Universidade Estadual de Campinas CS405 - Educação e ... · CS405 - Educação e Tecnologia Prof....

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1 Universidade Estadual de Campinas CS405 - Educação e Tecnologia Prof. Dr. José Armando Valente Projeto 4 MATERIAL COMPLEMENTAR PARA CURSO DE FORMAÇÃO DE CONDUTORES Fernanda Sayuri Gutiyama Guilherme Bueno Pereira Vanessa de Oliveira Gomes 1. Introdução Segundo a Lei 9.503 de 23/09/97 do Código de Trânsito Brasileiro (BRASIL, 2000), “todo condutor tem a obrigação de conhecer e cumprir a legislação de trânsito, e estará sujeito a multas penalidades sempre que transgredi-las”. Por esse motivo, como constituintes do procedimento obrigatório para se adquirir uma habilitação ou permissão para dirigir, existem um curso e um exame teóricos, ministrados nos Centros de Formação de Condutores A (CFC-A), precedente às aulas e exames aos práticos (CFC-B). A polarização dicotômica entre teoria e prática, no entanto, desagregam a unidade do conteúdo, produzindo, por consequência, uma série de dificuldades ao aprendiz. Ou seja, o curso teórico, cujas funções metodológicas deveriam compreendem a preparação para que se inicie o contato prático, objetivo primário de todo o procedimento, acaba por ser assimilado como mero cumprimento de formalidade legal obrigatória, visto que são raras as relações sensíveis entre o conteúdo aprendido nas salas de aula as situações com as quais o aluno se depara nas aulas práticas ou deve enfrentar no exame em sequência. Nesse instante, diagnosticamos com base em experiências próprias: há uma noção consensual entre os autores da existência de um vasto número de incoerências que se impuseram como impasses no momento em que cursamos o CFC-A. Somada à ausência de uma estruturada conexão entre ambos os módulos, deve-se destacar o caráter do conteúdo. Trata-se de uma excessiva quantidade de informação, constituída, sobretudo, por associações entre siglas, números, símbolos, procedimentos, ações e reações. Como resultado, as aulas são puramente expositivas, ocasionando profundo enfado no decorrer das atuais 60 horas presenciais legalmente exigidas. O processo de avaliação teórica, o qual desencadeia ao aluno a continuidade do procedimento, embora coerentemente reflita o conteúdo tratado pelo curso, centraliza-se, como consequência, em processos de memorização e reprodução, muitas vezes exigindo do examinado pouca consciência das implicações decorrentes das suas respostas. Em síntese, numerosas reformas são tidas como necessárias em todo o complexo sistema de habilitação de condutores, conforme comumente aponta também o senso comum. O papel da experiência concreta para aprendizagem, embora insubstituível em qualquer caso, encontra-se superestimado, sobretudo tendo em vista da importância do procedimento e do conteúdo, dado que se trata de uma atividade socialmente suportada cujo êxito deve conceitualmente consistir na sinergia entre seus praticantes. No entanto, cabe a esse projeto simplesmente estabelecer uma proposta que, primeiramente, consista na alteração dos mecanismos relativos, sobretudo, aos aspectos comunicacionais da transmissão do conteúdo programado para o curso teórico – e que, portanto, desconsidere, em primeira instância, a validade e eficiência do processo em sua totalidade e outras questões relacionadas – e que, por consequência, implique em uma

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Universidade Estadual de Campinas CS405 - Educação e Tecnologia Prof. Dr. José Armando Valente Projeto 4 MATERIAL COMPLEMENTAR PARA CURSO DE FORMAÇÃO DE CONDUTORES

Fernanda Sayuri Gutiyama Guilherme Bueno Pereira

Vanessa de Oliveira Gomes

1. Introdução Segundo a Lei 9.503 de 23/09/97 do Código de Trânsito Brasileiro (BRASIL, 2000), “todo condutor tem a obrigação de conhecer e cumprir a legislação de trânsito, e estará sujeito a multas penalidades sempre que transgredi-las”. Por esse motivo, como constituintes do procedimento obrigatório para se adquirir uma habilitação ou permissão para dirigir, existem um curso e um exame teóricos, ministrados nos Centros de Formação de Condutores A (CFC-A), precedente às aulas e exames aos práticos (CFC-B). A polarização dicotômica entre teoria e prática, no entanto, desagregam a unidade do conteúdo, produzindo, por consequência, uma série de dificuldades ao aprendiz. Ou seja, o curso teórico, cujas funções metodológicas deveriam compreendem a preparação para que se inicie o contato prático, objetivo primário de todo o procedimento, acaba por ser assimilado como mero cumprimento de formalidade legal obrigatória, visto que são raras as relações sensíveis entre o conteúdo aprendido nas salas de aula as situações com as quais o aluno se depara nas aulas práticas ou deve enfrentar no exame em sequência. Nesse instante, diagnosticamos com base em experiências próprias: há uma noção consensual entre os autores da existência de um vasto número de incoerências que se impuseram como impasses no momento em que cursamos o CFC-A. Somada à ausência de uma estruturada conexão entre ambos os módulos, deve-se destacar o caráter do conteúdo. Trata-se de uma excessiva quantidade de informação, constituída, sobretudo, por associações entre siglas, números, símbolos, procedimentos, ações e reações. Como resultado, as aulas são puramente expositivas, ocasionando profundo enfado no decorrer das atuais 60 horas presenciais legalmente exigidas. O processo de avaliação teórica, o qual desencadeia ao aluno a continuidade do procedimento, embora coerentemente reflita o conteúdo tratado pelo curso, centraliza-se, como consequência, em processos de memorização e reprodução, muitas vezes exigindo do examinado pouca consciência das implicações decorrentes das suas respostas. Em síntese, numerosas reformas são tidas como necessárias em todo o complexo sistema de habilitação de condutores, conforme comumente aponta também o senso comum. O papel da experiência concreta para aprendizagem, embora insubstituível em qualquer caso, encontra-se superestimado, sobretudo tendo em vista da importância do procedimento e do conteúdo, dado que se trata de uma atividade socialmente suportada cujo êxito deve conceitualmente consistir na sinergia entre seus praticantes. No entanto, cabe a esse projeto simplesmente estabelecer uma proposta que, primeiramente, consista na alteração dos mecanismos relativos, sobretudo, aos aspectos comunicacionais da transmissão do conteúdo programado para o curso teórico – e que, portanto, desconsidere, em primeira instância, a validade e eficiência do processo em sua totalidade e outras questões relacionadas – e que, por consequência, implique em uma

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menor quantidade de esforços para ser aplicada – ou seja, que resulte em alterações metodológicas dentro das salas de aula, resultantes, portanto, da opção individual de cada Centro Formador de Condutores por adotá-las, não implicando, por conseguinte, em quaisquer reformas legais ou ligadas a outras instâncias políticas. Sendo assim, encontra-se aqui conceitualmente planejada uma plataforma digital que pretende ser acessível aos professores e alunos, no interior ou não das salas de aula. Esta deve assumir o objetivo de facilitar a aprendizagem, ao passo que rompe com a centralidade no material impresso, fornecendo possibilidades de interação acompanhada que permitam a simulação de situações concretas e, dessa forma, suavize os impactos negativos provenientes do alto fluxo informacional. Ressalta-se, por fim, o enquadramento e a compreensão do projeto apenas como uma primeira iniciativa no intuito de adequação do processo de permissão para dirigir a um contexto onde novas mídias figuram como possibilidades. Como consequência, prevê-se uma vasta série de possíveis aplicações subsequentes, dentre as quais é possível especular até mesmo a criação de uma plataforma totalmente on-line para o módulo teórico, eliminando as inconveniências provenientes da atividade presencial e engendrando, como efeito, progressos na dimensão da acessibilidade geográfica. Enfim, trata-se apenas de uma proposta a ser discutida em meio a um vasto espectro de possibilidades latentes. 2. Descrição

2.1 Conteúdo

Tratando-se meramente da proposta inicial que tem como consequência paralela desencadear a discussão de outras aplicações, primeiramente será efetuado o enfoque na criação de novas formas de se elaborar e transmitir os conteúdos de mais dificultosa compreensão através de meios impressos. Tem-se como exemplo o seguinte fragmento (Figura 1), extraído do material impresso, que trata da definição de veículo preferencial de acordo com cada situação existente (BRUNS, 2009):

Figura 1 – Trecho extraído de material impresso para CFC-A

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Como se pode notar, há uma vasta quantidade de texto que especifica como proceder em diversas ocasiões. No entanto, o que pode ser compreendido como um primeiro empecilho à aprendizagem, a disposição sequencial de uma grande quantidade de informação, onde se alteram, sobretudo, as associações, mas não os elementos que a constituem, produz, invariavelmente, diminuição de interesse e de atenção ao leitor. Da mesma forma uma única imagem onde não se encontra especificado qual o caso demonstrado pouco contribui para um melhor entendimento, mesmo às pessoas em cujas preferências de aprendizagem figura a facilidade em se relacionar com o imagético. Concedendo a possibilidade da interatividade – que, mesmo mecânica, pode ser capaz de retirar o usuário da condição passiva de espectador, quando utilizada com eficiência – e utilizando com mais coerência os elementos gráficos, poder-se-ia alcançar resultados estruturalmente representados a seguir (Figura 2):

Figura 2 – Exemplo de representação estrutural do conteúdo inserido na plataforma

2.2 População-alvo

Destina-se, em primeira instância, a todos os envolvidos com o CFC-A, compreendendo, portanto, (1) professores, aos quais caberá introduzir este material na didática de suas aulas, valendo-se das facilidades e dos benefícios decorrentes de seu uso; (2) alunos, os quais atuarão com a intenção de aprendizagem, interagindo com a plataforma em momentos e ocasiões variados. Trata-se de um grupo constituído por homens e mulheres que obrigatoriamente possuem 18 anos ou mais e buscam, conforme legislação vigente, adquirir a primeira permissão para dirigir,renovar a Carteira Nacional de Habilitação (CNH) ou obter licença para condução de ciclomotores. Em segunda instância, como efeito da publicação on-line e disponibilidade integral, pode se destinar a qualquer pessoa que possua meios de acessar a Internet, havendo interesse principalmente por parte

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daqueles que se preparam para exames teóricos ou queiram solucionar determinadas dúvidas acerca do tópico.

2.3 Local de uso O software deverá ser utilizado nas aulas no Centro de Formação de Condutores,

juntamente com a supervisão do mediador. Também deverá ser utilizado para realização de exercícios e fixação de conteúdo pelos aprendizes em suas residências. Pela possibilidade criada com a hospedagem do software em um Website, os aprendizes podem ter acesso à ele em diversos lugares com a única objeção de possuir um computador conectado à internet.

2.4 Tecnologia utilizada O protótipo será realizado através do programa Flash e será hospedado em um

Website para o acesso dos aprendizes do Centro de Formação de Condutores através do mediador. O software servirá como complemento ao curso ministrado no Centro de Formação de Condutores, juntamente com o apoio do mediador e das apostilas.

Terminada a aula com o mediador, os aprendizes acessarão o software que fornecerá uma série de exercícios com situações-problema, nas quais o aprendiz terá que indicar o modo correto de agir, de acordo com o conteúdo aprendido na aula e com as apostilas do curso. Se com sua escolha o aprendiz agiu corretamente, ele verá uma animação explicando o porquê do acerto e dicas para a prática de condução. Porém, se o aprendiz respondeu erroneamente ele acessará uma animação que indicará que a resposta está errada e terá a possibilidade de responder novamente. No final, aparecerá uma tela que mostrará os resultados e situações-problema que devem ser melhor estudadas.

Dessa forma, o software cumprirá o objetivo de explicitar conteúdos que não tiveram total assimilação pelos aprendizes durante as aulas ou leitura das apostilas.

2.5 Papéis do mediador e do material de apoio O mediador cumpre o papel de ministrar as aulas expositivas presencialmente, como são ministradas de forma tradicional atualmente. As aulas consistem assim em exposição discursiva expositiva, com a utilização do software educativo como auxílio visual e para tornar as aulas mais dinâmicas e interativas. Como o software se encontrará disponível na internet, o mediador também cumprirá o papel de auxiliar e ensinar os usuários a utilizá-lo, fornecendo instruções e orientação não só técnica, mas também em relação ao conteúdo do software, num primeiro momento de implantação do software.

Na segunda etapa de desenvolvimento do software, o qual este fornecerá um relatório de desempenho do aluno ao mediador frente às respostas dadas - os números de acertos e erros, em quais pontos o aluno possui mais dificuldade, quais as áreas mais acessadas do site -, o mediador cumprirá o papel adicional de enviar feedback em relação ao desempenho, e apontar soluções para que o aluno perceba onde estão suas falhas e assim conseguir resolvê-las.

Os materiais de apoio, as apostilas teóricas, serão instrumentos educacionais essenciais para o estudo dos alunos, por conter a parte teórica das informações transmitidas, que são cobradas na avaliação teórica para conseguir o documento de Habilitação - que na verdade constitui-se de uma avaliação muito falha, já que sendo de múltipla escolha, o aluno simplesmente decora as respostas, já que as perguntas de questionários de exercícios são os mesmos.

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Dessa forma, o software vem a instituir um aprendizado de verdade no aluno, pois como se constituem da união teórica com a prática, facilita o processo intuitivo e observacional do aluno, o que auxilia a aprendizagem, ainda mais se tratando de educação de trânsito. Ou seja, apesar de as apostilas tornarem-se pouco úteis para ilustração e exemplificações de situações relacionadas ao conteúdo, elas continuarão a ser bases da construção de conhecimento no viés teórico, apesar de muitas vezes entediantes e abstratas; facilitam a consulta de informações e seu baixo teor cognitivo induz a curiosidade dos alunos, e estes deverão buscar o mediador para sanar as dúvidas, que poderá ser realizada através do uso do software educativo, tanto pelo mediador, como também pelo usuário via online (por onde também terá a possibilidade de ser auxiliado pelo mediador).

2.6 Como o aprendiz constrói o conhecimento Por meio das aulas discursivas expositivas, o aluno entra em contato com as

informações com o auxílio do material de apoio, predominantemente de forma unidirecional e assim com baixa eficiência real de aprendizado. Como o ensino de trânsito é pautado por situações cotidianas e de observação, denota-se a necessidade de exemplos para aumentar o nível de cognição do aprendiz, e é onde o software de aprendizagem se encaixará: aproximar o aluno das situações cotidianas do trânsito para tornar claro as situações tanto técnicas como de regulamentação do trânsito. Tal aprendizado não exige somente conhecimento teórico, mas também prático e intuitivo, pois no sistema de trânsito está envolvimento um sistema legislativo, a ciência da física, relações humanas e psicológicas, e devemos tomar atitudes rápidas, muitas vezes bruscas para evitar acidentes.

Como visto, o software viria a cumprir o papel importantíssimo de unir o estudo teórico com a prática, fornecendo informações bastante úteis para os novos condutores. O conhecimento seria adquirido através da visualização das situações e escolha de procedimento correto através do fornecimento múltiplo de ações, ao qual cada uma levará algum tipo de conseqüência. Escolhida a ação, a conseqüência é demonstrada, inserindo assim a interatividade e se aproximando da prática. Logo a seguir, a opção certa é apontada junto da explicação do porquê ela é a correta.

A construção do conhecimento se dá então em espiral positiva, unindo todos os processos possíveis próximos da prática em si, preparando o aluno tanto teórica como objetiva.

O envio do relatório de progresso do aluno, possibilita o mediador agir diretamente sobre o aluno, apontando-lhe soluções e fornecendo-lhe informações, num processo multilateral, diferente de uma simples exposição de aula, o que garante maior apreensão de conhecimentos, inseridos com dinamicidade. Assim, o condutor aprendiz é estimulado a denotar onde falha e buscar soluções, futuramente postas em prática no seu cotidiano.

De modo geral, o aprendiz construirá seu conhecimento através da teoria, da interatividade, de resposta-estímulo, de materiais audiovisuais multimidiáticos, todos unidos para aproximar, constituir e facilitar a prática, através da plataforma online e interativa. Seguindo a ideologia de Piaget, em que o mecanismo de adaptação do organismo a uma situação nova e, como tal, implica a construção contínua de novas estruturas, tal como pretendemos desenvolver o software educativo, fornecendo intelectualmente exercícios e estímulos pelo meio que os cercam. O que vale também dizer que a inteligência humana pode ser exercitada, buscando um aperfeiçoamento de potencialidades, em que o professor cumpre o papel de ajudar a construção conhecimento do aluno, não ensinar (LIMA, 1980).

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2.7 Mecanismos de certificação de aprendizagem

Para nos certificarmos que o aprendiz construiu conhecimento sobre o conteúdo previsto existirá uma série de exercícios a ser cumpridos para a aula seguinte. O mediador terá acesso ao uma ferramenta privada do software que lhe dará a possibilidade de verificar os alunos que acessaram o Website, quantas vezes acessaram e a quantidade de exercícios resolvida corretamente. Assim, o mediador terá um panorama do entendimento e da dificuldade dos aprendizes, podendo retomar pontos e explicitá-los de uma forma diferente.

Através das aulas práticas de condução será possível avaliar de modo eficiente o conhecimento do aprendiz sobre o assunto. Assim, através da utilização do software e da posterior avaliação de seus conhecimentos feita pelo mediador, o aprendiz possuirá uma formação satisfatória como condutor. 3. Pontos Positivos

Com o software idealizado nesse projeto pretendemos deixar as aulas de CFC mais dinâmicas e interessantes, além de explicitar conceitos que não são assimilados de forma clara somente pela leitura da apostila fornecida pelo Centro de Formação de fixariam, de forma eficiente, os conceitos dados na aula. 4. Pontos Negativos

Para cumprimento dos objetivos do projeto será necessário possuir conhecimento básico em informática e, também, possuir pelo menos um computador conectado à internet, visto que o mesmo estará disponível em um Website. 5. Referências

BRASIL. Ministério da Justiça. Código de Trânsito Brasileiro. DETRAN, Brasília, 2000.

BRUNS, C. B. Curso de Formação de Condutores para a Obtenção da Permissão para Dirigir e da Autorização para Conduzir Ciclomotores. Curitiba: Tecnodata, 2009. 160p.

LIMA, L. O. Piaget para principiantes. 2. ed. São Paulo: Summus, 1980. 284p.