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UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO
ESCOLA DE ENGENHARIA DE SÃO CARLOS
VINÍCIUS BASSO MANZATTI
Fadiga Termo Mecânica segundo a norma ASTM E 2368: Inconel 718
São Carlos
2017
VINÍCIUS BASSO MANZATTI
Fadiga Termo Mecânica segundo a norma ASTM E 2368: Inconel 718
Monografia apresentada ao Curso de
Engenharia de Materiais e Manufatura, da
Escola de Engenharia de São Carlos da
Universidade de São Paulo, como parte dos
requisitos para obtenção do título de
Engenheiro de Materiais.
Orientador: Prof. Dr. Waldek Wladimir Bose
Filho
VERSÃO CORRIGIDA
São Carlos
2017
DEDICATÓRIA
Dedico este trabalho aos alunos de
Engenharia de Materiais e
Manufatura, futuros engenheiros
com capacidades de promover
grandes avanços ao país, e aos
professores deste departamento, e
da vida.
AGRADECIMENTOS
Ao Prof. Dr. Waldek, que muito me ensinou contribuindo para o meu crescimento
científico e para elaboração deste trabalho.
Ao Márcio Henrique, Douglas Bon e todos os participantes do NEMAF, pela ajuda e
contribuição para entendimento da parte técnica, elaboração dos ensaios e disponibilidade no
laboratório.
Aos meus amigos, por estarem ao meu lado durante os ensinamentos da universidade
e, principalmente, da vida.
A minha namorada, por me proporcionar grandes momentos em minha vida nos
últimos tempos.
Aos meus familiares, por estarem, desde o começo, me instruindo da melhor forma
possível, por me darem uma oportunidade de crescer na vida e por sempre acreditarem no
meu potencial.
RESUMO
MANZATTI, V. B. Fadiga Termo Mecânica segundo a norma ASTM E 2368: Inconel
718. 2017. 198 f. Monografia (Trabalho de Conclusão de Curso) – Escola de Engenharia de
São Carlos, Universidade de São Paulo, São Carlos, 2017.
O ensaio de Fadiga Termomecânica é caracterizado pela aplicação independente e
simultânea de ciclos de deformação e temperatura, ambos dependentes do tempo, para
caracterização da resistência de materiais de componentes que trabalhem em condições onde
ciclos térmicos e mecânicos estão presentes, seja este último oriundo de tensões externas ou
internas. A ASTM é uma organização responsável pelo desenvolvimento de normas de
ensaios, sendo que o comitê de Mecânica da Fratura e Fadiga é o responsável pelo
desenvolvimento e atualização das normas referentes aos ensaios mecânicos de tenacidade à
fratura e fadiga. Recentemente este comitê está revisando a norma ASTM E 2368 e realizou
um “Round Robin test”, onde o NEMAF participou. Sendo assim, o objetivo desse trabalho é
o de abordar as dificuldades da aplicação da norma ASTM E 2368 para realização dos ensaios
de fadiga termomecânica, bem como avaliar os resultados obtidos para o material Inconel
718, nas condições especificadas pela ASTM. Os ensaios de fadiga termomecânica (FTM),
foram realizados, em corpos de prova sólidos, de secção circular, com carregamentos axiais,
forma de onda triangular, na condição fora de fase (FF), nas temperaturas entre 316 a 677 oC,
com aplicação de deformação 1% mecânica, em corpos de prova de Inconel 718 fornecidos
pela ASTM. Os conhecimentos necessários foram teorias de deformação elástica e plástica,
aliadas as propriedades intrínsecas da liga utilizada, assim determinando as deformações
impostas na amostra, segundo a variação de temperatura. Para as condições de ensaio
utilizadas aqui, foi observada uma vida em fadiga termomecânica para esta liga. As
dificuldades de aplicação da norma e os resultados obtidos para a liga Inconel 718 são
discutidos em detalhes neste trabalho. Apesar de duas falhas elétricas em CPs, outros dois
foram fraturados, sendo um deles usado como calibração. A vida obtida pelo CP não alterado
foi de aproximadamente 5500 ciclos e tensões de tração 900 MPa e 600 MPa de compressão,
demonstrado pelos gráficos de tensões e histereses, evidenciando a utilização do material em
condições tão severas quanto ensaios FTM.
Palavras-chave: Fadiga Termomecânica. Inconel 718. Carregamento triangular. Fora de fase.
ABSTRACT
MANZATTI, V. B. Thermomechanical Fatigue according to the norm ASTM E 2368:
Inconel 718. 2017. 198 f. Monografia (Trabalho de Conclusão de Curso) – Escola de
Engenharia de São Carlos, Universidade de São Paulo, São Carlos, 2017.
The Thermomechanical Fatigue is characterized for the appliance of independents and
simultaneously cicles of mechanical deformation and temperature, where both are depedents
to time, to analyse the material resistance working under mechanical and temperature cycles,
where the latter can be from inside or outside load. ASTM is a organization responsible for
developing norms of testings, being that the Fracture and Creep Mechanical Comittee is the
responsible to develop and update norms for mechanical tests. Recently, this comittee is
updating the ASTM E 2368 norm, establishing a “Round Robin test”, with the participation of
NEMAF. Therefore, the objective of this work is to approach the dificulties to apply the
ASTM E 2368 norm for tests of thermomechanical fatigue, as well as evaluate the results got
for the Inconel 718 material, under the conditions specified from ASTM. The
thermomechanical fatigue tests were done on solid, circular section, samples, with triangular
axial loadings under out of phase condition, between the temperatures of 316 and 677 oC, 1%
mechanical deformation, on Inconel 718 samples, given by ASTM. The knowledge needed
was theory of elastic and plastic deformation, together with material properties, thus
establishing the imposed deformations on the sample, according to the temperature variation.
For the test conditions, it was observed a thermomechanical fatigue life for the Inconel 718.
The difficulties for the application of the given norm and the results obtained are discussed in
this work. Even with two eletrical failures on the samples, another two samples were
sucessfully fractured, with one of them used for calibrations. The life obtained by the
untouched sample was approximately 5500 cycles, with stress of 900 MPa tension and 600
MPa compression, shown in the graphics of stress and hysteresis, evidencing the usage of
Inconel in severe conditions such as Thermomechanical Fatigue.
Keywords: Thermomechanical Fatigue. Inconel 718. Triangular load. Out of phase..
LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS
Elemento opcional. É composto de uma relação alfabética das abreviaturas e siglas utilizadas
no texto seguido do seu significado.
ASTM – American Society for Testing and Materials
α – Coeficiente de dilatação térmica linear
COD – Clip Opening Displacement
CP – Corpo-de-prova
FAC – Fadiga de Alto Ciclo
FBC – Fadiga de Baixo Ciclo
FI – Fadiga Isotérmica
FT – Fadiga de deformação térmica
FTM – Fadiga Termomecânica
NEMAF – Núcleo de Ensaios Mecânicos e Análises de Falha
SUMÁRIO
1 INTRODUÇÃO............................................................................................................. 21
2 OBJETIVOS.................................................................................................................. 23
2.1 Justificativa.................................................................................................................. 23
3 REVISÃO DA LITERATURA...................................................................................... 25
3.1 Superligas Metálicas................................................................................................... 25
3.2 Inconel 718................................................................................................................. 26
3.3 Fadiga e Fadiga Termomecânica................................................................................ 28
3.4 Cargas em componentes aeronáuticos........................................................................ 32
3.5 Norma ASTM E-2368................................................................................................ 33
4 MATERIAIS E MÉTODOS.......................................................................................... 35
4.1 Material...................................................................................................................... 35
4.2 Métodos...................................................................................................................... 36
4.2.1 Preparação do Corpo-de-prova................................................................................ 36
4.3 Equipamentos............................................................................................................. 38
4.4 Procedimentos do ensaio FTM................................................................................... 40
5 RESULTADOS E DISCUSSÃO.................................................................................. 45
5.1 Ensaios FTM: Norma ASTM E 2358......................................................................... 45
5.1.1 Testes de Temperatura.............................................................................................. 47
5.1.2 Módulo Elástico........................................................................................................ 48
5.1.3 Ciclo Térmico em Força 0........................................................................................ 52
5.1.4 Fadiga Termomecânica: Inconel 718........................................................................ 55
6 CONCLUSÃO............................................................................................................... 65
7 SUGESTÕES PARA TRABALHOS FUTUROS......................................................... 67
REFERÊNCIAS............................................................................................................. 69
21
1. INTRODUÇÃO
Os componentes aeronáuticos são comumente titulados como materiais de altas
resistências, muito exigidos em suas atuações, devido à complexidade de engenharia
envolvida, além dos riscos que uma falha pode causar. Nas turbinas de aviões, as temperaturas
de trabalho são muito elevadas, além de ocorrer várias alterações cíclicas de temperatura e
carga, devido ao regime e ao ambiente que a aeronave se encontra, promovendo falhas
estruturais em seus materiais. Esse fenômeno tem o nome de Fadiga Termo Mecânica (FTM)
(JACOBSSON, 2009; WANG, 2016).
Quando a aeronave se encontra sob carga mecânica elevada, a temperatura pode
atingir um valor próximo a 800°C. Nesses casos, é necessário um estudo e utilização de
materiais de alta resistência mecânica em situações de temperaturas elevadas. As superligas
de níquel são um exemplo de materiais resistentes a essas situações (POPE, 1996).
Como as ligas Inconel são conhecidas pela estabilidade microestrutural em altas
temperaturas, foram amplamente estudadas para utilização em aeronaves (SILVA, 2017).
Com o estudo da American Standard for Testing and Materials, ASTM, em atualizar a norma
ASTM E 2368, conciliou-se a disposição dos CPs de Inconel 718 para analisar o
comportamento da liga em regimes de FTM fora de fase, onde os maiores carregamentos
mecânicos estão opostos as deformações térmicas, no sentido axial. Esse tipo de fadiga é
conhecido pela falha do CP em quantia baixa de ciclos (KANESUND, 2011).
Os estudos foram realizados no Núcleo de Ensaios Mecânicos e Análises de Falhas
(NEMAF), do Departamento de Engenharia de Materiais e Manufatura da Universidade de
São Paulo, na Escola de Engenharia de São Carlos, como parte de um programa de ensaios da
ASTM, denominado de “Round Robin Testing”, com a participação de vários laboratórios
internacionais, variando algumas geometrias de CP, para análise e comparação dos resultados
e assim, proporcionar os conhecimentos necessários para atualização da norma ASTM E 2368
(ASTM ILS 20: E-2368, 2015).
22
23
2. OBJETIVOS
Os objetivos deste trabalho são estudar os efeitos de um ensaio de FTM fora de fase,
em uma liga de Inconel 718, fornecendo informações e conhecimentos sobre a aplicabilidade
da Norma ASTM E 2368. Este estudo faz parte de uma ação internacional onde diferentes
corpos de prova e sistemas de ensaios de fadiga termomecânica, prevendo as vidas de
componentes e estudar as deformações obtidas durante o ensaio e as propriedades do Inconel
718.
2.1 Justificativa
Os ensaios de FTM são de difícil execução por serem complexos envolvendo a
aplicação independente de ciclos térmicos e mecânicos. Assim, não são tratados durante o
curso de graduação, sendo mais estudado durante o desenvolvimento de pesquisa na pós-
graduação. Da mesma forma, as superligas de níquel são brevemente introduzidas na
graduação, devido ao seu custo mais elevado e aplicações muito específicas, como casos em
que temperaturas e cargas mecânicas são requisitos de projetos, ou ainda, em meios muito
corrosivos. Assim, este projeto possibilitou trabalhar em uma pesquisa onde diferentes áreas
de conhecimento estão presentes, ou seja, materiais, projeto e desenvolvimento de ensaios
mecânicos complexos, observando as dificuldades da aplicabilidade da norma ASTM E 2368.
Com relação ao material, observa-se a partir da literatura que apesar da alta resistência
e estabilidade do Inconel 718 a temperaturas elevadas, o ensaio de FTM pode levar a falha de
componentes em quantidade baixas de ciclos, devido as diferenças de temperatura e cargas
mecânicas (ESMAEILZADEH, 2017). Quanto da sua aplicação em componentes
aeronáuticos de alta responsabilidade técnica, como em motores das turbinas, a ocorrência de
uma falha do material pode acarretar uma falha catastrófica, levando assim a ensaios
complexos na tentativa da simulação das condições de serviço, onde temperatura e
carregamentos mecânicos cíclicos estão presentes. Dessa maneira, as superligas de níquel são
especialmente utilizadas nesses casos, devido as suas excelentes propriedades mecânicas em
temperaturas elevadas (MARCHAND, 1988).
24
25
3. REVISÃO DA LITERATURA
3.1 Superligas Metálicas
Superligas metálicas são ligas resistentes a calor, frequentemente ultrapassando
500°C. Geralmente são constituídas de ligas de níquel, ferro-níquel e cobalto. Algumas
superligas podem estar sujeitas a temperatura de até 85% da temperatura de fusão, sendo
necessárias alta resistência mecânica, à fadiga e à fluência, alta resistência à corrosão e
períodos extensos sob altas temperaturas. Essas características não são encontradas em outras
ligas metálicas (CAMPBELL, 2006)
As utilizações das superligas são variadas, podendo atuar em componentes
aeronáuticos, foguetes, turbinas de usinas térmicas, equipamentos de processamento metálico,
plantas petroquímicas e aplicações médicas (CAMPBELL, 2006; SUN, 2014).
Algumas superligas são produzidas por forjamento, fundição e metalurgia do pó, onde
podem ser endurecidas por soluções sólidas ou por precipitação (CAMPBELL, 2006).
Ligas de ferro contém altos níveis de níquel para estabilizar a austenita, cromo para
proteção a corrosão e outros elementos, como nióbio, titânio e alumínio, para realizar o
endurecimento por precipitação. Elementos refratários também são adicionados para
endurecimento por solução sólida, além de promover resistência a fluência (POPE, 1996).
Ligas de cobalto são endurecidas por solução sólida. Como possuem um ponto de
fusão maior, são utilizadas em faixas de temperaturas maiores que as ligas de níquel e ferro,
além de serem mais resistentes a corrosão, melhores em fadiga termomecânica e mais
usináveis e soldáveis, facilitando o seu uso (POPE, 1996).
Ligas de níquel são endurecidas por precipitação de nióbio, alumínio e titânio, na
matriz de níquel. Carbetos e boretos são utilizados para fortalecer os contornos de grãos, além
da adição de elementos refratários para soluções sólidas para endurecimento (POPE, 1996).
A tabela 1 demonstra algumas utilizações para as superligas.
26
Tabela 1 – Utilizações de superligas
Fonte – Adaptado de POPE, 1996
3.2 Inconel 718
Uma variedade de superligas de níquel é utilizada para resistência a corrosão e
temperatura. São comumente chamadas pelo seu nome comercial. Inconel e Hastelloy são
exemplos clássicos desse caso, que pode gerar confusão, uma vez que podem se tratar do
mesmo material (FLITNEY, 2007).
O Inconel 718, também conhecido por Alloy 718 e Haynes 718 é uma liga com grande
quantidade de níquel e cromo, com considerável quantidade de ferro, possuindo alta
resistência a corrosão e estabilidade térmica (FLITNEY, 2007).
Essa superliga é considerada a mais importante comercialmente. Tradicionalmente
classificada como liga de ferro-níquel, também é encontrada na classificação de liga de
níquel, uma vez que sua quantia de níquel é grande e maior que a de ferro. A utilização da liga
é exemplificada na figura 1, no motor General Electric CF6 (CAMPBELL, 2006).
Ligas ForjadasHASTELLOY W Manutenção e reparos de motores de aviõesHASTELLOY X Componentes de câmara de combustãoHAYNES 188 Componentes aéreos, marionhos e turbinasHAYNES 214 Lacres industriais em situação de temperatura elevadaHAYNES 230IN 625IN 718Waspaloy
Ligas FundidasAlloy 713IN 100IN 738Mar M 247Mar M 509X 40
Câmaras de cumbustão e componentes de processamento químico
Componentes de turbinas
Hélices e palhetas de turbinas
27
Figura 1 – Composição do motor CF6 da General Electric
Fonte – Adaptado de CAMPBELL, 2006
A matriz de níquel possui uma estrutura cristalina CFC, designada como austenita (γ),
possui uma grande quantia de elementos de solução sólida como ferro, cromo, cobalto,
molibdênio, tungstênio, titânio e alumínio. Tanto o alumínio quanto o titânio são atuantes nas
soluções sólidas e no endurecimento por precipitação (SHREIR, 1994).
O principal precipitado no Inconel 718 é a fase γ’ Ni3(Al, Ti). Essa fase é precipitada
por tratamentos térmicos e envelhecimento. Cobalto também pode entrar no lugar do níquel
nesse precipitado. O precipitado γ’ possui uma alta estabilidade com a matriz γ, mesmo em
altas temperaturas. Como o grau de ordenação do precipitado aumenta com o incremento de
temperatura, ligas com grande quantia de precipitado se tornam mais resistentes
mecanicamente. (CAMPBELL, 2006).
Como o Inconel 718 possui nióbio em sua composição, a estrutura tetragonal de corpo
centrado (TCC) da fase precipitada γ’’ Ni3Nb pode ser formada, atuando no fortalecimento
por precipitação, além de fases Ni3Ti e Ni3Nb, auxiliando no controle estrutural no processo
de forjamento. Essa fase precipita entre as temperaturas de 700 a 900°C (CAMPBELL, 2006).
O Inconel 718 não é recomendado a utilização em temperaturas acima de 650°C,
devido à baixa estabilidade da fase γ’’ quando comparada a fase γ’. Acima dessa temperatura,
o material começa a perder sua resistência mecânica (CAMPBELL, 2006; SHARMAN,
2015), onde pode começar a ocorrer precipitação de fase δ Ni3Nb, de geometria ortorrômbica,
causando degradação na resistência a corrosão e nas propriedades mecânicas (ITURBE, 2017)
28
A quantidade de carbono no material pode formar carbetos na matriz e nos contornos
de grãos. O fortalecimento dos contornos se deve principalmente a precipitação de cromo e
carbetos refratários, onde a adição de zircônio e boro melhoram a morfologia e estabilidade
dos carbetos (CAMPBELL, 2006).
Os carbetos evitam ou reduzem os deslizamentos de contornos de grãos, permitindo o
alivio de tensões, além de ajudar na estabilidade de elementos que possam causar
instabilidade de fases durante os carregamentos. Se respeitado a quantia correta de carbetos,
eles atuarão na resistência em altas temperaturas, ductilidade e resistência a fluência. Esses
carbetos são de composição de titânio, tântalo, nióbio e tungstênio (CAMPBELL, 2006). Na
tabela 2, observam-se várias propriedades mecânicas do Inconel 718, para o caso fundido.
Tabela 2 – Propriedades mecânicas do Inconel 718
Fonte – Adaptado de GALE, 2008
3.3 Fadiga e Fadiga Termomecânica
O fenômeno de fadiga ocorre quando um material está sujeito a cargas cíclicas em
dependência do tempo. É possível analisar os dados obtidos pelos ensaios de fadiga,
observando o crescimento de trincas. Dessa forma, pode-se dar início a estudos de previsão de
vida em fadiga de componentes que estarão sujeitos a cargas cíclicas (DOWLING, 2007). A
figura 2 ilustra um ensaio de fadiga.
Composição Endurecimento Temperatura (°C) Limite de Tensão de Deformação (%)Nominal (%) Escoamento (MPa) Ruptura (MPa)Ni - 52,5 Precipitação 20 1180 1350 17Cr - 19,0 200 1100 1280 16Fe - 18,8 400 1080 1240 13Nb - 5,2 600 960 1160 16Mo - 3,1 800 720 760 8Ti - 0,9Al - 0,5
29
Figura 2 – Esquematização de carregamento em fadiga
Fonte – Adaptado de DOWLING, 2008
O estudo de fadiga é de extrema importância no entendimento de falhas de
componentes sujeitos a carregamentos cíclicos. Estima-se que 61% de falhas em aeronaves
sejam por fadiga, junto de 18% de falhas por sobrecarga, 8% por corrosão sob tensão, 7% de
desgaste excessivo, 5% de oxidação em altas temperaturas e 1% por limite ruptura
(FERREIRA, 2017)
O processo de fadiga pode ser classificado em:
• Fadiga de Alto Ciclo (FAC)
• Fadiga de Baixo Ciclo (FBC)
• Fadiga Termomecânica (FTM)
Como o nome já diz, FAC e FBC estão relacionadas à quantidade de ciclos necessária
para a falha do CP. Geralmente, FAC está associada a tensões menores e baixa amplitude de
deformação, ultrapassando a vida de 104 ciclos. FBC excede os valores de deformação
elástica, atingindo o patamar de deformação plástica, diminuindo drasticamente a vida do CP,
abaixo de 104 ciclos (DOWLING, 2007).
Algumas vezes, a FTM é considerada uma FBC, uma vez que a quantidade de ciclos
para romper o CP é baixa, provocada pela presença de deformações plásticas durante o ensaio
(FERREIRA, 2017).
A falha por FTM se dá quando a deformação não pode ser acomodada a baixas
temperaturas, junto de efeitos de fluência e oxidação em altas temperaturas. Os ciclos
mecânicos e térmicos podem ser independentes entre si (KANESUND, 2011).
A FTM pode ser classificada em dois tipos:
30
• Em fase
• Fora de fase
A FTM em fase se dá quando os ciclos de temperatura e mecânicos estão em fase, ou
seja, quando ocorre a carga máxima mecânica, ocorre também a carga máxima térmica. O
ângulo de mudança de fase Φ é de 0 (ASTM E 2368, 2004).
Para a FTM fora de fase, os ciclos mecânicos estão fora de fase com os ciclos
térmicos, ou seja, quando ocorre a carga máxima mecânica, ocorre a menor carga térmica. O
ângulo Φ é de 180° (ASTM E 2368, 2004).
Quando o CP está sujeito a FTM em fase, sofre relaxação da fluência em tração
quando está em alta temperatura, causando deformação plástica em compressão em baixa
temperatura. Para o caso de FTM fora de fase, o inverso acontece, relaxação em compressão
sob alta temperatura e deformação plástica em tração para baixa temperatura (KANESUND,
2011). A figura 3 mostra os gráficos ilustrativos de temperatura e carga mecânica em relação
ao número de ciclos.
31
Figura 3 – Ilustração dos carregamentos em FTM em fase (a) e fora de fase (b)
Fonte – Adaptado de ASTM E 2368, 2004
Para os casos onde o CP está sujeito a tensões que se desenvolvem sem restrições na
deformação térmica, utiliza-se o termo fadiga de deformação térmica (FT) (FERREIRA,
2017). Também é possível observar a Fadiga Isotérmica (FI), cíclica sob aplicação de tensão
com temperatura constante. A FTM é considerada mais grave, uma vez que o gradiente de
32
temperatura, provocando dilatações lineares, pode gerar concentradores de tensão, devido a
transformação da deformação térmica em mecânica, danificando a estrutura (FERREIRA,
2017)
3.4 Cargas em componentes aeronáuticos
Superligas são os principais materiais utilizados em situações de alta temperatura de
turbinas a jato, como as aletas e câmaras de combustão, constituindo até 50% do peso do
motor. A figura 4 ilustra as utilizações em motores a jato.
Figura 4 – Componentes em turbinas a jato aeronáuticas
Fonte – Adaptado de CAMPBELL, 2006
Em aplicações de turbinas a jato, é possível separar em materiais de grandes grãos
fundidos, escolhidos para situações de fluência, e grãos pequenos, para casos de fadiga
(CAMPBELL, 2006)
As ligas de níquel são amplamente utilizadas na indústria aeronáutica devido a elevada
resistência corrosiva e fluência a altas temperaturas, mantendo as propriedades mecânicas em
faixas de temperaturas elevadas (ITURBE, 2017).
33
Solidificação direcionada e monocristais em superligas de níquel foram desenvolvidas
para melhorar as resistências a fluência e fadiga térmica em turbinas aeronáuticas, sendo
utilizadas também em turbinas para geração de energia (CAMPBELL, 2006). A figura 5
mostra um gráfico de resistência a fluência de características das estruturas cristalinas.
Figura 5 – Resistencia a fluência baseado em características cristalinas
Fonte – Adaptado de CAMPBELL, 2006
Durante o funcionamento de turbinas, inúmeros componentes estão sujeitos a
carregamentos dependentes do tempo que são originados de forças externas e do gradiente de
temperatura de ligamento e desligamento do motor, podendo gerar o fenômeno de FTM
(KANESUND, 2011).
3.5 Norma ASTM E 2368
A norma ASTM E 2368 corresponde à padronização de ensaios de FTM, com controle
de deformação. A temperatura e a deformação são controladas de forma independente. Assim
é possível elaborar ciclos de carregamentos térmicos e mecânicos, auxiliando no estudo e
desenvolvimento de novos materiais e na performance de componentes (ASTM E 2368,
2004).
34
35
4. MATERIAIS E MÉTODOS
Para melhor entendimento e visualização das atividades desenvolvidas, um
fluxograma está apresentado na figura 6.
Figura 6 – Fluxograma de atividades para realização do ensaio FTM
Fonte - Autor
4.1 Material
Para realização do trabalho, foram utilizados 4 CPs de superliga de níquel Inconel 718,
numerados de 61 a 64. Para redução ao mínimo de fatores relativos a preparação dos corpos
de prova, estes foram cedidos pela ASTM na sua geometria final, conforme desenho de corpo
de prova previamente enviado a ASTM, uma vez que o trabalho é em conjunto com dezenas
de outros laboratórios ao redor do mundo, com o objetivo de atualizar a norma ASTM E
2368. Como os CPs já estavam usinados na chegada ao NEMAF, foram necessários somente
os preparativos para o ensaio de FTM. Os CPs estavam usinados conforme a norma ASTM
E8M/14, demonstrado pela figura 7, para atender aos requisitos do trabalho. A tabela 3
demonstra os valores do diâmetro da seção útil e o comprimento do CP, solicitados pela
ASTM.
36
Figura 7 – Desenho 2D do padrão de corpo de prova para ensaios FTM
Fonte - ASTM E8M/14
Tabela 3 – Comprimento e diâmetro dos CPs
Fonte - Autor
4.2 Métodos
4.2.1 Preparação do Corpo-de-prova
Os 4 CPs necessitaram ser pintados de preto, uma vez que o brilho reflexivo do
material analisado poderia comprometer as medições de temperatura do pirômetro ótico,
causando diferenças de temperatura durante o ensaio.
Um dos CPs (CP 63) foi selecionado para calibrações no ensaio. Para uma melhor
exatidão na aquisição da temperatura correta, ao CP 63 foi soldado 2 termopares do tipo K
(Crhomel-Alumel), próximos a região de contato do extensômetro, seguindo a ilustração da
figura 8. Na figura 8 e na tabela 4 é possível observar que a diferença de temperatura nas duas
regiões foi mínima, mantendo uma homogeneidade durante toda a seção útil do CP para as
temperaturas de trabalho de 316°C e 677°C. Porém, essa homogeneidade não pode ser
considerada suficiente para atender os requisitos solicitados pela ASTM, que é a diferença de
no máximo 3°C na seção útil do CP. Pelo gráfico da figura 9, a diferença pode chegar a 7°C.
O que pode ter dificultado a homogeneização da temperatura é o pequeno comprimento que o
CP 61 CP 62 CP 63 CP 64 MÉDIA D.P.
Comprimento Seção Útil(mm) 15,1 15 14,8 15 14,98 0,125831
Diâmetro Seção Útil(mm) 6,3 6,2 6,6 6,5 6,4 0,182574
37
CP possui, impossibilitando um melhoramento na disposição da bobina de indução. Um
melhor método e controle da refrigeração também alterariam de forma positiva os resultados.
Figura 8 – Desenho 2D ilustrando as posições de termopares utilizados
Fonte – Autor
Figura 9 – Gráfico de diferenças de temperatura entre os termopares em um ciclo térmico
Fonte – Autor
-12
-9
-6
-3
0
3
6
9
12
15
0 20 40 60 80 100 120 140 160 180
Tem
pe
ratu
ra (
°C)
Tempo (s)
Diferença de Temperatura - Termopares
Delta T
38
Tabela 4 – Temperaturas obtidas pelos termopares nos limites máximo e mínimo
Fonte - Autor
4.3 Equipamentos
A montagem do sistema de ensaio de FTM podem ser visualizados na figura 10, onde
se discrimina: as bobinas de aquecimento de cobre com filamento tubular, com diâmetro
externo de 5mm; garras refrigeradas a água para manutenção da temperatura fora da seção útil
em temperatura baixa; tubo de ventilação para manutenção da temperatura na seção útil e para
resfriamento do CP; pirômetro ótico para controle de temperatura; extensômetro com hastes
cerâmicas para utilização em altas temperaturas.
Ciclo Temperatura Cima Temperatura Baixo1 317,955 317,3972 319,040 316,3203 315,679 317,505
MÉDIA 317,558 317,074D.P. 1,715309593 0,655212179
Ciclo Temperatura Cima Temperatura Baixo1 678,527 675,2682 679,611 678,5013 677,847 677,100
MÉDIA 678,662 676,956D.P. 0,889677095 1,621281078
316 °C
677 °C
39
Figura 10 – Equipamentos utilizados, evidenciando o extensômetro (A), pirômetro (B) e tubo de
refrigeração (C) do CP
Fonte – Autor
Para o aquecimento do sistema, utilizou-se um forno de indução INDUCTOHEAT de
200 kHz de frequência e 7,5 kW de potência com conexão ao controlador de temperatura
programável da marca EUROTHERM.
O extensômetro utilizado na aquisição do deslocamento axial, da marca MTS modelo
632.54F-14, foi desenvolvido para suportar temperaturas de até 1200°C com hastes cerâmicas
e comprimento útil de 12mm. A deformação de referência escolhida foi a temperatura de
21°C, “zerando” a abertura COD do extensômetro.
Para o controle de temperatura utilizou-se um pirômetro ótico infravermelho
RAYTEK, modelo RAYSXSMTCF1L2, calibrado para trabalhar entre 200°C e 1000°C,
atendendo a faixa de 316°C a 677°C utilizada no ensaio.
Também foi utilizado uma máquina de carregamento axial, com célula de 100kN de
carga, um sistema para refrigeração do sistema de ensaio e uma câmera infravermelho para
visualização da transferência de calor para o CP.
Todo o monitoramento e controle de deslocamento, paradas, cargas mecânicas,
variações de temperatura e sistemas de segurança foram feitos por um programa
computadorizado Multiple Purpose Testing (MPT) da MTS. O programa MPT pode ser
programado para criar rotinas e ciclos de atuações. Dessa forma, foi possível criar uma
programação para o ensaio de teste de temperatura, módulo elástico, ciclo térmico em força 0
40
e o próprio ensaio FTM. A figura 11 ilustra um tipo de programação para um ensaio
semelhante. O programa gera um relatório em dados dos comandos inseridos nos ensaios e a
resposta dos equipamentos no CP, além de gráficos em tempo real para visualização do
operador (FERREIRA, 2017).
Figura 11 – Programação de etapas para o ensaio FTM
Fonte – FERREIRA, 2017
4.4 Procedimentos do ensaio FTM
Para simular o as variações de carregamentos e descarregamentos mecânicos e
térmicos no material durante as atuações de aeronaves de maior performance, principalmente
nas turbinas dos motores construídas em liga Inconel 718 (JOHASSON, 2010; KIRKA,
2015), definiu-se que o ensaio estaria na faixa de trabalho de 316°C e 677°C com
carregamentos mecânicos, isto é, em controle de deformação com a deformação variando
entre ±0,5%, fora de fase, com R=-1 e forma de onda triangular, ou seja, quando a
41
temperatura atinge 316°C, a deformação mecânica é de 0,5%; quando atinge 677°C, a
deformação mecânica é de -0,5%, criando picos e vales opostos entre temperatura,
consequentemente resultando em carregamento térmico, e os carregamentos mecânicos.
As equações aplicadas no ensaio FTM são demonstradas nas equações 1 a 4 onde εtot é
a deformação acusada pelo deslocamento COD do extensômetro, εel é a deformação elástica
definida pelo módulo elástico e o carregamento, εterm é a deformação térmica calculada pela
equação com o coeficiente de dilatação térmica linear α obtidas previamente e confrontadas
com a literatura do Inconel 718, e εpl sendo a deformação plástica resultante. A figura 12
ilustra o comportamento do material no ensaio FTM.
ε𝑡𝑜𝑡 = ε𝑒𝑙 + ε𝑝𝑙 + ε𝑡𝑒𝑟𝑚 (1)
ε𝑒𝑙 = 𝜎
𝐸(𝑇) (2)
ε𝑡𝑒𝑟𝑚 = 𝛼𝛥𝑇 (3)
ε𝑝𝑙 = ε𝑡𝑜𝑡 − ε𝑒𝑙 – ε𝑡𝑒𝑟𝑚 (4)
Figura 12 – Ilustração do comportamento do material em ensaio FTM
Fonte – Adaptado de GHODRAT, 2013
Previamente, seguindo o fluxograma de atividades, são necessárias algumas etapas
preparatórias para a realização do ensaio FTM. Primeiramente, para assegurar que o
pirômetro está posicionado de forma correta no CP acoplado à máquina, posiciona-se o
42
extensômetro na seção útil do CP e o deixa “zerado”. Em seguida, aumenta-se a temperatura
até o limite inferior de temperatura do ensaio, dessa forma, com o deslocamento COD e a
seção transversal do CP, é possível obter a deformação térmica real. Com o α teórico,
obtemos a deformação teórica. Se os valores estiverem próximos, então a temperatura
também estará. O mesmo se fez para o limite superior de temperatura.
A próxima etapa é calcular o módulo elástico do CP nas temperaturas de 21°C e
677°C, com uma tensão fixada em 69 MPa (regime elástico), em tração e em compressão, e
confrontar com a literatura se os valores estão próximos. Para isso, houve um carregamento
com controle de temperatura, onde a partir do gráfico resultante teria o seu módulo de Young
calculado, seguindo a literatura ilustrada na figura 13.
Figura 13 – Obtenção do módulo elástico
Fonte – CALLISTER, 2008
A última etapa preparatória é realizar cinco ciclos térmicos de 316°C a 677°C, para
estabilização do sistema em regime de força 0, onde o CP expande livremente. Após estar
estável, com a aquisição dos dados de deslocamento do COD, calcula-se a deformação
térmica do CP através da seção transversal. Para uma melhor estabilização das temperaturas
nos limites superiores e inferiores, foi adicionado uma parada (dwell) de 3 segundos. Dessa
forma, houve tempo suficiente para a temperatura aferida atingisse o valor da temperatura de
43
comando. Com a deformação térmica calculada nos limites, adicionando os valores de
deformação mecânicas fixas, ocorreu o input do deslocamento total nos limites de temperatura
para a programação do software MPT. A figura 14 ilustra o ciclo térmico triangular.
Figura 14 – Ilustração de ciclo térmico
Fonte – Autor
Por fim, realiza-se o ensaio FTM, que começa com 5 ciclos térmicos para
estabilização térmica do sistema, seguindo da mesma forma da etapa anterior. Após o
encerramento do quinto ciclo, os carregamentos mecânicos iniciam, em conjunto aos ciclos
térmicos, programados no software MPT. Os carregamentos seguem padrão triangular fora de
fase, com picos de temperatura e vales mecânicos (e vice-versa). Os carregamentos mecânicos
atingiam o valor estipulado junto ao comando de temperatura, porém, como a temperatura real
não atingia ao mesmo tempo, o carregamento mecânico se mantinha estável nos limites
inferior e superior por 3 segundos, tempo suficiente para a temperatura real atingir o
comando. Como o ciclo total era de 180 segundos, sendo 90 segundos para cada fase de
carregamento, as taxas de resfriamento, aquecimento e carregamento foram de 4°C/s e
550N/s. A figura 15 ilustra o comportamento gráfico dos carregamentos.
300
350
400
450
500
550
600
650
700
Tem
pe
ratu
ra (
°C)
Tempo (s)
Variação de temperatura - triangular
44
Figura 15 – Ilustração dos carregamentos triangulares fora de fase mecânico e térmico
Fonte - Autor
De
form
ação
(m
m/m
m)
Tempo (s)
Def Mec
Def Term
Def Total
45
5. RESULTADOS E DISCUSSÃO
5.1 Ensaios FTM: Norma ASTM E 2358
Para execução dos ensaios de FTM conforme o programa “Round Robin Testing” da
ASTM, alguns requisitos devem ser atendidos e serão apresentados, bem como discutidas as
dificuldades encontras para a sua exiguidade. Os preparativos e os ensaios elaborados estão
baseados nesses requisitos solicitados para o auxílio da atualização da norma (ASTM ILS 20:
E-2368, 2015).
Primeiramente, é solicitado que o maquinário seja capaz de controlar, de forma
independente, a deformação total e a temperatura de ensaio. A interface do software MPT
fornece essa possibilidade, controlando os carregamentos e o forno de indução em conjunto
com o pirômetro (ASTM ILS 20: E-2368, 2015).
Em seguida, exige-se que a célula de carga esteja em série com o transdutor de força,
ou seja, o equipamento que transforma os sinais elétricos em força mecânica. O software
MPT em conjunto com o extensômetro e a célula de carga atende essa requisição. A célula de
carga foi calibrada em 2016, com a certificação do fornecedor do maquinário (ASTM ILS 20:
E-2368, 2015).
Também é exigido que o extensômetro estivesse calibrado, o que foi realizado em
2016, com certificação da fornecedora MTS (ASTM ILS 20: E-2368, 2015).
Exige-se que a temperatura no CP, durante as condições de ensaio, não ultrapasse uma
diferença, entre dois pontos da área útil de ensaio, de 1% da temperatura máxima ou de 3°C.
A utilização dos termopares foi essencial para verificar esse requisito (ASTM ILS 20: E-2368,
2015).
Por fim, para o caso de requisitos preparativos, exigem-se detalhes do maquinário,
célula de carga, fixação do CP, software de controle do ensaio, controladores externos,
método de controle do ensaio, relatórios de coleta de dados, sistemas de aquecimento e
resfriamento, características do termopar, características e propriedades do extensômetro,
métodos de como foi realizado a compensação da deformação térmica e sua acuracidade,
método de manutenção de ciclos mecânicos e térmicos, descritivo de início do ensaio FTM,
definição de critério de falha e desvios e dificuldades de atender os procedimentos
recomendados para o ensaio (ASTM ILS 20: E-2368, 2015).
Muitos dos requisitos solicitados já foram discutidos e outros serão discutidos em
conjunto dos resultados, que serão explorados em tópicos seguintes.
46
A ASTM sugere evitar qualquer contato com a seção útil polida do CP, com o objetivo
de alterar o mínimo possível os resultados. Recomenda-se limpar os CPs e observar se há
alguma irregularidade na superfície do CP (ASTM ILS 20: E-2368, 2015).
Os dados de módulo elástico ensaiado com 69 MPa em tensão e compressão, nas
temperaturas ambiente de 21°C e 677°C, ciclo térmico em força 0, compensação da
deformação térmica, deformações mecânicas máximas e mínimas, forças aplicadas máximas e
mínimas, tempo, força, temperatura, temperatura de comando, resposta do extensômetro,
deformações térmica e mecânica foram obtidas e convertidas em formato ASC II e enviadas
para a ASTM, para submissão dos resultados (ASTM ILS 20: E-2368, 2015).
A compensação da deformação térmica, utilizada para obter valores mais exatos de
deformação linear α, uma vez que não é uma função linear em função da temperatura, não foi
realizada. Os valores de deformação térmica com α teórico foram comparados com a
deformação experimental acusada pelo extensômetro, em regime de deformação mecânica 0,
observando se a deformação durante o ciclo correspondia com a deformação esperada na
literatura (ASTM ILS 20: E-2368, 2015; SPECIAL METALS, 2007).
Por fim, para a submissão do trabalho para a ASTM, preencheu-se uma tabela com
dados obtidos de deformação mecânica máxima e mínima, temperatura máxima e mínima,
tempo de ciclo, dimensões do CP, vida do CP, posição da trinca em relação extensômetro e
um resumo do ensaio. A ASTM solicitou o retorno dos CPs (ASTM ILS 20: E-2368, 2015).
Para uma melhor explicação, os resultados serão expostos conforme a etapa do ensaio
no CP. O CP 63 foi o escolhido para calibração dos sistemas e parâmetros dos ensaios. Os
CPs 62 e 64 não chegaram a fraturar, uma vez que falhas de energia elétrica possivelmente
podem ter gerado sobrecargas no material, causando deflexões no eixo do CP. O CP 61
obteve um resultado dentro do esperado. A ASTM define que critérios de falha são separação
total do CP, queda de tensão entre picos e uso de filme de celulose (ASTM E 2368, 2004).
Em nenhum dos casos os CPs 62 e 64 podem ser considerados como falhados. Não houve a
utilização do filme de celulose em nenhum CP.
A figura 16 mostra os CPs após os ensaios, mostrando as fraturas nos CP 61 e 63 e as
deformações nos CPs 62 e 64.
47
Figura 16 – CPs de 61 a 64, da esquerda para a direita em ordem crescente, após os ensaios de FTM
Fonte - Autor
5.1.1 Testes de Temperatura
Utilizando dados da literatura (SPECIAL METALS, 2007), é possível obter os valores
de dilatação térmica linear α para as temperaturas de 316°C e 677ºC. A tabela 5 mostra estes
valores teóricos de α.
Tabela 5 – Valores de dilatação térmica linear α para as temperaturas de ensaio
Fonte – SPECIAL METALS, 2007
Com os valores teóricos de α, confronta-se os valores de deformação obtidos pelo
extensômetro. A tabela 6 demonstra os valores de deformação obtidos nas duas temperaturas,
evidenciando que a temperatura estava correta para todos os CPs. Ocorre uma diferença com
os valores absolutos, porém isso se deve a calibração manual do extensômetro para cada
ensaio. A diferença de valores entre as duas temperaturas nos dados aferidos demonstra que a
temperatura estava correta.
Temperatura (°C) α (m/m.°C.10^-6)
316 13.77
677 14.91
48
Tabela 6 – Valores de deformações térmicas aferidas em comparação com a esperada, para as
temperaturas de ensaio.
Fonte - Autor
5.1.2 Módulo Elástico
Para o ensaio de módulo elástico E, cargas axiais de 69 MPa foram impostas nos CPs,
nas temperaturas ambiente e de 677°C, tanto em compressão quanto em tração. As figuras 17
a 22 demonstram os comportamentos dos CPs e a tabela 7 compara os valores obtidos com a
literatura (SPECIAL METALS, 2007). Fica claro que os resultados estão dentro do esperado.
Figura 17 – Módulo elástico para o CP 61 em temperatura ambiente
Fonte – Autor
Deformação Calculada (mm/mm) Deformação Teórica (mm/mm)
CP 61 0.003922333
CP 62 0.003935409
CP 63 0.003154555
CP 64 0.00273811
CP 61 0.009168294
CP 62 0.008971111
CP 63 0.009297409
CP 64 0.008545124
0.00406
0.00978
316°C
677°C
y = 199342x + 28,482R² = 0,9996
-80
-60
-40
-20
0
20
40
60
80
-0,0006 -0,0005 -0,0004 -0,0003 -0,0002 -0,0001 0 0,0001 0,0002 0,0003
Ten
são
(M
Pa)
Deformação (mm/mm)
Modulo ambiente - CP 61
Modulo - CP 61
Linear (Modulo - CP 61)
49
Figura 18 – Módulo elástico para o CP 61 em temperatura máxima
Fonte – Autor
Figura 19 – Módulo elástico para o CP 62 em temperatura ambiente
Fonte – Autor
y = 163500x - 1583,3R² = 0,9994
-80
-60
-40
-20
0
20
40
60
80
0,0092 0,0094 0,0096 0,0098 0,01 0,0102
Ten
são
(M
Pa)
Deformação (mm/mm)
Modulo 677 - CP 61
Modulo 677 - CP 61
Linear (Modulo 677 - CP 61)
y = 209862x + 71,522R² = 0,9993
-80
-60
-40
-20
0
20
40
60
80
-0,0007 -0,0006 -0,0005 -0,0004 -0,0003 -0,0002 -0,0001 0
Ten
são
(M
Pa)
Deformação (mm/mm)
Modulo ambiente - CP 62
Modulo ambiente - CP 62
Linear (Modulo ambiente - CP 62)
50
Figura 20 – Módulo elástico para o CP 62 em temperatura máxima
Fonte – Autor
Figura 21 – Módulo elástico para o CP 63 em temperatura ambiente
Fonte – Autor
y = 160559x - 1598,9R² = 0,999
-80
-60
-40
-20
0
20
40
60
80
0,0095 0,0096 0,0097 0,0098 0,0099 0,01 0,0101 0,0102 0,0103 0,0104
Ten
são
(M
Pa)
Deformação (mm/mm)
Modulo 677 - CP 62
Modulo 677 - CP 62
Linear (Modulo 677 - CP 62)
y = 190170x - 10,244R² = 0,9995
-80
-60
-40
-20
0
20
40
60
80
-0,0004 -0,0003 -0,0002 -0,0001 0 0,0001 0,0002 0,0003 0,0004 0,0005
Ten
são
(M
Pa)
Deformação (mm/mm)
Modulo ambiente - CP 63
Modulo ambiente - CP 63
Linear (Modulo ambiente - CP 63)
51
Figura 22– Módulo elástico para o CP 63 em temperatura máxima
Fonte – Autor
Figura 23 – Módulo elástico para o CP 64 em temperatura ambiente
Fonte – Autor
y = 164330x - 1596,2R² = 0,9991
-80
-60
-40
-20
0
20
40
60
80
0,0092 0,0094 0,0096 0,0098 0,01 0,0102
Ten
são
(M
Pa)
Deformação (mm/mm)
Modulo 677 - CP 63
Modulo 677 - CP 63
Linear (Modulo 677 - CP 63)
y = 203884x + 172,81R² = 0,9997
-80
-60
-40
-20
0
20
40
60
80
-0,0014 -0,0012 -0,001 -0,0008 -0,0006 -0,0004 -0,0002 0
Ten
são
(M
Pa)
Deformação (mm/mm)
Modulo ambiente - CP 64
52
Figura 24 – Módulo elástico para o CP 64 em temperatura máxima
Fonte – Autor
Tabela 7 – Módulos obtidos nos ensaios em comparação com o teórico
Fonte – Adaptado de SPECIAL METALS, 2007
5.1.3 Ciclo Térmico em Força 0
O ciclo térmico em regime de força 0 indicou os valores de deformação térmica, com
isso, adicionando os valores de deformação mecânica de ±0,5%, obteve-se os valores de
deformações totais para cada limite de temperatura, que foram fixadas no programa MPT. As
figuras 25 a 28 demonstram os gráficos dos ciclos térmicos do CPs.
y = 161939x - 1437,9R² = 0,9994
-80
-60
-40
-20
0
20
40
60
80
0,0084 0,0085 0,0086 0,0087 0,0088 0,0089 0,009 0,0091 0,0092 0,0093 0,0094
Ten
são
(M
Pa)
Deformação (mm/mm)
Modulo 677 - CP 64
Mód. Elástico Experimental (GPa) Mód. Elástico Teórico (GPa) MÉDIA D.P.
CP 61 199
CP 62 209
CP 63 190
CP 64 203
CP 61 163
CP 62 160
CP 63 164
CP 64 161
200,25
162
7,973916
1,825742
200
161
21°C
677°C
53
Figura 25 – Ciclo térmico obtido para o CP 61
Fonte – Autor
Figura 26 – Ciclo térmico obtido para o CP 62
Fonte – Autor
0,005
-0,005
0,005
-0,005
0,005
-0,005
0,005
0,00797
0,003973
0,00797
0,003973
0,00797
0,003973
0,00797
-0,006
-0,004
-0,002
0
0,002
0,004
0,006
0,008
0,01
360 450 540 630 720 810 900
De
form
ação
(m
m/m
m)
Tempo (s)
Ciclo Térmico - CP 61
Def Term
Def Mec
Def TOTAL
0,008822
0,00311
0,008822
0,00311
0,008822
0,00311
0,008822
-0,005
0,005
-0,005
0,005
-0,005
0,005
-0,005
0,003822
0,00811
0,003822
0,00811
0,003822
0,00811
0,003822
-0,01
-0,005
0
0,005
0,01
180 270 360 450 540 630 720
De
form
ação
(m
m/m
m)
Tempo (s)
Ciclo Térmico - CP 62
Def Term
Def Mec
Def Total
54
Figura 27 – Ciclo térmico obtido para o CP 63
Fonte – Autor
Figura 28 – Ciclo térmico obtido para o CP 64
Fonte – Autor
-0,005
0,005
-0,005
0,005
-0,005
0,005
-0,005
0,005
0,001179
0,004639
0,001179
0,004639
0,001179
0,004639
0,001179
0,004639
-0,006
-0,004
-0,002
0
0,002
0,004
0,006
0,008
450 540 630 720 810 900 990 1080
De
form
ação
(m
m/m
m)
Tempo (s)
Ciclo Térmico - CP 63
Def Mec
Def Term
Def Total
0,002675
0,008691667
0,002675
0,008691667
0,002675
0,008691667
0,002675
0,005
-0,005
0,005
-0,005
0,005
-0,005
0,005
0,007675375
0,003691292
0,007675375
0,003691292
0,007675375
0,003691292
0,007675375
-0,006
-0,004
-0,002
0
0,002
0,004
0,006
0,008
0,01
360 450 540 630 720 810 900
De
form
ação
(m
m/m
m)
Tempo (s)
Ciclo Térmico - CP 64
Def Term
Def Mec
Def Total
55
Analisando as deformações térmicas obtidas em cada CP, calculou-se a deformação
total para cada caso. A tabela 8 mostra os valores de deformações para cada ensaio,
posteriormente utilizados para iniciar o ensaio FTM.
Tabela 8 – Deformações obtidas para programação do programa MPT
Fonte - Autor
5.1.4 Fadiga Termomecânica: Inconel 718
Como o CP 62 presenciou uma falha elétrica no início do ensaio FTM, que
possivelmente causou uma deflexão no eixo do CP, não será analisado o ensaio FTM para
esse caso, devido a possíveis inexatidões de resultados. O mesmo ocorre para o CP 64, porém
o problema acontece no ciclo 4971, se aproximando da vida do CP 61. Portanto, é possível
fazer uma análise e comparar os resultados, ocorrendo também uma inexatidão, mas servindo
como efeito didático.
As figuras 29 a 31 demonstram as tensões máximas e mínimas, além da amplitude,
obtidas durante todo o ensaio. Observa-se que ocorreram quedas abruptas no gráfico do CP
61, isso se deve a pausas e reinícios necessários para continuação do ensaio. Ao final do
ensaio, pode ocorrer um pico de tensão, uma vez que o CP estava prestes a fraturar.
Deformação Térmica (mm/mm) Deformação Mecânica (mm/mm) Deformação Total (mm/mm)
CP 61 0,003053 0,005 0,008053
CP 62 0,003112 0,005 0,008112
CP 63 -0,0002943 0,005 0,0047057
CP 64 0,0026782 0,005 0,0076782
CP 61 0,009043 -0,005 0,004043
CP 62 0,0088223 -0,005 0,0038223
CP 63 0,0060872 -0,005 0,0010872
CP 64 0,00869167 -0,005 0,00369167
316°C
677°C
56
Figura 29 – Tensões máximas, mínima e amplitude para o CP 61
Fonte – Autor
Figura 30 – Tensões máximas, mínima e amplitude para o CP 63
Fonte – Autor
-1000
-800
-600
-400
-200
0
200
400
600
800
1000
1200
0 1000 2000 3000 4000 5000 6000Ten
são
(M
Pa)
Ciclos
Tensões FTM - CP 61
Tensão Máxima
Tensão Mínima
Amplitude
-1000
-800
-600
-400
-200
0
200
400
600
800
1000
1200
0 200 400 600 800 1000 1200 1400Ten
são
[M
Pa]
Ciclos
Tensões FTM - CP 63
Tensão Máxima
Tensão Mínima
Amplitude
57
Figura 31 – Tensões máximas, mínima e amplitude para o CP 64
Fonte – Autor
Analisando a tensão máxima, é possível notar uma pequena queda de valor quando se
compara o início do ensaio com o final. Como o CP está se fragilizando, a tensão mecânica a
se aplicar é menor para atingir os valores determinados de deslocamento do COD, já que a
temperatura, consequentemente a deformação térmica, não se varia.
As figuras 31 a 34 demonstram as histereses de deformação nos ciclos 100, 1000,
meia-vida e final. Nota-se que a histerese fica mais ampla a cada ciclo, isso quer dizer que a
deformação plástica vai aumentando no CP no momento de carregamento positivo mecânico
(tração), diminuindo a tensão imposta no CP, como mencionado por KANESUND et al, para
ensaios em Inconel 792.
-1000
-800
-600
-400
-200
0
200
400
600
800
1000
1200
0 1000 2000 3000 4000 5000 6000Ten
são
(M
Pa)
Ciclos
Tensões FTM - CP 64
Tensão Max
Tensão Min
Amplitude
58
Figura 32 – Histerese do ensaio FTM para o CP 61
Fonte- Autor
Figura 33 – Histerese do ensaio FTM para o CP 63
Fonte – Autor
-800
-600
-400
-200
0
200
400
600
800
1000
0,003 0,004 0,005 0,006 0,007 0,008 0,009Ten
são
[M
Pa]
Deformação [mm/mm]
FTM Histerese - CP 61
Ciclo 100
Ciclo 1000
Ciclo 2750
Ciclo 5500
-800
-600
-400
-200
0
200
400
600
800
1000
0,003 0,004 0,005 0,006 0,007 0,008 0,009Ten
são
[M
Pa]
Deformação [mm/mm]
FTM Histerese - CP 63
Ciclo 100
Ciclo 620
Ciclo 1000
Ciclo 1230
59
Figura 34 – Histerese do ensaio FTM para o CP 61
Fonte – Autor
Acima de temperaturas de 650°C, pode ocorrer a precipitação de fases δ, que
promovem uma queda da resistência mecânica do material (CAMPBELL, 2006). Como o CP
fica por volta de 15s/ciclo em temperatura possível de precipitação de fase δ, a longo prazo
pode ser que essa fase explique a queda de tensão e aumento de deformação plástica, uma vez
que a duração do ensaio pode durar dias.
Para efeitos de comparação, podem-se elaborar gráficos para os ciclos mencionados de
100, 1000, meia-vida e final na mesma imagem. As figuras 35 a 38 mostram esses gráficos e
a tabela 9 faz um resumo geral para os CPs.
-800
-600
-400
-200
0
200
400
600
800
1000
0,003 0,004 0,005 0,006 0,007 0,008 0,009Ten
são
(M
Pa)
Deformação (mm/mm)
FTM Histerese - CP 64
Ciclo 100
Ciclo 1000
Ciclo 2480
Ciclo 4970
60
Figura 35 – Ciclos 100 do ensaio FTM para todos os CPs
Fonte – Autor
Figura 36 – Ciclos 1000 do ensaio FTM para todos os CPs
Fonte – Autor
-800
-600
-400
-200
0
200
400
600
800
1000
0,003 0,004 0,005 0,006 0,007 0,008 0,009Ten
são
(M
Pa)
Deformação (mm/mm)
Ciclos 100 - Histerese
Ciclo 100 - CP 61
Ciclo 100 - CP 63
Ciclo 100 - CP 64
-800
-600
-400
-200
0
200
400
600
800
1000
0,003 0,004 0,005 0,006 0,007 0,008 0,009Ten
são
(M
Pa)
Deformação (mm/mm)
Ciclos 1000 - Histerese
Ciclo 1000 - CP 61
Ciclo 1000 - CP 63
Ciclo 1000 - CP 64
61
Figura 37 – Ciclos meia-vida do ensaio FTM para todos os CPs
Fonte – Autor
Figura 38 – Ciclos finais do ensaio FTM para todos os CPs
Fonte – Autor
-800
-600
-400
-200
0
200
400
600
800
1000
1200
0,003 0,004 0,005 0,006 0,007 0,008 0,009Ten
são
(M
Pa)
Deformação (mm/mm)
Ciclos Meia-Vida - Histerese
Ciclo M-V - CP 61
Ciclo M-V - CP 63
Ciclo M-V - CP 64
-800
-600
-400
-200
0
200
400
600
800
1000
0,003 0,004 0,005 0,006 0,007 0,008 0,009Ten
são
(M
Pa)
Deformação (mm/mm)
Ciclos Finais - Histerese
Ciclo F - CP 61
Ciclo F - CP 63
Ciclo F - CP 64
62
Tabela 9 – Tensões e ciclos obtidos para todos os CPs no ensaio FTM
Fonte - Autor
Analisando os CPs 61 e 64, o comportamento durante o ensaio de FTM foram
parecidos em relação as deformações para os ciclos definidos de 100, 1000, meia-vida e final.
Há uma diferença absoluta, mas que pode ser explicada pelo posicionamento do
extensômetro, onde pequenas variações podem alterar o referencial, mas sem alterar o
resultado final.
O CP 63 teve um comportamento diferenciado, uma vez que foi escolhido como
calibração, incluindo os termopares soldados, introduzindo defeitos na superfície. Dessa
forma, o CP foi sendo reduzido sua resistência mecânica, antes mesmo de começar o ensaio
FTM. A fratura do CP foi localizada exatamente na posição da solda do termopar de cima,
evidenciando que os processos de calibração estavam alterando o CP.
Como houveram falhas elétricas durante os ensaios dos CPs 62 e 64, é possível
desconsiderar os dados obtidos durante o ensaio. Como o objetivo deste trabalho é fazer uma
didática de como realizar o ensaio FTM, ocorrendo também uma análise do comportamento
do Inconel, o CP 64 foi considerado, uma vez que estava se aproximando da vida do CP 61.
Já o CP 62 não foi considerado, uma vez que a falha elétrica aconteceu no início do ensaio
FTM, alterando os dados obtidos em sequência.
Em um trabalho realizado por outro laboratório, também em solicitação pela ASTM,
os resultados de tensões em ciclos de meia-vida atingem valores próximos aos obtidos neste
trabalho, onde geralmente a tensão de compressão é menor que a de tração (BARNETT,
2015). A tabela 10 mostra os valores realizados em paralelo.
CP 61 CP 63 CP 64 MÉDIA D.P.
Tensão Máxima - Pico (MPa) 960 977 943 960 17
Tensão Mínima - Pico (MPa) -660 -787 -766 -737,667 68,07594
Tensão Máxima - M-V (MPa) 921 869 786 858,6667 68,09063
Tensão Mínima - M-V (MPa) -616 -767 -666 -683 76,92204
Ciclo Meia-Vida 2750 620 2480 1950 1159,698
Ciclo Final 5500 1237 4970 3902,333 2323,408
63
Tabela 10 – Tabela demonstrando os ciclos e tensões obtidos para um ensaio realizado em conjunto,
por proposta da ASTM
Fonte – Adaptado de BARNETT, 2015
A vida obtida foi diferente ao obtido neste trabalho. Isso pode ser explicado pela
diferença de geometria dos CP utilizados. No trabalho referenciado, a geometria foi segundo a
figura 39. Mesmo no próprio ensaio, os valores de ciclos finais foram diferentes, entre 2450 e
4019 ciclos (excluindo o CP 25 de calibração).
Figura 39 – Ilustração do CP utilizado no trabalho realizado em conjunto por proposta da ASTM
Fonte – BARNETT, 2015
Na literatura, ainda não é muito claro o que define a vida do material em condições de
FTM. Analisando o mesmo material, espera-se que seus tratamentos e métodos de obtenção
do material alterem as propriedades mecânicas (JACOBSSON, 2009).
Para ensaios de FTM em Inconel 718, em situações impostas parecidas, com
deformação de ±0,5%, R=-1 e temperaturas entre 200 e 550°C, observou-se que a falhas são
de característica trans-granular em fadiga de baixa propagação de trinca, devido ao
fortalecimento dos contornos de grãos pelos precipitados. No mesmo estudo, considera-se que
casos de FTM em fase são mais prejudiciais ao material do que casos de FTM fora de fase.
CP 25 CP 26 CP 27 CP 28 MÉDIA D.P.
Tensão Máxima - Pico (MPa) 896 820 877 859 863 32,4037
Tensão Mínima - Pico (MPa) -786 -650 -779 -746 -740,25 62,64383
Tensão Máxima - M-V (MPa) 745 786 749 746 756,5 19,73998
Tensão Mínima - M-V (MPa) -597 -601 -575 -551 -581 23,0362
Ciclo Meia-Vida 952 1225 1275 2010 1365,5 452,5089
Ciclo Final 1904 2450 2549 4019 2730,5 904,6099
64
Isso se deve a maximização da corrosão sob tensão e alta temperatura, uma vez que a carga
mecânica máxima está atrelada a maior temperatura, somado a fluêcia. Entretanto, para casos
em que as propriedades frágeis do material em temperatura mínima sejam relevantes, a carga
máxima em FTM fora de fase pode nuclear e propagar trincas (JACOBSSON, 2009).
Dessa forma, para casos de FTM fora de fase, as condições severas para o CP é a
temperatura mínima. Para demonstrar essas falhas, seria necessário realizar um trabalho de
análise de falha nos CPs. Com os estudos de propagação de trincas, seria possível estimar o
comportamento do material nas condições de FTM. Na literatura observa-se discordâncias de
previsões de vida do material uma vez que vários fatores podem ser levados em conta, além
de aproximações que muitas vezes não podem ser realizadas devido as diferenças de
temperatura, por exemplo, que altera os valores de módulo elástico durante o ensaio. Os
trabalhos de JACOBSSON et al. e KUPKOVITS et al. exploram essas diferenças de
interpretações que se pode dar aos ensaios de FTM e os seus resultados.
65
6. CONCLUSÃO
O objetivo principal deste trabalho foi atingido, onde se avaliou os resultados de um
ensaio de Fadiga Termomecânica em corpos-de-prova de liga Inconel 718, auxiliando na
atualização da norma ASTM E 2368. A proposta de estudar o ensaio de FTM foi bem-
sucedida.
A ASTM solicitou inúmeras informações e detalhamentos de requisitos para
preparação do ensaio e durante o ensaio. Algumas dessas solicitações não foram atendidas,
sendo apontado principalmente o controle de temperatura na seção útil do CP e a
compensação da deformação térmica. A complexidade do ensaio foi alta e o nível de
detalhamento exigido pela ASTM também.
Os requisitos da Norma ASTM E 2368 com relação ao controle de temperatura é
difícil de ser obtido no comprimento útil do CP, mas mais razoavelmente obtido no
comprimento de controle. A solicitação de controle de temperatura não foi possível ser
atendida, necessitando um melhor controle de refrigeração, além de uma geometria de CP
mais favorável para modificar a disposição das bobinas de indução. Foi adicionado um dwell
de 3 segundos em cada temperatura limite do ensaio, onde a carga mecânica e a temperatura
de comando ficaram estáveis, dando tempo suficiente para a temperatura real atingir o valor
programado, podendo assim causar algum dano não esperado no CP.
Outro requisito não atendido foi a compensação da deformação térmica em regime de
deformação mecânica 0. Porém, em algumas temperaturas durante os ciclos térmicos foram
analisadas, comparando com a deformação da literatura. Um programa para realizar a
compensação poderia melhorar os resultados.
Os gráficos obtidos de tensão e histereses mostraram comportamentos semelhantes
durante o ensaio, demonstrado o comportamento do CP. Ficou evidente o aumento da
deformação plástica do CP com o avanço da histerese, além da queda de tensão ao longo dos
ciclos.
Em comparação com trabalhos realizados em conjunto, por proposta da ASTM,
ocorreram semelhanças de resultados, onde a vida dos materiais pode atingir um patamar
elevado para um ensaio considerado muito desgastante ao corpo-de-prova.
As propriedades da superliga de níquel em teste de FTM foram estudadas, verificando
se os resultados obtidos nos ensaios foram correspondentes, demonstrando o motivo de
utilizar o Inconel 718 em componentes aeronáuticos, por exemplo.
66
O ensaio de FTM foi bem explorado, ilustrando etapas essenciais para elaboração
deste procedimento, além de dificuldades que possam surgir no andamento e suas
consequências para os resultados.
67
7. SUGESTÕES PARA TRABALHOS FUTUROS
• Explorar os efeitos microestruturais que podem ocorrer durante o ensaio.
• Realizar uma análise da superfície de fratura dos corpos-de-prova.
• Avaliar o posicionamento do extensômetro em relação ao local de início da trinca e
efeitos.
68
69
REFERÊNCIAS
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Practice for Strain Controlled Thermomechanical Fatigue Testing. West Conshohocken.
ASTM. 2004
ASTM E8/E8M-13: AMERICAN SOCIETY FOR TESTING AND MATERIALS – Standard
Test Methods For Tension Testing of Metallic Materials. West Conshohocken. ASTM. 2013
ASTM ILS 20: E-2368: Instructions for the Inter Laboratory Study (ILS) 20 Participants on
Thermomechanical Fatigue (ASTM E-2368). Package Instructions for E2368 Round Robin.
West Conshohocken. ASTM. 2015
BARNETT, J. ILS 20 on Thermomechanical Fatigue (ASTM E 2368). 2015. Test
Summary for Cincinnati Testing Laboratories, Inc. 2015
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70
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