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UNIVERSIDADE DE PASSO FUNDO
INSTITUTO DE FILOSOFIA E CIÊNCIAS HUMANAS
PÓS-GRADUAÇÃO EM HISTÓRIA
Eliane Terezinha dos Santos Limberger
NEU-WÜRTTEMBERG: UMA COLONIZAÇÃO
ALEMÃ NO SÉCULO XX (RS)
Passo Fundo, março de 2005.
Eliane Terezinha dos Santos Limberger
NEU-WÜRTTEMBERG: UMA COLONIZAÇÃO
ALEMÃ NO SÉCULO XX (RS)
Dissertação apresentada ao Programa de Pós-Graduação em História, do Instituto de Filosofia e Ciências Humanas, da Universidade de Passo Fundo, como requisito parcial e final para a obtenção do grau de Mestre em História, sob orientação da Prof.ª Drª. Eliane Lucia Colussi.
Passo Fundo
2005
Eliane Terezinha dos Santos Limberger
NEU-WÜRTTEMBERG: UMA COLONIZAÇÃO ALEMÃ NO SÉCULO
XX (RS)
Banca Examinadora:
Prof.ª Dra. Eliane Lucia Colussi – Orientadora
Prof. Dr. Astor Antônio Diehl – Universidade de Passo Fundo
Prof.ª Dra. Márcia Saldanha Barbosa - Universidade de Passo Fundo
Passo Fundo
2005
A professora Drª Eliane Lucia Colussi, um agradecimento especial, pelo incentivo e pela competente e segura orientação deste trabalho. As indicações de leituras locais de pesquisa e sugestões possibilitaram que esse trabalho se concretizasse. Agradeço também ao Elias, meu esposo, e aos meus filhos, Hesley e Lucas, pelo incentivo, apoio e paciência que tiveram para comigo durante esse período. Aos funcionários dos arquivos e instituições de pesquisa, pela disponibilidade e apoio na coleta de dados, de modo especial, ao Museu e Arquivo Histórico de Panambi. Enfim, a todas as pessoas amigas, que me auxiliaram na pesquisa com sugestões para uma melhor construção da dissertação.
PANAMBI A vila é longa e rica. Galanteia A margem senhoril do belo rio. E estreita-se, e alarga-se com brio. E sobe, e desce, e para além serpeia. Derrama-se por ela a vasta cheia Dos frutos do progresso em rodopio; Não há na rua nem um ser vadio; Em cada crânio um ideal flameia. Fio a tear, atroz pilão fragmenta. A serra ringe, chiam forja e forno. Tine o martelo, atroa a ferramenta. São tudo vozes férreas do trabalho: Em cada porta se ouve arfar um torno, Em cada esquina fragorar um malho. Padre Pedro Luiz1
1 Poema em homenagem ao município de Panambi. De autoria de FAUSEL, Erich. Cinqüentenário de
Panambi: 1889-1949. Ijuí: s.e., 1949. p. 02.
RESUMO
O tema desta dissertação está centrado em aspectos da história da colônia Neu-
Württemberg, atual município de Panambi, situado na região norte do Rio Grande do Sul.
Os aspectos a serem analisados estão relacionados às especificidades que tornaram esta
localidade uma experiência histórica similar em relação à história de regiões de
colonização alemã.. Neste sentido, é marcante na cidade o processo de construção de uma
determinada identidade cultural, onde se pode observar nitidamente que as idéias de
progresso e trabalho integram não só o cotidiano da maior parte da população, mas
também está consolidada no imaginário e na memória local. A temática nos remete a
análise da dimensão religiosa e cultural como elemento de integração da sociedade daquela
região com um determinado mundo cultural. Dessa forma, a análise da vida social da
localidade pelo viés de religiosidade, tem o objetivo de destacar as relações étnicas,
político-econômicas, religiosa e escolar que, estiveram ligadas ao projeto colonizador
iniciado nas primeiras décadas do século XX. Entre as diversas instituições religiosas ali
instaladas, a evangélica tem sido predominante desde o período inicial da colonização
alemã.
Palavras-chave: História regional, Panambi; colonização; religiosidade.
ABSTRACT
The theme of this dissertation is centred in aspects of the History of the colony
Neu-Württemberg, current municipal district of Panambi, located in the north area of Rio
Grande do Sul. The aspects to be analyzed are related to the specificities that turned this
place a special historical experience in relation to the History of areas of German
colonization. In this sense, it is outstanding in the town the process of construction of a
certain cultural identity, it can be observed sharply that the ideas of progress and work
integrate not only the daily of most of the population, but it is also consolidated in the
imaginary and in the local memory. The theme permits us the analysis of the religious and
cultural dimension as element of integration of the society in that area with a certain
cultural world. In that way, the analysis of the social life of the place for the religiosity
view, has the objective of detaching ethnic, political, economical, religious and schooling
relationships that were linked to the settler projetct initiate in the first decades of the
twentieth centurv. Among the several religious institutions installed there, the evangelical
has been predominant from the initial period of the German colonization.
Key Words: Regional history, Panambi; colonization;religiosity.
LISTA DE TABELAS
Tabela 01
Município do estado com maior número de residentes de naturalidade
alemã em 1970 e 1980..............................................................................
27
LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS
- LUC – Liga das Uniões Coloniais
- MDB – Movimento Democrático Brasileiro
- PRL – Partido Republicano Liberal
- PRP – Partido Republicano
- PRR – Partido Republicano Riograndense
- PTB – Partido Trabalhista Brasileiro
- UCP – União Colonial de Panambi
- UDN – União Democrática Nacional
SUMÁRIO
INTRODUÇÃO................................................................................................... 12
1.COLÔNIA NEU-WÜRTTEMBERG: UMA RETROSPECTIVA
HISTÓRICA........................................................................................................
19
1.1. A Companhia de Colonização de Hermann Meyer e a chegada dos
colonos alemães na região........................................................................
22
1.2. As relações da Colônia Neu-Württemberg com o mundo da
Política......................................................................................................
28
1.3. A emancipação política de Panambi................................................. 36
1.4. A vocação para o trabalho e a dinâmica econômica em Neu-
Württemberg...........................................................................................
39
2. A QUESTÃO DA IDENTIDADE TEUTO-BRASILEIRA: MEMÓRIA,
RELIGIOSIDADE E EDUCAÇÃO....................................................................
43
2.1. Um olhar sobre a historiografia: memória e
narrativas..................................................................................................
44
2.1.1. A valorização dos “pioneiros” ............................................ 47
2.1.2. A valorização do “trabalho e do “progresso”..................... 49
2.2. A religiosidade e a educação: a identificação cultural dos
moradores da colônia Neu-Württemberg...............................................
51
3. O PROTESTANTISMO E O CATOLICISMO EM NEU-
WÜRTTEMBERG: TRABALHO E PROGRESSO COMO ELEMENTOS
CULTURAIS.....................................................................................................
56
3.1. Os batistas na Colônia Neu-Württemberg....................................... 58
3.2. Os Luteranos na Colônia Neu-Württemberg................................... 64
3.3. As organizações auxiliares da sobrevivência da cultura germânica
12
em Neu-Württemberg............................................................................. 70
3.4 A imprensa protestante em Panambi..................................................
3.5 Os católicos na Colônia Neu-Württemberg
75
78
CONSIDERAÇÕES FINAIS.............................................................................. 84
REFERÊNCIAS................................................................................................... 87
ANEXOS.............................................................................................................. 91
INTRODUÇÃO
A Colônia Neu-Württemberg2, atualmente município de Panambi, situado ao norte
do Rio Grande do Sul3, apresentou um conjunto de características históricas importantes no
contexto do desenvolvimento da colonização alemã. Entre elas, a marca de ser um lugar
em que ocorreu a predominância da etnia alemã no processo de colonização, característica
que se manteve através dos anos. Nesse sentido, pretende-se realizar um estudo desta
localidade, no qual buscar-se-á demonstrar como se deu o processo de colonização, através
da imigração alemã desencadeada a partir da instalação da Empresa de Colonização
Particular Hermann Meyer e Cia4.
A presença predominante de imigrantes e de descendentes de alemães nesta região
colonial gerou situações similares a de outras com as mesmas características. Questões em
torno da etnicidade e da nacionalidade foram comuns em boa parte do século XIX. Assim,
o fato de o município ter surgido e se desenvolvido predominantemente através da etnia
alemã gerou um conjunto de características que devem, também, ser analisadas sob a ótica
2 O nome da colônia é encontrado grafado por diversos autores de duas formas diferentes: Neu-Württemberg
e Neu-Wuerttemberg. Optou-se padronizá-lo ao longo deste trabalho como Neu-Württemberg, pois, Württemberg é o nome da cidade alemã da qual vários imigrantes vieram para a colônia brasileira, hoje cidade de Panambi.
3 O município de Panambi, na sua fase colonial abrangia, em termos geográficos uma região situada principalmente entre os rios Caxambu e Palmeiras, envolvendo a bacia do rio Fiúza. Até o final do século XIX existia uma área extensa de mata que se estendia para o norte, além do rio Palmeira; é a parte que hoje constitui a área urbana e colonial do município de Condor. A leste, norte e sul, essa antiga região de mata nativa era circundada pelos campos serranos. Ao oeste, a colônia Neu-Württemberg se limitava pela junção dos rios Ijuizinho e Caxambu. Á parte sul do rio Palmeira, integrava o 4º distrito do município de Cruz Alta, e a parte ao norte do mesmo rio, fazia parte do 4º distrito de Palmeira das Missões. Ver Anexo 01, Mapa da colônia e anexo 02, Mapa do Rio Grande do Sul com a localização da colônia Neu-Württemberg.
4 A empresa possuía outros empreendimentos na região: de acordo com a relação das colônias fundadas no Rio Grande do Sul, Neu-Württemberg, foi a colônia de nº 103, fundada no ano de 1899, de natureza particular, fundada pela Hermann Meyer e Cia. Além disso, temos também as colônias de nº 72 de Xingu, fundada em 1887 e a de nº 101, Boi Preto de natureza particular fundada também pela Hermann Meyer e Cia. PELLANDA, Ernesto. Colonização germânica no Rio Grande do Sul. Porto Alegre: Globo, 1925, p. 44-45.
13
das representações sociais étnicas ali construídas. Neste sentido, para uma definição inicial
dos conceitos de etnicidade e nacionalidade, foram utilizados autores que tratam dessa
problemática, entre eles destacam-se os trabalhos de Giralda Seyferth5 e de René Gertz6.
A relevância de se estabelecer corretamente uma definição sobre os conceitos
acima referidos é destacada por Giralda Seyferth no trecho a seguir:
A etnicidade, como a nacionalidade, é uma qualidade compartilhada, uma condição de pertencimento a um grupo cujos membros possuem uma consciência coletiva quase sempre articulada a princípios primordialistas. A identidade étnica teuto-brasileira foi constituída, etnocentricamente, por oposição aos brasileiros, a partir de uma presuntiva origem germânica, revelada pela língua, pela cultura e pelo modo de vida resultantes da experiência comum da imigração e colonização.7
Para a autora, essa questão ideológica poderia ser bastante polêmica, fundamental
para a constituição do grupo teuto-brasileiro e está relacionada à idéia de germanidade.
Assim, o conceito ao ser difundido na comunidade de origem alemã, acabou por
representar ou defender características de uma ideologia étnica. Os teuto-brasileiros
formam um grupo cuja ideologia étnica se orienta a partir de representações tomadas de
uma concepção nacionalista, ou seja, aquela que foi introduzida na comunidade através de
determinadas instituições consideradas iniciativas tradicionalmente alemãs, como a
imprensa, a escola, as sociedades de tiro, a Igreja Evangélica, entre outras8.
Além disso, é importante destacar que os conceitos de etnia, grupo étnico e
etnicidade incluem as populações nacionais, ou mesmo, minorias nacionais, que interagem
com outras, fora dos limites específicos do seu Estado nacional. As idéias nacionalistas
passam a ser uma ideologia étnica e, como tal, devem ser assinaladas, sempre envolvendo
interação dos membros do grupo que funcionam como indicadores da identidade étnica.
Portanto, os símbolos de identificação variam, podendo ser racionais, lingüísticos,
5 Os principais textos são: SEYFERTH, Giralda. Nacionalismo e identidade étnica. Florianópolis: FCC,
1982, p. 3-12; SEYFERTH, Giralda. A colonização alemã no Brasil: etnicidade e conflito. In: FAUSTO, Boris. Fazer a América. A imigração em massa para a América Latina. 2. ed. São Paulo: Editora da USP, 2000, p. 273-315.
6 Os principais trabalhos são: GERTZ, René. O fascismo no sul do Brasil. Germanismo, nazismo e integralismo. Porto Alegre: Mercado Aberto, 1987; GERTZ, René. O perigo alemão. Porto Alegre: Editora da Universidade/UFRGS, 1991; GERTZ, René. Os cidadãos teuto-gaúchos. In: FISCHER, Luis Augusto e GERTZ, René E. Nós, os teuto-gaúchos. Porto Alegre: Editora da Universidade, 1998, p. 177-182.
7 SEYFERTH, Giralda. A colonização alemã no Brasil: etnicidade e conflito. In: FAUSTO, Boris. Fazer a América. A imigração em massa para a América Latina. p. 310.
8 Idem.
14
culturais, ou outros, mas, sempre usados como critérios de classificação inclusiva e/ou
exclusiva.
Em nosso estudo, no caso da colônia Neu-Württemberg, os símbolos de
identificação da sociedade e seus componentes são tanto os lingüísticos quanto os
culturais. O pertencimento a uma etnia baseava-se na existência comum de que na
comunidade possuíam a mesma identidade, originária da utilização das variantes da língua
alemã. Ao lado disso, a religiosidade e a preocupação com a cultura foram fundamentais,
bem como o teatro, o coral, a biblioteca, a escola, o salão de festas, entre outros.9
O componente da religiosidade deve ser visto como essencial para a análise de
comunidades com as características implementadas em regiões de colonização européia.
Para a maioria dos historiadores que estudam sobre a colonização alemã no Rio Grande do
Sul, durante o século XIX, o relacionamento entre católicos e evangélicos foi, via de regra,
cordial e pacífico. A maioria dos alemães e seus descendentes eram adeptos do
luteranismo, o que estimulou uma visão de que a religião era um fator de reforço da
própria nacionalidade. Havia uma espécie de vínculo entre a germanidade e ser
evangélico.10
A predominância de protestantes entre os moradores da colônia de Neu-
Wüerttemberg ocasionou uma certa identificação do lugar como sendo uma “cidade
protestante” . Como veremos no transcorrer do trabalho, essa identificação não está longe
de ser verdadeira se os dados quantitativos e qualitativos forem levados em conta. Num
primeiro olhar, essa resultou de um discurso construído a partir da aceitação da Igreja
Luterana e Batista, como tendo desempenhado fundamental papel para a comunidade ao
longo de sua história. É importante destacar que aos luteranos coube a iniciativa de
construção das primeiras instituições no campo cultural, social e educacional.
Nesse sentido, Giralda Seyferth acrescenta que a sociabilidade nas áreas coloniais:
(...) se completa com a idealização do trabalho alemão, a participação em sociedades recreativas e culturais consideradas como perpetuadoras dos valores culturais alemães no estrangeiro e a educação numa escola alemã. Ao lado disso, o comportamento em relação à religião e à família também é levado em conta como elemento de diferenciação. 11
9 SEYFERTH, Giralda. Nacionalismo e identidade étnica. Florianópolis: FCC, 1982. p. 3-12. 10 ISAIA, Artur César. Catolicismo e autoritarismo no Rio Grande do Sul. Porto Alegre: EDIPUCRS, 1998.
p. 41. 11 SEYFERTH, Giralda. A colonização alemã no Brasil: etnicidade e conflito. In: FAUSTO, Boris. Fazer a
América. A imigração em massa para a América Latina. p. 172.
15
Jean Roche, ao tratar das colonizações particulares, afirma que, além de reunir
homens, sobretudo da mesma origem étnica, muitas vezes escolhia pessoas da mesma
confissão religiosa. Sobre os alemães que se dirigiam para o Norte e Nordeste do Estado,
esclarece a direção diferente entre pessoas, de acordo com a origem de confissão. “(...) os
protestantes, se dirigiam de preferência, para Neu-Wüerttemberg e seus satélites, as
colônias-modelo fundadas por Hermann Meyer” .
Acrescenta-se a isso, a crença de muitos de que se pode vir a caracterizar Panambi
como sendo uma cidade dedicada ao trabalho. Para reforçar essa idéia, as empresas
privadas e as diversas administrações municipais adotaram slogans ligando o sucesso da
localidade à valorização do trabalho. Salientamos, então, que ao que nos parece, a
comunidade local faz questão de atribuir o sucesso da localidade à dedicação e à disciplina
de todos, principalmente no campo do trabalho. Trabalho e progresso, na verdade, são
valores indissociáveis no imaginário e na memória local.
Nesta perspectiva, Aurélio Porto confirma a existência dessas convicções e imagens
no interior das localidades colonizadas por alemães. Para o autor, os colonos alemães
eram:
gente ordeira, pacífica, trazendo da pátria originária as noções de uma disciplina que foi, em todos os tempos, o penhor da grandeza teutônica, o alemão, transplantado para a América, veio continuar, aqui, as suas tradições inigualáveis de trabalho orgânico e construtor. Paciente e forte, isolando-se, completamente, no mundo à parte que formara dentro da sua picada, nem por isso descurou das suas precípuas instituições de cultura, levando para os desertos que povoava, junto do pastor evangélico, o professor primário para os filhos12
Como vimos anteriormente, a identificação da cidade como sendo “alemã”, cidade
evangélica, cidade do trabalho, cidade de progresso, está presente na memória e na
identidade da localidade. A construção e difusão desses imaginários sociais, não devem ser
vistas como uma realidade deformada ou mesmo uma falsificação daquele passado. Na
problemática do estudo de imaginários e mitos, não se trata de desvendar o que é
verdadeiro ou o que é falso ou ainda, ilusório em relação a um determinado mundo social.
Assim, em Chartier vemos que:
As percepções do social não são de forma alguma discursos neutros: produzem estratégias e práticas (sociais, escolares, políticas) que tendem a impor uma
12 PORTO,Aurélio. O trabalho alemão no Rio Grande do Sul. Porto Alegre: Est. e Graf. Santa Terezinha,
1934. p. 222.
16
autoridade à custa de outros, por elas menosprezados, a legitimar um projeto reformador ou a justificar, para os próprios indivíduos, as suas escolhas e condutas.13
Importante nesse ponto é a presença do “espírito do capitalismo” que consciente ou
inconscientemente, influenciou tanto o mundo do trabalho, quanto os aspectos culturais em
construção. A experiência histórica dos grupos de alemães e descendentes protestantes
poderia, na opinião de Max Weber:
Assim, parecer que o desenvolvimento do espírito do capitalismo seria, melhor entendido como parte do desenvolvimento do racionalismo como um todo, e que poderia ser deduzido da posição do racionalismo quanto aos problemas básicos da vida. Nesse processo, o protestantismo deveria apenas, ser considerado, à medida, em que se constituiu num ‘estágio historicamente anterior’ ao desenvolvimento de uma filosofia puramente racional.14
Por isso, torna-se necessário acrescentar, ainda, que o tema da pesquisa está
relacionado à história de Panambi, sua construção e difusão, no sentido da construção de
uma determinada identidade sócio-econômica-política, com base na memória coletiva. É
Weber ainda, quem esclarece aquilo que poderia ser caracterizado como “vocação para o
trabalho” dos protestantes:
É verdade que certa valorização do trabalho cotidiano secular, (...) indubitavelmente nova era, sem dúvida, valorização do cumprimento do dever dentro das profissões seculares, no mais alto grau permitido pela atividade moral do indivíduo. Foi isso que deu pela primeira vez este sentido ao termo de vocação, e que, inevitavelmente teve como conseqüência a atribuição de um significado religioso ao trabalho secular cotidiano.15
Em relação aos procedimentos de pesquisa, utilizamos fontes escritas que estão nos
arquivos, Arquivo Histórico, Passo Fundo, Museu e Arquivo Histórico Panambi, Arquivo
Estação Férrea, Cruz Alta, Arquivo do Jornal Diário Serrano, Cruz Alta. Também
utilizamos obras que fazem referência à história de Panambi, entre elas as de Erich
Fausel16, Adil Malheiros e da Associação dos Escritores de Panambi, especialmente de
autoria de Eugen Leitzke que contribuíram com informações factuais, cronológicas e
biográficas. Além disso, a relação afetiva dos autores com a história municipal, todos
envolvidos com os personagens ou com os acontecimentos, nos oferecem elementos para a
13 CHARTIER, Roger. A história cultural: entre práticas e representações. Lisboa: Difel, 1990. p. 17. 14 WEBER, Max. A ética protestante e o espírito do capitalismo. São Paulo: Pioneira Editora, 1992. p. 50. 15 Ibid., p. 53. 16 FAUSEL, Erich. Cinqüentenário de Panambi: 1889-1949. Ijuí: s/e., 1949. p. 36.
17
análise de como a comunidade de Panambi construiu seus mitos e as suas representações
sociais e culturais.
As consultas às fontes incluíram a verificação de documentos oficiais, tais como
ofícios expedidos, ofícios recebidos, requerimentos, cartas, telegramas, homenagens,
mapas, jornais, revistas, inventários, testamentos, atas, anotações e fotos.
Destacamos ainda um trabalho acadêmico abordando a história de Panambi, cuja
delimitação encontra-se no estudo dos aspectos educacionais e culturais da localidade.17
Nele, o autor desenvolve, entre outras questões, a importância da religiosidade e da
educação na constituição daquela sociedade. A escola e a educação são abordadas como
um espaço privilegiado de permanência de uma idéia de preservação da germanidade.
Além disso, o autor enfatiza elementos da construção da identidade cultural e sua
articulação com a memória coletiva presente na localidade.
Além desse aspecto, as fontes evidenciam uma grande parcialidade na descrição ou
análise quando enfatizam os aspectos positivos, deixando de lado as dificuldades e derrotas
comuns em qualquer realidade histórica. Desse modo, as obras que foram analisadas
podem ser caracterizadas como uma produção historiográfica circunscrita no “paradigma
tradicional” , que, segundo Peter Burke, poderia ser denominada de uma produção com
“uma visão do senso comum da história” .18
Para a redação das conclusões, dividimos a exposição em três capítulos. No
primeiro capítulo procuramos abordar, de forma retrospectiva e cronológica, alguns
aspectos considerados relevantes da história desta colônia alemã. Nessa parte foram
tratados aspectos sobre os diferentes momentos do processo de colonização, os primeiros
moradores chegados no século XIX, a instalação da nova colônia na virada para o século
XX e a organização política e a dinâmica econômica da localidade.
No segundo capítulo analisamos a questão da identidade teuto-brasileira nos seus
aspectos de memória narrativa, religiosidade e educação. Num primeiro momento,
pretendemos relacionar a construção de mitos presentes ainda hoje na sociedade local com
a produção historiográfica disponível. Em seguida, tratamos do problema da religião e da
escola nas áreas de colonização alemã, especialmente em Panambi.
17 MICHELS, Sergio Ervino. A história ensinada na colônia particular de Neu-Württemberg, sob a ótica do
protestantismo, da germanidade e da educação. 2001. Dissertação (Mestrado em Educação nas Ciências) – Faculdade de Educação, Universidade Regional do Noroeste do Estado do Rio Grande do Sul (UNIJUI), Ijuí, 2001.
18 BURKE, Peter (Org.). A escrita da história: novas perspectivas. São Paulo: Unesp, 1992. p. 10.
18
Por fim, no terceiro capítulo, estudamos a predominância das Igrejas Protestantes e
da Igreja Católica em Panambi, desde os primórdios da implantação da colônia. A ênfase
nas igrejas luterana e batista deve-se ao fato de ambas terem uma influência decisiva na
caracterização cultural e das representações sociais observadas ainda hoje no município de
Panambi. As idéias de que a cidade dedica-se de forma especial ao trabalho e que isto
desencadeou o progresso encontram explicação em teses como as de Max Weber no seu
estudo sobre as religiões protestantes e o espírito do capitalismo. Nesse sentido, abordamos
a implantação das referidas igrejas, as diversas organizações socioculturais e a imprensa
protestante enquanto aspectos fundamentais na preservação da cultura germânica na
região.
1. COLÔNIA NEU-WÜRTTEMBERG: UMA RETROSPECTIVA
HISTÓRICA
A história do município de Panambi teve início, oficialmente, no ano de 1898,
quando o processo de colonização foi constituído. Porém, antes disso e ao que consta, no
ano de 1820, teria se estabelecido o primeiro morador de Panambi, Manoel José da
Encarnação, em uma área de campo e matas entre os rios Porongos e Corticeira.
Encarnação é descrito pelos historiadores locais como homem “decidido e dinâmico” . 19
Consta que ele teria, numa determinada ocasião, viajado ao Rio de Janeiro, montado em
um burro, para solicitar ao Imperador o título de posse das terras que estavam em seu
poder. De posse do título de proprietário retornou e tratou de organizar a estância,
construindo uma capela, à qual deu o nome de Nossa Senhora da Conceição.
Em 1835, quando teve inicio a Revolução Farroupilha, Encarnação transferiu-se
para São Paulo. Entretanto, chegando à província do Paraná, decidiu ali permanecer tendo
comprado uma área de terra onde instalou uma estância. Com o fim da Revolução
Farroupilha, ele retornou a sua estância na região de Panambi e encontrou-a destruída.
Manoel da Encarnação continuou se dedicando às atividades de pecuária e agricultura,
cultivando diversos cereais.
Importante destacar, com relação ao pioneirismo de Encarnação, o fato de a
historiografia local, baseada em fontes orais dos descendentes das primeiras famílias de
moradores da região, ter conferido ao personagem qualidades que depois irão compor
muitos elementos dos mitos e os imaginários da comunidade local. Referimos-nos à idéia
de trabalho e de progresso. Um exemplo da construção desta imagem aparece na seguinte
19 Manoel José da Encarnação nasceu em 1776, era paulista. Chegando ao Rio Grande do Sul, fixou
residência em Camaquã, após em São João Mirim e posteriormente, aonde viria a ser Panambi. Por duas legislaturas foi membro do Conselho Municipal de Cruz Alta. MALHEIROS, Adil Alves. Panambi, o vale das borboletas azuis. Panambi: Publipan, 1979. p. 11.
20
passagem descrita por Malheiros: “ele foi um homem digno, que sempre lutou pelo
progresso; não tinha escravos, seus trabalhadores eram assalariados” .20 Entretanto, é
encontrado no seu inventário de bens a descrição de escravos, observamos aí a maneira
como a historiografia tradicional construiu o imaginário local em torno da figura deste que
teria sido o primeiro morador da região (Ver anexos nºs 03, 04, e 05).
O segundo morador de Panambi foi João Luís Malheiros21, imigrante português que
chegou ao Brasil com dezoito anos de idade, no ano de 1855, estabelecendo residência
primeiramente em Cruz Alta. Ficou conhecido na região pela alcunha de “Malheiro” . Após
o matrimônio, transferiu-se para a localidade de Boa Vista, município de Panambi. Suas
primeiras atividades econômicas foram também a agricultura e a pecuária. Cultivava a
terra, criava gado bovino, suíno e ovino. Iniciou o plantio de um pomar com marmeleiros,
pessegueiros e videiras. E, ainda, deu início ao plantio de mandioca e outros produtos.
Fabricava vinho, possuía um descascador de arroz, e um socador de milho, para fazer
canjica e soque de erva.22
Mais tarde, João Luís ampliou ainda mais suas atividades dedicando-se também ao
comércio de secos e molhados, ferragens, louçaria, tecidos, calçados, remédios caseiros e
outros produtos. Por contingências da própria dinâmica econômica, foi necessário também
vender seus produtos. Ele passou a viajar por meio de tropas de mulas e com carretas de
duas rodas comercializando seus produtos diversificados. Quando não conseguia vender
por dinheiro, trocava-os por aqueles produtos que ele não possuía como tecido, sal, arame,
prego, grampo e com isso, conseqüentemente ampliou seus negócios e sua casa comercial.
No auge de suas atividades chegou a comercializar com empresários de Santa Maria, Porto
Alegre, Bagé, Pelotas entre outras cidades do estado.
Novamente, as narrativas historiográficas em torno do papel deste segundo morador
de Panambi evidenciam suas qualidades empreendedoras. Além de grande comerciante ele
em 1855, tomou posse de uma área de terra de mato com cem lotes coloniais de vinte e
cinco hectares cada lote, às margens do rio Corticeiras, o qual denominou de Rio Fiúza.
Iniciou o cultivo roçando e derrubando matas. Construiu carretas, entradas, pontilhões e
20 MALHEIROS, Adil Alves. Panambi, o vale das borboletas azuis. Panambi: Publipan, 1979. p. 17.
“Encontra-se no jornal Notícia Ilustrada de Panambi a descrição dos bens do inventário de Encarnação, em 1847, no juízo de Cruz Alta, e na listagem dos bens contém a descrição dos bens semoventes, incluindo entre eles três escravos e uma escrava. Dessa forma, pelo que se consta, o município de Panambi teve início com Manoel José da Encarnação” . Noticia Ilustrada, Panambi, 30 set, 1988. p. 02.
21 João Luis Malheiros nasceu em 24 de junho de 1837, na Província de Alto Douro, Portugal. Veio para o Brasil em 1855, vindo residir em Cruz Alta. Ao casar com Laurinda Maria de Moraes (neta de Manoel José da Encarnação) fixou residência em Boa Vista, Panambi. MALHEIROS, op. cit., p. 14.
22 MALHEIROS, op. cit., p. 18.
21
cortando barrancos para poder transitar com as carretas de Boa Vista até Passo do Paiol, no
Fiúza. Destas localidades até Cruz Alta, efetuou reparos no caminho já existente dos
tropeiros. Sua preocupação também era com a educação de sua família e das famílias que
vieram ali residir. Por isso, contratou professores por vários anos. Como por exemplo, em
1855, o professor Conceição Duarte, de Cruz Alta, que lecionou até 1910. Nessa escola “a
matrícula atingiu o elevado número de alunos com mais de vinte e cinco, entre crianças e
adolescentes, até moços” .23
Segundo uma das obras de história local, de autoria de Adil Alves Malheiros, seu
descendente, “João Luís difundiu a religião, construindo capelas e igreja para seu povo” .24
Foi o primeiro comerciante, carpinteiro, topógrafo, médico e catequista. Foi sepultado no
campo onde surgiu o cemitério de Boa Vista25. Mesmo que se leve em conta à parcialidade
do autor ao se referir ao antepassado “ ilustre e pioneiro” , as informações por ele trazidas
são importantes para uma contextualização daquele período inicial de povoamento branco
na região.
Ao longo do período que se estendeu das décadas de 1820 a 1900, muitas famílias
foram espontaneamente se instalando na região. Foi o caso das famílias, Duarte Soares de
Moura, oriundos de São Francisco de Assis, de Francisco Paula e de Severino Souza
Bueno, ambos moradores de São Paulo, das famílias Silva, Quevedo, Terésio Fagundes,
Silveira Nunes, entre outras. Ditas “pioneiras” , essas famílias se dedicaram, na sua
maioria, como os dois primeiros moradores, às atividades agro-pastoris.
Os campos Encarnação e Boa Vista, foram os locais onde surgiram os primeiros
agrupamentos de moradores, em torno do ano de 1900. Neste período, nas divisas das
terras, eram construídas valas, para que o gado não invadisse os campos do lindeiro, isto
é, do proprietário das terras vizinhas. A descrição da infraestrutura existente destacava que
as benfeitorias eram cercadas com cerca de taquaruçu, as residências eram barreadas26, a
coberta era feita de capim, o piso era de chão batido e eram as construções que somente os
fazendeiros possuíam. As pessoas de menor poder aquisitivo faziam suas casas rodeadas de
issará27 e cobertas de capim.
23 MALHEIROS, op. cit., p. 16. 24 Ibid., p. 18. 25 Idem. 26 Cobertura feita de barro de terra vermelha muito bem amassado. 27 Tirada das costaneiras do coqueiro.
22
1.1. A Companhia de Colonização de Hermann Meyer e a chegada dos colonos
alemães na região
Depois de várias décadas de lenta e espontânea ocupação territorial, que resultou na
existência de um pequeno conglomerado populacional na região, teve início um processo
de colonização mais efetiva e sistemática por meio de uma companhia privada de
colonização. O referido processo ocorreu na passagem do século XIX para o XX através da
Companhia de Colonização de Hermann Meyer. A chegada do alemão Meyer ao Rio
Grande do Sul se deveu a sua própria iniciativa. Ainda na Alemanha, Hermann Meyer
soube de expedições empreendidas no Brasil, mais precisamente no Rio Grande do Sul.
Neste ponto é importante salientar que essa iniciativa coincidiu com o processo de
estabelecimento de novas áreas/regiões de colonização alemã no Rio Grande do Sul que
teve início no período de implantação do regime republicano no Estado. Os poderes
públicos preocupavam-se com as áreas ainda desocupadas ou não colonizadas
integralmente. Assim, a implantação das chamadas “colônias novas” resultou tanto de
iniciativas governamentais quanto da concessão pública para empresas privadas de
colonização. Destacam-se no período as seguintes iniciativas: em 1890 foi fundada, por
iniciativa do governo estadual, a colônia de Ijuí; em 1891 a colônia de Guarani; em 1899
iniciou a colonização na região do Alto Jacuí com Não-Me-Toque e Tapera; no mesmo ano
foi instalada a colônia de Neu-Württemberg, hoje Panambi. A partir de 1900 foram criadas
as colônias de General Osório (Ibirubá), Cerro Azul, em 1909 foi fundada a colônia de
Santo Ângelo das Missões e uma colônia na região de Erechim, em 1915, a colônia de
Santa Rosa28.
Erich Fausel informa alguns aspectos importantes da biografia de Hermann Meyer:
Meyer era natural da Alemanha e proprietário de uma grande casa editorial em Leipzig, Alemanha. Meyer era de caráter íntegro, um homem culto, intelectual, de tino comercial, interessado em conhecer novos mundos e fazer descobertas. Os autores relatam que Meyer era proprietário do Instituto Bibliográfico de Leipzig, na Alemanha. Provavelmente, tenha vindo ao Brasil para pesquisar sobre a Amazônia, cuja pesquisa seria incorporada à Enciclopédia Meyer.29
28 BECKER, Klaus (Org.). Enciclopédia Rio-Grandense. v. 4. Canoas: Editora Regional, 1957. p. 129. O
mesmo autor acrescenta as seguintes informações: em 1920, foi criada a colônia de Sarandi; depois de 1930 foram colonizadas as regiões de Três Passos e Crissiumal.
29 FAUSEL, op. cit., p. 36.
23
Meyer pretendia desenvolver um projeto de colonização em algum ponto do sul do
Brasil. O contato com o teuto-gaúcho Carlos Dhein, do município de Montenegro, foi
fundamental para tal empreendimento. Este foi seu procurador para a compra das terras e
depois passou a ser a pessoa de confiança de Hermann Meyer. Quando da criação da
empresa de colonização, ele foi também o seu primeiro administrador.
Em 31 de agosto de 1898, Carlos Dhein negociou as terras da sucessão de Maria
Magdalena de Moraes, uma área de aproximadamente 1.075 hectares, sendo esta a
primeira gleba adquirida na área da futura Colônia Neu-Württemberg. A data de aquisição
dessas terras passou a ser considerada como data oficial da fundação do atual município de
Panambi. No mesmo ano, o procurador efetivou a compra da segunda gleba de terras nas
proximidades, uma área de cerca de 1.260 hectares, continuou a compra de terras em
vários outros lugares da região, inclusive uma área de 60 colônias de propriedade de
Francisco Bairros30, justamente onde hoje se localiza o município de Panambi.
Hermann Meyer visitou sua colônia Neu-Württemberg apenas duas vezes: em
novembro de 1898 e em dezembro do ano de 1900. O projeto colonizador pretendia
colonizar aquelas terras com imigrantes vindos prioritariamente de Württemberg,
Alemanha. Entretanto, por conta de situações históricas diversas, a grande maioria dos
colonos que ocupara a nova colônia foi formada por famílias originárias das "antigas
colônias", especialmente da região dos municípios gaúchos de Estrela e Santa Cruz do Sul.
Depois disso, nos anos seguintes, com a criação da empresa colonizadora, constata-
se a chegada de pequenos grupos de colonos, oriundos da migração interna vindos
especialmente de São Lourenço e Pelotas, no Rio Grande do Sul. Entre as famílias que se
instalaram na colônia no ano de 1898 constam os nomes de Germano Fenske, Augusto
Schmidt, Germano Goecks e Augusto Steinhorst. No ano seguinte chegaram as três
primeiras famílias procedentes das chamadas “colônias velhas” , as famílias de Jacob Bock,
Peter Bock e Ernest Müller. No mesmo ano chegou uma nova leva de imigrantes, sendo
cinco famílias, Hermann Venzke, August Schmidt, August Steinhorst, Hermann Gocks e
Hermann Sorense, todos procedentes de São Lourenço do Sul. A família de Luiz Zügel,
procedente de Württemberg, na Alemanha também chegou em 1899.
Ainda sobre os aspectos quantitativos da relação entre colonos vindos da Alemanha
e da migração interna, de acordo com uma estatística publicada por Adil Alves Malheiros,
30 Francisco Bairros era conhecido como Chico Saleiro. É o tronco da família Bairros. O apelido saleiro
deve-se ao fato de ele comercializar sal, especialmente para a zona de pecuária.
24
a colônia estava sendo povoada muito mais por brasileiros do que por germânicos31.
Contudo, a historiografia não é consensual a respeito desta questão, pois, diferente posição
é oferecida pelo pastor Leschewitz que afirmava que Panambi “nasceu de uma colonização
puramente alemã. Panambi formou-se a partir de fluxos migratórios, com três períodos
distintos: de 1899 a 1905, de 1911 a 1914 e após a Primeira Guerra, de 1921 a 1926,
quando 178 famílias se instalaram aqui” .32
Dessa forma, já nos primeiros tempos de colonização da região, a maioria dos
colonos era composta por teuto-brasileiros. Para René Gertz, o conceito de teuto-brasileiro
é válido também para o Rio Grande do Sul, pois “teuto-brasileiros são todos aqueles
alemães que ainda têm em conta a língua alemã como língua materna, tenham eles
nascidos suíços, austríacos, russos, brasileiros, alemães (...), mas que têm sua pátria
(Heimat) no Brasil” .33 No caso de Panambi, a maioria dos teutos era nascida no Brasil.
Para demarcar os lotes coloniais adquiridos, foi contratado o engenheiro civil
Rodolfo Ahrons34, residente em Porto Alegre. Ao iniciar os trabalhos da demarcação das
terras, Ahrons teve problemas, pois os lindeiros resistiram alegando que estavam sendo
espoliados. Esses conflitos sociais em torno da propriedade da terra fizeram com que
Ahrons desistisse do contrato de trabalho com a empresa colonizadora. Em razão desse
fato, Carlos Dhein contratou o agrimensor Silvestre Manuel da Silva, que trabalhou na
demarcação das terras até 1900, quando, iniciou o assentamento definitivo dos colonos em
seus lotes coloniais. A primeira emissão de posse efetuava-se através da assinatura do
contrato de compromisso de compra e venda, e as escrituras públicas lavradas eram
recebidas somente alguns anos depois.
As atividades de Carlos Dhein na colônia chegaram ao fim no ano de 1900. De
acordo com Fausel, a saída de Dhein foi uma das páginas mais difíceis da história de
Panambi. O administrador enviava regularmente notícias da colônia ao proprietário da
empresa, Sr. Meyer. Uma das notícias enviadas foi: “nunca estive em tamanho aperto
31 A primeira turma de jovens confirmados entre 1903 e 1913, indica um número de 205 jovens, sendo que
176 destes eram brasileiros. De 55 casamentos realizados nos primeiros dez anos de colonização, 35 eram também de brasileiros. Ainda em 1910, a maior parte dos chefes de famílias era formada por brasileiros natos. MALHEIROS, op. cit., p. 39.
32 LESCHEWITZ, Pastor Edgar. Paróquia Evangélica de Panambi. Disponível em: <http://www.ieclb.com.br/história>. Acesso em: 25 jun. 04.
33 GERTZ, René E. O perigo alemão. Porto Alegre: UFRGS, 1991. p. 33-34. 34 Rodolfo Ahrons nasceu em Porto Alegre no ano de 1870 e faleceu na mesma cidade em 1947. Foi também
arquiteto e professor. VILLAS-BÔAS, Pedro Leite. Dicionário bibliográfico gaúcho. Porto Alegre: Editora e Distribuidora Gaúcha, 1991. p. 9.
25
como este, e tantas dívidas, nunca tive. Portanto, Senhor doutor, mande mais dinheiro e
não tenha receio, não o lograrei. Tenho as melhores intenções para com o senhor” .35
Em 1902, o diretor da colônia iniciou o projeto de construção de uma escola e de
uma igreja, estimulado por Hermann Meyer. A construção foi realizada com recursos da
Empresa de Colonização. Mais tarde, esse patrimônio passou a fazer parte dos bens físicos
da comunidade católica.
Atendendo ao convite de Meyer, chegaram a Panambi, no dia 26 de novembro de
1902, Hermann e Maria Reinhardt Faulhaber36, ambos naturais da província de
Württemberg, na Alemanha. Faulhaber veio com o objetivo de servir na nova área de
colonização como pastor evangélico luterano, professor, entre outras funções de liderança.
Logo após sua chegada, foi oficializado o primeiro culto evangélico, dando, dessa forma,
início à comunidade e à paróquia evangélica de Panambi.
O casal tinha formação superior, ele em Teologia e ela em Pedagogia, tendo
desempenhado o cargo de professora, dirigente do coral e escritora de peças teatrais. O
contrato de trabalho entre Hermann Meyer e o pastor Hermann Faulhaber teve inicio em 1º
de setembro de 1902 e, foi finalizado em 31 de agosto de 1907. Foram cinco anos de
contrato, estando previstos quatro anos e meio de permanência na área de trabalho e seis
meses de licença-prêmio.
Durante o período em que esteve administrando a colônia, o pastor Faulhaber
enviava periodicamente relatórios ao proprietário da empresa. Na maioria das vezes ele
ressaltava as dificuldades econômicas vividas pelos colonos assentados. Da mesma forma,
no Relatório da Colonização nº 22/23, referente ao período de 16 de novembro a 15 de
dezembro de 1902, elaborado pelo diretor Hoffmann, aparece a seguinte avaliação:
35 FAUSEL, op. cit., p. 11. 36 Hermann Faulhaber era formado em Teologia e filho de pastor. Antes de vir ao Brasil trabalhou
simultaneamente como professor da escola Colonial de Witzenhausen e como secretário do Evangelischen Hauptvereins for Deutsche Ansiedler und Auswanm Derer (Associação Evangélica para Colonos e Imigrantes Alemães), em Witzhausen, na Alemanha. Certamente essa função o qualificava para ocupar o cargo oferecido por Hermann Meyer. Maria Faulhaber nascida em Von Reinhardt, era filha de um general suevo. Ajudava o marido no aconselhamento das pessoas. Algumas das peças teatrais escritas por ela, ainda se encontram guardadas no Arquivo Histórico de Panambi. Ver mais em: FAUSEL, op. cit., p. 12.
26
A situação econômica da maioria dos colonos é deveras péssima, pois muitos, literalmente, não dispõem mais do que comer e suas roupas encontram-se em estado de farrapos. As lavouras de milho e feijão, que foram replantadas após a violenta geada de princípios de outubro, por ora têm aparência boa, apesar de que sofreram com a seca. Enfim, veio a chuva, já meio tarde, e nos últimos dias até chove sem parar, o que também poderá prejudicar as plantações. Mas colonos que haviam optado pelo plantio de trigo e centeio estão extremamente frustrados, pois as lavouras não destruídas pela geada foram aniquiladas pela praga da lagarta.37
A chegada de Hermann Faulhaber marcou profundamente a colônia, pois o
processo de colonização parece ter ganhado maior vitalidade. Muitas das idéias de
progresso e de local dedicado ao trabalho, comum na construção da identidade cultural da
população de Panambi nasceram naquele contexto. O pastor estabeleceu uma política de
incentivo à fundação de muitas instituições, tais como a Associação de Cantores, a
Sociedade Escolar e a Sociedade de Atiradores; organizou uma biblioteca da comunidade,
uma estação meteorológica; elaborou os estatutos da primeira cooperativa agrícola e
constituiu a Associação de Agricultores. E, neste ritmo de trabalho, o casal permaneceu até
1908, quando retornaram e permaneceram quase um ano em sua terra natal.
Faulhaber retornou a Panambi em março de 1909, agora não mais como pastor, mas
como diretor da colonização e professor da escola que inaugurara em 1903. Logo, ele
iniciou as negociações para a instalação de uma linha telefônica na localidade. Também
começou a pleitear a instalação de uma parada de trem intermediária, num ponto adequado
que estivesse menos distante da sede da colônia, pois a estação estava a uma distância de
três horas de viagem a cavalo e o aumento do volume de exportação e importação estava se
tornando uma grande dificuldade38. A estação foi instalada em fevereiro de 1912, no Km
193-5, a uns três quilômetros depois do rio Caxambu, sendo necessário abrir novo traçado
das estradas até a estrada de ferro.
Alguns anos depois, o casal dedicou-se a outras empresas de colonização, pois o
processo de expansão da colonização por colonos rio-grandenses ultrapassou a fronteira do
estado do Rio Grande do Sul. Segundo Rudolf Becker o processo se desenvolveu em
direção ao território do estado de Santa Catarina: “A empresa Peperi-Chapecó, fundada em
1922, por Hermann Faulhaber, diretor benemérito da Colônia de Panambi, juntamente com
37 Ver documento citado em: ASSOCIAÇÃO dos escritores de Panambi. Porções de Bem Querer. Ijuí:
Sedigraf, 1997. p. 43-44. 38 Encontra-se o texto a seguir no jornal da época: “Regressou de Porto Alegre e seguiu para a próspera
colônia Neu-Württemberg, o nosso amigo Hermann Faulhaber, digno diretor da mesma colônia. O nosso amigo conseguiu do Dr. Gustavo Vouthier, diretor da Viação Férrea a promessa da construção da nova estação que será feita dentro de quatro meses” . HERMANN Faulhaber regressou de Porto Alegre e seguiu para a próspera colônia Neu-Württemberg, Cruz Alta, Cruz Alta, 25 ago. 1910. p. 3.
27
outros, começou a colonizar a região entre os rios Chapecó e Peperi, afluentes do Rio
Uruguai” .39 40
Em comparações mais recentes, observamos que Panambi possui uma
formação étnica alemã bastante elevada, ocupando conforme tabela abaixo, o terceiro lugar
no estado do Rio Grande do Sul em número de alemães residentes:
TABELA 1 - MUNICÍPIO DO ESTADO COM MAIOR NÚMERO DE RESIDENTES DE NATURALIDADE ALEMÃ EM 1970 E 1980
MUNICÍPIOS
NÚMEROS DE ALEMÃES
Total Percentual
1970 1980 1970 1980
Porto Alegre 1.906 1.176 36,6 36,7
Canoas 316 207 6,0 6,4
Panambi (gr ifo nosso) 223 155 4,2 4,8
Ijuí 183 144 3,5 4,4
São Leopoldo 148 137 2,8 4,2
Novo Hamburgo 151 118 2,9 2,7
Santa Cruz do Sul 107 50 2,0 1,5
Santa Rosa 104 55 2,0 1,7
Erechim 94 90 1,8 2,8
Esteio 81 44 1,5 1,3
Outros municípios 1.886 1.026 36,7 33,5
Estado 5.199 3.202 100,0 100,0
Fonte: IBGE – Censos Demográficos de 1970 e 1980. 41
39 BECKER, 1957, op. cit., p. 132. 40.Sobre a morte de Faulhaber, Fausel, afirma que ele se suicidou como o último ato da existência de um
homem cuja vida foi doada ao empreendimento colonizador. O contrato com a empresa colonizadora era bom economicamente, ele era responsável por todos os serviços de agrimensor das terras e, além disso, era encarregado da assistência eclesiástica da colônia. “A resolução de morrer [...] foi como um sacrifício, sobre o qual se edificaria a existência futura da colônia. É certo que também sem o trabalho de Faulhaber a colônia cresceria, mas nunca se teria tornado uma colônia modelo” . FAUSEL, op. cit., p. 35
41 SCHÄFFER, Neiva Otero. Aos alemães no Rio Grande do Sul: dos números iniciais aos censos demográficos. In: MAUCH, Claudia; VASCONCELLOS, Naira (Org’s.). Os alemães no sul do Brasil. Cultura – etnicidade – história. Canoas: Ed. da ULBRA, 1994. p. 176.
28
1.2. As relações da Colônia Neu-Württemberg com o mundo da política
A história política da colônia de Neu-Württemberg e, depois, do município de
Panambi deve ser analisada a partir de um conjunto importante e diversificado de aspectos
nem sempre correlatos ou harmônicos. O primeiro deles diz respeito à relação que se
estabeleceu entre os colonos e as próprias áreas de colonização européia, com a vida
política local e estadual. O segundo, às relações construídas pelos poderes locais, ao longo
do século XX, com o coronelismo, sob o domínio de Cruz Alta. Por fim, analisamos o
processo de emancipação política da colônia e seus desdobramentos posteriores.
O relacionamento entre as autoridades políticas de Cruz Alta e os responsáveis pela
administração da colônia era, via de regra, pacífica nos primeiros tempos de instalação da
colônia. As poucas notícias veiculadas na imprensa procuravam enfatizar que os políticos
de Cruz Alta empenhavam-se em atender às reivindicações oriundas de Panambi,
aplicando elevadas verbas em melhorias. A Colônia, depois de 1910, apresentava uma
dimensão de vila, mas somente em 1915 fora oficializada pelo Ato nº 18, do Intendente
Municipal de Cruz Alta Firmino Paula Filho, expedido a 24 de março daquele ano, então
tornando-se o 8º distrito com a denominação oficial de Neu-Württemberg, nomeado
primeiro subintendente o professor Minoly Gomes de Amorim42.
Destacamos também que, no ano de 1916, a localidade é elevada ao nível de distrito
de Cruz Alta, em que prevaleceu o nome de Neu-Württemberg. Conforme Becker os
alemães evangélicos:
(...) trabalharam tranqüilamente os pastores, professores e diaconisas, diretorias das comunidades e do sínodo no desempenho de suas funções religiosas, (...) satisfeitos que, em conseqüência do principio de separação do Estado da Igreja fixado pela Constituição da República em 1891, a Igreja podia cumprir sua missão sublime sem embaraços da parte do Governo ou de outras correntes religiosas ou filosóficas. Este estado equilibrado foi bruscamente interrompido no tempo da primeira guerra mundial, quando o Brasil entrou na guerra contra a Alemanha, e foi proibido o uso da língua alemã nas escolas e nos cultos.43
Observamos, porém, que a idéia de que os alemães não se interessavam pela
política foi amplamente difundida. A razão do desinteresse estaria associada à falta de
42 Minoly Gomes de Amorim era procedente de tradicional família de Cruz Alta. Foi o primeiro professor de
ensino público de Panambi, em 1916, e primeiro subintendente em 1924, o primeiro conselheiro na Câmara Municipal de Cruz Alta. Era um dos conselheiros ativos de Faulhaber.
43 BECKER, Klaus. Igrejas Evangélicas. Sínodo Rio-Grandense no século XX. In: BECKER, Klaus (Org.). Enciclopédia Rio-Grandense. v. 4. Canoas: Editora Regional, 1957. p. 171.
29
vontade à submissão. Conforme Gertz afirma em seu livro, houve um estudo realizado na
década de trinta sobre os alemães no RS, onde apresentamos a seguinte conclusão:
Eles são totalmente subservientes às autoridades mesmo quando se trata de autoridades subalternas e mesmo que eles tenham a impressão de que sua causa está sendo mal defendida. Este fenômeno ganha proporções mais graves pelo fato de que falta quase por completo uma liderança intelectual e sobretudo política entre os alemães (...)44
Em relação ao primeiro aspecto, isto é, a relação que se estabeleceu entre os
colonos e as próprias áreas de colonização européia com a vida política local e estadual é
importante salientar que não existe um consenso entre os historiadores. Para alguns,
predominou a idéia de que os alemães não se interessavam pela política-partidária.
No mesmo sentido aparece Jean Roche, que afirma que, inicialmente, não houve
interesse dos alemães pela política brasileira, “cansaram de pedir igualdade política” ,
tornando-se sensíveis à “sedução do germanismo”, ao qual então passaram a dar atenção,
voltando as costas à política estadual.” 45
Essas posições são difíceis de serem sustentadas quando analisadas mais de perto
por alguns episódios políticos. René Gertz, em importante estudo sobre etnia política e
religião na década de 1920 no Rio Grande do Sul aborda em particular os posicionamentos
da comunidade de alemães e descendentes na política rio-grandense. Segundo o
historiador, não existiam ainda estudos sistemáticos sobre a forma que as regiões de
colonização alemã foram afetadas pela revolução de 1923 e nem como suas populações se
comportaram em relação à bipolarização política entre governo e oposição Assisista, no
entanto, “algumas informações dão conta de alguns teutos que se bandearam para o lado da
oposição” .46
Mesmo que de forma geral as manifestações de oposição tenham sido episódios
isolados na maior parte das áreas coloniais, Gertz localizou informações sobre
posicionamentos de oposição quando da Revolução de 1923. Para ele, a revolução afetou
menos as chamadas “colônias velhas” , isto é, a região de São Leopoldo, Montenegro,
Lajeado, Estrela, Venâncio Aires e Santa Cruz do Sul. Porém, teriam sido muito atingidas
além de São Lourenço, ao sul de Porto Alegre, colônias localizadas nos municípios de
Passo Fundo, Erechim, Palmeira das Missões e, ainda, lugares como “Sarandi e Neu-
44 GERTZ, René. O perigo alemão. Porto Alegre: Editora da Universidade/UFRGS, 1991. p. 140. 45 Idem. 46 GERTZ, René. O aviador e o carroceiro. Política, etnia e religião no Rio Grande do Sul dos anos 1920.
Porto Alegre: EDIPUCRS, 2002. p. 52-53.
30
Württemberg (Panambi) que não foram duramente atingidos por tropas oposicionistas, mas
sofreram vexames iguais por parte das tropas governistas, pois estas, além de perseguirem
supostos ou reais oposicionistas, faziam as temidas requisições” .47
A colônia de Neu-Württemberg teria sido, inclusive, saqueada, tendo em vista o
clima de instabilidade política no período posterior a revolução de 1923, especialmente nas
regiões das colônias novas, onde foram criados grupos de autodefesa. Para Gertz, esses
grupos sobreviveram ao período revolucionário e exerceram importante papel em formas
de organização mais duradouras nos anos posteriores.48 Diante da ameaça de possíveis
saques e assaltos, um desses grupos, denominado, em língua alemã, Selbstschutz foi
organizado na colônia de Neu-Württemberg.
O Selbstschutz teria como objetivo dar proteção à população e, apesar de nunca ter
entrado em combate com revolucionários impediu que a colônia fosse invadida. A
organização contava com aproximadamente 700 homens, os quais se dividiam em turmas
para guarnecer os diversos pontos de acesso à vila. A filiação era voluntária, entretanto,
diante da situação da época era uma obrigação moral que todo o cidadão se alistasse no
grupo. Hermann Faulhaber foi escolhido para ser o chefe, tendo sido criada uma espécie de
escalonamento hierárquico, isto é, havia os vários pelotões e cada grupo tinha um
responsável, o Vertrauensman, o militante de confiança que comandava o pelotão.49
O Selbstschutz surgiu em conseqüência da Revolução de 1923, deflagrada pelos
assisistas contra o borgismo, cuja causa principal foi a eleição de Borges de Medeiros para
um quinto período do governo do estado.50 As principais lideranças conforme Ferreira
Filho eram “de Leonel Rocha, na região de Palmeira, de Felipe Portinho, no Planalto do
Nordeste todos com a graduação de generais” .51
Em Panambi, o maragato Leonel da Rocha52 queria impor à população r pagamento
de tributo de guerra, caso contrário, ameaçava invadir a colônia. A direção da colônia e a
47 GERTZ, René. O aviador e o carroceiro. Política, etnia e religião no Rio Grande do Sul dos anos 1920.
Porto Alegre: EDIPUCRS, 2002. p. 53. 48 Ibid., p. 53 – 54. 49 Jornal Notícia Ilustrada, Panambi, 18 jun. 1933. p. 4. 50 Jornal Notícia Ilustrada, Panambi, 14 maio 1933. p. 5. 51 FERREIRA, Filho, Artur. História Geral do Rio Grande do Sul. 5ª ed. Porto Alegre: Globo, 1978. p. 210. 52 Sobre a importância de Leonel Rocha na política regional no período ver: ARDENGHI, Lurdes Grolli, que
informa: “O poder do mato: representação e imaginário” . Leonel Rocha nasceu em 13 de outubro de 1865, no Faxinal Silva Jorge, distrito de Bom Retiro do Sul, município de Taquari. Seu pai tinha participado da Revolução Farroupilha o que teria exercido influencia no rumo de sua vida, pelas histórias que lhe eram contadas pelo mesmo. Com 23 anos, transferiu residência para Palmeira das Missões e, em 1893, filiou-se ao Partido Federalista, iniciando sua trajetória revolucionaria. Caboclos, ervateiros e coronéis: luta e resistência em Palmeira das Missões. 2003. Dissertação (Mestrado em História) – Universidade de Passo Fundo - 2003, p. 118.
31
população não aceitaram o pagamento de tal imposto. Leonel da Rocha enviou uma carta a
Hermann Faulhaber exigindo que o pagamento fosse efetuado. Faulhaber respondeu que,
de conformidade com as ordens do governo federal, chegou uma força do Exército Federal
para impedir que pagassem qualquer contribuição de guerra por ser ela uma colônia de
uma empresa estrangeira.
O resultado mais importante da consolidação do Selbstschutz foi a sua posterior
transformação na União Colonial (UC). Desde 1924 estava em curso a discussão sobre a
necessidade de que se criasse na região de colonização alemã a Associação
(Zusammenschluss). Segundo Gertz, “Apesar das enormes dificuldades teóricas e práticas
para a constituição de uma associação de caráter étnico – em torno da qual girava a grande
discussão”.53. As organizações de autodefesa acabaram por se tornar embrião do sistema
de cooperativas, que tinha como objetivo defender os interesses sociais e econômicos dos
pequenos agricultores da região. A União Colonial de Panambi (UCP) integrou, a partir de
1929 a Liga das Uniões Coloniais. As Ligas cumpriram um papel político importante, pois
mobilizavam os interesses de boa parte das populações de áreas de colonização.
Neste sentido, Adil Malheiros apresenta a visão predominante em relação à
participação dos colonos na vida política local no período de 1922 a 1926:
Com força irresistível, muitos dos imigrantes conseguiram mudar a maioria dos sistemas locais. Queriam eles manter as suas tradições e em muito conseguiram. Como é de se notar houve um certo choque racial com os antigos moradores. Começou nas escolas a desconfiança. Daí, dessas desconfianças surgiram encrencas que em muito atingiram o povo adulto. Os alunos das escolas públicas e particulares, escolas brasileiras e escolas particulares alemãs. Havia correrias da gurizada até briga com nomes não só depreciativos, como agressivos. Os professores, brasileiros junto ao insigne Diretor Faulhaber e junto aos professores alemães, procuravam amenizar a situação em que, como dissemos, grandes responsáveis tomavam partidos. Porém o fato se tornou público e notório o que, obrigou o governo da União a tomar medidas severas de nacionalização.54
Em relação ao segundo aspecto, isto é, o das relações políticas dos poderes locais
da colônia com as autoridades regionais, especialmente do município sede, Cruz Alta,
apesar dos indícios de conflitos, são relatadas, via de regra, como pacíficas. Se forem
53 GERTZ, O aviado e o carroceiro, op. cit., p. 87. René Gertz menciona o fato de ter havido participação
direta de integrantes das Ligas na revolução de 1930. 54 MALHEIROS, op. cit., p. 56.
32
levados em conta os acontecimentos de 1923, quando a instabilidade política atingiu a
região, é difícil de aceitar a tese como um todo. De qualquer forma, houve uma adesão
maior, no período anterior a 1930, ao republicanismo borgista. Assim, a máquina política
do general Firmino de Paula55 impedia, por cooptação ou pela força, a concretização de
qualquer projeto mais duradouro de oposição na região.
Enquanto nos outros estados a dominação política local e regional era exercida,
quase sem exceção, pelos maiores latifundiários, havia no Rio Grande do Sul freqüentes
exceções a esta regra, existindo um tipo especial de coronel, figura esta que se tornou
característica do período. O coronel era um chefe político municipal proveniente das
classes médias, o qual detinha seu poder sobre a população com o respaldo do governo
estadual. Os coronéis faziam com que a população votasse como eles e o governo estadual
desejavam. Nesse período a participação eleitoral era extremamente baixa.56
Firmino de Paula era natural de Santa Maria, onde nasceu em 17 de fevereiro de
1844. Mais tarde participaria da organização do movimento republicano em Santo Ângelo
e outros municípios serranos. Ao assumir o governo do Rio Grande do Sul, Júlio de
Castilhos, que era parente e amigo de Firmino, o convidou para que chefiasse Cruz Alta.
Após a Revolução de 1893, assumiu o cargo de Subchefe de Polícia da região serrana,
cargo de grande importância política e que exerceu por longo tempo. Dessa forma, foi
chefe político em Cruz alta, Santo Ângelo, Palmeira, I juí e Julio de Castilhos. Como a
maior parte dos coronéis do Rio Grande do Sul, sua fortuna era originária de grandes
propriedades de terra, especialmente em Cruz Alta. Morreu aos 86 anos em 1930 em Cruz
Alta.57
Em 1916 a colônia se tornou o 8º distrito de Cruz Alta, momento em que se percebe
um envolvimento maior dos colonos com a política regional. Muitas lideranças políticas da
colônia passaram a disputar os pleitos eleitorais para a Câmara Municipal de Cruz Alta. O
primeiro conselheiro da localidade eleito ao legislativo de Cruz Alta foi o professor Minoly
55 O general Firmino de Paula era o intendente do município de Cruz Alta, do qual Panambi era distrito.
Sobre a importância deste coronel nas relações de poder no norte do rio Grande do Sul durante a República Velha, ver especialmente: FÉLIX, Loiva Otero. Coronelismo, borgismo e cooptação política. 2. ed. Porto Alegre: Editora da Universidade (UFRGS), 1996.
56 Conforme Joseph Love o percentual da população que votou nas eleições presidenciais de 1910 a 1930 foi de apenas 0,3% a mais que a média de 2,4% verificada entre 1894 – 1906. Ver mais em: LOVE, Joseph L. O regionalismo gaúcho. São Paulo: Perspectiva, 1975.
57 ROSA, Isaldina Vidal do Pilar. Um povo... Uma cruz... uma cidade... Cruz Alta. Histórias que fazem a história da cidade de Cruz Alta do Divino Espírito Santo da Cruz Alta. S.n.t. p. 128.
33
Gomes Amorim que se tornou vereador no ano de 1924.58 Até o Estado Novo, Panambi
teve como representantes na câmara de vereadores de Cruz Alta os seguintes políticos
locais: Luiz Martim Hack, Carlos Schafazick, Walter Faulhaber e Willy Dietrich.
Durante as primeiras décadas do século XX a política local da colônia acompanhou,
de forma geral, as articulações que consolidaram os representantes do Partido Republicano
Riograndense (PRR) à frente do estado do Rio Grande do Sul. Mesmo que eventualmente
tenha ocorrido algum tipo de oposição ou manifestação de autonomia das lideranças dos
colonos, o mando manteve-se nas mãos do PRR ou dos coronéis do PRR. A mesma
situação poderá ser observada a partir da revolução de 1930 e da substituição da
hegemonia do PRR pela do Partido Republicano Liberal (PRL) de Flores da Cunha.59
Tratando dos processos eleitorais no Rio Grande do Sul, Hélgio Trindade e Maria
Izabel Noll afirmam que depois da chegada de Vargas ao poder houve um processo de
frustração crescente em muitos segmentos políticos do estado que haviam aderido a
Aliança Liberal. Segundo os autores:
Transformando-se a FUG (PRR aliado ao PL) sob a liderança de Borges de Medeiros e de Raul Pilla num centro de oposição aos governos revolucionários (federal e estadual), não resta à situação senão criar seu próprio canal de expressão – o que se dá com a fundação do Partido Republicano Liberal (PRL) por Osvaldo Aranha e Flores da Cunha. O PRL é um partido criado para dar respaldo à ação governamental, tanto ao nível federal como estadual, congregando todos os elementos beneficiados com a Revolução de 1930, vinculados de uma forma ou de outra a Interventoria ou os que apoiavam a política de Vargas.60
Nas três eleições ocorridas neste contexto, em 1933 para a constituinte federal, em
1934 para a câmara federal e em 1935 para as prefeituras municipais, o PRL obteve vitória
na maior parte dos pleitos. Em 1935, dos 80 municípios gaúchos o PRL venceu em 60
deles. Assim, mesmo que se considere a atuação da AIB com as “votações incipientes, ela
rouba parte do eleitorado da zona colonial” , 61 é inquestionável a adesão da maior parte da
sociedade gaúcha ao modelo implantado no Brasil pós anos 30. Nesse sentido, o golpe do
58 No livro de registro das eleições realizadas em 09/11/1924 para intendente, vice-intendente e conselheiros
que se encontra no Museu Municipal de Cruz Alta verificamos o registro da eleição de Minoly Gomes Amorim, agricultor de Panambi, entre outros nomes de outras localidades.
59 Sobre esta questão ver: COLUSSI, Eliane Lucia. Estado Novo e municipalismo gaúcho. Passo Fundo: Ediupf, 1996.
60 TRINDADE, Hélgio e NOLL, Maria Izabel. Rio Grande da América do Sul. Partidos e eleições (1823-1990). Porto Alegre: Ed. Da Universidade/ UFRGS; Sulina, 1991. p. 57.
61 Ibid., p. 60 – 61.
34
Estado Novo, ocorrido em 10 de novembro de 1937, abrevia um processo de rearticulações
das diversas correntes políticas gaúchas.
Nas áreas coloniais, o período da chamada “nacionalização” do regime estado-
novista gerou uma série tensões de maior ou menor impacto, especialmente nas
comunidades teuto-brasileiras. Levando-se em consideração o fato de Neu-Württemberg
ser predominantemente uma comunidade evangélica, a questão da ascensão do nacional-
socialismo e de Hitler ao poder na Alemanha, teve implicações diretas na região. Martin
Dreher informa que um grupo de pastores vieram a se confessar abertamente adeptos do
nacional-socialismo e do ideário do “Movimento de Fé Teuto-Cristão”. Assim, em
oposição a esse fato criou-se um grupo menor, o “grupo de Trabalho da Igreja
Confessante” , cuja exigência era que o sínodo se posicionasse contrariamente aos
acontecimentos de ordem político-eclesiástica que se desenrolavam na Alemanha.62
No mesmo sentido, e de acordo com René Gertz, foi o germanismo, o nazismo e o
integralismo que forneceram a justificativa para a ação estatal conhecida como campanha
da nacionalização. Para Gertz, o espírito da nacionalização vai realizar-se em dois níveis:
um, educativo, o outro, o repressivo63. Mesmo não colocando em risco a dominação
política mais tradicional, ocorreu uma difusão de núcleos integralistas a partir de 1934 no
Rio Grande do Sul. Para a maioria dos autores, houve uma maior aceitação do integralismo
em regiões de colonização estrangeira, especialmente alemã. Ao que consta, a região de
Panambi abrigava um grande número de integralistas, na sua maioria quase absoluta
alemães.64
Neste contexto, a problemática em torno da mudança do nome da localidade foi
exemplar das repercussões da campanha de nacionalização em Panambi. Conforme o
decreto nº 7.199, de 31 de março de 1938, Neu-Württemberg foi elevada à categoria de
Vila e o nome alterado para Nova Württemberg. Entretanto, no mesmo ano, o Decreto
Estadual nº 7.589, de 29 de novembro, expedido pelo interventor federal Cordeiro de
Farias, alterava o nome para Pindorama, que significa Terra das Palmeiras. No ano de
1944, o interventor federal do Rio Grande do Sul, Ernesto Dornelles, expediu o Decreto
62 DREHER, Martin Norberto. Igreja e germanidade: estudo crítico da história da Igreja Evangélica de
confissão luterana no Brasil. Caxias do Sul: ed. Sinodal/Ed. Da Universidade de Caxias do Sul, 1986. p. 125.
63 GERTZ, René. O perigo alemão. Porto Alegre: Editora da Universidade, 1991. p. 64-65. 64 Ver CALIL, Gilberto Grassi. O integralismo no pós-guerra. A formação do PRP (1945-1950). Porto
Alegre: EDIPUCRS, 2001. p. 210. O autor faz menção a esta realidade e informa que no período da redemocratização existiu inclusive de um Diretório Municipal do PRP em Panambi.
35
Lei nº 720, alterando o nome de Pindorama para Panambi, nome tupi-guarani, cujo
significado seria “borboleta azul” .
O período da redemocratização iniciado com o final do Estado Novo introduziu no
cenário político brasileiro novas siglas partidárias que passaram a conviver politicamente
com segmentos tradicionais agrupados nas velhas siglas. No pós-45, enquanto o padrão
nacional de confrontação partidária traduziu-se na polarização PSD-PTB versus UDN. No
Rio Grande do Sul esta confrontação não se repete principalmente por que a UDN adquiriu
um caráter marginal “chegando a ficar em 10º lugar nas eleições de 1947”.65 O PL, sigla
tradicional manteve-se forte e abafou a possibilidade de crescimento da UDN no território
gaúcho.
Assim, no Rio Grande do Sul a principal confrontação política no pós-45 se dá
através do PTB X anti-PTB. Em Panambi, assim como na maior parte do interior do
estado, a disputa se deu de forma acirrada e com uma tendência crescente de confirmação
do PTB como força política predominante, em substituição à clivagem política de outros
períodos comuns na cultura política. Em 1945, a imprensa noticiou as informações sobre o
comício do PSD realizado em Panambi para a propaganda de seus candidatos a Presidente
da República, Senado e Câmara Municipal, destacando que foram a Panambi os membros
do Diretório Municipal do PSD de Cruz Alta e, segundo a reportagem, “ foram muito
aplaudidos pelos presentes, em suas orações de propaganda, do programa de seu partido e
de suas chapas (...).”66
A eleição ocorreu no dia 02 de dezembro de 1945 e o resultado foi o seguinte: em
Panambi, o General Eurico Gaspar Dutra obteve 1.361 votos, o Brigadeiro Eduardo
Gomes, 352 votos e o Engenheiro Yeddo Fiúza apenas 02 votos. Para o senado, o PSD
obteve 1.268 votos e a UDN 367 votos. Neste mesmo jornal consta o resultado da eleição
em todo o município de Cruz Alta onde podemos constatar uma vitória do General Eurico
Gaspar Dutra com 70% dos votos. Para senador destacaram-se os dois mais votados,
Getúlio Dornelles Vargas e Ernesto Dorneles.67
Em termos municipais, houve uma alternância no poder entre as forças políticas em
torno do PTB e os setores anti-PTB. Mesmo assim, a maioria das chapas vitoriosas, neste
contexto, foi composta por políticos do PTB e do PRP. É nítida e perceptível a existência
65 TRINDADE, Hélgio e NOLL, Maria Izabel. Rio Grande da América do Sul. Partidos e eleições (1823-1990). Porto Alegre: Ed. Da Universidade/ UFRGS; Sulina, 1991. p. 66. 66 Alcançou pleno êxito o comício do PSD, em Panambi. Diário Serrano, Cruz Alta, 24 nov. 1945. p. 02. 67 Jornal Diário Serrano, Cruz Alta, 02 dez. 1945. p.02.
36
de posições partidárias bem definidas, especialmente pró-PTB. Em 1951, houve a
publicação de uma nota explicativa e de uma poesia, com o seguinte conteúdo:
Eleitorado panambiense! Não tive aqui a menor intenção de ofender quem quer que seja. Entretanto, estes versinhos mancos ou quebrados, dizem da sinceridade como devemos lutar pela causa pública, que é a nossa própria causa. Se conseguirmos, como já não resta a menor dúvida, a eleger: Aristides Basílio de Campos e Plínio Cortes Machado e a maioria dos vereadores, então teremos cumprido conscientemente com o nosso dever cívico de verdadeiros brasileiros livres, no regime novo, sadio e democrático, do Trabalhismo em Marcha, para a grandeza da família brasileira, que é a grandeza da nossa estremecida Pátria, o Brasil! Avante, pois, com o teu voto em 1º de novembro, nas urnas, com os candidatos do glorioso Partido Trabalhista Brasileiro.68
1.3. A emancipação política de Panambi
Como vimos , a colônia de Neu-Wüerttemberg nasceu do distrito de Cruz Alta. Em
1916 era seu 8º distrito, em 1934 passou a ser o 9º distrito e, em 1940, o 10º distrito. Os
primeiros movimentos indicativos de que segmentos da sociedade local desejavam a
emancipação política são do ano de 1949. No dia 15 de janeiro daquele ano, foi realizada
uma assembléia geral na sede da localidade, com o objetivo de mobilizar a população
sobre a importância da emancipação política. A reunião foi presidida por Walter Faulhaber
com a colaboração de Carlos Frederico Lehsten, Oscar Schneider, Rudi Franke, Adolpho
Kepler Jr., Adolfo Franke, entre outras lideranças locais. Na reunião, após as defesas de
posicionamentos pró-emancipação, foi constituída uma Comissão Emancipacionista, com
os seguintes dirigentes: Siegfried Dietschi, presidente; Walter Faulhaber, vice-presidente;
Conrado Doeth, secretário; e Oscar Schneider, tesoureiro.
Havia quase unanimidade entre as lideranças políticas e empresariais, assim como
da maior parte da população, em torno dos benefícios que a emancipação política traria a
Panambi. Mais do que almejar a emancipação, as lideranças locais pretendiam conquistar
Condor, na época, distrito de Palmeira69. Condor passaria a ser distrito de Panambi. A
situação geográfica de Condor era estratégica e tida como fundamental para o crescimento
68 Documentos localizados na Pasta de Malheiros, que constam no acervo do Arquivo Histórico de Panambi. 69 As disputas pelas terras pertencentes a Condor perduram muitos anos. Somente com a Lei n.º 5.094, de
sete de novembro de 1965, ocorreu à emancipação do município de Condor e, assim a questão se definiu. Até aquele momento, o território de Condor se dividia entre Panambi e Palmeira das Missões. A sede do novo município era, anteriormente, distrito de Panambi.
37
de Panambi. Entretanto, tal pretensão encontrou resistência em Palmeira das Missões,
principalmente na oposição firme do então prefeito, Pompílio Gomes Sobrinho.
O prefeito Pompílio liderou uma campanha contra a emancipação de Panambi,
mobilizando a opinião pública daquele distrito, pressionando os moradores de Condor a
votar contra a emancipação. Tendo em vista o clima de disputa acirrada, a Assembléia
Legislativa autorizou a realização de um plebiscito que deveria se realizar em sete de
setembro de 1949. Entretanto, em razão da resistência antiemancipacionista promovida
pela prefeitura de Palmeira e as divergências entre os moradores locais, o plebiscito teve
que ser adiado.
Entre os muitos episódios ocorridos neste contexto, Malheiros descreve uma
situação em que Josino Leal Malheiros, um dos líderes da emancipação, junto com outros
companheiros que visitavam Condor, foi atacado naquele distrito. A caravana sofreu forte
agressão por parte de um grupo de homens armados de porrete e facão. Nessa ocasião,
alguns integrantes da caravana ficaram feridos. O delegado de polícia de Cruz Alta, Brasil
Milano, compareceu ao local e abriu um inquérito para apurar os fatos. Também ocorreu
um atentado de agressão a Walter Faulhaber.70
Segundo Adil Malheiros, revelando abertamente uma posição de defesa dos
interesses de Panambi, afirmou que muitas famílias de Condor:
eram pressionadas, de uma ou de outra forma, a votar contra a emancipação. Até cartas anônimas foram enviadas aos líderes da campanha. Ainda nesse dia (02 de setembro de 1949) na consulta plebiscitária, foram colocadas tábuas, com pregos enterrados, nas estradas.71
O novo plebiscito foi realizado no dia 15 de setembro de 1949, com o seguinte
resultado: em Panambi, 1722 votos a favor da emancipação e 5 votos contra; em Condor,
1324 votos contra e emancipação e 863 votos a favor72. A Assembléia Legislativa
promulgou a lei, criando o município. Entretanto, uma longa batalha judicial se iniciou: os
poderes públicos estaduais alegavam a inconstitucionalidade das disposições normativas
aplicadas na execução do processo emancipacionista. A justiça anulou todo o processo e o
município acabou não sendo criado naquele momento.
Somente em 1953 foi realizado um novo plebiscito e, finalmente, em 1954, foi
decretada a emancipação de Panambi e marcada a data para a primeira eleição para prefeito
70 MALHEIROS, op. cit., p. 61. 71 Ibid., p. 61. 72 Idem.
38
e vereadores. No dia 28 de fevereiro de 1955, foram eleitos: o primeiro prefeito, o
engenheiro Walter Faulhaber, filho de Hermann Faulhaber, e o vice-prefeito, Levino
Lautert, eleitos pela coligação entre o Partido Trabalhista Brasileiro (PTB) e o Partido de
Representação Popular (PRP), sendo empossados, estes permaneceram no cargo até 31 de
dezembro de 1959.
O juiz eleitoral, Antonio Augusto Uflaker, presidiu a eleição da mesa da Câmara,
que ficou constituída por sete vereadores, sendo Presidente Rudolfo Arno Golhardt,
primeiro vice-presidente Gentil Belisário de Oliveira, segundo vice-presidente Edmundo
Rahmeier e secretário Rudi Franke.
Walter Faulhaber instalou a prefeitura com seus próprios recursos, angariou móveis
seus e de seus amigos, governando durante cinco anos gratuitamente, sem usufruir os
vencimentos a que tinha direito. As principais realizações e obras da sua administração
foram: melhoramentos no sistema telefônico, criação da Delegacia de Polícia, da
Associação Rural, do Hospital Público de Caridade, da Agência Municipal de Estatística, a
remodelação da Praça Maurício Cardoso e a instalação do Posto de Saúde Público.
Conseguiu melhoramentos no sistema rodoviário, calçou ruas, canalizou águas fluviais,
construiu pontes, bueiros, escolas e entregou o município sem dívidas, com um saldo em
caixa, além de um verdadeiro parque com máquinas e ferramentas rodoviárias73.
De 1945 a 1964 a política interna do Rio Grande do Sul girou em torno do PTB e
de uma coligação anti PTB. O poder do PTB concentrava-se em Porto Alegre, em umas
poucas áreas urbanas restantes e em alguns municípios da fronteira, onde os estancieiros
ainda determinavam em quem seus dependentes deviam votar. A oposição conservadora
encontrava-se, na maior parte, no resto das comunidades estancieiras e na zona colonial a
norte e a oeste da capital do Estado.74
Para concluir, não se pode deixar de mencionar a hegemonia que os políticos
luteranos exerceram na vida política de Panambi. Desde a primeira eleição em 1955 até os
dias atuais sucederam-se várias administrações municipais. Apesar de serem de partidos
diferentes, apenas duas gestões não foram exercidas por políticos cuja opção religiosa é a
luterana. Nessas duas gestões, o cargo de prefeito foi exercido pela mesma pessoa, de
filiação católica. Contudo, seus vices-prefeitos, em ambas as gestões, eram filiadas à Igreja
Luterana. Nas outras dez administrações apenas um vice era batista, os demais todos
73 MALHEIROS, op. cit., p. 70-71. 74 LOVE, op. cit., p. 275.
39
luteranos. Desta forma, a religiosidade foi o justificador e integrador da comunidade em
torno do valor do trabalho e de progresso com desdobramentos no campo político.
A título de ilustração acrescentaremos uma breve caracterização política do povo de
Panambi, a partir do olhar de um intelectual local e que, certamente, poderia ser
redimensionado aos olhos da crítica histórica:
o povo de Panambi, é simples, mas é acolhedor. É o tipo do gaúcho autêntico; hospitaleiro e prestativo. O amor cívico pela Pátria sempre se destacou. As campanhas políticas e pleitos se desenvolveram em nível de respeito e harmonia. Muitos filhos de Panambi se dedicaram a uma política partidária objetiva, cívica e de alto nível de brasilidade.75
1.4. A vocação para o trabalho e a dinâmica econômica em Neu-Württemberg
A economia da colônia e depois também do município de Panambi, caracterizou-se
pela diversificação das atividades econômicas. Ao lado da pequena propriedade e da
agricultura familiar, típica deste modelo de colonização, ocorreu um processo de
desenvolvimento de setores econômicos tipicamente urbanos. Em relação ao
estabelecimento da pequena propriedade, nas primeiras décadas da história da colônia, a
média de extensão dos lotes comprados pelos colonos foi de 250.000m. Assim, comércio e
indústria prosperaram desde os primeiros anos de implantação da colônia Neu-
Württemberg.
Para atuar na colônia de Neu-Württemberg, Hermann Meyer contratou seu primo,
Alfred Bornmüller nas funções de administrador da colônia, cargo que exerceu até o ano
de 1903. Durante sua gestão, foi construída a casa da administração e criada uma estação
experimental para pesquisas na área agrícola. Foram adquiridos nove arados americanos e
criada a Cooperativa de Produção e Compras. Vários colonos, moradores da colônia,
oriundos da área colonial do município de Santa Cruz, já conheciam o movimento das
associações de agricultores nas “colônias velhas” e decidiram criar um núcleo desse
gênero. Assim, o cooperativismo ganhou um espaço de destaque na região de Panambi. No
dia 15 de março de 1903, foi formada a Associação de Agricultores de Neu-Württemberg,
com 35 membros, cujo objetivo era representar os interesses e ajudar a resolver os
problemas dos agricultores.
75 MALHEIROS , op. cit., p. 85 – 86.
40
A atividade industrial foi, ao longo dos anos, projetando-se e abrangendo diversos
ramos. Em 1902, chegou a Neu-Württemberg a família de Carlos Ernesto Knorr,
marceneiro de ofício, proveniente de Württemberg. Como sabia fabricar aberturas, móveis
e construir casas de madeira, instalou uma marcenaria. Em 1910 ele já era proprietário de
uma serraria a vapor e durante a década de 1920 mobilizou esforços no sentido de que
fosse instalada uma usina elétrica na colônia. Em 1926, finalmente, o projeto foi
concretizado com a inauguração de uma usina elétrica. Carlos Knorr, segundo Malheiros,
teria levado uma vida de trabalho duro e assíduo, cujo lema era “trabalhar, poupar e olhar
para frente.”76
As idéias de trabalho e progresso foram, dessa forma sendo elaboradas e
difundidas. A maior parte das narrativas historiográficas sobre Panambi inclui nas
biografias de colonos, como no caso de Carlos Knorr, essas qualidades. Mesmo que se
acredite que a presença das concepções do trabalho e do progresso se constituiu numa
representação daquela realidade histórica, evidentemente de que havia no mundo social
daquela localidade uma preocupação concreta com o desenvolvimento/crescimento
econômico das famílias. O fato de a maior parte de a população ser adepta, em nível
religioso, do protestantismo, contribuiu decisivamente na construção destas concepções.
Para Max Weber, no seu estudo sobre a relação da religião/cultura com o sistema
econômico, o cumprimento das tarefas do século “sob quaisquer circunstâncias, é o único
caminho para satisfazer a Deus, que ele e somente ele, está dentro da vontade de Deus, e
que, por isso, qualquer vocação lícita tem o mesmo valor perante os olhos de Deus” . Além
disso, Weber acrescenta em relação ao trabalho: “não há mais dúvida de que essa
qualificação moral da atividade terrena foi uma das elaborações mais cheias de
conseqüências do Protestantismo, e especialmente do próprio Lutero, a ponto disso já
constituir um lugar comum”.77
Assim, as representações sociais em torno das idéias de trabalho e de progresso
eram elementos constitutivos daquela realidade. É ilustrativo desta situação um relatório
estatístico realizado pela Empresa de Colonização de Dr. Hermann Meyer relativo ao ano
de 1910 e 1911 quando já estavam instaladas em Neu-Württemberg as seguintes empresas:
Serrarias a vapor (03): Frederico Garn, Carlos Knorr e Antonio Schuetz; Moinhos (03): Frederico Garn, Edwin Mattias e Germano Schumann Filho;
76 ASSOCIAÇÃO dos escritores de Panambi, op. cit., p. 283. 77 WEBER, A ética protestante e o espírito do capitalismo, op. cit., p. 54.
41
Fábricas de tijolos (02): Max Kaul e Reinhold Doehler; Cervejaria (01): Germano Trennepohl; Fábricas de cachaça (02): Augusto Schmidt e Guilherme Schumann; Ferreiros (03): Paulo Beckert, Adolfo Kepler e Ricardo Neitske; Funileiro (01): Leopoldo Hepp; Alfaiataria (01): Carlos Dose; Sapateiro (01): Eugenio Simões Pires; Cortumes e selarias (02): Ernesto Muller e Miguel Baumgarten; Carpinteiros (02): Pedro Bock e Germano Waldow.78
Outro exemplo, da idéia de prosperidade vinda do trabalho, foi o caso das
iniciativas empreendedoras de Otto Kepler e Adolfo Kepler Junior. Em 1925, Otto e
Adolfo fundaram uma empresa que se tornaria o embrião da empresa Kepler Weber S.A.
Nos seus primórdios, em 1910, a empresa era uma simples ferraria com poucos
instrumentos e algumas máquinas, todas de operação manual. A expansão dos negócios
dos Kepler foi gradual, mas intensa, tanto que foi necessário instalar o primeiro motor
elétrico para acionar o torno mecânico. A partir de 1936, após uma nova parceria, com
Otto Weber, a empresa expandiu-se com o início da comercialização de veículos da
Companhia General Motors. O passo maior no sentido da consolidação da empresa Kepler
Weber ocorreu em 1939, quando se instalou a fundição e a construção de diversas
máquinas operatrizes.79
Alfred Arnaldo Fockink foi também importante no processo de consolidação do
setor industrial metal-mecânico em Panambi. Em 1947 ele chegou à região, vindo da
Alemanha e, imediatamente, instalou uma oficina de consertos e rebobinagem de motores,
transformadores, dínamos e equipamentos elétricos em geral. Rapidamente seu nome
expandiu-se, tornando-se uma referência regional.
O dinamismo das atividades industriais da colônia prosperou também em outras
atividades e, para períodos posteriores da história do município. Os setores de serrarias,
fabricação de móveis, moinhos, engenho de arroz, de erva-mate e cachaça, funilarias,
ferrarias, fundições, bebidas, curtumes e olarias, cuja produção abastecia o mercado
interno e arredores. Segundo Geraldo Muller, a organização da economia gaúcha, até por
volta de 1950, pouco representava para a expansão industrial. Havia um grande número de
fabriquetas, que produziam seus principais instrumentos de trabalho e de transporte com
mão-de-obra quase sempre familiar:
O desenvolvimento, mesmo do tipo de industrialização gaúcha, chamemo-la assim, marcado pela grande dispersão e número de unidades produtivas, surgiu e se expandiu seguindo, fundamentalmente, a evolução da agropecuária de
78 Livro Copiativo n. 8. p. 126. In: Anais do Arquivo Histórico de Panambi, n. 132. / 1989. 79 ASSOCIAÇÃO dos Escritores de Panambi, op. cit., p. 284-288.
42
pequena dimensão. Em 1937, foi constatada a existência de 1646 fábricas e oficinas metalúrgicas em todo o Estado. Na capital havia 239 e no pequeno núcleo urbano colonial de Santa Cruz do Sul, havia 100 .80
Por fim, outra forma comum de se caracterizar o município de Panambi é através da
denominação de “Cidade das Máquinas” .81 Para Malheiros:
o tempo passou e nada mais se falou a respeito. Quando foi criado o primeiro órgão de imprensa como suplemento do Diário Serrano de Cruz Alta, foi dado o nome ao semanário. Faulhaber não teria esquecido daquele discurso e, quando assumiu a Prefeitura, colocou o cognome no emblema de Panambi, oficializando assim o nome “Cidade das Máquinas.82
80 MÜLLER, Geraldo. A economia política gaúcha dos anos 30 aos 60. In: DACANAL, José Hildebrando e
GONZAGA, Sérgius. RS: economia e política. Porto Alegre: Mercado Aberto, 1979. p. 365 – 366. 81 Esse cognome teria sido usado pelo padre Pedro Luiz Bottari, no ano de 1945, em discurso, na Metalúrgica
Faulhaber, no dia do trabalho daquele ano. No discurso ele teria dito: “Num futuro bem próximo Panambi será município. Considerando o seu parque industrial, a cidade com muito direito, será chamada, CIDADE DAS MÁQUINAS. Fica lançada a idéia”. MALHEIROS, op. cit., p. 87.
82 MALHEIROS, op. cit., p. 88.
Como podemos observar o próprio Malheiros se encarregou de dizer como surgiu o
cognome escolhido para identificar Panambi.
2. A QUESTÃO DA IDENTIDADE TEUTO-BRASILEIRA:
MEMÓRIA, RELIGIOSIDADE E EDUCAÇÃO.
A questão da construção da identidade teuto-brasileira para os colonos que se
instalaram na colônia Neu-Württemberg, depois Panambi pode ser analisada a partir das
conexões entre memória, religiosidade e educação. A maior parte das obras
historiográficas produzidas sobre a história local revelam uma imagem e auto-imagem que
se propagou no seio daquela realidade histórica gerando elementos da identidade teuto-
brasileira. A religião e a escola/educação são integrantes e complementares no processo de
confirmação dessa identidade étnica. A identificação de Panambi como uma cidade
desenvolvida e dinâmica seria resultado daquelas conexões que resultaram no valor
comum à maioria, de dedicação ao trabalho e ao progresso.
Desta forma, as narrativas sobre a história do município de Panambi foram muito
importantes, para que pudéssemos compreender os mecanismos de construção e
divulgação desta imagem. Assim, tanto na historiografia local quanto na ação religiosa e
pedagógica observa-se que as percepções daquele mundo social não são, como refere
Chartier, “de forma alguma discursos neutros. Eles produziram e reproduziram diversas
estratégias e práticas para legitimar o projeto colonizador e para justificar para a própria
comunidade as suas escolhas e condutas” .83
83 CHARTIER, Roger. A história cultural: entre práticas e representações. Lisboa: Difel, 1990. p. 17.
44
2.1. Um olhar sobre a historiografia: memória e narrativas
Para analisar a história de Panambi, uma das fontes essenciais de estudo são as
obras historiográficas publicadas sobre o município. No entanto, a maior parte dessas
narrativas podem ser caracterizadas como “produção historiográfica tradicional” . Neste
sentido, as principais características das obras se enquadram na definição que Peter Burke
sistematiza, pois enfatizam aspectos político-administrativos no âmbito da política formal,
são essencialmente narrativas dos acontecimentos, abordam apenas a elite, portanto,
possuem uma visão de cima, nelas os historiadores não formulam problemas ou questões a
serem respondidas, e pregam a objetividade histórica.84
Entre as obras aqui selecionadas para uma análise inicial da relação entre os
imaginários do trabalho e do progresso e a produção, via narrativas, optou-se por três
daquelas consideradas de maior repercussão local. Assim, as obras de história de Panambi
estudadas são as seguintes85: a de Erich Fausel editada em 1949, comemorativa ao
aniversário de cinqüenta anos de instalação da colônia86; a obra de Adil Alves Malheiros,
com o título Panambi, o Vale das Borboletas Azuis, que teve por finalidade homenagear os
vinte e cinco anos de emancipação do município, tendo sido reeditada em 1990
conservando basicamente o mesmo conteúdo87; e Porções de bem querer, de autoria da
Associação de Escritores de Panambi, publicada em 1997.88
84 BURKE, op. cit., p. 10. 85 A primeira obra escrita sobre Neu-Württemberg foi: KUHLMANN, Gustav; KRAHE, Friedrich. Eine
Siedlung Deutscher in Rio Grande do Sul/Brasilien. S.l.: s.e., 1933. (KUHLMANN, Gustav; KRAHE, Friedrich. Uma colônia alemã no Rio Grande do Sul/Brasil. S.l: s.e., 1933.) Não tendo sido traduzida para a língua portuguesa. Em 1964, outro livreto foi publicado com o título Panambi, 65 anos de progresso de autoria dos editores do jornal O Panambiense.
86 FAUSEL, Erich. Cinqüentenário de Panambi, 1899 – 1949. Ijuí: s.e., 1949. Em 1949, Erich Fausel editou a segunda obra tratando da história de Neu-Württemberg, nesse ano já denominado Panambi. Erich Fausel era graduado em História Germanística e Teologia, Doutor em História, atuava no Instituto Pré-Teológico e na Faculdade de Teologia, em São Leopoldo. Foi convidado especificamente para elaborar as características e potencialidades sócio-econômicas da localidade. Evidenciar as condições de cortar as relações com o município de Cruz Alta para organizar-se autonomamente. Para tanto, era necessário convencer os moradores da localidade e as autoridades das potencialidades da localidade.
87 MALHEIROS, op. cit. Adil foi funcionário público estadual por vinte e sete anos, na Exatoria Estadual de Panambi, passando por diversos cargos, e aposentando-se como coletor, sendo retificado para o alto-cargo de Auditor de Finanças Públicas do estado do Rio Grande do Sul. Foi também um dos fundadores da Paróquia São João Batista, um dos idealizadores do Colégio Nossa Senhora de Fátima. Foi membro da Comissão Emancipacionista de Panambi, fundador do Partido Trabalhista Brasileiro (PTB), do Movimento Democrático Brasileiro (MDB) e do Partido do Movimento Democrático Brasileiro (PMDB), sendo candidato a prefeito em 1972, pelo MDB. Foi fundador do Lions Clube de Panambi e criador e fundador do primeiro órgão de imprensa de Panambi, um suplemento do Diário Serrano, “ O Panambi – Cidades das Máquinas” não tinha descendência germânica, sendo católico.
88 ASSOCIAÇÃO de Escritores de Panambi. Porções de bem querer. Ijuí: Sedigraf, 1997. É uma obra coletiva e se organiza em forma de artigos, comemorativa aos cem anos da colonização de Panambi, escrita pela Associação dos Escritores de Panambi, em 1997. É uma síntese dos acontecimentos e
45
Um dos elementos centrais presentes nas narrativas de história local é a ausência de
crítica histórica e de crítica documental, prevalecendo assim uma parcialidade dos autores
representada muitas vezes pela presença de “ juízo de valor” . O fato da maior parte das
obras serem de caráter comemorativo de aniversários da colônia município, estimulam a
valorização extremada daquelas características consideradas mais valorizadas. Assim, a
cidade de Panambi é efetivamente caracterizada como uma cidade do trabalho e do
progresso.
Sergio Ervino Michels acrescenta outro aspecto importante e complementar no
sentido tanto da parcialidade deste tipo de produção quanto da reprodução das idéias
contidas nas obras. Segundo o autor, não pode ser esquecido que “as narrativas aqui
pesquisadas foram vendidas para as famílias da localidade. Nesse sentido sim, pode-se
considerar que tiveram um papel de livro didático, na escola da vida, para a localidade.” 89
A principal consumidora destas obras foi, exatamente, a própria sociedade local. Como
conseqüência desta situação, a reprodução dos valores e qualidades do grupo étnico se
consolidou na memória coletiva de Panambi.
Outra explicação, talvez mais importante, para a difusão dessa imagem está
relacionada, sem dúvida, à necessidade de consolidação de uma identidade do grupo
étnico-social que ali se fixou, por exemplo, alemães e seus descendentes. O mito, no caso,
trabalho e progresso, seria revelador e justificador da comunidade, sua origem, seu
desenvolvimento, sua existência, sua identidade. A ênfase na coragem dos alemães
pioneiros para enfrentar as dificuldades impostas pela natureza, a escassez financeira, a
carência material e também cultural, fez com que se tornassem mais fortes através do
trabalho. Nessa perspectiva, Luis Felipe Miguel, tratando de mitos políticos indica que na
origem quase todos estão ligados “ à imagem de um princípio fabuloso” .90
Importante salientar que foi comum nas regiões de colonização européia e,
especialmente, na alemã a difusão destas noções de trabalho e progresso como constitutiva
da etnia. A obra de Aurélio Porto é exemplar deste tipo de abordagem. O próprio título da
sua principal publicação menciona o trabalho e a contribuição dos colonos alemães para o
desenvolvimento do Rio Grande do Sul. Segundo Porto, os imigrantes alemães eram:
vivências na sociedade, enriquecida com várias fotografias para melhor ilustrar a narrativa. Possui uma análise extensa da parte de um de seus escritores, Eugen Leitzke.
89 MICHELS, op. cit., p. 33. 90 MIGUEL, Luis Felipe. Em torno do conceito de mito político. Dados. Revista de Ciências Sociais, Rio de
Janeiro, v.41, n.3, 1998, p. 635-661. p. 639.
46
Construtores humildes da riqueza, espalharam-se pelos campos, pelas cidades, rompendo as fronteiras das colônias e, onde surgiram, as indústrias prosperavam, um novo sopro de vida e intensificava a atividade multiplicadora das nossas possibilidades econômicas. Suas luzes, hauridas numa velha civilização, brilhavam nas nossas letras, nas nossas ciências, em todos os departamentos das nossas conquistas intelectuais, morais e materiais. Confraternizados conosco, nas lides da imprensa, surgem, na sua poliforme inteligência, e se projetam, pelo seu amor a pátria adotiva, na história nacional.91.
De acordo com Roger Chartier, as representações sociais, como no caso das idéias
de trabalho e progresso, são produzidas a partir de papéis sociais concretos, não havendo
assim uma oposição entre o real e o mundo pensado. Desta forma, entende-se o imaginário
social construído e difundido na comunidade da colônia Neu-Württemberg como parte
constituinte daquela realidade. Entretanto, como sabemos, nem sempre as representações
expressam a realidade com exatidão, pois o imaginário não é espelho fiel da realidade.92
Os aspectos comuns ao conjunto historiográfico denominado de tradicional são os
fatos em que, uma boa parte das informações tem origem em relatos e depoimentos de
testemunhas desses descendentes. Seria a fonte principal que alimenta as obras a memória.
Esta característica por si só não seria problemática, já que nas últimas duas décadas houve
uma valorização de metodologias baseadas em história oral,93 contudo, as obras de história
municipal, selecionadas para este estudo, não apresentam nenhum tipo de preocupação
técnico-metodológica em relação à história oral. Mais do que isso, na maioria das vezes em
que os depoimentos aparecem como fonte, se menciona a problemática envolvendo as
diferenças entre história e memória.94
91 PORTO, Aurélio. O trabalho alemão no Rio Grande do Sul. Porto Alegre: Est. Graf. S. Terezinha, 1934. p.
263. 92 CHARTIER, Roger. O mundo como representação. Estudos Avançados. São Paulo: USP, 5 (11), p. 173-
191, jan-abr. 1991. 93 Para se entender a valorização da memória e da história oral ver Diehl, que “Nesse mesmo sentido, em
relação à valorização da memória como fonte histórica, Astor Antônio Diehl afirma: A consciência de uma perda irreparável, promovida pela mudança paradigmática nas formas de produção do conhecimento, gerou o afastamento das histórias estruturais. Em seu lugar crescem as histórias culturais. Já não são mais os modelos conceituais teóricos, aqueles capazes de dar conta da combinação explicativa, mas a memória como fonte agora passa a assumir importância”. DIEHL, Astor Antônio. Cultura historiográfica: memória, identidade e representação. Bauru: Edusc, 2002. p. 14.
94 Estudo acadêmico focalizando aspectos educacionais e culturais da história de Panambi, de MICHELS, Sérgio Ervino. A história ensinada na colônia particular de Neu-Wüerttemberg, sob a ótica do protestantismo, da germanidade e da educação. 2001. Dissertação (Mestrado em Educação nas Ciências) – Faculdade de Educação, Universidade Regional do Noroeste do Estado do Rio Grande do Sul (UNIJUI), Ijuí, 2001. Nele o autor desenvolve, entre outras coisas, reflexões em torno da questão da memória e da história.
47
Segundo Bronislaw Bazcko:
O estudo das relações entre ética protestante e o espírito do capitalismo mostra, por exemplo, como um sistema de representações religiosas, que define as condições de salvação da alma, leva os atores sociais a comportarem-se segundo novas exigências solidárias com as estruturas econômicas capitalistas. A compreensão das estruturas inteligíveis das atividades sociais passa, necessariamente, pela reconstrução do sistema de representação que aí intervém, bem como pela análise das suas combinações e funcionamento.95
Para ilustrar a produção historiográfica produzida sobre a história de Panambi,
selecionamos algumas temáticas que com maior freqüência aparecem nas referidas obras.
Desta forma pretende-se estabelecer uma conexão mais direta entre o discurso
historiográfico constante nas histórias municipais e sua relação com a construção dos
imaginários sociais, muitas vezes mencionadas.
2.1.1. A valorização dos “ pioneiros”
As diversas obras analisadas apresentam diferentes posicionamentos acerca dos
chamados “pioneiros do município” , isto é, quem foram de fato, as contribuições dos
primeiros moradores da região de Panambi. Não existe consenso quando os autores tratam
desta questão. Para Erich Fausel por “pioneiros” entende-se o grupo de colonos alemães
que chegou juntamente com a Companhia de Colonização. A valorização que o autor
confere a este grupo social se traduz na caracterização de “os construtores da colônia” e
delimita um posicionamento claro em termos de concepção de identidade étnica.
Desse modo, as qualidades de alguns dos primeiros colonizadores são
incansavelmente repetidas. Para ele, Hermann Meyer era um homem de “zelo científico, de
tino comercial e interessado pelas descobertas, por ser estudioso da economia nacional e
por ser geógrafo” .96
Outra figura de destaque é Hermann Faulhaber, ao qual o autor ressalta as
qualidades de ser um “homem prático, ativo, enérgico, vivo, prudente e esforçado”. Diz
ainda Fausel, que “a sua orientação firme, aos seus esforços cheios de sacrifícios e
decepções deve a colônia em grande parte o seu progresso” e também destaca e reconhece
os méritos de sua esposa, Maria Faulhaber, que era professora e regente do coral, sendo,
95 BAZCKO, Bronislaw. Imaginação social. p. 307. 96 FAUSEL, op. cit., p. 03.
48
segundo ele, “(...) dotada de extraordinário talento pedagógico e possuidora de vasta
cultura, auxiliar inteligente e enérgica de seu marido, era em breve insubstituível na
colônia.” 97
O juízo de valor fica explícito quando Fausel focaliza os moradores da região que
antes da instalação da empresa de colonização já residiam no lugar. Para ele, mesmo
concordando que o primeiro morador tenha sido Manoel José da Encarnação, na sua
opinião, o local não foi alterado por Encarnação, pois “pouco se modificara neste lugarejo
isolado, desde que um certo Manoel José da Encarnação, presumivelmente o habitante
mais velho, aí se estabelecera em 1835”.98
Por outro lado, para Adil Malheiros os pioneiros foram aqueles que se
estabeleceram na localidade ainda nas primeiras décadas do século XIX. Assim, ele
apresenta a biografia e a genealogia de Manoel José da Encarnação e de João Luis
Malheiros, antepassado do autor. Dessa forma, sua abordagem procura confirmar que os
luso-brasileiros já se encontravam na região quando da chegada dos alemães e seus
descendentes. Nessa perspectiva, sua narrativa busca as origens de seus antepassados,
procurando colocá-los em destaque na história da localidade, descrevendo suas atividades,
no trabalho, no lazer, na religião e na vida social, bem como seus modos e costumes.
Mesmo assim, quando se trata de se posicionar sobre o que seriam os provocadores
do progresso, o autor afirma que com a chegada de Hermann Faulhaber, “ já de início teve a
Colônia uma nova era de progresso”.99 Segundo ele, foi com a direção firme do talentoso
Diretor Hermann Faulhaber e sua esposa, que a Colônia tomou seu ritmo progressivo.
Dessa forma, o autor deixa clara a liderança exercida por Faulhaber e o harmonioso
trabalho desenvolvido por toda a comunidade.
Na obra coletiva produzida pela Associação dos Escritores de Panambi, os
pioneiros também seriam os paulistas que se fixaram na região a partir de 1835. Porém,
destacam-se os indígenas como primeiros habitantes da localidade. “Evidente que os
primeiros habitantes foram os indígenas” . Cita José Proença Brochado100, que diz: “Os
primeiros cultivadores certos a penetrarem no Rio Grande do Sul foram os guaranis. Mas o
que talvez poucos saibam é que os guaranis chegaram como conquistadores, desalojando
97 FAUSEL, op. cit., p. 15. 98 Ibid., p. 03-04. 99 MALHEIROS, op. cit., p. 42. 100 BROCHADO, José Proença. O Índio no Rio Grande do Sul. Governo do Estado: Imprensa Oficial, 1975.
p. 71.
49
as populações mais antigas” . Constata-se que em Panambi os vestígios de eventuais sítios
indígenas eram poucos e desapareceram.
2.1.2. A valorização do “ trabalho” e do “ progresso”
As obras de história de Panambi analisadas concentram um espaço e um esforço
grande na questão de justificar ou explicar as razões do por que a concepção de trabalho e
o progresso geraram uma sociedade dinâmica e particular, apesar de todas as dificuldades.
Os exemplos são muitos, chegando a ser repetitivos nos textos dos diversos autores.
Por exemplo, Fausel destaca que, em 1900, existiam apenas alguns povoados e a
vida ainda era muito difícil. Para ele:
a vida continuou, desde então, bastante difícil àquela gente que, com tal denodo e sacrifício, lutava por dias melhores (...), mas os nossos homens lutavam por tempos melhores. Era luta titânica. Cruz Alta estava em evolução, mas também se ressentia de meios para seu desenvolvimento. 101
Essa imagem de progresso e de sucesso da comunidade procura destacar não
somente as virtudes e qualidades dos pioneiros alemães, mas também da população que
teria sido a responsável por Panambi ter se tornado um dos núcleos mais progressistas do
Rio Grande do Sul. O autor demonstra que a existência de um parque, o parque industrial
moderno é sintomático da dinâmica progressista da comunidade. Para Fausel, o alemão
Faulhaber foi o responsável pelas iniciativas de implantação de diversas atividades sociais,
como a fundação de várias sociedades, as quais teriam sido a causa de “ interromper a
monotonia da sua vida de trabalho” .102 Ele conclui afirmando que “a antiga Neu-
Wüerttemberg, a atual Panambi, tornou-se um dos núcleos mais progressistas do Rio
Grande do Sul” .103
Nesta perspectiva, entende-se que muitas noções e idéias presentes na comunidade
se estabeleceram a partir de uma síntese das diferentes formas de concepções protestantes.
A idéia de trabalho esteve vinculada à noção de que a:
101 FAUSEL, op. cit., p. 29, 31. 102 Ibid., p. 25. 103 Ibid., p. 26.
50
perda de tempo é o primeiro e o principal de todos os pecados. A duração da vida é curta demais, e difícil demais, para estabelecer a escolha do indivíduo. A perda de tempo através da vida social, conversas ociosas, do luxo e mesmo do sono além do necessário para a saúde (seis, no máximo, oito horas por dia é suficiente do ponto de vista moral ).104
Explicar e justificar a presença do progresso em Panambi também foi preocupação
de Adil Malheiros. Segundo o autor:
O leitor atento, possivelmente já observou como as autoridades e homens dos mais diversos partidos políticos, estiveram sempre voltados com interesse pelo progresso de Panambi desde os remotos tempos dos primeiros pioneiros que edificaram com seu exemplo de honestidade a personalidade dos Panambienses.105
Max Weber afirma em sua obra:
A opinião de que os deuses concedem riquezas ao homem que os agrada, através do sacrifício ou pelo seu comportamento, difundiu-se rapidamente por todo o mundo. As seitas protestantes, porém, estabeleceram conscientemente uma ligação entre essa idéia e esse tipo de comportamento religioso, segundo o princípio do capitalismo inicial: ‘a honestidade é a melhor política’ essa ligação se encontra, embora não exclusivamente, entre essas seitas protestantes, embora somente entre elas se observem continuidade e coerência características em tal ligação.106
Um dos principais autores presentes na obra coletiva da Associação dos Escritores,
Eugen Leitzke107, enfatiza que os muitos melhoramentos realizados na colônia e que
garantiram um futuro progressista foram os teuto-brasileiros. Em 1911, foram instaladas as
primeiras linhas telefônicas; em 1913 ocorreu a chegada de uma agência de correios
provocando uma intensa movimentação na região, pois, devido ao seu grande movimento
financeiro e grande número de volumes, foi necessário realizar o transporte três vezes por
semana; em 1912 a inauguração da estação Belizário e a energia elétrica em 1916.108
Nesta mesma obra, é destacado que a solução do problema de energia,
proporcionou um grande desenvolvimento econômico em Panambi, e que pode ter
104 WEBER, Max. A ética protestante e o espírito do capitalismo. 6. ed. São Paulo: Pioneira, 1989. p. 112. 105 MALHEIROS, op. cit., p. 69. 106 WEBER, Max. Ensaios de sociologia. Rio de Janeiro: Zahar Editores, 1963. p. 359. 107 Eugen Leitzke é natural de Pelotas. Foi professor de diversas disciplinas, graduou-se em Direito. Atuou
em Panambi inicialmente como professor no Colégio Evangélico Panambi, estabelecimento de ensino no qual exerceu a função de diretor de 1970 a 1977. Também exerceu o magistério e orientação pedagógica na Escola Nossa Senhora de Fátima. Pesquisou e organizou a história do município. Organizou com o auxílio do poder público municipal o Museu Histórico de Panambi.
108 ASSOCIAÇÃO dos Escritores de Panambi, op. cit., p. 48.
51
provocado a vocação industrial do município. A energia elétrica não era apenas para dar
conforto às famílias, pois “ foi aquilo um impulso muito acentuado que veio a determinar
na ascendente comuna, que hoje é Panambi, a marca acentuada da vocação industrial” .109
2.2. A religiosidade e a educação: a identificação cultural dos moradores da
colônia Neu-Württemberg
A religião atuou como elo de ligação entre os imigrantes, a fé forneceu-lhes os
subsídios para reiniciar suas atividades. Foi através dela que eles se encontraram consigo e
com os outros. Foi através da construção de capelas que a religião desempenhou seu papel
e tornou-se um ponto de referência, ao redor da qual passou a girar a vida religiosa e
social. Em torno da igreja eram construídos a bodega, o salão de festas, a cancha de
bochas, o cemitério e a escola. Citamos a frase sintetizada por Adil Malheiros: “Panambi
como uma cidade em que Deus manda e dirige” .110 Com isto quer ressaltar o valor dado à
religião pelos habitantes da localidade. A Deus também é reservado um lugar na história
local.
A historiografia do município, por diversas vezes, refere-se à importância da
religiosidade e da educação para a concretização do projeto colonizador. Assim, “era
decisivo propósito do Dr. Hermann Meyer dotar a Colônia de Neu-Wüerttemberg de uma
escola e igreja” .111 Embora encontrasse algumas dificuldades, a preocupação de Meyer era
a criação de uma igreja atendida por um sacerdote. A primeira casa paroquial e a escola
foram construídas totalmente às expensas da Empresa de Colonização, vindo esses
imóveis, mais tarde, formar bens físicos da Comunidade Evangélica.
A religiosidade foi um elemento central na organização política, social e cultural
nas regiões de colonização alemã. Outra preocupação de Hermann Meyer, proprietário da
empresa de colonização responsável pela colonização de Panambi, era inicialmente, criar
uma colônia homogênea na região. O proprietário da empresa preocupava-se com as
prováveis divergências e rivalidades que poderiam surgir entre protestantes e católicos na
colônia. No que se refere à religião, os autores da obra coletiva publicada pela Associação
dos Escritores de Panambi indicam também a grande quantidade de organizações religiosas
109 Ibid., p. 55. 110 MALHEIROS, Adil Alves. Panambi, o vale das borboletas azuis. Panambi: Publipan, 1979. p. 126. 111 ASSOCIAÇÃO dos Escritores de Panambi. op. cit., p. 27.
52
ali instaladas. Para estes autores, constitui-se em Panambi, uma espécie de “pluralismo
religioso” . Citam o relatório do diretor Horst Hoffmann, dirigido ao Dr. Meyer, tratando
da visita de dois pastores evangélicos em Neu-Württemberg, que chegaram
simultaneamente, sem saber um do outro. “Foi uma situação constrangedora tanto para
mim como para os dois pastores (...) houve dois cultos, o primeiro de manhã e o segundo à
tarde (...)” .112
Assim, repetidas vezes aparece esta concepção de que existia uma relação
harmônica, entre as primeiras igrejas instaladas em Panambi e, freqüentemente, é
manifestada como sendo verdadeira. Um exemplo está na Revista Kar, que destacou o
aparente clima amistoso entre os fiéis das referidas instituições tradicionais:
A Evangélica é a mais cultuada. Possui um lindo templo, digno de um cartão postal em cores. Seguem-se depois, por ordem de importância, a Batista e a Católica. Outras religiões ainda são praticadas no município, mas por pequeno número de adeptos. É notável a harmonia religiosa existente na Cidade das Máquinas; padres e pastores unem-se sempre que é preciso. Há quem diga que a Igreja Católica foi construída pelos protestantes. Quando há alguma festa pública, os três ministros das três religiões, dirigem a palavra ao povo, lado a lado e sem antagonismo.113
Malheiros também destaca esta questão quando reafirma a existência de um
pluralismo religioso em Panambi. Assim, o autor relaciona as igrejas existentes sendo as
seguintes: Evangélica, Batista Emanuel, Congregacional, Católica, Assembléia de Deus
para Cristo, Metodista, Adventista, e outros credos, tanto na cidade como no interior.
Segundo o autor, a mais antiga é a Paróquia São João Batista, seguida pela Comunidade
Evangélica Luterana e Batista Emanuel. 114
Veremos mais adiante que esta afirmação pode ser contestada, analisando-se alguns
aspectos com relação a divergências e até mesmo perseguições ocorridas entre os luteranos
e os batistas.
A igreja procurava preservar a identidade germânica, por isso, não promovia
somente eventos eclesiásticos, mas também culturais. “Não só promovia festas religiosas,
mas também fazia promoções que visavam preservar e revitalizar o canto, o teatro, a
música, a tradição e a cultura dos antepassados” .115 Em relação aos espaços de
sociabilidade e de lazer, a comunidade de Panambi não se diferenciava de outras com as
112 ASSOCIAÇÃO dos Escritores de Panambi. op. cit., p. 39. 113 Revista KAR, Santo Ângelo, 1963, p. 06. 114 MALHEIROS, op. cit. p. 78. 115 MICHELS, op. cit. p. 197.
53
mesmas características. Desde a fase inicial de constituição do povoado que deu origem a
Panambi, eram organizadas muitas festas e também eventos religiosos. 116
No século XIX, quando existia apenas um vilarejo com uma pequena população na
região, o catolicismo foi implantado e neste realizavam-se festas ao seu padroeiro, São
João Batista. Contudo, quando se iniciou o processo de colonização alemã por meio de
uma empresa de colonização, em 1898, a opção religiosa que predominava passou a ser a
evangélica. Neste sentido, parte-se da concepção de que para a efetivação do projeto de
colonização, no caso de predominância alemã, em Panambi, a mediação das instituições
religiosas, assim como o recorrente discurso sobre as raízes de autoconsciência alemã,
foram essenciais.
A educação também é uma das formas de integração social, pois possibilita o
acesso a meios de ascensão social. A educação integrava-os numa comunidade. A tarefa do
professor não se restringia somente à atividade docente, tinha a seu cargo a direção do
coro, organização das atividades festivas e recreativas chegando a exercer as funções de
conselheiro, médico e juiz. O objetivo das escolas era conservar o uso da língua e da
cultura alemã.
Com relação ao binômio igreja e escola, Dreher nos diz que foi uma característica
da maioria das colônias de origem germânica protestante: “Essa ligação não é casual. Todo
o evangélico-luterano deve ser alfabetizado para conhecer as bases de sua fé, isto é, para
estudar o Catecismo Menor, para ler sua Bíblia e para participar do culto dominical,
cantando os hinos do livro de cânticos” .117
Esta realidade se refletiu, no caso do Rio Grande do Sul, também em termos do
número de escolas. Assim, no ano de 1930, da rede de escolas privadas, que era
amplamente desenvolvida nas colônias alemãs gaúchas, havia 374 escolas privadas
católicas, 449 luteranas e 114 mistas ou interconfessionais.118 No período do Estado Novo,
durante a chamada campanha de nacionalização, as escolas de confissão protestante foram
atingidas duramente. Segundo Martin Dreher, em 1934 existiam 513 escolas luteranas no
Rio Grande do Sul:
116 MICHELS, op. cit., p. 200. 117 DREHER, op. cit., p 24. 118 GERTZ, O fascismo no sul do Brasil, op. cit., p. 53.
54
A lei referente ao ensino, de 06 de abril de 1938 determinou que o ensino de Português, História do Brasil e Instrução Cívica deveria ser ministrado por professores do Estado, os quais deveriam ser pagos pela comunidade de acordo com a escala de vencimentos do Estado, caso a escola comunitária estivesse localizada nas proximidades de uma escola estadual. Essa determinação acarretou, inicialmente, consideráveis despesas financeiras para as escolas comunitárias. 119
A preocupação dos imigrantes e descendentes de alemães com a formação escolar
de suas crianças foi uma das marcas deixadas por estas comunidades na história cultural
gaúcha. Segundo Lúcio Kreutz:
Neste aspecto eles tiveram uma presença singular entre os grupos étnicos que compõem a formação sócio-cultural do Estado. Entendiam a escola como parte fundamental do processo educacional. Isto já fazia parte de uma tradição secular entre eles, desde a Reforma e a Contra-Reforma, no século XVI.120
Interessante destacar que praticamente não havia analfabetos nestas comunidades
teuto-brasileiras quando a média nacional, em área rural, ainda passava de 80%. O mesmo
autor informa que “os imigrantes alemães organizaram o currículo destas escolas de modo
que as crianças aprendessem o essencial para o bom entrosamento na vida das
comunidades rurais tanto sob o aspecto religioso e social quanto do trabalho” .121
Como se pôde perceber a escola desde o início foi vista também como cumpridora
de suas funções cívicas. Foram Hermnan Faulhaber e sua esposa que redigiram os
materiais didático-pedagógicos para serem utilizados na escola. Em Cruz Alta122
encontramos elogios a respeito da educação na colônia “Não sabemos o que mais louvar,
se o método empregado ou se os esforços dos ilustrados preceptores. A prática aliada à
teoria, pelo método empregado [...] aprendem [...], a riqueza do material, o mais moderno” .
Com relação à escola, citamos Friedrich Krahe e Dr.Gustav Kuhlmann, autores da
Faulhaberstiftung, para relacionar as atividades escolares realizadas e as atividades
extracurriculares. Faulhaberstiftung era a antiga Sociedade Escolar, a responsável pela
produção da primeira obra de maior extensão a respeito da colônia de Neu-Württemberg. A
119 DREHER, op. cit., p. 165. 120 KREUTZ, Lúcio. Muito empenho pelas escolas. In: FISCHER, Luis Augusto e GERTZ, René E. (Org.)
Nós, os teutos-gaúchos. Porto Alegre: Editora da Universidade, 1998. p. 145. 121 KREUTZ, Lúcio. Muito empenho pelas escolas. In: FISCHER, Luis Augusto e GERTZ, René E. (Org.)
Nós, os teutos-gaúchos. Porto Alegre: Editora da Universidade, 1998. p. 146. 122 Jornal Cruz Alta, Cruz Alta, 03 out. 1912.
55
substituição da antiga Sociedade Escolar pela Faulhaberstiftung certamente fez parte de
um conjunto de iniciativas cuja intenção era a “homenagem permanente.”123
O autor faz referência ao Colégio Evangélico Panambi, que muito contribuiu e vem
contribuindo para o engrandecimento do município. Destaca os intercâmbios entre os
professores do colégio e de professores alemães: “cabe-nos dar um louvor especial e
apresentar os nossos agradecimentos aos professores e técnicos alemães que trabalham no
Colégio Evangélico Panambi, dando a sua contribuição para a formação de muitas
gerações” .124
Segundo Sérgio Ervino Michels,
eram comuns as noites de leitura, na casa do diretor Faulhaber. [...] Fazia-se então, a leitura dos clássicos alemães, como Fausto de Goethe. (...) Além disso, havia festas, várias vezes por ano, quando os alunos apresentavam encenações e declamações (...) Assim, as crianças aprendem dentro e fora da escola (...) “So lernen die kinder in und ausser der schule, im Ernst und spiel” (nos momentos sérios e nas brincadeiras). “ Immer unter fachmännischer leitung” (sempre sob a orientação de pessoas preparadas). Aprendem (o que faz as pessoas capazes) “was sie zu Tüchtigen Menschen macht. 125
Para Fausel, o desenvolvimento do ensino e também das atividades culturais, foram
importantes desde os primórdios da Empresa de Colonização. Para ele, foi o pastor
Faulhaber, o responsável pela difusão da dinamicidade cultural da colônia e ainda, a
integração entre religião e escola, a responsável pelo desenvolvimento das particularidades
naquela localidade. Assim, “a igreja e a escola particular, em Panambi, formaram sempre
uma união e um conjunto tão íntimo que difícil se torna separá-las da história do lugar” .126
123 MICHELS, op. cit., p. 64. 124 Ibid., p. 167. 125 Ibid., p. 65. 126 FAUSEL, op. cit., p. 22.
56
3. O PROTESTANTISMO E O CATOLICISMO EM NEU-
WÜRTTEMBERG: TRABALHO E PROGRESSO COMO
ELEMENTOS CULTURAIS
Neste capítulo, abordamos de forma mais específica a participação das igrejas
Batista, Luterana e Católica na organização da comunidade.
O protestantismo, em Panambi, tem suas raízes na vertente protestante de
Württemberg. A relação mais direta ocorreu devido à vinda de várias famílias de
Württemberg, no início da década de vinte. Com base em Lutero, que destaca a
necessidade de uma vida integral de portar-se como cristão, no meio social, formou-se a
raiz da comunidade. Uma das características culturais mais importantes verificadas em
Panambi é o fato de ela ter se constituído e permanecido como uma cidade
predominantemente protestante evangélica. As primeiras e mais importantes iniciativas
sociais e culturais foram dirigidas pela Igreja Luterana. Por exemplo, foi ela a responsável
pela construção da primeira escola e do importante Colégio Evangélico Panambi.
Bases que, para Max Weber, se inserem na ética protestante e no espírito do
capitalismo. Trazendo a concepção do trabalho como vocação, desenvolvida pela ascese
protestante, que faz parte do espírito do moderno capitalismo e de toda a cultura moderna,
cujo fundamento é a “conduta racional baseada na idéia de vocação”. Nesse sentido, para o
autor, a ética capitalista estava vinculada à burguesia ascendente nas circunstâncias mais
recentes, em que o capitalismo tornou-se dominante, a conjuntura econômica-político-
social tendem a determinar a Weltanschauung (visão de mundo), mas no momento em que
se emancipou, o capitalismo moderno precisou aliar-se às forças religiosas, o poder da
ascese religiosa além de garantir uma boa consciência ao empreendedor burguês, punha a
sua disposição trabalhadores sóbrios, conscientes e incomparavelmente industriosos, que
se aferravam ao trabalho como uma finalidade desejada por Deus.127
É importante salientar que, apesar de ter ocorrido uma penetração das correntes
protestantes no Brasil a partir do século XIX, a religião oficial brasileira foi sempre o
catolicismo. A Constituição de 1824 determinava a religião católico-romana como a
127 WEBER, Max. A ética protestante e o espírito do capitalismo. São Paulo: Pioneira Editora, 1992. p. 210.
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religião oficial, no entanto, era permitido aos adeptos de outras religiões praticar seu credo
em cultos domésticos e em prédios apropriados. Observamos o que o autor Fernando de
Azevedo descreve que o protestantismo só começou a ocorrer no Brasil, “de forma
definitiva, no século XIX. Porém, apesar da garantia constitucional de liberdade religiosa
presente na carta de 1824, as igrejas evangélicas poderiam somente realizar seus cultos em
casa com aspecto de habitação, sem forma exterior de templo” .128
Ainda segundo Azevedo:
Foi no período republicano que se verificou a expansão do protestantismo. Se a obra evangélica realizada por essas igrejas e não a batista, a luterana, a presbiteriana e a metodista, as que mais se desenvolveram acusa notável poder expansivo, com seus quatro mil pregadores, entre leigos (três mil) e ministros, não é menos a obra cultural do protestantismo que, apaixonado pela liberdade e fazendo da leitura de um livro um meio de desenvolvimento espiritual tende a desdobrar num movimento intelectual o movimento de preparação da fé e das idéias cristãs. 129
Com a chegada de imigrantes no Rio Grande do Sul, em 1824, foi concedido pelo
governo imperial ao Pastor protestante Johann Geog Ehlers um galpão na Feitoria Velha
para realização dos cultos dominicais. No ano seguinte, conseguiram um terreno para
construir um prédio para o culto e um terreno para o cemitério. Entretanto, as obras
sofreram uma interrupção de longos anos devido à Guerra dos Farrapos, sendo terminadas
somente em 1946.130
Constata-se que a maioria dos imigrantes evangélicos fixou-se ao norte do Rio dos
Sinos. Friedrich Christian Klingelhöffer era o pastor e, em 1828, construiu uma casa que
servia de escola e de templo. Em fins de 1829, havia cerca de 5.000 pessoas nas colônias
em redor de São Leopoldo, das quais 3.000 eram protestantes e as restantes católicas.131
Daí se vê que, na maioria, os imigrantes eram membros das igrejas evangélicas da
Alemanha.
A colonização avançou ao longo dos rios Sinos, Caí e Taquari e, desde então,
desenvolveram-se novas comunidades, pois os evangélicos radicados no país pretendiam
conservar a fé herdada dos antepassados e, ainda, prosseguir as tradições do protestantismo
alemão. Verifica-se, porém, que faltavam pastores para atender o crescente número de
128 AZEVEDO, op. cit., p. 256. 129 Ibid., p. 256. 130 LAUFER, Frederico. A Igreja Católica de 1912 a 1957. In: BECKER, Klaus (Org.). Enciclopédia Rio-
Grandense. v. 4. Canoas: Editora Regional, 1957. p. 49. 131 Ibid., p. 49-50.
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protestantes nas comunidades. Poucos pastores atendiam grande número de comunidades,
já que o percurso, realizado a cavalo, não permitia chegar nas mesmas com rapidez. Como
não havia pastores em número suficientes, os colonos elegeram leigos, para serem
professores e pastores.
3.1 Os batistas na Colônia Neu-Württemberg
A chegada da Igreja Batista em Neu-Württemberg coincide com a própria
instalação da Empresa de Colonização de Hermann Meyer. A história da Igreja Batista de
Panambi está intimamente ligada à vinda dos imigrantes. Já em 1901, momento em que
chegaram as famílias, estas organizaram a Igreja Batista Emanuel.132 Mesmo não tendo se
tornado quantitativamente religião predominante percebe-se a influência das idéias
religiosas, tanto das seitas protestantes como um todo, em particular, dos batistas. Muito da
cultura das representações sociais estão presentes no mundo social do município,
especialmente quando se trata de mencionar características vinculadas à visão de mundo e
à relação destas comunidades com o trabalho.
Neste sentido, novamente Weber contribui no sentido de diferenciar a conduta
social e moral das seitas batistas das demais protestantes e sua relação com o espírito do
capitalismo. Para ele, a “ imensa significação atribuída pela doutrina batista da salvação ao
controle através da consciência, como a revelação de Deus ao indivíduo, imprimiu na
conduta deste e na sua vida profissional um caráter, cuja grande importância para o
desenvolvimento de aspectos básicos do espírito do capitalismo leva a uma busca ascética
da apropriação metódica da salvação. Esta conduta ascética significou um planejamento
racional de toda a vida do indivíduo, de acordo com a vontade de Deus.133
Em termos da difusão da seita batista pelo mundo, é importante destacar que ela
chegou ao Brasil muito depois da maioria das outras igrejas protestantes. Foi somente no
final do século XIX, mais precisamente no ano de 1881, que teve início oficialmente o
trabalho dos primeiros batistas no território brasileiro. A vinda do missionário americano
William J. Bagby e da família de Karl Feuerharmel, estes, que por sua vez, vieram da
cidade de Retz, da Pomerânia, fato de grande importância para o inicio da história dos
132 Notícia Ilustrada, Panambi, 22 mar. 1996. p. 12. 133 WEBER, Max. A ética protestante e o espírito do capitalismo. São Paulo: Pioneira Editora, 1992. p. 107-
109.
59
batistas no Rio Grande do Sul. Os Feuerharmel se estabeleceram em Linha Formosa, na
região de Santa Cruz do Sul. Até o ano de 1886 os batistas do sul do Brasil não possuíam
uma igreja organizada e haviam realizado apenas dois batismos totalizando 20 pessoas.134
Na versão de Rudolfo Becker, o momento foi descrito da seguinte maneira:
os batistas que vieram da Alemanha para o Rio Grande do Sul tinham uma história pitoresca. Em 15 de outubro de 1881, aportaram às plagas gaúchas Carlos Feuerharmel e sua esposa, Frederica , com seus 09 filhos. Vieram da Pomerânia, Alemanha, onde o casal fizera parte da Igreja Batista de Retz. Estabelecidos em Linha Formosa, ganharam para a sua fé D. Guilhermina Neitzke e seu esposo Germano. Convertidos também os filhos dos Feuerharmel, e mais alguns outros, inclusive Gustavo Pitrowsky, progenitor do futuro pastor Ricardo, constituíram, assim, o primeiro núcleo batista no Rio Grande do Sul.135
O mesmo autor menciona também, conflitos religiosos de grande repercussão
ocorridos entre evangélicos e crentes batistas na cidade de Santa Cruz:
Os neoconversos, sendo zelosos pela doutrina de Cristo, passaram logo no início, por uma prova bem dura. Enquanto se passava o tempo, as constantes reuniões dos novos crentes fervorosos e as suas atividades evangelísticas, despertaram contra eles uma severa perseguição dirigida pelo pastor Falk, da Igreja Luterana, na Linha Ferraz. Além de incitar os membros da sua igreja a perseguirem e maltratarem os crentes fez queixa deles perante as autoridades civis da cidade de Santa Cruz, dizendo que este movimento dos crentes era um levante político-religioso, semelhante ao de Canudos. Afirmava que os crentes estavam entrincheirados com armas e munições bélicas.136
Sem saber de coisa alguma a respeito do que se tramava contra eles, os irmãos
Augusto Strei, Guilherme Waldow e Frederico Mueller, em Santa Cruz encontraram-se
para tratar de seus negócios, quando foram presos e conduzidos à cadeia, pelas autoridades
que ficaram apreensivas diante de tantas acusações. Argüidos, no dia seguinte, pelo
delegado Pedro José Coelzer, este mandou chamar os irmãos Carlos Feuerharmel e
Germano Neitzke, dirigentes do trabalho. Estes dois foram levados à prisão sem direito a
qualquer palavra de defesa. Correndo a noticia pela cidade do encarceramento destes,
levantou-se uma grande massa popular de protestos contra a injustiça da prisão de homens
tão conhecidos e respeitados.
134 Folha das Máquinas, Panambi, 22 mar. 1996. p. 02. 135 TARSIER, Pedro. Batistas no Rio Grande do Sul. In: BECKER, Klaus. (org.). Enciclopédia Rio-
grandense, v. 4. Canoas (RS): Editora Regional, 1957. p. 269-279. p. 270. 136 Ibid., p. 270 – 271.
60
Devido à indignação popular, os cinco presos foram libertados, porém taxados de
“presos perigosos” na capital do Estado, Porto Alegre. Foram maltratados na viagem de 06
léguas a cavalo e 07 horas de trem.
Depois de 05 dias de prisão foram chamados a prestar contas perante o júri, sendo, então, defendidos por um advogado voluntário, Carlos Von Koseritz, redator de um jornal, na cidade. Depois de seis semanas de incertezas e diversos incômodos foram postos em liberdade.137
O problema do batismo foi resolvido da seguinte maneira: Frederico Mueller ia
batizar Germano Neitzke e este ajudaria no batismo dos outros, e assim se fez. Mais tarde
vieram da Alemanha outros crentes, inclusive o primeiro pastor, o jovem Augusto
Matschulat, o qual, eleito dirigente da congregação, organizou em 05 de novembro de
1893, com 45 membros, a primeira igreja batista no Estado.
A situação acima relatada é um indicativo das disputas e rivalidades religiosas
provavelmente existentes entre as diferentes opções religiosas no período. Mesmo que se
considere que a maior parte dos estudos sobre a religiosidade no Rio Grande do Sul nos
séculos XIX e primeiras décadas do século XX apontem para a existência de uma
“convivência pacífica” entre as seitas, estudos mais específicos e acadêmicos certamente
revelariam uma outra configuração.
Mais tarde, por volta de 1893, chegou a Santa Cruz do Sul, o pastor August
Matschulat acompanhado de sua família, composta por quatro pessoas, estas, vindas de
Kowno, na Rússia, procuravam no Rio Grande do Sul, um novo lugar para viver e
trabalhar. Logo de início, o pastor organizou a primeira Igreja Batista de língua alemã no
Brasil, com 45 membros, sendo ele o primeiro pastor.
Em 1899, foi organizada a Igreja Batista alemã na capital Porto Alegre,
denominada Primeira Igreja Batista. No primeiro momento, a igreja contava com apenas
oito membros. Em relação a outras religiões protestantes, observa-se um crescimento
relativamente fraco dos batistas no Rio Grande do Sul. Em termos quantitativos, uma
estatística realizada em 1954 revelou que naquele ano a Igreja batista contava com 284
membros esta possuía uma linda casa de cultos, Lar da Mocidade, casa pastoral e um
cemitério, no alto da Avenida Cascata.138
137 TARSIER, Pedro. Batistas no Rio Grande do Sul. In: BECKER, Klaus. (org.). Enciclopédia Rio-grandense, v. 4. Canoas (RS): Editora Regional, 1957. p. 271 – 272. 138 TARSIER, op. cit., p. 272.
61
A junta missionária da Associação das Igrejas Alemãs, dos Estados Unidos, enviou
ao Rio Grande do Sul, no ano de 1900, o pastor H. Schwendener com a finalidade de
estudar as condições e viabilidade de realização de um trabalho missionário no Estado.
Retornando em seguida ao território americano, prometeu trabalhar no sentido de mandar
um missionário batista para Porto Alegre, fato que veio a ocorrer em março do ano
seguinte, com a chegada à capital gaúcha do pastor Karl Roth.139
Como vimos, a história da Igreja Batista de Panambi teve início com a vinda dos
imigrantes alemães em 1901. Essas famílias foram as responsáveis pela organização do
primeiro núcleo da Igreja Batista Emanuel. A comunidade batista optou por denominar a
Igreja com o nome originário de uma sociedade de cantores e cultos em Porto Alegre, cujo
quadro social alguns membros vieram a transferir residência para Neu-Württemberg. Entre
alguns dos membros que fixaram residência na colônia estavam: Karl Hasenritter, Johann
Neinrich Rehn, Jacob Rehn, Adolf Schwarz, em 1900 e Adolf Kepler Sênior, Johann
Heinrich Filho, Peter Rehn e Fritz Retzlaff, estes em 1901.140
Foi também no ano de 1901 que o missionário Karl Roth, visitou a colônia Neu-
Wüerttemberg. Ele instalou oficialmente o núcleo da missão batista realizando as reuniões
e cultos no Barracão dos Imigrantes. O missionário Roth, em seu relatório, avalia a sua
experiência naquela localidade e a situação da igreja e de seus seguidores, nos seguintes
termos:
Meu alojamento me foi proporcionado na residência do Diretor da Colônia, na família do qual eu encontrei uma recepção amiga, e durante quase uma semana desfrutei de legítima hospitalidade germânica. No recém concluído pavilhão de imigrantes nos foi proporcionado realizar todas as noites reuniões que foram bem concorridas. Os irmãos providenciaram tábuas e caixas para precários bancos. Embora a colonização já estivesse em andamento há vários anos, até este momento nenhum pastor ou missionário havia aqui chegado, e assim eu tive o privilégio e a alegria de ter sido o primeiro missionário, de ter ministrado o primeiro culto e de ter inaugurado o novo barracão. Sim, mais do que isto, eu pude batizar, e desta forma na nova seara fazer o primeiro batismo cerca de 10 almas ali nos estão próximas e certamente em breve encontrarão o Senhor. Em verdade fundei ali uma nova frente missionária (...).141
Poucos anos depois, por volta de 1905, visitou a colônia de Neu-Württemberg o
missionário F. Leimann. A partir desse momento, os batistas tornaram-se um grupo
religioso mais coeso e definitivamente fixado na colônia. Nessa ocasião, houve eleição
139 Ibid., p. 272. 140 A Notícia Ilustrada, Panambi, 22 mar. 1996. p. 12. 141 MALHEIROS, op. cit., p. 133-134.
62
dos dirigentes da comunidade batista da localidade. A primeira diretoria foi formada pelos
seguintes nomes: para orientador do grupo foi indicado Hermann Gêiser, para tesoureiro,
Adolfo Kepler e, como assistentes, os irmãos Jacob Rehn e Johan Heinrich Rehn.142
As reuniões e os cultos da Igreja Batista continuaram sendo realizadas no Barracão
dos Imigrantes, eventualmente, na residência de alguma das famílias integrantes da Igreja.
Tendo em vista a necessidade de consolidação do grupo. Em março de 1905, houve uma
assembléia para que se definissem encaminhamentos no sentido da edificação de uma
primeira capela. 143 Naquele momento, houve uma negociação com o administrador da
colônia, Alfred Bornmüller, o qual deferiu a doação de um terreno para os batistas, com
área de 1.250 m2 para o cemitério. 144
Em seu relatório de 16 de fevereiro de 1905, o administrador informou o
proprietário da Empresa de Colonização, Hermann Meyer, que “a comunidade Batista
local se colocou ao propósito de construir uma igreja própria. Estou apoiando essa
iniciativa e, portanto, reservei para a localização da capela, o terreno n. 09 da quadra 33,
situada em lugar alto e panorâmico” .145
Somente em 22 de março de 1906, por ocasião de nova visita do missionário Karl
Roth a colônia Neu-Württemberg, deu-se a fundação oficial da comunidade batista local. A
reunião foi realizada na residência de Adolfo Kepler Sênior e a ata foi assinada por
Hermann Gaiser, Christina Gaiser, Adolfo Kepler, Olga Kepler, Jacob Rehn, Rosalia Rehn,
Johann Heinrich Rehn, Maria Rehn, Karl Hasenritter, Emilie Hasenritter. Dessa forma, foi
constituída nesta reunião a “Primeira Igreja Batista Alemã de Neu-Württemberg” com 11
membros. Anos mais tarde, foi mudada a denominação para Igreja Batista Emanuel de
Panambi.146
A residência da família de Adolfo Kepler serviu de templo dos batistas até o ano de
1908, quando foi inaugurada a primeira capela. A capela foi inaugurada pelo pastor batista
itinerante, Fritz Leimann,147 da Igreja Batista de Formosa, da cidade de Santa Cruz do Sul.
Foi o mesmo pastor Leimann quem, três anos antes, como parte do seu trabalho
142 MALHEIROS, op. cit., p. 133. 143 ASSOCIAÇÃO dos escritores de Panambi, op. cit., p. 33. 144 Ibid., p. 33-34. 145 Relatório do administrador da colônia, transcrito por: ASSOCIAÇÃO dos escritores de Panambi, op. cit.,
p. 33 – 34. 146 MALHEIROS, op. cit., p. 134. 147No ano de 1910, o pastor Leimann foi convidado para ser pastor interino e em 1913, transferiu-se para
Argentina, concluindo seu trabalho de quase oito anos em Santa Cruz do Sul.
63
missionário, havia realizado as cerimônias de batizado de Adolfo Kepler, Karl Hasenritter,
Heirich Rehn, Rosália Rehn, Maria Rehn, Hermann Gaiser, Christina Gaiser e Olga
Kepler, os fundadores da Igreja de 1906.
O primeiro pastor que se fixou para trabalhar exclusivamente na colônia, Johan
Heirich Landemberg que, em 1914, portanto oito anos após a fundação da Igreja, chegou
na localidade ali permanecendo até o ano de 1923. No ano de 1924, ele foi substituído pelo
pastor Friedrich (Fritz) Matschulat, que dedicou praticamente toda a sua vida ao trabalho
religioso na colônia, ali permanecendo até 1949, ano da sua aposentadoria. Durante o
período de sua atuação como pastor, foi construída a residência pastoral iniciada em 1925.
Poucos anos depois, o templo já não comportava o grande número de fiéis, havendo
a necessidade de ampliação. O novo prédio foi iniciado em 24 de setembro de 1945 e
inaugurado em vinte e um de novembro de 1948. A execução da obra ficou sob a
responsabilidade de Rudolfo Rehn, construtor licenciado e braço direito do arquiteto Willi
Paul.148
De 1949 a 1956, desempenhou funções o pastor Otto Grellert. Nesse período foi
levantada oferta voluntária para cobrir as dívidas da construção, tendo sido arrecadada a
quantia de CR$ 109.200,00, no ano de 1950. Neste mesmo ano a comunidade batista
recebeu a visita do presidente da Convenção Batista Alemã, que se encontrava em visita no
Brasil. No ano de 1953 foi inaugurada uma capela para o trabalho em português. Em 1955
é fundado o Lar Velhice de Panambi, cujo objetivo é servir aos idosos que por
circunstâncias alheias ficaram privados do amparo familiar.149
Por ocasião das festividades dos noventa anos da Igreja Batista, pastores e padres
de outras igrejas participaram das comemorações e a homenagearam com mensagens
especiais:
Pelo transcurso dos 90 anos de Igreja Batista Emanuel, queremos cumprimentá-los por esta data. Nos alegramos ao Senhor pelo serviço que prestastes ao reino de Deus. Parabéns da Comunidade Católica. Frei José Kehrwald e Frei Pedro Kunkel.150
A família Kepler adquiriu um destaque diferenciado entre os integrantes da Igreja
Batista de Panambi. Na obra biográfica sobre as Origens da Família Kepler aparece que
148 Folha das Máquinas, Panambi, 22 mar. 1996. p. 03. 149 A Igreja Batista Emanuel de Panambi conta, atualmente com aproximadamente 800 integrantes. Folha das
Máquinas, Panambi, 16 jan. 1991. p. 09. 150 Jornal Folha das Máquinas, Panambi, 21 mar. 1996. p. 01.
64
eles são “sinônimo de pujança e, principalmente, de união” .151 Assim, como visto em outra
parte do trabalho, Adolfo Kepler se projetou como uma pessoa de destaque no cenário do
desenvolvimento econômico da região. Neste ponto, seria exemplar vincular o progresso
econômico da família Kepler com a provável influência da concepção do protestantismo
com o espírito do capitalismo. Na obra publicada com a trajetória da família se evidencia a
idéia que de o sucesso se deu através do trabalho e da fé religiosa. No prefácio da obra
aparece, sob o lema “ore e trabalhe que conseguirão, em conjunto, criar uma posição
segura [...] Deus realizou seu sonho”152. Mais adiante, na conclusão é transcrito o salmo
127:1 de seguinte conteúdo: “Se o senhor não edificar a casa, em vão trabalham as que a
edificam”.153
3.2 Os luteranos na Colônia Neu-Württemberg
A chegada de imigrantes alemães no Rio Grande do Sul, no início do século XIX,
alterou o panorama da religiosidade nesta parte do Brasil. Chegados na primeira metade do
século XIX os imigrantes alemães radicados nas florestas que margeavam os rios dos
Sinos, Caí e Taquari, logo impuseram sua presença na vida rio-grandense. Os católicos
estavam em minoria, perfazendo 46% do total de imigrantes. A maioria evangélica foi
acompanhada por pastores já nos primórdios da imigração. Não tardou para que se
estabelecesse um relacionamento estreito entre alemão e protestante, na forma como os rio-
grandenses percebiam os novos habitantes. Isso parecia ser natural, num meio em que não
existiam outros protestantes além dos germânicos.154
Em relação à problemática da religiosidade entre os protestantes no geral e, entre os
teuto-brasileiros em particular, é importante salientar as muitas dificuldades dos primeiros
tempos da chegada dos alemães no Rio Grande do Sul. Segundo Airton Luiz Jungblut:
Desprovidos, inicialmente, de apoio eclesiástico, eles foram obrigados a entregar a manutenção de sua religiosidade a leigos, que faziam o possível para mantê-la,
151 KEPLER, Olga; KEPLER, Lydia. Origem e descendência da família Kepler. Porto Alegre: Metrópole,
1985. p. 04. 152 Idem. 153 Ibid., p. 60. Um dos filhos da família Kepler tornou-se pastor e trabalhou por muitos anos em Panambi. 154 ISAIA, op. cit., p. 40.
65
sempre de maneira satisfatória. Essa precariedade levou as comunidades a se mobilizarem para solicitar apoio das instituições luteranas alemãs.155
Conforme já foi dito, neste período o catolicismo era a religião oficial do Império
brasileiro. Somente os católicos podiam ser eleitos ou nomeados para cargos públicos, ao
passo que brasileiros natos ou naturalizados eram excluídos de tais cargos só por
professarem a fé evangélica. A Igreja Católica podia, entre outros benefícios, receber
auxílios financeiros do governo para sua manutenção e reformas. Por outro lado, as
comunidades evangélicas tinham que arcar com todas as despesas, inclusive para trazer da
Europa os pastores e professores para as crianças.
Em 1863, o governo imperial outorgou aos pastores evangélicos devidamente
registrados, os mesmos direitos de que gozavam os padres católicos com relação ao
registro de nascimentos, casamentos e óbitos. Entretanto, os cemitérios eram todos
católicos e administrados pelas paróquias, por isso, fechados aos evangélicos para não
profanar os campos sagrados. Também as casas de oração e os templos não podiam ter
torres e sinos. Dessa forma, os evangélicos se viram obrigados a inaugurar cemitérios
próprios, embora isso, às vezes, fosse difícil.
Além disso, a Constituição do Império prescreveu que as casas de oração dos evangélicos não deviam apresentar os sinais exteriores de um templo: torres e sinos. Por isso, os templos das comunidades evangélicas eram prédios de um estilo simples, quatro paredes com teto, sem torres e sinos.156
Conforme Airton Jungblut, concomitante às mudanças na legislação brasileira no
que se refere à presença política e religiosa dos imigrantes, ocorreu também,
gradativamente, o processo de mudança nas organizações eclesiásticas luteranas teuto-
brasileiras. Nas palavras do autor: “De um estado de autonomia entre as igrejas das
diversas comunidades, passou-se a uma organização mais centralizada, com a fundação,
primeiro do Sínodo Riograndense (1886).”157 Dessa forma, os interesses das comunidades
luteranas teuto-brasileiros passaram a ter uma representação institucional mais forte e
politicamente mais atuante.
Rudolph Becker relaciona as mudanças na legislação com a fundação do Sínodo
155 JUNGBLUT, Airton Luiz. O protestantismo luterano dos teuto-brasileiros: algumas considerações
necessárias para uma abordagem antropológica. In: MAUCH, Cláudia e VASCONCELLOS, Naira (Org.). op. cit., p. 141.
156 Ibid., p. 55. 157 JUNGBLUT, op. cit., p. 141.
66
Rio-Grandense, instituição que passou a representar os evangélicos luteranos. Para o
autor, ele foi: “constituído como união autônoma de comunidades, primeiro no RS, mas os
estatutos também permitiram a entrada de outras províncias do império. De início, pelo
menos, o campo de ação do Sínodo se limitava às comunidades Riograndenses.”158
Assim, a situação das comunidades evangélicas no Rio Grande do Sul melhorou,
não somente na parte legal, como também no que se refere ao nível de trabalho dos
pastores, com pastores bem preparados. Posteriormente, como diz Becker:
Para cuidar dos colonos evangélicos, em especial as novas colônias alemãs, o Sínodo Rio-Grandene passou a enviar pastores itinerantes que percorreram as vastas regiões da Serra,“prestando serviço espiritual a essa gente que lutava arduamente nas matas virgens contra dificuldades de várias espécies.159
O primeiro culto celebrado pelo pastor Faulhaber foi em 30 de novembro de 1902,
data que pode ser considerada como a da criação da paróquia evangélica, pois praticamente
todas as famílias evangélicas participaram da vida da comunidade. Os primeiros cultos
foram realizados na escola, embora já em 1901, Meyer tenha solicitado a construção de
uma capela. Em setembro, foi realizada a primeira confirmação160 de nove jovens. O pastor
Faulhaber registra que “praticamente a totalidade da população da Colônia de Neu-
Württemberg estava presente à cerimônia celebrada na sala de aula festivamente
ornamentada”.161
Para o primeiro culto foi redigido um comunicado com o seguinte teor:
Comunicação: Culto em Neu-Wüerttemberg no domingo 30 de novembro de 1902, às 10 horas. O senhor Pastor Faulhaber realizará, no Barracão do Imigrante, na povoação Elsenau, o primeiro culto evangélico. Está prevista a realização de cultos em todos os domingos e feriados eclesiásticos, sempre à hora acima indicada, exceto, se houver comunicação expressa alterando as programações regulares. O pastor Faulhaber executará todos os procedimentos eclesiásticos, tais como batismos, confirmação, benção nupcial e funeral, devendo os contatos ser tomados na casa paroquial. A direção da colonização cobrará as custas pelos registros procedidos em conformidade com a ordem eclesiástica e pelo fornecimento de certidões.162
158 BECKER, Rudolph. As igrejas evangélicas. In: BECKER, Klaus (org). Enciclopédia Rio-Grandense. O
Rio Grande Antigo. 2. ed. v. 4. Porto Alegre: Sulina, 1968. p. 165. 159 Ibid., p. 160-161. 160 Confirmação é um rebatismo quando o jovem, em geral com 15 anos, deve confirmar sua fé, na Igreja
Evangélica. 161 Jornal Notícia Ilustrada, Panambi, 29 nov. 1996. p. 11. 162 Jornal Notícia Ilustrada, Panambi, 29 nov. 1996. p. 10.
67
O pastor Faulhaber informou ao proprietário da Empresa de Colonização, no
relatório enviado naquele período que havia realizado o primeiro culto na colônia:
O primeiro culto realizei no domingo, 30 de novembro. A freqüência, apesar do tempo chuvoso, foi boa. Haviam comparecido 180 pessoas. Por enquanto estou adotando o rito do culto praticado em Württemberg. A comunidade canta um hino, daí seguem a saudação do pastor, oração, leitura de um texto bíblico, prédica, oração do Pai Nosso, benção e canto final.163
Juridicamente, a Comunidade Evangélica de Neu-Württemberg foi constituída em
04 de fevereiro de 1908, na gestão do pastor Schneider. Na época a comunidade contava
com 77 membros e em 1909 com 122 membros. Em 1909, ela foi admitida e filiada ao
Sínodo Rio-grandense, ação que foi considerada de grande importância, pois, a partir dessa
data, sua organização passou a ser conforme à do Sínodo e ocorreu sua independência
financeira.
Malheiros nos relata sobre os cultos nesse período:
Em 1909 foram realizados 45 cultos, com a freqüência média de 50 pessoas. Os trabalhos naqueles tempos não eram fáceis devido à composição e origem de seus membros: alguns vieram da Alemanha, outros da região de Estrela e Teutônia, outros de Santa Cruz e alguns poucos da Rússia e da Áustria.164
Segundo Becker: Foi em 1910 que o Ver. D. Zöllner, Superintendente Geral da Igreja Evangélica da Westfália e o Ver. D. Cremer, visitaram as comunidades do Sínodo Rio Grandense. (...) deram a sugestão de mobilizar as forças femininas para enriquecer o trabalho do Sínodo e das comunidades. No mesmo ano foram fundadas associações femininas em Santa Cruz do Sul, Panambi, São Leopoldo e outras localidades. (...)165
Constata-se que desde a fundação da comunidade sempre existiu a Juventude
Evangélica, participando de todos os eventos sociais e religiosos que ocorreram. Os
trabalhos e reuniões eram organizados pelos pastores e suas esposas. No ano de 1933, as
moças se reuniam na casa do pastor, com sua esposa e praticavam estudo bíblico,
bordavam, faziam leitura, declamavam poesias e ensaiavam danças. Era obrigatório o uso
163 O relatório está transcrito no Jornal Notícia Ilustrada, Panambi, 29 nov. 1996. p. 10. 164 MALHEIROS, op. cit., p. 136. 165 BECKER, Rudolph. As igrejas evangélicas. In: BECKER, Klaus (org). Enciclopédia Rio-Grandense. O Rio Grande Antigo. 2. ed. v. 4. Porto Alegre: Sulina, 1968. p. 160-161.
68
de uniforme: blusa branca, gravata e saia azul. Os rapazes se reuniam com o pastor em
outro local. Eles também usavam uniformes: camisa branca, gravata e calça azul. Uma vez
por mês, rapazes e moças se reuniam e no final do trabalho realizavam uma
confraternização. Nesse período a juventude evangélica contava com 30 membros e na
década de 60 em torno de 70 a 100 jovens.
Até 1912, o pastor não era remunerado pela comunidade, que alegava dificuldades
econômicas e as más colheitas. Dessa forma, os pastores eram sustentados pela Empresa
Colonizadora. Somente a partir de 1913 é que a comunidade passou a remunerar
parcialmente os pastores com recursos próprios, recebendo ainda uma pequena importância
anual da empresa.
Após vários anos da escolha do local para a construção da igreja, finalmente, em
fevereiro de 1916, é realizada a assembléia para tomar medidas dando início à construção.
Trabalhavam os senhores Jacob Bock e Leopoldo Hepp. Em abril foi realizada a
assembléia extraordinária com a participação de 89 membros, quando 76 votaram a favor e
7 contra a construção.
Embora a votação tenha sido favorável, somente após quatro anos é que ficou
definido o arquiteto que projetaria a igreja. Foi escolhido Seubert, de Novo Hamburgo,
cujo projeto foi aprovado pela comissão de construção e diretoria. O arquiteto recebeu
1:200$000 pelos serviços e o pedreiro mestre 10:500$000 para parte da construção. Em
julho de 1921 foi colocada a pedra angular e realizado um culto comemorativo,
oficializado pelo pastor Karl Ramminger com a participação do pastor Halle de Ijuí. A
construção levou praticamente dois anos sendo a nova igreja inaugurada no dia 22 de abril
de 1923.
A comunidade evangélica, na época, contava com 470 membros e abrangia Elsenau
(centro); Magdalena (Ocearu), Leipzig (Iriapira I e II); Palmeira (Condor), Verder und
Hinterer Rincão (Rincão frente e Rincão fundo), Hindenburg (Assis Brasil e Linha Fiúza);
Rheinland (Jacicema), Linha Divisa e Ramada.
Na assembléia realizada em janeiro de 1927, ficou decidido instalar luz elétrica e
adquirir três sinos. Foi comprado da firma Bromberg & Cia, de Porto Alegre, mas
fabricados em Bochum, na Alemanha, três sinos de bronze com o peso de 850 kg, 450 kg e
300 kg. Cada sino deveria ter a inscrição: Comunidade Evangélica de Neu-Württemberg e,
além disso, deveria ter, o menor “Os vivos chamo para a devoção”; o médio “Aos mortos
clamo descanso e paz” ; e o maior “As pessoas vêm a vão, só deus é eterno” . Os sinos
69
chegaram a Panambi em 02 de dezembro de 1927, em três carroças. Foi realizada grande
festividade com ornamentação das ruas e da igreja:
A primeira carroça foi ornamentada com flores brancas e puxada por 06 cavalos pretos, a segunda com flores vermelhas e puxadas por 06 cavalos brancos e a terceira com flores amarelas e puxadas por 06 cavalos marrons. Na frente iam mais de 100 alunos com bandeirinhas nas cores preto, vermelho e branco e outras nas cores verde e amarelo. A seguir iam as sociedades com suas bandeiras e uma banda de música. Após vinham as carroças, a diretoria e a comunidade.166
No entanto, somente no dia 10 de dezembro de 1927, ao anoitecer o repicar dos
sinos ecoou pela primeira vez. O custo dos sinos foi de 10:000$000, importância que foi
arrecadada através de doações espontâneas. Segundo o pensamento dos pioneiros, a
comunidade deveria ter sinos, pois eles simbolizavam o progresso e o despertar. Na década
de 1930, foram construído, o muro e as escadarias de arenito e inauguradas as esfinges do
Hermann Meyer e do pastor Hermann Faulhaber. De 1934 a 1935, o senhor Gottfried
Wolgien construiu o relógio da torre, utilizando peças de um Ford de bigode fora de uso.
Desde 1936 até hoje, é o único relógio público de Panambi.
Em virtude da expansão de Panambi, foi necessária a criação de centros de
pregação na periferia da cidade. Criou-se o Centro Evangélico da Zona Norte, hoje,
Comunidade Martim Lutero. Na vila Kuhn foi instalada a Comunidade Evangélica Bom
Pastor e no bairro Arco Íris construída a terceira casa pastoral da Paróquia Evangélica de
Panambi.
Como vimos foi a partir do século XX que se verificou a integração dos alemães a
sociedade rio-grandense, tanto em nível econômico, quanto social e político. A
participação política é o indicativo de integração social, pois o indivíduo só participa na
medida em que, integrado, tem interesses definidos a atingir. Também cabe lembrar que o
imigrante irá participar politicamente na medida em que seu nível de vida econômica esteja
bem.
166 Jornal Notícia Ilustrada, Panambi, 11 dez. 1992.
70
3.3. As organizações auxiliares da sobrevivência da cultura germânica em
Neu-Württemberg
Em Panambi, a implantação de uma instituição evangélica ocorreu ainda nos
primeiros momentos de criação da colônia. No ano de 1902 foi instalado o primeiro
cemitério na colônia, por iniciativa dos primeiros imigrantes. Entretanto, para mantê-lo
seria necessário uma entidade para tal fim. Algumas pessoas queriam criar uma entidade
exclusivamente do cemitério, outros queriam formar uma sociedade que fosse ao mesmo
tempo também comunidade eclesiástica e mantenedora do cemitério, nesse caso, o
cemitério pertenceria à comunidade evangélica. Venceu quem queria formar uma entidade
exclusiva do cemitério sem filiação a uma comunidade religiosa.
Diante da necessidade de ter um pastor na colônia, Hermann Meyer, contratou o
pastor Hermann Faulhaber, em 1902, cujo contrato previa a assistência eclesiástica, a
criação de uma escola, a realização de levantamento social e econômico da realidade, a
instalação de uma estação meteorológica, a associação de agricultores, sociedade
cemitério, a criação de uma biblioteca e a sociedade de cantores.
Cabe considerar que, com a vinda do casal Faulhaber foi concretizada a idéia do
desenvolvimento social e cultural que estava no projeto de Hermann Mayer. Faulhaber era
pastor e professor, sua esposa era professora. O casal concretiza a instalação e fundação da
igreja e da escola, que atualmente se chama Colégio Evangélico de Panambi e é
reconhecido na região. Através da orientação do casal foi criada a associação de
agricultores, a sociedade escolar, a sociedade de cemitério e a estação meteorológica.
Dessa forma, o casal conseguiu atingir os objetivos previstos no contrato.
Essas instituições tinham ainda a função de ajudar na arrecadação de fundos, para
assim, construir templos, casas paroquiais, escolas e também para “embelezar os templos” ,
cuidar dos pobres e dos doentes. Para isso faziam festas e pediam contribuições. Vejamos
no Boletim Evangélico um convite:
Para o mês de junho prevemos os cultos festivos em Ações de Graças pela colheita (Erntedankfestgottesdienste). Todos nós temos motivo suficiente para agradecer a Deus(...). Nosso louvor e agradecimento a Deus expressamos em nossas orações, pelos hinos de louvor a Deus, pelas nossas ofertas, pelas nossas contribuições e pelo tempo, o qual dedicamos às causas do Senhor. Quanto ao resultado financeiro dos cultos festivos em Ações de Graças pela colheita, a Diretoria Geral sugere a seguinte distribuição: 25% para trabalhos na Comunidade – 25% para os trabalhos na paróquia – 25% para a SABEVE
71
(Sociedade de Amparo e Bem-Estar da Velhice em Ijui) – 25% para os Asilos Pella e Bethânia em Taquari. A Diretoria Geral167
Em Panambi, desde o início de sua colonização, a sociedade primou pela
organização de agremiações. Em 1903 foi formado a “Gesang-verein Elsenau,” a
associação de cantores, criada em seis de março de1903. Em 1928 a entidade comemorou
os 25 anos de funcionamento de atividades,168 de história e A Notícia Ilustrada fez
referência da agremiação. “A primeira agremiação que surgia, foi provavelmente o
“Gesang-verein” de cantores. Em seguida, poucos dias depois, em quinze de março era
formada a associação mantenedora do primeiro cemitério e, em dezessete de maio de 1903,
a “Deutscher Schulverein” , a associação escolar” .169
O canto fazia parte do cotidiano da maioria dos moradores da cidade. O depoimento
de um deles é exemplar. Segundo Erich Korndörfer:
Desde a escola já cantava. Em 1938, com os meus 16 anos, comecei a cantar no Coral Elsenau masculino, sob a regência do saudoso Erich Schild. No começo doa II Guerra foi proibido o canto alemão e iniciou-se um coral misto, o coral da família Döth, em casa particular.170
Os Batistas eram conhecidos também pela importância que davam à música e
contavam com apresentações diversas do coro denominado “Imanuel” .171 O coral
masculino da Igreja Batista Emanuel foi criado em 1957. Era composto por um grupo de
jovens com idades entre 20 e 25 anos. Na época seu repertório consistia exclusivamente de
músicas alemãs. Segundo do senhor Artur Trentini172, na década de trinta havia em
Panambi treze corais masculinos.
Destaca-se nas atividades da igreja um grande número de membros que integram os
mais diversos departamentos, como Escola Bíblica Dominical, os grupos de Mulher Cristã
em Ação, Jovens, Adolescentes, Juniores, Casais e também a música como os coros: misto
jovem, masculino alemão, juniores, além de um conjunto instrumental e a Banda Tributo.
167 CULTOS Festivos em Ações de Graças pela Colheita. Comunidade Evangélica Panambi, Panambi, Maio
de 1957, n. 100. p. 12. 168 Documento apresentado em fac-símile nos Anais do Arquivo Histórico. Panambi, n. 85. 1988. Ver anexos
números 07 e 08. 169 Jornal Notícia Ilustrada, Panambi, 10 fev. 1993. p. 03 – 05. 170 Jornal Folha das Máquinas, Panambi, 04 set. 2002. 171 ASSOCIAÇÂO dos escritores de Panambi, op. cit., p. 33. 172 Arthur Carlos Trentini ex-integrante de corais masculino de Panambi e Porto Alegre. Começou cantar em
1933, aos 15 anos de idade, no “mannergesanverein Frosin”.
72
Outra atividade importante desenvolvida nas regiões de colonização alemã era a
ginástica. Segundo René Gertz:
As associações de ginástica eram tão freqüentes quanto às de tiro, de teatro, de canto. Essas associações formavam, por sua vez, associações regionais, as quais, por sua vez, se congregavam numa associação estadual. Em 1895, a associação de ginástica do Rio Grande do Sul promoveu a primeira festa ou torneio de ginástica do estado. A partir de então, esses torneios estaduais transformaram-se em grandes eventos esportivos, repetidos com regularidade até a primeira Guerra, quando tiveram de ser suspensos.173
As associações de ginástica ressurgiram com muita força a partir da década de
1920. Também em Panambi, formou-se nesta época uma associação local de ginástica. No
Catálogo Comemorativo de 1929174 aparece uma a relação com todos os filiados ao
Turnschaft do Rio Grande do Sul, no qual encontramos o grupo de Ginástica “Gut Heil”
fundado em 1913, em Neu-Württemberg. Esta sociedade atualmente denomina-se
Sociedade Ginástica de Panambi. O objetivo do grupo era o de cultivar a ginástica de
Jahn175, no entanto, as sociedades sempre viam como sua missão a divulgação da cultura
alemã.
A imprensa divulga com muita freqüência as apresentações artísticas em Neu-
Württemberg. “Tem trabalhado nesta colônia o grupo de artistas dirigido pelo Sr. Alfredo
Alvares, cujos espetáculos foram bem concorridos, agradando os trabalhos
apresentados” .176 Havia grupos teatrais “thesterverein” e de canto que percorriam o
interior, em determinadas épocas do ano, com a finalidade de levar divertimentos aos
colonos.
Destacamos ainda que na colônia de Neu-Württemberg foi criado o clube de
atiradores, os sócios mandaram confeccionar um estandarte de seda, em Santa Cruz.
Citamos o Jornal Cruz Alta, de 09/06/1910 que faz referência à vida social da colônia
noticiando que o clube de lanceiros é uma das mais adiantadas associações da colônia. Foi
fundada com dois fins principais: proporcionar diversões a seus associados e disciplinar os
rapazes, seus membros, preparando assim soldados para a defesa da Pátria.
As festas religiosas além de comemorar datas serviam para divertimento familiar e
integração social:
173 GERTZ, O aviador e o carroceiro, op. cit., p. 247 – 248. 174 Catálogo comemorativo do VII Festival Geral de Ginástica de 17 a 20 de maio de 1929. 175 Conforme Dehmloww, Jahn num certo sentido é o Pai dos Esportes. 176 Jornal Diário Serrano, Cruz Alta, 22 ago. 1912.
73
As grandes festas religiosas são, sem dúvida, aquelas em que se nota mais claramente a originalidade dos teuto-brasileiros em relação ao resto da população do Rio Grande do Sul. Torna-se inútil lembrar o fervor com que os colonos celebram a Natal e a Páscoa, as duas maiores festas do ano litúrgico; as igrejas e os templos recebem uma multidão que os superlota e acompanha os ofícios com devoção. Essas festas, a que se associam divertimentos familiares, assinalam-se por um ritual que conquistou os meios lusos-brasileiros.177
Prática cultural que se nota existir e funcionar como uma espécie de união social da
comunidade, vejamos, por exemplo, no Boletim Evangélico:
Conforme resolução das senhoras da OASE em assembléia geral serão realizados mensalmente “almoço de confraternização” no Lar da Juventude. E Estes almoços visam à confraternização de membros da nossa comunidade, não excluindo a participação de pessoas de outras denominações. O preço para os almoços foi fixado em Cr$ 7,00 para adultos e Cr$ 4,00 para crianças até 10 anos. Nos meses maio e junho estes almoços coincidem com a “Festa de Kerb” resp. com a “Festa da Colheita” . Para julho e agosto ainda deverão ser fixadas as respectivas datas que serão publicadas no boletim e avisadas por rádio nas “Mensagens Matutinas”. As inscrições deverão ser feitas pela Secretaria da Comunidade (Fone n.º 105).178
As festas religiosas que preservavam os divertimentos familiares também
revelavam a religiosidade da comunidade. De acordo com registro no livro
“Cinqüentenário de Panambi” , a primeira festa de Natal na colônia foi em 1902, os colonos
se reuniram no barracão dos Imigrantes, construído no mesmo ano, para assistirem às
comemorações e ao culto realizado pelo pastor Hermann Faulhaber.
Realmente, uma dupla evolução operou-se nos costumes dos descendentes de imigrantes alemães, se seu apego às tradições germânicas lhes permitiu conservar boa parte de seus usos e mesmo transmitir alguns deles aos rio-grandenses de outra origem; em compensação, a influência do meio acentuou-se com o tempo e, de certo modo, transformou a sua maneira de viver.179
Segundo Max Weber180, a filiação religiosa não é uma causa da condição
econômica, no entanto, pode ser resultado dela. Ele constatou em sua investigação que as
regiões de maior desenvolvimento econômico foram as regiões favoráveis a uma revolução
nas suas igrejas. Com relação aos imigrantes, o autor destaca que eles surgem do mundo
moderno e trazem consigo boa parte dos valores da modernidade. Boa parte porque eles,
177 ROCHE, op. cit., p. 641. 178 ALMOÇOS de Confraternização. Comunidade Evangélica Panambi, Panambi, Maio e Junho de 1973, n.
229. 179 ROCHE, op. cit., p. 649. 180 WEBER, Ensaios de Sociologia, op. cit., p. 351 – 355.
74
como também, outras sociedades, provêm de um mundo em transição, de um mundo nada
homogêneo.
Segundo Giralda Seyferth, no início do século XX, as chamadas “colônias alemãs”
não estavam assimiladas – inclusive porque o fluxo imigratório não havia terminado, “mas,
paulatinamente, iam-se tornando teuto-brasileiros.”181 Nesse contexto, cada vez mais se
afirmava uma identidade étnica cujo elemento de distinção preferencial será o uso
cotidiano da língua alemã. A valorização das qualidades nacional germânicas será cada vez
mais difundida, pretendendo-se com isso consolidar o elemento da etnicidade. Para a
mesma autora:
a idéia de uma ligação nacional com a Alemanha se baseia no direito de sangue e se naturaliza através da língua, das associações, das escolas, da celebração de datas nacionais significativas (...), do engrandecimento de heróis nacionais (como Bismarck) e de escritores e músicas (...), do estimulo as atividades folclóricas (especialmente na organização de conjuntos musicais, corais e de danças.182
Giralda Seyferth defende assim a posição de que ocorreu uma influência vinda da
Alemanha pela introdução de obras cujos autores defendiam a ideologia nacionalista
alemã. No caso das áreas coloniais alemã,do Rio Grande do Sul, houve uma reaproximação
dessa ideologia, o que “explicaria a proliferação, nas colônias, das sociedades de ginástica,
de canto e de tiro, associadas, juntamente com a família, à preservação do uso cotidiano da
língua alemã.” 183. Também existiam grupos teatrais, conhecidos como “theaterverein” e de
canto, que percorriam o interior, em determinadas épocas do ano, com a finalidade de
proporcionar o lazer aos colonos. Destacamos a iniciativa de implantar uma escola e uma
biblioteca (foram recebidos mais de trezentos volumes da Alemanha).
Dessa forma, o desenvolvimento da vida religiosa e cultural de Panambi revela
muita semelhança com outras áreas de colonização alemã. Inúmeras iniciativas no campo
cultural tinham como eixo central a valorização da germanidade. Como vimos acima, os
exemplos dessas iniciativas são muitos e contribuíram, junto com a religiosidade, com a
educação para a manutenção de um aspecto cultural germanista na cidade de Panambi,
181 SEYFERTH, Giralda. A identidade teuto-brasileira numa perspectiva histórica. In: MAUCH, Claudia e
VASCONCELLOS, Naira. (Org.). Os alemães no sul do Brasil. Canoas: Editora da ULBRA, 1994. p. 16. 182 Ibid., p. 17. 183 SEYFERTH, Giralda. A identidade teuto-brasileira numa perspectiva histórica. In: MAUCH, Claudia e
VASCONCELLOS, Naira. (Org.). Os alemães no sul do Brasil. Canoas: Editora da ULBRA, 1994. p. 17.
75
construindo ao longo do tempo o imaginário que permeia a construção de identidade da
população.
3.4. A imprensa protestante em Panambi184
Os evangélicos sentiram a necessidade de também possuírem um órgão de
imprensa e em 1875, redigiram a folha Der Bote, com o objetivo de melhorar a situação
geral do protestantismo rio-grandense.185 A criação de uma imprensa de orientação
evangélica ocorreu devido a dois fatos: de um lado se viram obrigados a defender sua
existência contra o poder e a influência da igreja católica, de outro lado, a pregação do
evangelho foi ameaçada pelo materialismo importado da Alemanha. Em 1880, foi editado
o primeiro número do Jornal Deutsche Post, periódico de orientação evangélica, que
circulou até 1928.
Cabe lembrar que na segunda metade do século XIX ganharam adeptos no Brasil as
doutrinas do materialismo de Vogt, Moleschott, Büchner, naturalistas alemães, de Ludwig
Feuerbach, filósofo ateu, de Charles Darwin e Ernest Haeckel, pregadores do
evolucionismo. O redator do jornal Deutsche Zeitung, de Porto Alegre, Karl Von
Koseritz186 escreveu a favor do protestantismo, contra o catolicismo. Karl Von Koseritz foi
um dos mais ativos intelectuais na segunda metade do século XIX no Rio Grande do Sul.
Alemão de origem, chegou ao Estado em 1851, aos 21 anos, na condição de brümmer.
Depois de um período em Pelotas, fixou-se em Porto Alegre. Em Porto Alegre, ainda em
1864, assumiu o cargo de redator-chefe do Deutsche Zeitung.
Dessa forma, a partir de 1870 declarou sua posição anticristã, estava convicto que o
materialismo científico junto com a idéia de evolução dos seres vivos e do universo iria
substituir qualquer forma do cristianismo. Entretanto, em vez de unir, Koseritz aprofundou
184 Sobre a imprensa batista de Panambi foi localizada apenas a informação que segue : Em 1914 surgiu um
jornal, intitulado “Gruess Gott” (Saudação de Deus), que, mais tarde, tomou o nome de “Missionsbote” (Mensageiro Missionário), nome que conserva até o dia de hoje. Em 1921 foi organizado um fundo para missões: “Missionfond” , que tem prosperado grandemente, servindo aos interesses da atual “Associação Batista Alemã do R.G.S.”.Vieram mais outros obreiros da Europa: Gustavo Henke em 1923, da Polônia e Georg Ziegler, da Alemanha. Este foi consagrado ao santo ministério em 1925 e tomou conta da igreja de Santa Rosa. BECKER, op. cit., p. 274.
185 JUNGBLUT, op. cit., p. 70. 186 Karl Von Koseritz foi um político liberal, brilhante jornalista, escritor tanto em português como em
alemão. Foi sem dúvida, o maior jornalista de origem alemã do século XIX, em todo o Brasil. Foi jornalista, escritor, folclorista, historiador, advogado, professor e deputado provincial. Sobre a importância intelectual de Karl Von Koseritz ver alguns textos traduzidos em: GERTZ, René (Org.). Karl Von Koseritz. Seleção de textos. Porto Alegre: EDIPUCRS, 1999.
76
a cisão que separou a população em três campos opostos, o católico, o evangélico e o dos
livres-pensadores. Koseritz tinha partidários, tanto nas cidades como nas colônias, que
exerceram grande influência sobre o pensamento dos colonos. Com a edição do jornal
evangélico foi possível revidar os ataques e calúnias de Koseritz e de seus partidários. O
jornal evangélico publicava assuntos de política, economia e anúncios. A partir de 1887
iniciou a publicar uma folha de caráter religioso, como suplemento.
As primeiras notícias da existência de imprensa em Panambi são de 1916, quando
Luiz Zügel187 inicia a publicação de um periódico mensal em língua alemã intitulado Die
Selbsterziehung – A auto-educação, fundado por um grupo de colaboradores, com a
finalidade de dedicar-se à educação da humanidade. De forma geral, assim como no
restante das comunidades de maioria evangélica do Rio Grande do Sul, a imprensa
cumpriria um importante papel na missão espiritual das comunidades.
Em 1923, o professor Richard Bruggemann ensaiou o lançamento de um pequeno
jornal em língua alemã, com o título de Deutscher Anzeiger – Noticiário Alemão -, cuja
existência foi curta.
O pastor Karl Michel, da Paróquia Evangélica de Panambi, em 1926, iniciou a
edição do boletim paroquial, em língua alemã, denominado Evangelisches Gemeindeblau,
Boletim da Comunidade Evangélica. Este veículo de comunicação existe desde 1926,
denominado Boletim Comunidade Evangélica Panambi188. Foi o primeiro meio de
comunicação e era distribuído gratuitamente. Para a realização da presente pesquisa
obtivemos acesso a partir do número 52, de setembro de 1951. Sua impressão era mensal,
com exceção dos meses de janeiro e fevereiro que tem sua impressão a partir de 1957.
O referido boletim era escrito em língua alemã e traz informações úteis à
comunidade, dia e horário dos cultos, propaganda de lojas, mensagens, notas de
falecimento, relatório da tesouraria da comunidade, oração, lista de recolhimento de
187 Luiz Zügel era adepto e praticante da Teosofia, que, segundo definição enciclopedista é “conhecimento de
Deus e a adoção de uma forma de vida humana, visando ao aproveitamento das forças secretas e ignoradas da sua natureza, por meio de meditação e do exercício ascético” . O sítio da família Zügel era conhecido como Retiro dos Ascetas. Na sua ficha genealógica, no museu local, pode-se constatar que Zügel era desenhista (zimmermaler), tendo ao chegar em Neu-Wüerttemberg, trocado de ofício e sobrevivido, entre outras coisas, com uma plantação de fumo. MICHELS, Sergio Ervino. A história ensinada na colônia particular de Neu-Wüerttemberg, sob a ótica do protestantismo, da germanidade e da educação. 2001. Dissertação (Mestrado em Educação nas Ciências) – Faculdade de Educação, Universidade Regional do Noroeste do Estado do Rio Grande do Sul (UNIJUI), Ijuí, 2001.
188 O Boletim Comunidade Evangélica, de Panambi, começou a circular no ano de 1926 se mantendo periódico até a década de 1970. Era um veículo de comunicação de distribuição gratuita aos membros da comunidade evangélica. É importante destacar que parte dos textos do boletim era escrito em língua portuguesa e parte em língua alemã. Além de informar sobre o calendário de cultos com dia, hora e locais de realização, notícias sobre falecimento, e pequenos textos de cunho doutrinário/cristão.
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donativos, decretos e balanço das festas. O Boletim Comunidade Evangélica, publicado a
partir de 1926, foi um veículo identificador de um grupo étnico, fato que podemos observar
através do jornal Comunidade Evangélica Panambi que, desde a década de 1940, foi o
jornal da localidade, sendo um meio de comunicação da sociedade local, inclusive trazendo
artigos em língua alemã.
A análise do Boletim Evangélico deve ser realizada sob a ótica do lugar de memória
da comunidade, nele estão contidas todas as informações úteis, desde datas de nascimento,
batismo, confirmação, casamento, festas, mudanças na diretoria da igreja e da escola,
registro de óbitos, propaganda de empresas, homenagem a pessoas, estatuto da comunidade
evangélica, mensagens e horários de cultos. Neste primeiro número ao qual se teve acesso,
podemos observar, por exemplo, como a comunidade evangélica, através de uma imprensa
específica, em um periódico de distribuição gratuita, utilizava este veículo para divulgação
de sua organização e de seus objetivos.
Além disso, o periódico servia também como instrumento de formação religiosa,
trazendo textos bíblicos, e reflexões sobre o ser cristão. Também pode ser visto como uma
contribuição ao ideal de germanidade, pois o periódico é parte dele publicado em
português e parte em alemão.
Além do dia e hora de falecimento faz-se um histórico das pessoas, citando data e
local de nascimento, filiação, idade com que casou, com quem casou, número de filhos,
onde estudou, causa da morte, agradecimento, nomes das pessoas que ficaram da família,
etc. Através das notas de falecimento é possível conhecer a trajetória das famílias da
localidade, enquanto pessoas que migraram de diferentes partes da localidade. Dessa
forma, as notas cumprem um papel de conservação da história das pessoas, delineando
uma identidade.
O pastor evangélico Alfred Simon lançou, em 1946, a folha eclesiástica O Boletim
da Comunidade Evangélica, editado mensalmente. Somente no ano de 1956 é que surgiu o
primeiro jornal em Panambi por iniciativa de Adil Alves Malheiros. Chamava-se Panambi
– Cidade das Máquinas e era impresso em Cruz Alta como suplemento do Diário Serrano,
A partir de 1959, a imprensa teve continuidade com o jornal O Panambiense, um
empreendimento de Miguel Schmidt Prym, que circulava em alemão e em português. Mais
tarde foi substituído pelo Notícia Ilustrada, primeiro do Estado do Rio Grande do Sul a ser
impresso em off-set plano.
78
3.5. O catolicismo na Colônia Neu-Württemberg
Foi na virada do século XIX para o século XX, especialmente a partir da
proclamação da República e do advento da separação Estado e Igreja, que o catolicismo se
expandiu e se consolidou definitivamente no Brasil. Segundo Fernando de Azevedo, a
chegada de inúmeras ordens religiosas estrangeiras no Brasil contribuiu para esse processo:
É nesse momento, e dentro das dificuldades e graves ameaças ao prestígio da Igreja, que se inicia o mais rigoroso movimento católico de nossa história, pela amplitude de sua ação social, por uma nova interpretação da Igreja e do século, pelo renascimento do espírito religioso (...) 189
A Igreja Católica passou a atuar com força em todos os campos do mundo social,
portanto, na imprensa, no rádio, nas escolas, nas associações, etc. Assim, a instalação da
Igreja Católica em Panambi ocorreu no mesmo contexto de implantação e consolidação do
catolicismo em âmbito nacional, processo verificado nas primeiras décadas do século XX.
Em relação a esta questão, torna-se importante salientar que, mesmo que o Brasil tenha
sido colonizado por uma metrópole católica fervorosa e que o processo de catequização
indígena tenha se dado por meio dos jesuítas da Companhia de Jesus, o catolicismo como
um conjunto de práticas e idéias era muito frágil em nível nacional até praticamente o final
do século XIX.
Em se tratando do Rio Grande do Sul, a situação era ainda mais grave. Segundo
Artur César Isaia, “no Rio Grande do Sul, a virada do século encontrava um clero
despreparado e não raro fora do perfil sacerdotal preconizado pelo Concilio de Trento. Era
preciso dar respeitabilidade à Igreja no Rio Grande do Sul” .190 Tal medida deveria se
contrapor à realidade que se observava no seio do clero, tanto no caso gaúcho, quanto no
brasileiro. Foi durante a gestão de D. Cláudio José Gonçalves Ponce de Leão, iniciada em
189 AZEVEDO, Fernando de. A cultura brasileira. 6. ed. Brasília: Editora da UnB;Rio de Janeiro: Editora da UFRJ, 1996. p. 260 – 261. 190 ISAIA, op. cit., p. 34.
79
1890, que se deu inicio, efetivamente à afirmação do catolicismo na vida sul rio-grandense,
fenômeno que foi concomitante à própria consolidação do PRR.
A primeira raiz da religiosidade e a mais poderosa de todas radica na família
católica, onde os imigrantes na sua maioria fundaram seu lar com a bênção da Igreja. A
segunda raiz da religiosidade viva emerge na escola católica, onde todo o espírito
vivificador da instituição nascia da religião, havia harmonia entre o aspecto religioso e
secular da educação. A terceira raiz da religiosidade, entre os católicos teutos, é a
comunidade paroquial. Vindos de um ambiente eclesiástico organizado, na nova pátria
seguiram os costumes.191
Constata-se que a religião católica no município de Panambi chegou com seus
primeiros moradores. O primeiro morador católico a residir em terras panambiense foi o
paulista Manoel José da Encarnação, que se estabeleceu no ano de 1820, fundando a
primeira estância e tendo construído uma capela em honra a Nossa Senhora da Conceição.
A partir de 1824, começaram a chegar as primeiras levas de imigrantes alemães,
misturavam-se católicos e protestantes. Os católicos vieram sem padres de sua
nacionalidade, a população alemã foi aos poucos participando nas paróquias povoadas por
luso-brasileiros. Não poderíamos deixar de destacar também a benéfica presença dos
jesuítas nos ambientes das colônias alemãs, conservando boas tradições e bons hábitos.
A diocese foi criada em 1848, com o título de São Pedro do Rio Grande do Sul e
em 1853 foi nomeado para ser o primeiro bispo o padre Feliciano José Rodrigues Prates. A
nova diocese tinha cerca de 460.000 habitantes, contava com 48 paróquias e 12 comarcas
eclesiásticas. O bispo realizou várias visitas pastorais e percorreu muitas paróquias levando
sua palavra de ânimo ao povo, visitando praticamente todas as paróquias da diocese.
Em 1858, veio residir o segundo morador de Panambi, João Luís Malheiros, que
estabeleceu residência na localidade de Boa Vista. Sua origem era a Província de Alto
Douro, Portugal, de onde trouxe a devoção e uma imagem de São João Batista. Ao chegar
deu início aos trabalhos religiosos e edificou uma capela.192 Dessa forma, a partir desta
data, Malheiros e sua esposa iniciaram o movimento religioso na região homenageando
São João Batista com festas religiosas. Também cabe observar, que Malheiros era
catequista, capelão e atendia as necessidades espirituais de todas as pessoas, pois, como era
comum nesta época, raramente ocorriam visitas de padres de Cruz Alta.
191 BALÉN, João Maria; RAMBO, Balduíno; FERNANDES, Astrogildo e BECKER, Klaus. A Igreja Católica no Rio Grande do Sul até 1912. In: BECKER, Klaus (Org.). Enciclopédia Rio-Grandense. O Rio Grande Antigo. 2. ed. v. 4. Porto Alegre: Sulina, 1968. p. 36 – 40. 192 MALHEIROS, op. cit., p. 140.
80
O paulista Francisco Pires Rolim, por sua vez estabeleceu residência na região, no
ano de 1865. Era devoto de São João Batista e construiu uma capela na localidade de Passo
dos Pires. Também cabe destacar o morador paulista de Rio Pardo, Francisco Manoel de
Bairros, que juntamente com os descendentes dos Malheiros festejava todo o ano, o
padroeiro São João Batista.
Até o final do século XIX não houve efetivamente o desenvolvimento do
catolicismo mais institucional na região. O pequeno número de moradores, distância e
pouca eficácia da inserção da Igreja Católica, fenômeno religioso comum no Brasil e no
Rio Grande do Sul, foram tais razões para a situação. Nesse contexto, a proclamação da
República em 1889 e, conseqüente, separação de Estado e Igreja Católica foram
fundamentais para médio e longo prazo, reverter o quadro de fragilidade do catolicismo
para um quadro de fortalecimento ao nível nacional.
De acordo com os registros paroquiais, verificou-se que o primeiro atendimento
católico às famílias na colônia de Neu-Württemberg realizou-se em 1901 quando foi
celebrada a primeira missa pelo padre jesuíta Max Von Lassberg, na residência da senhora
Wagner193 posteriormente, esteve em Neu-Württemberg o padre jesuíta Josef von Lassberg
que celebrou uma missa na casa de Johan Heinrich Rehn, na Linha Berlim. Durante os
cinco dias em que esteve na colônia, celebrou missas, batismos e outros ofícios religiosos.
Cumpre mencionar que da segunda metade de ano de 1903 até 1906, não consta registro
referente à eventual visita de sacerdote, o que confirma as dificuldades da Igreja Católica
atender sua clientela.
Em 1907, o padre Friedrich Blahs celebrou missa na casa de Fridrich Schalatter.
Para anunciar a vinda do padre foi divulgado um aviso escrito por João Diehl, que era
guarda-livros da Empresa de Colonização. Já no ano de 1908, constata-se que houve
somente visita do padre Carlos Kolb194 de Cruz Alta. Na oportunidade batizou doze
crianças e celebrou a primeira comunhão de quatro pessoas. Nesta época, a família
Baumgarte anunciava a vinda de padres e cuidava da hospedagem, que era em sua
residência. Na mesma época, o padre Carlos Kolb retornou a Neu-Württemberg e realizou
uma reunião com as famílias católicas para debater sobre a fundação de uma comunidade,
193 Documento Histórico da Paróquia São João Batista. Panambi: 1997. p. 5. 194 Carlos Kolb nasceu na Alemanha e trabalhou em Cruz alta entre 1903 a 1919. Segundo Isaldina Rosa,
iniciou uma renovação espiritual na paróquia auxiliando diversos coadjutores da mesma congregação. Por instancia sua os irmãos Maristas abriram um colégio que, infelizmente não prosperou. ASSOCIAÇÃO dos escritores de Panambi. op. cit. p. 85.
81
oficialmente católica. Tal assunto foi descrito pelo pastor Hermann Faulhaber em seu
relatório de agosto de 1909.
Há algum tempo atrás, quando estive em Cruz Alta, pude conversar com o Ver. Carlos Kolb, tendo então também abordado o assunto da fundação e organização de uma comunidade católica em Neu-Württemberg. Falei, também, sobre a matéria com as famílias católicas daqui. Houve então no dia 28 de julho, por ocasião do padre Kolb, uma reunião dos católicos, com a finalidade de ser fundada uma comunidade. Ficou estipulado que cada membro pagará uma anuidade de 2$000, devendo ser paga a metade dessa quantia para o semestre de julho a dezembro deste ano. Ficou também estabelecido que o padre Carlos Kolb visitará a nova comunidade uma vez por ano.195
A questão do acordo que estabelecia uma visita anual do sacerdote é reveladora das
dificuldades que a comunidade teuto-brasileira católica teve para desenvolver suas
práticas. A não existência fixa de membros do clero na comunidade criava um clima de
desconforto e insegurança espiritual. No cotidiano, quem seria o encarregado de resolver
os casos imediatos que necessitassem da presença de um sacerdote. O relacionamento
pacífico entre as diferentes religiões na região de Panambi está relacionado ao isolamento
ocorrido nas primeiras décadas de sua história.
Assim, em 1910, o padre Carlos Kolb retornou e celebrou missas. Em 1911 foi
expedido outro aviso aos católicos comunicando que o mesmo padre estaria em Neu-
Württemberg, dia 20 de fevereiro, estando prevista uma missa nas dependências do
Barracão. Constata nos relatórios da Empresa Colonizadora mais um aviso, com data de 13
de junho de 1911, no qual comunica que no dia 19 de junho, o padre Carlos Kolb estará
celebrando missa no salão de Wilhelm Hirsch. O referido salão foi um dos pontos
marcantes na história de Panambi, pois as reuniões, encontros sociais e políticos eram
realizados nesse salão.
O relatório do pastor Faulhaber, referente ao mês de outubro de 1911, relata que “o
Padre Carlos Kolb esteve em Neu-Württemberg, respectivamente em 20 de junho e 17 de
outubro. Os católicos da Colônia Neu-Württemberg, em colaboração com os católicos
moradores nas regiões adjacentes, colocaram-se o propósito de construir uma capela. Para
esse fim oferecemos a doação de dois terrenos, situados à Rua Bismark.”196 Em 1914,
ocorre o início da construção da capela São João Batista.197 No entanto, uma violenta
tempestade destruiu a construção. Em 1917, houve, segundo a tradição cristã, a aparição de
195 ASSOCIAÇÃO dos escritores de Panambi. op. cit., p. 35. 196 ASSOCIAÇÃO dos escritores de Panambi. op. cit., p. 35. 197 Cruz Alta, Cruz Alta, 17 dez. 1916. Encontra-se a notícia: “ já estão bastante adiantadas os trabalhos de
construção da Igreja Católica desta colônia (...)”
82
Nossa Senhora de Fátima em Portugal e mesmo sem igreja, foi realizada a primeira festa
do padroeiro com procissão e festejos populares.
Mais tarde, por volta de 1920 foi adquirido um prédio de madeira com a intenção
de transformá-lo em capela. Em 1926 estava concluída a referida reforma, construída a
torre e instalado o primeiro sino. No que se refere ao atendimento das famílias, pode-se
perceber que de 1900 a 1942 era precária. Padres de Cruz Alta e de Pejuçara celebravam as
missas sem nenhuma regularidade. Posteriormente os padres passaram a realizar visitas
mensais para missas, casamentos e batizados.
Em 1943, veio de Santa Maria o padre Pedro Luis Bottari e iniciou a construção da
igreja na praça central. A igreja é a atual Igreja São João Batista e foi construída pelo
pedreiro Gotfried Reuch. Os sócios se reuniram em 1946 para realizarem a primeira
assembléia geral que foi presidida pelo padre Pedro Luis Bottari, com a finalidade de
eleger e empossar a diretoria. A primeira diretoria era composta pelo presidente Willelm
Schmitt Prym; vice-presidente Pedro Luis da Silva; tesoureiro geral Reinoldo Bernardo
Fischer; tesoureiro Oscar Kruger e secretário Adil Alves Malheiros.
Destacamos que em 1945, na visita ao Rio Grande do Sul, o bispo Dom Manuel do
Monte Rodrigues de Araújo, pôde observar pessoalmente as condições precárias em que se
encontrava o Rio Grande do Sul, na questão da religião. Encontrou um abandono geral e
logo tratou de encontrar uma forma rápida e adequada para reverter tal situação. A solução
foi criar uma diocese no Rio Grande do Sul, com um bispo rio-grandense, que soubesse e
pudesse levantar novamente o nível religioso.
Do ano de 1947 á 1952, a comunidade foi atendida pelos padres palotinos José
Daniel e Vendelino Bender. Em 1952 foi criada a Paróquia São João Batista por um ato de
D. Antonio Reis, bispo Diocesano de Santa Maria. O primeiro pároco foi o padre
Franscisco Rogério Poppe, da Ordem dos Missionários Sacratíssimo Coração de Jesus, que
trabalhou na paróquia até 1959. Na década de 1960, o município de Panambi pertencia
ainda a Diocese de Santa Maria.
Após assumir a paróquia, o vigário convocou a primeira reunião da assembléia para
saber da situação da mesma. O tesoureiro apresentou o relatório financeiro onde constava
um saldo disponível em caixa de CR$ 7.316,80 e uma dívida de CR$ 55.517,10. Após sete
83
anos de permanência em Panambi, o padre Poppe é transferido para Barracão, Paraná e
assume o segundo vigário, o padre Cândido de Lorim, como pároco provisório.198
Como foi possível observar, o catolicismo em Panambi nasceu com um pequeno
número de famílias e manteve-se como religião minoritária no município.
198 Em 1988, ocorreu a separação das duas Igrejas Matriz, a São João Batista e Fátima, sendo, portanto, comunidades independentes com diretorias próprias. Dessa forma, vários padres passaram pela paróquia São João Batista. Hoje ela conta com 26 comunidades, sendo 09 na zona rural e 17 na zona urbana.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
A temática desenvolvida nesta pesquisa analisou a Colônia Neu-Württemberg,
atualmente município de Panambi, a partir de aspectos históricos, sociais e culturais. A
colônia foi fruto de um projeto de colonização privada tendo sido fundada em 1898 pela
Empresa de Colonização do alemão Hermann Meyer e Cia. A presença predominante de
imigrantes e de descendentes de alemães nesta região colonial gerou situações similares a
de outras com as mesmas características. Questões em torno da etnicidade e nacionalidade
foram comuns na em boa parte do século XIX. Assim, fato de o município ter surgido e se
desenvolvido com essa predominância da etnia alemã gerou um conjunto de características
que devem, também, ser analisadas sob a ótica das representações sociais étnicas ali
construídas.
Podemos perceber o esforço da manutenção de uma imagem coesa da localidade
em torno da identificação de cidade do trabalho e do progresso, onde a comunidade faz
questão de atribuir o desenvolvimento e o sucesso da localidade ao trabalho. Os teuto-
brasileiros formam um grupo cuja ideologia étnica se orienta a partir de representações
tomadas de uma concepção nacionalista, ou seja, aquela que foi introduzida na comunidade
através de determinadas instituições consideradas iniciativas tradicionalmente alemãs,
como a imprensa, a escola, as sociedades de tiro, a Igreja Evangélica.
No caso da colônia Neu-Württemberg, os símbolos de identificação da sociedade e
seus componentes são tanto os lingüísticos, quanto os culturais. O pertencimento a uma
etnia baseava-se na existência comum na comunidade, onde possuíam a mesma identidade
originária da utilização das variantes da língua alemã, e o fato de todos terem um passado
comum, cujos valores morais e éticos sempre foram valorizados enquanto qualidade
essencial ao integrante da comunidade. Assim, entende-se a identificação daquela
comunidade com as idéias de trabalho e de progresso como elementos constitutivos do seu
cotidiano. Ao lado disso, a religiosidade e a preocupação com a cultura foram
fundamentais, por isso desenvolveram atividades como o teatro, o coral e a biblioteca, a
escola, o salão de festas, entre outras.
85
O componente da religiosidade deve ser visto como essencial para a análise de
comunidades com as características implementadas em regiões de colonização européia.
Para a maioria dos historiadores da colonização alemã no Rio Grande do Sul, durante o
século XIX, o relacionamento entre católicos e evangélicos foi, via de regra, cordial e
pacífico. Entretanto, observamos no decorrer da pesquisa exemplos de divergências entre
as diferentes religiões que fazem parte da formação de Panambi, entre eles, é importante
destacar a perseguição ocorrida por parte dos luteranos em relação aos crentes batistas.
Assim podemos nos contrapor à tentativa de construção do entendimento religioso por
parte da maioria dos historiadores no que diz respeito ao mito da democracia religiosa
existente no Rio Grande do Sul e mais especificamente na Colônia de Neu-Württemberg.
A maioria dos alemães e seus descendentes eram adeptos do luteranismo, o que
estimulou uma visão de que a religião era um fator de reforço da própria nacionalidade.
Havia uma espécie de vínculo entre germanidade e evangélicos. A predominância de
protestantes entre os moradores da colônia Neu-Württemberg ocasionou uma certa
identificação do lugar como sendo uma “cidade protestante” . Como vimos no transcorrer
do trabalho, essa identificação não está longe de ser verdadeira se os dados quantitativos e
qualitativos forem levados em conta. Num primeiro olhar, resultou de um discurso
construído a partir da aceitação da Igreja Luterana e Batista, como tendo desempenhado
fundamental papel para a comunidade ao longo de sua história. É importante destacar que
aos luteranos coube a iniciativa de construção das primeiras instituições no campo cultural,
social e educacional.
Como vimos anteriormente, a identificação da cidade como sendo “alemã”, cidade
evangélica, cidade do trabalho, cidade de progresso, está presente na memória e na
identidade da localidade. A construção e difusão desses imaginários sociais, não devem ser
vistas como uma realidade deformada ou mesmo uma falsificação daquele passado. Na
problemática do estudo de imaginários e mitos, não se trata de desvendar o que é
verdadeiro ou o que é falso ou ilusório em relação a um determinado mundo social.
Importante nesse ponto é a presença do “espírito do capitalismo” que, consciente ou
inconscientemente, influenciou tanto o mundo do trabalho quanto os aspectos culturais em
construção.
Torna-se necessário acrescentar, ainda, que o tema da pesquisa está relacionado à
história de Panambi, sua construção e difusão, no sentido da construção de uma
determinada identidade sócio-econômico-política com base na memória coletiva. É ainda
86
Weber quem esclarece aquilo que poderia ser caracterizado como “vocação para o
trabalho” dos protestantes:
No primeiro capítulo, foi realizada uma abordagem geral da história do município
de Panambi. A abordagem foi elaborada de forma retrospectiva e cronológica, enfatizando-
se alguns aspectos considerados mais importantes da história desta “colônia nova” alemã.
A historiografia produzida a este respeito pode ser considerada predominantemente
tradicional, o que dificultou que se chegasse a algumas conclusões mais consistentes. Além
disso, a documentação primária disponível é bastante dispersa e lacunar. Parte da
documentação é escrita em alemão.
No segundo capítulo, foi focalizada a problemática da identidade teuto-brasileira
nos seus aspectos de memória narrativa, religiosidade e educação. Num primeiro momento,
foi possível relacionar a construção e difusão de mitos presentes ainda hoje na sociedade
local com a produção historiográfica disponível. Tratou-se também da questão religiosa e
da educação nas regiões de colonização alemã, especialmente em Panambi.
Neste sentido, partiu-se do entendimento que a etnicidade, como a nacionalidade, é
uma qualidade compartilhada, uma condição de pertencimento a um grupo cujos membros
possuem uma consciência coletiva quase sempre articulada a princípios primordialistas. A
identidade étnica teuto-brasileira foi constituída, etnocentricamente, por oposição aos
brasileiros, a partir de uma presuntiva origem germânica, revelada pela língua, pela cultura
e pelo modo de vida resultantes da experiência comum da imigração e colonização.
Por fim, no último capítulo estudou-se especificamente a relação das igrejas
protestantes e da igreja católica, especialmente as duas que primeiro foram instaladas na
colônia, a luterana e a batista, com suas influências no campo cultural e das representações
sociais presentes até nossos dias, no município de Panambi. A imagem de que a cidade é
voltada para o trabalho e ao progresso podem ser explicadas a partir de Max Weber.
Os mitos do trabalho e do progresso foram construídos como elementos que, de
alguma forma, compõem uma determinada realidade. Assim, em contraposição à noção de
mito como uma idéia falsa, há a categoria do mito na antropologia e na história das
religiões, em que a ênfase é deslocada para o papel de mediação entre o sagrado e o
profano, o tema privilegiado de que se ocupa e seu uso como elemento de coesão social.
A presença da Igreja Católica é minoritária desde o processo inicial de colonização
alemã até os dias atuais. Em razão disso, a maior parte da influência na cultura e na
sociedade local veio das religiões protestantes.
REFERÊNCIAS
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