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UNIVERSIDADE CÂNDIDO MENDES PÓS- GRADUAÇÃO “LATO SENSU” PROJETO VEZ DO MESTRE OS ATRAVESSAMENTOS PSICOPEDAGÓGICOS E TERAPÊUTICOS OCUPACIONAIS Shelem Regina G. Towesend Profª. Ms. Ana Cristina Guimarães Rio de Janeiro, 2005.

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UNIVERSIDADE CÂNDIDO MENDES

PÓS-GRADUAÇÃO “LATO SENSU”

PROJETO VEZ DO MESTRE

OS ATRAVESSAMENTOS PSICOPEDAGÓGICOS

E TERAPÊUTICOS OCUPACIONAIS

Shelem Regina G. Towesend

Profª. Ms. Ana Cristina Guimarães

Rio de Janeiro,

2005.

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UNIVERSIDADE CÂNDIDO MENDES

PÓS-GRADUAÇÃO “LATO SENSU”

PROJETO VEZ DO MESTRE

OS ATRAVESSAMENTOS PSICOPEDAGÓGICOS

E TERAPÊUTICOS OCUPACIONAIS

Trabalho apresentado como requisito

para a aprovação no curso de Pós-

Graduação em Psicopedagogia “Lato Sensu”

da Universidade Cândido Mendes.

Por: Shelem Regina Gomes Towesend

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RESUMO

O objeto teórico e prático deste estudo é o conhecimento teórico e

prático da atuação em Terapia Ocupacional e somente teórico da atuação

Psicopedagógica, tendo como objetivo pesquisar e analisar o que essas

duas áreas possam ter em comum, bem como cada uma pode acrescentar

na outra.

Para discutir o assunto foram consultadas diversas bibliografias, tanto

ligadas a Terapia Ocupacional quanto a Psicologia, Psicopedagogia,

Biologia, Anatomia, que mostram que há ligação entre essas duas áreas que

envolvem a saúde e a educação, desde o que esses profissionais precisam

saber para ter uma boa atuação até o material e a abordagem utilizada para

se alcançar o objetivo de tratamento.

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METODOLOGIA

A presente monografia trata-se de pesquisa do tipo explorativa,

baseada na coleta de dados bibliográficos relacionados a prática da

Psicopedagogia e da Terapia Ocupacional.

A metodologia de estudo utilizada é classificada como teórica, tendo

sido utilizado artigos e livros que reforçam o objetivo desta monografia que é

o de comprovar os atravessamentos entre a Psicopedagogia e a Terapia

Ocupacional, desde os conhecimentos que essas duas áreas devem

apresentar para que haja uma atuação eficaz e precisa até os critérios de

avaliação e os recursos utilizados, bem como onde uma pode contribuir para

a melhora na prática da outra.

Portanto este trabalho monográfico espera poder ser de grande

utilidade para os futuros profissionais não só da área de Psicopedagogia e

de Terapia Ocupacional, como também de todas as áreas ligadas a

educação e a saúde.

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SUMÁRIO

INTRODUÇÃO 6

CAPÍTULO I 8

DESENVOLVIMENTO HUMANO 8

CAPÍTULO II 21

HISTÓRICO DA PSICOPEDAGOGIA

E DA TERAPIA OCUPACIONAL 21

CAPÍTULO III 29

PSICOPEDAGOGIA + TERAPIA OCUPACIONAL 29

CAPÍTULO IV 38

CRITÉRIOS DE AVALIAÇÃO 38

CONCLUSÃO 42

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS 44

ÍNDICE 45

FOLHA DE AVALIAÇÃO 47

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INTRODUÇÃO

A Psicopedagogia atual busca o entendimento dos fenômenos que

envolvem o ser humano e procura compreender as inter e intra-relações

dinâmicas e alternantes que ocorrem no processo ensino-desenvolvimento-

aprendizagem humana. Ela se direciona para uma visão holística do homem.

È importante considerar que na busca pela interpretação do homem

integral, a Psicopedagogia tem procurado ampliar seus conhecimentos,

tomando cada vez mais uma forma abrangente e dialética.

Assim também é a Terapia Ocupacional, que a cada dia, na ânsia de

conhecer melhor o seu objeto de estudo, o homem, vem aprimorando seus

conhecimentos e ampliando seu campo de atuação. A Terapia Ocupacional

intervém, no sentido de ajudar quem o procura a encontrar ou reencontrar

seu lugar social, como ser ativo e dono de sua vida, tendo como metas a

qualidade de vida e a inclusão social seja qual for o modelo que seguirá.

A partir daí já pode ser observado a semelhança e completude destas

duas áreas da saúde e da educação que em um primeiro olhar podem

parecer diferentes e sem qualquer ligação porém quando se estuda a fundo

percebe-se o contrario. Como áreas de atuação integrativa que são, a

reinserção social e/ou a inserção social assim como a melhora da qualidade

de vida do sujeito são seus objetivos finais.

Acreditar na forte influência que o meio pode exercer sobre o ser

humano e na crença no potencial da interação social é fundamental para a

construção da aprendizagem dentro ou fora dos centros educacionais. Para

tanto, a concepção de homem, desenvolvimento e aprendizagem,

influenciam diretamente a construção do ser pensante, inclusive em sua

formação pessoal e integridade física.

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É função do Psicopedagogo clínico e institucional e do Terapeuta

Ocupacional levar às famílias, às escolas e às empresas, este olhar

abrangente, tentando contagiá-las e animá-las para uma visão atual e

completa do ser humano, seu desenvolvimento e aprendizagem, assim

como, do mundo atual, suas novas características e necessidades mundiais.

Este é o caminho procurado pela Psicopedagogia e pela Terapia

Ocupacional, na tentativa de entender a pessoa sem separar, nem

desconectar os vários aspectos que ela possui, garantindo a coerência, a

unidade e as aparentes contradições

Portanto, a presente monografia contem estudos que acredita-se ser

útil e indispensável para se Ter uma visão mais completa e clara e

consequentemente uma atuação mais abrangente e precisa para o

psicopedagogo e o terapeuta ocupacional.

No primeiro capítulo é abordado o desenvolvimento humano

relacionados ao desenvolvimento cerebral, e o crescimento físico além das

etapas de desenvolvimento que ser humano passa.

O segundo capítulo conta a história da Psicopedagogia e da Terapia

Ocupacional, definindo os dois tipos de atuação do psicopedagogo e como a

Terapia Ocupacional pode atuar na educação.

O terceiro capítulo apresenta os recursos em comum utilizados na

prática psicopedagógica e terapêutica ocupacional.

Assim, este trabalho tem como grande objetivo mostrar, como já foi

falado, que essas áreas podem se completar, e devem trabalhar juntas

formando assim uma equipe transdisciplinar.

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CAPÍTULO I

Desenvolvimento Humano

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1.1 – Desenvolvimento Cerebral:

Poucos órgãos humanos são tão complexos e ao mesmo tempo tão

delicados quanto o cérebro. Fascinante, é o centro processador das

emoções, do pensamento, da maneira como cada um encara e responde ao

mundo à sua volta. É por isso mesmo que, cada vez mais, a ciência se

dedica a desvendá-lo. Essa empreitada envolve o desejo de esmiuçar o

desenvolvimento cerebral desde os primeiros dias de vida intra-uterina. A

partir da terceira semana de gestação, o cérebro já começa a ser formado,

num processo de aprimoramento que permitirá o aprendizado até o final da

vida.

As descobertas feitas até agora sobre o ritmo dessa viagem de

crescimento e amadurecimento são fantásticas.

De acordo com o neurologista infantil Mauro Muszkat, professor da

Universidade Federal de São Paulo (Unifesp), 50% do desenvolvimento

cerebral se dá até o primeiro ano de vida.

O stress materno parece ter impacto no desenvolvimento mental do

bebê, conforme conclusão de pesquisadores do Centro Médico Universitário

Utrecht, na Holanda. Os cientistas afirmam ser provável que os hormônios

liberados pela mãe em situações de stress entrem na circulação do feto e

prejudiquem o desenvolvimento cerebral ( www.istoéonline.com.br, 2001).

Além deste fator, outros como o uso de drogas ilícitas e lícitas também

podem prejudicar a formação cerebral do bebê.

E os mesmos processos pelos quais se dá a formação do órgão antes

do nascimento produzem uma explosão de aprendizado logo depois do

parto. Ao nascer, o cérebro de um bebê tem cerca de 100 bilhões de

neurônios (células nervosas). O tronco cerebral, região que controla as

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funções vitais, como os batimentos cardíacos, já funciona perfeitamente

( www.istoéonline.com.br, 2001).

À medida que a criança se desenvolve, são criadas mais conexões

(sinapses) entre os neurônios, as pontes pelas quais o aprendizado vai se

fazendo e ficando armazenado na memória. No primeiro ano, o aumento das

sinapses cerebrais também leva ao desenvolvimento da linguagem. Tanto

que, aos 12 meses, os centros responsáveis pela fala costumam estar

prontos. Esse aumento de atividade cerebral provoca ainda uma elevação

do próprio metabolismo. Por volta dos dois anos, o cérebro de uma criança

tem o dobro de sinapses – e consome duas vezes mais energia – que o de

um adulto. Não é para menos. Por volta do terceiro aniversário, a criança

deu um salto fantástico na compreensão do mundo (SPENCE, 1991).

1.2 – O Crescimento Físico:

O crescimento físico ocorre de acordo com uma determinada

seqüência e um determinado calendário maturativo. Ele ocorre de maneira

contínua e paulatina e não em saltos e descontinuamente.

O crescimento físico também tem uma determinada trajetória e certos

controles internos que levam o corpo da imaturidade inicial a níveis

crescentes de maturação. Ele tem um controle genético e certos

mecanismos corretores que fazem com que haja uma tendência a recuperar

o caminho perdido quando um problema ou distúrbio desvia o crescimento

de sua trajetória prevista. Este processo é chamado de processo de

recuperação.

O processo de crescimento é sensível às influências do meio e isto

chama-se tendência secular no crescimento. Esta tendência faz referência a

uma certa aceleração que se observa em alguns aspectos do crescimento

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quando se comparam dados coletados em momentos com muitos anos de

diferença entre si.

Sabe-se que, antes mesmo do nascimento o ambiente está agindo

sobre nós. A Psicopedagogia assim como a Terapia Ocupacional, numa

visão holística do sujeito, atuará considerando fatores biológicos e

mesológicos em interação, objetivando o tratamento dos distúrbios de

aprendizagem.

Tal aspecto pode ser percebido desde a fase pré-natal onde o

ambiente está exercendo sua ação. As condições do útero materno durante

a gestação, a presença de substancias químicas no meio fetal, o efeito de

estímulos físicos, certas doenças que atravessam a placenta são exemplos

de estímulos do ambiente pré-natal.

O sentido do ambiente torna-se mais claro na vida pós-natal

envolvendo o clima de nutrição, enfim, todo o conjunto de estímulos físicos e

químicos como também os contatos com outras pessoas.

O efeito de um fator ambiental sobre o indivíduo varia,

significativamente conforme sua pré-disposição hereditária, a fase de

desenvolvimento que ele enfrenta e ainda as diferentes variáveis que

interatuam com o fator em questão

( http://catianaleila.vilabol.uol.com.br/1infancia/cerebro.htm).

São eles:

· Hereditariedade – a carga genética estabelece o potencial do

indivíduo, que pode ou não desenvolver-se. Existem pesquisas que

comprovam os aspectos genéticos da inteligência. No entanto, a inteligência

pode desenvolver-se aquém ou além do seu potencial, dependendo das

condições do meio que encontra.

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· Crescimento orgânico – refere-se ao aspecto físico. O aumento da

altura e a estabilização do esqueleto permitem ao indivíduo comportamentos

e um domínio do mundo que antes não existiam. Pense nas possibilidades

de descobertas de uma criança, quando começa a engatinhar e depois a

andar, em relação a quando esta criança estava no berço com alguns dias

de vida.

· Maturação neurofisiológica – é o que torna possível determinado

padrão de comportamento. A alfabetização das crianças, por exemplo,

depende dessa maturação. Para segurar o lápis e manejá-lo como nós, é

necessário um desenvolvimento neurológico que a criança de 2/3 anos não

tem.

· Meio – o conjunto de influencias e estimulações ambientais altera os

padrões de comportamento do indivíduo. Podemos citar como exemplo

quando a estimulação verbal for muito intensa, uma criança de 3 anos pode

Ter um repertório verbal muito maior do que a média das crianças de sua

idade, mas, ao mesmo tempo, pode não subir e descer com facilidade uma

escada, porque esta situação pode não Ter feito parte de sua experiência de

vida (BOCK, 1999).

1.3 – Etapas do Desenvolvimento:

Estudar o desenvolvimento humano significa conhecer características

comuns de uma determinada faixa etária. Isso nos permite observar e

interpretar com maior precisão o comportamento do sujeito.

Em várias áreas da saúde e da educação como a Psicopedagogia e a

Terapia Ocupacional, assim como também a Psicologia, é importante

observar e analisar o desenvolvimento do ser humano em todos os

aspectos: físico-motor, intelectual, afetivo-emocional e social; desde o

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nascimento até a idade adulta quando então o sujeito atinge o seu mais

completo grau de maturidade e estabilidade.

Existem várias teorias do desenvolvimento humano em Psicologia.

Dentre estas destaca-se a do Psicólogo e Biólogo Jean Piaget.

Segundo Piaget, o desenvolvimento humano refere-se:

ao desenvolvimento mental e ao crescimento orgânico. O desenvolvimento mental é uma construção contínua, que se caracteriza pelo aparecimento gradativo de estruturas mentais. Estas são formas de organização da atividade mental que vão-se aperfeiçoando e se solidificando até o momento em que todas elas, estando plenamente desenvolvidas, caracterizarão um estado de equilíbrio superior quanto aos aspectos da inteligência, vida afetiva e relações sociais (BOCK, 1999).

Segundo Elisabete da Assunção e Maria Teresa Coelho,

desenvolvimento seria:

o processo ordenado e contínuo que principia com a própria vida, no ato da concepção. E abrange todas as modificações que ocorrem no organismo e na personalidade. Inclusive os comportamentos mais sofisticados, resultantes do crescimento e amadurecimento físicos e da estimulação variada do ambiente (ASSUNÇÃO et all, 2004).

Algumas dessas estruturas mentais descritas por Piaget em sua

definição de desenvolvimento, permanecem ao longo de toda a vida. Por

exemplo, a motivação está sempre presente como desencadeadora da ação,

quer seja por necessidades fisiológicas, quer seja por necessidades afetivas

ou intelectuais. Essas estruturas mentais que permanecem garantem a

continuidade do desenvolvimento. Outras estruturas são substituídas a cada

nova fase da vida do indivíduo (BOCK, 1999).

Ao trabalhar com uma criança, seja ela portadora de necessidades

especiais, tenha ela dificuldades de aprendizagem, é importante saber em

qual fase do desenvolvimento esta se encontra. Isso inclui tanto a

cronológica quanto a mental, para daí o profissional saber a melhor forma de

se falar com esta criança bem como de que forma será conduzida a

abordagem terapêutica ocupacional ou psicopedagógica.

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Assim, a linguagem usada com uma criança de 4 anos não poderá ser

a mesma com uma adolescente de 14 anos. Assim também se a criança de

14 anos possui uma idade mental de 8 anos, assumindo características

comportamentais dessa faixa etária a abordagem deve ser outra. Pode-se

deparar também com uma criança de 6 anos que está no período operatório

e outra da mesma faixa etária estando no período das operações concretas.

O desenvolvimento humano deve ser entendido como uma

globalidade, mas, para efeito de estudo, tem sido abordado a partir de quatro

aspectos básicos já citados anteriormente:

· Aspectos físico-motor – refere-se ao crescimento orgânico, à

maturação neurofisiológica, à capacidade de manipulação de objetos e de

exercícios do próprio corpo.

· Aspecto intelectual – é a capacidade de pensamento, raciocínio.

· Aspecto afetivo-emocional – modo particular do sujeito integrar as

suas experiências. É o sentir. A sexualidade faz parte desse aspecto.

· Aspecto social – maneira como o indivíduo reage diante das

situações que envolvem outras pessoas (BOCK, 1999).

Piaget, (apud. BOCK, 1999) divide o desenvolvimento humano de

acordo com o aparecimento de novas qualidades do pensamento, o que, por

sua vez, interfere no desenvolvimento global.

Para Piaget, cada período é caracterizado por aquilo que de melhor o

indivíduo consegue realizar, executar, em cada faixa etária. Todos os

indivíduos passam por todas essas fases ou períodos, nessa seqüência,

porém o início e o término de cada uma delas dependem das caraterísticas

biológicas de cada sujeito e de fatores educacionais, sociais. Portanto a

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divisão nessas faixas etárias é uma referencia, e não uma norma rígida

(BOCK, 1999).

· Período sensório-motor – Do ponto de vista neurológico, o

desenvolvimento sensório-motor adquire importância vital na avaliação da

evolução maturativa da função motora. Como destacou Ajuriaguerra, a

função motora delineia-se por meio de três sistemas que interagem entre si:

a) O sistema piramidal (responsável pelo movimento voluntário).

b) O sistema extrapiramidal (que se ocupa da motricidade automática,

fornecendo a adaptação motora básica a diversas situações).

c) O sistema do cerebelo (sistema regulador do equilíbrio e da

harmonia, concerne tanto aos movimentos voluntários quanto aos

involuntários).

A integração dos três sistemas motores determina a atividade muscular

que, por sua vez, tem basicamente duas funções: a) a função cinética ou

clônica, e b) a função postural ou tônica.

A primeira corresponde ao movimento propriamente dito e a segunda

está ligada aos estados de tensão e distensão fásica do músculo, que estão

na origem do movimento.

Esse conjunto de sistemas e funções conforma o aparelho motor, sua

preparação e execução, o que, indubitavelmente, outorga à motricidade um

valor instrumental e mecânico em si.

Uma das contribuições mais significativas para a compreensão dessa

integração foi fornecida por Henri Wallon, ao indicar o papel relacional e

social da motricidade da criança. Para esse autor, as funções tônico-

posturais transformam-se em funções de relação gestual e corporal, que

orientam as bases do futuro relacional e emocional da criança numa inter-

relação dialética, biológica e social.

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Piaget retoma a concepção walloniana do sensório-motor, situando-o

num primeiro estágio (0 a 2 anos), essencial para o desenvolvimento da

assimilação e acomodação como modo de adaptação e de aquisição da

inteligência prática na criança (LEVIN, 1997).

Neste período, a criança conquista através da percepção e dos

movimentos, todo o universo que a cerca. No RN (recém-nascido), a vida

mental reduz-se ao exercício dos aparelhos reflexos, de fundo hereditário,

como sucção. No final do período, a criança é capaz de usar um instrumento

como meio para atingir um objeto. Neste caso, está sendo utilizado a

inteligência prática ou sensório-motora, que envolve as percepções e os

movimentos.

No período sensório–motor fica evidente que o desenvolvimento ósseo,

muscular e neurológico permite a emergência de novos comportamentos

como sentar, andar, o que proporcionará um domínio maior do ambiente.

Ao longo deste período, irá ocorrer na criança uma diferenciação

progressiva entre o seu eu e o mundo exterior. Se no início o mundo era

uma continuação do próprio corpo, os progressos da inteligência levam-na a

situar-se como um elemento entre outros no mundo. Isso permite que a

criança por volta de 1 ano, admita que o objeto continue a existir mesmo

quando ela não o perceba.

Esta diferenciação também ocorre no aspecto afetivo, pois o bebê

passa das emoções primárias (os primeiros medos, quando, por exemplo,

ele se enrijece e abre os braços e as mãos ao ouvir um barulho muito forte –

reflexo de moro), para, no final do período, uma escolha afetiva de objetos,

quando a criança já manifesta preferencias por brinquedos, objetos,

pessoas, etc.

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Sua integração no ambiente dá-se, também, pela imitação das regras.

E, embora compreenda algumas palavras, mesmo no final do período só é

capaz da fala imitativa (BOCK, 1999).

· Período Pré-operatório – também chamado de pré-conceitual,

engloba crianças na faixa etária de 2 a 7 anos, a qual Piaget chama de 1ª

infância.

Dentro deste período inclui-se o período simbólico que abrange

crianças de 2 a 4 anos de idade sendo característico deste a chamada

função semiótica que permite o surgimento da linguagem, do desenho, da

imitação, da dramatização, etc. podendo criar imagens mentais na ausência

do objeto ou da ação; é o período da fantasia, do faz de conta, do jogo

simbólico.

É importante ressaltar que a linguagem se desenvolve a partir do

momento que a criança consegue realizar melhor seus movimentos. Uma

criança que não anda aos 2 anos não desenvolverá a linguagem. Aos dois

anos, a criança já apresenta uma grande variedade de movimentos mais

precisos e elaborados, como subir escadas, pedalar. Sua coordenação

motora encontra-se mais fina. Seu andar é mais dissociado. E por isso sua

linguagem é desenvolvida (INHELDER, et all, 2003).

· Período das operações concretas – este período engloba crianças

de 7 a 11/12 anos de idade. É a infância propriamente dita.

Neste período, o desenvolvimento mental, caracterizado no período

anterior pelo egocentrismo intelectual e social, é superado pelo início da

construção lógica, ou seja, a capacidade de estabelecer relações que

permitam a coordenação de postos de vista diferentes. A criança neste

período consegue coordenar estes pontos de vista e integrá-los de modo

lógico e coerente. No plano afetivo, isto significa que ela será capaz de

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cooperar com os outros, de trabalhar em grupo e, ao mesmo tempo, de Ter

autonomia pessoal (BOCK, 1999).

O que possibilitará isto, no plano intelectual, é o surgimento de uma

nova capacidade mental da criança: as operações, isto é, ela consegue

realizar uma ação física ou mental dirigida para um objetivo e reverte-la para

o seu início. Num jogo de quebra-cabeça, próprio para a idade da criança,

ela consegue, na metade do jogo, descobrir um erro, desmanchar uma parte

e recomeçar de onde corrigiu, terminando-o as operações sempre se

referem a objetos concretos presentes ou já experienciados.

Outra característica deste período é que a criança consegue exercer

suas habilidades e capacidades a partir de objetos reais, concretos.

No aspecto afetivo, ocorre o aparecimento da volição como qualidade

superior e que atua quando há conflitos de tendências ou intenções (entre o

dever e o prazer).

O grupo de colegas satisfaz, progressivamente, as necessidades de

segurança e afeto. Portanto novas regras podem surgir, a partir da

necessidade e de um contrato entre as crianças (Piaget, et all, 2003).

· Período das operações formais – na adolescência, que vai de 11/12

anos em diante, ocorre a passagem do pensamento concreto para o

pensamento formal, abstrato, ou seja, o adolescente realiza as operações no

plano das idéias, sem necessitar de manipulação ou referencias concretas,

como no período das operações concretas. No que diz respeito as relações

socais, também ocorre o processo de caracterizar-se, inicialmente, por uma

fase de interiorização, em que, aparentemente, é anti-social. Ele se afasta

da família, não aceita conselhos dos adultos; mas, na realidade, o alvo de

sua reflexão é a sociedade.

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No campo afetivo, o adolescente vive conflitos. Deseja libertar-se do

adulto, mas ainda depende dele. Deseja ser aceito pelos amigos e pelos

adultos.

Os interesses são diversos e mutáveis, sendo que a estabilidade chega

com a proximidade da idade adulta (BOCK, 1999).

Outro processo que está ligado ao desenvolvimento humano é a

maturação do sistema nervoso. A maturação conduz ao desenvolvimento do

potencial do organismo e independe de treino ou estimulação ambiental.

Assim, Elisabete da Assunção e Maria Teresa Coelho, definem a

maturação como:

O desenvolvimento das estruturas corporais, neurológicas e orgânicas, abrange padrões de comportamento resultantes da atuação de algum mecanismo interno (ASSUNÇÃO et all, 2004) .

Portanto, torna-se ineficaz, por exemplo, querer ensinar uma criança de

5 meses a ler, pois seu sistema nervoso não está maduro o suficiente para

tal atividade.

Gessel diz que “a aprendizagem nunca pode transcender a

maturação”, ou seja, o indivíduo só conseguirá realizar uma determinada

atividade, da mais simples como segurar um objeto, até a mais complexa,

como o raciocínio, somente quando o seu sistema nervoso estiver maduro o

suficiente para tais atividades.

Quando fala-se em aprendizagem pensa-se apenas no âmbito escolar

e esquecemos que esta é muito mais abrangente: refere-se a aspectos

funcionais e resulta de toda estimulação ambiental recebida pelo indivíduo

no decorrer da vida.

Elisabete e Maria Teresa também definem a aprendizagem. Segundo

essas autoras, seria:

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O resultado da estimulação do ambiente sobre o indivíduo já maduro, que se expressa, diante de uma situação-problema, sob a forma de uma mudança de comportamento em função da experiência (ASSUNÇÃO et all, 2004) .

O processo de aprendizagem sofre interferência de vários fatores –

intelectual, físico, social, psicomotor – mas é do fator emocional que

depende grande parte da aprendizagem. Para que esta provoque uma

efetiva mudança de comportamento e amplie cada vez mais o potencial do

sujeito, é necessário que este perceba a relação entre o que está

aprendendo e sua vida ( ASSUNÇÃO et al, 2004).

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CAPÍTULO II

Histórico da Psicopedagogia

e da Terapia Ocupacional

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2.1 – A Psicopedagogia:

Os primeiros Centros Psicopedagógicos foram fundados na Europa,

em 1946, por J Boutonier e George Mauco, com direção médica e

pedagógica. Estes Centros uniam conhecimentos da área de Psicologia,

Psicanálise e Pedagogia, onde tentavam readaptar crianças com

comportamentos socialmente inadequados na escola ou no lar e atender

crianças com dificuldades de aprendizagem apesar de serem inteligentes.

Na literatura francesa – que, como vimos, influencia as idéias sobre

Psicopedagogia na Argentina (a qual, por sua vez, influencia a práxis

brasileira) – encontra-se, entre outros, os trabalhos de Janine Mery, a

psicopedagoga francesa que apresenta algumas considerações sobre o

termo Psicopedagogia e sobre a origem dessas idéias na Europa, e os

trabalhos de George Mauco, fundador do primeiro centro médico

psicopedagógico na França,..., onde se percebeu as primeiras tentativas de

articulação entre Medicina, Psicologia, Psicanálise e Pedagogia, na solução

dos problemas de comportamento e de aprendizagem.

Esperava-se através desta união Psicologia-Psicanálise-Pedagogia,

conhecer a criança e o seu meio, para que fosse possível compreender o

caso para determinar uma ação reeducadora.

Diferenciar os que não aprendiam, apesar de serem inteligentes,

daqueles que apresentavam alguma deficiência mental, física ou sensorial

era uma das preocupações da época.

Observa-se que a Psicopedagogia teve uma trajetória significativa

tendo inicialmente um caráter médico-pedagógico dos quais faziam parte da

equipe do Centro Psicopedagógico: médicos, psicólogos, psicanalistas e

pedagogos (BOSSA, 2000).

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Esta corrente européia influenciou significativamente a Argentina.

Conforme a psicopedagoga Alicia Fernández (apud. BOSSA, 2000), a

Psicopedagogia surgiu na Argentina há mais de 30 anos e foi em Buenos

Aires, sua capital, a primeira cidade a oferecer o curso de Psicopedagogia.

Foi na década de 70 que surgiram, em Buenos Aires, os Centros de

Saúde Mental, onde equipes de psicopedagogos atuavam fazendo

diagnóstico e tratamento. Estes psicopedagogos perceberem um ano após o

tratamento que os pacientes resolveram seus problemas de aprendizagem,

mas desenvolveram distúrbios de personalidade como deslocamento de

sintoma. Resolveram então incluir o olhar e a escuta clínica psicanalítica,

perfil atual do psicopedagogo argentino.

Na Argentina, a Psicopedagogia tem um caráter diferenciado da

Psicopedagogia no Brasil. São aplicados testes de uso corrente, “alguns dos

quais não sendo permitidos aos brasileiros...” (Id. Ibid., p. 42), por ser

considerado de uso exclusivo dos psicólogos (cf. BOSSA, p. 58). “... os

instrumentos empregados são mais variados, recorrendo o psicopedagogo

argentino, em geral, a provas de inteligência, provas de nível de

pensamento; avaliação do nível pedagógico; avaliação perceptomotora;

testes projetivos; testes psicomotores; hora do jogo psicopedagógico” .

A Psicopedagogia chegou ao Brasil, na década de 70, cujas

dificuldades de aprendizagem nesta época eram associadas a uma

disfunção neurológica denominada de disfunção cerebral mínima (DCM) que

virou moda neste período, servindo para camuflar problemas

sociopedagógicos.

Inicialmente, os problemas de aprendizagem foram estudados e

tratados por médicos na Europa no século XIX e no Brasil percebemos,

ainda hoje, que na maioria das vezes a primeira atitude dos familiares é

levar seus filhos a uma consulta médica ( BOSSA, 2000).

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Na prática do psicopedagogo, ainda hoje é comum receber no

consultório crianças que já foram examinadas por um médico, por indicação

da escola ou mesmo por iniciativa da família, devido aos problemas que está

apresentando na escola.

A Psicopedagogia foi introduzida aqui no Brasil baseada nos modelos

médicos de atuação e foi dentro desta concepção de problemas de

aprendizagem que se iniciaram, a partir de 1970, cursos de formação de

especialistas em Psicopedagogia na Clínica Médico-Pedagógica de Porto

Alegre, com a duração de dois anos.

De acordo com Visca, a Psicopedagogia foi inicialmente uma ação

subsidiada da Medicina e da Psicologia, perfilando-se posteriormente como

um conhecimento independente e complementar, possuída de um objeto de

estudo, denominado de processo de aprendizagem, e de recursos

diagnósticos, corretores e preventivos próprios (VISCA apud BOSSA, 2000).

2.1.1 – A Psicopedagogia Clínica:

Segundo Edith Rubinstein, a intervenção está voltada para a busca e o

desenvolvimento de metodologias que melhor atendem aqueles que

possuem dificuldades de aprendizagem, tendo como principal objetivo a

reeducação ou remediação promovendo assim o desaparecimento do

sintoma (SCOZ et. al.1992).

O Psicopedagogo Clínico deve promover a reelaboração do processo

de aprendizagem do sujeito que apresenta dificuldades, bem como,

desenvolver nele o prazer de aprender, propriciando condições para que

este desenvolva plenamente sua autonomia.

Para o momento do diagnóstico, o Psicopedagogo deve levar em

consideração que o fracasso escolar é causado por um conjunto de fatores

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interligados e que impedem o bom desempenho do sujeito. Portanto, na

prática diagnóstica leva-se em consideração os seguintes aspectos:

· Orgânicos

· Cognitivos

· Emocionais

· Sociais

· Pedagógicos (SCOZ, 1994).

2.1.2 – Psicopedagogia Institucional:

A Psicopedagogia vem atuando com muito sucesso nas diversas

Instituições, sejam escolas, hospitais e empresas. Seu papel é analisar e

assinalar os fatores que favorecem, intervém ou prejudicam uma boa

aprendizagem em uma instituição. Propõe e ajuda o desenvolvimento dos

projetos favoráveis a mudanças, também psicoprofiláticamente.

O objetivo do psicopedagogo é o de conduzir a criança ou adolescente,

o adulto ou a Instituição a reinserir-se, reciclar-se numa escolaridade normal

e saudável, de acordo com as possibilidades e interesses dela. Algumas das

várias funções deste profissional são:

· Criar clima harmonioso nos grupos de trabalho;

· Colaborar com a construção do conhecimento;

· Clarear papéis e tarefas no grupo;

· Possibilitar mudanças de papéis – rodízio, liderança – aprende a

delegar;

· Dirige ao aluno como aprendente e ao professor como ensinante;

· Entre outros (SCOZ, 1994).

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2.2 –A Terapia Ocupacional:

A história da Terapia Ocupacional é bastante recente, porém podemos

falar que a atividade humana enquanto recurso terapêutico, foi utilizada, de

forma talvez pouco consciente e/ou científica, desde os tempos mais

remotos. O homem percebe que as atividades possuem características

capazes de influenciá-lo, afetá-lo e transformá-lo e as utiliza, a princípio de

forma intuitiva, para trabalhar aspectos físicos e principalmente aspectos

emocionais.

Na Pré-história, o homem utiliza as pinturas nas paredes de cavernas,

representando seus temores e alegrias diárias e consequentemente

elaborando-os internamente.

Entre os Egípcios, em 2000 a.C., havia a intenção terapêutica no

tratamento do humor doentio, quando usavam cantos e danças ou quando

recomendavam ao paciente ocupar suas horas livres com atividades

recreativas. Os Romanos (293 a.C.) dedicavam-se a cura de doenças

mentais e físicas com a ajuda de diversões, entretenimento e leitura. Em 172

a.C., Galeno, médico grego, afirmava ser a ocupação o melhor médico da

natureza, sendo essencial a felicidade humana.

Durante a Idade Média esse tipo de tratamento passou por um período

de inatividade. E em 1407, retorna com Frei Joffé, que instituiu o trabalho

como uma das formas de tratamento dos doentes do Asilo de Saragoça na

Espanha.

Com a Revolução Francesa, em 1789, novas idéias surgiram e Philip

Pinel, então diretor do Hospital Bicêtre, institui a terapia pelo trabalho como

forma integrante da reforma psiquiátrica.

No Brasil, em 1854, no Hospício Pedro II, haviam oficinas de trabalho

para o tratamento de doentes mentais. Em 1903, Juliano Moreira, diretor de

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Assistência a Psicopatas, impulsionou a Terapia Ocupacional no Brasil,

principalmente no RJ, sendo que em 1911 criou uma colônia para mulheres

onde a terapêutica pelo trabalho passou a ser executada com maior

intensidade. Entretanto foi com a criação da Colônia Juliano Moreira em

Jacarepaguá/RJ, que o tratamento tomou grande impulso no país.

Com a depressão econômica decorrente da Primeira Guerra Mundial,

novamente vemos um declínio da ocupação terapêutica, que retorna

novamente com o aparecimento de pessoas especializadas para

desenvolver esse trabalho. A primeira escola de Terapia Ocupacional foi

aberta em 1915 em Chicago/EUA.

No Brasil em 1946, foi criado no RJ o Serviço de Terapia Ocupacional

no Centro Psiquiátrico Nacional, cuja direção ficou ao encargo da Dra. Nise

M. da Silveira. Em 1948 a profissão de Terapia Ocupacional foi reconhecida

na Europa e em 1951 foi criada a Federação Mundial de Terapia

Ocupacional.

O primeiro curso de Terapia Ocupacional no Brasil, instalado pela

ONU, com duração de 12 meses, foi ministrado no Hospital das Clínicas da

Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo, sendo

regulamentado em 1964.

Somente em 13 de outubro de 1969, através do decreto-lei n.º 938, são

definidas as atribuições do Terapeuta Ocupacional e a formação de nível

superior é reconhecida, ficando o Ministério da Saúde incumbido da

fiscalização do exercício profissional.

Em 1975, com a Lei n.º 6316, cria-se o COFFITO (Conselho Federal de

Fisioterapia e Terapia Ocupacional) e os CREFITO's (Conselho Regional de

Fisioterapia e Terapia Ocupacional), passando para estes a incumbência de

fiscalizar e normatizar as profissões, além de definir a formação e

competência dos profissionais.

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O Código de Ética Profissional que em seus capítulos define as

responsabilidades dos profissionais de Terapia Ocupacional e Fisioterapia

foi aprovado pelo COFFITO em 1978.

Em 1987, com a Resolução COFFITO-81, o exercício do profissional

de Terapia Ocupacional é revogado e redefine-se a competência do

Terapeuta Ocupacional e o uso da expressão Terapia Ocupacional.

(www.terapiaocupacional.fsn.net. Artevidade,1-1p.).

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CAPÍTULO III

Psicopedagogia + Terapia Ocupacional

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3.1 – A Terapia Ocupacional na Educação:

O campo de atuação da Terapia Ocupacional vem se ampliando cada

vez mais quando se tem claro a idéia de que esse profissional busca,

através da análise da atividade, melhorar o desempenho do indivíduo como

um todo.

Entende-se por atividade qualquer “coisa” que exija o processamento

mental de dados, manipulação física de objetos ou movimento dirigido,

podendo assim desenvolver habilidades cognitivas, perceptivas,

psicossociais e de movimento (TROMBLY, 1989).

Acompanhando clientes com dificuldades motoras ou percepto

cognitivas, fica claro a necessidade da TO orientar a escola quanto as

adaptações necessárias para a criança ou adolescente realizar suas

atividades escolares. O tipo de papel e seu posicionamento na mesa, o tipo

de linha, tipo de grafite, tipo de letra e tamanho adequado (observando

aspectos visuais) uso de adaptações que favoreçam a preensão do lápis, o

melhor posicionamento do indivíduo na mesa, como usar tesoura, a

necessidade de treino gráfico, orientação quanto ao uso de computador,

trabalho para melhorar nível de atenção / concentração / organização

espaço temporal, enfim, buscar e adaptar todos os recursos de acordo com

a necessidade do momento, levando-se em conta que a evolução está

sempre presente e que a avaliação faz parte do processo.

Esse tipo de trabalho iniciou-se na "escola especial" onde a orientação

de um terapeuta ocupacional é rotina dentro da equipe multidisciplinar. Hoje,

além do processo de inclusão que requer uma atuação conjunta entre escola

– família - terapeutas, observa-se que a "escola comum" tem requisitado a

atuação da TO no sentido de organizar (aspecto motor/percepção/cognitivo)

o indivíduo para melhorar seu aproveitamento escolar.

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Pode-se dar como exemplo a escrita. Existem crianças que podem

apresentar certa dificuldade no manuseio do material para escrita, portanto,

antes de chegar a uma preensão adequada para o lápis, a criança deve

passar por uma série de experiências sensoriais e motoras que vão

possibilitar o desenvolvimento de movimentos funcionais com os membros

superiores (SANTOS,www.agiruepa.com.br).

Contudo, atualmente não só para estimular os aspectos motor/

perceptivo/ cognitivo o terapeuta ocupacional vem atuando nas escolas.

Atualmente o terapeuta ocupacional vem fazendo o papel de mediador,

circulando pelo pátio das escolas na hora dos intervalos, conhecendo cada

aluno, observando suas atitudes e comportamentos, analisando suas

dificuldades e dúvidas e discutindo com esses alunos todos esses aspectos

(NEVES, O Globo, 2004).

3.2 – O Jogo e o Brincar:

Um dos recursos utilizados em comum pela Psicopedagogia e pela

Terapia Ocupacional é o brincar, o jogo. Estes trazem, a princípio, não só

um vínculo entre o profissional e o cliente como também é através deles que

se consegue alcançar o objetivo de tratamento traçado para aquele

determinado indivíduo.

A palavra jogar vem do latim “jocare” : entregar-se ao; ou tomar parte

no jogo de; executar as diversas combinações de um jogo; aventurar-se ou

arriscar-se ao jogo; perder no jogo; dizer ou fazer brincadeira; harmonizar-

se.

O brincar : “de brinco+ar”; divertir-se infantilmente; entreter-se em jogos

de criança; recrear-se; distrair-se; saltar; pular; dançar, (...) (Dicionário da

Língua Portuguesa – Aurélio, 1986, pp. 286-98).

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Percebemos que há uma dificuldade em definir os termos “jogar” e

“brincar”, pois ambos tem uma fronteira comum, indicando um grau de

subjetividade, em que estas atividades estão implícitas.

Segundo, BOMTEMPO (1987): a atividade do brincar, geralmente é vista como uma situação livre de conflitos e tensões, havendo sempre um elemento de prazer. Também é uma atividade com um fim em si mesma, pois não há resultado biológico imediato que altere a existência do indivíduo.

O brincar da criança não é equivalente ao jogo para o adulto, pois não

é uma simples recreação, o adulto que brinca/joga afasta-se da realidade,

enquanto a criança ao brincar/jogar avança para novas etapas de domínio

do mundo que a cerca.

Precisamos saber que o brincar da criança é uma forma infantil da

capacidade humana de experimentar, criar situações, modelos e como

dominar a realidade, experimentando e prevendo os acontecimentos

(ALMEIDA, 2004).

Huizinga (1980), filósofo da história em 1938, escreveu seu livro

“HOMO LUDENS” no qual argumenta que o jogo é uma categoria

absolutamente primária da vida, tão essencial quando o raciocínio (HOMO

SAPIENS) e a fabricação de objetos (HOMO FABER), então a denominação

HOMO LUDENS, é cujo elemento lúdico está na base do surgimento e

desenvolvimento da civilização.

O autor define jogo como:

uma atividade voluntária exercida dentro de certos e determinados limites de tempo e espaço, segundo regras livremente consentidas, mas absolutamente obrigatórias, dotado de um fim em si mesmo, acompanhado de um sentimento de tensão e alegria e de uma consciência de ser diferente de vida cotidiana.

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É através da brincadeira, do lúdico, do jogo que se inicia as primeiras

etapas de aprendizagem da criança. Na verdade tudo isso é um estímulo

para o desenvolvimento dos aspectos cognitivo, perceptivo e psicomotor.

Com três meses de vida, a criança brinca com suas mãos,

contemplando-as, atenta a cada movimento que esse pedacinho do seu

corpo faz. A partir daí começa a descoberta do movimento e do corpo

através do brincar, daí pra frente a criança rola, senta, cai, tudo como uma

grande brincadeira estando aí desenvolvendo todos os aspectos já citados

anteriormente.

Estudos científicos realizados na Universidade da Califórnia, nos

Estados Unidos, mostraram que crianças que passaram o primeiro ano de

vida num berço não conseguiram sentar sozinhas com um ano e nove

meses. Outra pesquisa, feita por cientistas do Baylor College of Medicine,

também nos Estados Unidos, mostra que crianças que raramente brincam

ou não são tocadas têm cérebros de 20% a 30% menores que o normal para

sua idade. Prova de que o estímulo é essencial para o desenvolvimento em

todos os sentidos ( www.istoeonline.com.br, 2001).

Além disso, é através do brincar que a criança inicia o processo de

auto conhecimento, da sua relação com o outro e com o meio, criando assim

relações necessárias para interagir com o mundo. O brinquedo torna-se um

instrumento de exploração e desenvolvimento de suas capacidades.

É então a partir disso que o brinquedo, o jogo, enfim, o brincar torna-se

uma grande recurso para as áreas de saúde e educação.

Piaget (1976) diz que a atividade lúdica é o berço obrigatório das

atividades intelectuais da criança. Estas não são apenas uma forma de

desafogo ou entretenimento para gastar energia das crianças, mas meios

que contribuem e enriquecem o desenvolvimento intelectual. Ele afirma:

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O jogo é portanto, sob as suas duas formas essenciais de exercício sensório-motor e de simbolismo, uma assimilação do real à atividade própria, fornecendo a esta seu alimento necessário e transformando o real em função das necessidades múltiplas do eu. Por isso, os métodos ativos de educação das crianças exigem todos que se forneça às crianças um material conveniente, a fim de que, jogando, elas cheguem a assimilar as realidades intelectuais que, sem isso, permanecem exteriores à inteligência infantil.

A Psicopedagogia tem se constituído no espaço privilegiado para

pensar as questões relativas à aprendizagem. Sendo assim intimamente

ligada ao ato de brincar, como fonte de conhecimento.

Com o brincar a criança elabora seus problemas, tensões e conflitos,

possibilitando um crescimento mental, fazendo com que a criança possa

vivenciar e aprender a lidar com novas situações.

Ao possibilitar o espaço de brincar, o profissional impulsiona a criança

a fazer sua brincadeira acontecer, ou seja, torna-la realidade, pois estará

concretizando situações próprias, conflitantes ou não. E permite-se com que

venham à tona determinadas situações e fatores que de outra forma seriam

muito difícil de captar e detectar.

A confecção dos brinquedos também traz uma sensação de muito

prazer à criança, aumentando a sua auto-estima, bem como vários outros

enfoques que podem ser trabalhados e avaliados nessa construção.

O importante no brincar não é tanto como a criança, o jovem ou o

adulto brinca, mas sim como ela se envolve, lidando de forma cada vez mais

criativa e interativa com seu mundo interno e externo.

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3.3 – Material:

A seleção do material a ser utilizado, nas atividades lúdicas a serem

realizadas pelo paciente dependerá do quadro do paciente, da sua idade

(mental e cronológica) e do tempo disponível pelo profissional.

O material escolhido e a atividade deve atrair o paciente e para isso

deverá ser diferente do que ele usualmente faz ou usa para brincar.

Assim também, a apresentação do material à criança pode ser feita de

diferentes formas. Dependendo sempre, é claro, do objetivo traçado para a

atividade:

Inclusão em uma caixa de tamanho regular e de fácil manejo pelo

sujeito, a caixa pode servir para guardar os materiais ou para estes e os

produtos pelo sujeito.

Colocação do material arrumado sobre a mesa, mas sem obedecer a

nenhuma classificação ou ordenação, de modo que essas operações posam

ser feitas segundo critérios internos do sujeito.

Material arrumado de forma mista onde parte do material é colocado na

caixa, e alguns objetos são colocados sobre a mesa, a seu lado (exemplo:

livros, alguns jogos, etc.)

A atividade lúdica por não ser dirigida, exige uma explicação]ao prévia

colocando o sujeito a vontade (SCOZ, 1992).

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3.4 – A Psicomotricidade:

O movimento é uma constante na vida do ser humano, principalmente

quando criança. Ao pular, correr, subir, girar, enfim, ao movimentar-se a

criança descobre seu corpo, desenvolve as percepções, sensibilidade,

autonomia, sem falar na cognição, na coordenação motora, no esquema

corporal/ imagem corporal/ posição espacial, noção temporo-espacial,

lateralidade. Isso tudo é o que o movimento pode fazer com o ser humano.

Muitas crianças quando encaminhadas ao profissional de Terapia

Ocupacional a principal queixa é a falta de concentração nas aulas

acarretando uma grande dificuldade em aprender. Paralelamente a Terapia

Ocupacional são também acompanhadas por um psicopedagogo.

Geralmente ao avaliar as crianças que chegam com esse tipo de queixa

nota-se que possuem um equilíbrio precário e uma falta de coordenação

motora. Geralmente também com dificuldades com relação as percepções.

Isso também é notado pelo psicopedagogo.

Daí a psicomotricidade torna-se uma aliada para esses profissionais.

Segundo a SBP, (Sociedade Brasileira de Psicomotricidade)

Psicomotricidade seria:

é a ciência que tem como objeto de estudo o homem através do seu corpo em movimento e em relação ao seu mundo interno e externo, bem como suas possibilidades de perceber, atuar, agir com o outro, com os objetos e consigo mesmo. Está relacionada ao processo de maturação, onde o corpo é a origem das aquisições cognitivas, afetivas e orgânicas. (S.B.P.1999).

Atualmente, não só na área clínica mas também nas escolas a

Psicomotricidade vem ganhando espaço.

A Psicomotricidade desenvolve na criança a compreensão do

movimento e de como seu corpo funciona. Estes conhecimentos devem

estar articulados com a percepção do espaço, de tempo e de peso. É uma

forma de integração e expressão tanto individual quanto coletiva, em que o

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sujeito exercita a atenção, a percepção, a colaboração e a solidariedade. É

também uma fonte de comunicação que contribui para o desenvolvimento da

criança no que se refere à consciência individual e social.

É com base nessa perspectiva que o psicopedagogo e o terapeuta

ocupacional que trabalha em uma instituição escolar planeja, junto ao

educador, atividades que darão oportunidade à criança de experimentar a

plasticidade de seu corpo, de exercitar suas potencialidades motoras ao se

relacionar com o grupo. Considerando, evidentemente, o desenvolvimento

motor da criança, suas ações físicas e habilidades naturais (MOLDA,

SOUZA, www.psicopedagogiaonline.com.br,2000).

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CAPÍTULO IV

Critérios de Avaliação

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4.1 – A Avaliação:

A avaliação e os aspectos a serem trabalhados, na maioria das vezes,

junto ao indivíduo que procura os cuidados do psicopedagogo e do

terapeuta ocupacional são bem semelhantes.

A partir da avaliação traça-se o programa de tratamento, define-se os

objetivos dando assim início ao tratamento.

4.1.1 – Psicopedagogo:

O psicopedagogo clínico e também o institucional avaliam os seguintes

aspectos:

· Coordenação motora ampla

· Aspecto sensório motor

· Dominância lateral

· Desenvolvimento rítmico

· Desenvolvimento motor fino

· Criatividade

· Evolução do traçado e do desenho

· Percepção e discriminação visual e auditiva

· Percepção espacial

· Percepção viso-motora

· Orientação e relação espaço-temporal

· Aquisição e articulação de sons

· Aquisição de palavras novas

· Elaboração e organização mental

· Atenção e concentração

· Expressão plástica

· Aquisição de conceitos

· Discriminação e correspondência de símbolos

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· Raciocínio lógico matemático

· Entre outras

Não é só o profissional da clínica que usa esses critérios avaliativos. O

psicopedagogo que trabalha nas instituições (escola/ empresa/ hospital)

também utilizar esses critérios nas suas avaliações e observações.

No caso do psicopedagogo que atua na instituição escolar, ao perceber

que há um aluno com dificuldades de aprendizagem em uma ou em várias

disciplinas, ele pode estar observando este aluno na sala de aula, nos

intervalos, conversando com este aluno e assim analisando todos esses

critérios descritos acima.

A partir daí sabe como poderá auxiliar esse aluno e orientar o professor

como este deve proceder com relação a dificuldade do aluno.

4.1.2 – Terapeuta Ocupacional:

A Terapia Ocupacional, em todos os seus campos de atuação, avalia

todos ou quase todos os critérios que seguem a lista abaixo:

· Coordenação motora geral (grossa e fina)

· Destreza

· Lateralidade

· Criatividade

· Esquema corporal

· Percepção e discriminação visual e auditiva

· Percepção espacial

· Percepção temporal

· Percepção viso-motora

· Elaboração e organização mental

· Atenção e concentração

· Raciocínio lógico matemático

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· Rapidez de pensamento

· Equilíbrio

· Aspectos emocionais

· AVD (ao treinar as atividades de vida diária o terapeuta ocupacional

já está trabalhando todos os aspectos citados acima).

· Entre outras

Durante a avaliação, a conduta do sujeito avaliado deve ser vista como

uma expressão global, levando-se em conta todos os aspectos: motor,

cognitivo, social, afetivo.

Ao final do processo de avaliação, o profissional já deve Ter formado

uma visão global do sujeito e sua contextualização na família, na escola e no

meio social em que vive, o que já aprendeu, o que pode aprender, o que

interfere no aprender do ponto de vista cognitivo, afetivo-social e psicomotor.

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CONCLUSÃO

O sujeito que escolhe ser atuante na área de saúde e/ou educação

deve ter em mente que o seu principal objetivo será sempre o bem estar, a

melhor qualidade de vida daquele que o procura.

Assim como também deve saber trabalhar em equipe, pois quando

uma área se alia a outra tudo caminha com mais facilidade e os ganhos para

o paciente são maiores e mais rápidos. Isso acontece principalmente quando

depara-se com áreas muito próximas, com tratamento, recursos e campos

de atuação muito semelhantes quando não iguais. Dessa forma o trabalho

fica mais completo. Isso é a transdiciplinariedade.

Atualmente, principalmente para aqueles que trabalham com

reabilitação – em todos os sentidos – o limite entre onde termina a atuação

de um profissional e começa a do outro é muito próxima quase

imperceptível. Isso é ruim? Não, claro que não. Isso é bom pois acaba que

cada profissional sabe um pouco da área do outro trocando assim

informações experiências e conhecimento.

A presente monografia tratou dessas duas áreas que hoje constituem

educação e saúde, onde suas semelhanças começam a partir do momento

que possuem uma visão holística do homem, se preocupando assim com

todos os aspectos que constituem o ser: social, físico e emocional.

Apesar de seus objetos não serem os mesmos, seus objetivos finais

acabam esbarrando-se assim como os recursos utilizados para alcançar

esses objetivos, a visão do ser humano no momento da avaliação e todo o

conhecimento da evolução humana que tem que ter para que suas atuações

sejam precisa e eficaz .

Esse estudo não para por aqui. Existem ainda muito o que se

descobrir, analisar, estudar sobre o que essas duas profissões ligadas a

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saúde e a educação tem em comum. Até por que, a cada dia os campos de

atuação do terapeuta ocupacional e do psicopedagogo aumentam. Criam-se

novas abordagens, métodos, recursos e campos para esses profissionais.

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REFERENCIAS BIBLIOGRÁFICAS

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BOCK, Ana Maria B. Psicologia - Introdução ao Estudo da Psicologia. São Paulo: Saraiva, 1999.

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BOSSA, Nádia . A Psicopedagogia no Brasil, contribuições a partir da prática. Porto Alegre: Artmed, 2000.

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INDICE

CAPA

FOLHA DE ROSTO 2

RESUMO

METODOLOGIA

SUMÁRIO

INTRODUÇÃO

CAPÍTULO I

DESENVOLVIMENTO HUMANO

1.1 – Desenvolvimento Cerebral

1.2 – Crescimento Físico

1.3 – Etapas do Desenvolvimento

CAPÍTULO II

HISTÓRICO DA PSICOPEDAGOGIA

E DA TERAPIA OCUPACIONAL

2.1 – A Psicopedagogia

2.1.1 – A Psicopedagogia Clínica

2.1.2 – A Psicopedagogia Institucional

2.2 – A Terapia Ocupacional

CAPÍTULO III

PSICOPEDAGOGIA + TERAPIA OCUPACIONAL

3.1 – A Terapia Ocupacional na Educação

3.2 – O Jogo e o Brincar

3.3 – Material

3.4 – A Psicomotricidade

CAPÍTULO IV

CRITÉRIOS DE AVALIAÇÃO

4.1 – A Avaliação

4.1.1 – Psicopedagogo

4.1.2 – Terapeuta Ocupacional

CONCLUSÃO

REFERENCIAS BIBLIOGRAFICAS

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FOLHA DE AVALIAÇÃO

UNIVERSIDADE CÂNDIDO MENDES

PROJETO A VEZ DO MESTRE

Pós-Graduação “Lato Sensu”

Título da Monografia: Os Atravessamentos Psicopedagógicos e

Terapêuticos Ocupacionais

Autor: Shelem Regina Gomes Towesend

Data de Entrega: 22/01/2005

Avaliado por: Ana Cristina Guimarães Grau:

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