UNIVERSIDADE CÂNDIDO MENDES PÓS-GRADUAÇÃO … · nunca me deixaram na dúvida ... Rubem Alves ....
-
Upload
trinhnguyet -
Category
Documents
-
view
215 -
download
0
Transcript of UNIVERSIDADE CÂNDIDO MENDES PÓS-GRADUAÇÃO … · nunca me deixaram na dúvida ... Rubem Alves ....
UNIVERSIDADE CÂNDIDO MENDES
PÓS-GRADUAÇÃO “LATO SENSU”
AVM FACULDADE INTEGRADA
FILOSOFIA NA ESCOLA
JUNYA PAULA MAGALHÃES BARBOSA
ORIENTADOR
Prof. EDLA LUCIA TROCOLI XAVIER DA SILVA
RIO DE JANEIRO
2011
2
UNIVERSIDADE CÂNDIDO MENDES
PÓS-GRADUAÇÃO “LATO SENSU”
AVM FACULDADE INTEGRADA
FILOSOFIA NA ESCOLA
Suas contribuições e inclusão no currículo escolar
Trabalho de Conclusão de Curso apresentado à Universidade Cândido Mendes, como requisito parcial para a obtenção do grau de Pós Graduado em Educação Infantil e Desenvolvimento. Por: Junya Paula Magalhães Barbosa
Rio de Janeiro
2011
3
SUMÁRIO
INTRODUÇÃO .................................................................................... 09
1
2
3
A FILOSOFIA ......................................................................................
ÉTICA, FILOSOFIA E EDUCAÇÃO ...................................................
ESCOLA E FILOSOFIA ......................................................................
CONCLUSÃO .....................................................................................
10
17
25
34
REFERÊNCIAS ...................................................................................
36
4
AGRADECIMENTOS
Aos meus professores da Pós Graduação, pela ética e profissionalismo; aos professores da faculdade que nunca me deixaram na dúvida e me levaram a essa idealidade; e muito me fizeram pensar; e especialmente à Clara Brum que me mostrou esse universo filosófico; obrigada por terem contribuído no meu posicionamento crítico em relação à Educação e para esta imensa felicidade que estou sentindo. À minha amiga inesquecível Anna Paula Terra, o meu muito obrigada por ter me proporcionado momentos tão significativos durante a pós graduação e até em assuntos particulares.
5
EPÍGRAFE
“Não existe nada mais fatal para o pensamento que o ensino das respostas certas. Para isto existem as escolas; não para ensinar as respostas, mas para ensinar as perguntas. As respostas nos permitem andar sobre a terra firme. Mas somente as perguntas nos permitem entrar pelo mar desconhecido.”
Rubem Alves
6
DEDICATÓRIA
À minha mãe Maria Lucia, que sempre acreditou em mim; à minha maravilhosa avó Eny Martins, já falecida, que sempre me deu atenção, carinho, amor e demonstrou sabedoria e humanismo; e aos meus filhos Paula e Vitor, tudo em minha vida, que tanto sofreram com minha ausência quando da elaboração desta monografia e dos diversos trabalhos durante o curso; e a Deus dedico o meu agradecimento maior.
7
RESUMO
O presente estudo teve como objetivo discutir teoricamente as contribuições do ensino de Filosofia desde a Educação Infantil, tendo como eixo a educação para os valores. Assim, foi discutido o pleno desenvolvimento do indivíduo para a vida em sociedade de forma crítica e ativa, e ainda o papel da escola neste contexto. Num primeiro momento foi relatado um pouco da história da Filosofia para que se possa entender o que é, para que e por que existe essa ciência. Em um segundo momento foi discutido o conceito de ética e sua necessidade na escolarização de crianças e jovens já que estão em processo de formação da sua conduta ética. E também a formação de um cidadão reflexivo na sociedade atual e a importância da inclusão da disciplina de Filosofia nas escolas. Ao final foi discutida a prática do ensino de Filosofia na escola, sua inclusão e o que se espera desta escola como lugar de transformação e formação, com uma educação de qualidade e totalidade. Com essa tarefa fundamental a escola vai construindo as bases para o exercício da cidadania pensando numa sociedade melhor, onde os indivíduos tomados pela liberdade do pensamento constroem uma sociedade mais justa. Neste caso, a Filosofia não é vista somente como uma disciplina, mas como uma articuladora e fundamentadora de tantas disciplinas existentes nas escolas.
Palavras-chave: Filosofia. Educação. Ética. Cidadania.
8
LISTA DE SIGLAS
CBFC – Centro Brasileiro de Filosofia para Crianças LDB – Lei de Diretrizes e Bases MA – Maranhão MEC – Ministério da Educação PCN – Parâmetros Curriculares Nacionais PSB – Partido Socialista Brasileiro UNESCO – Organização das Nações Unidas
9
INTRODUÇÃO
As obras de Kant; o maior filósofo do pensamento ético; vão ser o ponto
de referência teórica nesta monografia, principalmente quando discutir a
relação entre a ética e a educação dos indivíduos. Marilena Chauí também fará
parte deste estudo com suas contribuições sobre a Filosofia. Terá outras
contribuições bastante importantes de outros autores como Demerval Saviani e
Cipriano Carlos Luckesi também filósofos, onde serão discutidas suas ideias e
propostas para uma educação de qualidade e totalidade.
O segundo capítulo discorre sobre a definição do conceito de ética e da
importância que a Filosofia traz para a criança, que está em processo de
formação da sua conduta ética relacionado ao papel da educação, ou seja, da
escola. Ainda no segundo capítulo, será analisado os aspectos da pedagogia
kantiana relacionados com o problema da educação para a autonomia. A
educação como libertadora e transformadora do pensamento dos sujeitos que
vão poder participar criticamente da realidade social.
No terceiro capítulo será discutida a prática do ensino de Filosofia na
escola, sua inclusão e o que se espera desta escola como lugar de
transformação e formação, e como essa ideia pode construir um homem
melhor agora e no futuro, pensando numa sociedade melhor para os dias de
hoje e de amanhã.
10
CAPÍTULO 1
A FILOSOFIA
O interesse nesse tema surgiu pelo fato de pensar que a escola tem
esse papel de moralizar e socializar. Mas esse moralizar não é dominar, não é
ensinar a ter moral, é criar condições para uma reflexão crítica com base na
realidade social; é uma construção humana de autoconhecimento e
conhecimento com os outros; é um ponto de partida; e nisso a filosofia pode
contribuir.
Mas a certeza desse tema surgiu mesmo na primeira aula de
Filosofia na faculdade com a professora Clara Brum, que mostrou esse
universo filosófico e com isso e com um pouco mais de vivência, é possível
refletir e ter opinião a respeito desse tema, sabendo que ainda há um imenso
caminho a percorrer.
Sem dúvida, a religião, as tradições e os mitos explicavam muitas coisas, mas suas explicações já não satisfaziam aos que interrogavam sobre as causas da mudança, da permanência, da repetição, da desaparição e do ressurgimento de todos os seres. As explicações já não convenciam nem satisfaziam a quem desejava conhecer a verdade sobre o mundo. Assim surgiram os primeiros filósofos. (CHAUÍ, 2005, p. 32)
Este estudo inicia com um pouco da história da Filosofia e como surgiu
para que se possa entender o que é, para que e por que existe. Assim sendo
pode-se perceber a sua importante contribuição para a escolaridade atual e
futura.
Conforme afirma Chauí (2005), de acordo com seus historiadores, a
Filosofia nasceu no final do século VII e início do século VI antes de Cristo, nas
colônias gregas. E o primeiro filósofo foi Tales de Mileto. Além disso, a Filosofia
possuiu um conteúdo preciso ao nascer que é a cosmologia, que significa:
conhecimento, pensamento racional, discurso racional ordenado e organizado
do mundo.
11
Durante séculos, historiadores da Filosofia discutiram se a Filosofia
nasceu por si mesma ou se dependeu de contribuições da sabedoria oriental e
da sabedoria de civilizações de antecedentes gregos. Para eles, a Filosofia
teria nascido pelas transformações que os gregos impuseram aos
conhecimentos orientais, pois, da Agrimensura, os gregos fizeram nascer duas
ciências: a Aritmética e a Geometria; da Astrologia, surgiram também duas
ciências: a Astronomia e a Meteorologia; das Genealogias, fizeram surgir mais
outra ciência: a História; dos mistérios religiosos de purificação da alma,
fizeram surgir as Teorias Filosóficas sobre a natureza e o destino da alma
humana. (CHAUÍ, 2005)
Pensadores judaicos defendiam a origem oriental da Filosofia grega,
porque esta se tornou, em toda a Antigüidade clássica, e para os poderosos da
época, os romanos, a forma superior ou mais elevada do pensamento e da
moral. E, para valorizar seu pensamento, diziam que o pensamento de filósofos
importantes, como Platão, tinha surgido no Egito, onde se originara o
pensamento de Moisés, fazendo uma ligação entre a Filosofia grega e a Bíblia.
Já, os Padres da Igreja, queriam mostrar que os ensinamentos de Jesus
eram elevados e perfeitos, não eram superstição, nem primitivos e incultos, e
por isso, mostravam que os filósofos gregos estavam filiados a correntes de
pensamento místico e oriental e, dessa maneira, estariam próximos do
cristianismo, que é uma religião oriental. (CHAUÍ, 2005)
No entanto, segundo Chauí (2005), nem todos aceitaram a tese
“orientalista”, e muitos, sobretudo no século XIX da nossa era, passaram a falar
na Filosofia como sendo o “milagre grego”, que para eles queria dizer várias
coisas, entre elas, que a Filosofia surgiu inesperadamente na Grécia; que a
Filosofia grega foi um acontecimento espontâneo e único; que os gregos foram
um povo excepcional e sem igual, e por isso somente eles poderiam ter sido
capazes de criar a Filosofia, assim como, foram os únicos a criar as ciências e
a dar às artes a importância que nenhum outro povo deu.
A Filosofia é um modo de pensar, ela não é religião, nem história, nem
uma sabedoria de vida. É uma fundamentação teórica e crítica de todas as
práticas humanas. Isso se dá devido a sua racionalidade, isto é, a razão. A
filosofia é radical, sistemática, crítica e investigativa, pois vai à origem de todas
12
as coisas, e rigorosa porque exige coerência e lógica contrariando os
fragmentos do senso comum. Nada é dito como verdade se não passar por
esses critérios de análise, a Filosofia não aceita qualquer contradição para se
dizer uma verdade.
Portanto, segundo Chauí (2005), a valorização humana, o pensamento,
a discussão, a persuasão e a decisão racional, valorizaram o pensamento
racional e criaram condições para que surgisse o discurso ou a palavra
filosófica. Todo cidadão tem o direito de emitir sua opinião, discuti-la com os
outros, persuadi-los a tomar uma decisão proposta por ele, através de uma
decisão racional e exposição dos motivos ou das razões para fazer ou não
fazer alguma coisa. A idéia de um pensamento que todos podem compreender,
discutir e transmitir é fundamental para a Filosofia.
Filosofia é: A decisão de não aceitar como óbvias e evidentes as coisas, as idéias, os fatos, as situações, os valores, os comportamentos de nossa existência cotidiana; jamais aceitá-los sem antes havê-los investigado e compreendido. Perguntaram, certa vez, a um filósofo: “Para que Filosofia?”. E ele respondeu: “Para não darmos nossa aceitação imediata às coisas, sem maiores considerações”. (CHAUÍ, 2005, p. 17)
Há muitos fatores referentes à Filosofia que influenciam diretamente na
formação do cidadão, um deles é o pensar que ultrapassa os limites do senso
comum, por isso é necessário buscar as raízes, os fundamentos de nossos
conceitos de justiça, investigar rigorosamente nossos valores no mundo em
que vivemos. A sociedade está acostumada a aceitar conceitos e valores sem
questioná-los, investigá-los e sem criticá-los e o que prepara o cidadão para
viver num mundo intencionalmente duvidoso é sem dúvida nenhuma o ato de
pensar e mudar. E preparar o indivíduo significa educar, esse é exatamente o
papel da escola que neste sentido vai construindo desde a infância, desde
cedo a consciência filosófica preparando-o para a vida de forma plena. Desta
forma o exercício do pensar desde cedo poderá colaborar e muito para o
desenvolvimento infantil e consequentemente para o futuro deste. (GARCIA,
2001)
13
"O homem não pode tornar-se verdadeiro homem senão pela educação"
(KANT, 1996, p. 15) Com isso, pode-se perceber que as crianças trazem em si
a vontade de descobrir, de entender o mundo. Portanto, desde muito pequenas
podem, junto com outras, pensar de forma organizada e começar a construir
sua autonomia moral e intelectual. É imprescindível que a educação filosófica
comece na Educação Infantil, sendo este um lugar de socialização e integração
facilitando a troca de ideias, onde as crianças se tornam capazes de ouvir
atentamente os outros, aceitam com boa vontade a correção feita pelos
colegas, tornam-se capazes de construir sobre as ideias dos colegas,
desenvolvem suas próprias ideias sem medo de rejeição, apresentam seu
ponto de vista, discutem questões com objetividade, exigem critérios e passam
a fazer perguntas relevantes. Neste contexto, “vai se construindo um alicerce
filosófico que está na construção coletiva do conhecimento; rompendo com a
tradição do individualismo, da competição e do imediatismo; permitindo a
autocorreção, colaborando para o desenvolvimento cognitivo e atitudes éticas.”
(GARCIA, 2001)
Segundo Garcia (2001), o profissional atual e engajado deve estar
preparado, buscando sempre e aprendendo de novo, questionando sua prática
e seus valores disposto a encarar uma nova postura que exige a Filosofia na
escola, sendo um professor que não responde apenas as questões, mas que
medeia situações investigativas, dialógicas e reflexivas. Sabe-se que para isso
é preciso dar a filosofia um espaço e tratamento adequado, para formar
educadores capazes de ensinar crianças e adolescentes nas escolas.
Qual seria, então, a utilidade da Filosofia? Se abandonar a ingenuidade e os preconceitos do senso comum for útil; se não se deixar guiar pela submissão às idéias dominantes e aos poderes estabelecidos for útil; se buscar compreender a significação do mundo, da cultura, da história for útil; se conhecer o sentido das criações humanas nas artes, nas ciências e na política for útil; se dar a cada um de nós e à nossa sociedade os meios para serem conscientes de si e de suas ações numa prática que deseja a liberdade e a felicidade para todos for útil, então podemos dizer que a Filosofia é o mais útil de todos os saberes de que os seres humanos são capazes. (CHAUÍ, 2005, p. 24)
14
No início desta monografia, em 2007, a disciplina de Filosofia não era
obrigatória em nenhum segmento escolar e isso vem sendo uma luta dos
educadores e estudiosos pelo resgate da disciplina desde 1971, quando o
ensino de Filosofia e Sociologia foram substituídos pelo ensino de Moral e
Cívica e Organização Social e Política do Brasil devido a uma profunda crise
que passava o país desde o ano de 1964 durante o regime militar brasileiro; um
regime autoritário e repressivo; que somente queria de forma dominadora e
ideológica inculcar os ideais capitalistas que pela sua visão seria uma
sociedade patriota, harmoniosa, justa e de homens livres, mas que no fundo
omitiam que a sociedade era desigual, injusta e explorada pelo insaciável
desejo de lucro do capital.
Após anos de luta, em 06 de Maio de 2008 foi aprovado pelo senado o
Projeto de Lei do deputado Ribamar Alves (PSB/MA) que altera a Lei de
Diretrizes e Bases (LDB) e inclui as disciplinas de Filosofia e Sociologia como
obrigatórias no currículo escolar do Ensino Médio. Essa já é uma grande
mudança, pois milhões de alunos terão acesso e o direito a uma formação mais
completa, humanista e indispensável que permitirão reflexão do contexto social
em que se vive desenvolvendo uma consciência cidadã e crítica. Muitas
escolas já incluíram a disciplina de Filosofia em seu currículo do Ensino Médio,
inclusive outras também a incluem desde a Educação Infantil.
Este estudo irá tratar das contribuições da filosofia e sua inclusão no
currículo escolar, na educação de crianças e de jovens da Educação Infantil, do
Ensino Fundamental e do Ensino Médio em escolas da rede pública e da rede
particular.
É certo que a Educação para a cidadania não se resume à educação
para os valores, mas este é um eixo fundamental da educação do cidadão, e
através dele também que irei compor algumas considerações sobre o sentido e
a tarefa da Filosofia na Educação. Para alcançarmos um objetivo educacional
que aborde estes termos analisarei questões fundamentais neste estudo: “A
ética pode estar ligada com a educação?”, “A Filosofia contribui para a
formação de um cidadão reflexivo?”, “É possível e necessário incluir como
obrigatoriedade no currículo escolar o ensino de Filosofia?”, “A escola deve
desenvolver atitude crítica em seus alunos?”.
15
De acordo com a LDB um dos princípios da Educação Nacional; dever
da família e do Estado; é o pleno desenvolvimento do educando e seu preparo
para o exercício da cidadania (art. 2º, LDB 9394/96), ainda estabelece no art.
26 que o currículo da Educação Básica deve obrigatoriamente abranger o
conhecimento do mundo físico e natural e da realidade social e política e no art.
27, como diretriz aos conteúdos curriculares aponta a difusão de valores
fundamentais ao interesse social, aos direitos e deveres dos cidadãos, de
respeito ao bem comum e à ordem democrática. Já no art. 35, parágrafo III
aponta que o Ensino médio; etapa final da educação básica; tem como uma
das finalidades o aprimoramento do educando como pessoa humana, incluindo
a formação ética e o desenvolvimento da autonomia intelectual e do
pensamento crítico, assim torna-se necessária a inclusão da disciplina para
atingir este objetivo.
No que consta, referente ao Ensino Fundamental, no art. 32, parágrafos
II, III e IV é que o objetivo da formação básica do cidadão é a compreensão do
ambiente natural e social, do sistema político, da tecnologia, das artes e dos
valores em que se fundamenta a sociedade; o desenvolvimento da capacidade
de aprendizagem, tendo em vista a aquisição de conhecimentos e habilidades
e a formação de atitudes e valores e o fortalecimento dos vínculos de família,
dos laços de solidariedade humana e de tolerância recíproca em que se
assenta a vida social. (LDB 9394/2008)
Para a Educação Infantil; primeira etapa da educação básica; o art. 29
afirma que a finalidade do desenvolvimento integral da criança até seis anos de
idade está em seus aspectos físico, psicológico, intelectual e social,
complementando a ação da família e da comunidade. (LDB 9394/96)
De acordo com os Parâmetros Curriculares Nacionais (PCN’s) para a
Educação Infantil, em seus objetivos é explícito que a educação tem por função
criar condições para o desenvolvimento integral de todas as crianças
necessitando uma atuação que propicia o desenvolvimento de capacidades
envolvendo aquelas de ordem física, afetiva, cognitiva, ética, estética, de
relação interpessoal e inserção social. Este documento fala, portanto de
construção de valores, de criticidade e autonomia, entende-se que para que
esses objetivos sejam alcançados torna-se necessário uma educação para o
16
pensar onde a educação filosófica se firme presente na formação dos
indivíduos desde a infância. (MEC/PCN,1998)
A Filosofia já deveria estar integrada ao currículo escolar há muito
tempo, não só no Ensino Médio, mas em todos os segmentos, pois a própria
Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional decreta os fins da Educação
que são os valores humanos que a Filosofia traz. Certamente, esta não só vai
ser uma disciplina, mas a articuladora de uma educação consciente. Assim
sendo, a escola deve dispor além de conteúdos básicos, o desenvolvimento de
valores éticos e cumprindo assim a sua função social na construção de uma
sociedade mais democrática.
Em uma jornada filosófica internacional organizada pela Organização
das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (UNESCO) em
Paris, nos dias 15 e 16 de fevereiro de 1995, redigiu-se uma "Declaração de
Paris para a Filosofia", onde estudiosos renomados mundialmente afirmaram
que o ensino de Filosofia deve ser preservado e expandido em todos os
lugares. Entendeu-se o importante papel da Filosofia na formação do cidadão
como necessidade social e democrática, pois para a UNESCO a Filosofia
oferece valores úteis socialmente.
A UNESCO tem um Setor de Desenvolvimento Social cuja missão é
conscientizar para as transformações sociais, e para isso realiza eventos
públicos para mobilizar pessoas e em 2002 criou o "Philosophy Day", um
evento anual que celebra o dia da Filosofia com objetivo de mostrar ao mundo
a importância do ensino da Filosofia.
17
CAPÍTULO II
ÉTICA, FILOSOFIA E EDUCAÇÃO
Ideias e acontecimentos da vida cotidiana influenciam diretamente na
formação de um cidadão. Aeon, Mark e William (2005) dizem que não há um
modelo moral a ser seguido pelas crianças, não é preciso escolher entre um
bonzinho e um endiabrado. Até porque há atitudes que sugerem uma visão
estreita da bondade moral. Uma característica central do que é bondade moral,
de acordo com Immanuel Kant (séc.XVIII), é um compromisso com a realização
do “dever”. Mas isso implica em duas forças contrárias que vivem em constante
conflito; de um lado nossos desejos, sentimentos e interesses espontâneos, do
outro é alguém acreditar que o certo é fazer o que se deve fazer e ser o tipo de
pessoa que deve ser. Acreditar num modelo de moral ideal pode ser doloroso
para uma pessoa, pois ela sacrifica seus desejos, sentimentos e interesses
pessoais em nome do dever de fazer a coisa certa e ser o tipo certo de pessoa,
ou seja, o senso de dever moral.
Segundo Aeon, Mark e William (2005), se um indivíduo se sentir
pressionado ou intimidado a fazer algo por alguém que coloca seus interesses
pessoais em primeiro lugar, ele pode ceder rapidamente ou ter um momento de
dúvida, no qual consulta sua consciência ou até mesmo uma pessoa e acaba
por partir para a ação com consciência tranqüila, mesmo no fundo sabendo que
não é correto.
Outra situação de conflito é quando uma pessoa tem que provar algo a
alguém; assim como provar que ama; primeiro a pessoa fica na dúvida se deve
ou não fazer algo, consulta sua consciência e se culpa por pensar em si próprio
antes de pensar no outro, sofre e se sacrifica, mas acaba fazendo aquilo que
acha que deve ser o certo, o dever moral. A pessoa deixa de lado seus desejos
“egoístas” e interesses pessoais.
Existem ainda aquelas pessoas que para garantir seus desejos egoístas,
apela com hipocrisia para a moralidade, mudando seu comportamento e
18
fazendo papel de boazinha. Alguns indivíduos passam por crises de
consciência quando seus atos impensados provocam um mal a alguém, então,
se dedica totalmente a reverter à situação tentando amenizar os fatos. E mais
uma vez para isso, o indivíduo deixa de lado seus prazeres pessoais. Mas isso
ocorre só por um tempo, pois a primeira chance que aparece não sobra
qualquer vestígio do princípio moral. (SKOBLE, CONARD, IRWIN, 2005)
O verdadeiro senso de dever moral não envolve conflitos com desejos e
interesses pessoais, envolve uma consciência do dever moral e um saudável
senso de desejo individual, prazer e interesse social, nesse caso a pessoa não
possui mais nenhuma vida pessoal. Um bom exemplo disso são as donas de
casa convencionais. Mas, a maioria que tem seu trabalho ignorado pela família
quer na verdade provar seu valor, para si e para os outros. Algumas mulheres
precisam dessa independência para se sentirem respeitadas como pessoa,
como um ser humano que tem deveres mas também direitos.
Temos deveres para com nós mesmos, bem como com os outros. Temos uma obrigação de desenvolver os talentos em nosso íntimo ao máximo que pudermos. O caminho para o autodesenvolvimento independente pode, sobre determinadas circunstâncias, ser um doloroso dever moral. É preciso coragem para uma pessoa se impor e defender o próprio desenvolvimento pessoal, quando as pressões sociais e a formação insistem no serviço e na subserviência aos outros. Considera assim, Kant (apud SKOBLE; CONARD; IRWIN, 2005, p. 145).
Em alguns casos para se alcançar o sucesso é preciso omitir verdades,
isso é o que pensam e até fazem algumas pessoas que traem seus próprios
princípios e por fim se culpam por deixar de lado o senso de dever. O melhor é
que na grande maioria dos casos o senso de dever prevalece perante o desejo
pessoal, a pessoa cumpre seu dever e acaba por alcançar sua meta.
A vida deveria ser assim, a coisa certa não deveria resultar em sacrifício pessoal. O dever moral e a felicidade pessoal devem ser conciliados, as pessoas que cumprem sua obrigação devem ser recompensadas; as pessoas egocêntricas que vão atrás de suas metas à custa dos outros devem ser punidas. (KOBLE; CONARD; IRWIN, 2005, p. 147)
19
De acordo com Kant (apud SKOBLE; CONARD; IRWIN, 2005), quem
tem um profundo senso de dever moral, não tem um dever individualista ou
intencionalmente orientado seja por religião ou por convenções sociais. A
moralidade é interna, vem de uma reflexão pessoal sobre os grandes temas da
vida relacionados a honestidade, justiça, igualdade e humanidade. Nos dias de
hoje fica cada vez mais difícil viver segundo esses princípios, pois com a vida
atribulada, com as dificuldades sociais e a violência, agir e lutar por um
princípio moral e ético acaba sendo um grande sacrifício.
Quando as ações são guiadas pelo dever, pelo caráter moral, ou seja,
pela razão; independente dos desejos e impulsos pessoais; as coisas são
completamente diferentes, a razão determina o fim e os meios, ou seja,
determina o que é certo e o que é errado. Se uma pessoa sabe o que deve
fazer, o que é correto fazer, outras pessoas também devem agir da mesma
maneira em situações similares independente do momento. As regras morais
decidem o que deve ser feito independente da vontade, assim a moral leva a
razão, mas tudo isso não leva essencialmente a uma consequência boa, a
felicidade. Para Kant (apud SKOBLE; CONARD; IRWIN, 2005) é diferente
quando se age com moralidade; quando na verdade não se quer nada em
troca, e quando se age pela moralidade; quando se faz o certo pensando em
se dar bem, em não ter prejuízo. Dessa forma, para avaliar o valor moral das
ações é preciso perceber os motivos pelo qual a pessoa age. Os desejos e
preferências, ou seja, as inclinações pessoais devem ser postas de lado para
que se possa diminuir o grau em que o interesse próprio distorce os juízos
acerca do que se deve fazer.
Considerando essas afirmações compreende-se que a virtude é um
saber prático que reflete os hábitos e atitudes éticas de uma pessoa. Desta
forma, não é quem fala sobre a virtude e o caráter dos outros que é uma
pessoa virtuosa e sim quando esta responde a seus atos e pensamentos de
forma consciente. Uma educação voltada ao desenvolvimento da virtude se dá
através da convivência, do exemplo e do convite à reflexão que conduz a
observar a si próprio, a pensar e a escolher; enquanto uma educação que visa
moldar comportamentos leva a hipocrisia, a definir bom e mau, certo e errado
sem consciência. Contudo, a educação moral não vem sozinha para se chegar
20
a plenitude, e sim vem unida a uma educação intelectual onde ambas
conduzem a liberdade de escolha de atitudes conscientes e conseqüentes que
vão de dentro pra fora levando ao bem estar. (FOELKER, s.d.)
A formação do caráter moral e da personalidade é construída através do
respeito e da atenção especial que o ser humano dá aos seus próprios direitos
humanos, quando ele pensa na humanidade como um todo e quando preserva
a própria dignidade e respeita a do outro, criticando a si próprio e se
comparando. Assim sendo, para Kant (apud SILVA, 2007), ao considerar o
conceito da própria razão e não os conceitos dos outros a criança e o jovem
estará assim construindo com humildade seus próprios valores e a perfeição
moral, elevando sua razão aos conceitos do dever e da lei que o impulsionam
na direção correta. Pois se ao contrário, considerando a conduta ou o esforço
de outros pode provocar a inveja, e isso pode trazer a tona seu lado mal, pois o
ser humano tem em si inclinações e instintos que o impulsionam tanto para o
bem quanto para o mal. Portanto, dando valor as suas ações corretas o sujeito
cumpre com os seus deveres de cidadão.
A vontade não será na verdade o único bem nem o bem total, mas [...] o bem supremo e a condição de tudo o mais, mesmo de toda aspiração de felicidade.”... “a vontade na filosofia kantiana não é uma capacidade especial do espírito distinta do pensamento. Ela é, essencialmente, razão prática, ou seja, a vontade, como órgão executivo da razão, é a responsável por tudo aquilo que diz respeito às questões da conduta, da moralidade e, por que não dizer, da Metafísica. (KANT apud SILVA, 2007, pág. 43)
Para tanto, segundo Oliveira (2004) durante a vida escolar do indivíduo,
ou seja, desde criança os professores devem apresentar aos seus alunos as
coisas como um dever. E ainda dar atenção especial à importância da
interação, da socialização e das regras de convivência entre os indivíduos,
focando a troca de experiências e o trabalho em equipe. Assim, os alunos
poderão mostrar sua potencialidade e cooperar com seu conhecimento e com o
do outro, aceitando e recusando idéias (diversidade). Desta forma o educador
estará então contribuindo para o desenvolvimento desta formação moral e de
seu aperfeiçoamento, até que ao chegar à fase adulta já tenha um
entendimento pleno de seus pensamentos e atitudes atingindo um alto nível de
cultura e educação, tendo formado o seu caráter.
21
Desta forma, não basta apenas um trabalho com os conteúdos
conceituais, é preciso desenvolver outras competências para a formação de um
aluno crítico, autônomo e criativo, preparado para a vida, com valores e hábitos
que ajudam a construir as bases para o exercício da cidadania. Assim, a
educação plena deve além de aspectos intelectuais envolver os aspectos
morais, com uma prática educativa pautada por uma conduta ética em que o
educador pratica consigo próprio e com seus alunos, deve também estar
centrada no atendimento das necessidades do educando conduzindo-o a
observar e a compreender suas atitudes, pensando e escolhendo sabiamente
um caminho a seguir em busca da plenitude, da felicidade.
Kant (apud Oliveira, 2004) afirma que no exercício da cidadania os
indivíduos usam a sua inteligência em benefício dos outros, e de si próprios,
para a construção de um mundo mais justo. A moral e a sabedoria têm a ver
com a felicidade humana, no sentido global da palavra, e com a educação
ampla que deverá, portanto a criança receber. É certo que o indivíduo não
nasce com a virtude e a moral, e sim passa por um processo de crescimento
psicológico e social já na escola. E, assim, afirma: “Como poderíamos tornar os
homens felizes, se não os tornamos morais e sábios?” (Kant, 1999, p. 28
[451]). “Para que os homens se tornem morais e sábios e, portanto, felizes é
preciso que sejam educados.” (OLIVEIRA, 2004)
A melhor forma de ter sucesso na educação dos indivíduos é no seio da
escola, não eximindo a influência da família no processo de formação de
valores, mas é na escola que se trabalha a relação social de maneira mais
abrangente. É na escola que os indivíduos vão ter contato a regras e princípios
de convivência que vão lhe servir em toda uma vida. Portanto, quando o
educador desperta e conduz o seu aluno à capacidade de pensar por si próprio
está lhe dando condições de se tornar um indivíduo crítico, esclarecido e
autônomo em seus próprios pensamentos e atitudes. Assim sendo esta torna-
se uma tarefa essencial e uma meta exclusiva da educação, da escola.
Assim, a filosofia em Kant faz-se pedagogia na medida em que o aluno é conduzido a se descobrir como ser autônomo, dotado de vontade, elevando-se, portanto, moralmente quando se liberta das trevas da ignorância e da incapacidade de pensar por si próprio. Tal fato não
22
significa que a pedagogia kantiana tenha por base uma filosofia subjetivista, solipsista ou mesmo legalista, visto que o imperativo categórico, explicitado na obediência à lei moral (expressão máxima da vontade) deduzida a priori, une o subjetivo e o objetivo, o individual e o coletivo, por meio do exercício crítico da razão prática. Concluindo, despertar a capacidade de reflexão crítica no aluno não significa outra coisa senão lançar as bases para o esclarecimento (Aufklärung), tarefa exclusiva, essencial da educação. (SILVA, 2007, pág. 43)
SILVA (2007, p. 22) afirma que “A escola deve encarar com seriedade o
seu potencial educacional para formar o cidadão que assuma uma atitude de
responsabilidade criativa diante de si mesmo, do planeta, da cultura e da
sociedade.” Compreende-se então que a formação do cidadão no mundo de
hoje se dá através das relações entre os sujeitos, de suas reflexões
conscientes do contexto vivido por ele e pelos outros, na sua capacidade de
pensar e de ampliar esses pensamentos, tornando-se melhor como ser
humano. A educação tem esse propósito de desenvolver integralmente o
indivíduo para a sua plena participação política e social.
Nesse sentido atribuir questões de aspectos relevantes da realidade às
crianças e jovens é uma necessidade educacional e coloca-os constituídos
historicamente na vida e os vão constituindo como pessoas que participam do
esforço da sua própria constituição. Se for assim, a Filosofia pretende como
disciplina básica oferecer ao aluno, seja ele criança ou não, ferramentas
necessárias para o exercício do pensamento crítico e da reflexão. Este objetivo
torna-se imprescindível para a formação da cidadania e sua prática numa
sociedade.
Kant (apud Oliveira, 2004, p. 123) revela um olhar atento ao papel da educação e à sua importância na formação de uma sociedade melhor. A educação, nesse caso, deveria servir para criar no homem um compromisso com a melhoria da coletividade, mesmo à custa de sacrifícios de desejos individuais. O autor acredita que ela deva ser executada de maneira cosmopolita, o que significa que por meio dela o homem pode vencer os limites de sua nação, reconhecendo-se como cidadão do mundo.
23
Contudo, não é qualquer educação que colaborará com a construção da
cidadania, mas uma educação voltada para a importância desta na vida, na
formação integral dos indivíduos, e esse é um dos aspectos em que a
educação filosófica se pauta. Para que a filosofia cumpra seu papel de formar
cidadãos não é somente necessário o estudo da história da filosofia, mas o
exercício do filosofar na busca da construção de um pensamento crítico,
autônomo, consciente e de atitude frente ao cotidiano e a vida. Promovendo
desde a infância de maneira eficaz a forma como este indivíduo se encarregará
de viver sua vida numa sociedade. (LIMA, 2008)
De acordo com o PCN, as instituições educativas têm uma função
básica de socialização e, por esse motivo, têm sido sempre um contexto
gerador de atitudes. Mesmo que esses conteúdos não sejam trabalhados de
forma consciente e intencional, estão impregnados na prática educativa de
forma coerente e consciente, onde os valores, as atitudes e as normas são
aprendidos pelas crianças de forma natural através da relação com os pares e
seus educadores, este dando o exemplo evidenciando a possibilidade desta
prática. Do contrário, os valores tornam-se vazios de sentido e aproximam-se
mais de uma utopia não realizável do que de uma realidade possível.
(MEC/PCN1998)
Por todas essas questões considerando a escola como um amplo
espaço de relações humanas onde decisões e julgamentos são feitos o todo
tempo, deve-se buscar diferentes formas de ampliar as práticas pedagógicas e
os espaços onde a ética, ou a moral podem ser focos de educação e de
aprimoramento. A Ética deve ser pensada como um dos componentes mais
importantes da Educação que pode acontecer nos cruzamentos de todas as
disciplinas escolares, isso não seria imposto como lição de moral por
transmissão, a educação moral é vista como a vivência e a construção de
princípios como o respeito mútuo, a justiça, o diálogo e a solidariedade. Esses
princípios são colocados como procedimentos obrigatórios se o que se quer é
formar pessoas capazes de construir autonomamente seus próprios valores
sendo, portanto, alvo de debates, de reflexão e de formação de educadores
tanto quanto o são os aspectos tradicionalmente considerados pedagógicos.
(LEPRE, s.d.)
24
Chegando mais próximo aos dias de hoje do que é pensado sobre
educação e ética, é possível pensar em uma educação comprometida com os
valores humanos, assim é visto uma relação estreita entre as visões de Kant e
as de Paulo Freire (2006, p. 33) que afirma:
Não é possível pensar os seres humanos longe, sequer, da ética, quanto mais fora dela. Estar longe ou pior, fora da ética, entre nós, mulheres e homens, é uma transgressão. É por isso que transformar a experiência educativa em puro treinamento técnico é amesquinhar o que há de fundamentalmente humano no exercício educativo: o seu caráter formador. Respeita-se a natureza do ser humano, o ensino dos conteúdos não pode dar-se alheio à formação moral do educando. Educar é substantivamente formar.
Todos estes elementos éticos citados até o momento neste estudo são
indispensáveis para que o sujeito se entenda como responsável por seu
caminho e pelo caminho dos outros, no sentido de suas relações sociais,
preparando-se para a continuação da vida adulta. “No entanto, é preciso
considerar que as ações se fundamentam num exercício de reflexão capaz de
estabelecer relações entre o indivíduo e o mundo alicerçadas em raízes
profundas dispersas na multiplicidade de informações.” Compreende-se então
que a Filosofia e sua forma de pensar consciente constroem e estabelecem
essas raízes éticas, que devem ser pensadas como um dos componentes mais
importantes da Educação. (CBFC, s.d.)
25
CAPÍTULO III
ESCOLA E FILOSOFIA
A filosofia dirige a vida humana em todos os seus momentos e em todos
os seus processos, é o que sustenta o modo de agir de cada um, emancipa e
direciona. A filosofia é uma forma de conhecimento que, interpretando o
mundo, cria uma concepção coerente e sistêmica que possibilita uma forma de
ação educacional efetiva. Esta forma de ação pode ser vivenciada na escola
que é o lugar em que o indivíduo verá isso de maneira mais ampla e que
poderá ser desenvolvido dentro de um processo educativo escolarizado.
Portanto, a Filosofia deve estar presente no quadro curricular escolar, pois o
saber cientıfico não pode ser o único conhecimento socializado na escola.
(LUCKESI, 2005)
Para propiciar à consciência pedagógica a redescoberta de seu objeto,
faz-se necessária a intervenção da filosofia e entender o caráter social da
educação. A reflexão filosófica permitirá compreender que, ao aderir às
diferentes influências, os pedagogos não se dão conta de que estão
deslocando o eixo de preocupação da educação perdendo de vista seu objeto
específico. Em outros termos, no enfoque referido, o ponto de partida e o ponto
de chegada devem restabelecer uma prioridade para o problema recolocando a
educação no centro de nossas cogitações, isto é, como ponto de partida e
ponto de chegada das teorizações e práticas pedagógicas conscientes.
(SAVIANI, 1990)
Saviani (1990) diz ainda que a realidade pode ser objeto da filosofia
desde que necessite ser pensada. Nas condições indicadas, a filosofia pode
contribuir para uma melhor representação do objeto educativo à medida que,
problematizando-o, o tema como tema de reflexão e aplicando as exigências
metodológicas de radicalidade, rigor e globalidade, explicita suas
características e diferencia-o, pondo em evidência sua especificidade. Assim, a
filosofia contribui para uma melhor delimitação da educação enquanto objeto
de conhecimento.
26
Considerando ainda as abordagens de Saviani (1990), o educador ao
aderir ao estudo crítico das diversas concepções de filosofia da educação
estabelece diferentes maneiras de articular os pressupostos filosóficos com a
teoria da educação e a prática pedagógica, fazendo deste estudo um
componente essencial da formação do educador. Certamente, através desse
estudo o educador irá compreender com maior clareza a razão da existência de
teorias da educação contrastantes e de práticas pedagógicas que se
contrapõem. E, entenderá que a prática pedagógica refere-se sempre a uma
determinada teoria que, por sua vez, pressupõe determinada concepção
filosófica. Em conseqüência, o papel da filosofia da educação passa a se
efetuar de maneira sólida e não baseada no senso comum, o que tornaria a
prática inconsistente e incoerente.
“Dizer que o objeto da filosofia é o pensamento nos permite
compreender porque o assunto de que se ocupa a filosofia é de interesse de
todos os homens já que todos os homens pensam e, portanto, são, num certo
sentido, filósofos.” (SAVIANI, 1990, p. 3)
Para que as crianças possam construir bases sólidas de educação, é
necessário que o professor possa refletir sobre os valores que são transmitidos
cotidianamente e sobre os valores que se quer desenvolver com seus alunos.
Deve-se ter em conta que, por mais que se tenha a intenção de trabalhar com
atitudes e valores, nunca a instituição dará conta da totalidade do que há para
ensinar. Sendo assim, se as crianças aprendem através da convivência com o
outro e com o meio, deverão os educadores cultivar ativamente valores e
atitudes de forma consciente e responsável. (MEC/PCN, 1998)
Kant (2002) acredita que o papel da educação e à sua importância está
na formação de uma sociedade melhor. A educação, nesse caso, deveria servir
para criar no sujeito um compromisso com a melhoria da coletividade, mesmo à
custa de sacrifícios de desejos individuais, reconhecendo-se como cidadão do
mundo. Assim, afirma “Não se deve educar as crianças segundo o presente
estado da espécie humana, mas segundo um estado melhor, possível no
futuro, isto é, segundo a idéia de humanidade e da sua inteira destinação”
(KANT, 2002, p. 22)
27
Nas escolas espera-se que o que é ensinado seja aprendido. Ensinar
significa tornar disponível para os alunos àquilo que devem passar a dominar:
conteúdos, habilidades, competências. Aprender a ensinar é aprender os
métodos que farão com que os alunos se apropriem daquilo que lhes é
ensinado. E a prática de ensino se refere à aplicação destes métodos. No
entanto, aprender e ensinar filosofia significa algo bastante distinto. Não se
aprende filosofia de alguém, mas com alguém. E o que se aprende não é o que
é ensinado. O que se aprende não é a repetição de algo que já existia, mas
algo que é novo e que não podia ser antecipado. (MERÇON, 2003)
As questões colocadas para serem investigadas estão diretamente
ligadas à forma como vivemos e nos relacionamos com o mundo, com os
outros e com nós mesmos. Essas questões não podem ser externas, não
podem vir de lugares outros que não o nosso próprio pensamento. A
investigação coletiva dessas questões podem assim mudar não apenas o que
pensamos como também o que somos.
Afirmar que a filosofia é uma experiência é dizer que ela não pode ser transmitida ou transferida de uma pessoa para outra. A relação que se pode estabelecer com os pensamentos é tão ou mais importante do que o conteúdo do pensar, portanto é uma relação que possibilita a formação, a transformação e também causa mudanças nos indivíduos. (MERÇON, 2003)
Ensinar filosofia não significa esconder cuidadosamente algo conhecido
para que os estudantes o construam ou o descubram por si só. O que se
ensina não é o que se sabe. Ensinar filosofia é gerar espaços que promovam o
novo, a pluralidade, a diferença. O que é ensinado não é um conhecimento,
uma forma de pensar, mas uma inquietude. Aqueles que ensinam filosofia
transmitem sua atitude questionadora, sua não conformidade com o que é
apresentado como óbvio, natural ou necessário em nosso mundo social.
Aqueles que ensinam filosofia transmitem sua abertura ao desconhecido,
ajudando cada estudante a encontrar e seguir aquilo que a intriga. Chauí
(2005, p. 245) afirma:
A Cultura é o aprimoramento da natureza humana pela educação em sentido amplo, isto é, como formação das crianças não só pela alfabetização, mas também pela
28
iniciação à vida da coletividade por meio do aprendizado da música, dança, ginástica, gramática, poesia, retórica, História, Filosofia, etc. A pessoa culta era a pessoa moralmente virtuosa, politicamente consciente e participante, intelectualmente desenvolvida pelo conhecimento das ciências, das artes e da Filosofia.
Para Merçon (2003), ao dizer que não há método que leve ao pensar
não significa que não há nada o que preparar, muito pelo contrário, significa
que a cada vez o professor terá que buscar a forma mais adequada de ensinar
filosofia. Terá que escolher ou criar o material, levantar suas questões, ler
sobre elas, discutir com outros professores e mediadores, perguntar a si e aos
outros sobre sua turma, sobre como proceder, quando, por que e para que. A
cada vez o professor terá que fazer novas perguntas e buscar novas respostas,
mudando sua forma de agir e de ser, ajudando os outros a encontrar o seu
próprio caminho do pensamento. Sem esforço nada é conquistado, sem a
atualização, sem a vontade profissional e sem a união, a prática seria bem
mais complexa.
De acordo com Saviani (2000), a tarefa de Filosofia da Educação é de
oferecer aos educadores um método de reflexão que lhes permitam encarar os
problemas educacionais, penetrando na sua complexidade e encaminhando a
solução de questões tais como: conflito entre filosofia de vida e ideologia na
atividade do educador, a relação entre meios e fins da educação, a relação
entre teoria e prática, os condicionamentos da atividade docente, até onde se
pode contá-los ou superá-los. A Filosofia só será indispensável à formação do
educador se ela for encarada como uma importante reflexão sobre os
problemas da realidade educacional. Para isso o educador tem que
desenvolver uma capacidade profunda de refletir, desta forma, a Filosofia terá
como função acompanhar reflexiva e criticamente a atividade educacional de
modo a esclarecer a tarefa e a contribuição das diversas disciplinas. Sendo
assim, o educador com uma metodologia mais coerente e mais humana,
relacionando os problemas vividos por cada educando constrói através do
pensar um trabalho positivo desenvolvendo a atitude filosófica nos alunos.
“Considerando que a educação visa à promoção do homem, são as
necessidades humanas que irão determinar os objetivos educacionais”
29
(SAVIANI, 2007, p.48), ou seja, as ações educativas deverão ser
desenvolvidas num contexto concreto. A educação deve ser encarada como
prática da transformação. O fundamental, portanto é que os alunos assumam
uma atitude filosófica, que eles sejam capazes de refletir sobre seu papel
histórico na vida, e assim entender o problema dos valores, pois no âmbito
educacional deve-se dar mais ênfase aos valores intelectuais do que aos
econômicos, independentemente da classe social.
E que significa reflexão?...É um pensamento consciente de si mesmo, capaz de avaliar-se, de medir-se com o real, é o ato de retomar, reconsiderar, revisar, vasculhar numa busca constante de significado. É examinar detidamente, prestar atenção, analisa com cuidado. E é isto o filosofar. (SAVIANI, 2007, p. 20)
De acordo com Luckesi (1990, p. 38), “a verdadeira compreensão do
que vem a ser a Filosofia na escola implica assumi-la como uma forma de
entendimento da realidade que coloque nas mãos do ser humano uma
orientação, um direcionamento para a sua ação.” Sendo assim, ela se torna
essencial para a vida de todos os indivíduos, enquanto seres humanos que
pensam, sentem e agem de acordo com os seus relacionamentos e
percepções do dia a dia contribuindo para a compreensão do mundo de forma
mais consciente e ativo dentro dele.
Diante disso, é preocupante pensar qual o papel do educador nas salas
de aula, pois este tem uma responsabilidade imensa de formar gerações e
gerações de educandos, que aprendam a viver com uma postura ética. Para
tanto, é necessário que como educador, o profissional tenha uma atitude de
fazer o educando confrontar ideias e verdades, tornando-os investigativos,
buscando o conhecimento do mundo à sua volta e de si mesmo. O que
significa pedagogicamente mostrar-lhes outras possibilidades de ação, que
tenham os outros como parceiros, como sócios de uma experiência, onde
todos têm direito ao conhecimento. (LUCKESI, 2005)
É impreterível que os professores tenham uma sólida formação contínua
preparados para as novas exigências humanas, um professor com uma nova
linguagem e ainda com comprometimento social, e a escola deve rever seus
30
planos e regimentos, pois só assim se poderá conseguir um ativo
comprometimento. Um único tempo de aula semanal é pouco para que haja um
envolvimento efetivo dos alunos e para a utilização de estratégias adequadas.
Sendo assim, há uma necessidade de que a Filosofia esteja ligada a todas as
disciplinas de forma transdisciplinar sendo a sala de aula um lugar de
discussão de dilemas, de debates para o desenvolvimento de atitudes e a
aquisição de conhecimentos, de valores e para a utilização de estratégias. É
também um espaço propício à formação para a autonomia e a cidadania
porque desta forma pode-se experimentar, promover e conhecer práticas que
permitam ao educando reflexão e comprometimento pessoal.
Para o êxito do trabalho filosófico torna-se necessário transformar as
práticas educativas não se esquecendo da importância da promoção de uma
atmosfera educativa democrática, participativa e humanizada já que a escola é
um espaço de formação, e tudo o que nela se passa tem influência na
realização de vida dos alunos. Desta forma o método deve ser sempre
pensado e repensado de acordo com a época vivida e não copiado de épocas
passadas, de velhos hábitos tendo em vista uma educação apropriada.
(PEREIRA, 2005)
É pressuposto de toda e qualquer relação educativa que o educador
está a serviço dos interesses do educando. Nenhuma prática educativa pode
se instaurar sem este suposto. (SAVIANI, 2000, P.82)
Desta forma, uma metodologia fundamentada na investigação dialógica
permite o uso de estratégias de intervenção educativa visando o
desenvolvimento das habilidades cognitivas, que são instrumentos necessários
do pensar crítico. Tais habilidades, quando desenvolvidas, não apenas se
transferem ao desempenho escolar nas diversas áreas curriculares, mas
contribuem na formação de cidadãos capazes de equacionar problemas e
encontrar soluções criativas e éticas, nos diferentes contextos em que vivem.
(CBFC, s.d.)
De acordo com Pritchard (2005), para trabalhar com crianças e jovens a
Filosofia, o professor deve encarar a turma como uma comunidade de
investigação na qual se debatem ideias num ambiente de abertura e respeito.
Assim é possível desde cedo reforçar o potencial do aluno, encorajando-o a
31
desenvolver a capacidade de escutar, compreender e respeitar as ideias dos
outros, e ainda expor e sustentar as suas próprias ideias. Desta forma tona-se
bem sucedido o objetivo da escola que é contextualizar a realidade em todos
os sentidos levando os alunos a uma investigação em conjunto, onde todos
participam ativamente da discussão de ideias filosóficas, questionam-se
mutuamente, comparando pontos de vista complementando-os e
eventualmente, corrigindo-os. Trata-se de um verdadeiro processo de
cooperação intelectual, afetiva e criativa. e da Filosofia que é a formação
humana.
Quando expomos uma criança à diversidade de opiniões, visamos desenvolver a sua capacidade de julgamento, isto é, sua capacidade de pensar, refletir e discutir as diferentes possibilidades de interpretar as coisas. Somente um sistema educativo alicerçado nestes objetivos tornará sujeitos autônomos, seja do ponto de vista intelectual ou moral. (CAMPOS, p. 3)
Alguns professores mostram-se relutantes em encorajar o pensamento
filosófico dos seus estudantes por lhes faltarem as bases fornecidas por um
estudo formal da filosofia, mas não é necessária a familiaridade com alguma
bibliografia filosófica clássica para introduzir a Filosofia para crianças na sala
de aula. O importante mesmo é a capacidade para facilitar a discussão
filosófica onde os alunos desenvolvam as suas próprias ideias, e isso não
significa dominá-la, o papel do professor na sala de aula é mais facilitar a
discussão do que apresentar didaticamente ideias filosóficas. Contudo, o
professor não precisa fornecer respostas para todas as questões e sim partilhar
dúvidas mediando diálogos onde os alunos formulam as suas próprias
questões e ideias. (CBFC, s.d.)
É claro que o licenciado em Filosofia tem uma excelência teórica para
dar aulas em sua disciplina e não lhe faltará uma visão sobre como o processo
de aprendizagem se dará em seus alunos, mas mesmo o professor que não
tem essa habilitação pode orientar-se de uma metodologia que visa a
valorização dos questionamentos, a importância da discussão, da necessidade
de aprender a pensar melhor e por si mesmo. A formação destes professores,
do Ensino Fundamental e Educação Infantil, devem estar fundamentada no
32
próprio curso de Pedagogia, mas a base filosófica precisa ser garantida com
cursos de especialização e aperfeiçoamento profissional, mas muito além
disso, é preciso estar no meio, atuando, atento ao menor indício e oportunidade
que as crianças fornecem aos questionamentos. (GODÓI, s.d.)
O que torna viável a concretização de uma proposta educacional
fundamentada pela Filosofia são os temas que devem ser abordados sempre
de forma reflexiva, com temas humanísticos necessários a todas as pessoas,
particularmente enquanto cidadãs e que dizem respeito aos valores, à
convivência social e à importância do pensar autônomo. Quando essa proposta
se torna uma meta de qualidade educacional está preparando o indivíduo para
superar os desafios contemporâneos ampliando sua visão de mundo
considerando uma dimensão ética, cultural e ecológica. (SILVA, 2007)
Retomando a importância que a Filosofia tem para o indivíduo e que
esta deve estar em sua vida desde a infância, neste sentido, contemplar o
conceito de cidadania responsável e efetiva em uma perspectiva mais ampla
permite a aproximação de crianças e jovens ao pensamento reflexivo, global e
sistemático transformando-o em ações concretas, o que possibilita seu
reconhecimento no mundo de valores e conhecimentos da humanidade, a
análise crítica dos mesmos e a busca de formas alternativas para propor
problemas e soluções. O papel da Filosofia para crianças é desenvolver e
potencializar espaços investigativos ligados ao cotidiano da criança ajudando a
construir significados relevantes e isso irá ajudá-las no decorrer de toda uma
vida. (GODÓI, s.d.)
Um dos grandes desafios pedagógicos atuais é a conquista da
autonomia intelectual, tanto pessoal quanto coletiva, de educadores e
educandos. A melhoria da qualidade de ensino indica a necessidade de
formação global, não só de educandos, mas também dos educadores. Neste
sentido, o exercício do filosofar dá a oportunidade de educadores e educandos,
juntos, numa Comunidade de Investigação, pensarem autonomamente em
suas vidas e práticas, ampliando o universo cultural através do diálogo
investigativo. (CBFC, s.d.)
33
“Ser idealista em educação significa justamente agir como se esse tipo
de sociedade já fosse realidade. Ser idealista, inversamente, significa
reconhecê-la como um ideal que buscamos atingir.” (SAVIANI, 2000, P.86)
O respeito à diversidade cultural e intelectual no esforço da construção
do conhecimento impõe uma nova concepção do caráter educacional e
provoca mudanças no próprio ambiente social, sendo assim é imprescindível
uma proposta educacional filosófica que se mostra como um dos alicerces para
uma proposta que atenda aos anseios de uma sociedade multiculturalista e em
constantes transformações econômicas e sociais. E quanto mais cedo
trabalhada, maiores os benefícios para o crescimento intelectual, humano,
social e moral. (GODÓI, s.d.)
Diante de todos esses aspectos é indiscutível de que a Filosofia é a
disciplina que prepara e ilumina outras disciplinas, pois desenvolve habilidades
importantes necessárias em todos os conteúdos com que se queira trabalhar.
Com isso o conhecimento vai sendo solidificado e a Filosofia passa a ser a
fonte para todas as ciências, sendo assim ela é um ponto de apoio na
educação entre as diversas disciplinas, na qual o indivíduo desenvolve seu
próprio alicerce. Se a contribuição da filosofia na prática educativa é real, a
Filosofia deve se tornar uma disciplina efetiva e bem desenvolvida no currículo
escolar de todos os segmentos escolares, e ainda se tornar uma prática
constante em sala de aula e na sociedade, assim assegurar uma educação
voltada ao pleno exercício da cidadania. (GODÓI, s.d.)
“Atrás da educação repousa o grande segredo da perfeição da raça
humana” (KANT, 1999, p.16 [444]).
34
CONCLUSÃO
As reflexões ético-filosófica-educacionais realizadas ao longo da obra se
voltam para a conscientização de todos que se sentirem responsáveis por uma
pessoa, que ainda criança precisa de além de cuidado e carinho, de ser
educada, pois é na infância que se começa a construir uma base sólida e de
formação de valores humanos. E é por esta razão que todo este estudo
centraliza as ideias em torno das concepções de razão, cidadão e humanidade
sempre determinando o papel essencial da educação filosófica. Essa educação
capacita o sujeito a determinar sua consciência e sua vida de forma autônoma,
crítica e ética.
Foi defendida ao longo dessa monografia uma práxis transformadora do
homem dada o caráter educacional da Filosofia e sua importância, onde se
coloca de lado modelos educacionais desqualificados que anulam e destroem a
mente humana tornando-a dominada e reprimida gerando uma sociedade
excluída, desumana e irracional. Esse caráter educacional transformador
propõe uma educação integral e de conscientização abrindo caminho para uma
formação que busca homens livres, pensantes, ativos e éticos.
Uma educação integral e consciente deve estar pautada em uma
educação de totalidade, onde não se desenvolve somente conteúdos
estabelecidos, mas também conteúdos pertinentes à formação política e ética e
para isso é necessário uma educação dialógica e investigativa que envolva
discussões das experiências humanas preparando o sujeito para o exercício da
cidadania.
Nesse sentido, a proposta deste estudo teve como principal mérito
explicitar de maneira teórica a contribuição da Filosofia para a educação, onde
se defende a educação como formação humana que se dá num processo de
construção da autonomia do pensamento e da prática desta. Esta formação
35
atribuída à escola abrange vários conhecimentos e ainda as relações sociais,
as interações entre os sujeitos, o que é muito importante para as futuras
gerações que seriam construídas baseadas numa relação de integralidade.
Como reflexão final, é afirmado que a Filosofia pode estar em qualquer
lugar, e porque então não estar na escola que é ou pelo menos deveria ser
lugar de uma educação transformadora. Ao profissional que pensa na
educação como uma prática social global. É sugerido como um desafio
introduzir no currículo da escola o ensino de Filosofia, que pode ser atrativo e
agradável, pois encontramos Filosofia em tudo. Claro que isso requer
dedicação, conhecimento, competência, criatividade, recursos, capacitação e
constante atualização profissional.
36
REFERÊNCIAS
BRASIL. Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional. Lei no 9.394/96, de 20 de dezembro. BRASIL. Ministério da Educação e Cultura. Parâmetros Curriculares Nacionais. Brasília: MEC/SEF, 1997/1998. CAMPOS, Névio de. O papel da disciplina de Filosofia no ensino médio e suas relações com o corpo disciplinar do currículo. Revista Eletrônica de Ciências da Educação. Artigo 8, nº 5. Disponível em: http://www.facecla.com.br. Acesso em: 29 maio 2009. CARDOSO, Sergio Ricardo Pereira. A construção do sujeito moral: considerações sobre a importância da educação em Kant. Disponível em: http://www.ufsm.br. Acesso em: 20 maio 2009. CENTRO BRASILEIRO DE FILOSOFIA PARA CRIANÇAS. Filosofia para crianças. Disponível em: http://www.cbfc.org.br. Acesso em: 22 setembro 2007. CHAUI, Marilena. Convite à Filosofia. São Paulo: Ática, 2005. FOELKER, Rita. Virtude: a excelência em prol da felicidade. Revista discutindo Filosofia, São Paulo, ano 2, nº11, p. 23. FREIRE, Paulo. Pedagogia da autonomia: saberes necessários à prática educativa. São Paulo, Paz e Terra, 2006. GARCIA, Dalva. Filosofia para iniciantes. Entrevista exclusiva para o Educacional, em 18 jan. 2001. Disponível em: www.educacional.com.br. Acesso em 17/10/2006. GODÓI, Priscylla Krone de. Como filosofar com as crianças. Revista Filosofia, Ciência & vida. São Paulo, ano 1, nº3, p. 22-29, Escala. Extra. IRWIN, William; CONARD, Mark; SKOBLE, Aeon. Os Simpsons e a filosofia. Tradução Marcos Malvezzi Leal. São Paulo: Madras, 2005. KANT, Immanuel. Sobre a Pedagogia. Tradução Francisco Cock Fontanella. Piracicaba: Unimep. 1996/1999. KANT, Immanuel. Sobre a Pedagogia. Tradução Francisco Cock Fontanella. Piracicaba. Unimep, 4. ed., 2002. LEPRE, Rita Melissa. EDUCAÇÃO MORAL NA ESCOLA: caminhos para a construção da cidadania. Revista On-line Unoeste. Vol. 3, Nº 1, 2005. Disponível em http://revistas.unoeste.br/revistas. Acesso em: 18 maio 2009.
37
LIMA, Fabio de. Filosofia e cidadania. Texto 5, 2008. Disponível em: http://espacolivrepensar.blogspot.com. Acesso em: 28 maio 2009. LUCKESI, Cipriano Carlos. Ética e prática educativa. Revista ABC EDUCATIO. nº 44, 2005, páginas 28-29. Disponível em: http://www.luckesi.com.br. Acesso em: 23 maio 2009. LUCKESI, Cipriano Carlos. Filosofia da Educação. São Paulo, 2005, 21. Reimp. LUCKESI, Cipriano Carlos. Filosofia, exercício do filosofar e prática educativa. Em Aberto. Brasília, ano 9, nº 45 jan-mar, 1990 MERÇON, Juliana. Projeto Filosofia na Escola: Um pouco de sua história e de seu sentido. Revista Pedagógica. Disponível em www.unb.br. Acesso em 22 outubro 2006. OLIVEIRA, Mário Nogueira de. A educação na ética kantiana. Educação e Pesquisa. São Paulo, vol. 30, nº.3, 2004. Disponível em: http://www.scielo.br/scielo.php. Acesso em: 05 maio 2009. PEREIRA, Maria Otília. A Formação Pessoal e Social na Educação do 1º ciclo. Revista Profamar on line. Ed. nº 11, 2005. Disponível em: http://www.proformar.org. Acesso em: 15 abril 2009. PRITCHARD, Michael. Ensino da filosofia: Filosofia para crianças, 2005. Western Michigan University. Disponível em: http://criticanarede.com. Acesso em: 18 abril 2009. SAVIANI, Dermeval. CONTRIBUIÇÕES DA FILOSOFIA PARA A EDUCAÇÃO. Contribuições das ciências humanas para a educação: a filosofia. Brasília, ano 9, n 45, jan-mar, 1990. Disponível em: http://www.publicacoes.inep.gov.br. Acesso em: 15 maio 2009. SAVIANI, Dermeval. Educação: do senso comum à consciência filosófica. 17. ed. Campinas. Autores Associados. 2007. SAVIANI, Dermeval. Escola e Democracia: teorias da educação, curvatura da vara, onze teses sobre educação e política. 33. ed. rev. Campinas: Autores Associados, 2000. SILVA, Lázaro Aparecido. Kant e a pedagogia. 2007, ARTIGO. Disponível em: http://www.revistas.ufg.br. Acesso em: 23 maio 2009. SILVA, Vicente. Fundamentos de uma educação cidadã. Revista nós da escola, Rio de Janeiro, ano 4, nº 48, p. 22, 2007. SOUZA, Elias de Junior. Educação e moral no pensamento de Kant. SEMINÁRIO DE PESQUISA DO PPE 2004. Universidade Estadual de Maringá. Disponível em: http://www.multiculturas.com. Acesso em: 18 maio 2009.