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UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES PÓS-GRADUAÇÃO LATO SENSU INSTITUTO A VEZ DO MESTRE INDISCIPLINA, LIMITES E CONSEQUÊNCIAS NA CONTEMPORÂNEIDADE Por: Ana Rita Abichacra Gonçalves Orientadora Profª. Carly Machado Rio de Janeiro 2010

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UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES

PÓS-GRADUAÇÃO LATO SENSU

INSTITUTO A VEZ DO MESTRE

INDISCIPLINA, LIMITES E CONSEQUÊNCIAS NA

CONTEMPORÂNEIDADE

Por: Ana Rita Abichacra Gonçalves

Orientadora

Profª. Carly Machado

Rio de Janeiro

2010

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UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES

PÓS-GRADUAÇÃO LATO SENSU

INSTITUTO A VEZ DO MESTRE

INDISCIPLINA, LIMITES E CONSEQUÊNCIAS NA

CONTEMPORÂNEIDADE

Apresentação de monografia ao Instituto A Vez do Mestre

– Universidade Candido Mendes como requisito parcial

para obtenção do grau de especialista em

Psicopedagogia Institucional.

Por: Ana Rita Abichacra Gonçalves

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AGRADECIMENTOS

A Deus por ter me dado forças para

prosseguir na minha caminhada, a minha

família pelo incentivo constante, aos

professores que nos acompanharam

durante o curso, marcando sua presença

em nossa caminhada. A todos que, direta

ou indiretamente, colaboraram na

realização deste estudo.

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DEDICATÓRIA

Dedico este trabalho à minha filha Karoline

Abichacra Gonçalves, meu incentivo

contínuo; ao meu marido Luiz de Souza

Gonçalves, cúmplice nesta jornada e a

todas as pessoas comprometidas com a

Educação.

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RESUMO

O estudo vem abordar as questões da indisciplina e limites no espaço

escolar. A indisciplina deixou de ser um acontecimento isolado no dia-a-dia das

instituições escolares e tornou-se uma das maiores preocupações dos

educadores atualmente.

No mundo globalizado com tantas diversidades surgem inseguranças e

dúvidas para o contexto escolar, sobre quais caminhos devemos seguir, não

sabendo em quem e no que acreditar. Diante disso os fatores externos

influenciam, de forma significativa, a conduta dos jovens e crianças.

Porém a indisciplina em sala de aula requer um olhar diferenciado, na

qual as intervenções psicopedagógicas se fazem necessárias para que o

educando consiga superar suas dificuldades.

A busca incessante para compreendermos os problemas de indisciplina

em sala de aula, é um fator fundamental para alcançarmos êxito na

aprendizagem e na formação do cidadão.

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METODOLOGIA

A metodologia utilizada no presente trabalho monográfico foi à

pesquisa bibliográfica de obras relevantes as temáticas: Indisciplina, Limites,

Moral e Ética; Família, Escola e Mídia; A Relação Professor/Aluno e o Trabalho

Pscicopedagógico.

A pesquisa foi realizada em diversas fontes como: livros, web, sites,

etc. O embasamento teórico foi desenvolvido através dos autores: La Taille,

Aquino, Weiss, Freire, Boff, Tiba, entre outros profissionais preocupados em

abordar as temáticas desenvolvidas neste trabalho.

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SUMÁRIO

INTRODUÇÃO 8

CAPÍTULO I

MORAL E ÉTICA – ALGUMAS CONSIDERAÇÕES 10

CAPÍTULO II

FAMÍLIA, ESCOLA E MÍDIA: O TRIPÉ EDUCACIONAL 17

CAPÍTULO III

INDISCIPLINA: RELAÇÃO PROFESSOR/ ALUNO E O

TRABALHO PSICOPEDAGÓGICO 23

CONCLUSÃO 32

BIBLIOGRAFIA 33

ÍNDICE 35

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INTRODUÇÃO

Estamos vivendo um momento de desafio em nossas escolas,

assistimos um aumento considerável da indisciplina e atos violentos, bem como

as preocupações de professores e pais em relação ao comportamento escolar

dos alunos, um problema que precisa ser melhor refletido e enfrentado. O

problema da indisciplina é complexo e muitas vezes os professores buscam

“receitas prontas” que se revelam ineficazes quando aplicadas à situação

concreta.

A busca de soluções para amenizar o problema da indisciplina em sala

de aula, se apresenta não mais como um evento específico e esporádico, mas

como algo polêmico que impulsiona na atualidade algumas escolas buscarem

estratégias, para lidar com os conflitos de indisciplina.

O presente trabalho se justifica pela necessidade trazida na prática

escolar, em que escutamos com frequência profissionais da educação falarem

que as crianças de hoje estão cada vez mais sem limites e indisciplinadas.

Situação que se agrava nas instituições de ensino público, fato este, muitas

vezes atribuído a problemas familiares como: violência doméstica, problemas

sociais, econômicos e culturais. Quando estas condições são trazidas como

produtoras de agressividade e falta de limites na realidade da escola pública,

nos parece também que as próprias crianças são condenadas a viverem

nestas condições, sendo rotuladas como “crianças problemas” e

consequentemente excluídas, o que ainda nos dias de hoje, muitas vezes

prevalece. As dificuldades com relação aos limites e comportamentos

indisciplinados são, na maioria das vezes, atribuídos à família e às condições

em que a criança vive.

Segundo Içami Tiba (2002, p.180), as crianças estão indo para a

escola cada vez mais cedo, sem completar a educação familiar, pois os pais

precisam trabalhar e, a grande maioria não tem com quem deixar os seus

filhos. Diante dessa situação, independente de classes sociais, alguns pais

estão com dificuldades e “perdidos” sobre a maneira de educar os seus filhos,

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9 atribuindo cada vez mais à escola a responsabilidade pela educação das

crianças: “Percebo que as crianças têm dificuldade de estabelecer limites

claros entre a família e a escola, principalmente quando os próprios pais

delegam à escola a educação dos filhos”.

Portanto é questionável a responsabilidade de muitas escolas que têm

como desejo um padrão de aluno obediente, passivo, “disciplinado”, e que

busca uma homogeneidade, ideia que ainda existe nos tempos atuais em

algumas escolas tradicionalistas. É preciso considerar que, de certa forma, seja

na realidade da escola pública ou da escola privada, estamos lidando de fato

com efeitos do mundo contemporâneo, cheio de novas demandas para os

alunos.

A indisciplina em sala de aula requer uma escuta e um olhar

diferenciados, no qual a intervenção psicopedagógica se faz necessário para

auxiliar e integrar o aprendente ao processo ensino aprendizagem.

Contudo, é importante compreender os fatores que levam algumas

crianças e jovens a apresentarem comportamentos indisciplinados e falta de

limites, observando as influências que a família, a mídia, o meio em que vivem

e a escola exercem no desenvolvimento de tais comportamentos.

Para atender a proposta, o estudo aborda no primeiro capítulo algumas

considerações conceituais e teóricas ligadas à moral e a ética.

O segundo capítulo traz a influência da família, da escola e da mídia no

comportamento infantil.

E o terceiro capítulo apresenta questões sobre a relação

professor/aluno e a importância do psicopedagogo no espaço escolar.

Assim sendo, concluímos este estudo com algumas reflexões a

respeito da indisciplina e limites na educação, um tema muito discutido

atualmente por teóricos, educadores, alunos e pais de uma forma geral.

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CAPÍTULO I

MORAL E ÉTICA - ALGUMAS CONSIDERAÇÕES

Vivemos um momento histórico conturbado devido à violência, a

impunidade, a falta de respeito, o individualismo, o ganho a qualquer custo.

Com todo esse turbilhão de acontecimentos, a questão ética no mundo

contemporâneo vem sendo discutido em todos os níveis. A ética dos direitos

humanos, bioética, ética das comunicações, códigos de ética profissional,

conselhos de ética e etc.

Para melhor entendimento, vamos começar definindo moral e ética,

segundo o dicionário Aurélio (2004):

Moral é o conjunto de regras de conduta ou hábitos julgados válidos.

Ética é o estudo dos juízos de apreciação referentes à conduta

humana, do ponto de vista do bem e do mal. Conjunto de normas e princípios

que norteiam a boa conduta do ser humano.

Podemos entender por ética aquilo que nos ajuda a viver melhor, a

tornar melhor o ambiente em que vivemos para nós e para o outro. Com isso, a

individualidade deixa de existir, o ser humano não pensará só em si, mas no

bem comum, na coletividade.

Moral é a regra da boa conduta, da distinção que fazemos entre o que

é bom e o que é ruim, para nós e para os outros.

Segundo Leonardo Boff (2002, p. 91).

“Moral, do latim mos, mores, designa os

costumes e as tradições. Quando um modo de

se organizar a casa é considerado bom a ponto

de ser uma referência coletiva e ser

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reproduzido constantemente, surge então uma

tradição e um estilo arquitetônico. Assistimos,

ao nível dos comportamentos humanos, ao

nascimento da moral.”

Se ética representa a nossa morada, o lugar onde vivemos e buscamos

o bem estar coletivo, moral é o resultado dessa convivência onde surgem os

costumes e as tradições desse povo, sendo assim, “moral representa um

conjunto de atos repetidos, tradicionais consagrados. A ética corporifica um

conjunto de atitudes que vão além desses atos” (BOFF, 2002, p. 94).

Yves de La Taille define o plano ético como “significado e valor da vida.

Que vida eu quero viver?” (2006, p.15). E o plano moral como “as ações

consideradas como obrigatórias, aquelas que não podem não ser realizadas.

Como devo agir?” (2006, p.10).

Para o autor (2002), moral e ética são essenciais para a formação de

qualquer ser humano. Quando trabalhados na infância e na adolescência de

um indivíduo, os dois conceitos passam a fazer parte de sua personalidade,

levando-o a ter boa conduta pessoal e profissional na maioria das situações de

sua vida. O mesmo autor define moral como um dever, um conjunto de regras

a serem seguidas por uma sociedade. Algumas regras são gerais em todo

mundo, como não matar e não roubar, outras, provenientes dos costumes de

cada país. A moral dita à linguagem social.

Já a ética se refere às ações ou condutas da pessoa, que são

benéficas ou não para algo ou para alguém. Ética é o chamado viver bem.

“Moral e ética formam parceria por uma razão muito simples: não basta agir

certo. Tem que agir bem (LA TAILLE, apud SUPER ESCOLA, 2005, p.10).

Acreditamos que a formação ética do individuo deva começar na sua

infância. Piaget (1930 apud LEPRE 2006) já afirmava que a educação moral é

a de auxiliar a criança a construir sua autonomia, e a importância de vivenciar a

moralidade em todos os aspectos e ambientes na escola. Educar moralmente é

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12 proporcionar à criança situações onde ela possa vivenciar a cooperação, a

reciprocidade e o respeito mútuo e assim, construir sua autonomia.

“Para que a solidariedade se desenvolva nas crianças, não são

suficientes os métodos orais, onde são ensinados exemplos a serem seguidos,

mas uma vivência pessoal e coletiva da criança”, afirma Piaget (1931 apud

LEPRE 2006).

Educar para a convivência social é uma necessidade para a vida do ser

humano. Ser solidário, dialogar, respeitar, ser honesto, cooperar, são atitudes

mínimas para vivermos em equilíbrio, respeitando os valores éticos e morais.

Essa forma de agir deveria ser comum entre os homens. Mas, na realidade

presenciamos uma sociedade individualista, egoísta, corrupta, que privilegia o

ter ao ser. La Taille (2006) observa, que o ser depende do ter. Quanto mais eu

tenho (carros, roupas de grife, casa...), mais eu sou. Acreditando que esse é o

caminho da felicidade.

A ética é o grande caminho para o encontro com a felicidade. “E

ninguém é feliz se não faz feliz o outro” (CHALITTA, 2003, p. 30).

Piaget (LA TAILLE, 1998, p. 90), fala ainda em duas morais:

“A heterônoma e a autônoma. A moral

heterônoma é aquela cujas regras são

legitimadas com referência a uma instância

superior, a uma autoridade; na moral

autônoma, pelo contrario, as regas ganham

legitimidade sem nenhuma referência a algo

que transcenda os indivíduos: são legítimas se

nasceram de acordos realizados entre pessoas

iguais e livres.”

A escola sempre teve um papel importante na formação de uma

criança, com o passar dos anos sua responsabilidade vem sendo redobrada.

Isso ocorre por uma série de motivos, e um deles é a ausência dos pais na

educação de seus filhos, que acabam transferindo sua função de educadores

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13 para terceiros: para a escola, à babá e demais familiares. Esse fato tem

desestruturado não só a escola, que não sabe como agir nem quais medidas

tomar, mas a própria família e, em especial, a criança. Para La Taille (apud

SUPER ESCOLA, 2005) antes de mais nada, os lares precisam ser

reorganizados e as regras estabelecidas.

Por não ter uma estrutura consolidada e passarem mais da metade de

seus dias fora de casa, alguns pais acabam tendo muitas dúvidas com relação

a como educar seus filhos e de definir regras claras. Muitos pais deixam de

brigar com seus filhos e optam por uma postura permissível, por se sentirem

culpados e em nome dessa mesma culpa, dão presentes desnecessários e não

percebem, sequer, que os estão comprando. Com isso as crianças não

conseguem saber os limites das coisas e muito menos separar o certo do

errado. O que esses pais não têm clareza é de que eles estão criando os seus

filhos, e não os educando para a vida. Independente de classe social, os pais

estão dando o que têm condições de dar e não o que os filhos precisam.

Quando falamos em falta de limites, não podemos deixar de analisar a

indisciplina, que incomoda os professores, presente nas escolas públicas e

privadas. Segundo Aquino (1996), alguns professores relatam que a questão

disciplinar é, atualmente, uma das dificuldades do trabalho escolar. O ensino

teria como um de seus obstáculos centrais o comportamento dos alunos

trazidos como: bagunça tumulto, falta de limites, desrespeito às figuras de

autoridade, agressividades, etc. A indisciplina aparece sob todas as formas de

conflitos, surgindo quer sob uma aparente submissão ou através dos excessos

produzidos pelo grupo.

A escola não pode ser vista apenas como um mecanismo de

reprodução social e cultural, ela também produz a sua própria violência e

indisciplina. Assim,

“A escola, como qualquer outra instituição, está

planificada para que as pessoas sejam todas

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iguais. Há quem afirme: “quanto mais igual,

mais fácil de dirigir”. A homogeneização é

exercida através de mecanismos disciplinares,

ou seja, de atividades que esquadrinham o

tempo, o espaço, o movimento, gestos e

atitudes dos alunos, dos professores, dos

diretores, impondo aos seus corpos uma

atitude de submissão e docilidade.”

(GUIMARÃES, IN: AQUINO, 1996, p.78).

A escola tem o poder de dominação que não tolera as diferenças,

busca constantemente a homogeneidade, a disciplina e a ordem. A indisciplina

não expressa apenas o ódio, raiva, vingança, mas também uma forma de

romper com o controle imposto pela escola.

Muitos educadores e pais tentam justificar, as causas da indisciplina na

escola associando o comportamento indisciplinado a alguns “traços inerentes”

à infância e à adolescência, por exemplo, algumas pessoas caracterizam os

adolescentes como revoltados e questionadores, já as crianças são

consideradas egocêntricas e por essa razão apresentam tanta dificuldade em

atender às regras e necessidades do grupo. A indisciplina e a desobediência

na infância são naturalizadas. Assim,

“Neste paradigma, as características individuais também

são dadas a priori, pois estão relacionadas à etapa da

vida em que o aluno se encontra. Podemos afirmar que

esta é outra versão do inatismo já que pressupõe a

existência de características universais que se

manifestarão em estágios previstos, independentemente

das vivências realizadas em determinada cultura”.

(REGO, IN: AQUINO, 1996, p.89)

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A indisciplina passa a ser vista como uma atitude de desrespeito, de

intolerância aos acordos firmados, de intransigência, do não cumprimento de

regras capazes de pautar a conduta de um indivíduo ou de um grupo. Como

analisa La Taille (apud REGO IN: AQUINO, 1996, p. 86).

“(...) crianças precisam sim aderir as regras

(que implicam valores e formas de conduta) e

estas somente podem vir de seus educadores,

pais ou professores. Os “limites” implicados por

estas regras não devem ser apenas

interpretados no seu sentido negativo: o que

não pode ser feito ou ultrapassado. Devem

também ser entendidos no seu sentido positivo:

o limite situa, dá consciência de posição

ocupada dentro de algum espaço social – a

família, a escola e a sociedade como um todo.”

Portanto, “limite” não deve ser pensado apenas como ponto extremo,

como fim, como limitação. “Limite” significa também aquilo que pode ou deve

ser transposto, uma fronteira a ser atravessada.

A disciplina não pode ser vista como opressão, adestramento, algo

moldado por quem se julga detentor do poder e sim encarada de maneira

harmônica permitindo que o indivíduo possa relacionar-se com o outro, sem

que os “limites” desejáveis sejam infringidos. Que esse indivíduo, através da

disciplina, possa ter definido os seus parâmetros para alcançar a sua liberdade

de escolha, de expressão e pensamento, necessários ao seu bem comum e a

dos que o cerca.

Educar uma criança não é apenas impor-lhe limites, é antes de mais

nada, ajudá-la cognitiva e emocionalmente a transpô-los, ir além dos modelos

pré-determinados de homem, fazendo-o um ser capaz de conhecer os seus

limites e do próximo, percebendo através da educação, a realidade do mundo

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16 que o cerca e a partir daí, enxergá-lo com seus “próprios” olhos e não com os

olhos do “outro”. Muitas vezes, seja na família, na escola ou nos meios de

comunicação, a educação, em vez de ajudar e incentivar a criança a transpor

limites, a mantém no seu estado infantil.

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CAPÍTULO II

FAMÍLIA, ESCOLA E MÍDIA: O TRIPÉ EDUCACIONAL

Este capítulo pretende relacionar a importância e a influência da

família, da escola e da mídia no comportamento infantil, levando-se em conta

aspectos emocionais, sociais e culturais no qual são atribuídos valores,

inerentes à formação do futuro cidadão.

Vivemos em tempos de mudanças e certos princípios, hoje, são

questionáveis gerando incertezas sobre os valores que devem ser construídos

e desenvolvidos no processo educativo. Percebe-se certa indefinição sobre o

que é ou não permitido, sobre o que é certo ou errado na educação das

crianças. A falta de parâmetros, de diretrizes, de referências morais e éticas, na

educação, vem dificultando a ação de pais e educadores.

Nossa sociedade está insegura em relação à crise da modernidade.

Vivemos o medo, a violência, o conflito e a cada dia somos “bombardeados” de

informações que geram mais incertezas e questionamentos. Estamos perdidos!

Precisamos resgatar a moral, a ética, normas e regras da nossa cultura, pois

sem elas fica impossível encontrar parâmetros onde se espelhar.

2.1 – A Família

A família, entendida como o primeiro contexto de socialização, exerce

grande influência sobre a criança. A atitude dos pais e suas práticas de criação

e educação são aspectos que interferem no desenvolvimento individual e,

conseqüentemente, influenciam o comportamento da criança. É no ambiente

familiar que a criança aprende ou deveria aprender a relacionar-se com as

pessoas, respeitar e valorizar as diferenças individuais, desenvolver a empatia

e adotar métodos não-violentos de lidar com seus próprios sentimentos,

emoções e com os conflitos surgidos nas relações interpessoais.

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Conhecer o ambiente onde a criança encontra-se é importante para

compreender seu comportamento diante dos outros. Famílias com modelos de

pais que assumem uma posição de permissividade e punição ou mesmo

aqueles que se mostram mais hostis e intransigentes, as crianças são mais

inseguras e agressivas, levando para si a hostilidade do ambiente, causando

danos que irão refletir na vida. Famílias onde os pais são afetivos e que

combinam uma atitude de não-punição, não-permissividade e não-rejeição, as

crianças tornam-se mais confiantes e amorosas com os outros.

A criança começa a formular conceitos a partir do seu meio. Os

sentimentos demonstrados pelos pais ao filho ajudam no desenvolvimento do

seu auto-conceito, o conceito do mundo e de seu lugar no mundo. Os pais são

vistos como exemplo, referência, espelho onde a criança vê-se refletida.

É impossível negar, a importância que a educação familiar tem (do

ponto de vista cognitivo, afetivo e moral) sobre o indivíduo. Rego (IN: AQUINO,

1996, p. 98) já diz: “Uma coisa é aceitar que o que ocorre no ambiente familiar

é importante, e outra, bastante diferente, é acreditar que é determinante e

irreversível.”

Os traços que irão caracterizar a criança e o jovem ao longo do seu

desenvolvimento não dependerão somente das expectativas vividas no interior

de sua família e sim de inúmeras aprendizagens realizadas em diferentes

contextos socializadores, como na escola.

2.2 – A Escola

A escola, como as demais instituições de ensino, tem por objetivo a

socialização centrada no princípio de eqüidade, ou seja, reconhecer igualmente

o direito de cada um, respeitando sua história de vida, sua individualidade e

sua bagagem cultural.

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Entretanto, esse objetivo que deveria ser atingido na escola acaba não

sendo alcançado, uma vez que se confunde eqüidade com homogeneidade. Os

alunos acabam sendo tratados como se fossem iguais, sem que se levem em

conta suas características e necessidades individuais, bem como suas

diferenças pessoais. Esse fato pode ser notado de várias maneiras: pela

metodologia empregada na aprendizagem; pela forma de abordar e tratar os

conflitos interpessoais; pela atenção que os professores dispensam aos seus

alunos (que muitas vezes chega a ser de indiferença); pela maneira com que

apresentam soluções preestabelecidas reforçando as diferenças individuais.

Com essas atitudes, a escola, produz as desigualdades sociais, as

desigualdades de gênero e raça e a exclusão do indivíduo, produzindo ela

própria sua violência.

A criança passa em torno de quatro horas e meia diárias no ambiente

escolar, recebendo informações formais e informais, onde ela deve ter um

comportamento de disciplina, e demonstração de interesse por tudo o que lhe é

transmitido. Sem causar nenhum problema, para felicidade da professora e em

nome da “boa educação”. Apesar de trazer uma série de informações de casa

ou da rua, no geral, estas são descartadas e ficam “estacionadas” do lado de

fora do portão da escola.

O aluno não conseguirá dar uma grande atenção ou mostrar interesse

por algo que está muito distante da sua realidade. Ele não se reconhece no

contexto que lhe foi imposto. Todo esse clima gerado pela escola como

instituição recai sobre os alunos, provocando um aglomerado de sentimentos

que se apresenta desde a apatia até a explosão de agressividade e

indisciplina. Despertando sentimentos de aborrecimento, ansiedade e

insatisfação, ou seja, tédio.

A maioria dos alunos, na atualidade, vive um grande dilema devido à

distância que existe entre o que se aprende na escola e o que é necessário

aprender para viver fora dela. O comportamento e as expectativas dos alunos

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20 para com a escola vêm manifestando desencanto e desinteresse, resultado da

situação social em que vivem.

A escola e o aluno não falam a mesma linguagem. De um lado, a

escola preocupada tão somente em despejar uma gama de conteúdos com o

objetivo de preparar os alunos para a competição do mundo globalizado. E por

outro lado, o aluno percebe que o que lhe foi ensinado vai se desmoronando

diante da realidade que enfrenta no seu cotidiano, fora da escola.

Diante de todas essas preocupações aliadas aos inúmeros problemas

que enfrentam os alunos, não se pode duvidar de que a insatisfação, a falta de

perspectiva e a desesperança resultam em um conjunto de sentimentos, muitas

vezes expressos na indisciplina que se instala no ambiente escolar. Com isso a

escola deixa de cumprir o seu papel que é o de educar, impossibilitando o

aluno de desenvolver suas potencialidades, de se revelar através do que

possui e exercitar a conquista de si mesmo e do conhecimento.

A educação busca promover um modelo de homem que atenda aos

interesses da sociedade tendo como “aliada” a mídia, que reforça os valores

pré-estabelecidos.

2.3 – A Mídia

Atualmente os meios de comunicação de massa, como o jornal, o rádio

e a televisão, entraram em todos os lares e exercem uma enorme influência no

modo de viver e de pensar das pessoas. Dentre esses, destaca-se a televisão,

como o meio de comunicação mais presente, interessante e sugestivo para

crianças, jovens e adultos.

Essa presença, muitas vezes, pode ser considerada negativa, já que

através de seus programas, novelas, desenhos e etc, a televisão manipula o

pensamento das pessoas e consegue criar e destruir imagens de acordo com a

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21 sua necessidade. Esse tipo de manipulação além de impor valores, dita regras

e moda, estimula o consumismo, cria mitos e estereótipos.

A influência da televisão no comportamento infantil é preocupante,

pois algumas crianças têm desde muito cedo, a televisão como sua aliada.

Recebem diariamente uma gama de informações e imagens, na sua maioria,

desconexas onde vários assuntos são apresentados em um curto espaço de

tempo. A criança algumas vezes, não compreende o que está vendo.

Apenas assiste passivamente, assimilando imagens sem ter critério para

saber o que deve assistir e quando deve parar de assistir.

As crianças estão no seu dia-a-dia expostas de maneira indiscriminada

à televisão, sujeitas a toda e qualquer tipo de programação, sem nenhum

critério de seleção.

Segundo Fante (2005, p.172),

“Essas programações estão criando, por um lado, a

passividade e permissividade de condutas indignas,

de qualquer ser humano e, por outro lado, um alerta

aos possíveis horrores que podem suceder. Isso

tem sido percebido e vivido por nossos jovens,

alterando sua consciência moral.”

Alguns pontos são relevantes para refletirmos sobre a violência que as

crianças vêem na televisão. Um simples desenho mostra episódios que

envolvem desde a agressão física até verbal; alguns personagens bonzinhos

tendem a ser tão violentos quanto os maus. A agressão é naturalizada e

banalizada.

Porém, segundo Rego (IN: AQUINO, 1996), o comportamento

agressivo e indisciplinado não resulta de fatores isolados (como, por exemplo,

exclusivamente da educação familiar, da influência da TV, da imposição e

autoridade do professor, da violência da sociedade atual), mas da

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22 multiplicidade de influências que recaem sobre a criança ao longo de seu

desenvolvimento.

Esses padrões impostos às crianças pela família, escola e mídia geram

conflitos, resultando nos mais variados tipos de comportamento. O diálogo, o

respeito, o companheirismo e a comunicação verdadeira são essenciais para o

desenvolvimento infantil, assim como o limite e a disciplina. É importante que

se estabeleçam regras justas, e não regras inflexíveis, já que a agressividade e

o autoritarismo podem gerar rancores, hostilidade, sentimentos de rejeição e

rebeldia. Só se educa aquele que não se tem necessidade de dominar.

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CAPÍTULO III

INDISCIPLINA: RELAÇÃO PROFESSOR /ALUNO E O

TRABALHO PSICOPEDAGÓGICO

As mudanças contemporâneas trouxeram inseguranças e dúvidas para o

contexto escolar, sobre quais caminhos devemos seguir, não sabendo em

quem e no que acreditar. Nesse sentido os fatores externos influenciam a

conduta dos jovens e crianças, pois a globalização trouxe uma série de

complexidade e diversidade. Portanto sem saber lidar com essas tendências,

tanto a escola, quanto os alunos, sentem-se perdidos nesse emaranhado de

informações. No entanto, essa leitura da realidade nos remete a indisciplina

gerando um imobilismo no sistema educacional para lidar com esta questão.

Movidos pela incerteza os professores reforçam em suas práticas a

concepção de escola instrucional, remetendo os fatos a uma crise de

moralidade, desenvolvendo uma postura autoritária. A escola, tendo como

função social, o conhecimento fundamental para interpretar a realidade, como

também trabalhar o conhecimento científico, deverá implantar em seu currículo,

parâmetros que possam dar suporte aos professores, para que os mesmos

tenham um olhar diferenciado diante das situações de indisciplina.

No entanto, percebemos que o despreparo para lidar com as situações

conflitantes na sala de aula, requer desafios que ultrapassam o interior da sala

de aula. Neste sentido, fatores externos como: a violência social, a influencia

da mídia e o ambiente familiar dos alunos, como também os fatores internos:

as condições de ensino e aprendizagem, a natureza do currículo, a relação

entre professor e aluno e o sentido que se é dado a escolarização, influenciam

para gerar indisciplina na sala de aula. A partir destas questões é importante

salientar, que o professor deverá ter conhecimentos detalhados e

fundamentados, aliando-se as instituições sociais e ao coletivo do ambiente

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24 escolar, buscando estratégias de como lidar com a indisciplina, pois este

trabalho só terá êxito, quando acontece de maneira coletiva.

Segundo França (apud AQUINO, 1996 p.139), “Entende-se o ato

indisciplinado como aquele que não está em correspondência com as leis e

normas estabelecidas por uma comunidade, um gesto que não cumpre o

prometido e, por esta razão, imprime uma desordem no até então prescrito”.

Ao compreendermos estas questões, percebemos que o problema da

indisciplina, não é apenas da escola, mas sim, da sociedade. Portanto, é

inerente ao processo educativo. Dessa maneira o comportamento

(in)disciplinado é aprendido. No entanto, o problema da indisciplina não deve

ser encarado como alheio à família e a escola, já que em nossa sociedade,

elas são as principais agências educativas. Esses fatores parecem indicar que

a educação está falhando. Sendo a família o primeiro contexto de socialização,

exerce grande influencia sobre a criança e o jovem, suas atitudes e práticas de

criação e educação interferem no desenvolvimento individual e

consequentemente o comportamento do aluno na escola. As crianças

provenientes de lares comprometidos, poderão superar seus conflitos

relacionados a indisciplina, se tiverem oportunidade de vivenciarem em outros

contextos educativos, um modelo diferente de educação.

Existem várias conotações, no que se refere ao conceito de indisciplina.

Alguns professores vêem a indisciplina como um sinal dos tempos modernos,

fazendo um comparativo com as práticas tradicionais. No entanto se esquecem

que a disciplina era obtida por meio de regras impostas, através da rigidez,

impedindo que os alunos desenvolvessem sua criatividade e argumentações,

diante das mais diversas situações vivenciadas no cotidiano.

A indisciplina não é um fenômeno que ocorre apenas, nas escolas da

rede pública de ensino, onde se encontram os alunos das camadas menos

favorecidas do ponto de vista socioeconômico; nas escolas da rede particular,

a jovem elite também apresenta tal fenômeno. Portanto os comportamentos

tidos como indisciplinados independem da classe social do aluno. Esse dado é

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25 relevante, pois reforça a quebra do mito da pobreza x indisciplina ou pobreza x

violência. O conceito de aluno disciplinado ou indisciplinado é subjetivo sendo

relativo a vários fatores: filosofia da escola, padrões culturais estabelecidos e

fatores de desenvolvimento da criança.

O educador deve refletir sobre as condições em que tal comportamento

aparece, pois isso lhe fornecerá um caminho para mudar sua atuação ou seu

programa de ensino conforme o caso.

Portanto a escola e os educadores precisam aprender a adequar suas

exigências as possibilidades e necessidades dos alunos, como por exemplo, a

capacidade de concentração ao resolver determinadas atividades e a

capacidade de compreender determinados conteúdos. No entanto, mais do que

obedecer as regras estabelecidas devido ao receio de punições e ameaças,

precisam ter a oportunidade de conhecer e até mesmo discutir, as intenções

que as originaram, assim como as conseqüências caso sejam infringidas.

Segundo Tiba (2002, p.152): “Castigo, como primeira medida, não educa

uma criança folgada. O que educa é assumir as consequências de seus atos.”

Uma prática baseada em tais princípios terá com certeza, um efeito

extremamente educativo: nas situações em que se fizer necessário, os

estudantes saberão avaliar e tomar decisões, por si próprios. Partindo desses

pressupostos, faz-se necessário uma reflexão sobre as regras presentes na

escola (são coerentes? São justas? São negociadas? São flexíveis?). No

entanto, é fundamental que exista uma coerência entre sua conduta e aquela

que se espera do aluno. Sobretudo é importante que se faça uma analise dos

fatores responsáveis pela indisciplina na sala de aula. O comportamento

indisciplinado também está relacionado a práticas pedagógicas e metodologias

que subestimam a capacidade do aluno. Silva (2004, p. 16) nos mostra que:

“O comportamento indisciplinado está

relacionado também com uma série de

aspectos associados à insuficiência da prática

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pedagógica desenvolvida, como: propostas

curriculares problemáticas, assuntos

desinteressantes ou fáceis demais, cobrança

excessiva da postura sentada e individualizada

do aluno, inadequação da organização da sala

de aula e de tempo para realizar as atividades,

o professor visto como o detentor do saber e

pouco incentivo à autonomia e às interações

entre os alunos, constantes ameaças para se

obter silêncio, pouco diálogo.”

Para a maioria dos educadores, disciplina significa adequar o

comportamento do aluno aquilo que o professor deseja. O aluno disciplinado é

aquele que permanece quieto durante as aulas, ouvindo atentamente as

explicações que são transmitidas, realiza todos os exercícios e se comporta

como o professor determina. A disciplina e a obediência nem sempre provém

de uma relação de autoridade, pode ser pura coação. Encaremos a disciplina

não como algo moldado e supervisionado, alguma forma de comportamento

imposta pelo poder absoluto, mas sim de maneira harmônica sem que seja

algo fabricado pelo poder hierárquico, sem que essa disciplina venha

caracterizar o excesso do superpoderio.

Como sugere Foucault (1987, p.143), "A disciplina “fabrica” indivíduos;

ela é a técnica específica de um poder que toma os indivíduos ao mesmo

tempo como objetos e como instrumentos de seu exercício”

Se o professor apenas consegue ser obedecido pelo uso de recursos

punitivos entre os quais destaca-se a reprovação, ele não está exercendo o

papel de autoridade e sim usando o seu autoritarismo. É claro que o exercício

de pura autoridade é muito raro e tem quase sempre punições de vários tipos.

Porém essas deveriam ser a exceção, o último recurso, e não o primeiro.

Devem aparecer quando a relação de autoridade falha, mas não substituí-la.

No entanto, uma coisa é a autoridade do professor e da escola com

base no conhecimento e na tarefa educativa, outra coisa é o autoritarismo. A

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27 autoridade é algo da própria estrutura do encontro entre um adulto e uma

criança. Se essa autoridade for fundada sobre bases ilegítimas, conduz ao

autoritarismo e à injustiça. Deve-se considerar, no entanto, que negar a

autoridade em nome de igualdades forçadas leva a hipocrisia nas relações

humanas.

Segundo La Taille (IN: AQUINO, 1999, p.9-10),

“Os dois perigos encontram-se no campo da

educação. Por exemplo, se a escola negar toda

e qualquer capacidade de discernimento e

singularidade intelectuais aos alunos, ela se

arvora o direito de arbitrar indiscriminadamente

sobre cada uma de suas condutas – eis o

autoritarismo – e, em caso de fracasso por

parte deles, longe de questionar suas

pretensões e seus métodos, ela incrimina

aqueles que “fogem da norma”: são

indisciplinados, preguiçosos, retardados – eis a

injustiça. Todavia, se a escola negar que a

relação professor/aluno é, por definição,

assimétrica, uma vez que o primeiro sabe

coisas que o segundo deseja ou precisa

conhecer, ela, em nome de um igualitarismo de

bom tom, paralisa-se e, por conseguinte,

paralisa os jovens que a frequentam.”

A autoridade é muito complexa, pois diz respeito às relações de poder,

relações estas derivadas das esferas: política, econômica e cultural. Portanto,

nas relações baseadas nos exercícios da força, há hierarquia, certamente

legitimada por parte de quem determina o poder, mas não legitimada por parte

de quem é obrigado a obedecer. Essas não são relações de autoridade e sim

de autoritarismo, ou seja, uso abusivo do poder. O educador deve evitar em

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28 sua prática docente a política do autoritarismo, mas sem perder de vista a sua

autoridade no processo educativo. Esta deve estar fundada em relações de

respeito mútuo e no prestígio obtido a partir da competência profissional.

Estabelecendo relações baseadas no diálogo, na confiança e na afetividade,

permitindo que os conflitos existentes no cotidiano sejam solucionados de

maneira democrática.

Freire (1996, p.103) diz, “O clima de respeito que nasce de relações

justas, sérias, humildes, generosas, em que a autoridade docente e as

liberdades dos alunos se assumem eticamente, autentica o caráter formador do

espaço pedagógico.”

Quando os estudantes pensam nas suas próprias atitudes e reconhecem

os sentimentos que movem suas ações, surgem oportunidades de, na pratica,

construir valores positivos. Entretanto devemos ter clareza de alguns princípios

necessários, visando uma prática pedagógica reflexiva. Eles são fundamentais

para o sucesso na relação pedagógica. Esses princípios serão obtidos, a partir

de pesquisas e de uma analise reflexiva do contexto social, familiar e escolar,

no qual os alunos estão inseridos. A partir daí, organizar estratégias de ação

como: planejamento participativo, desenvolvendo metodologias, visando o

sucesso do aluno em todas as etapas do desenvolvimento humano e do

processo ensino-aprendizagem.

Segundo o psicólogo Yves de La Taille (1998, p.101), “A indisciplina em

sala de aula não se deve essencialmente a “falhas” psicopedagógicas, pois

está em jogo o lugar que a escola ocupa hoje na sociedade, o lugar que a

criança e o jovem ocupam, o lugar que a moral ocupa.”

Para o professor o desafio é realmente grande. Muitas vezes o mesmo

não consegue resolver o problema da indisciplina em sua sala de aula sozinho.

Ele precisa da orientação e do auxilio do psicopedagogo institucional que tem

como objetivo maior, compreender, assinalar e analisar os fatores que

possibilitam, intervém ou prejudicam uma boa aprendizagem. Este profissional

chega para atuar integrativamente, associado a outras áreas do conhecimento,

tendo como centro o indivíduo em desenvolvimento e suas alterações,

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29 buscando uma escuta e um olhar diferenciados, favorecendo a apreensão de

competências e habilidade que possibilite o apreender num sentido mais

amplo.

O Psicopedagogo vem para auxiliar os educadores nessa busca do

melhor caminho para o aluno desenvolver-se dentro das suas possibilidades.

Mas a integração do grupo e algumas mudanças se fazem necessário.

“O psicopedagogo na instituição faz a

intervenção no sentido de otimizar o espaço

organizacional, de maneira que o funcionário

possa aprender, por meios de novos

pensamentos. O psicopedagogo realizará seu

trabalho junto às organizações na adequação

do conteúdo do planejamento da ação

pedagógica bem como as relações

interpessoais que se estabelecem no âmbito

institucional, caracterizando pelo enfoque

preventivo. Cria oportunidades de dinâmicas de

participação entre funcionários, como

instrumentos de análise das dificuldades

apontadas por eles; a partir de trabalhos

desenvolvidos com os diferentes subsistemas

integrantes dessa organização, levantando

alternativas para a melhoria do trabalho na

instituição; mobilizando a necessidade de

atualização e cooperação entre as pessoas. O

papel do psicopedagogo é criar condições para

que determinados processos cognitivos se

desenvolvam (OLIVEIRA, 2005).”

O profissional irá observar e investigar quais aspectos podem estar

contribuindo para o aluno comportar-se de maneira indisciplinada. Um olhar

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30 atento, a confiança e a formação do vínculo contribuirão de maneira

fundamental para um diagnóstico mais preciso. Weiss (2004, p.23/24),

considera alguns aspectos que devem ser observados para se ter clareza ao

afirmar possíveis causas desse comportamento:

• “aspectos orgânicos – estão relacionados à construção

biofisiológica do sujeito que aprende. Alterações nos órgão sensoriais

impedirão ou dificultarão o acesso aos sinais do conhecimento.

• aspectos cognitivos – estariam ligados basicamente ao

desenvolvimento das estruturas cognoscitivas em seus diferentes domínios.

Incluir nessa grande área também aspectos ligados à memória, atenção,

antecipação, etc.

• aspectos emocionais – estariam ligados ao desenvolvimento

afetivo e sua relação com a construção do conhecimento e a expressão deste

através da produção escolar.

• aspectos sociais – estão ligados à perspectiva da sociedade em

que estão inseridas a família e a escola.

• aspectos pedagógicos – contribuem muitas vezes para o

aparecimento de uma “formação reativa” aos objetos da aprendizagem escolar.

“Tal quadro confunde-se, às vezes, com as dificuldades de aprendizagem

originadas na história pessoal e familiar do aluno.”

Feita a observação e chegada à conclusão o Psicopedagogo, junto

com a equipe escolar e o professor, traçarão metas para ajudar o aluno a

superar esse difícil momento e crescer desenvolvendo por completo seu

potencial.

Com isso é possível superar a “síndrome do encaminhamento”, onde o

professor encaminha constantemente o aluno à direção e orientação da escola

sem tentar resolver o problema. O encaminhamento constante do aluno

indisciplinado, neste caso, demonstra uma transferência de responsabilidade,

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31 este deve ocorrer quando forem esgotadas todas as possibilidades no âmbito

da ação, cabe à equipe acompanhar o professor neste processo.

É importante ressaltar que a intervenção psicopedagógica é um

processo contínuo que necessita do envolvimento coletivo tanto da família

quanto da comunidade escolar e dos demais profissionais envolvidos no

acompanhamento da criança, por isso, é possível acreditar que a intervenção,

além de contribuir para que novas práticas metodológicas sejam desenvolvidas

no cotidiano da escola, poderá também oferecer elementos para ações

conjuntas destes diversos profissionais.

A escola tem como desafio – Educar na diversidade – estando

interligada com o mundo e suas interferências que colaboram na construção do

conhecimento desta sociedade dinâmica e complexa. Atualmente, o fazer

educativo se tornou mais amplo, com objetivos mais flexíveis e diversificados

que buscam atender todos que estão envolvidos nesse processo educativo,

nas suas especificidades e necessidades. Cabe ao psicopedagogo

proporcionar a cada aluno, elementos para sua maior interação com esse

mundo.

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CONCLUSÃO

Durante o estudo foi possível perceber que educar é uma tarefa

complexa, que requer amor, dedicação, perseverança, flexibilidade, firmeza e

que são muitas as causas que levam a indisciplina e falta de limites na

educação.

Pais, educadores e todos que fazem parte do contexto social poderiam

estar sendo responsabilizados por tais comportamentos, porém é importante

salientar, que enquanto ficarmos fazendo o “jogo” da culpabilidade, ou seja,

apontando responsáveis por essa ou aquela questão, estamos deixando de

cumprir com o papel fundamental, de pais e educadores, que é educar nossas

crianças. Educar no sentido pleno da palavra, incentivar o diálogo, a troca, a

autonomia. Ter um olhar e uma escuta diferenciados, procurando vê-las e

respeitá-las como um ser único, buscando um verdadeiro espaço de produção

do conhecimento.

Alguns educadores já reconhecem que não estão preparados para lidar

com a indisciplina que se manifesta na escola. Isso já é o início da solução,

pois reconhecem a necessidade de transformar a prática.

Precisamos entender que a construção de uma nova disciplina é tarefa

de todos, pais, alunos, professores, psicopedagogos e comunidade, por meio

de um planejamento participativo, que ressignifique a ação de todos, de forma

ética, lembrando que é um processo que vai se construindo de forma gradativa

e necessita de acompanhamento.

Certamente, a partir desse caminho chegaremos a alcançar uma visão

mais precisa diante do fenômeno da indisciplina em sala de aula.

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ÍNDICE

FOLHA DE ROSTO 2

AGRADECIMENTO 3

DEDICATÓRIA 4

RESUMO 5

METODOLOGIA 6

SUMÁRIO 7

INTRODUÇÃO 8

CAPÍTULO I

MORAL E ÉTICA – ALGUMAS CONSIDERAÇÕES 10

CAPÍTULO II

FAMÍLIA, ESCOLA E MÍDIA: O TRIPÉ EDUCACIONAL 17

2.1 - A Família 17

2.2 – A Escola 18

2.3 – A Mídia 20

CAPÍTULO III

INDISCIPLINA: RELAÇÃO PROFESSOR/ALUNO E O TRABALHO

PSICOPEDAGÓGICO 23

CONCLUSÃO 32

BIBLIOGRAFIA 33

ÍNDICE 35