade entre as áreas. Acerca disso, Vianello e Alves (1991) dizem que os

dados levantados por uma dada estação climática possuem validade para a

caracterização dentro de um raio de até 150 km.

Sobre as Normais climatológicas no Brasil, verifica-se a disponibilidade

de dados em dois períodos, o primeiro de 1931 a 1960 e o segundo de 1961 a

1990, os quais foram revisados no ano de 2009 e estão atualmente disponibilizados

de forma on-line no site do Instituto Nacional de Meteorologia (INMET), através do

endereço eletrônico:

http://www.inmet.gov.br/portal/index.php?r=clima/normaisclimatologicas.

O uso das Normais climatológicas representa a fonte de dados mais

completa e disponível para a caracterização dos aspectos climáticos. Para este

estudo, optou-se pela estação meteorológica de Jaguaruana (04º47’S e 37º46’W –

altitude de 11,7m), jugando-se ser a mais próxima. Assim, a Tabela 3 demonstra a

tabulação dos dados na referida estação.

Tabela 3 - Normais Climatológicas (1969/1990) - Estação Jaguaruana

Meses Temp. Mínima

(°C)

Temp. Máxima

(°C)

Precipitação Total (mm)

Umidade Relativa

(mm)

Insolação (h)

Evapo-ração Total (mm)

Nebulo-sidade

Pressão atmosférica

(hPa)

Jan - 33,8 60,0 71,0 255,3 195,3 0,6 1009,0

Fev 23,5 32,9 87,6 75,0 194,4 137,1 0,7 1009,0

Mar - - 261,3 82,0 180,4 104,6 0,8 1008,9

Abr 23,4 31,8 188,6 82,0 198,9 90,9 0,7 1009,2

Mai 22,9 32,0 142,7 79,0 220,7 105,4 0,6 1010,1

Jun 21,8 31,5 52,1 77,0 231,8 124,7 0,5 1011,5

Jul 21,2 32,0 48,4 74,0 249,5 167,4 0,4 1012,1

Ago 21,1 33,2 3,8 68,0 280,5 204,9 0,3 1011,7

Set 21,8 34,0 5,1 68,0 280,1 225,0 0,3 1011,1

Out 22,6 34,1 2,5 67,0 296,8 231,3 0,4 1009,9

Nov 23,0 34,0 0,9 68,0 285,7 214,4 0,4 1009,3

Dez 23,5 33,7 9,0 69,0 275,1 206,2 0,5 1009,1

Ano - - 862,0 73,3 2949,2 2007,2 0,5 1010,1

(-) Ausência de dados

Fonte: INMET, 2016.

Especificamente para os dados de precipitação, foram analisadas as

79

Normais Climatológicas e as informações brutas (série históricas) coletadas acerca

das Estações pluviométricas de cada município que compõe a bacia Riacho do

Sangue, adquiridos junto à FUNCEME.

Por sua vez, em relação aos dados de temperatura, além das

informações sobre as Normais climatológicas na estação meteorológica de

Jaguaruana, foram adquiridos outros dados (de cada município que compõe a

bacia) através do software livre CELINA, que se utiliza das informações de latitude,

de longitude e de altitude dos postos utilizados na pesquisa com base nas regiões

climáticas do Ceará. Este se baseia na aplicação do método estatístico de

regressão linear múltipla, fornecendo dados de temperatura média mensal.

Assim, em relação à precipitação, os dados das Normais climatológicas

para a estação de Jaguaruana demostram a maior concentração de chuvas nos

meses de março a maio. Para tanto, observa-se comportamento semelhante na

séria histórica mensal (Gráfico 1) de precipitação dos municípios que compõem a

bacia Riacho do Sangue.

Verifica-se a influência da ZCIT na variabilidade interanual nos totais

pluviométricos, na qual há a permanência da precipitação nos primeiros meses do

ano, com ápice no mês de março, seguida por um período acentuadamente seco,

ou seja, a partir de maio tem-se uma diminuição gradativa do volume de chuvas e a

partir do mês de agosto passa a predominar o período de estio. Dentre o período

analisado, destacam-se as maiores precipitações nos anos de 1974, 1985 e 1986.

Tal fato demonstra que até o ano de 2014 não houve outros períodos de destaque

em relação à precipitação para esta, ou seja, cerca de 28 anos desde a evidência

no ano de 1986. Observe a série histórica anual (Gráfico 2) de precipitação dos

municípios que compõem a bacia Riacho do Sangue.

A temperatura máxima na bacia Riacho do Sangue é

predominantemente elevada, com valores em torno de 31,5ºC a 34,1ºC e

temperatura mínima de 21,1ºC a 23,5ºC. Os meses de junho e julho destacam-se

por apresentar as temperaturas médias mais baixas, de acordo com os dados

verificados no software CELINA. A partir do mês de agosto observa-se um declínio

da umidade e da nebulosidade, contata-se ainda uma maior influência solar,

repercutindo em um aumento da insolação e da temperatura. A umidade relativa

aumenta de forma semelhante ao comportamento da precipitação (com ocorrência

no mesmo período – março a maio).

80

Gráfico 1 - Série histórica de média mensal da Precipitação na bacia Riacho do Sangue (1974-2014)

Fonte: CEARÁ, 2015.

Gráfico 2 - Série histórica de média anual da Precipitação na bacia Riacho do Sangue (1974-2014)

Fonte: CEARÁ, 2015.

0

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Jan Fev Mar Abr Mai Jun Jul Ago Set Out Nov Dez

DEP. IRAPUAN PINHEIRO

MILHA

SOLONOPOLE

JAGUARETAMA

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20

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11

20

12

20

13

20

14

DEP. IRAPUAN PINHEIRO MILHA SOLONOPOLE JAGUARETAMA

81

Assim, nos meses de setembro a dezembro tem-se a atuação dos

ventos alísios, porém a temperatura na região apresenta-se mais elevada,

verificando-se então um aumento de áreas de baixa pressão. À medida que a

temperatura aumenta, a pressão diminui.

No que se refere ao elemento da evaporação, constata-se uma

proporcionalidade em relação à temperatura, ou seja, quanto maior a temperatura,

maior será a evaporação. Cabe destacar que quando comparado à precipitação, a

evaporação é inversamente proporcional, isto é, maiores volumes de precipitação

nos meses de março e abril correspondem a uma menor taxa de evaporação no

mesmo período. Além do mais, o total anual de precipitação corresponde a

862,0mm, enquanto a evaporação é de 2007,2, bastante diverso.

Por sua vez, na compreensão da classificação climática, faz-se

necessário a avaliação das condições de disponibilidade de água no solo. Para

tanto, utilizou-se um modelo que considera o fluxo de água no solo (entrada e

saída) com a propriedade físico-hídrica do mesmo, o que permite o conhecimento

do déficit e/ou excedente hídrico de uma área. A este modelo denominamos

Balanço Hídrico Climático, BHC.

Assim, na aplicação do BHC utiliza-se a variável da capacidade de água

disponível, CAD, que nesta pesquisa foi considerado por meio dos dados presentes

na tabela de atributo do mapeamento digital dos solos do ano de 1998, fornecida

pela FUNCEME. Na construção do BHC, foram considerados ainda os dados de

temperatura (extraídos do programa CELINA), de precipitação e de coordenadas

geográficas (adquiridas junto a FUNCEME).

Para a construção do BHC, foi necessária a escolha de anos-padrões

para a representação climática, onde foi considerada a metodologia proposta por

Monteiro (1976). Na avaliação optou-se pela escolha de um ano considerado seco,

um ano habitual e, por fim, um ano chuvoso. O BHC foi realizado para todos os

municípios que compõem a bacia Riacho do Sangue (Ver Gráficos 3 a 14).

82

Extrato do Balanço Hídrico Climático de Jaguaretama

Gráfico 3 - Extrato do Balanço Hídrico Climático de

Jaguaretama 1993, A

no seco

Gráfico 4 - Extrato do Balanço Hídrico Climático de

Jaguaretama 2004, Ano chu

voso

Gráfico 5 - Extrato do Balanço Hídrico Climático de

Jaguaret

ama 2007, Ano habitual

Fonte: FUNCEME, 2016. Elaboração: Autor, adaptado de Rolim, Sentelhas e Barbieri, 1998.

Extrato do Balanço Hídrico de Solonópole

Gráfico 6 - Extrato do Balanço Hídrico de Solonópole 1993, Ano seco

Gráfico 7 - Extrato do Balanço Hídrico de Solonópole 2004, Ano chuvoso

Gráfico 8 - Extrato do Balanço Hídrico de Solonópole 2007, Ano habitual

Fonte: FUNCEME, 2016. Elaboração: Autor, adaptado de Rolim, Sentelhas e Barbieri, 1998.

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Jan Fev Mar Abr Mai Jun Jul Ago Set Out Nov Dez

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Extrato do Balanço Hídrico Mensal

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Extrato do Balanço Hídrico Mensal

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Jan Fev Mar Abr Mai Jun Jul Ago Set Out Nov Dez

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Extrato do Balanço Hídrico Mensal

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mm

Extrato do Balanço Hídrico Mensal

DEF(-1) EXC

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mm

Extrato do Balanço Hídrico Mensal

DEF(-1) EXC

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Jan Fev Mar Abr Mai Jun Jul Ago Set Out Nov Dez

mm

Extrato do Balanço Hídrico Mensal

DEF(-1) EXC

83

Extrato do Balanço Hídrico Climático de Deputado Irapuan Pinheiro

Gráfico 9 - Extrato do Balanço Hídrico Climático de Deputado Irapuan Pinheiro 1993, Ano seco.

Gráfico 10 - Extrato do Balanço Hídrico Climático de

Deputado Irapuan Pinheiro 2004, Ano chuvoso.

Gráfico 11- Extrato do Balanço Hídrico Climático de

Deputado Irapuan Pinheiro 2007, Ano habitual.

Fonte: FUNCEME, 2016. Elaboração: Autor, adaptado de Rolim, Sentelhas e Barbieri, 1998.

Extrato do Balanço Hídrico Climático de Milhã

Gráfico 12 - Extrato do Balanço Hídrico Climático de Milhã

1993, Ano seco

Gráfico 13 - Extrato do Balanço Hídrico Climático de Milhã

2004, Ano chuvoso

Gráfico 14 - Extrato do Balanço Hídrico Climático de Milhã

2007, Ano habitual

.

Fonte: FUNCEME, 2016. Elaboração: Autor, adaptado de Rolim, Sentelhas e Barbieri, 1998.

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Extrato do Balanço Hídrico Mensal

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Extrato do Balanço Hídrico Mensal

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Jan Fev Mar Abr Mai Jun Jul Ago Set Out Nov Dez

mm

Extrato do Balanço Hídrico Mensal

DEF(-1) EXC

-200

-180

-160

-140

-120

-100

-80

-60

-40

-20

0

Jan Fev Mar Abr Mai Jun Jul Ago Set Out Nov Dez

mm

Extrato do Balanço Hídrico Mensal

DEF(-1) EXC

-250

-200

-150

-100

-50

0

50

100

150

200

Jan Fev Mar Abr Mai Jun Jul Ago Set Out Nov Dez

mm

Extrato do Balanço Hídrico Mensal

DEF(-1) EXC

-200

-150

-100

-50

0

50

100

Jan Fev Mar Abr Mai Jun Jul Ago Set Out Nov Dez

mm

Extrato do Balanço Hídrico Mensal

DEF(-1) EXC

84

No ano considerado seco (ano 1993), o BHC demonstrou deficiência

hídrica em todos os meses, ressaltando o mês de dezembro para todos os

municípios. O total acumulado nos municípios de Jaguaretama, Solonópole, Dep.

Irapuã Pinheiro e Milhã foram, respectivamente, 344,0 mm; 236,0 mm; 488,0 mm;

352,0 mm, não ocorrendo excedente hídrico durante o ano.

O ano considerado chuvoso (2004) apresentou a maior concentração de

chuvas nos quatro primeiros meses do ano, realidade constatada para todos os

municípios que compõem a bacia Riacho do Sangue. Entretanto, os municípios de

Jaguaretama e de Solonópole destacaram-se por apresentar ainda ocorrência de

precipitações no período de maio a julho do mesmo ano. Assim, pode dizer que

houve um excedente hídrico atípico dentro do contexto semiárido em que se insere

a bacia do Riacho do Sangue.

Para o ano considerado habitual (2007), verifica-se um comportamento

gradativo de precipitação com excedente, concentrado no período de janeiro a abril,

e um comportamento de déficit hídrico declinando no período de maio a dezembro.

Desta forma, o BHC demonstra a necessidade de um planejamento

adequado das formas de uso da terra, com o desenvolvimento de práticas de

manejo vinculadas a uma convivência que considere as especificidades ambientais

presentes na bacia Riacho do Sangue.

Em relação aos recursos hídricos, bem como ao escoamento superficial e

subterrâneo da bacia Riacho do Sangue, há uma intrínseca relação com as

condições climáticas, a estrutura geológica, a cobertura vegetal, as características

pedológicas, seus aspectos geomorfológicos, bem como os mais diversos tipos de

usos da terra exercidos na área.

Destaca-se que, na região, há predominância do período seco sobre o

chuvoso e dos terrenos rochosos com solos, em geral, impermeáveis que tendem a

projetar os rios esporádicos, intermitentes e perenizados; por sua vez, sofrem ainda

influência dos demais elementos do meio e da interferência do homem.

Em relação aos cursos d’água, verifica-se a ocorrência de

comportamentos diferenciados dos rios, ou seja, têm-se os rios intermitentes

sazonais que se tornam rios superficiais no período chuvoso, e no período seco

parecem se extinguir, entretanto, estão submersos nos aluviões dos vales

compondo o lençol freático, em geral, com pouca reserva de água. Tem-se também

a ocorrência dos rios efêmeros, que apresentam fluxo de água superficial somente

85

durante ou logo após as precipitações, e os rios perenes, em que existe uma

constância de água fluindo em seu leito (MACHADO e TORRES, 2012). E, por fim,

existem os rios perenizados, que são “artificialmente perenes por força de geração

de reservatórios artificiais e/ou por gastos energéticos” (ARAÚJO, 2012, p. 32).

Destarte, de acordo com Maltchik (1999), os rios do Semiárido brasileiro

possuem duas fases de perturbação hidrológica com a cheia e a seca que acarretam

implicações representativas na modificação do substrato na concentração de

nutrientes nas comunidades aquáticas e na população ribeirinha. Segundo Maltchic,

(op. cit., p. 88):

Os rios intermitentes são fundamentais para a economia do homem de Ribeira. As comunidades humanas testemunham que as características da paisagem e sua percepção pelo meio ambiente influenciam o desenvolvimento de estratégias de sobrevivência, potencializando sua capacidade de maximizar os processos adaptativos. Após um período de estiagem, a cheia surge como um evento importante para a resiliência das comunidades que vivem nos sítios. Esta resiliência se manifesta a partir da economia de esforços empregados na busca e no transporte de recursos hídricos e culmina com o resgate da tranquilidade até então ameaçada pela escassez de água e possibilidades de perdas dos bens produtivos, com inevitáveis rupturas sociais (MALTCHIK, op. cit., p. 88).

Entre os riachos tributários da sub-bacia, o Riacho Jenipapeiro e o Riacho

do Tigre possuem um trecho perenizado pelos açudes Jenipapeiro e Tigre,

respectivamente. Porém, no contexto da região, o principal reservatório de água é o

açude Riacho do Sangue, apresentando capacidade de armazenamento de 61,42

hm³ no baixo curso (CEARÁ, 2009) (Mapa 5). E com menos expressão destacam-se

outros riachos e açudes na região.

As características geológicas e geomorfológicas definem o padrão da

drenagem. De acordo com Chistofoletti (1980, p. 103), “o padrão de drenagem pode

ser influenciado em sua atividade morfogenética pela natureza das rochas e

disposição das camadas rochosas, pela resistência litológica variável, pelas

diferenças de declividade e pela evolução geomorfológica”.

A bacia Riacho do Sangue, em função da declividade e da natureza do

terreno, verificado o desenvolvimento de uma drenagem com características de

padrão dentrítico e subdentrítico, é designada arborescente por assemelhar-se à

configuração de uma árvore, onde as correntes tributárias “se unem nunca em

ângulo reto. A presença de ângulos retos, no padrão dentrítico, constitui-se em

anomalia” (CHISTOFOLETTI, 1980, p. 103).

86

O Quadro 8 apresenta as figuras (a, b, c, d, e) que exibem algumas

paisagens e a utilização dos recursos hídricos superficiais da bacia Riacho do

Sangue.

Quadro 8 - Aspectos hidrográficos da bacia Riacho do Sangue

Figura a: Pequena açudagem em Solonópole.

Fonte: Elaborado pela autora.

Figura b: Açude eutrofizado em Deputado Pinheiro.

Fonte: Elaborado pela autora.

Figura c: Carro pipa para o abastecimento em

Deputado Irapuan Pinheiro.

Fonte: Elaborado pela autora.

Figura d: Braço do açude Castanhão em

Jaguaretama.

Fonte: Elaborado pela autora.

Figura e: Armazenar água por meio de cisternas em Solonópole.

Fonte: Elaborado pela autora.

Fonte: Elaborado pela autora.

87

Mapa 5 - Mapa hidrográfico da bacia Riacho do Sangue – Médio Jaguaribe

Fonte: Elaborado pela autora.

88

Os recursos hídricos superficiais são as principais fontes de suprimento

de água no Ceará, porém, a demanda em paralelo ao período de estiagem

impulsiona a exploração de águas subterrâneas, que na área de estudo é

representada por dois sistemas de aquíferos, ou seja, possui dois domínios

hidrogeológicos: das rochas sedimentares (porosos e aluviais) e das rochas

cristalinas (fissurais) (BRASIL, 1998).

Nas áreas onde a primazia do substrato é o embasamento cristalino,

litologia dominante no Ceará, a existência de águas subterrâneas se dá por zonas

fissuradas ou fraturadas nas rochas, formando aquíferos de baixa produtividade, em

que a qualidade da água é limitante a certos usos (SOUZA, 2000).

A recarga dos aquíferos ocorre na área de estudo quando há infiltração

das águas pluviais em virtude da ocorrência da predominância dos terrenos

cristalinos, “a água que infiltra só encontra lugar de depósito nas fraturas das rochas

e em parte do solo raso, havendo lugares onde o regolito mais espesso pode

acumular água, porém condicionado ao clima local com chuvas irregulares”.

Dentro deste contexto, em geral, as vazões produzidas por poços são

pequenas, e a água, em função da falta de circulação e dos efeitos do clima

semiárido, é, na maior parte das vezes, salinizada. Essas condições atribuem um

potencial hidrogeológico baixo para as rochas cristalinas sem, no entanto, diminuir

sua importância como alternativa de abastecimento em casos de pequenas

comunidades ou como reserva estratégica em períodos prolongados de estiagem

(BRASIL, 1998).

Já as áreas aluvionares apresentam um bom potencial de infiltração e

armazenagem de águas subterrâneas, caracterizando-se, assim, em aquíferos de

bom potencial hidrogeológico (CEARÁ, 2007). São representados por sedimentos

areno-argilosos recentes que ocorrem margeando as calhas dos principais rios e

riachos que drenam a região, apresentando, em geral, uma boa alternativa como

manancial e tendo uma importância relativamente alta do ponto de vista

hidrogeológico, principalmente em regiões semiáridas com predomínio de rochas

cristalinas. Normalmente, a alta permeabilidade dos termos arenosos compensa as

pequenas espessuras, produzindo vazões significativas (BRASIL, op. cit.).

Com relação à captação de águas subterrâneas, foi levantado em Milhã,

Jaguaretama, Deputado Irapuan Pinheiro e Solonópole, respectivamente, 55

89

(cinquenta e cinco), 82 (oitenta e dois), 28 (vinte e oito) e 61 (sessenta e um) poços

(BRASIL, 2016).

Cabe destacar que a construção do açude Castanhão implicou mudanças

no que diz respeito à bacia Riacho do Sangue. Segundo a literatura especializada, a

área da delimitação da sub-bacia foi perturbada. A princípio, o Riacho do Sangue

desaguava no Rio Jaguaribe e, deste modo, captava a recarga do Riacho Pereira no

baixo curso. Com a construção do açude Castanhão em 2004, houve uma

diminuição do comprimento do Riacho do Sangue.

Deste modo, o Riacho do Pereira (intitulado na pesquisa como bacia 4),

assim como outros riachos intermitentes, apresenta a desvinculação da bacia

Riacho do Sangue, exibindo uma sub-bacia com características próprias e

desaguando no Açude Castanhão (Mapa 6), porém a título de planejamento,

balizadas pela SRH, a bacia Riacho do Sangue preserva suas características de

limite (área e perímetro).

90

Mapa 6 - Mapa de microbacias da bacia Riacho do Sangue – Médio Jaguaribe

Fonte: Elaborado pela autora.

91

5.3 CARACTERÍSTICAS PEDOLÓGICAS E FITOGEOGRÁFICAS

O solo é resultado da interação de vários processos pedogenéticos em

que sua formação é resultado da ação conjunta de vários fatores ambientais, como o

material de origem, o clima, o relevo e os organismos. Deste modo, Lepsch (2011)

apresenta a definição de solo expressa pelo Soil Suevey Manual 18 como:

A coleção de corpos naturais que ocupam partes da superfície terrestre, os quais constituem um meio para o desenvolvimento das plantas e que possuem propriedades resultantes do efeito integrador do clima e dos organismos vivos, agindo sobre o material de origem e condicionado pelo relevo durante certo período de tempo (LEPSCH, 2011, p. 39).

Logo, os solos expõem uma formação resultante da interação que ocorre

em um determinado local e tempo, elaborando uma infinidade de tipos de solo

(OLIVEIRA, 2014). No contexto da região semiárida, “a variação geológica e

climática, esta última refletida com a cobertura vegetal, organizou as principais

classes de solos” (CEARÁ, 2012, p. 33).

Lepsch (2011) diz que, para organizar os conhecimentos a respeito do

solo, faz-se necessário classificá-lo, assim como ocorre com outras entidades da

natureza, como clima, vegetação e relevo. Dessa forma, objetivando a compreensão

dos solos, cada país tende a criar um manual de levantamento de solo. A

classificação dos solos é complexa em virtude das interações das propriedades

balizadas nos condicionantes ambientais próprios de cada país

(CHRISTOPHERSON, 2012).

No Brasil, a busca por uma categorização organizada dos solos surgiu em

1999 e corresponde ao Sistema Brasileiro de Classificação de Solos (SiBCS). Este

considera os táxons representativos dos níveis hierárquicos mais elevados,

estruturado em seis níveis (ordem – subordem – grande grupo – subgrupo – família).

A última versão da classificação de solos foi publicada em 2013

(EMPRAPA, 2013) e foi utilizada como critério no estabelecimento e na

conceituação das classes no Levantamento de Reconhecimento de Média

Intensidade dos Solos, realizado pela FUNCEME utilizado nesta pesquisa.

Na bacia Riacho do Sangue, os tipos de classes de solos predominantes

identificados foram: ARGISSOLO VERMELHO-AMARELO, ARGISSOLO

18

Apresenta regras para a classificação dos solos e os seus perfis em uma linguagem internacional, o qual veio proporcional ao intercâmbio no âmbito da cartografia e classificação dos solos.

92

VERMELHO, LUVISSOLO CRÔMICO, NEOSSOLO LITÓLICO, NEOSSOLO

REGOLÍTICO, NEOSSOLO QUARTZARÊNICO, NEOSSOLO FLÚVICO,

PLANOSSOLO HÁPLICO (Mapa 7 – Quadro 9).

Quadro 9 - Principais características dos solos encontradas na bacia Riacho do Sangue

SOLO DESCRIÇÃO

ARGISSOLO VERMELHO-AMARELO

Compreende solos constituídos por material mineral, que têm como características diferenciais a presença de argila no horizonte B imediatamente abaixo de horizonte A ou E. São muito susceptíveis à erosão, sobretudo quando o gradiente textural é mais acentuado. Presença de cascalhos e relevo mais movimentado com declives.

ARGISSOLO VERMELHO

Compreende solos com tons avermelhados devido a teores mais altos e à natureza dos óxidos de ferro presentes no material originário, em ambientes bem drenados. Apresenta fertilidade natural muito variável devido à diversidade de materiais de origem. O teor de argila no horizonte subsuperficial é bem maior do que no horizonte superficial.

LUVISSOLO CRÔMICO

Compreende solos rasos com horizonte A delgado sobre horizonte B avermelhado, apresentando usualmente mudança textural abrupta. Solos constituídos por material mineral, apresentando horizonte B textural, com argila de atividade alta e alta saturação por bases, imediatamente abaixo de qualquer tipo de horizonte A. Podem ou não apresentar pedregosidade na parte superficial e o caráter solódico ou sódico na parte subsuperficial.

NEOSSOLO LITÓLICO

Compreende solos rasos, onde geralmente a soma dos horizontes sobre a rocha não ultrapassa 50 cm. As limitações ao uso estão relacionadas à pouca profundidade, presença da rocha. Estes fatores limitam o crescimento radicular, o uso de máquinas e elevam o risco de erosão. Sua fertilidade está condicionada à soma de bases e à presença de alumínio. Os teores de fósforo são baixos em condições naturais.

NEOSSOLO REGOLÍTICO

Compreende solos constituídos por material mineral, ou por material orgânico pouco espesso, não apresentando horizonte B diagnóstico. Não apresentam alterações expressivas em relação ao material originário devido à baixa intensidade de atuação dos processos pedogenéticos, seja em razão de características inerentes ao próprio material de origem – como maior resistência ao intemperismo ou composição químico-mineralógica –, seja por influência dos demais fatores de formação (clima, relevo ou tempo) – os quais podem impedir ou limitar a evolução dos solos.

NEOSSOLO QUARTZARÊNICO

Compreende solos que ocorrem em relevo plano ou suave ondulado, apresenta textura arenosa ao longo do perfil e cor amarelada uniforme abaixo do horizonte A, que é ligeiramente escuro. Considerando-se o relevo de ocorrência, o processo erosivo não é alto, porém, deve-se precaver com a erosão devido à textura ser essencialmente arenosa. Por serem profundos, não existe limitação física para o desenvolvimento radicular em profundidade, mas a presença de caráter álico ou do caráter distrófico limita o desenvolvimento radicular em profundidade, agravado devido à reduzida quantidade de água disponível (textura essencialmente arenosa).

NEOSSOLO FLÚVICO

Compreendem solos que ocorrem nos ambientes de várzeas e planícies fluviais. Solos minerais não hidromórficos, oriundos de sedimentos recentes referidos ao período Quaternário. São formados por sobreposição de camadas de sedimentos aluviais recentes sem relações pedogenéticas entre elas, devido ao seu baixo desenvolvimento pedogenético. Geralmente apresentam espessura e granulometria bastante diversificadas ao longo do perfil do solo, devido à diversidade e às formas de deposição do material originário.

PLANOSSOLO HÁPLICO

Compreende solos, geralmente pouco profundos, com horizonte superficial de cores claras e textura arenosa ou média, seguido de um horizonte B plânico (horizonte característico dos planossolos) de textura média, argilosa ou muito argilosa, adensado, pouco permeável, com cores de redução decorrente de drenagem imperfeita, e responsável pela formação de lençol suspenso temporário. Estes solos apresentam elevados valores de soma de bases e de saturação por bases e também grandes quantidades de minerais primários facilmente intemperizáveis, o que lhes confere grande capacidade de fornecer nutrientes às plantas. Devido ao relevo plano ou suave ondulado, não existe empecilho à motomecanização agrícola.

Fonte: BRASIL, 2015 (Adaptado).

93

Mapa 7 - Mapa Pedológico da bacia Riacho do Sangue

Fonte: Elaborado pela autora.

94

A cobertura vegetal é o recurso natural que retrata os fatores ambientais

aos quais está submetida (FERNANDES, 2006). A vegetação, segundo Souza

(2000), representa a última instância do reflexo do jogo de interações ou de relações

mútuas entre os demais componentes ambientais.

Destaca-se que, dentre os componentes ambientais, tanto fatores

abióticos (litologia, relevo, clima) como biológicos e antrópicos exercem influência e

determinam, em maior ou menor grau, o desenvolvimento da vegetação. Deste

modo, a vegetação é compreendida como um indicador não somente das condições

naturais do meio ambiente, mas também do estado de conservação.

Segundo Tricart (1977), a vegetação é um reflexo das condições

ambientais do local, podendo se visualizar o estado de conservação ou degradação

existente. Além disso, a vegetação tem um papel fundamental na proteção do solo

contra as ações erosivas causadas pelas chuvas.

Especificamente, a área de estudo está inserida nas condições

ambientais dos domínios fitogeográficos da Província Fitogeográfica das Caatingas

do Nordeste, tendo como base o Sistema de Classificação de Fernandes

desenvolvido em 1998 (FERNANDES, 2006) ou Domínio Morfoclimático das

Caatingas (AB’SABER, 2003). Segundo Ab’Saber (2003), essas áreas estão sujeitas

a deficiências hídricas, imprimindo a rigorosa adaptação vegetacional das caatingas

em ambientes de depressões.

No Ceará, a configuração vegetacional é expressa por Souza (2000)

quando diz:

Há a existência quase que generalizada das formações de caatingas, que ostentam também variados padrões fisionômicos e florísticos. De modo genérico, a área nuclear das caatingas depende especialmente da semiaridez. Mas a fisionomia, o porte das plantas, a frequência e a composição florística ficam também subordinadas às potencialidades e disponibilidades hídricas dos solos. As áreas de exceção ficam circunscritas aos enclaves de matas das serras unidas e as matas ciliares que revestem as planícies fluviais com solos aluviais (SOUZA, 2000, p. 18).

Portanto, as formas vegetais do Ceará apresentam uma distribuição que

obedece a uma sazonalidade, assim como as diferenças litológicas e edáficas, haja

vista que, segundo Fernandes (2006), em virtude das especificidades ambientais da

semiaridez, a caatinga apresenta características xerófitas cujos elementos florísticos

95

expressam uma morfologia, uma anatomia e um mecanismo fisiológico adaptado à

semiaridez.

As unidades vegetacionais que compreendem a área em estudo são:

caatinga arbórea, caatinga arbustiva densa, caatinga arbustiva aberta e mata ciliar

(Quadro 10). A nomenclatura baseou-se em estudos de Fernandes (2006) e do

Radam Brasil (1988).

Quadro 10 - Aspectos fitogeográficos da bacia Riacho do Sangue

Figura a: Caatinga arbórea associada e caatinga

arbustiva em Deputado Irapuan Pinheiro.

Fonte: Elaborado pela autora.

Figura b: Caatinga arbustiva densa.

Fonte: Elaborado pela autora.

Figura c: Caatinga arbustiva aberta em

Jaguaretama.

Fonte: Elaborado pela autora.

Figura d: Mata Ciliar de um riacho em Deputado

Irapuan Pinheiro

Fonte: Elaborado pela autora.

Fonte: Elaborado pela autora.

96

A Mata Ciliar se desenvolve ao longo do leito dos rios e apresenta estrato

arbustivo-arbóreo que estabelece extrema importância à manutenção dos recursos

hídricos para a qualidade da água, assim como a manutenção dos corredores

ecológicos (MARIANO et al., 2009).

Cabe salientar que a utilização sem controle dos recursos naturais

ocorridos no passado, para fins diversos, contribuiu para o desaparecimento das

matas ciliares no Brasil, restando pequenos fragmentos dispersos ao longo dos rios,

os quais são ainda submetidos a cortes seletivos (VILELA et al., 2000).

Destaca-se que, em vários pontos na bacia Riacho do Sangue, a

vegetação encontra-se mais espaçada com pequenas manchas, pois as ações

socioeconômicas que degradam a vegetação são “destituídas de suas condições

primárias, tanto sob o ponto de vista fisionômico como florístico” (SOUZA, 2000, p.

43), principalmente pelo avanço da exploração agrícola ao longo dos cursos d’água

que apresentam as melhores condições ambientais.

As regiões semiáridas no mundo, no geral, apresentam baixa densidade

populacional, inferindo assim baixa intervenção humana nessas áreas. “No caso

brasileiro, entretanto, sua região semiárida (possivelmente a mais habitada do globo)

apresenta a mesma densidade média do país, superior a 20 habitantes por km², o

que gera um desafio incontestável” (ARAÚJO, 2012, p. 30).

Deste modo, nas áreas de Caatinga, de acordo com Araújo Filho (1996),

estima-se que 80% da vegetação encontram-se completamente alterada,

apresentando a maioria dessas áreas em estados iniciais ou intermediários de

sucessão.

No Ceará, de acordo com Souza (2000), as áreas naturais da caatinga

em sua maioria não apresentam as condições originais, pois as ações de ocupação

histórica dos sertões usando a área recoberta pela caatinga descaracterizaram a

vegetação primária, com pecuária intensiva, agricultura, retirada de lenha e de

madeira e para outros fins de menor interesse socioeconômico, intensificando a

ação dos processos morfodinâmicos naturais.

Neste contexto, Araújo (2011) explana:

A vegetação podia funcionar como uma esponja, retendo água por mais tempo, no entanto, ela é escassa e esparsa, deixando o solo nu e propenso aos processos erosivos mecânicos, seja pelo vento ou pela água, que arrastam as partículas constituintes daquele, não permitindo sua evolução qualitativa. Vale salientar que o grau de cobertura do solo na caatinga não

97

foi sempre o que temos hoje; sua vegetação sofreu um processo de degradação pelo uso da lenha, por constantes queimadas e desmatamentos para uso do solo na agropecuária, possibilitando o desaparecimento de diversas espécies ou seu raleamento – o que é uma perda considerável, pois a biodiversidade deste ecossistema é bem rica (ARAÚJO, 2011, p. 93).

Na área de estudo, a cobertura vegetal exibe, em padrões de cobertura

arbórea, que “apenas onde as condições semiáridas são mais moderadas, os solos

têm melhores condições de fertilidade natural” (SOUZA, 2000, p. 56), e onde a

vegetação encontra-se em estágio de recomposição ou em áreas onde não ocorreu

eliminação sistemática da cobertura vegetal.

A caatinga arbustiva densa apresenta arvoretas de 5 a 6 metros de altura,

por vezes associadas a arbustos, e exibem ainda Cactáceas e Bromeliáceas

(FERNANDES, 2006) que, na área de estudo, encontram-se em “condições

ambientais mais limitativas […] quando degradada toma aspecto de caatinga

arbustiva aberta” (SOUZA, 2000, p. 56).

A caatinga arbustiva aberta possui, conforme Fernandes (2006), uma

fisionomia caracterizada pelo caráter espaçado de seus elementos, os quais atingem

2m de altura, quase sempre associados a árvores dispersas e cactáceas. É comum

a presença de cactáceas dispersas em solo raso e pedregoso, geralmente

encharcado durante a estação chuvosa. Destaca-se também um estrato herbáceo

tomado por espécies efêmeras, anuais.

98

6 USO E COBERTURA DA TERRA NO PERÍODO DE 2003 E 2014

6.1 ASPECTOS SOCIOAMBIENTAIS

1) População

O crescimento populacional dos municípios que fazem parte da bacia do

Riacho do Sangue, verificado no período intercensitário (1991, 2000 e 2010 – Tabela

4), apresentam um declínio em relação à população rural e um aumento gradativo

da população urbana, porém ainda há um predomínio da população rural sobre a

urbana, exceto no município de Solonópole.

Tabela 4 - População rural e urbana dos municípios da bacia do Riacho do

Sangue

Município População 1991 2000 2010

Jaguaretama

Urbana 5.436 7.295 8.469

Rural 12.144 10.729 9.394

Total 17.580 18.024 17.863

Solonópole

Urbana 5.623 7.716 9.106

Rural 10.208 9.186 8.559

Total 15.831 16.902 17.665

Deputado Irapuan Pinheiro

Urbana 1.173 2.721 4.133

Rural 7.268 5.664 4.962

Total 8.441 8.385 9.095

Milhã

Urbana 3.775 5.054 5.969

Rural 8.244 7.974 7.117

Total 12.019 13.028 13.086

Fonte: BRASIL (2010).

Tais características revelam os aspectos inerentes ao modo de produção

espacial, materializado pelo feitio da urbanização pelo qual as cidades brasileiras

vêm passando. Assim, o aumento gradativo da população urbana ocorre, segundo

Magnoli e Araújo (1996), pois:

A atração exercida pelas áreas urbanas explica-se não só pela natureza da dinâmica econômica, mas também pela evolução gradual na busca dos serviços públicos essenciais, como hospitais e educação, além de outros tipos de serviços. No processo de urbanização obtido através da transferência das pessoas residentes nas áreas rurais, pequenas localidades, para a urbana, a economia urbana subordina e transforma a economia rural, integrando a agricultura às necessidades do mercado urbano (MAGNOLI; ARAÚJO, 1996, p. 194).

99

Conforme dados do IBGE19, a população estimada para os municípios da

área da pesquisa no ano de 2015 foram: Jaguaretama com 17.997 habitantes,

Solonópole com 18.094 habitantes, Deputado Irapuan Pinheiro com 9.444

habitantes, Milhã com 13.170 habitantes.

No que diz respeito à população por análise de gênero, é possível

observar na Tabela 5 o total dela, distribuída em homens e mulheres, e ainda a

divisão por grupos de idade (População jovem, População ativa e População idosa)

de acordo com os Censos de 2000 e 2010 realizados pelo IBGE.

Tabela 5 - População por gênero e faixa etária.

Município

População por

gênero/faixa etária

População Jovem (0 a 14

anos)

População ativa (15 a 64 anos)

População idosa (a partir de 65 anos)

Nº % Nº % Nº %

Jaguaretama

2000 H* 2.836 32,5 5.191 59,5 696 8,0

M** 2.777 32,4 5.089 59,4 705 8,2

2010 H 2.479 27,3 5.742 63,3 850 9,4

M 2.469 30,0 5.005 60,8 754 9,2

Solonópole

2000 H 2.469 30,0 5.005 60,8 754 9,2

M 2.410 29,3 5.094 61,9 719 8,7

2010 H 2.204 27,4 5.087 63,2 754 9,4

M 2.104 24,1 5.680 65,0 961 11,0

Dep. Irapuan Pinheiro

2000 H 1.299 31,4 2.534 61,3 298 7,2

M 1.241 29,9 2.566 61,8 348 8,4

2010 H 1.009 22,5 2.928 65,2 551 12,3

M 1.103 24,5 2.857 63,5 536 11,9

Milhã

2000 H 1.907 30,0 3.892 61,1 568 8,9

M 1.962 30,5 3.893 50,3 582 9,0

2010 H 1.434 22,0 4.327 66,2 772 11,8

M 1.573 24,4 4.107 63,8 762 11,8

*H: Homens/ **M: Mulheres. Fonte: BRASIL/SIDRA (2010). Elaborado pela autora.

Na Tabela 5, é possível averiguar que houve um declínio referente ao

número de crianças nascidas. Soares et al. (2010) afirma que esta diminuição está

associada ao processo de urbanização.

19

Informação adquirida na ferramenta Cidades, pela qual se obtém informações sobre todos os municípios do Brasil num mesmo lugar. Disponível em: <http://www.cidades.ibge.gov.br/xtras/home.php>. Acesso em: 10 mai. 2016.

100

Com o êxodo rural, as famílias perceberam que o custo de vida é bem mais elevado nas cidades, com isto a mulher teve que se inserir no mercado de trabalho inicialmente para complementar a renda, e tais fatos aliados à popularização dos contraceptivos e informações contribuíram para a redução do número de filhos (SOARES et al., 2010, p. 03)

Na Tabela 5 ainda é possível observar que, em Jaguaretama e Deputado

Irapuan Pinheiro, o número de homens na faixa que diz respeito à população

economicamente ativa é maior que o número de mulheres. Já nos municípios de

Solonópole e Milhã, o número de mulheres é maior que o de homens nesta faixa

populacional. No que diz respeito à população idosa, os dados demonstram que não

há grandes diferenças em relação ao número de homens e mulheres, exceto no

município de Solonópole, que apresenta o número de mulheres, para o ano de 2010,

superior em relação ao de homens.

As pirâmides etárias (Gráficos 15; 16; 17; 18) ilustram o contexto da

dinâmica populacional dos municípios que fazem parte da bacia do Riacho do

Sangue expondo a tendência da população ao envelhecimento, exibindo assim

pirâmides que tendem entre pirâmides jovens20 e envelhecidas21.

Gráfico 15 - Pirâmide Etária do Município de Jaguaretama

20

Base larga, devido à elevada natalidade e topo estreito em consequência de uma elevada mortalidade e esperança média de vida reduzida. As pirâmides deste tipo representam populações muito jovens. 21

Base mais estreita do que a classes dos adultos. Reflete uma diminuição da natalidade e um aumento da esperança média de vida.

1.000 500 0 500 1.000

1 a 4 anos

10 a 14 anos

20 a 24 anos

30 a 34 anos

40 a 44 anos

50 a 54 anos

60 a 64 anos

70 a 74 anos

80 a 84 anos

90 a 94 anos

Homens 2000 Mulheres

1.000 500 0 500 1.000

1 a 4 anos

10 a 14 anos

20 a 24 anos

30 a 34 anos

40 a 44 anos

50 a 54 anos

60 a 64 anos

70 a 74 anos

80 a 84 anos

90 a 94 anos

Mulheres Homens 2010

101

Gráfico 16 - Pirâmide Etária do Município de Solonópole

Fonte: BRASIL (2010). Elaborado pela autora.

Gráfico 17 - Pirâmide Etária do Município de Dep. Irapuan Pinheiro

Fonte: BRASIL (2010). Elaborado pela autora.

1.000 500 0 500 1.000

1 a 4 anos

10 a 14 anos

20 a 24 anos

30 a 34 anos

40 a 44 anos

50 a 54 anos

60 a 64 anos

70 a 74 anos

80 a 84 anos

90 a 94 anos

Homens 2000 Mulheres

1.000 500 0 500 1.000

1 a 4 anos

10 a 14 anos

20 a 24 anos

30 a 34 anos

40 a 44 anos

50 a 54 anos

60 a 64 anos

70 a 74 anos

80 a 84 anos

90 a 94 anos

Mulheres Homens 2010

600 400 200 0 200 400 600

1 a 4 anos

10 a 14 anos

20 a 24 anos

30 a 34 anos

40 a 44 anos

50 a 54 anos

60 a 64 anos

70 a 74 anos

80 a 84 anos

90 a 94 anos

Mulheres Homens 2000

600 400 200 0 200 400 600

1 a 4 anos

10 a 14 anos

20 a 24 anos

30 a 34 anos

40 a 44 anos

50 a 54 anos

60 a 64 anos

70 a 74 anos

80 a 84 anos

90 a 94 anos

Mulheres Homens 2010

102

Gráfico 18 - Pirâmide Etária do Município de Milhã

Fonte: BRASIL/SIDRA (2010). Elaborado pela autora.

2) Índices de Desenvolvimento Social, IDS

Em relação ao nível de vida, considera-se a descrição das variáveis

relacionadas aos Índices de Desenvolvimento Social, IDS, que de acordo com o

IBGE é expresso pela ponderação de dados referentes à saúde, à educação, aos

serviços básicos (eletricidade, água, esgoto e a disposição de resíduos sólidos) e à

renda familiar. O IDS (oferta e resultado) utiliza indicadores relacionados às

principais dimensões de ação do Governo na área social. Observe a Tabela 6, que

apresenta os aspectos por dimensão referentes ao IDS (Oferta e Resultado) nos

municípios da pesquisa.

Tabela 6 - Índice de Desenvolvimento Social – IDS – Oferta/ Resultado em 2009

Município Global

Índice Ranking

Jaguaretama (IDS-O) 0,374 100

Jaguaretama (IDS-R) 0,534 35

Solonópole (IDS-O) 0,427 30

Solonópole (IDS-R) 0,516 50

Deputado Irapuan Pinheiro (IDS-O) 0,325 168

Deputado Irapuan Pinheiro (IDS-R) 0,436 157

Milhã (IDS-O) 0,354 139

Milhã (IDS-R) 0,549 24

Fonte: CEARÁ (2010). Elaborada pela autora.

700 200 300

1 a 4 anos

10 a 14 anos

20 a 24 anos

30 a 34 anos

40 a 44 anos

50 a 54 anos

60 a 64 anos

70 a 74 anos

80 a 84 anos

90 a 94 anos

Mulheres

2000 Homens

700 200 300

1 a 4 anos

10 a 14 anos

20 a 24 anos

30 a 34 anos

40 a 44 anos

50 a 54 anos

60 a 64 anos

70 a 74 anos

80 a 84 anos

90 a 94 anos

2010 Homens Mulheres

103

O Índice de Desenvolvimento Social de Resultados (IDS-R) reflete os

resultados obtidos por cada município, ou seja, abrange os serviços que o governo

controla. Já o índice de Desenvolvimento Social de Oferta (IDS-O) afere o nível de

oferta de serviços públicos na área social, ou seja, serviços ao qual o governo

deseja alcançar (CEARÁ, 2010).

Observa-se, assim, que a tendência do IDS-R dos municípios de

Jaguaretama, Solonópole e Milhã apresentam boa colocação no ranking estadual

em contrapartida ao município de Deputado Irapuan Pinheiro, o qual se apresenta

nas posições finais referentes ao ranking estadual, conjecturando os resultados

obtidos pela análise das variáveis que compõem o índice, as quais se apresentam

pouco satisfatórias.

3) Educação

No tocante à educação, a Tabela 7 indica os valores correspondentes por

cada município em relação à quantidade de escolas e seu correspondente no nível

administrativo (municipal, estadual e particular). Os municípios de Solonópole e

Jaguaretama são os que apresentam um maior número de escolas. Todos os

municípios possuem suas escolas ligadas à rede municipal e estadual, não existindo

escolas de nível federal. Ressalta-se que muitos estudantes que se encontram na

zona rural dos distritos dependem do transporte escolar para se locomoverem à

sede municipal, onde está a maior parte das escolas. E em relação à localização das

escolas, a maioria fica na sede do município, de modo que a população rural precisa

se deslocar todos os dias para assistir às aulas.

Tabela 7 - Docentes dos municípios que fazem parte da bacia do Riacho do

Sangue

Municípios Federal Estadual Municipal Particular

Jaguaretama Docentes - 36 189 7

Solonópole Docentes - 34 158 16

Dep. Irapuan Pinheiro Docentes - 21 120 -

Milhã Docentes - 20 99 15

Fonte: CEARÁ (2014).

A Tabela 8 representa os indicadores educacionais do ensino

fundamental e médio. Observa-se que, com relação à escolarização líquida, todos

104

os municípios da bacia do Riacho do Sangue apresentam semelhanças, isto é, o

ensino fundamental fica em média com 84 de escolarização, enquanto o ensino

médio fica com 42 de escolarização em média. Desta forma, existe uma tendência

de que em torno de 50% dos alunos que cursaram o ensino fundamental não

frequentam o ensino médio.

Tabela 8 - Indicadores Educacionais no Ensino Fundamental e Médio dos

municípios que fazem parte da bacia – 2014

Municípios Escolarização líquida

(%) Aprovação

(%) Reprovação

(%) Abandono

(%)

Alunos por sala de aula

(%)

Jaguaretama Fundamental 78,86 93,9 4,8 1,3 21,9

Médio 43,89 89,9 4,7 4,4 61,58

Solonópole Fundamental 79,03 96,2 2,1 1,7 23,84

Médio 40,48 81,8 5,9 10,2 37,14

Dep. Irapuan Pinheiro

Fundamental 77,44 90,69 4,5 1,5 23,31

Médio 43,48 88,9 5,9 5,2 49,20

Milhã Fundamental 79,06 93,7 4,1 1,9 27,73

Médio 43,92 85,8 5,1 8,1 37,25

Fonte: CEARÁ (2014).

4) Saúde

No que se referem à saúde, as Tabelas 9 e 10 indicam os tipos de

unidades e profissionais da área saúde que são ligados ao Sistema Único de Saúde,

SUS, por município. Assim, os municípios de Solonópole e Milhã são os que

possuem mais unidades de saúde. No que se refere à quantidade de profissionais,

os municípios de Jaguaretama e de Solonópole são os que possuem o maior

número destes, com um total, respectivamente, de 183 e 155 profissionais; já os

municípios de Deputado Irapuan Pinheiro e Milhã possuem 101 e 111 profissionais,

respectivamente. Cabe ressaltar que as unidades de saúde levantadas encontram-

se na sede dos municípios, e como a maioria da população da bacia encontra-se

nos distritos e nas zonas rurais, o acesso para estes serviços torna- se mais

custoso.

105

Tabela 9 - Unidades de Saúde Ligadas ao Sistema Único de Saúde (SUS) dos

municípios que fazem parte da sub-bacia

Unidades de Saúde Ligadas ao SUS

Município

Jaguaretama Solonópole Dep. Irapuan

Pinheiro Milhã

Hospital geral 1 1 1 1

Posto de saúde 4 3 3 6

Clínica especializada/Ambulatório especialidades

- 1 1 1

Unidade móvel - - 1 -

Unidade de vigilância sanitária - 1 1 1

Centro de saúde/Unidade básica de saúde

4 7 4 5

Centro de atenção psicossocial - 1 - -

Total 9 14 11 14

Fonte: CEARÁ (2014).

Tabela 10 - Profissionais de Saúde Ligados ao Sistema Único de Saúde (SUS)

dos municípios que fazem parte da sub-bacia – 2011

Profissionais de Saúde

Municípios

Jaguaretama Solonópole Dep. Irapuan

Pinheiro Milhã

Médicos 16 9 11 11

Dentistas 7 9 6 3

Enfermeiros 13 13 8 12

Outros profissionais de saúde/nível superior

14 11 12 3

Agentes comunitários de saúde

65 56 29 39

Outros profissionais de saúde/nível médio

68 57 35 43

Fonte: CEARÁ (2014).

Outro aspecto importante referente à análise da saúde de uma população

diz respeito à taxa de mortalidade infantil, amplamente utilizada como importante

indicador do nível de saúde. De acordo com Santos Junior e Jacobi (2009), o índice

ou taxa de mortalidade retrata:

Não somente aspectos da saúde de crianças menores de um ano de idade, mas também as condições de saúde, nível de vida e desenvolvimento socioeconômico de uma dada população num determinado ano, já que as mortes infantis estão associadas a um conjunto de fatores como: assistência médica, condições hospitalares, habitação, saneamento básico, alimentação, educação, etc. (SANTOS JUNIOR e JACOBI, 2009, p. 20).

106

A taxa de mortalidade infantil é calculada a partir do número de óbitos a

cada mil nascidos vivos. No município de Jaguaretama, em relação ao ano de 2004,

reduziu-se a taxa de mortalidade infantil de 24,10 para 11,49 no ano de 2014. Por

sua vez, o município de Solonópole em relação ao ano de 2004, reduziu a taxa de

mortalidade infantil de 27,67 para 17,44 no ano de 2014. Já o município de

Deputado Irapuan Pinheiro, em relação ao ano de 2004, reduziu a taxa de

mortalidade infantil de 7,87 para 0,00 no ano de 2014. Por fim, no município de

Milhã, em relação ao ano de 2004, reduziu a taxa de mortalidade infantil de 25,48

para 8,26 no ano de 2014.

Assim, observa-se que, os municípios reduziram a taxa de mortalidade

infantil. Essa realidade pode ser considerada como um bom indicador da qualidade

da assistência à saúde. Contudo, os dados referentes à Solonópole ainda se

mostram superiores à média geral do Estado do Ceará (12,36), demostrando a

necessidade de análise especial para que possa sem entendido a causa deste

índice elevado e assim combatido.

5) Infraestrutura

Em relação aos fatores de infraestrutura pública, a distribuição de energia

elétrica para os municípios da bacia do Riacho do Sangue fica a cargo da

Companhia Energética do Ceará (COELCE), em que 98.8% da população residente

nestas cidades têm acesso à fonte de energia (CEARÁ, 2014).

Outro fator de ponderação para análise da infraestrutura pública diz

respeito ao abastecimento de água. Esse elemento é de fundamental importância

para a população e suas atividades econômicas. Ressalta-se ainda que a bacia está

inserida na região semiárida, assim sendo, possui limitações naturais, como o

acesso à água de qualidade e quantidade. Esta acaba por constituir-se como

prioridade para a gestão pública. Na Tabela 11, observa-se que as formas de

abastecimento dos municípios que fazem parte da bacia ocorrem,

predominantemente, pela rede geral.

Tabela 11 - Formas de abastecimento de água dos municípios que fazem parte

da bacia por domicílio

Forma de abastecimento de Municípios

107

água Jaguaretama Solonópole

Dep. Irapuan Pinheiro

Milhã

Rede geral 3.185 3.981 2.104 2.578

Poço ou nascente na propriedade

22 40 111 182

Poço ou nascente fora da propriedade

12 56 70 170

Carro-pipa ou água da chuva 724 101 76 61

Rio, açude, lago ou igarapé 1.156 1.004 346 785

Fonte: BRASIL (2010).

A seguir, observa-se a cobertura dos serviços de água da zona rural e da

zona urbana dos municípios da pesquisa. Dessa forma, observa-se que o

abastecimento de água na zona urbana comporta de forma satisfatória, porém, na

zona rural, apenas o município de Deputado Irapuan Pinheiro apresenta

abastecimento de água satisfatória.

Tabela 12 - Taxas de cobertura dos serviços de água, por situação do

domicílio, segundo os municípios e distritos – Ceará

Municípios e distritos

Abastecimento de água Esgotamento sanitário

Urbana 2012 Rural 2012 Urbana 2012 Rural 2012

Jaguaretama 97,9 24,1 6,9 -

Solonópole 96,4 11,0 - -

Deputado Irapuan Pinheiro

88,2 88,0 - -

Milhã 85,8 22,2 2,7 0,1

Fonte: CEARÁ (2015).

No que diz respeito à infraestrutura do esgotamento sanitário22, dos

municípios integrantes da bacia do Riacho do Sangue, todos apresentam condições

insatisfatórias (Tabela 12). Tal fator compromete não só a qualidade da água, mas

também a saúde da população. Observa-se, de acordo com a Tabela 13, que a

fossa rudimentar apresenta-se como principal forma de esgotamento sanitário.

Destaca-se o alto risco de contaminação de lençol de água, pois as fossas são

construídas sem qualquer cuidado quanto à contenção dos agentes contaminantes.

22

O esgotamento sanitário é constituído pelas atividades, infraestruturas e instalações operacionais de coleta, transporte, tratamento e disposição adequada dos esgotos sanitários, desde as ligações prediais até o seu lançamento final no meio ambiente. Ministério das Cidades: http://www.cidades.gov.br, acesso em 10/11/2012.

108

Cabe destacar que, de acordo com a FUNASA, a fossa rudimentar

apresenta-se como uma “atividade de alto impacto ambiental, pela possibilidade de

poluição do solo, poluição do lençol freático e veiculação de doença” (BRASIL, 2013,

p. 35).

Tabela 13 - Esgotamento sanitário dos municípios da bacia do Riacho do

Sangue por domicílio

Tipo de esgotamento sanitário

Municípios

Jaguaretama Solonópole

Deputado

Irapuan

Pinheiro

Milhã

Rede geral de esgoto ou pluvial 220 626 21 341

Fossa séptica 78 61 36 509

Fossa rudimentar 3.821 3.703 1.929 2.200

Vala 131 135 57 163

Rio, lago ou mar 4 5 1 6

Outro tipo 317 159 101 149

Não tinham 591 603 617 469

Fonte: BRASIL (2010).

No que diz respeito à destinação final de resíduos sólidos, é sabido que a

forma mais apropriada para o destino final de resíduos sólidos é por meio de aterros

sanitários, porém no Estado do Ceará apenas Fortaleza, Caucaia, Eusébio,

Maracanaú, Pacatuba, Maranguape e Sobral destinam os resíduos sólidos em

aterros sanitários, segundo a Coordenadoria de Políticas Ambientais do Estado

(COPAM). Os demais municípios do estado utilizam lixões para a destinação final

dos resíduos, entretanto, a Lei Federal n° 12.305, que institui a Política Nacional de

Resíduos Sólidos (PNRS), prevê a prevenção e a redução na geração de resíduos,

tendo como proposta o aumento da reciclagem e a destinação ambientalmente

adequada dos rejeitos em aterros sanitários controlados.

No Ceará, para dar fim à destinação dos resíduos em lixões, instalar

aterros sanitários e assim aderir à lei da Política Nacional de Resíduos Sólidos, é

preciso prover meios de sistemas consorciados, de modo que os municípios de

Milhã, Solonópole e Deputado Irapuan Pinheiro façam parte do Aterro Sanitário

109

controlado de Pedra Branca e Jaguaretama, a qual atualmente faz parte do Aterro

Sanitário controlado de Jaguaribara (PROINTEC, 2005).

Na bacia do Riacho do Sangue, conforme a Tabela 14, a maioria dos

resíduos dos municípios é coletada por serviços de limpeza ou caçamba, porém,

observa-se que grande parte dos resíduos são queimados ou “jogados” em terreno

baldio ou logradouro.

Tabela 14 - Destino do lixo dos municípios que fazem parte da bacia por

domicílio

Destino do lixo

Municípios

Jaguaretama Solonópole Deputado Irapuan Pinheiro

Milhã

Coletado 2.489 2.825 1.267 1.919

Coletado por serviço de limpeza 615 2.214 28 220

Coletado em caçamba de serviço de limpeza

1.874 611 1.239 1.699

Queimado (na propriedade) 2.159 1.701 794 1.330

Enterrado (na propriedade) 58 12 8 11

Jogado em terreno baldio ou logradouro

448 721 686 566

Jogado em rio, lago ou mar 5 2 3 3

Fonte: BRASIL (2010).

6) Aspectos econômicos

No tocante à renda familiar, elemento inerente à análise do Índice de

Desenvolvimento Social, optou-se pela análise das condições econômicas dos

municípios que fazem parte da bacia Riacho do Sangue, sendo examinado o

número de empregos, a renda familiar, o Produto Interno Bruto – PIB e o quadro das

atividades produtivas.

Assim, quanto às características relacionadas ao emprego, constata-se o

número total de empregos formais (Tabela 15), sendo registrados em Jaguaretama

1.230 empregos (416 homens e 814 mulheres), 1.073 empregos (428 homens e 645

mulheres) em Solonópole, 555 empregos (205 homens e 350 mulheres) em

Deputado Irapuan Pinheiro e 662 empregos (243 Homens e 419 mulheres) em

Milhã.

Observa-se que os empregos formais referentes às atividades

econômicas por gênero que corresponde à população economicamente ativa

110

feminina encontram-se, em todos os municípios da pesquisa, com número superior

aos dos homens. Cabe destacar que Jaguaretama e Milhã apresentam o dobro de

mulheres nesta faixa etária em relação à população de homens, o que tende a

ratificar a participação das mulheres em empregos fora de casa.

Segundo o Anuário Estatístico do Ceará (2014), os municípios da bacia

do Riacho do Sangue não apresentam nenhuma ocorrência de empregabilidade da

população jovem (de 10 a 14 anos). Desta forma, predominam a faixa etária da

população economicamente ativa (de 15 a 64 anos), porém cabe destacar que

Jaguaretama apresenta 9 pessoas, Solonópole apresenta 5 pessoas, Deputado

Irapuan Pinheiro apresenta 1 pessoa e Milhã apresenta 4 pessoas com empregos

formais referentes à faixa da população idosa (65 anos ou mais) economicamente

ativa.

Outra característica dos empregos formais, de acordo com o Anuário

Estatístico do Ceará (2014) referente aos municípios que fazem parte da sub-bacia

do Riacho do Sangue, diz respeito ao fato de que o número de empregos destina-se

em maior proporção para pessoas que possuem nível médio completo, seguido de

nível superior completo e ensino fundamental completo. Verificam-se empregos

formais ligados a pessoas sem nenhuma instrução escolar apenas no município de

Milhã.

Tabela 15 - Número de Empregos Formais dos municípios da bacia do Riacho

do Sangue

Discriminação Município

Jaguaretama Solonópole Dep. Irapuan

Pinheiro Milhã

Total das Atividades 1.230 1.073 555 662

Extrativa Mineral - - - -

Indústria de Transformação

5 30 - 3

Serviços Industriais de Utilidade Pública - - - -

Construção Civil 7 21 - 4

Comércio 174 119 56 54

Serviços 38 69 7 19

Administração Pública 1.006 833 492 582

Agropecuária - 1 - -

Fonte: CEARÁ (2014).

111

Em relação ao rendimento mensal referente à população residente nos

municípios que fazem parte da bacia, verifica-se que a renda domiciliar per capita23

da maior parte dos municípios é de 01 (um) salário mínimo (Tabela 16).

Tabela 16 - Renda Domiciliar per capita dos municípios da bacia do Riacho do

Sangue

Salário

Município

Jaguaretama Solonópole Dep. Irapuan

Pinheiro Milhã

nº % nº % nº % nº %

Total 5.162 100 5.292 100 2.762 100 3.837 100

Até ¼ 1.162 23 1.720 33 1.025 37 1.157 30

Mais de 1/4 a 1/2 1.347 26 1.328 25 604 22 1.029 27

Mais de 1/2 a 1 1.269 25 1.603 30 777 28 1.110 29

Mais de 1 a 2 260 5 361 7 193 7 259 7

Mais de 2 a 3 40 1 58 1 16 1 57 1

Mais de 3 70 1 71 1 14 1 39 1

Sem rendimento 215 4 151 3 143 5 186 5

Fonte: BRASIL (2010).

Outro indicador relevante é o Produto Interno Bruto – PIB24, sendo

compreendido como a soma dos bens e serviços produzidos que é utilizado para

medir o crescimento econômico de um pais, região, estado ou cidade em um dado

período. O PIB congrega três setores da economia: agropecuária, indústria e

serviços, e a partir deles são ramificadas as atividades para a análise do PIB

(BRASIL, 2004).

Na Tabela 17 observa-se que a maior renda é gerada pelo setor de

serviços, sendo este ainda o que mais gera empregos formais (Tabela 15). A

agropecuária assume a 2º posição, porém somente em Solonópole é registrado

emprego formal para este setor econômico. Por fim, o setor industrial, apesar de não

deter grande fatia do PIB comparado aos outros setores, apresenta em

23

Diz respeito à soma dos rendimentos mensais dos moradores do domicílio, em reais, dividida pelo número de seus moradores. 24 Segundo o BRASIL (2004), o método de cálculo do PIB consiste num processo descendente de repartição, pelos municípios, do valor adicionado das 15 atividades das unidades da federação: primeiro, estima-se o valor estadual de cada agregado; em seguida, reparte-se esse valor pelos municípios, ou seja, uma vez estimado o valor adicionado por atividade de cada estado, procede-se à distribuição para as atividades municipais, segundo indicadores escolhidos para este fim (BRASIL, 2004).

112

Jaguaretama, Solonópole e Milhã relevante quantidade de empregos formais

relacionados ao setor.

Observa-se ainda, no que diz respeito aos setores econômicos dos

municípios da pesquisa, a grande participação inerente ao PIB do setor de serviços,

atividade exercida principalmente nos núcleos urbanos. Já a agropecuária

apresenta-se em segundo lugar, atividade praticada, sobretudo em área rural.

Tabela 17 - Produto Interno Bruto dos municípios da bacia do Riacho do

Sangue – 2011

Discriminação

Municípios

Jaguaretama Solonópole Dep. Irapuan

Pinheiro Milhã

PIB por setor (%)

Agropecuária 29,35 27,76 17,40 19,12

Indústria 9,14 7,88 8,07 8,56

Serviços 61,51 64,36 74,53 72,33

Fontes: BRASIL/CEARÁ (2011).

Para a compreensão das atividades econômicas foram retratadas com

ênfase o setor agropecuário, haja vista que esta é responsável pelos principais

problemas ambientais da área.

As atividades ligadas à agropecuária dizem respeito ao desenvolvimento

da agricultura, pecuária e o extrativismo (vegetal, animal e mineral), de modo que

este setor, em geral, produz matéria-prima a partir da transformação de recursos

naturais para o abastecimento das indústrias.

Incumbem, nesse contexto de entendimento do processo da produção

agropecuária, os aspectos relacionados à estrutura fundiária dos municípios que

fazem parte da pesquisa, pois a terra é um fator de produção estratégico no que diz

respeito às atividades agropecuárias.

A Tabela 18 expõe a estrutura fundiária dos municípios que fazem parte

da sub-bacia hidrográfica Riacho do Sangue, de modo que é possível observar que

os municípios apresentam um número expressivo de propriedades pequenas e

minifúndios: Solonópole, 94,8%; Dep. Irapuan Pinheiro, 96,1%; Milhã, 96,2%.

Jaguaretama, porém, difere dos outros municípios, de modo a exibir maior

percentual de terras referentes à média propriedade (32,9%), seguida de pequenas

propriedades (31,7%).

113

Tabela 18 - Estrutura Fundiária

Imóveis rurais

Municípios

Jaguaretama Solonópole Deputado Irapuan Pinheiro

Milhã

Total Imóveis 718 1.672 688 1.115

Área (ha) 99.120 100.358 30.702 45.072

Grande propriedade

Imóveis 11 3 2 -

Porcentagem 2% 0,2% 0,3% -

Área (ha) 27.568 7.126 2.054 -

Porcentagem 27,8% 7,1% 6,7% -

Média propriedade

Imóveis 85 70 12 32

Porcentagem 12% 4% 2% 3%

Área (ha) 32.613 23.450 3.963 10.328

Porcentagem 32,9% 23,4% 12,9% 22,9%

Pequena propriedade

Imóveis 307 442 138 193

Porcentagem 43% 26% 20% 17%

Área (ha) 31.449 43.571 12.748 18.771

Porcentagem 31,7% 43,4% 41,5% 41,6%

Minifúndio

Imóveis 286 1.143 523 880

Porcentagem 40% 68% 76% 79%

Área (ha) 7.093 26.211 11.937 15.974

Porcentagem 7,2% 26,1% 38,9% 35,4%

Não classificados (1)

Imóveis 29 14 13 10

Porcentagem 4% - - -

Área (ha) 397 - - -

Porcentagem 0,40 - - -

Fonte: CEARÁ (2014).

Na análise da área dos imóveis rurais por tamanho do imóvel e

classificação das áreas, observa-se que em Jaguaretama as grandes propriedades e

as médias propriedades, juntas, concebem 14% do número de imóveis, porém

apresentam 60,7% do território, ficando para a pequena propriedade e o minifúndio

apenas 39,3% do território, com 86% do número de estabelecimentos.

Em Solonópole, as grandes e médias propriedades representam 4,4% do

número de imóveis, com 30,5% de terras do território, restando 69,5% de terras para

94,8% das propriedades (pequena propriedade e minifúndio). Já no município de

Dep. Irapuan Pinheiro, as grandes e médias propriedades representam 0,2% do

número de imóveis, com 19,6% de terras do território em contrapartida a 80,4% do

território ocupado por 96,6% de pequenas propriedades e minifúndios. Em Milhã, as

grandes e médias propriedades representam 0,3% do número de imóveis, com

22,9% de terras do território, e 77,15% do território é ocupado por 77,1% de

pequenas propriedades e minifúndios.

114

Assim, é possível observar que existe uma concentração de terras nos

municípios da pesquisa, principalmente no município de Jaguaretama. Esta

configuração pode ser compreendida pelo fruto do processo histórico de ocupação,

assinalado a princípio pelas capitanias hereditárias que, no decorrer do tempo, se

perpetuaram materializando-se na conjuntura fundiária de concentração de terras.

No que diz respeito às atividades agropecuárias, ou seja, às atividades

produtivas que os atores sociais realizam a partir do uso direto dos recursos naturais

para a subsistência e/ou geração de renda, os municípios da bacia do Riacho do

Sangue baseiam-se nas culturas permanentes (banana, castanha de caju, laranja e

manga), nas culturas temporárias (algodão herbáceo, arroz, batata-doce, cana-de-

açúcar, feijão, mamona, mandioca e milho), pecuária (asininos, bovino, equino,

galináceos, ovinos, suíno e vacas) e no extrativismo (carvão vegetal, lenha e poda).

As culturas temporárias dizem respeito às áreas para o plantio de culturas

de curta duração que normalmente necessitam de novo plantio após cada colheita,

produzindo por vários anos sucessivos (BRASIL, 2015). Esta configuração de cultura

apresenta, após colheita, a tendência de deixar as terras da área de plantio com o

solo exposto, o que ocasiona a susceptibilidade/potencialidade desses ambientes à

erosão.

As culturas prementes representam a maior expressão no que diz

respeito à quantidade produzida e também na variedade ao longo do recorte

temporal de 2003 a 2014 (Apêndice 1).

As atividades que dizem respeito à produção e às culturas temporárias

exercidas no interior da bacia do Riacho do Sangue, segundo Produção Agrícola

Municipal (IBGE), exibem, em sua maioria, um decréscimo na produção a partir do

ano de 2010, cabe destacar aqui a produção de milho, algodão e mamona, que

exibiram uma recuperação no ano de 2011, de modo que a produção mostrou-se

elevada, porém decaem nos anos seguintes mesmo em municípios que antes

exibiam destaque em suas produções. Desse modo, nos anos de 2010, 2012, 2013

e 2014 não apresentaram produção de algumas culturas.

É possível observar que o decréscimo da produção está diretamente

relacionado à oferta hídrica, pois as culturas dependem da manutenção da umidade

do solo durante o período de cultivo, e, segundos dados da Fundação Cearense de

115

Meteorologia – FUNCEME25, o estado do Ceará em 2011 exibiu um ano atípico

chuvoso, de modo a ser compreendida a recuperação da colheita neste ano. Já

2012 foi registrado como um ano atípico muito seco, e 2011, 2013 e 2014 foram

registrados como anos secos, sendo os três últimos caracterizados por anos

consecutivos de seca, o que agrava a situação, pois o regime pluviométrico se

restringe a poucos meses com poucas chuvas (primeiro semestre do ano),

apresentando-se insuficiente para as culturas e também para o abastecimento dos

açudes, que são reservas hídricas estratégicas para o semiárido.

As culturas permanentes compreendem a área plantada ou em preparo

para o plantio de culturas de longa duração, que após a colheita não necessitam de

novo plantio, produzindo por vários anos sucessivos, uma vez que proporcionam

mais de uma colheita (BRASIL, 2015).

Esta prática retira a mata nativa e posteriormente evita a reestruturação

dessas matas para que suas atividades e necessidades de produção sejam

alcançadas, de modo que acabam por mudar significativamente o ambiente, tanto

sua fauna quanto a flora. Destaca-se que, apesar de exibir alguma cobertura vegetal

inerente à cultura, essas áreas estão sujeitas à erosão, pois práticas inadequadas

de manejo agrícola ocasionam modificações em suas propriedades físicas, as quais

acabam influenciando o processo erosivo, tencionando assim a diminuir a

capacidade produtiva das terras (BERTONI e LOMBARDI NETO, 2012).

As atividades que dizem respeito à produção e às culturas permanentes

praticadas no interior da sub-bacia do Riacho do Sangue, segundo Produção

Agrícola Municipal (IBGE), exibem, assim como as culturas temporárias, um

decréscimo na produção relacionada aos anos consultivos de seca registrados em

2013 e 2014.

Em relação à pecuária, cabe destacar que esta atividade está diretamente

relacionada ao processo de ocupação à região. As criações são confinadas no

regime semi-intensivo ou, em sua maioria, no regime extensivo. Em relação à dieta

destes animais, a forragem diz respeito ao principal alimento para o rebanho, de

modo que as áreas das pastagens nativas são predominantes em relação à

pastagem cultivada. As espécies da caatinga participam expressivamente, pois o

25

http://www.funceme.br

116

gado criado de modo extensivo é criado de maneira dispersa, em grandes áreas

com pastagens naturais, de modo que os animais procuram o próprio alimento.

De acordo com Coutinho (2013), a pecuária representa uma importante

atividade na região semiárida, diferentemente da agricultura, que está sujeita às

intempéries climáticas. Em virtude da baixa oferta de forragens no período de seca,

a pecuária tem o desempenho produtivo dos rebanhos afetado, como é possível

observar no Apêndice 1, que exibe uma queda referente ao rebanho no período dos

últimos anos (2013 a 2014) que se configuram como anos secos consecutivos.

Destaca-se que as informações adquiridas a partir da análise dos

elementos, relacionadas aos aspectos socioeconômicos, retratam aspectos das

relações sociais em si e também sobre como a população residente estabelece a

relação de uso dos recursos naturais e a importância destes para a economia local,

de modo que estes se configuram em elementos essenciais para a análise das

tipologias de uso e cobertura da terra.

6.2 USO E COBERTURA DA TERRA DA BACIA HIDROGRÁFICA DO RIACHO

DO SANGUE

A classificação das tipologias de uso e cobertura da terra para a bacia

hidrográfica do Riacho do Sangue materializa-se como um aspecto fundamental

para a compreensão dos padrões de organização do espaço, sendo um importante

elemento, como explana Pereira et al. (1994), para demostrar a distribuição espacial

das atividades de exploração e conservação de uma determinada região.

Assim, as diversas atividades realizadas na bacia hidrográfica do Riacho

do Sangue vislumbram a dinâmica dos atores produtores do espaço, de modo que é

possível observar, na nascente da foz do Riacho do Sangue, as atividades que

modificam a paisagem local e que, na maioria das vezes, não levam em

consideração a capacidade de suporte do ambiente. Essas atividades dizem

respeito à relação entre sociedade e natureza, que tende, quando não leva em

consideração as especificidades dos ambientes, a acarretar a degradação dos

recursos naturais e, por consequência, gera perdas socioeconômicas.

As principais tipologias de uso identificadas, respeitando a escala de

análise e metodologia proposta, são: Zona urbanizada; Solos expostos; Silvicultura e

117

(continua)

mineração; Agricultura; Caatinga arbórea/arbustiva densa; Caatinga arbustiva

aberta; Mata ciliar; Pastagens e Água.

Contudo, o conhecimento do uso e a cobertura da terra da bacia do

Riacho do Sangue, por meio das tipologias, possibilitam informações delimitadas na

escala temporal de 11 anos, possibilitando informações sobre as proporções de

mudanças relativas aos usos e à cobertura, contribuindo assim para a análise do

estado de conservação da vegetação na bacia hidrográfica Riacho do Sangue.

6.2.1 Uso e cobertura – 2003

As tipologias do uso e da cobertura da terra referentes ao ano de 2003

estão descritas e quantificadas no Quadro 11 e no Gráfico 19, de modo a ser

observado que a classe que possui maior representação espacial diz respeito à

tipologia inerente às caatingas (Caatinga arbórea/arbustiva densa e Caatinga

arbustiva aberta), que representam 64,13% da área total da bacia do Riacho do

Sangue e estão distribuídas por toda a bacia, porém em Jaguaretama há uma baixa

representatividade, sendo possível observar em sua maioria a presença de caatinga

arbustiva aberta.

A agricultura possui representatividade de 16,69%, sendo encontrada

próxima a corpos hídricos. A pastagem com 8,45% apresenta uma grande

representatividade em Jaguaretama; os solos expostos, a silvicultura e a mineração

encontram-se em todos os municípios na porcentagem de 5,22%, porém em Milhã e

Jaguaretama é possível observar boa parte da concentração de áreas desta classe;

a mata ciliar possui representatividade de 3,66%, estando bem distribuída ao longo

dos rios, a água possui 1,75, e a zona urbanizada 0,11% da área total da bacia do

Riacho do Sangue (Mapa 8).

Quadro 11 - Cenário de uso e cobertura da terra da bacia hidrográfica do

Riacho do Sangue referente ao ano de 2003

Classes de uso e cobertura da

terra Descrição do uso

Área (km²)

Porcen-tagem

(%)

Zona urbanizada Compreende as áreas ocupadas por edificações, como sedes distritais, vilas, etc.

2,6 0,11

Solos expostos, silvicultura e mineração

Aqueles cujas ações do homem modificaram a paisagem com a retirada da vegetação, deixando o solo exposto.

128,57 5,22

118

Quadro 11 - Cenário de uso e cobertura da terra da bacia hidrográfica do

Riacho do Sangue referente ao ano de 2003 (conclusão)

Agricultura Esta categoria compreende as áreas que possuem terras com agricultura (culturas permanentes e temporárias).

411 16,69

Caatinga arbórea/

arbustiva densa

Compreende as manchas de remanescente vegetal (áreas conservadas ou em estado de recuperação), constituída por vários tipos fisionômicos encontrados na caatinga.

809,09 32,85

Caatinga arbustiva aberta

Constitui a categoria de cobertura vegetal arbustiva por vezes espaçada, representada por vários tipos fisionômicos encontrados na caatinga.

770,34 31,28

Mata ciliar Ocupa os vales dos canais de drenagem bem marcados, ou cabeceiras de nascentes.

90,04 3,66

Pastagens São as áreas cobertas predominantemente por gramíneas, ervas, arbustos e árvores dispersas, onde há pastagem natural ou introduzida artificialmente.

208,2 8,45

Água Fazem parte desta categoria os cursos d’água, rios/riachos e espelhos d’água.

43,16 1,75

Fonte: Elaborado pela autora.

Gráfico 19 - Representatividade espacial dos padrões de uso e cobertura da

terra da sub-bacia hidrográfica do Riacho do Sangue referente ao ano de 2003

Fonte: Elaborado pela autora.

0,11%

4,37%

16,69%

32,85% 31,28%

4,51%

8,45%

1,75%

Zona urbanizada

Solos expostos e mineração

Agricultura

Caatinga arbórea/ arbustiva densa

Caatinga arbustiva aberta

Mata ciliar

Pastagens

Água

119

Mapa 8 - Mapa de uso e cobertura, 2003

Fonte: Elaborado pela autora.

120

6.2.2 Uso e cobertura – 2014

As tipologias do uso e da cobertura da terra referentes ao ano de 2003

estão descritas e quantificadas no Quadro 12 e no Gráfico 20, de modo a ser

observado que a classe que possui maior representação espacial diz respeito à

tipologia inerente às caatingas (Caatinga arbórea/arbustiva densa e Caatinga

arbustiva aberta), que representam 54,58% da área total da bacia do Riacho do

Sangue, estando bem distribuídas, exceto o município de Milhã, que exibe uma

pequena porcentagem desta classe.

A agricultura, com representatividade de 24,28%, encontra-se próxima a

locais que apresentam disponibilidade hídrica, a pastagem com 12,18% exibe maior

representatividade nos municípios de Milhã e Jaguaretama; os solos expostos, a

silvicultura e a mineração, com 6,90%, apresentam-se locados em áreas

concentradas em Milhã e Jaguaretama; a mata ciliar possui representatividade de

0,01%, estando mal distribuída ao longo dos rios; a água representa 1,92% e a zona

urbanizada 0,12% da área total da sub-bacia do Riacho do Sangue (Mapa 9).

Quadro 12 - Cenário de uso e cobertura da terra da sub-bacia hidrográfica do

riacho do Sangue referente ao ano de 2014. Fonte: Elaborado pela autora

Classes de uso e

cobertura da terra

Descrição do uso Área (km²)

Porcentagem (%)

Zona urbanizada

Compreende as áreas ocupadas por edificações, como sedes distritais, vilas, etc.

3,01 0,12

Solos expostos e mineração

Aqueles cujas ações do homem modificaram a paisagem com a retirada da vegetação, deixando o solo exposto.

170 6,90

Agricultura Esta categoria compreende as áreas que possuem terras com agricultura (culturas permanentes e temporárias).

598 24,28

Caatinga arbórea/ arbustiva

densa

Compreende as manchas de remanescente vegetal (áreas conservadas ou em estado de recuperação) constituídas por vários tipos fisionômicos encontrados na caatinga.

700,00 28,42

Caatinga arbustiva

aberta

Constitui uma categoria de cobertura vegetal arbustiva por vezes espaçada, representada por vários tipos fisionômicos encontrados na caatinga.

644,40 26,16

Mata ciliar Ocupa os vales dos canais de drenagem bem marcados, ou cabeceiras de nascentes.

0,29 0,01

Pastagens São as áreas cobertas predominantemente por gramíneas, ervas, arbustos e árvores dispersas, onde há pastagem natural ou introduzida artificialmente.

300 12,18

Água Fazem parte desta categoria os cursos d’água rios/riachos e espelhos d’água.

47,3 1,92

Fonte: Elaborado pela autora

121

Gráfico 20 - Representatividade espacial dos padrões de uso e cobertura da

terra da sub-bacia hidrográfica do Riacho do Sangue referente ao ano de 2014

Fonte: Elaborado pela autor

0,12%

6,90%

24,28%

28,42%

26,16%

0,01% 12,18%

1,92% Uso cobertura 2014

Zona urbanizada

Solos expostos e mineração

Agricultura

Caatinga arbórea/ arbustivadensaCaatinga arbustiva aberta

Mata ciliar

Pastagens

Água

122

Mapa 9 - Mapa de uso e cobertura, 2014

Fonte: Elaborado pela autora

123

6.2.3 Análise comparativa de uso e ocupação no período de 2003 e 2014

A configuração espacial da paisagem, exposta pelos mapas de uso e

cobertura da terra, exibem as informações inerentes às ações naturais e antrópicas.

A Tabela 19, o Gráfico 21 e o Mapa 10 apresentam a síntese da dinâmica do uso e

da cobertura no que concerne ao período de 2003 e 2014, da bacia hidrográfica

Riacho do Sangue.

Tabela 19 - Comparação entre as áreas das classes de uso e cobertura da terra

na bacia hidrográfica Riacho do Sangue

Tipologia de uso/cobertura Ano 2003 Ano 2014

Área (Km²) Porcentagem (%) Área (Km²) Porcentagem (%)

Zona urbanizada 2,6 0,11 3,01 0,12

Solos expostos e mineração 128,57 5,22 170 6,90

Agricultura 411 16,69 598 24,28

Caatinga arbórea/ arbustiva densa

809,09 32,85 700,00 28,42

Caatinga arbustiva aberta 770,34 31,28 644,40 26,16

Mata ciliar 90,04 3,66 0,29 0,01

Pastagens 208,2 8,45 300 12,18

Água 43,16 1,75 47,3 1,92

Fonte: Elaborado pela autora.

Gráfico 21 - Comparação entre as áreas das classes de uso e cobertura da

terra na sub-bacia hidrográfica Riacho do Sangue

Fonte: Elaborado pela autora.

0

100

200

300

400

500

600

700

800

900

Zonaurbanizada

Solosexpostos emineração

Agricultura Caatingaarbórea/arbustiva

densa

Caatingaarbustiva

aberta

Mata ciliar Pastagens Água

Série1

Série2

2003

2014

Áre

a em

km

²

124

Mapa 10 - Análise comparativa do uso e da cobertura dos anos 2003 e 2014

Fonte: Elaborado pela autora.

125

A análise da Tabela 19, do Gráfico 21 e do Mapa 10 apontam que as

áreas urbanas tiveram uma ampliação. Em 2003 apresentavam 0,11% da área da

pesquisa, e em 2014 representavam 0,12%, o que especializa as informações

inerentes à mudança de padrão observado na população da pesquisa, que tende ao

aumento em áreas urbanas, ou seja, as zonas urbanas tendem a apresentar

crescimento em virtude do aumento da população urbana que passa a habitar essas

áreas e assim acabam por exigir espaços no interior urbano, consagrando o

aumento desta área.

No que diz respeito à tipologia dos solos expostos e à mineração, é

possível observar na Tabela 19, no Gráfico 21 e no Mapa 10, que as áreas que

correspondem a essa tipologia apresentam um crescimento, de modo que em 2003

a área era especializada em 5,22%, já em 2014 esta área passou a ser de 6,90%,

em que é possível observar que as manchas de solo exposto anterior tenderam a

alargar, assim como novas machas e solos expostos foram materializados em 2014.

A área que corresponde às caatingas (arbórea/arbustiva densa e

arbustiva aberta) representa a maior expressividade de área na bacia hidrográfica

Riacho do Sangue, exibindo, de acordo com a Tabela 19, o Gráfico 21 e o Mapa 10,

uma diminuição na sua área de 64% (arbórea/arbustiva densa 32,85% e arbustiva

aberta 31,28%) em 2003 para em 2014 a área representativa desta tipologia ser

representada por 52,70% (arbórea/arbustiva densa 28,42% e arbustiva aberta

26,16%). Foi observada a diminuição de 11,43% da representação das caatingas na

bacia hidrográfica Riacho do Sangue, de modo que estas áreas foram, em sua

maioria, substituídas por áreas de pastagem e de agricultura.

A mata ciliar exibe significativa alteração, em que é possível observar

(Tabela 19, Gráfico 21 e Mapa 10) que em 2003 a área representativa desta

tipologia era de 3,44%, já em 2014 essa área fica restrita a 0,01%, de modo que,

quantificando esta perda, tem-se uma redução de 99,56% de vegetação existente

em 2003. Observa-se, em campo e por meio dos mapeamentos, que a mata ciliar foi

paulatinamente sendo alterada por exibir melhores condições ambientais para a

prática da agricultura.

A agricultura apresentou (Tabela 19, Gráfico 21 e Mapa 10) um

crescimento, pois em 2003 possuía uma representação de 16,69%, e em 2014

exibiu 24,28% de representação espacial na bacia hidrográfica Riacho do Sangue.

Observa-se que houve um aumento de 7,58%. O que chama a atenção é que as

126

culturas apresentaram uma diminuição considerável no que cerne à quantidade

produzida, o que revela que áreas destinadas à agricultura não tiveram uma colheita

satisfatória em 2014.

As pastagens em 2003 eram especializadas, com uma representatividade

de 8,45%, já em 2014 essa representatividade obteve aumento, de modo que

passou a representar 12,18% (Tabela 19 e Gráfico 21). É importante observar que,

de acordo com o Mapa 10, no que se refere a 2003, as áreas que dizem respeito a

essa tipologia estão, em sua maioria, localizadas no baixo curso, porém em 2014

essa área que condiz à pastagem no baixo curso apresentou uma recuperação da

vegetação, de modo que é possível ressaltar uma tendência positiva sob o aspecto

ambiental. Porém em 2014, outras áreas, principalmente no médio e baixo curso,

foram destinadas a essa prática.

A água está representada pelos espelhos d’água (açudes e lagoas),

sendo assim, de acordo com a Tabela 19 e o Gráfico 21, apresenta

representatividade em 2003 de 1,75% e em 2014 de 1,92%. O crescimento ocorreu

em virtude do barramento de cursos de rios para a construção de açudes. As

condições ambientais são favoráveis devido à facilidade de escorrimentos

superficiais e à baixa competência de penetração da água, predicado pelo

embasamento do escudo cristalino, exibindo assim características favoráveis à

construção de açudes e barragens que visam amenizar o problema da escassez de

recursos hídricos, direcionando-se assim para o abastecimento da população

sertaneja e à irrigação de terras. Na área da bacia hidrográfica do Riacho do

Sangue, é possível observar, dentre os açudes construídos neste período, o açude

Castanhão localizado no baixo curso da bacia, mais precisamente o Riacho do

Sangue deságua nele (Mapa 10).

Contudo, observou-se que as modificações impressas na paisagem

inerentes às mudanças no uso e na cobertura da terra por meio do sensoriamento

remoto e da validação de campo permitem reconstituir como determinada área foi

utilizada, e, assim, compreender a dinâmica da paisagem. Assim é possível, a partir

da análise temporal de 2003 e 2014, observar (Tabela 19, Gráfico 21 e Mapa 10) a

uma tendência de alteração da paisagem que se refere à diminuição de área de

caatinga, mata ciliar e aumento da agricultura, pecuária e solo exposto.

Provavelmente, a manutenção desta configuração fará com que as áreas das

127

caatingas deixem de compor a matriz principal na bacia hidrográfica Riacho do

Sangue.

128

7 SÚMULA DOS SISTEMAS AMBIENTAIS

A partir da caracterização e da interação dos componentes ambientais

(geológico, geomorfológicos, hidroclimatológicos, pedológicos, fitogeográficos), é

possível inferir a delimitação dos sistemas ambientais.

De acordo com Souza (2009):

Os sistemas ambientais tendem a representar um arranjo espacial decorrente da similaridade de relações entre os componentes naturais – de natureza geológica, geomorfológica, hidroclimática, pedológica e fitoecológica – materializando-se nos diferentes sistemas ambientais e padrões de paisagem (SOUZA, 2009, p. 26).

Para a delimitação dos sistemas e subsistemas (geossistemas/geofácies)

da bacia Riacho do Sangue, foram levados em consideração os aspectos

geomorfológicos, assim como os levantamentos de campo e a orientação da

compartimentação geoambiental do Ceará.

De acordo com Souza (2000), a geomorfologia apresenta-se como

elemento base para a delimitação dos sistemas ambientais e subsistemas,

afirmando que:

Para a delimitação dos geossistemas/geofácies, considerou-se a análise geomorfológica como elemento de importância fundamental. Os limites do relevo e as feições do modelado são mais facilmente identificados e passiveis de uma delimitação mais rigorosa e precisa. Deve-se reconhecer, além disso, que a compartimentação ambiental geomorfológica deriva herança da evolução geoambiental pelo menos Terciário-Quartenária. Como tal, cada compartimento tende a ter padrões próprios de drenagem superficial, arranjamentos típicos de solos e características singulares quanto aos aspectos fitofisionômicos. Por consequência, os padrões de ocupação são também influenciados (SOUZA, 2000, p. 11).

Nesta perspectiva, Silva (2012) ainda explana que:

O destaque feito à geomorfologia como fator básico de integração é devido tanto ao seu grau de “estabilidade” como pela maior facilidade de se identificar, delimitar e interpretar os comportamentos topográficos e as funções de modelado nele contido e conduzir a uma condição parcial de integração através das condições morfoestruturais, morfopedológicos, morfoclimáticos e hidromorfológicos (SILVA, 2012, p. 149).

Neste contexto, mapearam-se e descreveram-se os seguintes sistemas

ambientais na bacia Riacho do Sangue: Depressão, Planície de acumulação e

Relevos residuais. Estes sistemas foram divididos em dez subsistemas ambientais:

129

(continua)

Depressão Conservada do Alto/Médio Riacho do Sangue, Depressão Dissecada do

Alto/Médio Riacho do Sangue, Depressão Dissecada do Médio/Baixo Riacho do

Sangue, Depressão Conservada do Médio/Baixo Riacho do Sangue, Níveis de

cimeira, Rebordo de caimento, Planície fluvial, Área de inundação sazonal, Cristas

residuais e inselbergs, conforme delineado nos Quadros 13, 14, 15 e Mapa 11,

fundamentados por Souza (2000), Souza (2011) e Cruz (2010).

Quadro 13 - Características naturais dominantes dos sistemas ambientais da

Depressão encontradas na bacia Riacho do Sangue

Sistema Ambiental: Depressão

Subsistema ambiental

Características Naturais Dominantes

Depressão Dissecada do

Alto/Médio Riacho do Sangue

A unidade litoestratigráfica é representada pelo Domínio Ceará Central. Apresenta acentuadas variações litológicas com a presença de migmatitos da Unidade Acopiara, Metatexitos, Diatexitos, Suíte Quixadá, Granito Banabuiú, Rochas calssilicaticas. O intemperismo físico atua no truncamento indistinto das rochas que apresentam uma superfície pediplanada. A altitude varia de 200 a 300m. O relevo oscila entre ondulado e forte ondulado, podendo chegar a 25% de declividade. A drenagem assume padrão dendrito novamente, reflexo da geologia e dos solos que dificultam uma infiltração. As associações de solos predominantes na área são ARGISSOLO VERMELHO, NEOSSOLO LITÓLICO e LUVISSOLO CRÔMICO. A vegetação típica é a caatinga, que se apresenta em algumas áreas com presença de vegetação arbórea associada à vegetação arbustiva densa, porém apresenta ainda áreas alteradas pelas atividades agropecuárias, expondo uma vegetação arbustiva aberta.

Depressão Conservada do

Alto/Médio Riacho do Sangue

A unidade litoestratigráfica é representada pelo Domínio Ceará Central. Predominam rochas do embasamento cristalino que apresentam grande variedade de tipos, sendo truncadas por superfície de erosão. A altitude varia de 200 a 300m com relevo plano a ondulado. Padrão dendrítico da drenagem e regime hídrico intermitente sazonal. As associações de solos predominantes na área são LUVISSOLO CRÔMICO, NEOSSOLO LITÓLICO e PLANOSSOLO HÁPLICO. A vegetação é constituída de caatinga arbustiva densa e aberta, apresentando áreas alteradas pelas atividades agropecuária e ainda há áreas que exibem solo exposto

Depressão Dissecada do Médio/Baixo

Riacho do Sangue

A unidade litoestratigráfica é representada pelo Sistema Orós-Jaguaribe (Domínio Rio Grande do Norte), com a litologia sendo representada por granitos variados. O padrão de drenagem é dendrítico, com intermitência sazonal e leito perenizado do Riacho do Sangue. A altitude varia de 100 a 200 m. O relevo oscila entre ondulado e forte ondulado, podendo chegar até a 25% de declividade. As associações de solos predominantes na área são LUVISSOLO CRÔMICO, NEOSSOLO LITÓLICO e PLANOSSOLO HÁPLICO. A vegetação é constituída de caatinga arbustiva aberta, com remanescentes em pousio/regeneração.

Depressão Conservada do

Médio/Baixo Riacho do Sangue

A unidade litoestratigráfica é representada pelo Sistema Orós-Jaguaribe (Domínio Rio Grande do Norte) e Domínio Ceará Central, especificamente a unidade Granito Banabuiú. Os pedimentos se inclinam desde a base das áreas mais elevadas em direção aos fundos de vales. Relevo plano a ondulado com altitudes de 100 a 200m. Os corpos hídricos são caracterizados por uma drenagem dentrítica e subdentrítica, com rios intermitentes. Devido ao terreno cristalino, há pequenas infiltrações e o escoamento superficial é maior durante as chuvas. Em relação aos solos, há a predominância de NEOSSOLO REGOLÍTICO, LUVISSOLO CRÔMICO, NEOSSOLO LITÓLICO e PLANOSSOLO HÁPLICO. A vegetação é constituída de caatinga arbustiva aberta, apresentando áreas alteradas pelas atividades agropecuária, e ainda há áreas que exibem solo exposto e remanescente de caatinga em pousio/regeneração.

130

Quadro 13 - Características naturais dominantes dos sistemas ambientais da

Depressão encontradas na bacia Riacho do Sangue (conclusão)

Níveis de cimeira

Foram considerados os ambientes de níveis topográficos mais elevados, 300 a 450m, com níveis de declividade superior a 30%, considerados os divisores de águas entre bacias. Do ponto de vista vegetacional, é possível observar a ocorrência de caatinga arbórea e arbustiva densa e outra de configuração mais aberta. A primeira está associada às áreas de menor acesso por parte das populações locais; a segunda, com uma abrangência espacial maior, resquício da descaracterização desta em detrimento da produção de energia através da lenha e expansão da pecuária extensiva.

Rebordo de caimento

Foram considerados os ambientes de níveis topográficos mais elevados, 350 a 300m, com níveis de declividade superiores a 20% e apresentando relevo ondulado a fortemente ondulado. Predominam os ARGISSOLO VERMELHO, LUVISSOLO CRÔMICO, NEOSSOLO LITÓLICO e ARGISSOLO VERMELHO-AMARELO. A vegetação é constituída de caatinga, apresentando-se alterada por parte das atividades econômicas locais como a pecuária extensiva e o extrativismo vegetal.

Fonte: Adaptado de SOUZA (2000, 2009). Elaborado pela autora.

Quadro 14 - Características naturais dominantes dos sistemas ambientais da

Planície de acumulação encontradas na bacia Riacho do Sangue

Sistema Ambiental: Planície de acumulação

Subsistema ambiental Características Naturais Dominantes

Planície Fluvial

Constituído por depósitos aluvionares e sedimentos aluviais com areias mal selecionadas, com siltes, areias e cascalhos. As planícies fluviais estão distribuídas por toda a área, bordejando as calhas fluviais, são formadas a partir da deposição da ação fluvial com larguras variadas e embutidas nas rochas do embasamento cristalino. Verificam-se relevos planos com NEOSSOLO FLÚVICO. Estes sistemas ambientais detêm bom potencial hidrológico, onde está inserido o aquífero aluvião. Ambiente sujeito a inundações sazonais que apresentam revestimento primariamente por matas ciliares, porém o avanço do desmatamento, desencadeado por parte das comunidades locais em virtude de melhores condições ambientais (ambientes de exceção) para a agricultura, ocasionaram alto grau de alteração da vegetação.

Área de inundação Sazonal

Faixa de deposição aluvional, solo NEOSSOLO FLÚVICO localizado em setores deprimidos passíveis de encharcamento natural no período chuvoso, revestido por matas ciliares. Apresenta descaracterização em virtude da retirada para extrativismo mineral (argila), pecuária extensiva, silvicultura e plantio de agricultura de subsistência.

Fonte: Adaptado de SOUZA (2000, 2009). Elaborada pela autora.

Quadro 15 - Características naturais dominantes dos sistemas ambientais de

Maciços/Planaltos encontrados na bacia Riacho do Sangue.

Sistema Ambiental: Relevos residuais

Subsistema ambiental Características Naturais Dominantes

Cristas residuais e Inselbergs

Possuem feições aguçadas de relevos residuais oriundos da erosão diferencial, representadas pelas rochas mais resistentes aos processos erosivos, apresentando feições aguçadas de relevo. São caracterizados por litotipos variados do complexo cristalino. Cabe destacar as rochas inseridas na zona de cisalhamento Orós com predominância de rochas do complexo Campo Alegre e Santarém. Nessas áreas existe uma maior ação dos processos associados à morfogênese mecânica, os quais produzem instabilidade no ambiente. Possuem solos do tipo Neossolos Litólicos, afloramentos rochosos e eventualmente argissolos. Estes solos são recobertos, possuem difícil acesso e condições ambientais desfavoráveis, sendo pouco explorados, pois apenas em alguns setores ocorre sua atividade agrícola.

Fonte: Adaptado de SOUZA (2000, 2009). Elaborada pela autora.

131

Mapa 11 - Mapa dos sistemas ambientais da bacia Riacho do Sangue – Médio Jaguaribe

Fonte: Elaborado pela autora.

132

8 A CONSERVAÇÃO DA VEGETAÇAO NA BACIA RIACHO DO SANGUE

As atividades humanas, por vezes, exercem pressão e impacto sobre o

meio ambiente o que, de acordo com Meirelles et al. (2007, p.1, grifo nosso), “acaba

por induzir mudanças de estado nos ecossistemas, estabelecendo relações de

causa e efeito em uma vasta escala espaço-temporal”. Dentre os diversos processos

de intervenções humanas no meio, destacam-se as mudanças de uso e cobertura

da terra que são associadas comumente a pressões econômicas sobre os recursos

naturais.

No contexto do semiárido cearense, no qual se insere a bacia do Riacho

do Sangue, as conjecturas históricas das formas dos usos e das coberturas da terra

estão intimamente relacionadas com a pecuária, à cultura do algodão e a agricultura

de subsistência que progressivamente imprimiram modificações na dinâmica da

paisagem, alterando a competência do meio em responder aos processos

sistêmicos naturais.

Guerra, Souza e Lustosa (2012, p.104) escrevem que “a ocupação dos

sertões do Médio Jaguaribe teve como expressão máxima o binômio gado-algodão,

marcado por uma conjuntura econômica que trouxe riqueza para os proprietários

sertanejos e, em contrapartida, pobreza para o cenário das caatingas”.

Assim, dentre os recursos naturais mais atingidos, destaca-se a

vegetação que se apresenta como elemento sensível às condições e tendências da

paisagem de modo que reagem de forma explicita as rápidas variações.

Convém pontuar que a vegetação apresenta destaque por proteger o

ambiente semiárido que, de acordo com Duque (2004), ao longo do período chuvoso

a folhagem que brota e as serapilheira amenizam o impacto da chuva sobre o chão

proporcionando uma proteção a perda do solo por erosão e em época da estiagem

as folhas fenadas servem de comida para os animais e de adubação para o solo.

Desta forma, a remoção da cobertura vegetal acarreta perturbações

pontudas por Menezes, Bakke & Bakke (2009) como: diminuição nos teores de

matéria orgânica e de nutrientes do solo, diminuição da infiltração de água da chuva

e aumento da taxa de erosão que com a retirada de solo tende a expor chãos

pedregosos, matacões e ampliar áreas com afloramentos rochosos e ainda

assoreamento de corpos d’água e diminuição da biodiversidade dos

agroecossistemas.

133

Com a ocupação e a supressão das espécies vegetacionais, Souza

(2006) afirma que, criam-se condições de sucessão ecológica de modo que a

vegetação original é retirada e o ambiente passa a ser dominado por plantas

invasoras como a jurema-preta e algumas cactáceas (Figura 4).

Figura 4 - Baixo curso da Bacia Riacho do Sangue exibe vegetação cactácea,

jurema-preta e marmeleiro, indicando áreas de sucessão ecológica

Fonte: Elaborado pela autora.

Cabe pontuar que o termo sucessão ecológica é usado para analisar

processos de alteração na vegetação. De acordo com Miranda (2009), sucessão

ecológica é o processo que ocorre em etapas que são ordenadas por mudanças

graduais no ambiente que inicialmente estabelecem as primeiras espécies vegetais

até culminar no clímax (Figura 5).

Segundo Miranda (2009), as mudanças sucessórias classificam-se em

dois grupos, as primárias são aquelas que ocorrem em habitats recém-formados

(como dunas de areia, campos de lava, rochas erodidas ou geleiras recuadas) e as

secundárias que ocorrem em locais ocupados anteriormente de modo que após uma

perturbação o sistema tende a entrar em equilíbrio (como campos de agricultura

abandonados). Sendo esse último à configuração do contexto sucessório das

caatingas na área de estudo.

As etapas da sucessão ecológica, de acordo com PIÑARODRIGUES et

al. (1990 apud REIS, ZAMBONIM e NAKAZONO , 1999) acabam por exibir

condições especificas para que as espécies (vegetais/animais) se reestabeleçam em

134

determinada fase, de modo que vão desenvolvendo estratégias de adaptação e

reprodução para sobreviver dentro da sucessão.

135

Figura 5 - Esquema de sucessão ecológica das caatingas, baseado em Oliveira (2014)

Fonte: Elaborado pela autora.

136

(continua)

Tricart (1977) profere que as alterações no ambiente são baseadas na

capacidade de resistência dos ambientes em relação às modificações provocadas

pelo homem na busca pela exploração dos recursos naturais. Desse modo, quando

prevalecem a pedogênese os ambientes exibem a tendência ao equilíbrio dinâmico,

entretanto, quando existe a prevalência da morfogênese, verifica-se a ocorrência de

dois cenários, isto é, os desequilíbrios ocasionados, quando instaurados de modo

permanente, de acordo com Souza (2000), refletem aos panoramas desastrosos de

desertificação no contexto do semiárido. Já os desequilíbrios de modo temporário

acabam por propiciar ao ambiente um retorno ao estado de equilíbrio (resiliência).

Nesta perspectiva, Souza (2011) estabelece a correlação do estado atual

da conservação dos sistemas ambientais através da análise da desestabilização ou

derivação ambiental progressiva ou regressiva, chegando a delimitação de quatro

classes de estágios de conservação, ditos a saber: fitoestabilizados, derivados com

dinâmica progressiva, desestabilizados com dinâmica regressiva e os degradados.

Acerca desta análise Oliveira (2014) diz que:

Percebe-se que quando o ecossistema tende à conservação, tem-se uma dinâmica progressiva atuando sobre a qualidade e quantidade de vida. Em contrapartida, nos ambientes em que são desencadeados os processos erosivos, quando não existem intervenções para a recuperação ou adequações de manejo e usos, predominam a dinâmica regressiva (OLIVEIRA, 2014, p. 133).

Assim as classes de conservação da vegetação da bacia Riacho do

Sangue foram delineadas e apresentadas no Quadro xx.

Quadro 16 - Classes do estágio de conservação da bacia do Riacho do Sangue.

Adaptadas de Souza, Cruz e Vinces (2014) e Souza (2012)

Tipologias da conservação

ambiental Características

Feições representativas da

cobertura

Ambientes fitoestabilizados

Apresentam remanescentes de caatinga conservada e/ou de formações vegetais primárias após longo período de repouso. É possível observar uma maior diversidade de espécies onde estas apresentam estratos heterogêneos e dossel fechado.

Caatinga arbórea/ arbustiva densa

Ambientes derivados

Exibem alteração parcial e moderada dos componentes naturais dos sistemas ambientais. É possível observar o desenvolvimento de alguma atividade que acarreta perturbação na vegetação e em alguns casos a vegetação natural começa a restabelecer a apresentação de espécies.

Caatinga arbustiva aberta

Ambientes desestabilizados

Expõem alterações muito significativas, sendo mais sensíveis à presença dos vetores de pressão; apresentam nível muito

Pastagens e agricultura

137

Quadro 16 - Classes do estágio de conservação da bacia do Riacho do Sangue.

Adaptadas de Souza, Cruz e Vinces (2014) e Souza (2012) (conclusão)

baixo da qualidade ambiental. Apresentam uma vegetação que pode ser compreendida como capoeira ou pasto, porém este último exibe maior presença de vegetação. Em geral está associado a áreas onde foram desenvolvidas atividades causando alteração da vegetação natural, ou mesmo a ocorrência de degradação natural. Após o abandono destas áreas a vegetação natural começa a se restabelecer apresentando-se em vários estágios de crescimento, o que torna difícil estabelecer um padrão único de resposta espectral.

Ambientes degradados

Apresentam alterações significativas dos atributos dos componentes ambientais, de modo que os recursos paisagísticos estão comprometidos ou severamente comprometidos. É possível observar um padrão para a classe pasto com ausência de dossel e baixa diversidade de espécies. Também observa-se a baixa altura das espécies e influência do solo exposto na resposta.

Solo exposto/mineração/

pastagens com vegetação que

exibem a predominância de

gramíneas.

- Água Corpos hídricos.

Fonte: Elaborada pela autora.

Contudo, cada classe foi relacionada ao comportamento espectral típico

da feição representativa da cobertura na área de estudo que exibe as características

da tipologia da conservação. Convém expor que a análise espaço-temporal permitiu

construir os cenários relativos à conservação da vegetação na região da bacia do

Riacho do Sangue.

8.1 CONTEXTUALIZAÇÃO DAS ATIVIDADES ECONÔMICAS E A

CONSERVAÇÃO DA VEGETAÇÃO (2003 E 2014)

As atividades históricas que promoveram a colonização da região

nordeste acabaram por exercer pressão sobre os recursos naturais em especial na

cobertura vegetacional das caatingas, conforme Andrade (1973 p.183) “as grandes

distâncias e as dificuldades de comunicação fizeram com que aí se desenvolvesse

uma civilização que procurava retirar do próprio meio o máximo a fim de atender às

suas necessidades”.

Convém expor que os aspectos ambientais na bacia Riacho do Sangue

são marcados pela geologia com embasamento cristalino, ausência de relevo

acidentado, clima semiárido com chuvas concentradas no primeiro trimestre e um

vazio nas precipitações no restante do ano acabam por configurar redes de

drenagens, em sua maioria, intermitentes e periódicas e o recobrimento vegetal das

caatingas.

Nessas circunstâncias, segundo Ab’Saber (2003), o povo descobriu um

138

modo de utilizar o leito arenoso dos rios intermitentes que apresentavam água por

baixo das areias de seu leito seco, capaz de fornecer água para os mais diversos

fins. Assim é observado por Andrade (1973), que a rota de gado seguia a ribeiras

dos rios onde, posteriormente, foram fixados os currais e vilas.

Deste modo é possível formular a compreensão da substituição da

vegetação (das matas ciliares e das várzeas) existente nas proximidades dos rios

que serviam de auxilio as rotas do gado pela agricultura de subsistência. Além da

compreensão da ocorrência da vegetação da caatinga arbórea-arbustiva fechada

nas áreas mais próximas aos solos que possuem melhores condições para a

agricultura.

Assim, Lima (2013) pontua que:

A exploração dos recursos se deu pela apropriação das terras melhor providas de água, elemento de grande valor no clima semiárido. Assim, diversas áreas ocupadas pela vegetação primitiva foram sendo descaracterizados pela implantação da criação do gado, cultivos, extrativismo e pelas próprias sedes das fazendas (LIMA, 2013, p.70).

Outras modificações que podem ser elencadas fruto desse período diz

respeito às alterações decorrentes das primeiras atividades desenvolvidas que

suprimiam e/ou substituíam a vegetação das caatingas arbustiva/arbórea para abrir

caminhos para o gado, criação de pasto, associadas às queimadas e a retirada da

vegetação para diversos fins.

Logo, o processo de ocupação na região, desde a sua configuração

inicial, processa-se com retirada da vegetação sem levar em consideração a

capacidade de suporte do ambiente o que implicam em alterações iniciais no

padrão fisionômico da cobertura vegetacional oriundas das primeiras atividades.

Araújo, Lima e Mendonça (2011) relatam que as primeiras incursões de

colonização que ocorreram no bioma caatinga encontraram essa em equilíbrio

dinâmico em decorrência ao baixo grau de antropismo e de baixo impacto, que

ocorria em virtude das atividades realizadas pelos nativos. O autor pontua que o

principal sustentáculo para a colonização estava enraizada na exploração dos

recursos naturais de forma desordenada, ou seja, sem a consciência do manejo

adequado de modo a introduzir as técnicas incompatíveis com a capacidade do

ambiente e as espécies de outras regiões.

Até a primeira metade do século XVIII a pecuária extensiva e os

139

pequenos roçados eram tidos como a base econômica da região do Jaguaribe. Já a

partir da segunda metade do século XVIII é possível elencar a produção do algodão

como um novo produto que passa a ocupar um papel importante na economia

sertaneja por encontrar condições climáticas favoráveis trazendo uma redefinição a

organização da produção colonial.

Para Girão (2000) o algodão veio estabelecer, ao lado do boi, a mais

substancial fonte econômica da Capitania do Ceará o que o autor considera como o

ciclo agropecuário do Ceará que "invade a bacia do Jaguaribe, e seu principal

centro localizar-se-á no alto interior, Icó" (PRADO JÚNIOR, 1960, p. 83).

Cabe salientar que no quadro econômico da expansão do algodão nos

sertões do Ceará, de acordo com Andrade (1973), é explicada pela representação

de nova fonte de renda, pois a produção de algodão era realizada tanto pelo grande

como o pequeno proprietário assim como a cultura do algodão existia em

associação à pecuária extensiva e à agricultura de subsistência.

A cultura do algodão desenvolveu-se a partir da revolução industrial

inglesa (século XVIII) proferiu um impulso expansionista principalmente durante

Guerra da Secessão26 dos Estados Unidos (século XIX). Assim, o algodão no

nordeste continuou sendo o "ouro branco" até meados do século XX houve o

declínio na produção, como comenta Araújo (2013), o produtor nordestino não

acompanhou os avanços tecnológicos para a cotonicultura e em paralelo ocorreram

pragas que dizimaram plantações aliado a isso houve a expansão dos algodoais

paulistas afirmando o declínio da cultura no nordeste.

A cotonicultura imprimiu transformações consideráveis acerca destas

modificações Guerra, Souza e Lustosa (2012) dizem que a cultura do algodão

acabou por ocasionar modificações paisagísticas intensas nas caatingas no Vale do

Jaguaribe de modo que áreas ocupadas por atividades agropecuárias

apresentavam dificuldades para estabelecer o processo de sucessão ecológica.

De acordo com Ceará (2010) a período mínimo de repouso para

recuperação do solo e da vegetação (sucessão) das caatingas é estimada pelo

período de:

26

A utilização do algodão como matéria-prima na indústria têxtil na Europa e a Guerra da Secessão nos Estados Unidos, principal fornecedor de matéria-prima, estimulou a produção nas regiões tropicais, configurando o seu desenvolvimento no Brasil (ANDRADE, 2004)

140

Pouco mais ou menos 45 anos, com uma sequência sucessional de três anos para a dominância das herbáceas, 19 anos para os arbustos, mais uns 15 anos para um complexo arbustivo-arbóreo, quando, então se verifica a supremacia das árvores a qual se completa após cerca de 10 anos. de modo que a recuperação da área desmatada pode levar até mais de 50 anos (CEARÁ, 2010, p.52).

A partir do final da década de 1980 e inicio de 1990, Andrade e Lima

(2011) explanam que, o Ceará passa a exibir alterações no perfil produtivo e de

infraestrutura. Tem-se uma economia baseada na diversidade econômica,

buscando a correspondência da lógica desenvolvimentista da “integração nacional”

preconizada pelo planejamento regional que no Estado do Ceará foram

beneficiados pela Superintendência do Desenvolvimento do Nordeste (SUDENE),

porém a composição de ação modernizante possuía raízes em uma estrutura

conservadora (ANDRADE, 1993).

Chacon e Bursztyn (2005) afirmam que:

Há uma superação de antigos discursos; não se enfatiza mais o “combate à seca”, e mesmo a ideia de “convivência com a seca” se enfraquece diante de uma nova perspectiva: a construção das condições para viabilizar um projeto urbano-industrial que tira o Sertão de foco e desvia toda a atenção e recursos para garantir um novo cenário de progresso e crescimento econômico. A urbanização da capital do estado, transformada em metrópole, traduz a ideia de modernidade perseguida pelo governo. Essa postura traz graves consequências para o Sertão e para os sertanejos, que perdem importância no âmbito das ações governamentais, que concentram esforços nas medidas que garantiriam o fortalecimento de atividades eminentemente urbanas, como a indústria, o turismo e o comércio. As atividades agropecuárias e os recursos para o desenvolvimento rural são grandemente prejudicados nesse novo cenário (CHACON e BURSZTYN, 2005, p. 15, grifo do autor).

Para tanto, de acordo com Almeida (2012), os condicionantes ambientais

balizados pela severa semiaridez que ocorre em áreas do interior do estado do

Ceará que, por vezes, exibem um empobrecimento dos ecossistemas, pouco

predispõe a sediar um padrão de urbanização logo, as intervenções estatais deram

seguimentos de investimentos a uma rede urbana e industrial já originalmente

engendrada.

Assim, CHACON e BURSZTYN (2005, p.9) revelam que “para tentar

minimizar as consequências da exclusão em certos locais, sem, no entanto produzir

condições de transformação verdadeira e que são balizadas preferencialmente em

141

programas assistencialistas27 como os que proliferam no Sertão”.

Os setores econômicos da bacia Riacho do Sangue são configurados

com maior expressão pelas atividades e serviços realizados nas áreas urbanas.

Salienta-se que os municípios da pesquisa exibem um aumento gradativo da

população urbana, principalmente, dada a dinâmica econômica balizada nos

serviços e também pela busca de infraestrutura pública (escolas, hospitais dentre

outros). Observa-se o papel do Estado como a gente que atua no desenvolvimento

de políticas públicas, trazendo infraestrutura para a população.

A agropecuária é a segunda expressão econômica na bacia do Riacho

do Sangue, porém esta se faz presente em grandes áreas (tanto no contexto rural

como em algumas parcelas em áreas urbanas) de modo que acaba por acarretar o

processo de refração da vegetação.

Cabe destacar que economia da área de estudo ainda está sentada nos

produtos primários engendrados na pecuária e na agricultura, pois mesmo o setor

de serviços, configurado em grande parte pelos comércios na região, agem de

maneira integrada com as atividades agropecuárias, por comercializar esses.

Souza et al. (1998) afirma que, a configuração atual da vegetação das

caatingas é marcada por poucas áreas conservadas, essas apresentam as

condições próximas das originais da cobertura vegetal, entretanto, em decorrência

da atividades ligadas à exploração dos recursos naturais vinculadas principalmente

a agropecuária que se utiliza de técnicas muitas vezes inapropriadas com a

capacidade de suporte do ambiente de modo que “a tecnologia obsoleta, além de

retardar o desenvolvimento, contribui para acelerar ou reativar a degradação da

vegetação” (CEARÁ, 2010, p. 35).

Destarte, os problemas ambientais configurados na bacia Riacho do

Sangue pelo seu desenvolvimento econômico balizado na agricultura e na

pecuária, além dos desmatamentos, das queimadas, da agricultura de sequeiros,

do assoreamento de riachos, rios e açudes, da diminuição da biodiversidade, das

27

No que se refere à redução de pobreza rural, o Ceará adotou estratégias como o Programa de Reforma Agrária (Cédula da Terra), Projeto São José, Programa Nacional de Fortalecimento da Agricultura Familiar (Pronaf), o Programa Seguro Safra, Projeto de Práticas Agrícolas de Convivência com o Semiárido, Programa Biodiesel do Ceará, Projeto Mandalla Ceará, Programa de Apoio a Reformas Sociais para o Desenvolvimento de Crianças e Adolescentes do Estado do Ceara (Proares), Programa de Desenvolvimento Hidroambiental (Prodham), Programa de Gerenciamento Integrado dos Recursos Hídricos (Progerirh), Programa 1 Milhão de Cisternas (MENDONÇA et al, 2010, p 524).

142

perdas das produtividades do solo, do aumento de processos erosivos, e

ocorrência do processo de desertificação.

Observa-se assim, que o estágio de conservação da vegetação possui

estreita relação com as formas de uso que na área da bacia do Riacho do Sangue

são consequência do contexto histórico econômico da região. Por sua vez, as

práticas atuais estão sentadas na agropecuária que, por vezes, apresentam

inadequadas técnicas de exploração dos recursos naturais existentes.

Nesta conjectura o mapa 12 apresenta os valores relativos espacialização

do estado de conservação da cobertura vegetal referente ao ano de 2003 pelo qual

se observa que a classe de maior representatividade (Quadro 17) é a dos ambientes

desestabilizados com 1.478 km² configurando cerca de 60% da área total da bacia.

Esta classe encontra-se distribuída por toda a bacia, porém no baixo curso é

possível observar a preponderância dos ambientes degradados.

A classe referente a ambientes degradados (Quadro 18 - Figura a, b, c e

d) possui a segunda maior representatividade no contexto geral da bacia no ano de

2003, onde se verifica um total de 740 km² da área total da pesquisa e conforme já

mencionado exibe maior representatividade no baixo curso da bacia. A classe dos

ambientes derivados possuem 196 km² e a classe dos ambientes fitoestabilizados

apresenta 6 km², convém pontuar que ambas estão localizadas preferencialmente

próximas a corpos hídricos onde as condições de oferta hídrica são satisfatórias

dada a exigência das plantas. A classe referente a água possui representatividade

de 43 km².

Quadro 17 - Cenário da conservação da vegetação da bacia Riacho do Sangue

para 2003

SAVI 2003

Tipologias da conservação ambiental Área (km²) Porcentagem (%)

Ambientes fitoestabilizados 6 0,24

Ambientes derivados 196 7,96

Ambientes desestabilizados 1478 60,01

Ambientes degradados 740 30,04

Água 43 1,75 Fonte: Elaborado pela autora.

Os valores relativos ao percentual de cobertura vegetal referente ao ano

de 2014 no contexto geral da área estão apresentados no Quadro 18 e Mapa 12 de

modo que pode ser observado que a classe de maior representatividade refere-se

143

aos ambientes degradados com 1.301 km², enquanto, as classes referentes aos

ambientes desestabilizados possuem a representação de 1.065 km² de modo que as

duas dizem respeito a 96,06% da área da bacia.

Quadro 18 - Ambientes degradados

Figura a: Pastagens de animais (Cabras) próximos a estrada, vegetação herbácea localizadas no baixo curso da Bacia Riacho do Sangue.

Figura b: Área usada para pastagens de animais (vacas) predomínio de espécies herbáceas no médio curso da Bacia Riacho do Sangue.

Figura c: Área degradada apresentando aforamento rochoso no baixo curso da Bacia Riacho do Sangue (Jaguaretama).

Figura d: Em primeiro plano, solo exposto com chão pedregoso. Em segundo plano, presença de pequenos arbustos (Jaguaretama) da Bacia Riacho do Sangue.

Fonte: Elaborado pela autora.

Observa-se (Gráfico 22) que houve um aumento significativo de áreas

referentes a ambientes degradados (Quadro 18), tal configuração está atrelada a

perspectiva dos intemperes climáticos que neste ano se materializou como um ano

seco o que intensificou a perda da resiliência das pastagens, que uma vez

144

desestabilizadas e ainda contato com a exploração de recursos naturais acima de

sua capacidade de suporte faz com que áreas antes tidas como desestabilizadas

fossem configuradas bruscamente como degradadas.

A classe dos ambientes derivados (Quadro 19- Figura a e b) possui 47

km² e a classe dos ambientes fitoestabilizados (Quadro 20 - Figura a e b)

apresentam uma área de 3 km², convém aqui pontuar que ambas perderam

significativas áreas (Gráfico 22), observa-se que de 2003 a 2014 foram anos que

paulatinamente houve supressão das caatingas de maior porte o que levou ao

processo degradação.

Quadro 19 - Aspecto da conservação em ambientes derivados

Figura a: Área em processo de sucessão ecológica da vegetação.

Figura b: Vegetação de caatingas arbustivas-arbóreas intercaladas com solo exposto.

Fonte: Elaborado pela autora.

Quadro 20 - Ambientes fitoestabilizados

Figura xx: Área em processo de sucessão ecológica da vegetação apresentando vários estratos

Figura xx: Vegetação de caatingas arbustivas-arbóreas nas regiões mais elevadas.

Fonte: Elaborado pela autora.

145

A representatividade e espacialização da água (Quadro 21 - Figura a e b)

apresentou um aumento de 43 km², ou seja, passa a exibir uma área de 47 km².

Chacon e Bursztyn (2005, p.18) afirmam que, “os habitantes do Sertão

inevitavelmente se organizam em função da água, ou da falta dela”. Assim, esta

estrutura é compreendida pela política de açudagem desenvolvida para a região do

sertão que visa como reservas hídricas para períodos de escassez.

Quadro 21 - Representante da água

Figura a: Corpo d'água (açude Castanhão) eutrofizado com ausência da mata ciliar.

Figura b: Corpo d'água com vegetação do entorno degradada poximo ao perímetro urbano de Dep. Irapuan Cavalcante Pinheiro.

Fonte: Elaborado pela autora 2015.

Quadro 22 - Cenário da conservação da vegetação da bacia Riacho do Sangue

para 2014

SAVI 2014

Tipologias da conservação ambiental Área (km²) Porcentagem (%)

Ambientes fitoestabilizados 3 0,12

Ambientes derivados 47 1,91

Ambientes desestabilizados 1.065 43,24

Ambientes degradados 1.301 52,82

Água 47 1,91

Fonte: Elaborado pela autora.

146

Gráfico 22- Representação, em quilômetros, das classes de conservação da

vegetação na bacia Riacho do Sangue nos anos de 2003 e 2014

Fonte: Elaborado pela autora.

6

196

1478

740

13 3 47

1065

1301

23

Ambientesfitoestabilizados

Ambientesderivados

Ambientesdesestabilizados

Ambientesdegradados

Água

Série1

Série2

2003

2014

147

Mapa 12 - Conservação da vegetação 2003

Fonte: Elaborado pela autora.

148

Mapa 13 - Conservação da vegetação 2014Erro! Indicador não definido.

Fonte: Elaborado pela autora.

149

9 CONCLUSÃO

Para o embasamento da pesquisa o referencial teórico e os

procedimentos operacionais escolhidos foram suficientes para a compreensão e

desenvolvimento dos objetivos propostos. Destaca-se o papel da ciência geográfica

na perspectiva da análise da complexa relação sociedade natureza, mais

especificamente, no contexto da pesquisa foram vinculadas a temática que abrange

a perspectiva de conservação e recursos naturais com autores e teorias de grande

significação, além da importância do trabalho de campo realizado e a produção

cartográfica, de geoprocessamento e sensoriamento remoto.

No universo da pesquisa, vale pontuar seis particularidades importantes

encontradas na área de estudo: a primeira diz respeito ao estado de conservação

que representam uma etapa importante para a compreensão da dinâmica espacial

inerente a supressão ou resistência da cobertura vegetal das caatingas na área da

pesquisa. Já a segunda revela que as alterações no uso e cobertura da terra na

bacia Riacho do Sangue, de 2003 a 2014, indicou que tem ocorrido um processo

gradativo de expansão das fronteiras agropecuárias e urbanas comprometem assim

os remanescentes de vegetação. A terceira refere-se ao estado da conservação da

vegetação que no período de 2003 a 2014 apresentou alterações consideráveis

onde é possível observar aumento significativo de ambientes degradados

consequência do aumento da intensidade do uso das terras

A quarta diz respeito à perspectiva temporal da conservação por meio de

SAVI, a análise deve ser vista também a partir das peculiaridades da região

intrínsecas o predicativo biofísico (perca das folhas da vegetação da caatinga como

uma adaptação as condições ambientais). Assim acreditasse que a análise temporal

não deva apenas ser compreendida na perspectiva anual, o estudo das condições

mensais também devem ser trabalhas as vistas de fomentar melhor compreensão da

realidade.

Na quinta é pontuado que as técnicas de Sensoriamento Remoto

aplicadas para a obtenção dos mapas de SAVI se mostraram eficientes para a

escala de estudo, porém, o tempo e trabalho de processamento foram consideráveis

em virtude da extensão da área da pesquisa assim como a fragmentação e mistura

das classes o que acarretou determinado grau de confusão no processo de

fatiamento/classificação. Sugere-se que em pesquisas futuras sejam utilizadas

150

imagens de satélite com melhor resolução espacial ou um número maior de

amostragens de campo, no intuito de melhor diferenciar e quantificar as classes.

A sexta diz respeito à necessidade que o estudo seja continuado e

aprofundado na perspectiva fitossociológica para que seja examinado a análise da

conservação, pois o conhecimento florístico qualitativo e quantitativo, o qual a

análise dita permite, possibilita melhor manejo assim como oferece suporte a

recuperação de áreas degradadas.

Contudo, destaca-se que as questões relacionadas à conservação da vegetação

apresenta-se como processo complexo e contínuo que deve ser analisado pelo viés

sistêmico de análise da paisagem, espaço temporal, quantitativo e qualitativo assim como

deve-se considerar os processos históricos. Deste modo o estudo dos aspectos ligados à

conservação da vegetação podem ser aplicados em outras áreas do Estado do Ceará,

visando à qualidade ambiental da região semiárida.

151

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159

APÊNDICES

160

APÊNDICE A – Culturas Temporárias, Permanentes e Criação.

Culturas temporárias

Gráfico xx: Algodão herbáceo (em caroço) - Área colhida (toneladas)

Fonte: IBGE/IPECE 2015.

Gráfico xx: Arroz - quantidade produzida (Toneladas)

Fonte: IBGE/IPECE 2015.

Gráfico xx: Batata-doce - quantidade produzida (tonelada)

Fonte: IBGE/IPECE 2015.

Gráfico xx: Cana-de-açúcar - Quantidade produzida (toneladas)

Fonte: IBGE/IPECE 2015.

Gráfico xx: Feijão (em grão) - Quantidade produzida (tonelada)

Fonte: IBGE/IPECE 2015.

Gráfico xx: Mamona (baga) - Quantidade produzida (tonelada)

Fonte: IBGE/IPECE 2015.

Gráfico xx: Mandioca - Quantidade produzida (tonelada)

Fonte: IBGE/IPECE 2015.

Gráfico xx: Milho (em grão) - Quantidade produzida (tonelada)

Fonte: IBGE/IPECE 2015.

0

200

400

600

2003 2004 2005 2006 2007 2008 2009 2010 2011 2012 2013 2014

Jaguaretama Solonopole Dep Irapuam Pinheiro Milha

0

500

1000

1500

2004 2005 2006 2007 2008 2009 2010 2011 2012 2013 2014

Jaguaretama Solonopole Dep Irapuam Pinheiro Milha

0

5

10

15

2003 2004 2005 2006 2007 2008 2009 2010 2011 2012 2013 2014Jaguaretama Solonopole Dep Irapuam Pinheiro Milha

0

200

400

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2003 2004 2005 2006 2007 2008 2009 2010 2011 2012 2013 2014

Jaguaretama Solonopole Dep Irapuam Pinheiro Milha

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2000

4000

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2003 2004 2005 2006 2007 2008 2009 2010 2011 2012 2013 2014

Jaguaretama Solonopole Dep Irapuam Pinheiro Milha

0

200

2003 2004 2005 2006 2007 2008 2009 2010 2011 2012 2013 2014

Jaguaretama Solonopole Dep Irapuam Pinheiro Milha

0

50

100

150

200

2003 2004 2005 2006 2007 2008 2009 2010 2011 2012 2013 2014

Jaguaretama Produção Solonopole

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2003 2004 2005 2006 2007 2008 2009 2010 2011 2012 2013 2014

aguaretama Solonopole Dep Irapuam Pinheiro Milha

161

Culturas Permanentes

Gráfico xx: Banana (cacho) - Quantidade produzida toneladas

Fonte: IBGE/IPECE 2015.

Gráfico xx: Castanha de caju - Quantidade produzida toneladas

Fonte: IBGE/IPECE 2015.

Gráfico xx: Laranja - Quantidade produzida toneladas

Fonte: IBGE/IPECE 2015.

Gráfico xx: Manga - Quantidade produzida toneladas

Fonte: IBGE/IPECE 2015.

Gráfico xx: Coco-da-baía - Quantidade produzida mil frutos

Fonte: IBGE/IPECE 2015.

0

100

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2003 2004 2005 2006 2007 2008 2009 2010 2011 2012 2013 2014

Jaguaretama Solonopole Dep Irapuam Pinheiro Milha

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Jaguaretama Solonopole Dep Irapuam Pinheiro Milha

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2003 2004 2005 2006 2007 2008 2009 2010 2011 2012 2013 2014

Jaguaretama Solonopole Dep Irapuam Pinheiro Milha

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2003 2004 2005 2006 2007 2008 2009 2010 2011 2012 2013 2014

Jaguaretama Solonopole Dep Irapuam Pinheiro Produção Milha

0

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2003 2004 2005 2006 2007 2008 2009 2010 2011 2012 2013 2014

Jaguaretama Solonopole Dep Irapuam Pinheiro Milha

162

Criação

Gráfico xx: Asininos - efetivo dos rebanhos (cabeças)

Fonte: IBGE/IPECE 2015.

Gráfico xx: Bovino - efetivo dos rebanhos (cabeças)

Fonte: IBGE/IPECE 2015.

Gráfico xx: Equino - efetivo dos rebanhos (cabeças)

Fonte: IBGE/IPECE 2015.

Gráfico xx: Galináceos - galinhas - efetivo dos rebanhos (cabeças)

Fonte: IBGE/IPECE 2015.

Gráfico xx: Ovino - efetivo dos rebanhos (cabeças)

Fonte: IBGE/IPECE 2015.

Gráfico xx: Suíno - total - efetivo dos rebanhos (cabeças)

Fonte: IBGE/IPECE 2015.

Gráfico xx: Vacas ordenhadas - quantidade (cabeças)

Fonte: IBGE/IPECE 2015.

Gráfico xx: Ovos de galinha - produção - quantidade (mil duzias)

Fonte: IBGE/IPECE 2015.

Gráfico xx: Leite de vaca - produção - quantidade (mil litros)

Fonte: IBGE/IPECE 2015.

0

2000

4000

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Jaguaretama Solonopole Dep Irapuam Pinheiro Milha

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2003 2004 2005 2006 2007 2008 2009 2010 2011 2012 2013 2014

Jaguaretama Solonopole Dep Irapuam Pinheiro Milha

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Jaguaretama Solonopole Dep Irapuam Pinheiro Milha

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Jaguaretama Solonopole Dep Irapuam Pinheiro Milha

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20000

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2003 2004 2005 2006 2007 2008 2009 2010 2011 2012 2013 2014

Jaguaretama Solonopole Dep Irapuam Pinheiro Milha

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Jaguaretama Solonopole Dep Irapuam Pinheiro Milha

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Jaguaretama Solonopole Dep Irapuam Pinheiro Milha

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Jaguaretama Solonopole Dep Irapuam Pinheiro Milha

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Jaguaretama Solonopole Mil Litros Dep Irapuam Pinheiro Milha