UNIVERSIDADE DE CAXIAS DO SUL CENTRO DE CIÊNCIAS DA ... · 2015 . 2" " ÍSIS LAROQUE CORNELLI...

70
UNIVERSIDADE DE CAXIAS DO SUL CENTRO DE CIÊNCIAS DA COMUNICAÇÃO CURSO FOTOGRAFIA - TECNOLOGIA TRABALHO DE CONCLUSÃO II ÍSIS LAROQUE CORNELLI ENSAIOS CINEMATOGRÁFICOS Caxias do Sul 2015

Transcript of UNIVERSIDADE DE CAXIAS DO SUL CENTRO DE CIÊNCIAS DA ... · 2015 . 2" " ÍSIS LAROQUE CORNELLI...

Page 1: UNIVERSIDADE DE CAXIAS DO SUL CENTRO DE CIÊNCIAS DA ... · 2015 . 2" " ÍSIS LAROQUE CORNELLI ENSAIOS CINEMATOGRÁFICOS Trabalho de Conclusão – TCC do Curso ... Essa escolha foi

1    

UNIVERSIDADE DE CAXIAS DO SUL

CENTRO DE CIÊNCIAS DA COMUNICAÇÃO CURSO FOTOGRAFIA - TECNOLOGIA

TRABALHO DE CONCLUSÃO II

ÍSIS LAROQUE CORNELLI

ENSAIOS CINEMATOGRÁFICOS

Caxias do Sul 2015

Page 2: UNIVERSIDADE DE CAXIAS DO SUL CENTRO DE CIÊNCIAS DA ... · 2015 . 2" " ÍSIS LAROQUE CORNELLI ENSAIOS CINEMATOGRÁFICOS Trabalho de Conclusão – TCC do Curso ... Essa escolha foi

2    

ÍSIS LAROQUE CORNELLI

ENSAIOS CINEMATOGRÁFICOS

Trabalho de Conclusão – TCC do Curso Fotografia – Tecnologia da Universidade de Caxias do Sul – UCS, apresentado como requisito parcial para obtenção de Grau de Tecnólogo em Fotografia. Orientador Prof.ª. Ms. Myra Adam de Oliveira Gonçalves

Caxias do Sul 2015

 

Page 3: UNIVERSIDADE DE CAXIAS DO SUL CENTRO DE CIÊNCIAS DA ... · 2015 . 2" " ÍSIS LAROQUE CORNELLI ENSAIOS CINEMATOGRÁFICOS Trabalho de Conclusão – TCC do Curso ... Essa escolha foi

3    

ÍSIS LAROQUE CORNELLI

ENSAIOS CINEMATOGRÁFICOS  

Trabalho de Conclusão – TCC do Curso Fotografia – Tecnologia da Universidade de Caxias do Sul – UCS, apresentado como requisito parcial para obtenção de Grau de Tecnólogo em Fotografia. Orientador Prof.ª. Ms. Myra Adam de Oliveira Gonçalves Aprovado pela banca examinadora em ___ de julho de 2015.

Banca Examinadora

_________________________________________________________

Prof.ª. Ms. Myra Adam de Oliveira Gonçalves  

Universidade de Caxias do Sul - UCS  

_________________________________________________________

Prof. Me. Edson Luiz Corrêa  

Universidade de Caxias do Sul - UCS  

_________________________________________________________

Prof. Me. Ronei Teodoro da Silva  

Universidade de Caxias do Sul – UCS  

 

Page 4: UNIVERSIDADE DE CAXIAS DO SUL CENTRO DE CIÊNCIAS DA ... · 2015 . 2" " ÍSIS LAROQUE CORNELLI ENSAIOS CINEMATOGRÁFICOS Trabalho de Conclusão – TCC do Curso ... Essa escolha foi

4    

AGRADECIMENTOS   Agradeço primeiramente aos meus pais, Joel e Mauren, pelo apoio e

incentivo em todas as minhas escolhas, e por me preencherem de confiança e amor

incondicional.

Agradeço ao meu namorado e parceiro Leco, pelo amor e pela paciência.

Agradeço a todos os meus amigos e familiares que me ajudaram direta ou

indiretamente a concretizar esse projeto.

E agradeço a minha professora orientadora Myra, pela paciência, pelo

turbilhão de idéias e por me ajudar a organizá-las e colocá-las em prática.  

Page 5: UNIVERSIDADE DE CAXIAS DO SUL CENTRO DE CIÊNCIAS DA ... · 2015 . 2" " ÍSIS LAROQUE CORNELLI ENSAIOS CINEMATOGRÁFICOS Trabalho de Conclusão – TCC do Curso ... Essa escolha foi

5    

RESUMO  

O presente projeto tem como objetivo a produção de ensaios fotográficos a partir de

narrativas baseadas nas características de determinados gêneros e subgêneros

cinematográficos. Optamos por mostrar o trabalho imagético através de um fotolivro.

Acreditando que a fotografia e o cinema são duas formas belas e singulares de arte,

buscou-se um tema que conseguisse aproximar os dois assuntos e exercitasse a

capacidade de criação. Com o intuito de dar consistência ao projeto, buscamos

apoio teórico no método de Pesquisa em Arte e na teoria da Formatividade de Luigi

Pareyson, que nos propõe uma visão da arte que não busca somente o contemplar

e sim o criar. Passamos também pela redação de um diário de procedimentos, que

nos possibilitou um acompanhamento mais próximo da execução dos ensaios e nos

presenteou com uma forma mais intimista de perceber os processos de criação.

Palavras-chave: Fotografia. Cinema. Gêneros Cinematográficos. Narrativas.

Page 6: UNIVERSIDADE DE CAXIAS DO SUL CENTRO DE CIÊNCIAS DA ... · 2015 . 2" " ÍSIS LAROQUE CORNELLI ENSAIOS CINEMATOGRÁFICOS Trabalho de Conclusão – TCC do Curso ... Essa escolha foi

6    

ABSTRACT

This project aims to produce photo essays from narratives based on the

characteristics of certain cinematographic genres and subgenres. We chose to show

the imagery work through a photobook. Believing that photography and cinema are

two beautiful and unique art forms, we attempted to a topic that could bring the two

issues and exercise the ability to create. In order to give consistency to the project,

we seek theoretical support in the search method in art and in the theory of

formativity of Luigi Pareyson, it proposes a vision of art that seeks not only the look

but the create. We also went by writing a daily procedures, which enabled us closer

monitoring of the execution of the essays and presented us with a more intimate way

of perceiving the processes of creation.

Keywords: Photography. Cinema. Cinematographic Genres. Narrative.

Page 7: UNIVERSIDADE DE CAXIAS DO SUL CENTRO DE CIÊNCIAS DA ... · 2015 . 2" " ÍSIS LAROQUE CORNELLI ENSAIOS CINEMATOGRÁFICOS Trabalho de Conclusão – TCC do Curso ... Essa escolha foi

7    

SUMÁRIO 1 INTRODUÇÃO ............................................................................................. 8 2 CINEMA: CONTEXTUALIZAÇÃO E CLASSIFICAÇÃO .....................….. 11 2.1 GÊNEROS ......................…........................…........................…..........… 12

2.1.1 Noir ......................…........................…........................…......……….... 14 2.1.2 Surrealismo ......................…........................…................................... 16 2.1.3 Trash ......................…........................…........................….....………... 18 2.1.4 Drama ......................…........................…......................…......……….. 20 3 NARRATIVA: O PROCESSO DE CONSTRUÇÃO DO ROTEIRO …….... 25

4 FERRAMENTAS DE PESQUISA ………………………………………….... 31

4.1 METODOLOGIA ………………………………………………….………..... 31

4.2 TRATAMENTO DA CENA E DIÁRIO DE PROCEDIMENTOS …….…... 34

CONSIDERAÇÕES FINAIS ......................................................................... 67 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ............................................................ 69 REFERÊNCIAS FILMOGRÁFICAS.............................................................. 71  

Page 8: UNIVERSIDADE DE CAXIAS DO SUL CENTRO DE CIÊNCIAS DA ... · 2015 . 2" " ÍSIS LAROQUE CORNELLI ENSAIOS CINEMATOGRÁFICOS Trabalho de Conclusão – TCC do Curso ... Essa escolha foi

8    INTRODUÇÃO  

Dentro do universo cinematográfico, a fotografia sempre teve uma importante

parcela de cuidado e dedicação, pois ela foi de crucial importância para a invenção

do que hoje chamamos de a sétima arte. Como nos conta Kemp (2010), dos irmãos

Lumière no final do século XIX até o mais inovador cinema contemporâneo, muito

se foi explorado e muito se foi experimentado no universo da fotografia e do cinema.

Mesmo nos primórdios, no tempo em que os recursos tecnológicos para a

experimentação eram extremamente escassos, já se observava uma vontade de ir

além do convencional e explorar todas as possibilidades que essa grandiosa forma

de expressão artística proporcionava.  

Acreditando que é possível que uma fotografia conte uma história, tal qual o

cinema conta, e, como aspirante a fotógrafa e apreciadora dessa arte tão completa

que é o cinema, foi entendido que encontrar um tema que se aproximasse dos dois

assuntos era quase uma necessidade de escolha para o trabalho de conclusão de

curso.  

Tendo isto como justificativa, foi proposto como tema para este trabalho, a

produção de quatro ensaios que se enquadrem dentro de determinados gêneros e

subgêneros cinematográficos, usando como critério para escolha destes a afinidade

de estilo e aproximação no campo estético e narrativo.  

A apresentação do presente texto está ordenada em três capítulos. O

primeiro, chamado “Cinema: Contextualização e Classificação” nos traz uma breve

contextualização sobre a história do cinema e sua classificação de acordo com os

gêneros e subgêneros cinematográficos, que também são explicados no texto. O

segundo capítulo, intitulado “Narrativa: O Processo de Construção do Roteiro” é

uma passagem pelos elementos de narrativa dentro do cinema e a construção do

roteiro em todos os seus aspectos. O terceiro e último capítulo, sendo este

denominado “Ferramentas de Pesquisa”, nos fala sobre a metodologia utilizada,

passando pelo estudo teórico feito para a construção da imagem e a produção de

um diário de procedimentos, com objetivo de enriquecer o trabalho com todas as

fases do processocriativo antes de chegar a imagem final. Nessa etapa, busco

entender como são pensadas as narrativas para a grande tela, como é feita sua

Page 9: UNIVERSIDADE DE CAXIAS DO SUL CENTRO DE CIÊNCIAS DA ... · 2015 . 2" " ÍSIS LAROQUE CORNELLI ENSAIOS CINEMATOGRÁFICOS Trabalho de Conclusão – TCC do Curso ... Essa escolha foi

9    estruturação e sua classificação. Essa fase é um importante passo no processo de

criação imagético e não pode ser deixada de lado tendo em vista que nada pode ser

criado sem a pesquisa e o conhecimento prévio do que já se foi produzido na área,

e de como se foi produzido. É como nos diz Luigi Pareyson:

O artista a procura do próprio estilo o tenta formando: eis as primeiras

obras, em que o modo de formar não é ainda espiritualidade que se fez estilo, mas espiritualidade

que utiliza um estilo herdado ou imitado, e então existe uma certa clivagem entre a espiritualidade e

o modo de formar, pois a primeira é pobre e imatura e precisa de se definir melhor e esclarecer para

poder aspirar a uma vocação formal, e nesse meio tempo se exercita em um estilo acolhido de fora,

até o momento em que, tendo se esclarecido no próprio caráter, irá buscar o seu próprio estilo e,

melhor dizendo, os processos irão pari passu, em que a espiritualidade se esclarece a si mesma e

em que ela define e realiza a própria vocação formal. (PAREYSON; LUIGI, 1993, p. 45)  

Este projeto visa reunir, em três fotografias por ensaio, algumas das

características cinematográficas de enquadramento, construção de cena, estética e

narrativa que cada gênero ou subgênero apresenta, passando pelas etapas de:  

a) Construção do tratamento inicial para a criação da fotografia, feito com a

ajuda da pesquisa filmográfica dentro do gênero ou subgênero cinematográfico

selecionado, construindo um tratamento curto que conte toda a ideia da história,

passando por um começo, meio e fim;  

b) Elaboração do esboço do que foi o esquema de iluminação, feito através

de desenhos que são elaborados a mão;  

c) Construção dos cenários e figurinos, que são separados anteriormente

com todos os elementos de cena, a escolha dos modelos e das locações utilizadas

nas fotografias;  

d) Escolha da iluminação adequada, também tentando se enquadrar dentro

das características visuais de estética e iluminação que cada gênero ou subgênero

apresenta;  

e) E por fim, o click em si.  

Como forma de apresentar o trabalho optou-se pela produção de um fotolivro.

Essa escolha foi feita por tratar-se de ser um bom meio de apresentação das

Page 10: UNIVERSIDADE DE CAXIAS DO SUL CENTRO DE CIÊNCIAS DA ... · 2015 . 2" " ÍSIS LAROQUE CORNELLI ENSAIOS CINEMATOGRÁFICOS Trabalho de Conclusão – TCC do Curso ... Essa escolha foi

10    imagens finalizadas, que precisam vir precedidas do texto narrativo feito na etapa de

tratamento. No fotolivro são expostos os ensaios, cada um com três fotografias,

buscando dar essa ideia de mobilidade, de início-meio-fim que o cinema traz.

Anterior as fotografias, apresento no fotolivro o tratamento criado para cada um dos

quatro ensaios, também de acordo com o gênero ou subgênero cinematográfico

proposto.  

Desejamos que o trabalho produzido possa de alguma forma contribuir para

as áreas da fotografia e do cinema, reafirmando a importância de revisitar as obras

clássicas para dar nova roupagem ao que já foi feito na história, e usando a

fotografia como ferramenta, possibilitando a criação de trabalhos contemporâneos

com características que remetem (e de certa forma homenageiam) os precursores

do que hoje é a arte que tanto nos toca e emociona, o cinema.  

Page 11: UNIVERSIDADE DE CAXIAS DO SUL CENTRO DE CIÊNCIAS DA ... · 2015 . 2" " ÍSIS LAROQUE CORNELLI ENSAIOS CINEMATOGRÁFICOS Trabalho de Conclusão – TCC do Curso ... Essa escolha foi

11    

2 CINEMA: CONTEXTUALIZAÇÃO E CLASSIFICAÇÃO  

Para produzirmos uma obra fotográfica com características e linguagem

cinematográfica é preciso, primeiramente, estudarmos a origem do cinema.

Como nos conta Kemp (2010), em 1880 muito se havia experimentado com a

imagem fotográfica visando a reprodução da imagem em movimento. Por todo

mundo havia máquinas que tiravam fotografia em sequência que, ao serem

expostas rapidamente davam a impressão de movimento. Foi em 1894, que os

irmãos Auguste e Louis Lumière, filhos de Antoine Lumière (fotógrafo e fabricante

de películas fotográficas) criaram o primeiro modelo experimental do cinematógrafo.

Inspirados pelo kinetoscópio de Thomas Edison e William Dickinson, o

cinematógrafo era, ao mesmo tempo, uma máquina de filmar e um projetor de

cinema.  

Figura 1:Cinematógrafo  

Fonte:Wikipédia

No dia 22 de março de 1895, os irmãos Louis e Auguste projetaram o

primeiro filme exibido: “A saída dos operários da Fábrica Lumière”, para os

integrantes da Societe d ́Encourgement pour l ́Industrie Nationale. Em seguida, no

Page 12: UNIVERSIDADE DE CAXIAS DO SUL CENTRO DE CIÊNCIAS DA ... · 2015 . 2" " ÍSIS LAROQUE CORNELLI ENSAIOS CINEMATOGRÁFICOS Trabalho de Conclusão – TCC do Curso ... Essa escolha foi

12    dia 28 de dezembro do mesmo ano, teria sido feita a primeira exibição de filme para

um público pagante de todos os tempos.

Daí em diante, sua disseminação para o grande público se deu muito

rapidamente: em menos de 20 anos, filmes podiam ser assistidos por diferentes

plateias ao redor do mundo. Foi no século XX que os filmes pararam de exibir

somente cenas cotidianas de poucos segundos para, enfim, apresentarem

narrativas identificáveis. Ainda segundo Kemp:  

As técnicas cinematográficas se tornaram mais complexas e as estruturas

narrativas, cada vez mais sofisticadas, porém o fundamento criativo do cinema – reinventar e reinterpretar a realidade – permaneceu uma constante desde seus primórdios. (KEMP; PHILLIP, 2010, p. 19)  

2.1 GÊNEROS  

Assim como a popularização do cinema, o aparecimento dos primeiros

gêneros também se deu de forma rápida. Bergan (2010) nos conta que apenas

alguns meses após a exibição dos irmãos Lumière, surgia Georges Méliès (1861-

1938) com seus filmes de fantasia, ficção científica e terror. Méilès, que era

ilusionista, caricaturista, inventor e mecânico, desenvolveu alguns dos famosos

truques da fotografia aplicada ao cinema, tais quais podemos citar a sobreposição, a

exposição múltipla, os fundos pintados, a transição de imagens (fade) e a animação

quadro a quadro (stop motion).

Page 13: UNIVERSIDADE DE CAXIAS DO SUL CENTRO DE CIÊNCIAS DA ... · 2015 . 2" " ÍSIS LAROQUE CORNELLI ENSAIOS CINEMATOGRÁFICOS Trabalho de Conclusão – TCC do Curso ... Essa escolha foi

13    

Figura 2:Cena do Filme de GeorgesMéliès “Viagem a Lua” (1902)  

Fonte: Youtube

Na sequência, apareceriam os documentários, a comédia, o drama de época,

os romances, filmes de guerra, filmes de ação, drama psicológico, a farsa e os

épicos da antiguidade. Segundo Kemp, até 1910 a maioria dos gêneros que hoje

reconhecemos já havia, de forma primitiva, se estabelecido.  

Nos dias de hoje, o cinema nos apresenta uma infinidade de gêneros e

subgêneros, ficando cada vez mais difícil fazer a classificação somente em

determinado grupo. Luís Nogueira nos fala que:

Estando a delimitação e a caracterização dos gêneros sujeitas à constante

mutação e hibridação dos mesmos, tornasse difícil atingir um consenso definitivo sobre os critérios e as fronteiras que permitem identificar e balizar cada gênero. No entanto, podemos afirmar, resumidamente, que um gênero cinematográfico é uma categoria ou tipo de filmes que congrega e descreve obras a partir de marcas de afinidade de diversa ordem, entre as quais as mais determinantes tendem a ser as narrativas ou as temáticas. (NOGUEIRA, LUIS; 2010, p. 3)  

Com isto em mente, a escolha dos gêneros para a produção do trabalho final

se deu por afinidade, tanto em termos de narrativa quanto em termos de

cinematografia técnicos, como luz e enquadramentos e fotografia.

A seguir, discorro brevemente separadamente sobre cada um dos gêneros

escolhidos para esse trabalho: Noir, Surrealismo, Trash e Drama; e exemplifico

cadaum através de um ou mais filmes, por perceber que as referências

cinematográficas se tornaram fundamentais para a execução do trabalho prático.

Page 14: UNIVERSIDADE DE CAXIAS DO SUL CENTRO DE CIÊNCIAS DA ... · 2015 . 2" " ÍSIS LAROQUE CORNELLI ENSAIOS CINEMATOGRÁFICOS Trabalho de Conclusão – TCC do Curso ... Essa escolha foi

14    2.1.1 Cinema Noir  

Definir o que é o cinema Noir sempre foi um problema. Existe uma dúvida

sobre o que ele é ao certo. Pode ser um gênero, um estilo, uma aparência, ou todos

esses aspectos combinados. O certo é que identificamos facilmente características

que são comuns a maioria deles, densos filmes de crime, filmados em preto e

branco. A nomenclatura só veio muito tempo depois, sendo uma criação histórica

dos críticos Franceses, que definiam o gênero Noir como, para eles, um reflexo da

ansiedade e do cinismo pós-guerra (BERGAN, 2010).  

Phillip Kemp explica que:

Essa tendência (de filmes americanos exibidos em massa na França após

a ocupação alemã durante a Segunda Guerra Mundial) foi batizada numa referência a uma famosa publicação policial conhecia como Série noire. O termo foi cunhado para se referir ao submundo sombrio e triste do crime e da corrupção. O critico francês Nino Frank1foi o primeiro a usar o termo em 1946. Fora da França, contudo, a expressão “filme Noir” só se tornou popular na década de 1960. (KEMP, PHILLIP; 2010, p. 168)  

Surgem dúvidas quanto ao ano de surgimento desse gênero, mas sabemos

que o período clássico do cinema noir hollywoodiano coincide com os anos da

Segunda Guerra Mundial e ao pós-guerra. Suas origens estéticas derivam, em

parte, dos ângulos, as fortes sombras e ao mundo paranoico do Expressionismo

Alemão2 da década de 1920. Outra referência direta para as atmosferas e a

cenografia do cinema noir vem da literatura, do clássico romance policial americano.

Existem, como em todo aspecto do cinema Noir, algumas discordâncias

sobre qual filme deu início a esse ciclo de produções, porém o filme mais defendido

como sendo o precursor desse gênero é “O Falcão Maltes” (1941) de John Huston.

A trama segue, como na maioria dos filmes da obra do diretor, em torno de um

grupo de pessoas em busca do mesmo objetivo, que nesse filme especificamente

seria uma estatueta de falcão. Durante a trama identificamos personagens comuns  

_____________________ 1Nino Frank (1904 – 1988) foi um famoso crítico francês, autor de diversos ensaios sobre cinema e literatura. 2Os filmes do Expressionismo Alemão eram caracterizados pelo uso de sombras exageradas, iluminação de alto contraste e ângulos de câmera oblíquos, buscando traduzir o alterado estado psicológico de seus personagens. Os filmes estilizados desse movimento influenciaram o cinema Noir e os clássicos do Terror.  

Page 15: UNIVERSIDADE DE CAXIAS DO SUL CENTRO DE CIÊNCIAS DA ... · 2015 . 2" " ÍSIS LAROQUE CORNELLI ENSAIOS CINEMATOGRÁFICOS Trabalho de Conclusão – TCC do Curso ... Essa escolha foi

15    a maioria dos filmes Noir, como o investigador, interpretado por Humphrey Bogart; a femme fattale sedutora, interpretada por Mary Astor; e o maquiavélico vilão, interpretado por Kasper Gutman.  

Figura 3:Cena do filme “O Falcão Maltes” da esquerda para direita vemos: Humphrey Bogart, Peter Lorre, Mary Astor e Sydney Greenstreet.  

 Fonte DVD “O Falcão Maltes”

Outra obra que remetemos as origens do cinema Noir é o filme “Pacto de

Sangue” (1944) de Billy Wilder, onde podemos notar um dos recursos que seriam

recorrentes nesse estilo, a narração em off em primeira pessoa. A trama que

começa na luxuria e vai caminhando em direção ao assassinato, fala de um corretor

de seguros, interpretado por Fred MacMurray, que é envolvido em um plano para

assassinar o marido de uma femme fatale, interpretada por Barbara Stanwyck. Na

cena a seguir, vemos o momento em que Fred MacMurray e Barbara Stanwick (Neff

e Phyllis) se encontram para planejar o assassinato, em um supermercado que faz

clara referência a cultura burguesa do consumismo e ao Sonho Americano.

(BERGAN, 2010)  

Page 16: UNIVERSIDADE DE CAXIAS DO SUL CENTRO DE CIÊNCIAS DA ... · 2015 . 2" " ÍSIS LAROQUE CORNELLI ENSAIOS CINEMATOGRÁFICOS Trabalho de Conclusão – TCC do Curso ... Essa escolha foi

16    

Figura 4:Cena do filme "Pacto de Sangue", de Billy Wilder  

Fonte: DVD “Pacto de Sangue”  

2.1.2 Surrealismo  

Segundo Costa (2003), o surrealismo nasceu com a literatura, com seu

precursor sendo o escritor francês André Breton (1896 – 1966) que via o cinema

como uma maneira de liberar o subconsciente e escreveu, em 1924, o Manifesto

Surrealista. O cinema surrealista se caracteriza pela utilização de recursos

experimentais da fotografia, como a superposição de diversas imagens, tudo para

corroborar com essa atmosfera perturbadora e irreal, característica do gênero.

O primeiro filme do estilo foi “Entreato” (1924), do cineasta Rene Clair3 (1898

– 1981), que na verdade pretendia fazer um ataque a Breton. O filme, que ao fim foi

considerado precursor do surrealismo, contava com participações do Man Ray e de

Marcel Duchamp4.  

_____________________ 3Rene Clair (1998 – 1981) foi um grande cineasta e escritor francês, considerado um mestre do

cinema e um dos precursores do cinema falado e dos filmes de autoria.  4Marcel Duchamp (1887 – 1968) foi um pintor, escultor e poeta francês, que introduziu a ideia de

ready made (elemento comum a vida cotidiana trazido para a arte) como objeto de arte.  

Page 17: UNIVERSIDADE DE CAXIAS DO SUL CENTRO DE CIÊNCIAS DA ... · 2015 . 2" " ÍSIS LAROQUE CORNELLI ENSAIOS CINEMATOGRÁFICOS Trabalho de Conclusão – TCC do Curso ... Essa escolha foi

17    

Em 1929, veio o aclamado “Um Cão Andaluz” dirigido por Luis Buñuel e que

teve participações no roteiro de Salvador Dali. A película é uma sequência de

imagens subversivas, sem sentido ou ligação entre elas. O filme ajudou ambos a

serem aceitos na sociedade como surrealistas.  

A cena mais clássica do filme, aparece logo na abertura. Um homem separa

as pálpebras de uma mulher, que tem expressão calma olhando para a câmera. Em

seguida, pega uma navalha e corta o seu globo ocular.  

   Figura 5:Cena do filme "Um Cão Andaluz"

F  Fonte: Youtube  

2.1.3 Trash

A estética chamada de trash pode se aplicar a vários gêneros

cinematográficos, porém, é mais comumente utilizada em filmes de terror e de

ficção científica, sendo considerada assim um subgênero. Filmes com essa estética

são caracterizados pela presença constante do humor negro em suas narrativas,

que não apresentam roteiros brilhantes nem elenco de estrelas. Na verdade, suas

produções são em grande maioria de baixo custo, apresentando um visual (que na

maioria das vezes é feito propositalmente) que seria considerado tecnicamente mal

feito.

Page 18: UNIVERSIDADE DE CAXIAS DO SUL CENTRO DE CIÊNCIAS DA ... · 2015 . 2" " ÍSIS LAROQUE CORNELLI ENSAIOS CINEMATOGRÁFICOS Trabalho de Conclusão – TCC do Curso ... Essa escolha foi

18    

Castellano, nos diz que:  

Autores como Sconce (1995, 2007) e Jancovich (2002) defendem o

consumo de filmes trash como uma subcultura cinematográfica, que, assim como as definições clássicas de subcultura, comporta, de diferentes formas e intensidades, subjetivos conceitos como autenticidade, diferença, resistência, transgressão etc. (CASTELLANO, MAYKA; 2011, p. 123)  

No senso comum, esses filmes são frequentemente caracterizados como

“horríveis”, “bizarros” e “assustadores”, e é justamente essa repulsa que o

públicomainstream tem para com eles, o elemento chave para que um determinado

filme do gênero seja cultuado ou não.

Figura 6:Cena do filme “Trash – Náusea Total” de Peter Jackson, 1987  

Fonte: Youtube

Os filmes com estética trash se enquadram muitas vezes também nos

chamados filmes Cult. Bergan define o cinema Cult como:  

(...) qualquer filme que, independentemente de sua qualidade intrínseca

artística, conquista a devoção de um grupo de fãs. Em geral, obras cult são anticonvencionais, as vezes cafonas e ultrajantes, com personagens unidimensionais e enredos extravagantes. (...) O Cult passeia por todos os gêneros, com mais recorrência no terror e na ficção científica. (BERGAN, RONALD; 2011, p. 145)  

Page 19: UNIVERSIDADE DE CAXIAS DO SUL CENTRO DE CIÊNCIAS DA ... · 2015 . 2" " ÍSIS LAROQUE CORNELLI ENSAIOS CINEMATOGRÁFICOS Trabalho de Conclusão – TCC do Curso ... Essa escolha foi

19    

Muitos diretores que eram considerados ruins, ganharam reconhecimento

dentro desse subgênero. É o caso de Ed Wood Jr. Ed Wood (1924 – 1978) que

segundo Bergan “(…) ganhou status de ídolo, por exemplo, por ser considerado o

pior cineasta de todos os tempos.” (BERGAN, 2011, p. 132). Ed Wood produzia,

dirigia e atuava em seus filmes e, sem medo de ser ridicularizado, produzia filmes

de terror e ficção científica com baixíssimos recursos técnicos e orçamentários. O

diretor ganhou status de ídolo dentro da audiência do cinema trash e cult, com

produções como “Plano 9 do Espaço Sideral” que em 1959, na época de seu

lançamento, chegou a ser considerado o pior filme já feito.  

“Plano 9 do Espaço Sideral” conta a história de uma dupla de alienígenas que

pretendem criar um exército de zumbis para conquistar as capitais do mundo.

 Figura 7: Cena do Filme “Plano 9 do Espaço Sideral”

 Fonte: Youtube   2.1.4 Drama  

O gênero dramático está entre os gêneros clássicos, sendo entre esses, um

dos precursores e mais utilizados na história do cinema. O objeto do gênero drama

Page 20: UNIVERSIDADE DE CAXIAS DO SUL CENTRO DE CIÊNCIAS DA ... · 2015 . 2" " ÍSIS LAROQUE CORNELLI ENSAIOS CINEMATOGRÁFICOS Trabalho de Conclusão – TCC do Curso ... Essa escolha foi

20    é o ser humano e tudo que o envolve, seus conflitos interpessoais, relações

humanas, relações afetivas, traumas, vivencias e medos.

A origem da palavra drama vem do grego, que tem o significado de ação.

Para definirmos o que é ao certo o drama, precisamos ir muito além do cinema e

buscarmos a definição do dicionário. Segundo o Dicionário Michaelis UOL,

definimos drama como:  

Dra.ma sm (gr dráma) 1 Peça teatral. 2 Gênero de composição teatral, que

ocupa o meio-termo entre a tragédia e a comédia, quando não participa de ambas. 3 Peça literária para ser representada. 4 Acontecimento comovente. 5 Desastre, desgraça, catástrofe. 6 Crime. D. épico: drama episódico moderno que visa a estabelecer o entendimento objetivo de um problema social mediante uma sequência de cenas livremente ligadas, que evitam ilusões, e mediante a interposição de discursos diretos ao auditório com análises ou argumentos (por um narrador, p ex), ou mediante documentação (com um filme, p ex). D. histórico: o que tem assunto extraído da História. D. lírico: ópera ou composição dramática entremeada de música. D. musical: nome dado, desde Wagner, às óperas que fundem, em um todo orgânico, música, diálogo e representação cênica. D. sacro: drama religioso ou moral, inspirado em episódios ou personagens bíblicos ou, então, na vida dos santos. D. sentimental: melodrama. (MICHAELIS; 2012, p. 87)  

O cinema, como muitas outras artes, se utilizou dessa classificação para

definir o estilo cinematográfico onde o foco da narrativa são os problemas cotidianos

do personagem principal, podendo ir mais ou menos afundo nas questões

psicológicas dos personagens. Nogueira (2010) nos fala que o gênero dramático é

um dos territórios cinematográficos mais vastos de possibilidades, e muitas vezes

difícil de definir. Dentro dele, cabem as mais variadas obras e o cruzamento de

diversos estilos, ao passo que, independentemente de gênero, é quase impossível

um filme não possuir nenhuma característica dramática.

Ainda citando Nogueira (2010), podemos dividir o gênero dramático em

diversos subgêneros, os agrupando a partir de seu grupo temático. São eles:  

a) O Drama social, onde os personagens são expostos a situações em que

confrontam o mundo como lhes é imposto, apresentando dificuldade para

encontrarem um lugar nele;  

b) O Drama bélico, em que o personagem é colocado em situações de

extrema violência (como guerra, morte, inimigos), onde é constantemente

questionado sobre sua essência;  

Page 21: UNIVERSIDADE DE CAXIAS DO SUL CENTRO DE CIÊNCIAS DA ... · 2015 . 2" " ÍSIS LAROQUE CORNELLI ENSAIOS CINEMATOGRÁFICOS Trabalho de Conclusão – TCC do Curso ... Essa escolha foi

21    

c) O Drama psicológico, que propõe um constante confrontamento do

personagem consigo mesmo, com suas convicções, fraquezas, medos e incertezas,

sendo uma jornada de reconhecimento íntimo;  

d) O Drama romântico, que focaliza as relações afetivas de maior intimidade

e cumplicidade entre os personagens, muitas vezes é o subgênero que mais prende

a atenção dos espectadores por apresentar as compulsões, dificuldades e

incompatibilidade das relações;  

e) O Drama familiar, que é outro subgênero recorrente no drama, podendo

tratar das mais diversas situações familiares, passando pelas disfuncionalidades, o

conflito de gerações e o preconceito moral;  

e) O Drama político, onde vemos conflitos que visam promover ou questionar

certos paradigmas ou valores políticos atuais, relatando épocas e acontecimentos

decisivos na história;  

f) O Biopic, que é o retrato ficcionado de determinada personalidade de

importância na sociedade, muitas vezes expondo suas fragilidades e defeitos. Vai

de políticos a artistas, sendo diversos os alvos de atenção dos cineastas.  

Um dos mais clássicos filmes do drama americano é o cultuado “Taxi Driver”

(1976), do diretor norte-americano Martin Scorsese. “Taxi Driver” foi um dos oito

filmes da bem-sucedida parceria entre diretor e ator que Scorsese e Robert De Niro

fizeram entre os anos de 1973 e 1982.

A trama fala de um atormentado veterano do Vietnã, Travis Bickle (Robert De

Niro), que vira motorista de táxi nas ruas da cidade de Nova York, cujos objetivos

vão do assassinato de um políticoaté a salvação de uma prostituta menor de idade

(Jodie Foster).

Page 22: UNIVERSIDADE DE CAXIAS DO SUL CENTRO DE CIÊNCIAS DA ... · 2015 . 2" " ÍSIS LAROQUE CORNELLI ENSAIOS CINEMATOGRÁFICOS Trabalho de Conclusão – TCC do Curso ... Essa escolha foi

22    Figura 8:Cena clássica do filme “Taxi Driver”, onde Travis conduz uma conversa imaginaria diante do espelho, planejando o assassinato de um político local  

Fonte: DVD "Taxi Driver"

Falando dos dias de hoje, dos ótimos filmes de drama recentemente

lançados, destaco o drama romântico “Ela” (2014), do diretor norte-americano Spike

Jonze. O diretor Jonze tem uma carreira recente no cinema, tendo começado

dirigindo videoclipes musicais até chegar a alcançar trabalhos mais importantes

como os filmes Adaptação (2002) e Quero Ser John Malkovich (1999). O filme “Ela”

se passa em uma sociedade um pouco mais evoluída tecnologicamente que a atual,

e gira em torno de um solitário escritor chamado Theodore, que acaba se

envolvendo em um relacionamento amoroso com seu sistema operacional.  

Page 23: UNIVERSIDADE DE CAXIAS DO SUL CENTRO DE CIÊNCIAS DA ... · 2015 . 2" " ÍSIS LAROQUE CORNELLI ENSAIOS CINEMATOGRÁFICOS Trabalho de Conclusão – TCC do Curso ... Essa escolha foi

23    

Figura 9:Cena do filme “Ela”, em que Theodore se diverte junto ao seu sistema operacional  

Fonte: DVD "Ela"

Page 24: UNIVERSIDADE DE CAXIAS DO SUL CENTRO DE CIÊNCIAS DA ... · 2015 . 2" " ÍSIS LAROQUE CORNELLI ENSAIOS CINEMATOGRÁFICOS Trabalho de Conclusão – TCC do Curso ... Essa escolha foi

24    

3 CINEMA: O PROCESSO DE CONSTRUÇÃO DO ROTEIRO

Como no cinema tudo é feito com muita preparação, planejamento prévio e

principalmente uma boa ideia inicial para o roteiro, foi proposto para o presente

trabalho um o processo de criação imagética com uma fase anterior ao da execução

da imagem em si, o processo de criação de uma narrativa, como o do cinema, para

a fotografia.

Segundo Costa, o roteiro envolve não só a ideia principal do filme, como

também:  

(…) constitui o ponto de referência para o preparo de todas as ações

técnico organizativas da realização. (...) Ele deve ter qualidades expressivas ou dramáticas enquanto contém os diálogos que os atores terão de dizer; além disso, tais qualidades devem ser funcionais para a compreensão de todos os aspectos psicológicos, estéticos, etc. por parte de todos aqueles (dos atores aos técnicos) que podem contribuir para o sucesso da obra. (COSTA, ANTONIO; 2003, p. 166)  

A ideia do trabalho prático não consiste na criação de um roteiro, mas sim na

construção de uma narrativa que passe pelas fases anteriores e que nos levam até

o roteiro, que segundo Costa (2003) podem ser compostas por: a) Argumento; b)

Tratamento; c) Pré-roteiro.  

a) O Argumento pode ser constituído de um texto do próprio autor ou por uma

obra literária e teatral já existente. Nessa fase o texto é feito na forma coloquial e

literária, não havendo indicações técnicas ou de ambientação.  

b) O Tratamento é o texto onde as pistas narrativas do argumento são

aprofundadas e desenvolvidas. Ainda é feita na forma literária de narrativa, mas

adquire na narração uma caracterização mais definida para a articulação das cenas.

Já se veem definidos a cidade e os locais da ação, assim como a definição das

situações apresentadas.  

c) O Pré-roteiro representa a parte do projeto onde se dá a descrição das

cenas com a indicação sumária do que acontece. Com esses conceitos,

construiremos uma narrativa para cada ensaio que se enquadre ora como

Argumento, ora como Tratamento, ora como Pré-roteiro.  

Page 25: UNIVERSIDADE DE CAXIAS DO SUL CENTRO DE CIÊNCIAS DA ... · 2015 . 2" " ÍSIS LAROQUE CORNELLI ENSAIOS CINEMATOGRÁFICOS Trabalho de Conclusão – TCC do Curso ... Essa escolha foi

25    

Para definirmos agora, o conceito de narrativa, buscamos o que Nogueira

nos diz em seu Laboratório de Guionismo (2010), onde ele explica que a palavra

significa etimologicamente conhecer ou dar a conhecer, e a entendemos como o

conjunto formado essencialmente pela história e pelo enredo, ao qual poderá se

juntar a própria narração. Segundo Nogueira:  

Ela (a narrativa) é uma das formas fundamentais de conhecimento da

realidade humana (de dar a conhecer e de tomar conhecimento, como vimos anteriormente), isto é, de tornar a existência inteligível. É a condição praxeológica da humanidade – o conjunto de agentes e eventos, com as suas causas e efeitos, propósitos e consequências, motivações e intenções – que dá forma ao devir humano e é este que se torna o objecto da narrativa. (NOGUEIRA, LUIS; 2010, p. 64)  

A narrativa procura buscar o jeito mais entusiasmante e envolvente de contar

uma história, sendo uma boa estrutura uma característica fundamental para que ela

possa ser melhor sucedida. As histórias apresentadas precisam ter uma relação

clara entre si, e a sequência de ações precisa fazer sentido no andamento da

história.

Assim como os gêneros, a narrativa pode ser dividida em diversas

categorias, lembrando sempre que elas podem coexistir em um determinado roteiro.

Nogueira (2010) faz uma separação que é calcada muitas vezes em designações já

convencionalmente adaptadas, e em outras vezes, é feita pela apropriação de

metáforas utilizadas para melhor compreender a configuração da narrativa.

Podemos citar os seguintes tipos de enredo:

a) Enredo principal: é aquele que normalmente nos referimos ao contar uma

história, centra-se no conflito principal da história, seu desenvolvimento e sua

conclusão. A sua manifestação mínima compreende a sinopse da história.  

b) Enredo secundário: é constituído de pequenas narrativas que se integram

e se desenvolvem simultaneamente ao enredo principal, servindo constantemente

para dar consistência e contexto a trama principal.  

c) Enredo mosaico: nesse tipo de enredo, não é apresentado uma linha

central narrativa, mas sim diversas histórias independentes que acabam por se

cruzar em determinado momento. Não existe somente um protagonista, uma vez

Page 26: UNIVERSIDADE DE CAXIAS DO SUL CENTRO DE CIÊNCIAS DA ... · 2015 . 2" " ÍSIS LAROQUE CORNELLI ENSAIOS CINEMATOGRÁFICOS Trabalho de Conclusão – TCC do Curso ... Essa escolha foi

26    que todos os personagens assumem uma relevância narrativa equivalente.

Podemos citar como exemplo dessa narrativa o filme vencedor do Oscar de 2006 de

melhor filme Crash dirigido por Paul Haggis.  

Figura 10:Cena do filme "Crash"  

Fonte: DVD "Crash"

d) Enredo temático: é quando se contam duas ou mais histórias,

desenroladas paralela ou sucessivamente sem pertencerem ao mesmo universo,

mas apresentando alguma espécie de semelhança.  

e) Enredo em forma de demanda: nesse tipo de enredo é narrada a trajetória

de determinado personagem em busca de algum objeto ou objetivo, podendo ser

apresentado de forma real ou simbólica. É originalmente característico das

narrativas mitológicas, sendo possível contemporâneas.  

f) Enredo puzzle: é o tipo de enredo que é apresentado na forma de um

desafio intelectual que é muitas vezes insolúvel, permanecendo até a mercê da

própria lógica. Trata-se de uma espécie de jogo onde, mais do que o conteúdo da

narrativa, importa mais o próprio processo narrativo e sua desconstrução.  

g) Enredo de mistério: nesse enredo podemos identificar uma inversão das

premissas estruturais no relato da história, ou seja, a narrativa se constrói partindo

Page 27: UNIVERSIDADE DE CAXIAS DO SUL CENTRO DE CIÊNCIAS DA ... · 2015 . 2" " ÍSIS LAROQUE CORNELLI ENSAIOS CINEMATOGRÁFICOS Trabalho de Conclusão – TCC do Curso ... Essa escolha foi

27    de um determinado efeito para ir de encontro com a sua causa correspondente, e

não o contrário como normalmente é feito. A curiosidade do espectador é

constantemente desafiada e estimulada, como é o caso do filme À Beira do Abismo

(1946), de Howard Hanks.  

Figura 11:Cena do filme "À Beira do Abismo" (1946), de Howard Hanks

 Fonte: DVD “À Beira do Abismo"

h) Enredo minimal: é caracterizado pela redução ao mínimo necessário do

número de elementos da história como, personagens, ações, cenários ou durações.

É uma modalidade narrativa que se contrapõe as convenções comuns, baseada na

complexidade narrativa ou na espetacularidade das ações.  

i) Narrativa épica: é o extremo oposto da narrativa minimal, aqui, todos os

elementos ganham a característica da grandiosidade, seja dos personagens,

acontecimentos ou até dos próprios cenários. Busca-se enaltecer o heroísmo dos

personagens, conduzindo a história para um desfecho de êxtase e superação.  

j) Enredo documental: é o enredo que procura evidenciar as características

realistas de uma história, partindo de dois valores fundamentais da narrativa: a

verossimilhança e a veracidade.  

k) Enredo mashup: é caracterizado pelo cruzamento, justaposição ou

sobreposição que faz de elementos originalmente heterogêneos. Esse cruzamento

pode suceder ao nível dos materiais ou dos personagens.  

Page 28: UNIVERSIDADE DE CAXIAS DO SUL CENTRO DE CIÊNCIAS DA ... · 2015 . 2" " ÍSIS LAROQUE CORNELLI ENSAIOS CINEMATOGRÁFICOS Trabalho de Conclusão – TCC do Curso ... Essa escolha foi

28    

l) Filmeensaio: se caracteriza por submeter uma eventual história a uma

reflexão temática ou uma experimentação estilística. O mais importante nesse tipo

de narrativa não é a história em si, mas sim a construção do discurso a cerca de um

determinado tema ou fenômeno.  

m) Filmemanifesto: é o enredo que é claramente marcado por uma

mensagem explicita, podendo ela ser de teor mais ético, estético, político ou

filosófico. Podemos perceber que existe sempre um conjunto de intenções muito

claro que o filme deve cumprir.  

n) Enredo retrato: é o tipo de enredo que tende a privilegiar a caracterização

do personagem em detrimento ao da ação, é aquilo que usualmente se designa por

filme de personagem. É uma espécie de perfil ou biografia de um determinado

personagem. Como exemplo podemos citar o filme do diretor Anton Corbijn

“Control” (2007), que narra a vida e a morte de Ian Curtis, vocalista da banda

inglesa de póspunk Joy Division.  

Figura 12:Cena do filme "Control" (2007), de Anton Corbijn

 Fonte:DVD "Control"

Page 29: UNIVERSIDADE DE CAXIAS DO SUL CENTRO DE CIÊNCIAS DA ... · 2015 . 2" " ÍSIS LAROQUE CORNELLI ENSAIOS CINEMATOGRÁFICOS Trabalho de Conclusão – TCC do Curso ... Essa escolha foi

29    4 FERRAMENTAS DE PESQUISA  

4.1 METODOLOGIA  

Entendendo o cinema e a fotografia como arte, e na busca de um método

científico para estruturar a presente pesquisa e transformá-la posteriormente em

outra obra, me utilizo do método de Pesquisa em arte para dar sustentação teórica

ao trabalho prático apresentado posteriormente.  

Zamboni (1998), nos fala que a pesquisa dentro da arte está longe de ser

compreendida como uma fórmula matemática exata, sem variáveis. Muitas vezes,

pode até mesmo ser baseada somente em princípios intuitivos, diferentemente da

pesquisa científica. Porém, para dar sustentação ao trabalho, é de extrema

importância entender que as pesquisas científica e artística não estão tão distantes

uma da outra, só é preciso saber balanceá-las.  

O método de Pesquisa em Arte apresenta uma forma de análise que pode

ser ordenada e lógica, visando facilitar as diversas interpretações que o resultado

final pode conceber. Dentro da lógica desse método em relação aos resultados

obtidos, posso entender também, que o resultado final não deverá ser de uma

interpretação única e universal, sendo, como toda obra artística, passível de

diferentes leituras.  

A interpretação dos resultados da pesquisa em arte não converge para a

univocidade, mas para a multivocidade, uma vez que cada interlocutor deverá fazer a sua interpretação pessoal e proceder a uma leitura subjetiva para analisar o resultado da pesquisa contido na própria obra de arte. (ZAMBONI, SILVIO; 1998, p. 58)  

Busca-se também, visando a compreensão do projeto prático que será

apresentado ao final desse estudo, apoio na teoria da formatividade de Luigi

Pareyson. Luigi nos propõe em seu estudo, uma visão da arte que não busca

somente o contemplar, e sim o fazer, trazendo a intervenção do homem e de sua

“espiritualidade” como crucial não só para o resultado final, bem como para todo o

processo de criação e desenvolvimento da arte.  A obra de arte tem como conteúdo a pessoa do artista, não no sentido de

tomá-la como seu objeto próprio, fazendo dela o seu “tema” ou assunto ou argumento, mas no sentido de que o “modo” como esta foi formada é o modo próprio de quem tem aquela determinada e

Page 30: UNIVERSIDADE DE CAXIAS DO SUL CENTRO DE CIÊNCIAS DA ... · 2015 . 2" " ÍSIS LAROQUE CORNELLI ENSAIOS CINEMATOGRÁFICOS Trabalho de Conclusão – TCC do Curso ... Essa escolha foi

30    irrepetível espiritualidade: entre a espiritualidade do artista e seu modo de formar existe um vínculo tão estreito e uma correspondência tão precisa que um dos dois termos não pode subsistir sem o outro, e variar um significa necessariamente variar também o outro. (LUIGI, PAREYSON; 1993, p. 31)  

Em outro apontamento, ainda sobre o conceito da formatividade, Pareyson

(1993) traz a ideia de que a obra atua como formante antes mesmo de ser

concebida como formada. Ele nos diz que toda a obra de arte está, ao mesmo

tempo, em processo de invenção e de produção, uma vez que essa filosofia é

baseada na inseparabilidade entre a experiência e a reflexão.  

No processo de “fazer” a obra de arte, entendido aqui tanto no sentido de

executar como no sentido de inventar, Pareyson (1993) nos mostra que passamos

inevitavelmente pela fase de tentativa e erro, e não devemos subjugá-la, sabendo

que este é um passo importante para o sucesso do resultado final da obra.  

O formar, portanto, é essencialmente um tentar, porque consiste em uma

inventividade capaz de figurar múltiplas possibilidades e ao mesmo tempo encontrar entre elas a melhor, a que é exigida pela própria operação para o bom sucesso. (LUIGI, PAREYSON; 1993, p. 61)  

Entendendo, com apoio da teoria da formatividade, que o resultado final do

processo criativo é um reflexo das características pessoais do artista que o propôs,

e de seu esforço através da fase de tentativa e erro, foi elaborado um processo

metodológico que auxiliasse na construção do ensaio e das imagens finais.  

Esse processo passa primeiramente, pela construção do argumento inicial

que será usado para a criação da fotografia, feito com a ajuda da pesquisa

filmográfica dentro do gênero ou subgênero selecionado, de onde são retiradas as

referências para a construção da narrativa. Após essa etapa, é feita a elaboração do

esboço do esquema de iluminação, através de desenhos que serão feitos usando

lápis e caneta para finalização. Feito isso, passamos para a etapa de construção e

escolha dos cenários, figurinos, modelos e das locações utilizadas nas fotografias.

Escolhemos também a iluminação adequada, tudo isso feito previamente e pensado

para se encaixar nas características estéticas do ensaio.  

Ao passar por todos esses processos, elaboramos paralelamente um diário

de procedimentos, com o objetivo de esclarecer todas as fases da construção

imagética, todos os detalhes, conquistas, frustrações e dificuldades que ocorreram

Page 31: UNIVERSIDADE DE CAXIAS DO SUL CENTRO DE CIÊNCIAS DA ... · 2015 . 2" " ÍSIS LAROQUE CORNELLI ENSAIOS CINEMATOGRÁFICOS Trabalho de Conclusão – TCC do Curso ... Essa escolha foi

31    durante a produção dos ensaios. Esse diário constitui-se a partir de uma ficha

técnica, que foi redigida com a formatação clássica que os cineastas utilizam para

escrever o roteiro, com a fonte escolhida sendo a Courrier New e o espaçamento

duplo. É como nos explica Doc Comparato:

 Quando o profissional lê um script, gosta de encontrar sua função bem

especificada e clara sem que falte informação. É fundamental escrever em espaço duplo para que o script fique o mais limpo possível, já que os profissionais têm o costume de fazer anotações nele. Isso deve ser levado em conta na formatação da página. (COMPARATO,DOC; 2009, p. 242)  

 

O texto do diário teve uma estrutura preparada previamente e que é utilizada

para descrever todos os ensaios.  

A estrutura escolhida, inicia com a data que o ensaio foi produzido; em

seguida, passa para a identificação do gênero ou subgênero escolhido para o

ensaio; após isso, apresenta a contextualização da cena, com a descrição do

cenário; logo após, traz a narrativa construída para cada cena, com o texto em

itálico; e finalmente, apresenta um texto descritivo, o diário de procedimentos

propriamente dito escrito em primeira pessoa, com todas as etapas enfrentadas até

a construção da imagem final.  

Visando uma estruturação mais completa para os conteúdos teóricos

adjacentes ao trabalho aplicado, buscamos o suporte necessário na pesquisa

bibliográfica. O método supracitado não pode ser descartado dentro dessa

pesquisa, uma vez que para poder escrever e produzir sobre determinado assunto,

devemos antes conhecer o que já foi feito e pesquisado. Como nos coloca Ida

Regina C. Stumpf, “Descobrir o que os outros já escreveram sobre um assunto,

juntar ideias refletir, concordar, discordar e expor seus próprios conceitos pode se

tornar uma atividade criativa e prazerosa.” (STUMPF, REGINA; 2005, p. 61)  

Na busca de referências para a construção do argumento narrativo e das

características visuais e estéticas de cada gênero ou subgênero, e possibilitada pela

pesquisa bibliográfica, é preciso utilizar também a pesquisa filmográfica, que é feita

através de uma seleção de filmes a serem assistidos dentro de cada estilo, para

posteriormente serem utilizados como referência.  

O método de Pesquisa em Internet, também será de papel importante neste

trabalho, pois não podemos mais fugir e nem ignorar a imensa base de dados que

Page 32: UNIVERSIDADE DE CAXIAS DO SUL CENTRO DE CIÊNCIAS DA ... · 2015 . 2" " ÍSIS LAROQUE CORNELLI ENSAIOS CINEMATOGRÁFICOS Trabalho de Conclusão – TCC do Curso ... Essa escolha foi

32    temos contidos na rede. É importante, porém, saber onde e como pesquisar, que

ferramentas utilizar e verificar as fontes antes de aplicá-las ao trabalho, já que hoje

na internet estão disponibilizadas mais de três mil ferramentas de busca. Segundo

Eloi Juniti Yamaoka:

 A riqueza da internet como fonte de informação independe das motivações

e dos objetivos da busca. Ela materializa algumas das marcantes características da nossa era, como a sobrecarga informacional, a fragmentação da informação e a globalização, todas provocadoras de estudos, pesquisas, discussões e polêmicas. (ELOI, JUNITI; YAMAOKA, 2005 p. 146)  

4. 2 TRATAMENTO DA CENA E DIÁRIO DE PROCEDIMENTOS  

Com o objetivo de explorar o processo por trás da criação de cada ensaio,

propomos a apresentação do que o autor Antonio Costa chama de tratamento. O

tratamento é a fase posterior a criação do argumento inicial do roteiro, onde as

ideias apresentadas são desenvolvidas e aprofundadas (2003). Este tratamento é

escrito utilizando a fonte Courrier New, fonte típica na redação de roteiristas. Na

sequência de itens proposta para apresentar o trabalho, o tratamento sempre

aparece como primeiro item.  

Logo em seguida, é feita a redação de um diário de procedimentos, feito em

uma linguagem mais coloquial, escrito no calor dos acontecimentos, característica

que consideramos apropriada na constituição de um diário. Ele contempla todos as

fases da construção da imagem, desde o surgimento da ideia até o resultado final.  

Além dos dois tipos de texto apresentados, consideramos importante mostrar,

através de desenhos, o esquema de luz criado para a produção de cada ensaio.  

 

 

Page 33: UNIVERSIDADE DE CAXIAS DO SUL CENTRO DE CIÊNCIAS DA ... · 2015 . 2" " ÍSIS LAROQUE CORNELLI ENSAIOS CINEMATOGRÁFICOS Trabalho de Conclusão – TCC do Curso ... Essa escolha foi

33    

Dia 1 – 30 de março de 2015  

Ensaio 1 – Noir  

Cena 1 – Interior – Escritório – Noite  

Já sabia o que a esperava.  

O implacável destino estava chegando para cobrar sua

dívida. Juliette! Ele chamou. Ela fingiu que não ouviu,

desviou o olhar, achou um atalho e bem, atalhou.  

Carma ruim, pensou. Carma existe, concluiu.  

Como uma faca certeira que não poupa a carne fresca do

cervo, ela estava a mercê do fio da navalha. Afiada. Maldita

navalha do destino que não perdoa nenhuma dívida.  

Dívida de sangue se paga com sangue e o seu sangue, ela

bem sabia, era o próximo a ser derramado.  

Em sua mesa vislumbrava o que parecia ser tudo que nessa

vida havia conquistado. Caos e desordem.  

Brindou com um cigarro o que lhe pareceu um adeus. Velho

amigo e bom companheiro, o cigarro. Este que nunca havia

falhado na função que foi criado para exercer:  

“Ah!”  

Um minuto e meio de alívio.

 

Page 34: UNIVERSIDADE DE CAXIAS DO SUL CENTRO DE CIÊNCIAS DA ... · 2015 . 2" " ÍSIS LAROQUE CORNELLI ENSAIOS CINEMATOGRÁFICOS Trabalho de Conclusão – TCC do Curso ... Essa escolha foi

34    

Primeira cena da primeira foto. Tudo já combinado com a modelo, enchi

sacoladas de roupas e objetos cotidianos que poderiam compor a cena. Reservei a

tarde no Estúdio Jordani, estúdio no qual eu trabalho, para produzir essa foto. Em

um primeiro momento, pensei em uma Femme Fatale, com longas luvas de seda e

cabelo glamouroso, mas logo vi que essa personagem dentro do cinema Noir não

tem papel de protagonista, muito menos de detetive. Resolvi me adequar, uma

detetive, mulher. Dispensei o visual Femme Fatale e segui com um look mais

andrógeno, com roupas masculinas. Figurino resolvido.  

Parti para a montagem do cenário e, como estava em estúdio montei

manualmente o escritório todo. Para a mesa, utilizei dois cavaletes de madeira com

um pedaço de MDF para servir de topo. Em cima da mesa, comecei a bagunça com

diversos materiais de escritório, papéis, canetas, livros, etc. Coloquei também

objetos pessoais que poderiam construir melhor a personalidade do personagem,

como garrafas vazias de bebida, um maço de cigarros e binóculos. Para fazer a

fumaça do cigarro, levei também incensos, que produziam fumaça porém, sem o

cheiro desagradável do cigarro. Para as paredes, utilizei tapadeiras móveis pretas,

colocadas uma ao lado da outra.  

Comecei a pensar, então, na iluminação. Quis fazer uma iluminação lowkey5

que, como nos coloca Bergan, é típica do cinema noir. (2010) Para ela, utilizei um

Fresnel6 e na frente venezianas para criar um desenho de sombras bem

característico do estilo. Prendi a veneziana solta em um tripé, bem alto, ao lado da

cena. Atrás do tripé, posicionei o Fresnel direcionado para a cena. Comecei com o

tripé mais afastado, mas fui aproximando ele da veneziana para dar mais forma a

sombra, que gostaria que marcasse bem o rosto da modelo.

Posicionei, do lado oposto ao do fresnel, uma tocha com um Snut, para dar

um preenchimento ao outro lado da parede que não estava iluminado o suficiente.    

______________________ 5Iluminação lowkey é a técnica utilizada para produzir uma fotografia com sombras marcadas e um

alto contraste, utilizando para isso uma luz dura.  6Fresnel é um tipo de lente inventada pelo físico francês AugustinJean Fresnel (1788-1827), criada

originalmente para uso em faróis de sinalização marítima, seu desenho possibilita a construção de

lentes de grande abertura e curta distância focal, que permitem a passagem de mais luz e são

visíveis de distâncias maiores que as convencionais.

Page 35: UNIVERSIDADE DE CAXIAS DO SUL CENTRO DE CIÊNCIAS DA ... · 2015 . 2" " ÍSIS LAROQUE CORNELLI ENSAIOS CINEMATOGRÁFICOS Trabalho de Conclusão – TCC do Curso ... Essa escolha foi

35    Posicionei a câmera no tripé, e utilizei uma lente 18105 mm.

Segue abaixo, esquema da iluminação utilizada.

 Figura 13: Esquema de iluminação

Fonte: Autoria Própria

Page 36: UNIVERSIDADE DE CAXIAS DO SUL CENTRO DE CIÊNCIAS DA ... · 2015 . 2" " ÍSIS LAROQUE CORNELLI ENSAIOS CINEMATOGRÁFICOS Trabalho de Conclusão – TCC do Curso ... Essa escolha foi

36    

Ensaio 1 – Noir  

Cena 2 – Interior – Sala de Estar – Noite  

Quanto sangue já não viu escorrer nesses anos?  

As marcas da idade que seu semblante escondia em uma

máscara de beleza e dor, eram visíveis em seus olhos. Grandes

olhos carregados de histórias, nem sempre belas.  

Nunca foi belo o caminho que escolheu para si. Sinuoso e

violento, mas verdadeiramente era o SEU caminho.  

Na hora do acerto, Juliette não viu a ninguém. Havia

alguém ao certo, mas o que seus grandes olhos enxergavam era a

personificação de seu carrasco: o destino. Não uma pessoa, mas

um acúmulo de dívidas que foram quitadas, todas, de uma vez

só.

Page 37: UNIVERSIDADE DE CAXIAS DO SUL CENTRO DE CIÊNCIAS DA ... · 2015 . 2" " ÍSIS LAROQUE CORNELLI ENSAIOS CINEMATOGRÁFICOS Trabalho de Conclusão – TCC do Curso ... Essa escolha foi

37    

Para essa cena, como eu havia pensado em um enquadramento bem

fechado, não me preocupei com figurino, apenas com a maquiagem do rosto da

modelo, que ficaria em evidência. Utilizei na câmera uma lente fixa 50 mm, que

destacaria seus grandes olhos e o bonito seu rosto.  

A foto toda para mim, se resumiria numa forte expressão de medo. No

princípio pensei a foto somente com o rosto da modelo, com olhos assustados e

cheios de lágrimas, mas no decorrer do ensaio fui mudando de ideia.  

Comecei com uma luz dura de Fresnel apontada para o rosto da modelo,

mas logo me dei conta que o Fresnel era muito potente e a luz muito dura para a

foto que tinha imaginado. Posicionei então, a minha direita, um tripé com um softbox

quadrado para fazer uma luz mais suave. A iluminação tinha ficado correta, porém

senti que a foto estava muito vazia, não dizia muito. Decidi acrescentar um

elemento: o assassino.  

Então para essa segunda cena, utilizei mais de um modelo. Comecei a

posicionar o segundo modelo atrás da primeira, em segundo plano. Como estava

utilizando uma lente 50 mm, o objeto em segundos plano estava desfocado, que era

a minha intenção para seguir com a ideia de dar ênfase na expressão assustada da

modelo.  

Com a câmera na mão, fiz o click de diversos ângulos e com variadas

expressões, para ter opção de escolha no tratamento e edição.  

Segue abaixo, esquema de iluminação utilizada.  

Page 38: UNIVERSIDADE DE CAXIAS DO SUL CENTRO DE CIÊNCIAS DA ... · 2015 . 2" " ÍSIS LAROQUE CORNELLI ENSAIOS CINEMATOGRÁFICOS Trabalho de Conclusão – TCC do Curso ... Essa escolha foi

38    

Figura 14: Esquema de iluminação

Fonte: Autoria Própria

Page 39: UNIVERSIDADE DE CAXIAS DO SUL CENTRO DE CIÊNCIAS DA ... · 2015 . 2" " ÍSIS LAROQUE CORNELLI ENSAIOS CINEMATOGRÁFICOS Trabalho de Conclusão – TCC do Curso ... Essa escolha foi

39    

Cena 3 – Interior – Sala de Estar (chão) – Noite  

Vazio...  

Uma eternidade de alívio.

 

Page 40: UNIVERSIDADE DE CAXIAS DO SUL CENTRO DE CIÊNCIAS DA ... · 2015 . 2" " ÍSIS LAROQUE CORNELLI ENSAIOS CINEMATOGRÁFICOS Trabalho de Conclusão – TCC do Curso ... Essa escolha foi

40    

A ideia para essa foto de fechamento do ensaio eu acabei tendo depois.

Alguém viu minhas fotos e leu o texto, e achou que faltava algum elemento

imagético ali, de conclusão, que realmente passasse a ideia de que a personagem

principal havia de fato sido assassinada.  

Decidi montar uma pequena cena apenas com os elementos do assassinato,

a faca e o sangue. Para o sangue, como a foto era em preto e branco, eu achei que

serviria uma calda de chocolate. E serviu.  

Peguei uma mesa de vidro, derramei a calda de chocolate e fui posicionando

a faca de diversas maneiras, até encontrar um ângulo que me agradasse

esteticamente e que parecesse minimamente realista. Utilizei minha lente fixa 50

mm e uma iluminação bem simples, somente com uma tocha apontada para cima e

espalhando luz que refletia nas paredes brancas.  

 Figura 15: Esquema de iluminação

Fonte: Autoria Própria

Page 41: UNIVERSIDADE DE CAXIAS DO SUL CENTRO DE CIÊNCIAS DA ... · 2015 . 2" " ÍSIS LAROQUE CORNELLI ENSAIOS CINEMATOGRÁFICOS Trabalho de Conclusão – TCC do Curso ... Essa escolha foi

41    

Dia 2 – 15 de Abril de 2015

Ensaio 2 – Surreal  

Cena 1 – Interior – Quarto – Dia  

Houve um tempo em uma realidade não tão distante da

nossa, onde existia uma menina chamada Valerie.  

Valerie vivia confusa. Vazia e cheia ao mesmo tempo,

acordada e adormecida, lúcida e atordoada.  

Sempre viveu entre seres humanos e monstros, entre sonhos

e cantos escuros. Os monstros ela nunca soube dizer de onde

vinham, muito menos esses tão tão estranhos seres, os humanos.  

Mas deles, ela nunca quis mesmo saber.

Page 42: UNIVERSIDADE DE CAXIAS DO SUL CENTRO DE CIÊNCIAS DA ... · 2015 . 2" " ÍSIS LAROQUE CORNELLI ENSAIOS CINEMATOGRÁFICOS Trabalho de Conclusão – TCC do Curso ... Essa escolha foi

42    

Pensei esse ensaio para ser do gênero Terror. Imaginei cenas sangrentas,

com bastante sangue falso e imagens em preto e branco. Ao longo da construção

do tratamento, suscitado pelo teor um pouco romantizado do texto, decidimos a

procurar um gênero alternativo para esse ensaio, o gênero Surreal.  

Comecei a procurar referências em filmes surreais, cheguei inevitavelmente

ao Cão Andaluz, de Luis Buñuel7 e Salvador Dalí8. Fui, partindo daí, chegando a

ideia de buscar referência em um estilo de um artista próximo ao surrealismo, o Man

Ray9

Para a primeira foto, quis acentuar as características da personalidade da

personagem principal. Um olhar vago, perdido, uma expressão de deslocamento e

inadequação na sociedade onde vivia. Utilizei uma lente 18105 mm. A foto crua foi

feita em um esquema muito simples de iluminação, utilizando apenas uma luz

incandescente que já estava no ambiente. Optei por uma foto simples pois o

trabalho mais elaborado e que traria características surrealistas a foto seria feito na

pós-produção, em softwares como LightRoom e Photoshop.

 

______________________ 7Luiz Buñuel (1900 – 1983) foi um realizador de cinema espanhol, cuja produção foi sempre foi

marcada por uma aura de escândalo. Entre suas obras estão “Um Cão Andaluz” (1928), “Viridiana”

(1966) e “O Fantasma da Liberdade” (1974)  8Salvador Dali (1904 – 1989) foi um importante pintor catalão, conhecido pelo seu trabalho

surrealista. Teve trabalhos também na área do cinema, escultura e fotografia, tendo no cinema,

participado da produção de “Um Cão Andaluz” (1928) ao lado de Luis Buñuel e do curta da Walt

Disney “Destino” (2003).  9Man Ray (1890 – 1976) foi pintor, artista gráfico, escritor e um grande explorador da arte, que

oscilou entre várias disciplinas ao longo de sua vida. Mas foi na fotografia que ganhou fama, com

imagens que serviam menos para mostrar a realidade e mais para exprimir sua visão surrealista com

fantasias e visões.  

Page 43: UNIVERSIDADE DE CAXIAS DO SUL CENTRO DE CIÊNCIAS DA ... · 2015 . 2" " ÍSIS LAROQUE CORNELLI ENSAIOS CINEMATOGRÁFICOS Trabalho de Conclusão – TCC do Curso ... Essa escolha foi

43     Ensaio 2 – Surreal  

Cena 2 – Interior – Quarto – Noite  

Já os monstros... Esses interessantes e intrigantes

companheiros! Apareciam vez ou outra durante seu sono, sempre

acompanhados de uma aura mágica.  

Mas um aparecia mais que os demais, e marcava mais que os

outros.  

O estranho palhaço. Sua presença causava calafrios, ele

era diferente dos outros seres dos cantos escuros, sempre

vinha acompanhado de uma luz forte, quase cegante.  

Quando ele surgia da escuridão, sempre acompanhado de seu

feixe de luz, ela sentia toda sua estrutura vibrar. Saia de

seu estado entorpecido do dia a dia e sentia que a vida tomava

conta do seu corpo.  

Valerie encontrou ali, seu único e real amigo, seu

companheiro, seu estranho amor.  

Só se sentia viva ao seu lado. Ao mesmo tempo, sabia que

no mundo desses estranhos seres humanos, não havia lugar para

um monstro mágico daquele tipo.

 

Page 44: UNIVERSIDADE DE CAXIAS DO SUL CENTRO DE CIÊNCIAS DA ... · 2015 . 2" " ÍSIS LAROQUE CORNELLI ENSAIOS CINEMATOGRÁFICOS Trabalho de Conclusão – TCC do Curso ... Essa escolha foi

44    

A segunda fotografia desse ensaio, teve como locação escolhida para o

quarto da menina o quarto de meus avós, que tinha um clima meio antigo e sombrio.

Para montar a cena, comecei a procurar objetos que pudessem compor o quarto,

nesse clima de vida entorpecida e de sentimentos de inadequação. Escolhi vários

objetos, como caixas de remédios e brinquedos antigos, mas optei, depois de fazer

vários testes de cena, por não utilizá-los, para não desviar a atenção do que

realmente queria mostrar na foto.  

Nessa foto precisaria, também, de mais de um modelo. Já havia a

personagem principal, precisava agora, de alguém para ser o monstro que

atormentava e ao mesmo tempo despertava o sentimento de paixão na jovem. No

começo da construção do tratamento, não sabia exatamente o que o monstro seria.

Pensei em diversas coisas, um animal estranho e gigante, um ser fantástico sem

definição específica, algum personagem de fábulas de terror. Pesquisei em lojas de

fantasias, mas nenhuma fechava com a ideia de visual freak que eu queria dar a

foto. Enfim, consegui com o próprio modelo trajes de palhaço, que fecharam

perfeitamente com a ideia de personagem freak que eu estava procurando.  

Depois de montar os dois personagens, a menina apenas com um pijama

simples e o palhaço com toda a sua caracterização, foi hora de pensar a luz. Como

eu não tinha equipamento de iluminação disponível naquele dia, improvisei. Arrumei

uma fonte de luz retirada de um antigo armário, que tinha uma luzinha que acendia

dentro do bar. Após muita relutância da parte da minha mãe, consegui retirar a fonte

para adaptar a minha luz enjambrada. Coloquei uma lâmpada mais forte e usei um

cabo de vassoura como tripé. O acabamento não ficou excelente, mas funcionou

perfeitamente para o que eu precisava no momento!  

Page 45: UNIVERSIDADE DE CAXIAS DO SUL CENTRO DE CIÊNCIAS DA ... · 2015 . 2" " ÍSIS LAROQUE CORNELLI ENSAIOS CINEMATOGRÁFICOS Trabalho de Conclusão – TCC do Curso ... Essa escolha foi

45    

Figura 16: Iluminação improvisada

 Fonte: Autoria Própria

Com o “equipamento” de iluminação preparado, coloquei minha lente 18-

105mm e montei a cena. Tive que improvisar também um tripé, já que estava

utilizando velocidade bem baixa. A menina deitada na cama, com o estranho

palhaço ao seu lado, com a luz vinda de trás para dar essa aura sombria. Utilizei

como segunda luz uma luz que vinha do banheiro, suave e que dava o

preenchimento necessário. Pensei também, para reforçar as características

surrealistas, na dupla exposição, uma foto com a menina deitada e outra em

seguida com ela levantando. O resultado ficou bem satisfatório.  

Page 46: UNIVERSIDADE DE CAXIAS DO SUL CENTRO DE CIÊNCIAS DA ... · 2015 . 2" " ÍSIS LAROQUE CORNELLI ENSAIOS CINEMATOGRÁFICOS Trabalho de Conclusão – TCC do Curso ... Essa escolha foi

46    

Figura 17: Esquema de iluminação

Fonte: Autoria Própria

 

Page 47: UNIVERSIDADE DE CAXIAS DO SUL CENTRO DE CIÊNCIAS DA ... · 2015 . 2" " ÍSIS LAROQUE CORNELLI ENSAIOS CINEMATOGRÁFICOS Trabalho de Conclusão – TCC do Curso ... Essa escolha foi

47    

Ensaio 2 – Surreal  

Cena 3 – Interior – Quarto – Noite  

Entre os sonhos e os cantos escuros, Valerie decidiu

fazer uma longa viagem sem volta, de encontro ao seu monstro.  

E foi.  

Quem ficou, sentiu pena e deu o diagnóstico clinico:  

— Ela sempre foi mesmo uma menina perturbada!  

Quanto a Valerie?  

Bem, Valerie, fez boa viagem. Ela estava enfim, entre os

seus.  

Page 48: UNIVERSIDADE DE CAXIAS DO SUL CENTRO DE CIÊNCIAS DA ... · 2015 . 2" " ÍSIS LAROQUE CORNELLI ENSAIOS CINEMATOGRÁFICOS Trabalho de Conclusão – TCC do Curso ... Essa escolha foi

48    

Para a foto final, quis dar um clima mais romântico, afinal, era o momento do

encontro de dois seres teoricamente apaixonados. Primeiro pensei nos dois em

cima da cama, abraçados, ela entregue ao seu estranho palhaço. Posicionei os

dois, ele com uma rosa e ela com seus longos cabelos para trás, em uma posição

submissa, mas como os recursos de iluminação não eram vastos, a foto final não

saiu do jeito que eu esperava. Então parti para outra ideia.  

Posicionei os dois na frente da cama, com a luz enjambrada posicionada

atrás dos dois. Quis dar um ar de proximidade e afeto, com os dois bem próximos

um do outro com uma rosa entre eles. O resultado ficou interessante, mas a

característica surrealista que eu tinha planejado para essa foto eu sabia que só ia

conseguir dar na pós-produção, com a edição. Utilizei minha lente 18105 mm sem

tripé, pois na posição em que eu estava, ficava difícil o seu manuseio.  

Figura 18: Esquema de iluminação

Fonte: Autoria Própria

Page 49: UNIVERSIDADE DE CAXIAS DO SUL CENTRO DE CIÊNCIAS DA ... · 2015 . 2" " ÍSIS LAROQUE CORNELLI ENSAIOS CINEMATOGRÁFICOS Trabalho de Conclusão – TCC do Curso ... Essa escolha foi

49     Dia 3 – 15 de Maio de 2015  

Ensaio 3 – Trash  

Cena 1 – Interior – Quarto – Noite  

Eram 5 da manhã na caótica cidade das Flores.  

Entre os ventos violentos da noite, um forte clarão

surpreendeu Clara, que levantou com um susto. Uma imensa fonte

de luz vinda do céu rasgou seu quarto em dois e durou apenas

poucos segundos. Segundos que bastaram para derrubar tudo que

havia em cima de sua cabeceira, incluindo um antigo urso que

seu avó tinha lhe dado na infância, que ela carinhosamente

chamava de Fuxo.  

No dia seguinte Clara acordou em meio a notícias sobre o

acontecido da noite anterior. Todos os vizinhos comentavam

sobre um estranho objeto pairando o parque da cidade durante a

madrugada. O estranho disco cintilante ficou alguns minutos

pairando sobre o céu, quando então desapareceu em uma bola de

fogo que se dissipou no ar.  

Page 50: UNIVERSIDADE DE CAXIAS DO SUL CENTRO DE CIÊNCIAS DA ... · 2015 . 2" " ÍSIS LAROQUE CORNELLI ENSAIOS CINEMATOGRÁFICOS Trabalho de Conclusão – TCC do Curso ... Essa escolha foi

50    

Para esse ensaio, pensei em uma locação realista, nada montado em

estúdio, com luzes claras e cenário limpinho, afinal a temática era a estética Trash.  

Comecei indo atrás de lugares para locação, primeiramente pensei que

poderia ser no quarto da minha casa, mas logo vi que era muito colorido e poluído

visualmente, os elementos iam se misturar até acabarem se perdendo, tornando

mais difícil a sua identificação. Depois de ir em alguns lugares, acabei optando pelo

quarto de uma amiga minha, que era meio escuro e sem muita poluição visual, o

que tornaria mais fácil a caracterização do cenário.  

Quando comecei a escrever o argumento, não sabia bem o que seria o

assustador objeto que ganha vida e assassina as pessoas da cidade. O que eu

tinha certeza era de que seria um brinquedo, para dar essa característica de apego

que a personagem tinha para com ele, só não tinha decidido ainda qual brinquedo

seria.  

Primeiro pensei em uma coisa que nunca tinha visto ser filmada, como, por

exemplo, um boneco Sr. Cabeça de Batata. Gostei de como imaginei as cenas com

esse boneco, seriam fotos bem plásticas e que esteticamente eu acho que me

agradariam, mas desisti pelo fato do nome Sr. Cabeça de Batata ser muito comprido

e pouco usado no Brasil, não daria a mesma sonoridade do seu nome em seu

idioma original, o famoso Mr. Potato Head.  

Fui a procura de outro brinquedo macabro, mas tive dificuldade na escolha.

Acabei optando por um palhacinho de brinquedo que achei na minha casa meio

esquecido, mas ainda não estava satisfeita com essa escolha, pois no ensaio

anterior eu já havia utilizado o elemento palhaço e não queria parecer redundante.  

No dia da foto, cheguei na casa da minha amiga com todos os apetrechos

necessários para o ensaio, incluindo o nada carismático palhacinho. Em meio as

preparações para as fotos notei um ursinho, que me pareceu bem antigo, deitado no

sofá da sala. Ele tinha aquele olhar perdido e sem expressão, meio querendo ser

simpático e mais parecendo assustador dos ursinhos antigos. Perguntei de quem

era aquele brinquedo e ela me contou que aquele era o Fuxo, um ursinho que ela

tinha ganhado na infância e que guardava até hoje. Pronto. Estava ai meu

brinquedo assassino, com a história perfeita, a aparência perfeita e até o nome

perfeito!  

Page 51: UNIVERSIDADE DE CAXIAS DO SUL CENTRO DE CIÊNCIAS DA ... · 2015 . 2" " ÍSIS LAROQUE CORNELLI ENSAIOS CINEMATOGRÁFICOS Trabalho de Conclusão – TCC do Curso ... Essa escolha foi

51    

Depois que encontrei o Fuxo, parti para o figurino. Ele foi bem simples de se

resolver. Como a personagem principal estaria em todos os momentos da foto em

seu quarto, pensei em um pijama, nada muito elaborado.  

Levei minha luz enjambrada com tripé de cabo de vassoura (que no final me

foi muito útil em todos os ensaios) e parti pros clicks. Para essa primeira foto, queria

um close do rosto da menina no momento em que seu quarto é invadido pela luz

alienígena que possui o corpo do ursinho. Como a luz bagunçou seu quarto todo,

pensei que tinha que ter vento. Posicionei o ventilador direto no rosto da modelo, e

pedi para que ela cobrisse o rosto, como se aquilo estivesse sendo extremamente

perturbador. Para dar mais veracidade, peguei minha luz enjambrada e apontei para

seu rosto, pois segundo o argumento, havia uma luz muito forte invadindo seu

quarto naquela noite.  

Posicionei a luz de diversas formas, vindo de baixo, de cima, dos lados, de

trás de mim. No fim, o jeito que melhor coube na imagem foi o da luz vindo de cima,

com ela protegendo seus olhos com uma mão e o ventilador bagunçando seus

cabelos. Utilizei a lente fixa 50 mm para essa foto. Figura 19: Esquema de iluminação

Fonte:Autoria Própria

Page 52: UNIVERSIDADE DE CAXIAS DO SUL CENTRO DE CIÊNCIAS DA ... · 2015 . 2" " ÍSIS LAROQUE CORNELLI ENSAIOS CINEMATOGRÁFICOS Trabalho de Conclusão – TCC do Curso ... Essa escolha foi

52     Ensaio 3 – Trash

Cena 2 – Interior – Quarto – Noite  

Clara, que nunca tinha acreditado em seres de outros

planetas, foi dormir assustada.  

Acordou no meio da noite para ir ao banheiro e logo

sentiu que alguém se aproximava.  

Rapidamente se virou e deu de cara com ele, seu velho

ursinho Fuxo, vivo e com uma faca apontada para seu olho! O

olhar de Fuxo não escondia, ele estava completamente fora de

si, já não era o seu velho amigo ursinho.  

Fuxo e Clara duelaram pelas suas vidas, o chão virou um

rio de sangue e algodão, foi quando Clara, vendo que já não

tinha alternativa, aproveitou um ponto cego de Fuxo, desviou

do ursinho, pulou a janela e antes que se desse por conta

estava correndo como uma louca para dentro da floresta.  

Page 53: UNIVERSIDADE DE CAXIAS DO SUL CENTRO DE CIÊNCIAS DA ... · 2015 . 2" " ÍSIS LAROQUE CORNELLI ENSAIOS CINEMATOGRÁFICOS Trabalho de Conclusão – TCC do Curso ... Essa escolha foi

53    

Para a segunda foto, quis mostrar a cena em que o ursinho Fuxo surpreende

a sua dona com o assassino alienígena possuindo o seu corpo.  

Quis fazer aquelas cenas bem características do terror, com a personagem

principal abrindo o armário com espelho e se deparando com o seu brinquedo de

infância possuído atrás dela, com uma arma na mão.  

Quis usar o espelho do banheiro, mas o espaço que eu tinha disponível era

muito pequeno, assim como o espelho que eu ia utilizar, ficou quase impossível

fazer uma fotografia legal com aqueles recursos. Optei então pelo espelho do

quarto, que era a porta inteira do armário, indo dos pés à cabeça, mas fiz um corte

no busto para parecer que era somente um espelho simples utilizado em banheiro.  

Posicionei a modelo na frente do espelho e nesse momento, tive que arrumar

um jeito do ursinho Fuxo ficar fixo atrás dela, como se o brinquedo tivesse ganhado

vida. Utilizei a luz natural que o ambiente tinha, só baixei um pouco a minha

velocidade para dar um clima mais sombrio. Com a câmera na mão, utilizei a lente

fixa 50 mm para dar a sensação de menor profundidade de campo.  

Figura 20: Esquema de iluminação

Fonte: Autoria Própria

Page 54: UNIVERSIDADE DE CAXIAS DO SUL CENTRO DE CIÊNCIAS DA ... · 2015 . 2" " ÍSIS LAROQUE CORNELLI ENSAIOS CINEMATOGRÁFICOS Trabalho de Conclusão – TCC do Curso ... Essa escolha foi

54    

Ensaio 3 – Trash  

Cena 3 – Interior – Sala – Noite  

Mal sabia Clara que seu inocente boneco estava servindo

de hospedeiro de um ser criminoso do espaço, que foi expulso

de sua terra natal e exilado em nosso planeta na noite

anterior.  

E os crimes naquela noite não param por aí: 5 pessoas do

vilarejo foram encontradas mortas naquela noite, por um

estranho urso destroçado.  

Fuxo nunca foi capturado, e nas noites de ventania, todos

no vilarejo sentem sua presença esperando sua desavisada

próxima vítima.  

Page 55: UNIVERSIDADE DE CAXIAS DO SUL CENTRO DE CIÊNCIAS DA ... · 2015 . 2" " ÍSIS LAROQUE CORNELLI ENSAIOS CINEMATOGRÁFICOS Trabalho de Conclusão – TCC do Curso ... Essa escolha foi

55    

Na foto que encerra a saga do ursinho Fuxo assassino, pensei em uma cena

onde o vilão observava a cidade por uma janela na calada da noite, planejando seu

próximo assassinato.  

Essa fotografia foi planejada para ser feita com técnicas de sobreposição de

imagens, que seria feita posteriormente utilizando o Photoshop.  

Para a foto crua, utilizei a iluminação do ambiente que era a sala da casa, e

coloquei o ursinho Fuxo em cima da mesa. Utilizei uma lente fixa 50 mm e fiz um

retrato do rosto do brinquedo. E foi isso.  

Feito isso, chega a parte de manipulação da imagem. As outras imagens dos

outros ensaios também foram manipuladas no Photoshop, mas resolvi relatar

somente essa pois foi a que mais despendeu tempo, entre pesquisa de banco de

imagens para achar uma fotografia que coubesse ali e as horas de edição até que a

foto ficasse como eu gostaria.  

Quando fui manipular a foto no Photoshop, tive que procurar primeiramente

uma imagem que ornasse perfeitamente com o retrato de Fuxo que eu havia feito

anteriormente. Comecei procurando em banco de imagens e então, achei em um

site de papéis de parede para computador uma imagem que fechava com o que eu

procurava.

Figura 21:Imagem utilizada para manipulação da terceira foto

 Fonte: Img Stock  

Page 56: UNIVERSIDADE DE CAXIAS DO SUL CENTRO DE CIÊNCIAS DA ... · 2015 . 2" " ÍSIS LAROQUE CORNELLI ENSAIOS CINEMATOGRÁFICOS Trabalho de Conclusão – TCC do Curso ... Essa escolha foi

56    

Feito isso, fiz toda a manipulação com a sobreposição das imagens, dei uns

últimos retoques e estava feito.  

Havia, porém, ainda uma dúvida. Se o ensaio seria em preto e branco ou em

cor. Como eu havia feito dois ensaios em cor e um em preto e branco, decidi optar

pelo preto e branco, já que pessoalmente é um estilo que me agrada e que

funcionou bem para o que eu estava querendo propor.  

Apliquei também, já na parte da pós-produção, um filtro em todas as fotos,

para dar a aparência de um negativo antigo, riscado e mal cuidado. Somente um

toque a mais para complementar a estética do Trash.  

Page 57: UNIVERSIDADE DE CAXIAS DO SUL CENTRO DE CIÊNCIAS DA ... · 2015 . 2" " ÍSIS LAROQUE CORNELLI ENSAIOS CINEMATOGRÁFICOS Trabalho de Conclusão – TCC do Curso ... Essa escolha foi

57    

Dia 4 – 29 de Maio de 2015  

Ensaio 4 – Drama  

Cena 1 – Externo – Rua – Dia  

Saiu de sua antiga cidade sem olhar pra trás, depois do

fatídico acontecimento da noite anterior. Correu com as poucas

moedas que tinha no seu bolso, e pegou o primeiro trem rumo ao

desconhecido. O cheiro do cabelo dela mal teve tempo de se

desprender de sua camisa. ‘Merda...', pensou.  

Partiram ELE e seu violão, como sempre fora desde que se

conhece por gente. Passam cidades, passam mulheres, passam

amigos, e o único que sempre permanecia era o seu violão.  

No momento em que colocou o primeiro pé em sua nova

cidade, o único pensamento que ecoou em sua mente foi o de

fazer tudo diferente da última vez.  

Page 58: UNIVERSIDADE DE CAXIAS DO SUL CENTRO DE CIÊNCIAS DA ... · 2015 . 2" " ÍSIS LAROQUE CORNELLI ENSAIOS CINEMATOGRÁFICOS Trabalho de Conclusão – TCC do Curso ... Essa escolha foi

58    

Parti agora, para o último ensaio. Tive muitas dúvidas sobre o gênero a ser

escolhido. Com a ajuda da professora orientadora, passei por várias opções que me

agradariam: musical, western, terror...  

Depois de muito pensar e de muita pesquisa sobre os gêneros, acabei tendo

a ideia para um argumento de drama. A ideia é sempre uma etapa importante na

fase da construção da narrativa.  

A procura da ideia ou a sua descoberta são atividades nem sempre fáceis

de abarcar. As ideias são por vezes sutis e difíceis de alcançar. No entanto, obrigatoriamente se convertem no fundamento do roteiro. Isso exige o maior cuidado para descobrir, isolar e definir ideias dramaticamente pertinentes. (COMPARATO,DOC; 2009, p. 30)  

O drama me atraiu bastante pela forma da narrativa, que poderia ser

explorada de diversas formas. Me atraiu também porque, para esse último ensaio,

gostaria de utilizar uma locação externa, e essa história do drama romântico, do

andarilho que sai fugido da cidade, me pareceu bem apropriada para uma locação

externa.  

A locação! Foi uma viagem enorme até chegar a ela. Saímos no fim de

semana anterior, eu e meu modelo (que é também meu namorado), atrás de um

lugar para fotografarmos. Nem chegamos a virar a esquina de casa, caiu um grande

toro d'água. Desisti de fazer as fotos naquele final de semana, decidi deixar para o

próximo.  

Chegando o próximo domingo, saímos novamente. O dia não estava tão

ensolarado quanto eu gostaria, mas decidi tentar assim mesmo. Separei uma roupa

que achei que se pareceria com a de um andarilho, com uma boina e um casaco

meio amarrotado. Peguei também o violão, que é uma parte importante da história.  

Comecei a procurar uma locação indo para os caminhos da colônia,

passando os pavilhões da Festa da Uva. Queria uma estradinha, bem deserta para

essa primeira foto. Para mostrar ele saindo, se desprendendo da cidade em que

antes morava. Percorrendo alguns quilômetros, achei uma estradinha que me

agradava, e lá paramos.  

Fiz clicks de diversas formas, com o sol entrando na lente, de cima, de baixo,

de trás, de frente. Utilizei a lente fixa 50 mm pra dar bem pouca profundidade de

Page 59: UNIVERSIDADE DE CAXIAS DO SUL CENTRO DE CIÊNCIAS DA ... · 2015 . 2" " ÍSIS LAROQUE CORNELLI ENSAIOS CINEMATOGRÁFICOS Trabalho de Conclusão – TCC do Curso ... Essa escolha foi

59    campo. Depois de vários clicks, saiu a foto final, que eu gostei bastante. Só utilizei a

luz natural do dia para essa foto.  

Figura 22: Esquema de iluminação

Fonte: Autoria Própria

Page 60: UNIVERSIDADE DE CAXIAS DO SUL CENTRO DE CIÊNCIAS DA ... · 2015 . 2" " ÍSIS LAROQUE CORNELLI ENSAIOS CINEMATOGRÁFICOS Trabalho de Conclusão – TCC do Curso ... Essa escolha foi

60    

Ensaio 4 – Drama  

Cena 2– Externo – Rua – Dia  

Achou um canto e sentou com suas ideias e seu violão. No

primeiro acorde, que inevitavelmente soou triste, lhe veio à

mente a imagem dos olhos escuros dela no momento em que ouviu

o barulho do revólver. BAM! “Fiz um favor aquela moca,

sofrendo aprisionada nas mãos daquele velho escroto!”, afirmou

para si mesmo. Lembrou do sorriso de canto de boca dela quando

ouviu o som do corpo do marido caindo estirado no chão.

Continuou com sua música. Enquanto seus dedos passeavam por

entre as cordas, ele imaginava mil ninfas com a forma DELA

dançando, em sua volta. Sentiu o sol batendo em seu rosto,

estava confortavelmente quente ali.  

O barulho da moeda de 1 real caindo sobre a case vazia

aberta de seu violão o fez voltar para a realidade.

“Gratidão!”, disse para a senhora que havia lhe dado a moeda.  

Page 61: UNIVERSIDADE DE CAXIAS DO SUL CENTRO DE CIÊNCIAS DA ... · 2015 . 2" " ÍSIS LAROQUE CORNELLI ENSAIOS CINEMATOGRÁFICOS Trabalho de Conclusão – TCC do Curso ... Essa escolha foi

61    

Depois de feita a primeira foto do ensaio, precisava encontrar outra locação

para a segunda. Andamos pelas mesmas estradas e não encontramos nada. A

vegetação ia ficando cada vez mais fechada e já não víamos mais o sol entrando, e

eu precisava do sol.  

Queria uma grama com um pouco de asfalto, mas com mais elementos rurais

do que urbanos, pois queria dar a ideia de uma cidade pequena, sem muita

movimentação. Pensei na própria UCS para usar de locação, justamente pelo

campus apresentar essa característica de ter bastante elementos urbanos mas

também bastante verde. Busquei um bloco mais escondido, que não tivesse tanta

movimentação de pessoas. Acabei escolhendo o bloco da Biologia, pois estava bem

pouco movimentado.  

Para essa fotografia, pensei no personagem principal sentado, tocando suas

músicas e pensando na garota que deixou para trás. Para representar esses

pensamentos, quis fazer uma fotografia com a velocidade bem baixa, com ele no

centro e alguém caminhando e pulando ao seu redor, representando a imaginação

dele indo de encontro com a figura de sua garota.  

Combinei com uma amiga para ser modelo, e ela no dia não pode ir. Como

não havia mais tempo para adiar essa fotografia, decidi ser eu mesma a modelo.

Para isso, no lugar de uma fotografia com a velocidade bem baixa, fiz duas, com a

mesma iluminação. Na primeira, posicionei apenas o modelo no centro da imagem,

tocando violão. Depois posicionei o tripé e lá fui, bancar a garota da história. Pulei e

fiz diversos movimentos, pois queria a imagem bem borrada. Utilizei uma lente 18-

105 mm.  

Cheguei em casa e manipulei no Photoshop, utilizando as duas imagens

sobrepostas. Deu certo.  

Page 62: UNIVERSIDADE DE CAXIAS DO SUL CENTRO DE CIÊNCIAS DA ... · 2015 . 2" " ÍSIS LAROQUE CORNELLI ENSAIOS CINEMATOGRÁFICOS Trabalho de Conclusão – TCC do Curso ... Essa escolha foi

62    Figura 23: Esquema de iluminação

Fonte: Autoria Própria

Page 63: UNIVERSIDADE DE CAXIAS DO SUL CENTRO DE CIÊNCIAS DA ... · 2015 . 2" " ÍSIS LAROQUE CORNELLI ENSAIOS CINEMATOGRÁFICOS Trabalho de Conclusão – TCC do Curso ... Essa escolha foi

63    

Ensaio 4 – Drama  

Cena 3 – Externo – Rua – Dia  

Levantou e foi atrás de algum boteco barato para trocar

aquela moeda por uma dose de pinga. Pensou que sentira o

cheiro DELA ao passar por um jardim. Se enganou. “Tudo

diferente da última vez... Tudo diferente.... Diferente...”

Seguiu em frente sem pestanejar. Sentiu uma sensação de alívio

quando saiu dali. Foi bom, bom colocar cada coisa em seu

devido lugar.  

Tomou a pinga e, ao final dela, se deu conta que a vida

era mesmo aquilo que lhe parecia – uma longa caminhada, ao

lado de seu velho parceiro violão.  

Page 64: UNIVERSIDADE DE CAXIAS DO SUL CENTRO DE CIÊNCIAS DA ... · 2015 . 2" " ÍSIS LAROQUE CORNELLI ENSAIOS CINEMATOGRÁFICOS Trabalho de Conclusão – TCC do Curso ... Essa escolha foi

64    

Para essa última fotografia, quis mostrar o “relacionamento” que o

personagem tinha com a música, com seu violão. Quis dar ideia de proximidade, de

intimidade.  

Ainda na UCS, paramos nas ruas paralelas a universidade, dentro do bairro.

Fiz o modelo fazer vários movimentos, com o violão. Além da luz do sol, queria que

as fotografias desse ensaio ficassem bem naturais. Utilizei a lente fixa 50 mm.

Figura 24: Esquema de iluminação

 Fonte: Autoria Própria

Page 65: UNIVERSIDADE DE CAXIAS DO SUL CENTRO DE CIÊNCIAS DA ... · 2015 . 2" " ÍSIS LAROQUE CORNELLI ENSAIOS CINEMATOGRÁFICOS Trabalho de Conclusão – TCC do Curso ... Essa escolha foi

65    CONSIDERAÇÕES FINAIS  

A partir do trabalho trilhado ao longo desse último semestre da graduação,

pude descobrir mais sobre a minha forma de fotografar, de perceber os elementos

que me rodeiam e de criar. Passei por muitas fases, tive muitas ideias, fui e voltei

em grande parte delas, mudei o projeto e finalmente encontrei um tema que me

trouxesse satisfação e plenitude em meus objetivos como fotógrafa.  

O presente estudo me possibilitou grandes descobertas teóricas e práticas no

campo da fotografia e do cinema. Ao longo do trabalho, o projeto aplicado foi

tomando forma, ao mesmo tempo que foi se resinificando cada vez que me

aprofundava no tema. Muitos elementos que hoje considero importantes no trabalho

teórico, eu descobri e incorporei ao longo do estudo e da execução do texto como,

por exemplo, a narrativa que produzi para cada um dos ensaios, que começou como

um elemento secundário e acabou sendo uma importante parcela do projeto.  

Houve muitas dificuldades ao longo do percurso, como havia falado

anteriormente o tema foi mudado, o projeto foi mudado. Dificuldades em relação a

modelos, locações, recursos e tempo. A ideia inicial era de apresentar o trabalho de

outra forma, expor as fotografias em um formato que remetesse ao cinema,

acompanhadas da narrativa. Como o tempo e os recursos financeiros não eram

vastos, tive que me desapegar dessa ideia e partir para uma forma de apresentação

mais simplificada, que foi o caso do fotolivro. Pretendo dar continuidade ao projeto e

talvez, num futuro não muito distante conseguir colocar em prática uma exposição

interativa, com fotografias ampliadas em grandes formatos.

O primeiro ensaio, com o tema Noir, me possibilitou mais conhecimentos das

técnicas de iluminação dentro do estúdio, pude controlar melhor minha luz e saber

exatamente onde e como queria usá-la. Pude tambem fazer cenários exatamente

com todos os detalhes que pensei e construir a atmosfera desejada.

No segundo ensaio, sendo esse com o tema Surrealista, consegui construir a

atmosfera esperada mesmo sem a estrutura de um estudio, seja em termos de

iluminação ou de espaço. Vi que era possível obter uma iluminação com coisas que

se encontram dentro de uma casa, sem a necessidade de equipamentos de estudio.

Page 66: UNIVERSIDADE DE CAXIAS DO SUL CENTRO DE CIÊNCIAS DA ... · 2015 . 2" " ÍSIS LAROQUE CORNELLI ENSAIOS CINEMATOGRÁFICOS Trabalho de Conclusão – TCC do Curso ... Essa escolha foi

66    Pude exercitar tambem a criatividade na manipulação das imagens, pois o tema

Surrealista me proporcionou essa liberdade de criação.

No terceiro ensaio, calcado na estética Trash, consegui seguir utilizando uma

iluminação com elementos caseiros, mas que funcionaram bem. Mesclei iluminação

natural com iluminação artificial, e utilizei bastante programas de manipulação para

a finalização das imagens. A estética Trash, assim como a Surrealista, me

proporcionou bastante liberdade para manipulação das imagens, sem medo de soar

fake, pois afinal isso não era um problema dentro das características do subgênero

escolhido.

O ensaio final, que se encaixava dentro do gênero Drama, me possibilitou a

utilização da iluminaçao inteiramente natural, e vi que poderia criar muitos efeitos

utilizando somente a luz do sol como recurso. Pude explorar mais na busca de

locações, e não me prender somente a cenarios fechados.  

Cada ensaio me presenteou tambem, com descobertas singulares sobre mim

mesma, sobre o que eu podia ou não fazer. Vi que era possível ir além de somente

ter uma boa ideia, e me dei conta que conseguir de fato traduzir uma imagem que é

criada na mente para a forma de fotografia é algo que exige muito trabalho e que ao

mesmo tempo traz extrema realização pessoal.  

Page 67: UNIVERSIDADE DE CAXIAS DO SUL CENTRO DE CIÊNCIAS DA ... · 2015 . 2" " ÍSIS LAROQUE CORNELLI ENSAIOS CINEMATOGRÁFICOS Trabalho de Conclusão – TCC do Curso ... Essa escolha foi

67    REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS  

BERGAN, Ronald. Guia Ilustrado Zahar Cinema. Rio de Janeiro: Jorge Zahar Ed.,

2007

BERGAN, Ronald. Ismos: Para entender o cinema. São Paulo: Globo, 2010.

BUSSELLE, Michael. Tudo sobre Fotografia, 3.ed. São Paulo: Pioneira, 1977.

 

Comparato, Doc. Da Criação ao Roteiro: teoria e prática. São Paulo: Summus,

2009.

 

COSTA, Antonio. Compreender o Cinema – 3.ed. - São Paulo: Globo, 2003.

 

Distinção pelo “Mau Gosto” e Estética Trash: Quando Adorar o Lixo Confere Status. Disponível em <https://www.metodista.br/revistas/revistas-

ims/index.php/CSO/article/view/2136>. Acesso em 04. maio, 2015.  

 

FURASTÉ, Pedro Augusto. Normas técnicas para o trabalho científico: explicitação das normas da ABNT. – 15. ed. - Porto Alegre: s.n., 2009.

 

Gênero Dramático – parte I. Disponível em

<http://educaterra.terra.com.br/literatura/temadomes/2003/04/16/001.htm> Acesso

em 03 de junho de 2015  

 

NOGUEIRA, Luís. Manuais de Cinema I: Laboratorio de Guionismo. Covilhã: Livros 105 LabCom, 2010.  

NOGUEIRA, Luís. Manuais de Cinema II: Gêneros Cinematográficos. Covilhã:

Livros 105 LabCom, 2010.

 

Page 68: UNIVERSIDADE DE CAXIAS DO SUL CENTRO DE CIÊNCIAS DA ... · 2015 . 2" " ÍSIS LAROQUE CORNELLI ENSAIOS CINEMATOGRÁFICOS Trabalho de Conclusão – TCC do Curso ... Essa escolha foi

68    NOGUEIRA, Luís. Manuais de Cinema III: Planificação e Montagem. Covilhã:

Livros 105 LabCom, 2010.

 

NOGUEIRA, Luís. Manuais de Cinema IV: Cineastas. Covilhã: Livros 105

LabCom, 2010.

 

OSTROWER, Fayga. Criatividade e Processos de Criação. 29. Rio de Janeiro:

ed. Vozes, 2013.

Pareyson, Luigi. Estética: Teoria da Formatividade – Petropolis, RJ: Vozes, 1993.

DUARTE, Jorge, BARROS, Antonio – organizadores – Métodos e técnicas de

pesquisa em comunicação. São Paulo: Atlas, 2005.

 

SCHNEIDER, Steven Jay. 1001 Filmes para ver antes de morrer. Rio de Janeiro:

Sextante, 2010.

 

Trash – Que … é essa. Disponível em <http://janela.art.br/artigos/trash-que-e-

essa>  

Acesso em 07 de maio de 2015.

 

ZAMBONI, Sílvio. Pesquisa em Arte. - 4.ed. São Paulo: Autores Associados, 2012.

KEMP, Philip. Tudo sobre cinema. Rio de Janeiro: Sextante, 2011.

 

 

Page 69: UNIVERSIDADE DE CAXIAS DO SUL CENTRO DE CIÊNCIAS DA ... · 2015 . 2" " ÍSIS LAROQUE CORNELLI ENSAIOS CINEMATOGRÁFICOS Trabalho de Conclusão – TCC do Curso ... Essa escolha foi

69    REFERÊNCIAS FILMOGRÁFICAS

 

A Beira do Abismo. Direção: Howard Hawks. Produção: Howard Hawks. EUA:

Warner Bros, 1946, DVD.

 

Adaptação. Direção: Spike Jonze. Produção: Jonathan Demme, Vincent Landay e

Edward Saxon. EUA: Columbia Pictures, 2002, DVD.

 

Control. Direção: Anton Corbijn. Produção: Anton Corbijn, Todd Eckert, Orian

Williams, Iain Canning, Peter Heslop, Tony Wilson e Deborah Curtis. Reino Unido:

Momentum Pictures, 2007, DVD.

 

Crash– No limite. Direção: Paul Haggis. Produção: Cathy Schulman, Don Cheadle,

Bob Yari, Mark R. Harris, Bobby Moresco e Paul Haggis. EUA: Lionsgate, 2005,

DVD.

 

Ela. Direção: Spike Jonze. Produção: Megan Ellison, Spike Jonze e Vincent Landay.

EUA: Warner Bros, 2013, DVD.

 

Entreato. Direção: Rene Claire. Produção: Rene Claire. França, 1924, DVD.

 

O Falcão Maltes. Direção: John Huston. Produção: Hal B. Wallis. EUA: Warner

Bros,1941, DVD.

 

Pacto de Sangue. Direção: Billy Wilder. Produção: Billy Wilder. EUA: Warner Bros,

1944, DVD.

 

Plano 9 do Espaço Sideral. Direção: Edward D. Wood Jr. Produção: J. Edward

Reynolds. EUA: Distributors Corporation of America, 1959, DVD.

 

Quero ser John Malkovich. Direção: Spike Jonze. Produção: SteveGolin, Vincent

Landay, Sandy Stern e Michael Stipe. EUA: USA Films, 1999, DVD.

Page 70: UNIVERSIDADE DE CAXIAS DO SUL CENTRO DE CIÊNCIAS DA ... · 2015 . 2" " ÍSIS LAROQUE CORNELLI ENSAIOS CINEMATOGRÁFICOS Trabalho de Conclusão – TCC do Curso ... Essa escolha foi

70      

Taxi Driver. Direção: Martin Scorsese. Produção: Julia Phillips e Michael Phillips.

EUA: Columbia Pictures, 1976, DVD.

 

Trash - Náusea Total. Direção: Peter Jackson. Nova Zelândia, 1987, DVD.

 

Um Cão Andaluz. Direção: Luis Buñuel Salvador Dalí. Produção: Luis Buñuel

Salvador Dalí. França: 1929, DVD.

Viagem a Lua. Direção: Georges Méliès. Produção: Georges Méliès. França: Star,

1902, DVD.