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UNIVERSIDADE DO VALE DO ITAJAÍ
CENTRO DE CIÊNCIAS DA SAÚDE
CURSO DE ODONTOLOGIA
ROSIANE APARECIDA DE LIZ SPERB
RELAÇÃO ENTRE OTALGIA E
OCLUSÃO DENTÁRIA: ESTUDO CLÍNICO COM PACIENTES DA
CLÍNICA DE OCLUSÃO DO CURSO DE ODONTOLOGIA DA UNIVA LI
Itajaí, (SC) 2006
ROSIANE APARECIDA DE LIZ SPERB
RELAÇÃO ENTRE OTALGIA E
OCLUSÃO DENTÁRIA: ESTUDO CLÍNICO COM PACIENTES DA
CLÍNICA DE OCLUSÃO DO CURSO DE ODONTOLOGIA DA UNIVA LI
Trabalho de Conclusão de Curso apresentado como requisito parcial para obtenção do título de cirurgião-dentista do Curso de Odontologia da Universidade do Vale do Itajaí.
Orientador: Prof. Casimiro M. Martins Filho
Itajaí, (SC) 2006
AGRADECIMENTOS
Primeiramente quero agradecer a vida por tantas oportunidades recebidas, e
por ter energia e coragem para não deixá-las escapar; ao Rafa, por me incentivar a
persegui-las; ao Arthur por torná-las mais leves, e a quem mais estiver vindo para
complementar nossos dias.
Aos meus pais, pelo seu exemplo e sua presença nos momentos necessários;
aos meus irmãos, sogros, cunhados e amigos que, cada qual a sua maneira, se
fizeram presentes.
Agradeço em especial ao professor Casimiro Manuel Martins Filho que aceitou
prontamente me orientar no trabalho de conclusão de curso. A professora Elisabete
Rabaldo Bottan pelo apoio e amizade que abriram novas portas em minha vida. Ao
professor Roberto Rogério Molleri, por suas constantes contribuições.
Agradeço ao professor Emerson Sgrott e Fabiano Lemke por terem feito parte da
banca, cuja as contribuições foram valiosas.
A todos os professores que contribuíram com minha formação nesta etapa de
vida; aos funcionários do curso de Odontologia, pelas horas dedicadas a nós,
alunos.
Finalmente, porém não menos importante, a minha amiga (irmã) Daiana
Brisolara, a quem costumava chamar de “anjo da guarda”.
A todos meu muito obrigada!
SUMÁRIO
1 INTRODUÇÃO .........................................................................................................1
2 REVISÃO DE LITERATURA ....................................................................................4
3 MATERIAIS E MÉTODO........................................................................................23 3.1 Seleção de pacientes, anamnese e exame clínico..............................................24 3.2 Confecção do aparelho de Michigan ...................................................................25 3.3 Desprogramação Neuromuscular........................................................................26
3.3.1 Instalação do Aparelho de Michigan .........................................................26 3.3.2 Acompanhamento da evolução do quadro clínico.....................................27
3.4 Diagnóstico e tratamento.....................................................................................28 3.5 Sistematização e análise dos dados ...................................................................28
4 RESULTADOS .......................................................................................................30 4.1 Seleção de pacientes, anamnese e exame clínico..............................................30 4.2 Desprogramação neuromuscular ........................................................................31 4.3 Análise dos resultados ........................................................................................34
4.3.1 Tendência de evolução dos sintomas dos pacientes ................................34 4.3.2 Normalização dos dados...........................................................................35
5 DISCUSSÃO ..........................................................................................................38
6 CONCLUSÃO E CONSIDERAÇÕES FINAIS ........................................................43
7 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS .......................................................................44
ANEXO 1. Dados do Prontuário da Clínica de Oclusão ............................................47
LISTA DE FIGURAS
Figura 1. Etapas da metodologia adotada neste trabalho. .......................................23
Figura 2. Procedimentos necessários à confecção do aparelho de Michigan. (1)
Tomada do arco facial; (2) transferência das medidas do arco facial para o ASA; (3)
ASA pronto para a fixação dos modelos; e (4) modelos montados no ASA (Fonte
fotos 1 a 3: Bioart, 2006). ..........................................................................................25
Figura 3. (1) Aparelho de Michigan; (2) aparelho em uso; (3) diagrama da posição
correta de uso do aparelho, em vista lateral (Fonte fotos 1 a 2: Michael Ho &
Associates, 2006)......................................................................................................26
LISTA DE TABELAS
Tabela 1. Controle de atendimento de pacientes 1 a 6, sendo que Sn representa a
semana de tratamento e Tn as seções em que cada paciente foi avaliado. Em
amarelo, encontram-se destacadas as semanas empregadas para a normalização
dos dados..................................................................................................................32
Tabela 2. Controle de atendimento de pacientes 7 a 8, sendo que Sn representa a
semana de tratamento e Tn as seções em que cada paciente foi avaliado. Em
amarelo encontram-se destacadas as semanas empregadas para a normalização
dos dados..................................................................................................................33
Tabela 3. Tendência de evolução dos sintomas (dados não normalizados).............34
Tabela 4. Tendência de evolução dos sintomas (dados normalizados)....................36
Tabela 5. Persistência de Sintomas por Semana Padrão (normalizados) ................37
Tabela 6. Análise de regressão (previsão) para ambas as séries de dados. Em
amarelo encontram-se os dados reais; em branco aqueles obtidos através da
análise. ......................................................................................................................39
LISTA DE GRÁFICOS
Gráfico 1. Tendência de evolução dos sintomas em resposta ao tratamento, em
valores não tratados. .................................................................................................35
Gráfico 2. Tendência de evolução dos sintomas em resposta ao tratamento, em
valores normalizados. ...............................................................................................36
Gráfico 3. Persistência de Sintomas por Semana Padrão (normalizados). ..............37
Gráfico 4. Distribuição de Sintomas na S1. ..............................................................38
Gráfico 5. Comparação ente a persistência de dor de ouvido, por dados
normalizados por semana, entre os resultados obtidos por este TCC e aqueles
obtidos por Martins Filho et al. (2002). ......................................................................40
RESUMO
Embora a relação entre otalgia e má oclusão dentária venha sendo estudada
há algumas décadas, não se tem resultados conclusivos a este respeito. Assim, este
trabalho, com o intuito de contribuir para elucidação de algumas dúvidas, propôs a
desprogramação neuromuscular pelo uso do aparelho de Michigan. A casuística foi
de oito pacientes analisados durante oito seções compreendidas em um período de
dezesseis semanas. A dor de ouvido foi fator de seleção para o estudo, porém
estava sempre associada a um ou mais sintomas (dor de cabeça, dores musculares,
dor e ruído na ATM). Após algumas poucas semanas do uso do aparelho de
Michigan, a maioria dos sintomas desapareceu ou reduziu, comprovando a
existência desta relação.
1 INTRODUÇÃO
O sistema estomatognático é um complexo sistema do organismo humano
que envolve dentes, músculos, articulações, ligamentos, vasos e nervos que, no
eventual mau funcionamento de alguma destas estruturas, pode gerar disfunções
com conseqüências desagradáveis ao indivíduo.
Estas disfunções, causadas pela má oclusão, podem afetar também regiões
vizinhas ao sistema estomatognático, como por exemplo, a área auditiva, devido à
má oclusão. Neste caso, as disfunções ocorridas na articulação temporomandibular
provocam sintomas relacionados com o aparelho auditivo, região de cabeça e
pescoço, podendo ainda se estender por todo o corpo. Este assunto tem despertado
a atenção de diversos profissionais da área da saúde, sem haver, no entanto,
consenso quanto à relação entre as alterações oclusais e os sintomas associados.
Considerando as conseqüências negativas sobre o indivíduo, esta falta de consenso
apenas dificulta o seu diagnóstico e tratamento.
A relação entre problemas oclusais e disfunções no ouvido vem sendo
investigada desde 1920, quando ocorreram as primeiras publicações sobre o
assunto. Desde então, muitos estudos foram conduzidos com a intenção de
relacionar os problemas oclusais com disfunções auditivas e com outros problemas
físicos, como dor de coluna e coração. No rol de estudos realizados até o momento,
merecem destaque as dissecações de cadáveres de embriões, fetos e adultos e os
estudos embriológicos que comprovam a relação anatômica do ouvido com o
sistema estomatognático.
2
Considerar a ausência de relação entre o aparelho estomatognático e o
aparelho auditivo, por si só, vai contra a visão sistêmica do organismo, ou seja, de
que estes sistemas são dependentes ou interligados. Tal visão reducionista impede
o mapeamento destas relações, comprometendo o objetivo final das áreas da saúde:
o bem estar e a qualidade de vida do indivíduo. Em virtude desta visão, indivíduos
acometidos por disfunção temporomandibular comumente apresentam dores na
região da cabeça e do pescoço que limitam o desempenho de suas atividades
cotidianas. Situação que compromete não apenas a saúde física dos indivíduos,
mas também psicológica. Estudos indicam que cerca de 60% da população em geral
apresenta algum distúrbio do sistema mastigatório, sendo que apenas 10% são
diagnosticados. Se for considerado este dado estatístico, isto significa que cerca de
50% da população apresenta possibilidade de agravamento de seu quadro clínico,
ou seja, muitos sinais desenvolvem sintomas subclínicos. Se não forem tratados
podem, com o tempo, determinar a disfunção temporomandibular por falta de
tratamento adequado, ou mesmo desinformação do paciente visto que os sintomas
otológicos não levam o paciente a suspeitar de doença da articulação
temporomandibular (PASCOAL et al, 2001).
A diversidade de fatores que podem determinar o aparecimento desta doença
tornou árdua a tarefa de identificar uma causa única para a presença de sintomas
otológicos na DTM (PASCOAL et al., 2001). No entanto, isto não deve servir de
barreira a condução de estudos que busquem elucidar a relação existente entre
problemas oclusais e otológicos. Os avanços tecnocientíficos apresentam, a cada
dia, novas perspectivas para a exploração deste tema. Assim, este trabalho propõe o
uso da desprogramação neuromuscular com aparelho de Michigan para identificação
de DTM e sua relação com sintomas na região auditiva e periauricular, visando
3
contribuir para inversão do cenário apresentado por Pascoal et al. (2001), quanto
aos sintomas subclínicos.
2 REVISÃO DE LITERATURA
Segundo Guimarães et al (2005), a desordem temporomandibular (DTM) é
uma disfunção amplamente estudada atualmente, porém ainda muito complexa e
controversa. A cura da DTM envolve fatores físicos (neuromusculares e anatômicos),
emocionais e sociais, o que reforça a necessidade de multidisciplinaridade em seu
tratamento. Ela é desencadeada por uma série de distúrbios articulares e
musculares promovendo o desequilíbrio do Sistema Estomatognático, com quadro
de dor e disfunção. Em nível muscular são comuns o espasmo e a fadiga, atingindo
o pescoço e a cabeça, podendo representar quadros de cefaléia tensional, a
característica mais comum da DTM. Outros aspectos encontrados na DTM são os
fatores oclusais, que apesar de muito estudados tem trazido diferentes resultados
em pesquisas realizadas. As alterações oclusais podem ser a conseqüência e não a
causa de disfunções musculoesqueléticas e articulares, visto que várias situações
oclusais são possivelmente o resultado de modificações na posição do côndilo
provocado pelas alterações intra-capsulares associadas à doença. Um paciente
com dor crônica apresenta fortes sintomas emocionais. O fator psicológico é
responsável por sintomas físicos comuns ao estresse como cefaléia, mãos trêmulas
e frias, bruxismo, constipação intestinal, fadiga muscular, dano tecidual e dor, e
acidez estomacal. Além disto, o estresse pode provocar alterações no sono,
diminuição da concentração, ansiedade, medo e angústia. O inverso também é
possível, quando pessoas ansiosas podem provocar o surgimento de dor crônica. O
diagnóstico preciso de DTM se torna muito complexo, dependendo de uma avaliação
rigorosa e em longo prazo, o que exige do clínico bom conhecimento de todos os
5
fatores relevantes à doença. O caso de uma paciente deficiente auditiva, que
apresentava vários sintomas de DTM associados a outras patologias, foi tratado
através de uma abordagem multidisciplinar, envolvendo odontologia, fonoaudiologia,
otorrinolaringologia, psicologia, fisioterapia e acupuntura. Na anamnese, a paciente
apresentava dores na região da face e ATM e cefaléia crônica com hábitos
alimentares incorretos e inchaços abdominais. Ao exame clínico apresentou
sensibilidade bilateral no masseter, temporal e pterigóideos lateral e medial, região
cervical e abdominal. Na ATM foram observados desvios para direita em abertura de
boca e crepitações recíprocas bilateralmente. Tinha hábitos parafuncionais, como
bruxismo, apertamento e morder os lábios. Para o tratamento na área odontológica
foi feita uma placa neuromiorrelaxante, para desprogramar a musculatura tensa e
proteger as estruturas orais dos hábitos parafuncionais. Após seis semanas de
tratamento a paciente já apresentava melhoras emocional e sintomatológica. A placa
de Michigan foi ajustada semanalmente até reduzir seu uso ao período noturno.
Enfim, pelo fato da DTM apresentar-se tão complexa é de extrema importância sua
abordagem multidisciplinar, podendo unir conhecimentos de diversas áreas para
trazer qualidade de vida ao paciente, salientando também que a atuação deste é de
extrema importância para o sucesso do tratamento.
Meira (2005) explicou que a disfunção temporomandibular pode estar
associada a atividades cotidianas como mastigação, deglutição, respiração e
fonação, geradas por má oclusão, falta de dentes, restauração ou prótese mal
adaptada, mastigação unilateral, hábitos bucais anormais, má postura, tensão
emocional. Para o diagnóstico, é importante fazer-se uma análise multidisciplinar,
avaliando tensão emocional, bruxismo, dores e sensações na ATM e ouvido. A
disfunção pode ser desencadeada por fatores internos (artrite, anquilose, luxação),
6
alterações musculares, discinesia, fatores hereditários e etiológicos locais e também
fisiológicos e psicológicos. Sinais e sintomas podem ser descritos como dor reflexa,
intra-articular, dor na abertura e fechamento da mandíbula, dor irradiada, dor e
zumbido no ouvido. As mulheres são mais freqüentemente afetadas pela DTM do
que os homens, talvez por procurarem mais o tratamento ou por disfunções mais
freqüentes. Muitos estudos referem a dor de ouvido como um dos sintomas
freqüentes em disfunção temporomandibular. Deve-se buscar primeiro a prevenção,
quanto mais cedo for diagnosticado o problema, mais rápida será sua eliminação.
Conforme Seraidarian et al. (2005), a correlação entre manifestações
otológicas e desordens temporomandibulares tem produzido muitas discussões.
Pacientes tratados com disfunção temporomandibular (DTM) freqüentemente
apresentam dores no ouvido. Dentre muitos sintomas, a dor na região auricular é
conhecida como a queixa principal do paciente. Para entender suas causas, é
necessário um bom conhecimento da região auricular e articulação
temporomandibular. A diferenciação embriológica da face humana ocorre entre a
quarta e oitava semana de vida intra-uterina. O primeiro e o segundo arco branquial
estão diretamente relacionados com a formação da face. O primeiro par de arcos
branquiais origina os processos maxilares e mandibulares direito e esquerdo, assim
como os músculos da mastigação, tensor do véu palatino e tensor do tímpano. O
componente nervoso é o V par de nervos cranianos (trigêmeo) e o cartilaginoso
(cartilagem de Meckel) origina os ossículos do ouvido médio. O segundo par de
arcos branquiais originam a parte superior do corpo do osso hióide, processo
estilóide e ao terceiro ossículo do ouvido médio (estribo), ligamento estilomandibular
e estilóide, os músculos da expressão facial e o músculo estapédio. O componente
nervoso é o VII par de nervos cranianos (facial). A primeira fenda branquial dará
7
origem ao meato acústico externo, enquanto que a primeira bolsa faríngea formará a
tuba auditiva e a cavidade timpânica. A membrana timpânica se forma da primeira
membrana branquial. O osso temporal se desenvolve pela fusão de três partes: a
petrosa, o osso timpânico e a escama temporal. O côndilo mandibular surge
independente como uma cartilagem e posteriormente é envolvido pelo osso da
mandíbula em desenvolvimento. Existem evidências de que o martelo e a bigorna
funcionem para promover uma articulação móvel (entre a oitava e a décima oitava
semana de vida intra-uterina) até que o côndilo da mandíbula se desenvolva em
relação à fossa articular. Desta maneira observa-se que muitas estruturas do ouvido
e da articulação têm a mesma origem embrionária. A articulação temporomandibular
(ATM) é uma diartrose bicondilar, que realiza movimentos de rotação e translação. É
formada, basicamente, pelo côndilo da mandíbula e côndilo do osso temporal,
separados pelo disco articular. O Côndilo da mandíbula se articula na fossa articular
(base do crânio). Anterior a esta fossa encontramos a eminência articular, ou seja, o
côndilo do osso temporal.Isso sugere que as tensões são transmitidas, através do
disco articular, do côndilo da mandíbula para o côndilo do osso temporal. O disco
articular encontra-se interposto entre os dois côndilos e é composto de tecido
conjuntivo denso fibroso, sendo sua região intermediária o local de contato entre os
côndilos. Ele se liga à mandíbula e ao osso temporal por ligamentos constituídos de
fibras colágenas. A cápsula articular é uma delgada camada de tecido conjuntivo
fibroso que recobre toda a ATM. A inervação da ATM é realizada pelo V par
craniano, mais especificamente terceiro ramo do trigêmeo, o nervo mandibular
(sensitivo e motor). A inervação da parte sensitiva é dada pelo auriculotemporal
(ramo externo do mandibular). O sistema auditivo é composto de três partes: ouvido
externo (pavilhão auditivo até a membrana timpânica), ouvido médio (entre a
8
membrana timpânica e parede medial da cavidade timpânica) e ouvido interno (está
no interior da parte petrosa do temporal). A inervação encontrada no ouvido tem
origem no trigêmeo (auriculotemporal), facial, vestibulococlear, glossofaríngeo, vago
e nervos cervicais superiores. A otalgia é um sintoma bastante comum em pacientes
que apresentam DTM. Costen foi o primeiro a descrever sintomas otológicos
relacionados com a perda de dentes posteriores. Este conjunto de sintomas ficou
conhecido como a Síndrome de Costen. Ele também propôs que o mau
posicionamento do côndilo mandibular levava a uma obstrução da tuba auditiva,
gerando os mesmos sintomas. Muitos estudos têm discutido a relação entre otalgia e
DTM, sendo que todos encontram resultados positivos desta relação, em maior (até
100%) ou menor escala. A dor referida na região auricular pode ser explicada pela
rica inervação sensitiva da orelha e de sua proximidade com a ATM. Fatores
psicológicos, patológicos e anatômicos podem contribuir para o aparecimento da
DTM. A dor muscular pode ser considerada um elo entre todas estas categorias e
está associada a uma atividade contínua dos músculos faciais e da mastigação.
Stress e fatores psicológicos podem agir como “gatilho” para desencadear o
processo de alterações auditivas a partir da DTM. A dor na ATM pode ser dos
músculos associados (masseter, temporal, pterigóideo lateral e medial), ligamentos e
fáscia. Estiramentos, contrações forçadas mantidas (bruxismo), isquemias,
hiperemias, traumas e processos inflamatórios são alguns eventos que podem
desencadear DTM. Em resposta a dor, podemos ter um efeito motor secundário nos
músculos na forma de mioespasmo. O que pode ocorrer no músculo tensor do
tímpano que possui inervação comum com os músculos da mastigação, tracionando
o martelo e a membrana do tímpano. Devido à dor, movimentos fisiológicos da
mandíbula são modificados pelo sistema nervoso central na tentativa de limitar
9
movimentos que seriam lesivos aos tecidos articulares, diminuindo, desta maneira os
danos a estes tecidos. As sensações de zumbido, otalgia, hipoacusia (perda
auditiva) e plenitude auricular são sintomas encontrados quando ocorre uma
disfunção principalmente durante o processo de deglutição. Durante a deglutição
ocorre a abertura da tuba auditiva promovendo um equilíbrio nas pressões do ouvido
médio, quando isto não acontece afeta diretamente a abertura da tuba. A dor
referida para a região auricular pode, então ser oriunda de qualquer musculatura
envolvida ou inserida nas proximidades do ouvido. Isso implica que espasmos
dolorosos dos músculos faciais e da mastigação podem promover sintomatologia
auditiva. A dor cervical refletida para o nervo trigêmeo tem sua possível explicação
na confluência do nervo trigêmeo com os nervos cervicais superiores, quando estes
entram na medula espinhal. Há dois tipos de estímulos promovidos pelo SNC: dor
reflexa, aonde um neurônio recebe a dor e transmite os neurotransmissores a um
interneurônio, aonde a dor é percebida; dor heterotópica, aonde muitos neurônios
convergem para um único interneurônio. Na presença de dor profunda, contínua, a
convergência pode confundir o córtex, resultando na percepção da dor em outras
estruturas normais. O nervo auriculotemporal é o responsável pela relação entre as
estruturas auriculares, da cápsula articular e os dentes da mandíbula, sendo
encontrado seus prolongamentos dentro do canal mandibular, o que justifica sua
relação entre otalgia e DTM. Assim como a presença de fibras musculares
encontradas em vasos sanguíneos do ligamento esfenomandibular. Quando grandes
tensões são aplicadas ao ligamento (sobremordida profunda, movimentos anteriores
acentuados) pode provocar otalgia. Podem também estar associada a este
ligamento ramificações do nervo timpânico. Outra causa para a relação entre otalgia
e DTM esta associada a processos inflamatórios na ATM, transmitidos à orelha
10
média através da fissura petrotimpânica. Desta maneira, conclui-se que é muito
importante o conhecimento profundo das estruturas que envolvem a região auricular
e ATM, para um correto diagnóstico e tratamento. Assim como, este deve ser um
trabalho multidisciplinar, podendo envolver médicos, fisioterapeutas, dentistas,
fonoaudiólogos. São necessários mais estudos na tentativa de se elucidar as
relações entre otalgia e DTM, pois nem todas as causas foram completamente
elucidadas.
De acordo com Felício et al. (2004), os sintomas otológicos são freqüentes em
pacientes com desordem temporomandibular (DTM) e o tratamento odontológico
contribui para a remissão destes. A origem dos sintomas otológicos tem sido
vinculada à relação anatomofuncional entre articulação temporomandibular (ATM),
músculos inervados pelo trigêmeo e estruturas do ouvido. O risco de sintomas
otológicos é considerado maior em pacientes com dor à palpação da ATM, dos
músculos mastigatórios e cervicais, bem como dor durante a abertura bucal. Um
estudo foi conduzido com 27 pacientes, diagnosticados como portadores de DTM, e
de sintomas como dor nos músculos mastigatórios e/ou ATM durante a função
mandibular e à palpação, limitação ou desvios nos movimentos mandibulares, ruídos
na ATM, e relação oclusal estática ou dinâmica anormal. Após exames iniciais, o
paciente recebia uma ficha a qual deveria preencher usando escala de zero a 10 de
acordo com o grau de severidade da dor. Estes registros deveriam ser feitos ao
acordar, ao mastigar, ao falar e em repouso. Só após esta etapa o paciente era
submetido a exames otorrinolaringológicos, com o intuito de fazer a relação entre
estes sintomas. O grau de severidade dos sintomas otalgia, zumbido e plenitude
auricular foi correlacionado positivamente com o grau da maioria dos outros sinais e
sintomas de DTM. Os sinais e sintomas predominantes foram ruído articular, a dor
11
muscular e a dor na região da ATM, o que coincidiu com achados anteriores.
Também foi alta a incidência de dor cervical e sensibilidade nos dentes. O zumbido
(apito agudo rápido, que vem e passa) e a plenitude auricular (sensação de que o
ouvido está tampado, entupido) apresentaram-se com a mesma freqüência. Apesar
da relação entre DTM e otalgias ainda ser desconhecida, a questão tem sido
explicada com base na relação embriológica, anatômica e funcional da região que
compreende as ATM. As alterações musculares em pacientes com DTM, como o
espasmo do músculo pterigóideo lateral, podem levar a hipertonia do músculo tensor
do tímpano, causando alterações no ciclo da abertura da tuba auditiva e
conseqüente redução na ventilação da orelha média. Interferências na região da
fissura petrotimpânica, por onde passam o nervo corda do tímpano, a artéria
timpânica e o ligamento disco-maleolar, que se origina no processo anterior do
martelo e insere-se na cápsula e disco da ATM, poderiam também causar sintomas
otológicos. A configuração plana da eminência articular poderia levar o côndilo da
mandíbula ao deslizamento contra o ligamento esfenomandibular, desencadeando a
disfunção do sistema neuromuscular e provocando alterações no reflexo protetor
durante a deglutição, o que inibiria a abertura da tuba auditiva e reduziria a
ventilação na orelha média. Dentre as limitações funcionais, as mais encontradas
foram dificuldade de mastigar, bocejar e abrir a boca. A mastigação sofre influência
da morfologia do sistema estomatognático, de dor e falta de suporte oclusal
posterior, entre outros, que causam mudanças e compensações que podem ser
patológicas. Observou-se que indivíduos com dores mais severas na musculatura e
ATM são mais propensos à otalgia e ao zumbido, os quais necessitam de tratamento
ativo para a DTM. Nesta amostra observou-se alta incidência de sintomas otológicos
relacionados a DTM. Estes sintomas foram correlacionados a dor muscular, dor na
12
ATM, dor cervical, sensibilidade dos dentes, ruído articular e, de forma geral, às
dificuldades funcionais. Hábitos parafuncionais também foram significantes na
amostra.
Segundo Tuz et al. (2003) tinido, vertigem e otalgia são reclamações que
sempre acompanham os problemas da ATM. Muitos termos foram usados para
designar esta disfunção, entre eles o mais aceito é Disfunção Temporomandibular
(DTM). Os termos indicam as várias estruturas anatômicas envolvidas como ouvido,
mandíbula, face, cabeça e pescoço associados a DTM. Clínicos já sabem que
reclamações sobre problemas no ouvido são comuns em pacientes com tal
disfunção. Estudos recentes relatam que a intensidade da sintomatologia dolorosa é
maior em pacientes portadores de DTM, no entanto não se sabe o suficiente quanto
se há diferença quanto à dor de ouvido nestes pacientes. Neste estudo os pacientes
foram examinados objetivando avaliar seus problemas de DTM. Eles eram
questionados sobre problemas otológicos incluindo vertigem, tinido, dor de ouvido e
perda de audição. Pacientes com dor de ouvido eram examinados antes do
tratamento da DTM. Dentro de todos os grupos de pacientes examinados 82,5%
eram mulheres, e a maioria apresentava problemas auditivos. Otalgia em pacientes
com DTM era mais intensa do que no grupo controle e pacientes com DTM e dor de
ouvido apresentavam dor mais intensa do que pacientes com DTM sem dor de
ouvido. Algumas hipóteses para elucidar o problema são sugeridas na literatura,
entre elas, a disfunção da trompa de Eustáquio, disfunção dos músculos
mastigatórios ou estímulo do nervo autônomo da ATM. Outras hipóteses estão
relacionadas com apertamento e posterior deslocamento do côndilo que exerce
pressão, secundariamente no nervo auriculotemporal e corda do tímpano, assim
como na trompa de Eustáquio. A hipótese de trabalho foi baseada em se a causa
13
artrogênica/anatômica, devido a desarranjo interno e desordem de origem muscular,
sozinha ou combinada, pode influenciar a ocorrência de problemas otológicos.
Para Saueressig et al (2003) Disfunções temporomandibulares (DTM) são
disfunções do sistema mastigatório, que independem da moléstia local, e que
envolvem dentes, boca e sistema músculo esquelético. DTM são causadoras de
muitos sintomas como dor, desconforto e por sinais na presença de disfunções
musculoesqueletais. Quando terminações nociceptivas são irritadas podem gerar dor
local ou “dor referida” (à distância do local), que se caracteriza por ser uma dor
difusa e profunda, podendo haver sobreposição de áreas afetadas. Este artigo
apresenta um caso clínico de má oclusão de um paciente com 12 anos que
apresentava sintomatologia dolorosa no lado direito da face e zumbido nos ouvidos,
dores cervicais e nas costas, dor na face, dor ao abrir a boca, estalido nas
articulações. Sua mandíbula foi manipulada levando a RC, notando-se que sua guia
anterior estava prejudicada. Ao examinar a abertura e fechamento da boca, notou-se
desvio sempre para esquerda. A paciente relatou que a mandíbula produzia ruídos,
e, algumas vezes, travava. Após refeição ou uma consulta odontológica, sentia
cansaço na musculatura da face. Após exame intra e extrabucal constatou-se vários
músculos afetados. As articulações temporomandibulares eram afetadas nos dois
tipos de palpação. Para complementar o diagnóstico foi confeccionado um front-
plateau. A paciente usou o front-plateau, simulando a guia anterior, por 24 horas
durante o máximo de tempo possível. Após 2 ou 3 dias retornou para reajuste
oclusal. Retornou após 15 dias, quando passou a usá-lo só à noite. A cada consulta,
a paciente atribuía notas aos sintomas sempre no primeiro momento em que retirava
o aparelho. Foi combinado que os sintomas receberiam nota de zero a dez, e que
todos começariam com dez. Aos poucos, foram diminuindo as dores, a começar pela
14
dor nas costas, estalido nas articulações. À medida que isto foi acontecendo
sugeriram-se sessões de ajuste por acréscimo e por redução, após um intervalo de
20 dias para verificar possíveis alterações nos contatos oclusais. Depois de um
intervalo de 60 dias e foi confeccionado um dispositivo interoclusal total (placa) na
arcada superior. Este dispositivo já é usado para tratamento e o paciente poderá
usá-lo à noite ou em outros horários, se o tratamento exigir. A consulta seguinte a
paciente foi levada a RC para ajuste oclusal por redução dos contatos prematuros. O
próximo passo foi fazer ajustes por acréscimo, ajustando movimentos de lateralidade
e protrusão. Após esta etapa, a paciente comparecia a cada 15 dias para
acompanhamento. Concluídos os ajustes oclusais deu-se um intervalo de 30 dias e
pode-se fazer o refinamento dos ajustes em RC, lateralidade e protrusão (quando
necessário). A paciente deve continuar em controle periódico, para avaliar a oclusão,
sinais e sintomas das disfunções temporomandibulares. A partir deste caso pode-se
concluir que uma oclusão pode exigir esforço exagerado dos ossos, músculos,
articulações, dentes, nervos, provocando pontos de gatilho para a dor, zumbido e
dificuldades decorrentes do mau funcionamento do sistema estomatognático.
Para Martins Filho et al. (2002) a dor de ouvido tem sido uma reclamação
muito freqüente em portadores de disfunção oclusal. Desde que Costen, em 1934,
deu início à teoria da síndrome otomandibular relacionando a compressão da tuba
auditiva e feixe nervoso do côndilo, muitos estudos têm sido realizados, porém
nenhum foi conclusivo. Na UNIVALI foi realizada uma pesquisa com quinze
pacientes, portadores de dor de ouvido não diagnosticada por dois
otorrinolaringologistas. Estes pacientes passaram por uma criteriosa anamnese,
exame clínico e análise oclusal. Após minuciosa análise ficou confirmada algum tipo
de interferência oclusal em todos os casos. Todos faziam uso de medicação
15
analgésica. A partir daí foram confeccionados aparelhos de Michigan e os pacientes
foram orientados a suspender o uso dos medicamentos para não influenciar nos
resultados do estudo. A seguir foram feitas consultas semanais, para avaliar a
evolução do quadro. Foi utilizada uma escala de 0 a 10 para quantificar os sintomas
descritos pelos pacientes, por um período de 7 semanas. Após uma semana de uso
do aparelho, nenhum paciente relatou dor em grau maior que 5. Na segunda
semana doze pacientes enquadravam-se entre os graus zero e um, sendo que estes
resultados persistiram nas próximas semanas. Após oito semanas de uso do
aparelho de Michigan 86,6% dos pacientes tratados apresentavam-se sem dor no
ouvido e região circunjacente, sem auxílio do uso de medicamentos. Assim, ficou
evidenciada nestes pacientes, uma significativa relação entre interferência oclusal e
dor de ouvido.
No entender de Siqueira e Teixeira (2001), pesquisas, na década de 30,
conduzidas por Costen propiciaram grandes avanços para os estudos relacionados
à dor musculoesquelética crânio-facial. Ele avaliou vários doentes com otalgia e
atribuiu à compressão do nervo auriculotemporal pelo côndilo mandibular, em
decorrência das perdas dos dentes posteriores. Apesar de não ter comprovação,
esta constatação iniciou uma discussão que resultou na descrição da síndrome de
dor e disfunção da articulação temporomandibular (ATM). A ATM é uma diartrose
bilateral sinovial, fibrocartilaginosa, constituída pelo côndilo mandibular, cavidade
articular do osso temporal e disco articular. Geralmente, as mulheres são mais
acometidas por dor periauricular e anomalias funcionais da ATM ou musculatura
mastigatória. Anormalidades nesta articulação podem gerar dor muscular secundária
e anormalidades na função muscular mastigatória. As ATM são interdependentes de
tal forma que anormalidades funcionais em uma delas pode resultar em alterações
16
em outra. Os dentes, também, podem acarretar anormalidades funcionais e dor na
ATM, o que justifica sua relevância na avaliação clínica dos doentes com dor crânio-
facial crônica. Perdas dentárias extensas, próteses mal adaptadas, oclusão irregular
e alterações esqueléticas são fatores que também podem contribuir para a
manutenção da dor musculoesquelética do segmento cefálico. Como a dor gerada
por disfunção temporomandibular ocorre na região periauricular, e pode irradiar-se
para regiões adjacentes do crânio e pescoço, é comum aos doentes procurar por um
otorrinolaringologista a procura de diagnóstico. Quando a dor é crônica, sua
localização é variável e podem ser identificadas significativas anormalidades na
função mandibular. Dentre os sintomas secundários encontrados pode-se observar
depressão em 18% a 40% dos doentes com DTM e ansiedade em 17% a 30%. A
exemplo da dor crônica, as alterações do humor, ansiedade e depressão são
comuns nestes doentes. Fatores psicológicos contribuem para a instalação e
evolução do quadro álgico. Pacientes com DTM crônica, após tratamento
odontológico padrão apresentaram evolução diferente de outros grupos. A
persistência de dor decorrente de DTM interfere no desempenho social, no trabalho,
na escola, no curso da dor e no seu tratamento. Susceptibilidade é um fator
relevante no desenvolvimento da doença. O diagnóstico de dor musculoesquelética
facial é essencialmente clínico. A terapêutica da dor decorrente das DTMs inclui
fármacos analgésicos antiinflamatórios, opióides, antidepressivos tricíclicos,
infiltrações localizadas com anestésicos locais e/ ou corticóides, meios físicos (calor,
frio, estimulação elétrica, acupuntura, laser), exercícios, terapia oclusal (jig, placas
miorrelaxantes, placas para reposição postural da mandíbula), ajustes oclusais,
cirurgias da ATM. Como procedimento terapêutico para dor oriunda de DTM são
realizados primeiramente tratamentos sintomáticos para aliviar a dor enquanto se
17
confirma o diagnóstico: calor, repouso muscular, placas miorrelaxantes. Após esta
etapa e tendo a dor controlada, o doente torna-se ciente de que a reabilitação
oclusal definitiva torna-se etapa importante no tratamento.
Para D’Antônio et al. (2000) a Articulação Temporomandibular (ATM) é uma
articulação com características únicas: é formada por fibrocartilagem, seus
ligamentos são dependentes dos músculos mastigatórios e seus movimentos são
influenciados por um movimento proprioceptivo dos dentes através do núcleo motor
do trigêmeo. Numa pesquisa realizada com os pacientes atendidos na emergência
do Departamento de Otorrinolaringologia do Hospital das Clínicas da USP, 523
pacientes recorreram à emergência com sintomas de otalgia. Destes, 90
apresentaram Distúrbio Temporomandibular (DTM), 73 eram do sexo feminino e 17
do sexo masculino. Acredita-se que o maior número de mulheres se deve ao fato
destas se preocupar mais com sua saúde e procurarem mais o médico. No entanto,
alguns autores acreditam que esta relação está mais ligada ao tipo de resposta
inflamatória ofertada pelas mulheres. O início da otalgia variou de um dia a 20 anos.
A otalgia era contínua em 35 pacientes e acompanhada de dor em estruturas
temporomandibulares em 72 pacientes. Foram observados também sintomas com
cefaléia temporal e frontal, zumbido, sons articulares, tontura e vertigem. Quando foi
realizado o exame de palpação na região da ATM 55,6% relataram dor e 22,4%
estalido ao abrir e fechar a boca ou apenas na abertura. A maioria dos pacientes
(80%) apresentou alterações dentárias, destes 47,8% usavam prótese dentária e
63,3% apresentaram má oclusão. Neste trabalho DTM foi a terceira causa de otalgia,
sendo que, estatisticamente só perdeu para Otite Média Aguda e empatou com Otite
Média Externa Difusa Aguda. Devido à inervação sensitiva da orelha, pode haver a
ocorrência de dor referida. Esta é uma dor muito freqüentemente encontrada em
18
diagnóstico diferencial em pacientes com dor craniofacial. O estudo mostrou que
após tratamento dentário houve melhora em mais de 50% dos pacientes com
zumbido. Fatores psicológicos também têm que ser considerados, pois podem
funcionar como um “gatilho” para levar o paciente com otalgia a observar maior
ocorrência de zumbido. Apesar de alguns autores acharem que a relação entre
alteração oclusal e DTM ainda não é clara, este trabalho revela que má oclusão
pode modificar a anatomia e o biomecanismo da ATM, podendo iniciar
manifestações clínicas de DTM.
Rizzatti-Barbosa et al. (1998) fizeram uma pesquisa com 21 pacientes
portadores de DTM (17 mulheres e 4 homens), que apresentavam zumbido. Após
anamnese e exame clínico minuciosos, dando especial atenção ao quadro de dor
contatou-se que a maioria tinha dor crônica e relatou que a dor aumentava após
mastigação. Um terço dos pacientes relataram que os sintomas tiveram início com
perdas dentárias ou instalação de próteses, um terço relacionou os sintomas com
situações de estresse emocional, dois terços apresentaram zumbido. A maioria dos
pacientes não consultou nenhum profissional para resolução da dor, quatro deles
procuraram um otorrinolaringologista e dois procuraram por dentista. A presença de
ambas as patogenias simultaneamente pode confundir tanto o paciente quanto o
clínico, daí a importância de um tratamento multidisciplinar. O desconforto do
zumbido pode induzir ou contribuir no aumento da tensão muscular e parafunção,
que se resume por fadiga nos músculos mastigatórios, tensão como dor de cabeça,
redução nos movimentos mandibulares, impressão na língua e mucosa vestibular,
ou sensibilidade dental.
Segundo Keersmaekers et al. (1996), a desordem temporomandibular (DTM)
é caracterizada por vários sinais e sintomas de dor e disfunção . A dor pode ocorrer
19
em diversas áreas inclusive no ouvido, sendo que nesta área os sintomas são
relacionados com dor, tinido, perda auditiva e plenitude. Tinido ocorre em
aproximadamente 1/3 da população em geral, agravando com a idade e é mais
freqüente em pacientes com DTM. Poucos estudos estão direcionados a ocorrência,
prevalência e tratamento da otalgia em pacientes com DTM. Segundo o autor, esta
prevalência é de 5%. Na presente pesquisa foram analisados 400 pacientes, destes
233 sem sintomatologia no ouvido e 167 com sintomatologia no ouvido. Todos estes
pacientes consultaram um otorrinolaringologista antes de iniciar o tratamento. Foi
usado protocolo semelhante para os dois grupos, incluindo aconselhamento,
aparelho oclusal, fisioterapia, e, ocasionalmente, o uso de antiinflamatórios não
esteroidais (AINES). A otalgia foi mais freqüente em mulheres (42%) do que em
homens (32%). Quando a otalgia estava associada a DTM, a dor era mais severa,
nos outros casos a dor era moderada. A maioria dos pacientes sem otalgia
apresentava dor leve ou não apresentava dor. Dos pacientes com otalgia,48% não
teve mais sintomatologia dolorosa; outros 32% só tinham dores leves ou ocasionais
(especialmente no inverno, com vento). Do restante, 20% não mostraram diferença
na intensidade e freqüência da dor. A maioria usava AINES para alívio da dor de
ouvido. Dor no ouvido parece ser subjetivamente pior do que dor em qualquer outra
parte do sistema estomatognático. Estatisticamente, após tratamento, não houve
mais diferença entre os dois grupos, em ambos dor e disfunção diminuíram. Uma
das possíveis teorias, apoiada por alguns autores, para elucidar esta questão é a
compressão do meato acústico externo ou do nervo auriculotemporal como causa de
otalgia, mas ainda contestada. Outra teoria sugere que a dor de ouvido seja
provocada por espasmos musculares. O autor considera a teoria de que desarranjos
internos da ATM seria a possível causa de DTM, e uma influência mecânica direta
20
dos ramos de nervos na região da ATM. Ainda não se podem chegar a conclusões
definitivas, pois, provavelmente o mecanismo envolvido não é idêntico em todos os
pacientes com DTM e otalgia, cada indivíduo é diferente em sua microanatomia,
pequenas diferenças existem e, desta maneira, diferentes respostas.
Parker e Chole (1995) relatam que há aproximadamente 80 anos muitos
pesquisadores entre eles, dentistas e médicos encontraram relação entre sintomas
no ouvido e disfunção na articulação temporomandibular. A partir daí muitos nomes
foram sugeridos, sendo que atualmente o mais aceito é Disfunção
temporomandibular (DTM). Embora tinido, vertigem e tontura sejam reclamações
comuns na população em geral, a ocorrência destes sintomas em pacientes com
DTM não implica necessariamente numa relação de causa. Muitos estudos feitos até
o presente mostravam relação entre DTM e sintomas otológicos. No entanto, em
nenhum destes estudos tinha uma população de controle apropriada, sendo então
baseadas em hipóteses. Neste estudo foram selecionados dois grupos controle, que
teriam significativa comparação com pacientes com DTM. O primeiro grupo (grupo
controle 1) foi composto de pacientes a procura de tratamento médico de rotina,
mais focados em sintomas crônicos como pacientes com DTM; e o segundo grupo
(grupo controle 2), composto de pacientes a procura de tratamento dentário, sem
sintomas crônicos. Foram estudados 1032 pacientes ao todo, sendo que 338 foram
tratados pela DTM, 326 do grupo 1 e 365 do grupo 2. Para analisar os dados foram
selecionados apenas os pacientes com estalido na ATM ao redor da região do
ouvido. Concluiu-se que sintomas no ouvido como tinido e vertigem são mais
freqüentes em pacientes com DTM, e ao longo dos anos hipóteses foram sugeridas
na tentativa de elucidar algumas dúvidas. Hipótese da Tuba de Eustáquio: apesar de
Costen ter associado os sintomas auriculares e DTM em relação a má posição do
21
côndilo, este trabalho afirma que DTM nunca afetou a função da tuba de Eustáquio.
Hipótese do Tensor do Tímpano: Sugere que tinido é provocado pela função
exagerada dos músculos mastigatórios, o que, segundo o autor seria impossível,
pois precisaria de uma contração irreal de alta freqüência e o tinido seria audível, o
que não é. Hipótese do Ligamento Otomandibular: Alguns autores sugerem que dor
de ouvido associada a DTM é resultado direto do estímulo mecânico do martelo
através do ligamento maleolar (discomaleolar e porção maleolar do ligamento
esfenomandibular). Apesar da relação estas estruturas com a ATM seria necessária
uma freqüência muito grande de energia para provocar tinido e vertigem. Hipótese
da Preocupação Somática Excessiva (ESC- Excessive Somatic Concern): é a mais
aceita, pois estes sintomas estão muito associados a desordens emocionais.
Estresse emocional pode exacerbar tinido e vertigo em paciente com DTM.
Giordani e Nóbilo (1995) observaram que pacientes com distúrbio da ATM às
vezes apresentam sintomas como dor de ouvido, zumbido (tinitus), diminuição da
audição, sensação de ouvido cheio e vertigens. Num estudo realizado pela PUC-
Campinas foram analisados 44 pacientes da clínica odontológica, que relataram
sensação de zumbido em pelo menos um dos ouvidos. Este sintoma estava
associado à síndrome da disfunção muscular e ATM. Foram feitos testes de
audiometria e impedanciometria, recomendado o uso da placa de Michigan (para
tratar os sintomas). O paciente recebia a placa, que era ajustada, e ele deveria fazer
anotações semanais sobre como os sintomas ocorriam. A avaliação foi feita por 8
semanas. A análise dos valores ficou dividida em fases e feita uma média dos
valores. Essas médias foram comparadas como os valores iniciais do Grau de
Desconforto na Sensação (GDS) do Zumbido. Os resultados mostraram melhora
significativa na sensação de zumbido. Um dos possíveis motivos para a etiologia da
22
disfunção da ATM pode ser a compressão das estruturas do ouvido e anexas ao
côndilo nos casos de desgaste e/ou perda de elementos dentais. Dos pacientes
estudados 44% apresentaram ausência dos elementos posteriores. Outras
interferências foram observadas como no nervo corda do tímpano e
auriculotemporal. Constatou-se também que a dor pode induzir reflexo no músculo
estapédio, produzindo tinitus. Houve freqüência considerável em sintomas
produzidos por contração muscular como ruídos articulares, interferências oclusais
(45%), desvios da linha média (80%) e mastigação unilateral (79%). Como a placa
produziu diminuição dos sintomas é evidente sua relação com o tratamento, porém
ela também foi usada em casos sem relação oclusal diminuindo em 40% os
sintomas da disfunção. Outro fator importante a considerar no tratamento é o fator
psicológico. Pacientes relatam que durante o convívio com os sintomas sentem-se
afetados emocionalmente. A partir destes dados chegou-se a conclusão que é muito
importante uma abordagem interdisciplinar no tratamento da disfunção da ATM.
Após quatro semanas de uso da placa houve melhora na sensação de zumbido. Não
houve alteração significativa em condições audiológicas dos pacientes que fizeram
teste de audiometria.
3 MATERIAIS E MÉTODO
Muitos trabalhos em odontologia têm procurado explicar a relação da
disfunção temporomandibular com a otalgia (KEERSMAEKERS, 1996; RIZZATTI-
BARBOSA, 1998; D’ANTÔNIO, 2000; SIQUEIRA, 2001; MARTINS FILHO, 2002;
TUZ, 2003; FELÍCIO, 2004; MEIRA, 2005; SERAIDARIAN, 2005). Ainda assim,
pouco tem sido confirmado cientificamente. É nesta lacuna que reside o objetivo
deste trabalho, que investiga o potencial uso da desprogramação neuromuscular
com o aparelho de Michigan para redução dos sintomas otomandibulares
relacionados ao fator oclusal.
Seleção de pacientes, anamnese e exame clínico
Confecção do aparelho de Michigan para cada paciente
DESPROGRAMAÇÃO NEUROMUSCULAR
Instalação do aparelho de Michigan em cada paciente
Acompanhamento da evolução do quadro clínico de cada paciente
(8 semanas)
Diagnóstico e tratamento
Figura 1. Etapas da metodologia adotada neste trabalho.
O método adotado para investigar a eficiência desse aparelho, é o mesmo
proposto por Ramfjord e Ash (1984), devido ao seu reconhecimento e aceitação
junto à comunidade científica. Ele pode ser dividido em cinco etapas, conforme o
24
diagrama apresentado na Figura 1. Estas etapas encontram-se, a seguir,
detalhadas.
3.1 Seleção de pacientes, anamnese e exame clínico
Em seu desenvolvimento, o trabalho abrangeu a anamnese e o exame clínico
dos pacientes, visando à confirmação dos casos com disfunção temporomandibular.
Os pacientes foram encaminhados por otorrinolaringologistas, cirurgiões-dentistas e
colegas do curso de odontologia da UNIVALI à clínica de oclusão, em resposta à
divulgação da intenção da pesquisa proposta neste trabalho.
No processo de seleção, dois critérios foram adotados para a formação da
casuística: o paciente deveria apresentar sintomatologia dolorosa do ouvido, forte
indício da disfunção temporomandibular; e não possuir patologia no ouvido,
confirmada por avaliação de um otorrinolaringologista. Não foram considerados
quaisquer padrões de raça, sexo, cor, idade ou fator socioeconômico como critérios
de seleção. Buscou-se, ainda, descartar a possibilidade da presença de outras
condições que inviabilizassem a condução da pesquisa, como a existência de
patologias cujas manifestações sintomatológicas pudessem mascarar a evolução do
quadro clínico durante a evolução da desprogramação neuromuscular.
Os dados cadastrais dos pacientes, bem como os da anamnese e exame
clínico foram registrados no Prontuário da Clínica de Oclusão (Anexo 1).
Como resultado do processo de seleção, apenas um paciente dos nove
encaminhados à clínica foi descartado em função de ser portador de prótese total
superior, condição que inviabiliza o uso do aparelho de Michigan.
25
Todo processo de seleção foi conduzido sob a estreita supervisão do Prof.
Casimiro Manoel Martins Filho, responsável pela clínica de oclusão.
3.2 Confecção do aparelho de Michigan
A confecção do aparelho de Michigan foi realizada com base na moldagem
dos arcos superior e inferior dos maxilares do paciente, sendo os modelos
confeccionados em gesso pedra. Segue a este procedimento a tomada do arco
facial (Figura 2.1) e o registro em cera na posição de Máxima Intercuspidação
Habitual (MIH) da mandíbula. Idealmente deveria ser utilizada a posição de Relação
Cêntrica (RC), contudo, devido aos quadros de disfunção dos pacientes, esta
posição é difícil de ser atingida.
2 1 3 4
Figura 2. Procedimentos necessários à confecção do aparelho de Michigan. (1) Tomada do arco facial; (2) transferência das medidas do arco facial para o ASA; (3) ASA pronto para a fixação dos modelos; e (4) modelos montados no ASA (Fonte fotos 1 a 3: BIOART, 2006).
A montagem do modelo em articulador semi-ajustável (ASA) somente pode
ser realizada após os procedimentos anteriormente apresentados, e serve para que
os modelos sejam encaminhados ao laboratório de prótese para a confecção do
aparelho de Michigan (Figura 2.2, 2.3 e 2.4).
O aparelho de Michigan é uma placa removível, usualmente feita em resina
acrílica, que se adapta a superfície oclusal e incisal dos dentes (Figura 3). A
26
superfície oclusal deve ser lisa, mantendo as guias caninas, e sem contato nos
elementos anteriores. Ele é freqüentemente utilizado para tratamento de pacientes
com DTM, e em doenças relacionadas à dor de cabeça e tensão no pescoço. Para
ser eficiente, a placa deve ter o máximo de contato com os dentes posteriores da
arcada inferior, com intensidades semelhantes (ASH e RAMFJORD, 1998).
1 2 3
Figura 3. (1) Aparelho de Michigan; (2) aparelho em uso; (3) diagrama da posição correta de uso do aparelho, em vista lateral (Fonte fotos 1 a 2: Michael Ho & Associates, 2006).
3.3 Desprogramação Neuromuscular
3.3.1 Instalação do Aparelho de Michigan
Antes de iniciar o tratamento com o aparelho de Michigan, é necessário
verificar o ajuste deste ao arco superior do paciente, procedimento este que é feito,
segundo Roth e Rolfs (1981), através dos seguintes critérios:
- adaptação conveniente a todos os dentes superiores irrompidos;
- estabilidade do aparelho;
- superfície oclusal plana e polida, do aparelho, para que não haja
estímulos que eventualmente interfiram na desprogramação;
27
- cada um dos dentes da arcada oposta apresentando, pelo menos um
contato puntiforme. Na região posterior eles devem ser de mesma
intensidade, bilateralmente. Estes contatos são verificados com tiras de Accu
Film; e
- construção de guias caninas capazes de fornecer desoclusão imediata,
quando realizados movimentos excursivos da mandíbula.
O não atendimento destes critérios implica, automaticamente, na necessidade
de novos ajustes, impedindo o início do tratamento.
3.3.2 Acompanhamento da evolução do quadro clínico
Tendo sido aprovado o aparelho, o tratamento pode ser iniciado. Os pacientes
foram orientados a fazer uso do aparelho em período integral, nas primeiras vinte e
quatro horas. Idealmente, o aparelho deveria ser utilizado em período integral ao
longo das semanas de tratamento, facilitando o processo de desprogramação. No
entanto, em termos práticos, no dia-a-dia torna-se impossível em função das
atividades desempenhadas pelos pacientes. Assim, recomenda-se o uso apenas a
noite.
Por este motivo, nos dias subseqüentes, durante as dezesseis semanas que
compreenderam a desprogramação muscular, o uso recomendado foi de oito horas
diárias, exceto no caso em que os sintomas desapareceram antes do fim do período
de tratamento.
28
Ao longo do tratamento, cada paciente compareceu a oito seções de
tratamento (Tn), na sua maioria em intervalos irregulares, quando puderam ser
observados e acompanhado o desenvolvimento dos seguintes aspectos:
Tipo de problema (sintomas): de dor de ouvido, dor na ATM, dor de cabeça,
ruído na ATM.
Freqüência do problema (sintomas): ocorrência dos sintomas.
Medicação: identificação do medicamento utilizado para diminuir os sintomas
de quadro doloroso.
Tensão emocional: verificou-se se o paciente estava passando ou passou por
momentos que pudessem desencadear mecanismos de estresse, e se existia
alguma relação destes com a dor ou o momento em que foi desencadeada.
3.4 Diagnóstico e tratamento
Esta etapa, apesar de fazer parte do tratamento da DTM, não foi parte deste
trabalho, motivo pelo qual não foi apresentada e avaliada neste trabalho. Ainda
assim, os pacientes receberam o tratamento completo para sanar as causas da
disfunção.
3.5 Sistematização e análise dos dados
Os dados coletados foram sistematizados em planilha Excel, para o período
de 16 semanas (Tabela 1 e 2). Considerando que o trabalho caracterizou-se por um
estudo exploratório, qualitativo, foram adotadas duas formas simples de tratamento
estatístico.
29
A primeira foi a normalização dos dados de tratamento para semanas-padrão,
de modo a reduzir os ruídos gerados pela irregularidade dos tratamentos, conforme
apresentado no item 4.3.1 deste trabalho.
Para comparar os resultados de dor de ouvido obtidos neste trabalho com os
de Martins Filho et al. (2002), adotou-se a análise de previsão, conforme
apresentado no item 5 deste trabalho.
4 RESULTADOS
4.1 Seleção de pacientes, anamnese e exame clínico
O conjunto de casos selecionados foi formado por pacientes do sexo feminino,
com idades variando entre 28 e 60 anos, e média de 38 anos. A notada ausência de
pacientes do sexo masculino no universo desse estudo encontra paralelo em
semelhantes trabalhos, como os de Siqueira e Teixeira (2001), Meira (2005),
D’Antônio et al.(2000) e Tuz et al.(2003), em que o predomínio de pacientes do sexo
feminino também esteve presente. Destes autores, no entanto, apenas D’Antônio et
al.(2000) busca explicar este fenômeno, atribuindo-o ao fato das mulheres se
preocuparem mais com sua saúde, recorrendo ao auxílio médico com maior
freqüência. Outro potencial motivo citado pelo autor é que a DTM estaria relacionada
à resposta inflamatória ofertada pelas mulheres, por fatores moleculares ligados ao
sexo. Este fenômeno, segundo o autor, de alguma forma exacerbaria as respostas
inflamatórias a exemplo do que acontece com doenças reumáticas.
Em relação ao conjunto de pacientes selecionados para a pesquisa, apenas
uma procurou a clínica em função de uma crise aguda. Esta paciente foi
encaminhada à clínica de Oclusão da Univali pelo otorrinolaringologista que a
atendeu em caráter de urgência, e não encontrou nenhuma causa para as fortes
dores no ouvido e músculos da face.
As demais pacientes apresentavam quadros crônicos de disfunção
temporomandibular, com dores na região do ouvido, e associação com outras dores
(cabeça, ATM, muscular).
31
Uma paciente fazia uso do aparelho de Michigan por mais de quatro anos,
ininterruptos, com acompanhamento profissional inadequado. Conseqüentemente, o
que se observou foi o efeito contrário ao desejado, apresentando a paciente um
quadro clínico de desconforto e dores pelo aparelho não estar adequadamente
ajustado.
4.2 Desprogramação neuromuscular
Ao longo de dezesseis semanas (Sn), após a instalação do aparelho de
Michigan, cada paciente selecionado foi avaliado em oito seções (Tn) em relação à
existência de dor de ouvido, dor na ATM, dor de cabeça, ruído na ATM e dor
muscular, conforme apresentado nas Tabela 1 e 2.
Adicionalmente, foram coletados dados relacionados às atividades cotidianas
das pacientes. Tal medida buscou subsidiar a pesquisa com informações que
pudessem ser associadas a qualquer anomalia no efeito da desprogramação
esperado. Este foi o caso, por exemplo, da paciente 1 que, na S11 apresentou dor
muscular eventualmente associada à atividade de lazer1 desenvolvida na noite
anterior ao atendimento T5.
1 A paciente jogou boliche, tendo realizado esforço físico além do usual.
32
Tabela 1. Controle de atendimento de pacientes 1 a 6, sendo que Sn representa a semana de tratamento e Tn as seções em que cada paciente foi avaliado. Em amarelo, encontram-
se destacadas as semanas empregadas para a normalização dos dados.
Paciente 1 T1 T2 T3 T4 T5 T6 T7 Sintoma S1 S2 S3 S4 S5 S6 S7 S8 S9 S10 S11 S12 S13 S14 S15 S16
Dor de Ouvido 1
Dor na ATM 1
Dor de Cabeça 1 1 1
Ruído na ATM 1 1 1
Dor Muscular 1 1 1 1
Paciente 2 T1 T2 T3 T4 T5 T6 T7
Sintoma S1 S2 S3 S4 S5 S6 S7 S8 S9 S10 S11 S12 S13 S14 S15 S16
Dor de Ouvido 1
Dor na ATM
Dor de Cabeça 1 1 1
Ruído na ATM
Dor Muscular 1 1 1 1 1
Paciente 3 T1 T2 T3 T4 T5 T6
Sintoma S1 S2 S3 S4 S5 S6 S7 S8 S9 S10 S11 S12 S13 S14 S15 S16
Dor de Ouvido 1
Dor na ATM
Dor de Cabeça 1
Ruído na ATM
Dor Muscular 1 1 1 1
Paciente 4 T1 T2 T3 T4 T5 T6 T8
Sintoma S1 S2 S3 S4 S5 S6 S7 S8 S9 S10 S11 S12 S13 S14 S15 S16
Dor de Ouvido 1 1 1 1 1 1
Dor na ATM 1
Dor de Cabeça 1
Ruído na ATM 1
Dor Muscular 1
33
Tabela 2. Controle de atendimento de pacientes 5 a 8, sendo que Sn representa a semana de tratamento e Tn as seções em que cada paciente foi avaliado. Em amarelo encontram-
se destacadas as semanas empregadas para a normalização dos dados.
Paciente 5 T1 T2 T3 T4 T5 T6
Sintoma S1 S2 S3 S4 S5 S6 S7 S8 S9 S10 S11 S12 S13 S14 S15 S16
Dor de Ouvido 1
Dor na ATM 1 1 1
Dor de Cabeça 1 1
Ruído na ATM 1 1 1
Dor Muscular 1 1 1 1 1 Paciente 6 T1 T2 T3 T4 T5 T6 T7 T8
Sintoma S1 S2 S3 S4 S5 S6 S7 S8 S9 S10 S11 S12 S13 S14 S15 S16
Dor de Ouvido 1
Dor na ATM 1
Dor de Cabeça 1 1
Ruído na ATM 1
Dor Muscular 1 1 1
Paciente 7 T1 T2 T3 T4 T5 T6 T7 T8
Sintoma S1 S2 S3 S4 S5 S6 S7 S8 S9 S10 S11 S12 S13 S14 S15 S16
Dor de Ouvido 1 1 1 1
Dor na ATM 1 1
Dor de Cabeça 1 1 1
Ruído na ATM 1
Dor Muscular 1 1 1 1
Paciente 8 T1 T2 T3 T4 T5
Sintoma S1 S2 S3 S4 S5 S6 S7 S8 S9 S10 S11 S12 S13 S14 S15 S16
Dor de Ouvido 1 1
Dor na ATM
Dor de Cabeça 1 1 1
Ruído na ATM
Dor Muscular 1 1
34
4.3 Análise dos resultados
4.3.1 Tendência de evolução dos sintomas dos pacien tes
O somatório dos sintomas dos pacientes, por semana, pode ser visto na
Tabela 3. No entanto, a ausência de regularidade nas seções gerou um gráfico de
tendência da evolução dos sintomas, ao longo das dezesseis semanas, com ruídos
que interferem na sua interpretação. Este efeito pode ser apreciado no Gráfico 1.
Neste gráfico, é possível notar os valores se alternando entre zero e um valor não
nulo.
Tal efeito poderia ser eliminado com a exclusão dos valores nulos da série de
dados. Contudo, o mais aconselhável consiste na suavização do comportamento da
tendência de evolução dos sintomas, através da normalização dos dados.
Tabela 3. Tendência de evolução dos sintomas (dados não normalizados).
Sintoma S1 S2 S3 S4 S5 S6 S7 S8 S9 S10 S11 S12 S13 S14 S15 S16
Dor de Ouvido 8 1 2 1 0 3 1 0 0 1 0 0 0 0 0 0 Dor na ATM 5 2 0 1 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 Dor de Cabeça 7 3 1 2 0 1 1 0 1 1 1 0 0 0 0 0 Ruído na ATM 5 1 0 2 0 1 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 Dor Muscular 7 3 2 5 2 1 3 1 2 1 1 0 0 0 0 0
35
0
1
2
3
4
5
6
7
8
9
1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 13 14 15 16
Semanas
Pac
ient
es c
om S
into
mas
Dor de Ouvido Dor na ATM Dor de Cabeça Ruído na ATM Dor Muscular
Gráfico 1. Tendência de evolução dos sintomas em resposta ao tratamento, em
valores não tratados.
4.3.2 Normalização dos dados
Para normalizar os dados de tendência de evolução dos sintomas dos
pacientes, estabeleceu-se um intervalo de três semanas a partir da data do início do
tratamento, representados por S1, S4, S7, S10, S13 e S16 (veja Tabela 1 e 2).
A normalização foi realizada com base no somatório dos registros de
sintomas, pelo período anteriormente estipulado, dividido pelo número total de
pacientes. Esta função de normalização pode ser assim descrita:
∑∑=
PS
N Onde:
=N Valor Normalizado
=∑S Somatório Sintomas
∑ =P Somatório Pacientes
36
O resultado da normalização pode ser visto na Tabela 4, com a devida
suavização da tendência de redução dos sintomas, conforme apresentado no
Gráfico 2.
Tabela 4. Tendência de evolução dos sintomas (dados normalizados).
Sintoma S1 S2 S3 S4 S5 S6 S7 S8 S9 S10 S11 S12 S13 S14 S15 S16
Dor de Ouvido 1,00 0,50 0,50 0,13 0,00 0,00 Dor na ATM 0,63 0,38 0,00 0,00 0,00 0,00 Dor de Cabeça 0,88 0,75 0,25 0,25 0,13 0,00 Ruído na ATM 0,63 0,38 0,13 0,00 0,00 0,00 Dor Muscular 0,88 1,25 0,75 0,50 0,13 0,00
0,00
0,20
0,40
0,60
0,80
1,00
1,20
1,40
1 2 3 4 5 6
Semana (Normalizada)
Sin
tom
as N
orm
aliz
ados
Dor de Ouvido Dor na ATM Dor de Cabeça Ruído na ATM Dor Muscular
Gráfico 2. Tendência de evolução dos sintomas em resposta ao tratamento, em
valores normalizados.
Ainda com base nos dados normalizados, gerou-se o gráfico de persistência
dos sintomas para a visualização clara daqueles que mais tempo levaram para
regredir (Tabela 5). Neste gráfico empregou-se o percentual de pacientes que
apresentou os sintomas, nas semanas padrão (Gráfico 3).
37
Tabela 5. Persistência de Sintomas por Semana Padrão (normalizados)
Sintoma S1 S2 S3 S4 S5 S6 S7 S8 S9 S10 S11 S12 S13 S14 S15 S16
Dor de Ouvido 100,0 12,5 12,5 12,5 0,0 0,0 Dor na ATM 62,5 12,5 0,0 0,0 0,0 0,0 Dor de Cabeça 87,5 25,0 12,5 12,5 0,0 0,0 Ruído na ATM 62,5 25,0 0,0 0,0 0,0 0,0 Dor Muscular 87,5 62,5 37,5 12,5 0,0 0,0
0,0
10,0
20,0
30,0
40,0
50,0
60,0
70,0
80,0
90,0
100,0
1 2 3 4 5 6
Semana Normalizada
% P
acie
ntes
Dor de Ouvido Dor na ATM Dor de Cabeça Ruído na ATM Dor Muscular
Gráfico 3. Persistência de Sintomas por Semana Padrão (normalizados).
38
5 DISCUSSÃO
Pacientes que sofrem de disfunção temporomandibular apresentam outros
sintomas simultaneamente a dor de ouvido, conforme os trabalhos de Rizzatti-
Barbosa et al. (1998), e Pascoal et al. (2001). Neste trabalho, esta característica
pode ser evidenciada nos dados na Tabela 5. Nela, 87,5% dos pacientes
apresentaram dor muscular e/ou dor de cabeça ao início do tratamento (S1), o que
se confirma com o trabalho de D’Antônio et al.(2000) e Guimarães et al.(2005), nos
quais a cefaléia foi a principal queixa nos pacientes com DTM. Dor e/ou ruído na
ATM, apesar de não se apresentarem no mesmo patamar, não podem ser
descartados, pois tem valores significativos, ocorrendo em 62,5% dos casos.
100,0
62,5
87,5
62,5
87,5
0,0
10,0
20,0
30,0
40,0
50,0
60,0
70,0
80,0
90,0
100,0
Dor deOuvido
Dor na ATM Dor deCabeça
Ruído naATM
Dor Muscular
Gráfico 4. Distribuição de Sintomas na S1.
A existência de diferente sintomatologia relacionada à DTM é salientada por
Felício et al.(2004), que confirmam esta característica com base em outros autores,
bem como nas evidências levantadas em seu trabalho. Diferentemente de Tuz et al.
39
(2003) e Giordani e Nóbilo (1995), que citam uma ou outra sintomatologia ocorrendo
simultaneamente, Felício et al.(2004) listam todas com potencial de ocorrência ao
mesmo tempo, concordando com o achado neste trabalho. No entanto, o autor não
possui um perfil de distribuição de freqüência por grupos de sintomatologia, como o
apresentado no Gráfico 1, impossibilitando assim uma comparação mais detalhada
com os valores achados neste trabalho.
Martins Filho et al. (2002) analisaram, durante oito semanas, a evolução da
persistência de dor de ouvido em 15 pacientes submetidos à desprogramação
neuromuscular com placa de Michigan na clínica de oclusão da Univali.
Considerando estes dados importantes para a discussão deste trabalho, buscou-se
desenvolver uma análise comparativa. Para tanto, foi necessário aplicar uma análise
de regressão com vistas à previsão estatística dos valores ausentes em ambas as
séries de dados, conforme apresentado na Tabela 6. A análise foi realizada com
base na normalização para ambos os conjuntos de dados, através da seguinte
função:
xbya −= e
∑∑
−−−
=2)(
))((
xx
yyxxb
Onde: x e y são as médias de amostra dos valores conhecidos.
Tabela 6. Análise de regressão (previsão) para ambas as séries de dados. Em amarelo encontram-se os dados reais; em branco aqueles obtidos através da análise.
Este TCC Martins Filho et al. (2002) S1 1,00 0,93
S2 0,78 0,67
S3 0,71 0,20
S4 0,50 0,13
S5 0,58 0,21
S6 0,52 0,08
S7 0,50 -0,05
S8 0,39 0,13
40
Quando foram comparados os achados deste trabalho com os de Martins
Filho et al. (2002), observou-se uma evolução semelhante nos resultados do
tratamento da DTM associada à otalgia (Gráfico 5). Em ambos houve um declínio
contínuo da sintomatologia dolorosa, observando-se desde a primeira semana do
uso do aparelho de Michigan redução ou desaparecimento dos sintomas otológicos.
No trabalho de Martins Filho et al. (2002), após oito semanas de uso do aparelho de
Michigan, 86,6% dos pacientes tratados apresentavam-se sem dor no ouvido e
região circunjacente. Neste trabalho, foram 100% dos pacientes tratados. Ficou
evidenciada, desta maneira, uma significativa relação entre interferência oclusal e
dor de ouvido.
-0,20
0,00
0,20
0,40
0,60
0,80
1,00
1 2 3 4 5 6 7 8
Este TCC Martins Filho et al. (2002)
Gráfico 5. Comparação ente a persistência de dor de ouvido, por dados normalizados por semana, entre os resultados obtidos por este TCC e aqueles
obtidos por Martins Filho et al. (2002).
41
Foram observadas, nos pacientes que participaram deste estudo, alterações
quanto à resposta no seu quadro álgico variando conforme situações de estresse.
Fatores psicológicos devem ser considerados quando se trata de pacientes com
casos crônicos de DTM. No entanto, é difícil quantificar este estado observando que
o limiar de dor é diferente para cada indivíduo.
As alterações do humor, ansiedade e depressão são comuns em pacientes
com disfunções crônicas, contribuindo para a instalação e evolução do quadro
álgico. Sintomas físicos comuns são exacerbados em situações de estresse, assim
como cefaléia, bruxismo, fadiga muscular, dano tecidual e dor (SIQUEIRA,
TEIXEIRA, 2001; GIORDANI, NÓBILO, 1995; SERAIDARIAN et al., 2005; FELÍCIO
et al., 2004; OLIVEIRA et al., 2003).
De acordo com a síndrome Excessive Somatic Concern (ESC), as situações
de estresse são as principais causas da sintomatologia (PARKER, CHOLE, 1995;
SERAIDARIAN et al., 2005). Esta síndrome está relacionada com o estresse
emocional vivido por pacientes com DTM, que pode exacerbar sintomas
relacionados com o ouvido. Este trabalho não apresenta condições de confirmar
esta teoria, pois seria necessário um estudo mais aprofundado sobre a questão. No
entanto, em três casos foi evidente a interferência de fatores psicológicos no retorno
de sintomas que já haviam desaparecido. Para isso, foram fundamentais, durante
cada seção, as entrevistas com as pacientes.
A dor muscular mostrou-se mais persistente do que os outros sintomas, isto
se deve ao fato de que a desprogramação vai ocorrendo gradualmente. A dor
muscular é proveniente de hiperatividade do tecido muscular, que se torna
comprometido, à medida que o número e a duração das contrações aumentam,
desta maneira também aumentam as necessidades fisiológicas destes tecidos. Com
42
a tonicidade muscular aumentada, pode haver diminuição do fluxo sanguíneo na
área, com acúmulo de catabólitos. Este acúmulo pode causar a dor. No caso da
ATM, ocorre compressão principalmente na região posterior, ou zona bilaminar.
Quando há disfunção temporomandibular, há o tracionamento do disco articular e
anteriorização do mesmo sendo que a mandíbula não consegue atingir sua posição
fisiológica (atingidas tanto na abertura como na deglutição) causando a fadiga da
musculatura (MARTINS FILHO, ALMEIDA, 2002).
Desta maneira, quando a ATM assume uma posição mais fisiológica, ela
permite que as estruturas a sua volta possam recuperar sua posição e função,
conseqüentemente reduzindo a dor. Como conseqüência deste processo, deve-se
observar que à medida que a disfunção muscular e da ATM vai sendo reduzida, a
mandíbula vai se ajustando à posição desejada, devendo a superfície do aparelho
de Michigan ser ajustada a sua nova posição (OKESON, 1998).
A desprogramação mostrou-se muito eficiente, considerando a redução da
sintomatologia dolorosa a partir da primeira semana de uso, na maioria dos casos,
salvo os que o aparelho ainda não estava bem ajustado. Tal comportamento
também foi achado em trabalhos de outros autores, como Giordani e Nóbilo (1995),
Martins Filho et al. (2002), Saueressig et al.(2003) e Guimarães et al.(2005).
As pacientes relataram sentir o relaxamento da musculatura da região do
ouvido e estruturas adjacentes. Como a placa produziu diminuição dos sintomas, em
quadros crônicos, já na primeira semana de uso, ficou evidente sua relação com o
tratamento. Houve casos de quadros crônicos onde os sintomas desapareceram por
alguns dias e, mesmo quando voltavam, apresentavam-se com menor intensidade.
43
6 CONCLUSÃO E CONSIDERAÇÕES FINAIS
Os tratamentos conduzidos na clínica de oclusão da Univali, como parte deste
trabalho de pesquisa, demonstraram a eficácia da desprogramação neuromuscular
com o aparelho de Michigan. Apesar de não ser possível generalizar os resultados
para a população, devido ao reduzido número de pacientes que participaram da
casuística, os sintomas otomandibulares identificados e relacionados ao fator oclusal
reduziram, rapidamente, conforme a literatura associada ao tema.
A dor de ouvido, sintoma presente em 100% dos pacientes selecionados
desapareceu em cerca de 90% destes já na primeira semana de uso do aparelho,
comprovando, assim, a estreita relação entre otalgia e DTM. Assim, a presença
deste tipo de sintoma deve ser vista como um indicativo desta disfunção. Sua
ausência, entretanto, não descarta a presença da DTM. Neste sentido, sugere-se
que sejam conduzidos estudos específicos para quadros sintomáticos de DTM em
que a otalgia esteja ausente.
Aconselha-se a condução de pesquisas quantitativas visando elucidar as
relações entre otalgia e DTM. A presença de diversos sintomas, simultaneamente,
como os encontrados neste trabalho, confunde tanto o paciente quanto o clínico. Daí
a importância de um enfoque multidisciplinar no estudo, possivelmente, a formulação
de novos procedimentos no tratamento de casos de DTM, ou seja, de tratamentos
envolvendo médicos, fisioterapeutas, dentistas, fonoaudiólogos, psicólogos.
Finalmente, sugere-se que sejam conduzidos estudos mais conclusivos sobre
a maior ocorrência de DTM em mulheres. Um estudo que requer a participação da
comunidade médica na identificação dos potenciais pacientes.
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47
ANEXO 1. Dados do Prontuário da Clínica de Oclusão
NOME DO ALUNO: 01. IDENTIFICAÇÃO DO PACIENTE NOME: PRONTUÁRIO: IDADE: SEXO: ESTADO CIVIL: 02. ENDEREÇO RUA: NÚMERO: CIDADE: BAIRRO: ESTADO: CEP: FONE: PROFISSÃO: 03. PROCEDÊNCIA DO PACIENTE 04. MOTIVO DA CONSULTA 05. HISTÓRIA CLÍNICA DO PACIENTE 06. ANAMNESE 07. EXAME CLÍNICO 08. AVALIAÇÃO OCLUSAL 09. EXAMES COMPLEMENTARES 10. DIAGNÓSTICO 11. PLANO DE TRATAMENTO 12. PROCEDIMENTOS REALIZADOS