NOVO PARADIGMA CIVILIZATÓRIO: ÉTICA E ECOLOGIA EM LEONARDO BOFF
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UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES PROJETO A VEZ DO MESTRE
PÓS-GRADUAÇÃO “LATO SENSU” CURSO DE PEDAGOGIA EMPRESARIAL
A GLOBALIZAÇÃO E O ADOECIMENTO NAS ORGANIZAÇÕES
Por MICHELE GOMES DE ARAÚJO
Orientadora CARLY MACHADO
Rio de Janeiro, 24 de julho de 2004.
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UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES PROJETO A VEZ DO MESTRE
PÓS-GRADUAÇÃO “LATO SENSU” CURSO DE PEDAGOGIA EMPRESARIAL
A GLOBALIZAÇÃO E O ADOECIMENTO NAS ORGANIZAÇÕES
Trabalho apresentado à Universidade Candido Mendes - Projeto A Vez do Mestre como requisito para obtenção do título de Pós-Graduada em Pedagogia Empresarial.
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UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES PROJETO A VEZ DO MESTRE
PÓS-GRADUAÇÃO “LATO SENSU” CURSO DE PEDAGOGIA EMPRESARIAL
A GLOBALIZAÇÃO E O ADOECIMENTO NAS ORGANIZAÇÕES
Dedico este trabalho ao meu marido, ao meu filho, à minha mãe e aos grandes amigos por acreditarem que eu conquistaria esta vitória
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Resumo:
Este trabalho monográfico propõe à análise do impacto da globalização e
o adoecimento das pessoas nas organizações. O trabalho fundamentou-se
na análise de três aspectos: a globalização – seus conceitos, objetivos,
vantagens e desvantagens, conseqüências e panoramas empresariais; os
efeitos psicossociais do indivíduo frente ao fenômeno da globalização; o
adoecimento psíquico e orgânico se constituindo em perdas.
Na conclusão se pretende apontar caminhos que possibilitem à
Pedagogia uma atuação mais eficaz dentro das organizações, como canal
de resgate e construção de saúde do indivíduo.
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SUMÁRIO
I- Introdução 07
II- A Globalização 10
III- Os Efeitos Psicossociais 15
IV- O Adoecimento 20
4.1. Contexto Histórico da Saúde nas Relações Capital-Trabalho
4.2. Contexto Atual
4.3. As Causas do Estresse
4.4. O Estresse e as Doenças
20
24
27
29
V- Conclusão 33
VI- Referências Bibliográficas 37
VII- Bibliografia Complementar 38
ANEXO 1
ANEXO 2
ANEXO 3
ANEXO 4
FICHA DE AVALIAÇÃO
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“ Primeiro faça o necessário, depois faça o
possível e de repente você vai perceber que pode fazer
o impossível”
(São Francisco de Assis)
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I- INTRODUÇÃO
O século XXI vem sendo anunciado como a era das transformações,
gerando a expectativa de um mundo igualitário, justo; contexto que deve
contemplar principalmente, melhor qualidade de vida para a sociedade.
No entanto, não é essa a realidade que se apresenta, visto que, a
sociedade permanece estagnada, retrógrada no perverso modelo de
distribuição de riqueza e posição social da era industrial iniciada no século
XX, e, ao esmo tempo, precisa se mostrar adequada aos critérios de
modernidade propostos pela globalização.
Desde a década de 80, do século XX, a globalização é tema constante
nas páginas de jornais, revistas, televisão e vem ocupando
progressivamente um lugar de destaque no mundo corporativo, sob o
argumento de unificar as nações e torná-las mais produtivas e eficazes.
A partir de atributos como velocidade, informação, tecnologia e
mudanças, propõe um mundo que deve contemplar tudo em toda parte, todo
o tempo, ou seja, um mundo de um único mercado e global.
Esta concepção vem exigindo trabalhadores cada vez mais velozes, mais
competitivos e principalmente, com muita capacidade para se adaptar às
mudanças impostas.
A sociedade globalizada, que de um lado, preconiza a totalidade, a
integração e igualdade, de outro, paradoxalmente fragmenta o indivíduo, à
medida que lhe nega a singularidade, impondo padrões e modelos de
produção, submetendo-o a mudanças tão velozes, sem que haja tempo
suficiente de assimilá-las, pois há sempre algo novo surgindo.
A vivência de tal processo pode desencadear a perda ou obstrução de
uma parte do referencial básico de valores, crenças e aprendizados do
sujeito. A partir dessa obstrução, o indivíduo pode se fragmentar e ter como
conseqüências perdas na sua estruturação psíquica, afetando o
entendimento mental e afetivo sobre si mesmo e sobre tudo que lhe cerca.
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Contingências que, em última instância, podem provocar o adoecimento a
partir da não-adptação à submissão das regras de competitividade,
informação, velocidade e tecnologia que as organizações ditam sob o
pretexto de sobrevivência e adequação ao mundo global.
O adoecimento das pessoas dentro das organizações tem sido tema
constante e proeminente nos tempos modernos preconizados pela
economia global. Atualmente, já há um grande número de empresas que
disponibilizam aos seus funcionários, programas de qualidade de vida, por
exemplo, com vistas à problemática das doenças no trabalho.
Em proporções cada vez maiores, o mercado de trabalho vem exigindo
indivíduos competitivos, velozmente adaptáveis às mudanças e bem
informados, intelectual e tecnologicamente, como condição “sine-qua-non”
de permanência e manutenção do emprego.
Trata-se de um contexto de insegurança, em tempo integral, porque
requer do indivíduo, um estado de alerta constante, pois a qualquer
momento sua capacidade produtiva pode ser superada e substituída por um
outro considerado mais capaz. Dessa forma desencadeia-se um processo
de estresse que pode ser a principal fonte causadora do adoecimento no
trabalho.
Ao trabalhar no mercado educacional por dez anos, foi possível observar
quanto o excesso de competitividade; a pressão por resultados imediatos e
a interminável adaptação às mudanças, podem fragmentar, polarizar o
indivíduo, inferindo-lhe comprometimentos psicofísicos, ocasionando
interferências e seqüelas na sua condição produtiva.
A partir desta experiência, nasce desejo, a motivação para pesquisar as
razões pelas quais, as promessas de um mundo novo pode estar
negligenciando a saúde do indivíduo, estudar maneiras de participar do
resgate da saúde dentro das organizações.
Pretende-se com esta experiência pesquisar se os preceitos da
globalização, e principalmente o binômio: mudanças e a velocidade com que
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elas ocorrem, podem contribuir no processo de adoecimento das pessoas
no trabalho.
Para que esse objetivo seja passível de uma compreensão amplificada,
acreditamos n necessidade de analisar três aspectos que fundamentam este
tema.
A globalização – seus conceitos, objetivos, vantagens e desvantagens,
conseqüências e panoramas empresariais que será abordada no primeiro
capítulo.
O segundo capítulo, vai estar evidenciando os efeitos psicossociais do
indivíduo frente ao fenômeno da globalização, pontuando sobre os aspectos
da afetividade, das inter-relações dentro do modelo global de trabalho.
O adoecimento que pode se dar dentro deste contexto, partindo do
psíquico que evolui para o orgânico, constituindo-se em perdas como
resultado final, será discutido no capítulo três. Toda fundamentação teórica
deste estudo calcada numa atualização bibliográfica sistêmica e pesquisa
qualitativa.
A conclusão deste estudo pretende apontar caminhos que possibilitem o
resgate de uma atuação mais eficaz da pedagogia dentro das organizações.
Acreditamos que ao transformar a organização num canal de construção
de saúde psíquica, tem-se a possibilidade de maior abrangência de
resultados; que do individual vai refletir no coletivo, permitindo organizações
mais saudáveis e conseqüentemente uma sociedade mais saudável, mais
igualitária, mais integrada que “a priori”, são conceitos contemplados pela
globalização.
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II- A GLOBALIZAÇÃO
De acordo Cardoso (in Gentilli, 2002), o adjetivo global surgiu no começo
dos anos 80 nas grandes escolas americanas de administração de empresas e
foi propagado por consultores de estratégia e marketing formado nessas
escolas. Através da imprensa econômica e financeira norte-americana, o termo
“globalização” gradativamente invadiu o discurso político-econômico das
grandes nações e atualmente muito se fala de globalização. Tornou-se um
termo comumente utilizado, inclusive como parâmetro para justificar e/ou
explicar fenômenos da modernidade.
Apesar de tanto se falar da globalização, poucos sabem o que ela de fato
é e o que representa. A noção de globalidade nos remete a conjunto,
integralidade, totalidade. A palavra global tem esse mesmo sentido de conjunto,
inteiro, total, o equivalente à integração. Sob esse pressuposto, o uso do termo
“global” supõe que o objeto ao qual ele é aplicado é ou tende a ser integral, sem
quebras ou hiatos. Portanto, “globalizar” sugere o oposto de dividir,
marginalizar, expulsar, excluir.
Therborn (in Gentilli, 2002) afirma que, dentro do contexto vivenciado na
prática, a globalização pode ser de dois tipos diferentes, o de interação global e
o de sistema global.
A interação global é fundamentada nos atores subglobais, gerados e
enraizados fora da globalidade, onde, por exemplo, nos processos de
racionalização, superatores dominantes impõe sua vontade sobre um número
de atores menos poderosos. O outro tipo de globalização deriva da existência
de um sistema global através do qual os atores obtém seu roteiro e sua
localização no palco, e aqui neste caso existem processos sociais comuns
universais, em que os atores humanos tomam parte, sejam eles Estados,
corporações, ou outras organizações / indivíduos.
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“Tanto a interação como sistema, a globalização deveria estar liberta de
qualquer reducionismo econômico, tendo em perfeita conta a
multidimensionalidade dos fenômenos sociais”. (Therbon in Gentilli; 2002, p.65).
A partir do contexto da desigualdade, ambos tipos de globalização
suscitam a indagação: - Igualdade para quem?; Igualdade de quê?
O modelo econômico-produtivo calcado no capitalismo sempre promoveu
a desigualdade, mas “o capitalismo mundializado continua a reproduzir, a uma
escala maior, a desigualdade e heterogeneidade.
Ainda, segundo Cardoso (in Gentilli, 2002), globalizar implica na ideologia
do pensamento único, o decreto de que somente uma política econômica é
possível e que somente com competitividade, produtividade, livre-troca e
rentabilidade é possível à sobrevivência de uma sociedade que se tornou uma
selva concorrecional. Mas neste novo mundo sem fronteiras, o consumidor
também têm ganhos, pois finalmente tem liberdade para comprar os produtos
que quiser, com melhor qualidade e menor preço. Esta é a modernidade que
inevitavelmente requer nossa veloz adaptação em detrimento de sermos
ignorados e marginalizados pelo crescimento econômico que somente a
globalização pode propiciar.
O fenômeno da globalização parece fundamentado pelo dito
“neoliberalismo” – uma nova versão do liberalismo clássico, onde os tradicionais
princípios de liberdade, justiça e democracia se realizavam através da livre
expansão da economia.
Convencionou-se sobre o peso das transnacionais, a crença de que o
mercado é o elemento de salvação humana, de maneira que neoliberalismo
parece confundir-se com a globalização.
Essa ideologia conjuga interesse de grandes bancos, de transnacionais e
de algumas nações ou bloco, em plano mundial.
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A “acepção dominante de globalização é, pois, uma
ideologia. Expressa posições e interesses de forças econômicas
extremamente poderosas e vem comandando intensa luta ideológica –
luta essa que passa pela mídia e pela universidade – para tornar-se
dominante mundo a fora”. (Cardoso in Gentilli; 2002, p.98).
O que se pode perceber ao longo da história é que a reestruturação do
capitalismo mundial é um fenômeno simultaneamente político e econômico e
que, portanto se “a globalização é uma obra material dos mercados, sua
verdadeira direção e significado vêm sendo dados pelas opções político-
ideológicas de algumas poucas potências mundiais”. (Fiori; 1997,p.10)
O papel do estado na nova conformação mundial vem sendo amplamente
questionado. O economista francês (François Chesnais; 1997, p.4) prevê um
encolhimento do Estado e de seu âmbito de atuação em favor da regulação
através das forças de mercado – o que já pode ser assistido na área
econômica, incidindo, conseqüentemente para as políticas sociais.
A diminuição dos poderes do Estado nos dirige portanto, para o
crescimento da influência de mecanismos econômicos na determinação de
políticas sociais. Portanto, a globalização necessita dessa redistribuição de
poderes entre organizações e Estados.
Para ditar as regras do novo quadro político, as corporações
precisam exercer uma influência através dos governos nacionais que
detém o poder sobre os processos que, de acordo com seu
direcionamento, podem tanto dificultar como facilitar o estabelecimento
das condições necessárias à expansão mundial do capitalismo.
Enquanto a grande indústria fordista necessitava do keynesianismo, a
indústria da produção flexível necessita da liberdade de mercado e da abolição
dos controles do estado sobre as condições de uso da força de trabalho.
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Pensando de forma sucinta, conclui-se que a globalização expressa uma
nova onda de expansão do capitalismo, como forma de produção e processo
civilizatório.
A partir de uma análise econômica, pode-se dizer que “o fim do
comunismo permitiu de fato globalizar o capitalismo e que implicou num
aumento no fluxo do comércio, de informações e de expansão das empresas
multinacionais para mercados antes fechados”. (Folha de São Paulo,
1997b,p.2).
O que se apresenta de forma relevante neste fenômeno é a
interdependência crescente entre países e mercados. Esse processo é
facilmente percebido na redistribuição do poder entre Estados e mecanismos
reguladores de mercado; no “efeito dominó” das oscilações das bolsas de
valores em escala mundial; nas mudanças nas relações de trabalho; na
tendência crescente à consolidação de blocos econômicos e áreas de libre
comércio com planificação de tarifas alfandegárias e, em última instância, de
políticas econômicas, visando, como resultado a criação de moedas comuns
entre as nações integrantes de cada grupo.
Essas mudanças se relacionam intimamente à questão da distribuição da
riqueza e de renda, que vem ganhando destaque nos últimos anos, no entanto,
por motivos pouco nobres:
(...) o total de ativos das três pessoas mais ricas do mundo se equivale ao
PIB dos 48 países mais pobres do planeta.(Conforme Washington Novaes em
entrevista no programa “Conexão Dávila”)
(...) dos cerca 180 países existentes no mundo, aproximadamente 100
deles recebem em conjunto, algo em torno de 1% do investimento direto
estrangeiro.
O que sinaliza o “gap” cada vez maior que separa os países ricos dos
países pobres do globo.
(...) do ponto de vista social, a globalização tem sido parceria de um
gigantesco aumento da polarização entre países e classes do ponto de vista da
distribuição da riqueza, da renda e do emprego. (Fiori, 197,p.11-12)
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Números ainda mais assustadores são citados pela ONU, em seu relatório
sobre o desenvolvimento humano, editados em 1997. A concentração de renda
chegou a um ponto de o patrimônio conjunto dos raros 447 bilionários que há
no mundo ser equivalente à renda somada da metade mais pobre da população
mundial, cerca de 2,8 bilhões de pessoas.
Em virtude desta abertura dos mercados à participação internacional, os
parâmetros de avaliação das organizações se modificaram, impondo a
satisfação de novos requisitos que possibilitem a permanência e consolidação
das mesmas no novo quadro da economia global.
Sob a ideologia do desenvolvimento, acenava-se com a
esperança do progresso. Sob a ideologia da globalização
parece que se ameaça com a degradação à condição de
pobreza, caso o país não se adapte e não se integre à
comunidade mundial dentro dos padrões propostos para essa
integração. (Cardoso, in Gentili; 2002; p.118).
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III – OS EFEITOS PSICOSSOCIAIS
Ao tratarmos das organizações, o quadro acima se traduz em novas
exigências para sustentação das empresas frente a um mercado continuamente
mais competitivo.
A partir desta necessidade surge a “reestruturação produtiva”, que
fundamentalmente e exige do trabalhador a inserção numa nova “cultura
organizacional”.
“Deseja-se, basicamente, que o trabalhador tenha, iniciativa, seja criativo
e responsável, saiba resolver problemas, trabalhar em equipe, lidar bem com as
constantes inovações tecnológicas e que seja portador de alta capacidade de
abstração que o predisponha a constante aprendizagem (...)” (Zibas, 1997, p.
123).
Em resumo, tem-se a idéia e a exigência de um trabalhador polivalente,
participativo e flexível.
E falar de flexibilidade, implica no ajustamento, na capacidade do
trabalhador atender as demandas de mercado, em última instância, são do
capital.
A partir desse “ajustamento” como pré-requisito da submissão ao modelo
global de produção, de trabalho, o que pode ser vislumbrado é uma crescente
população alienada dentro desse processo, disputando um espaço, ainda que
mínimo, para exercer a tão necessária competitividade como meio de
sobrevivência a tanta perversão.
O território organizacional quase sempre não é percebido como espaço
neutro, pois contém elementos técnicos, ergonômicos, mas tem também um
significado psicossocial em termos de status, relacionamento, comunicação,
poder relativo, autonomia. Daí a importância da família e das interelações do
indivíduo, como fatores que normalmente contribuem de forma positiva e
agregadora para produtividade.
16
E apesar da globalização negar o aspecto espiritual e afetivo dentro das
organizações, o racional e o emocional invariavelmente se encontram.
E ainda que, a cultura global faça uso da competição para massacrar o
afeto, mesmo assim, ele se mantém de alguma forma dentro das organizações,
visto que as emoções são consideradas fundamentais para o processo
produtivo do indivíduo, aliás, a teoria da inteligência emocional, teve e ainda
tem, muita repercussão no meio empresarial.
A ciência moderna reconhece as diferenças individuais como
componentes reais do comportamento humano. Se esta é a realidade, como
pensar em desempenhos uniformes no trabalho dentro da empresa?
Muito se tem apregoado sobre a importância de recursos humanos
qualificados para a empresa competitiva e apesar de discursos e mais
discursos sobre a otimização de recurso, tecnologia de qualidade, conceitos e
técnicas de gerências do capital humano, este ainda não é gerido, nem
aproveitado total e adequadamente.
Através dos trabalhos de Fela Moscovici, tem-se a oportunidade de
constatar que, a gestão, tanto do capital intelectual, quanto do capital
emocional, ainda carece de maior compreensão e de habilidades específicas.
De acordo (Moscovici; 2001, p. 107)
“as emoções e sentimentos ainda não ignoradas ou
menosprezadas como se fossem variáveis menos importantes
e menos decisivas da dinâmica da organização. Quase sempre
emoções e sentimento precisam ficar de fora das atividades
produtivas”.
Moscovici defende ainda que, se o capital emocional é abandonado à
sua sorte, pose acontecer o mesmo que com o capital financeiro mal gerido:
não rende, diminui, esgota-se, gera dívidas, inadimplência, falência. A gestão
competente do emocional contribui para a saúde do indivíduo e da organização,
criando condições favoráveis ao relacionamento e ao trabalho produtivo.
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A gestão adequada do capital emocional completa e integra a do capital
intelectual, criando condições favoráveis ao crescimento pessoal e coletivo e ao
estabelecimento de um clima sadio de trabalho, colaboração e sinergia de
esforços.
Partindo do pressuposto de que o homem é um ser gregário é natural
concebê-lo como um ser globalizante.
Os homens sempre procuraram globalizar seus
conhecimentos. Primeiro, por meio da descoberta, da
exploração e da cartografia de todo planeta. Depois, com
grandes viagens. Com armas e mercadorias, tentou conquistar-
se as regiões recém descobertas do mundo. Depois as
conquistas se deram por meio dos capitais e das idéias. A
igreja as fez com os missionários. A CNN as faz por meio de
sua rede de televisão. E o Brasil, por suas novelas.
A globalização política passou à econômica e agora está se
tornando psicológica. Tem-se dados desconcertantes: 32
milhões de pessoas por hora consomem coca-cola, 18 milhões
de pessoas consomem por hora um hambúrguer do
McDonalds. Somos globalizados em tudo. Não só a economia
foi globalizada. Nossa personalidade e nossos sentidos
também. Vemos em qualquer lugar os mesmos filmes.
Ouvimos em qualquer lugar a mesma música. Todos os
aeroportos do mundo têm o mesmo cheiro. Vivemos em uma
globalização psicológica, que, de um lado, transforma o mundo
numa grande vizinhança e mescla as experiências, mas, de
outro, aniquila as diferenças “.
A idéia do “homem sem fronteiras” que a globalização propaga, é, na
realidade, uma perspectiva essencialmente consumista. A sociedade moderna
engaja seus membros pela condição de consumidores.
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A maneira como a sociedade atual molda seus membros, é
ditada primeiro e acima de tudo pelo dever de desempenhar o
papel de consumidor. A norma que a nossa sociedade coloca
para seus membros é a da capacidade e vontade de
desempenhar esse papel. (Bauman; 1999, p.88).
Teoricamente todos podem desejar ser um consumidor e aproveitar as
vantagens oferecidas por esse modo de vida. Mas não basta desejar, nem
todos podem ser um consumidor. Estamos fadados á vida de opções, mas não
são todos que tem os meios de serem optantes.
Como todas as outras sociedades, a sociedade pós-moderna
de consumo é uma sociedade estratificada. Mas é possível
distinguir um tipo de sociedade do outro, pela extensão ao
longo da qual ela estratifica seus membros. A extensão ao
longo da qual os de “classe alta” e os de “classe baixa” se
situa, numa sociedade de consumo é o grau de mobilidade –
sua liberdade de escolher onde estar. (Bauman; 1999, p.94)
A ideologia do consumo se tornou um atributo de igualdade, de inclusão.
São nos balcões dos “fast-food”, por exemplo, que ao comerem o mesmo
hambúrguer, que as crianças pobres igualam-se às ricas. E é esse modelo, que
a mídia perversamente reforça e reproduz, apontando o “hambúrguer” como
importante requisito igualitário, inclusivo, ao invés da educação. Do lugar de
consumista, o indivíduo passou a ser consumido.
Segundo Seabrook (in Bauman; 1999, p. 104)
Os pobres não habitam uma cultura separada dos ricos, eles
têm que viver no mesmo mundo ideado em benefício dos que
têm dinheiro. E sua pobreza é agravada pelo crescimento
econômico, assim como é intensificada pela recessão e o não
crescimento.
19
A recessão significa mais pobreza e menos recursos; já o crescimento,
por sua vez, implica na frenética exibição de maravilhas de consumo,
prenunciando um abismo ainda maior entre o desejado e o real.
Não estamos com isso, sugerindo a extinção do consumo, nem tão pouco
a estagnação das “novas invenções” e “novas maravilhas”, a criatividade e a
evolução sempre andaram juntas.
A reflexão que se propõe é de que “os fascínios do consumismo moderno”
possam ser concebidos a partir de um indivíduo imbuído de juízo crítico; de
discernimento dos valores internos e externos que determinam a sua conduta,
suas crenças e sua capacidade de escolher o que bom e o que é ruim para o
seu crescimento e desenvolvimento, enquanto mais uma pessoa integrante da
sociedade. Uma realidade que somente é possível através da educação.
Acreditamos na importância do homem sem fronteiras, no entanto, é
imprescindível que ele seja sem fronteiras em si e por si mesmo.
20
IV – O ADOECIMENTO
4.1. – Contexto Histórico da saúde nas Relações Capital-
Trabalho
Antes de falarmos sobre o adoecimento nas organizações do séc. XX e
início do séc. XXI, é necessário recordar-se o contexto histórico do
desenvolvimento das organizações, da história dos operários, do movimento
operário e a correlação de forças entre trabalhadores, patrões e Estado, para
entender como se dão às relações entre o trabalho e a vida psíquica.
Para Dejours, a evolução das condições de vida e de trabalho e, portanto,
de saúde dos trabalhadores não pode ser dissociada do desenvolvimento das
lutas e das reivindicações operárias em geral. Assim, pode-se falar de uma
história de saúde dos trabalhadores.
Falar de saúde é sempre difícil. Evocar o sofrimento e a
doença pe, em contrapartida, mais fácil: todo mundo o faz. ...
Aquilo que, no afrontamento do homem com a sua tarefa, põe
em perigo sua vida mental. (Dejours; 1992, p. 11)
O século XIX é caracterizado por grandes transformações sócio-
econômicas e demográficas. A instalação do capitalismo industrial incentivou o
êxodo rural e a migração das pessoas do campo para as cidades, causando o
começo da concentração das populações urbanas, além do crescimento da
produção.
Neste período da história, trabalhava-se dezesseis horas por dia,
empregava-se crianças na produção industrial. Os salários eram muito baixos e
insuficientes para assegurar o estritamente necessário. Períodos de
desemprego punham em perigo a sobrevivência da família. A moradia, na maior
parte das vezes, constituía-se em um pardieiro. Havia falta de higiene, e, por
21
outro lado, constatava-se promiscuidade, esgotamento físico, acidentes de
trabalho, subalimentação, enfim, condições de vida e trabalho verdadeiramente
precárias, quase sub-humanas. Fome, miséria criavam condições favoráveis ao
desenvolvimento da delinqüência, do banditismo, da violência e da prostituição.
A mortalidade crescia em razão inversa ao bem estar.
Diante deste quadro da classe operária, não se podia falar em saúde, mas
sim na luta pela sobrevivência: “viver, para o operário, é não morrer”.
A burguesia temendo perder o seu lugar, sua imagem de cunho
humanista, e temendo o esfacelamento das famílias operárias necessárias à
produção e manutenção de seu “status-quo”, recorre à autoridade da ciência
visando manter a ordem moral e social nas aglomerações operárias. Surgem
três correntes para tratar deste cenário: o movimento higienista, o movimento
das ciências morais e políticas e o movimento dos grandes alienistas, onde os
médicos ocupavam uma posição de destaque criando a idéia do “Trabalho
Social”.
Considerando-se que a solidariedade operária vai desenvolvendo-se e
ganhando corpo em movimentos reivindicatórios organizados, que
posteriormente vão constituindo-se em organizações sindicais, federações e até
mesmo em partidos políticos, o Estado é cada vez mais chamado a intervir nos
conflitos entre o patrão e empregado. O Estado acaba tornando-se uma espécie
de árbitro, no entanto, na maior parte das vezes, em defesa dos atentados à
prioridade privada, ou seja, em nome dos patrões.
Assim, é fácil compreender que as reivindicações operárias desta época
estão muito relacionadas à luta pelo direito à vida, à sobrevivência. Lutas em
favor de idades máxima e mínima para se trabalhar; proteção às mulheres;
trabalho noturno; regulamentação de trabalhos sem segurança, perigosos e
penosos; repouso semanal; marcarão período da história, sendo a mais famosa
reivindicação que marcou todo século: a redução da duração da jornada de
trabalho. Em síntese, o século XIX caracteriza-se pela luta pela sobrevivência.
Já o que vem caracterizar o período da Primeira guerra Mundial até
meados de 1968 é a luta pela saúde do corpo.
22
Dejours afirma que a partir desta época o movimento operário avançou
tomando a dimensão de uma força política crescente no tabuleiro de xadrez das
relações de poder. Se no século XIX a questão central era a luta pela
sobrevivência, nesta fase a questão desloca-se para a proteção à saúde, onde
o corpo é a preocupação dominante. Salvar o corpo de acidentes, prevenir
doenças profissionais, intoxicações por produtos industrias, disponibilizar
cuidados e tratamentos convenientes, usufruídos até então somente pelas
classes mais abastadas, são os eixos das lutas neste momento.
A guerra causa mudanças radicais nas relações de trabalho: salto
qualitativo na produção industrial, esforço de produção para atender às
necessidades da própria guerra, redução da jornada nas indústrias de
armamento, desfalque da população devido às baixas da guerra, esforços de
reconstrução, reinserção dos inválidos na linha de produção.
A introdução do taylorismo e sua forma de organização científica de
divisão do trabalho em linhas de produção, trazem novas questões relacionadas
à submissão e disciplina do corpo submetido a performances de tempo e ritmos
de trabalho completamente desconhecidos, conseqüentemente apresentando
exigências fisiológicas também desconhecidas.
Ao separar o trabalho intelectual do manual, o sistema Taylor neutraliza a
atividade mental dos operários. Porém, não é o aparelho mental que aparece
como primeira vítima do sistema, mas sim o corpo dócil entregue à exploração
do trabalho e sem a proteção da mente.
A partir de 1944, o movimento operário continua a buscar a melhoria das
condições de vida (duração do trabalho, férias, aposentadorias, salários),
porém, destacam-se as reivindicações referentes à saúde, principalmente do
corpo. Prevenção de acidentes, luta contra doenças, direito a cuidados médicos
continuam sendo o centro das atenções.
Assim, a luta pela sobrevivência deu lugar à luta pela saúde do corpo.
23
...Miséria operária, luta pela sobrevivência, redução da jornada de
trabalho, corrente da ciências morais e políticas, corrente higienista e
corrente alienista, deram lugar, respectivamente, ao corpo doente, à luta
pela saúde, à melhoria pelas condições de trabalho, e à corrente
contemporânea da medicina do trabalho, da fisiologia do trabalho e da
ergonomia. (Dejours; 1992, p.22)
Apesar da complexidade do tema, é a partir de 1968, que se iniciam
reflexões e ações em prol da saúde mental dos trabalhadores.
O esgotamento do sistema Taylor, greves, paralisações de produção,
operações padrão, desperdício, absenteísmo, rotatividade, sabotagem levam a
sociedade procurar alternativas.
Quanto ao controle social, este sistema organizacional também já não
garante sua superioridade e na questão da ideologia o sistema Taylor é
denunciado como desumanizante e acusado de todos os vícios, tanto pelos
operários quanto pelo patrões. Discussões sobre o objetivo do trabalho e a
relação homem-tarefa acentua a dimensão mental do trabalho industrial.
Trabalhos administrativos de escritório, funções que necessitam de pouca carga
física para o seu desenvolvimento e o crescimento do setor terciário contribuem
para um aumento na carga de tarefas intelectuais, gerando a preocupação com
a questão da saúde mental dos trabalhadores.
Pode-se dizer que a “crise da civilização” de 68 trouxe à tona
questionamentos contra a sociedade de consumo e a alienação do homem.
Questionou também a desilusão do pós-guerra centrada na capacidade da
sociedade industrial em trazer a felicidade. As drogas e as toxicomanias
denunciam uma nova busca do prazer de viver, intrinsecamente relacionada à
questão da saúde mental.
O mês de maio de 1968 é um marco nas relações trabalhistas, a partir do
qual o patronato reconhece a necessidade de considerar as reivindicações
qualitativas da classe trabalhista.
24
Dessa forma, enquanto a luta pela sobrevivência condenava a duração
excessiva do trabalho, e a luta pela saúde do corpo buscava melhoria das
condições de trabalho referentes ao ambiente físico, a luta pela saúde metal
está relacionada à organização do trabalho. Incluem-se aqui fatores como:
divisão do trabalho, o conteúdo das tarefas, o sistema hierárquico, as
modalidades de comando, as relações de poder, as questões de
responsabilidade, por exemplo. Questões que levam ao confronto entre a
vontade e o desejo dos trabalhadores e o comando do patrão e que permeiam
toda a organização do trabalho.
4.2. Contexto Atual
A partir desta breve contextualização sobre a saúde do trabalhador dentro
das organizações ao longo da história, abre-se espaço para um estudo
amplificado sobre os processos de adoecimento, inerentes ao meio
organizacional da atualidade.
Ao se falar em Medicina do Trabalho, são os riscos ambientais, tais como:
físicos, químicos e biológicos que são apontados na sua constituição. Seriam
exclusivamente estes, os riscos aos quais os trabalhadores estariam
submetidos no desempenho de suas funções?
Também sabemos, que em Medicina do trabalho há o reconhecimento de
situações e diagnósticos do âmbito mental, ou seja, a existência do aspecto
psíquico como integrante na constatação de adoecimentos (psico e somático) a
partir do trabalho.
Enquanto especificidades físicas (calor, frio, ruído, etc.), químicas (gases,
vapores, produtos químicos, etc.) e biológicas (vírus, bactérias, fungos, etc.)
são reconhecidas como riscos, a especificidade psíquica, a existência de climas
emocionais já são consideradas, embora com controvérsias.
25
As exigências que o modelo econômico faz para o indivíduo sobreviver
enquanto trabalhadores deflagram, uma outra condição que é a do estresse, ou
seja, não bastando a condição de submissão e alienação impostas pela
modernidade corporativa, tem-se uma conseqüência ainda mais danosa, o
estresse como principal fator de adoecimento.
O estresse está na ordem do dia (tanto quanto a globalização). O ritmo, a
velocidade dos acontecimento, mudanças e informações chegaram num nível
tal, em que as pessoas vivem correndo “alucinadas”, sem tempo para elas, sem
tempo para ninguém. A sociedade vive estressada. O estresse se tornou um
fato comum.
O ser humano vivencia o estresse a partir de três fontes básicas: o meio
ambiente, o corpo e os pensamentos. O meio ambiente exige do homem sua
adaptação. É preciso suportar mudanças de temperatura, barulho, excesso de
pessoas, exigências interpessoais, pressões relacionadas a prazos, padrões de
desempenho e diversas ameaças à sua segurança e auto-estima.
A segunda fonte de estresse é fisiológica. O rápido crescimento durante a
adolescência, a menopausa para as mulheres, o envelhecimento, doenças,
acidentes, falta de exercício, nutrição deficiente e distúrbios do sono são
experiências que sobrecarregam o corpo. A reação às ameaças e mudanças
ambientais também provoca mudanças corporais que, em si mesmas, são
estressantes.
A terceira fonte do estresse são os pensamentos. O cérebro humano
interpreta e traduz mudanças complexas no ambiente e determina quando o
botão do pânico deve ser pressionado. A maneira do indivíduo interpretar,
perceber e rotular suas experiência atuais e futuras pode deixa-lo relaxado ou
estressado.
A base do moderno significado da palavra estresse como problema
psicológico foi estabelecida na virada do século, por Walter B. Cannon, um
filósofo da Universidade de Harvard. Ele foi o primeiro a descrever a “resposta
lutar ou fugir” como um conjunto de mudanças bioquímicas que nos preparam
para lidar com as ameaças. O homem primitivo precisava de rápidas descargas
26
de energia para lutar ou fugir dos seus predadores. Atualmente quando os
hábitos sociais nos impedem de lutar ou fugir, o estresse desencadeia uma
resposta mobilizadora que não tem mais utilidade. Na verdade, uma resposta
lutar ou fugir crônica pode ser bastante prejudicial, física e emocionalmente.
Hans Selye, o primeiro importante pesquisador do estresse, consegui
descrever com exatidão o que acontece em nosso corpo durante a resposta
lutar ou fugir. Ele descobriu que qualquer problema, imaginário ou real, pode
fazer com que o córtex cerebral envie um sinal de alarme ao hipotálamo – que é
o principal gatilho para a resposta de estresse. O hipotálamo estimula o
Sistema Nervoso Simpático a realizar um série de mudanças em nosso corpo.
A freqüência cardíaca, o volume de sangue e a pressão sanguínea aumentam.
Começamos a transpirar. As mãos e os pés ficam frios, enquanto o sangue é
desviado das extremidades e do sistema digestivo para músculos maiores que
podem nos ajudar a lutar ou fugir. O diafragma e o ânus se contraem. As
pupilas se dilatam para aguçar a visão e a audição fica mais aguçada.
Juntamente com todas essas modificações, as glândulas adrenais
começam a secretar corticóides (adrenalina, epinefrina, norepinefrina) que
inibem a digestão, a reprodução, o crescimento, a renovação dos tecidos e as
reações imunológicas e antiinflamatórias. Em outras palavras, algumas funções
muito importantes, que nos fazem sentir saudáveis e fortes, começam a
paralisar.
O mesmo mecanismo que desencadeou a resposta de estresse pode
elimina-la. Assim que decidimos que uma situação não é mais perigosa, o
cérebro pára de enviar sinais de emergência para o tronco cerebral que, por
sua vez, pára de enviar mensagens de pânico para o sistema nervoso. Os
hormônios e as substâncias químicas que levam o corpo a um estado de alerta
são rapidamente metabolizados. Três minutos depois de pararmos de enviar
mensagens de perigo ao corpo, a resposta lutar ou fugir se extingues e
retornamos ao estado normal. Infelizmente, se a mensagem para eliminar a
resposta lutar ou fugir não ocorrer e se as mudanças bioquímicas e hormonais
27
que acontecem durante a resposta lutar ou fugir continuarem, pode resultar o
estresse crônico.
Outro ponto relevante é a distinção entre os estresse “bom” e o estresse
“ruim”, mencionada por vários autores. De acordo com França e Rodrigues
(1977), eustresse é a quantidade de estresse que melhora o desempenho do
indivíduo, enquanto o distresse é o excesso ou insuficiência deste estado, que
paralisa o sujeito ou o leva a ter respostas inadequadas. A doença seria uma
resposta de distresse.
4.3 – As Causas do Estresse
O que é o ESTRESSE:
“Conjunto de reações do organismo, a
agressões de ordem física, psíquica,
infecciosa, e outras, capazes de perturbar-lhe
o equilíbrio.”
As causas do estresse são muito variadas e possuem efeito cumulativo.
As exigências físicas ou mentais exageradas provocam “stress”, mas este pode
incidir mais fortemente naqueles trabalhadores já afetados por outros fatores,
como conflitos com a chefia ou até um problema doméstico. Vamos examinar
algumas dessas principais causas:
• Emocionais: ansiedade, depressão, histeria e outros;
• Comportamentais: alcoolismo, tabagismo excessivo, dependência de drogas,
aumento do absenteísmo e, em casos extremos, o suicídio;
28
• Fisiológicas: Alterações hormonais e bioquímicas que provocam taquicardia,
sudorese, hipertensão arterial, aumento de lipídios sangüíneos, dentre outras.
- Sobrecarga quantitativa: muita coisa para fazer em pouco tempo;
- Carga qualitativa inferior às possibilidades: atividades pouco estimulantes ou
desafiadoras, que não exigem criatividade, monótonas ou repetitivas;
- Conflitos de papéis e responsabilidades;
- Falta de controle sobre as tarefas: como, onde, tempo e ritmo para executar
tarefas;
- Falta de apoio social de chefias, colegas de trabalho e outras pessoas;
- Estressores físicos (Ergonômicos): barulho, calor e frio extremos, iluminação
deficiente ou excessiva, odores incômodos, trânsito e outros; conforto humano
deve ser sempre considerado (conforto térmico, acústico, horas trabalhadas
ininterruptamente, exigência física, postural ou sensorioperceptiva).
- Estressores específicos do trabalho: tecnologia de produção em massa,
processos de trabalho altamente automatizados e trabalho em turnos;
- Alterações do Sono: atraso do sono por horários de trabalho, viagens e
variações do ritmo das atividades sociais podem ocasionar insônia e
conseqüentemente acidentes, irritabilidade, desinteresse, levando ao
estresse.
- Mudanças Determinadas pela Empresa: adaptação a novas chefias ou fusões;
as pessoas passarão por momentos de ansiedade gerados por mudanças,
mas devem ter em mente que, embora algo esteja sendo “desmontado” ou
algum colega possa perder posição, elas continuarão sendo o mesmo
profissional, com os mesmos conhecimentos e a Empresa vai saber utilizá-los
da melhor forma.
29
- Mudanças determinadas por novas tecnologias: o estresse vai variar de
acordo com as disposições pessoais (instabilidade afetiva, ansiedade) e de
acordo com o tipo de nova tecnologia a ser implantada (ideologias diferentes
das anteriores).
- Mudanças devidas ao Mercado: processos de ansiedade que aparecem antes
de qualquer mudança. “Sofrer antecipadamente”.
- Mudanças Auto-impostas: Exigências feitas por nós mesmos. O
inconformismo é o que nos movimenta na busca por melhores resultados,
mas devemos encarar a mudança sob uma perspectiva de crescimento e
adequação, que pode ajudar nessa adaptação; considerar uma tarefa tediosa,
inútil e humilhante "para quem já sabe tanto", favorece o descontentamento, a
ansiedade e, conseqüentemente, o estresse.
4.4 – O Estresse e as doenças
O modelo unicausal, que concebe a doença a a partir de causadores
“concretos”, como os vírus e as bactérias, passou a apresentar inconsistências
e teve que ser repensado, inclusive porque a presença destes agentes não
necessariamente provocaria a doença. Surge então um novo modelo. Uma
pessoa não adoece unicamente em função da existência de elementos nocivos
no ambiente, mas pelo fato de ser ou tornar-se sensível a ação destes agentes.
Este modelo enfatiza a relação organismo-ambiente como a determinante no
desenvolvimento ou não da doença. Trata-se do modelo de multicausalidade
das doenças.
A teoria da multicausalidade implica na seguinte noção: há uma interação
recíproca entre os múltiplos fatores envolvidos na causalidade das doenças,
como o potencial patogênico do agente agressor (seja microorganismo, químico
ou físico), a susceptibilidade do organismo que recebe a agressão, e o
ambiente (entendido como biopsicossocial) a que todos estão imersos.
30
Este desenvolvimento dos métodos científicos, muito mais recentes em
termos de história da promoção da saúde, criou condições para sairmos de uma
perspectiva individual e penetrarmos na dimensão coletiva do processo saúde-
doença em um grupo de trabalhadores e de como eles podem ser influenciados
por agentes sociais, como o ambiente e a organização do trabalho. Entram em
foco as estruturas sociais como um dos fatores de risco para o desenvolvimento
de doenças.
A escola de pensamento, dentro da medicina, que se tem ocupado com a
integração dos fatores biológicos e os aspectos psicológicos e sociais do
adoecer é a “Abordagem Psicossomática”.
A partir dessa perspectiva, o estresse é apontado como principal fator de
adoecimento, considerando que os agentes psicossociais podem ser tão
potentes quanto os microorganismos, na constituição das doenças.
Como já foi citado, anteriormente, Hans Selye endocrinologista radicado
no Canadá e o primeiro grande estudioso do estresse, utilizou este termo para
denominar aquele “conjunto de reações que um organismo desenvolve ao ser
submetido a uma situação que exige esforço para adaptação”. (Mello Fo.; 1992;
p.98)
Estamos fazendo movimento de adaptação a todo instante, ou seja,
tentativas de nos ajustarmos à mais diferentes exigências, seja no ambiente
externo ou no interno – este vasto mundo de idéias, sentimentos, desejos,
expectativas, sonhos, imagens, etc., que cada um tem dentro de si.
Selye, através dos seus estudos, mostrou que o organismo quando
exposto a um esforço desencadeado por um estímulo percebido como
ameaçador a homeostase, seja físico, químico, biológico ou psicossocial,
apresenta tendência de responder de forma uniforme e inespecífica, anatômica
e fisiologicamente, respostas que constituem a “Síndrome Geral de Adaptação”,
que se desdobra em três fases: Alarme; Resistência e Exaustão.
O que cabe ressaltar é que, as reações de estresse resultam dos
esforços de adaptação. Se a reação do agressor for muito intensa ou se o
31
agente do estresse for muito potente e/ou prolongado, poderá haver, como
conseqüência, a doença o maior predisposição ao desenvolvimento da doença.
Para Selye, “as doenças de adaptação são conseqüências do excesso
da hostilidade ou do excesso de reações de submissão”. (Mello Fo.; 1992; p.99)
As úlceras digestivas, as crises hemorroidárias, as alterações de pressão
arterial, alguns tipos de doenças renais, as alterações inflamatórias do aparelho
gastrintestinal, as diversas afecções dermatológicas, alterações metabólicas,
artrites reumáticas,alergias, perturbações sexuais, comprometimento do
sistema imunológico, são alguns exemplos de doenças com um componente de
esforço de adaptação.
O porquê surge uma enfermidade e não outra depende das diferenças
individuais que são determinadas pela história de vida da pessoa e de suas
vulnerabilidades condicionadas pela genética e pela sua constituição.
Os conceitos teóricos básicos de psicopatologias no trabalho de Dejours
tratam sobre as noções de prazer no trabalho, a de sofrimento criativo e
sofrimento patogênico. Suas pesquisas objetivam o entendimento das relações
que eventualmente podem se estabelecer entre a organização do trabalho e
sofrimento psíquico.
De acordo Dejours, o conflito que opõe o trabalho à vida mental é um
território quase desconhecido. É verdade que os especialistas do homem no
trabalho se concentram, em matéria de psicologia, em definir métodos de
seleção psicológica.
Ainda nesse contexto, Dejours afirma que a reestruturação das tarefas
como alternativa para a organização científica do trabalho fez nascer amplas
discussões sobre o objetivo do trabalho, sobre a relação homem-tarefa e
acentua a dimensão mental do trabalho.
A sensibilidade às cargas intelectuais e psicossensoriais de trabalho
preparam o terreno para as preocupações com a saúde mental.
Por essa razão, Dejours vai sustentar a importância do fator humano, da
relevância da psicodinâmica nas relações de trabalho, para um entendimento
maior das psicopatologias oriundas da relação do homem com o seu trabalho.
32
Como já foi mencionado, anteriormente, “as novas organizações” exigem
trabalhadores cada vez mais dinâmicos, versáteis, flexíveis, criativos e
responsáveis para atender todas as prerrogativas da era das transformações
preconizadas pela globalização.
Isso coloca o indivíduo frente a uma possibilidade de perder ou obstruir
parte do seu referencial básico de valores, crenças e aprendizados,
desencadeando uma luta constante entre adaptar-se e não-adaptar-se,
podendo fragmentar sua estrutura psíquica e afetar o entendimento mental e
afetivo sobre si mesmo e sobre o tudo o que lhe cerca.
Esse quadro evidencia a negligência de fatores importantes ao bem estar
dos trabalhadores dentro dessa “nova organização”, muito mais que isso, esse
contexto acaba negando a saúde do trabalhador, pois à medida que o sistema
impõe modelos e padrões de trabalho e comportamento, invariavelmente ele
está negando a singularidade, as emoções, à individualidade, o que em última
instância, mas não menos importante, provoca o adoecimento do indivíduo.
33
V- CONCLUSÃO
Esse estudo permitiu que se pudesse chegar a algumas conclusões,
considerando os questionamentos e os objetivos deste trabalho, que se dedicou
ao estudo da globalização e seus efeitos, especialmente aos fatores geradores
do adoecimento nas organizações.
Descobrimos que a relação capital – trabalho, sob o impacto global
sofreu profundas alterações e que, conseqüentemente, impuseram
transformações significativas para o indivíduo.
Sob a necessidade de se manter apto e qualificado para acompanhar a
velocidade com que as mudanças ocorrem, o indivíduo acredita que ao se
integrar às condições igualitárias que o sistema global propõe, estará
garantindo “o seu lugar ao sol”.
No entanto há que se atentar para os possíveis danos que esse “lugar”
pode desencadear, pois não há individualidade que não se despersonalize
dentro deste contexto de igualdade.
Partindo da premissa de que para que um indivíduo seja saudável, faz-se
necessário um psiquismo inteiro e equilibrado, é pertinente afirmar que a
despersonalização psíquica implica em uma fragmentação que
conseqüentemente vai interferir nas emoções e nos afetos do sujeito.
Essas emoções associadas à tensão e ao estresse inerentes ao meio
organizacional são o solo fértil para germinar o adoecimento.
As profundas transformações na natureza do trabalho estão abrindo
espaço para uma nova civilização para o recém-nascido século XXI. Uma
civilização adoecida e sem trabalho.
E que civilização é essa, onde os homens são substituídos por
máquinas?
As máquinas podem ser inteligentes, mas não possuem a capacidade
criativa do homem; poderão simular sentimentos e emoções, no entanto serão
incapazes de gozar e de sofrer como os homens. A capacidade de produzir, de
34
fazer mais e melhor, a priori, é da máquina também, mas será ela capaz de
avaliar a necessidade de fazer e a hora de parar?
O homem está carente da humanização e do afeto que lhe são
peculiares. É disso que a psicologia cuida e trata. Solução tão simples quanto
utópica.
Celso Furtado (1998, pg. 69), afirma que, mais do que a globalização, “o
que caracteriza a civilização atual é a sua falta de imaginação para pensar o
futuro e para criar uma utopia nova”.
Maior ainda é a dificuldade de traduzir as novas utopias em práticas
concretas, cotidianas. Elas normalmente nos servem apenas de acalento, de
refúgio contra as rudezas da realidade. Freqüentemente a grandeza das utopias
nos assusta, nos dá a sensação de impotência frente aos fortes ventos
contrários.
No entanto, as utopias não se dão de forma mágica elas precisam ser
concretizadas no cotidiano com paciência e perseverança; elas são medidas
por conquistas diárias, por micro-utopias.
O surgimento da conjugação de interesse, de utopias divergentes, de
alienações e ironias é inevitável. Mas surge também uma recriação diária da
nossa eterna sede por um novo significado para a jornada humana, um
significado que deve ser construído dia-a-dia.
Transformar a globalização na guerra do fim do mundo, certamente não
pe o caminho. Ela pode ser o início de uma ordem econômica internacional
mais justa. “Isto é possível, é necessário e pode abrir novas perspectivas para o
melhor dos mundos – produtividade capitalista com bem-estar socialista”.
(Moscovici; 2001, p.277)
Que implicações a diminuição da interação direta das pessoas, em razão
do trabalho, pode ter sobre a qualidade de vida e a saúde do indivíduo?
Uma receita preconizada por Freud, quando indagado sobre o que
comporia uma vida plenamente equilibrada, resumia-se ao binômio Amor-
Trabalho.
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Quando as pessoas ocupam seu tempo de maneira construtiva,
fazendo algo que sirva para atender as necessidades de outras
pessoas, estarão provendo sua própria subsistência e,
concomitantemente, desenvolvendo sua auto-estima. E quando criam
relações afetivas entre si, tendem a um intercâmbio mais equilibrado
entre o pensar, o fazer e o sentir. Assim, pensamentos, atividades e
sentimentos funcionam harmonicamente, configurando bem-estar,
saúde física e mental e qualidade de ida.
É preciso trabalhar. É preciso amar.
“Desenvolver habilidades de executar bem as tarefas, desenvolver
habilidades de dar e receber afeto; competência profissional e
competência emocional para viver em – eis uma fórmula básica para
buscar equilíbrio e realização intra-pessoal, interpessoal e
transpessoal.” (Moscovici; 2001, p.144).
A receita parece simples e teoricamente de fácil execução, no entanto
não é o que a realidade nos mostra, pois são muitos os problemas contra os
quais a pedagogia enfrenta.
Problemas como o modelo idealista na formação profissional da
pedagogia como um todo e das organizações; associado à falta de agregação
dos mesmos, reduzindo sua representatividade social, seu poder de atuação e
sua identidade, além dos graves problemas sociais, que historicamente afetam
o trabalhador brasileiro.
Para uma profunda reflexão sobre o assunto, reproduzo as palavras de
Felá Moscovici (2001, p.278).
“A distância entre a tecnologia e a cultura está se tornando
insuportável. Somos capazes de acabar com a humanidade mas não
conseguimos tornar a vida minimamente saudável e digna para a
grande maioria. Não será o momento de realinhar os valores e orientar
os costumes? Não será a hora de produzir uma cultura de vida e
felicidade em vez de morte, consumo e desperdício. Onde estão os
36
religiosos? Onde estão os filósofos? Onde estão os ativistas? Onde
estamos todos nós?
Cultura é sabedoria. É experiência acumulada e depurada. Aproxima-
se a era do saber. Temos que cuidar para que a informação não se
torne um divisor iníquo entre os que detêm o saber e os que dele
fazem uso. A sociedade da informação não pode se restringir a uma
mega-internet acionando robôs em obediência aos comandos de
algum poder hegemônico. A ética dessa sociedade não pode ser a
ética do mercado”.
Antes de produzir organizações inteligentes, organizações que
aprendem, temos que produzir seres humanos holisticamente
educados. Educados em espíritos, em corpos, em corações e mentes,
capazes de respeitar a natureza e a continuidade da vida antes de
pensar em produzir, consumir e desperdiçar. Quem fará isso? Todos
nós. As organizações inclusive.”
37
VI- REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS:
* BAUMAN, Zygmunt (1998) Globalização – As conseqüências Humanas.
Rio de Janeiro: Jorge Zahar Editor.
* CHESNAIS, Françoise (1997) Novo Capitalismo intensifica velhas formas
de exploração. Folha de São Paulo, 2 nov. Especial Globalização, p. 4.
Entrevista.
* DEJOURS, Christophe (1992) A Loucura do Trabalho: Estudo de
Psicopatologia do Trabalho. São Paulo: Cortez-Oboré.
* DEJOURS, Christophe; ABDOUCHELI, Elizabeth e JAYET, Christian (1994)
Psicodinâmica do Trabalho. São Paulo: Atlas.
* FRANÇA, Ana C. Limongi e RODRIGUES, Avelino L. (1996) Stress e
Trabalho – Guia Básico com Abordagem Psicossomática. São Paulo: Atlas.
* FURTADO, Celso(1998) A lição de uma mestre. In ABDE (org.). Lições de
mestres: entrevistas sobre globalização e desenvolvimento econômico.
Rio de Janeiro: Campus e ABDE. p.65-75.
* GENTILLI, Pablo (2002) Globalização Excludente. Petrópolis: Vozes.
* MASI, Domenico di (2001) O Futuro do Trabalho. Rio de Janeiro: José
Olympo.
* MELO FILHO, Julio (1992) Psicossomática Hoje. Porto Alegre: Artes
Médicas.
* MOSCOVICI, Felá (2001) A Organização por trás do Espelho – Reflexos e
Reflexões. Rio de Janeiro: José Olympo.
* ZIBAS, D.M.L (1997) O reverso da medalha: os limites da administração
industrial participativa. In: CARLEILAS, Liana: Valle, R. Restruturação
produtiva e mercado de trabalho no Brasil. São Paulo: Hucitec-Abet. P. 122-
139.
38
VII- BIBLIOGRAFIA COMPLEMENTAR
* DEJOURS, Christophe (1995) O Fator Humano. Rio de Janeiro: Fundação
Getúlio Vargas.
DEJOURS, Christophe (1998) A Banalização da Injustiça Social. Rio de
Janeiro: Fundação Getúlio Vargas.
* MARTIN, Peter-Hans e SCHUMANN, Harald (1999) A Armadilha da
Globalização. São Paulo: Globo.
* MASI, Domenico de (1999) A Emoção e a Regra. Rio de Janeiro: José
Olympo.
* MASI, Domenico de (2000) A Sociedade Pós-Industrial. São Paulo: Senac.
* MOTTA, Fernando C. Prestes e FREITAS, Maria Éster de (2000) Vida
Psíquica e Organizações. Rio de Janeiro: Fundação Getúlio Vargas.
* SENNET, Richard (1999) A Corrosão do Caráter – Conseqüências
Pessoais do Trabalho no Novo Capitalismo. São Paulo: Record.
* GLINA, Débora Miriam Raab e ROCHA, Lys Esther (2000) Saúde Mental no
Trabalho – Desafios e Soluções. São Paulo: VK.
39
UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES PROJETO A VEZ DO MESTRE
PÓS-GRADUAÇÃO “LATO SENSU” CURSO DE PEDAGOGIA EMPRESARIAL
A GLOBALIZAÇÃO E O ADOECIMENTO NAS ORGANIZAÇÕES
Por MICHELE GOMES DE ARAÚJO
Orientadora CARLY MACHADO
Aprovado em _____ / _____ / _____ Nota: _____________
__________________________________________ Avaliador (a)