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UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES PÓS-GRADUAÇÃO LATO SENSU INSTITUTO A VEZ DO MESTRE “FAZENDO ARTE” - Artes na Educação Infantil Por: Andreia Gonçalves Mattos Cavalcanti Orientadora Profª. Narcisa Castilho Melo Rio de Janeiro 2009 UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES

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UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES

PÓS-GRADUAÇÃO LATO SENSU

INSTITUTO A VEZ DO MESTRE

“FAZENDO ARTE” - Artes na Educação Infantil

Por: Andreia Gonçalves Mattos Cavalcanti

Orientadora

Profª. Narcisa Castilho Melo

Rio de Janeiro

2009

UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES

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PÓS-GRADUAÇÃO LATO SENSU

INSTITUTO A VEZ DO MESTRE

“FAZENDO ARTE” - Artes na Educação Infantil

Apresentação de monografia ao Instituto A Vez do

Mestre – Universidade Candido Mendes como

requisito parcial para obtenção do grau de

especialista em Arteterapia na Educação

Por: Andreia Gonçalves Mattos Cavalcanti

AGRADECIMENTOS

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Aos parentes, amigos, professores e

alunos que tanto auxiliaram nesta

pesquisa.

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DEDICATÓRIA

Ao marido parceiro, à filha sonhada e à

mãe amiga.

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RESUMO

Como a Educação Artística pode favorecer o desenvolvimento da

criança na Educação Infantil?

Veremos neste trabalho como, ao longo do tempo, tem sido vivenciada

a inclusão das Artes à Educação, especialmente com crianças de 4 a 6 anos.

O papel do professor, seu conhecimento e seu fazer educativo; a verdadeira

Educação pela Arte, seu poder e sua abrangência; o processo criativo com

suas nuances e possibilidades; o “Fazer Arte”, seu processo e sua importância.

Veremos que apesar das dificuldades, a Educação Artística tem se

integrado à Educação Infantil de forma realmente produtiva e enriquecedora

graças a um novo olhar sobre Arte e sobre a forma de utilizá-la no cotidiano

infantil, dando sentido ao seu fazer. Aqui não se falará em Arte como

tradicionalmente se pensa, mas em algo pessoal, capaz de promover o

desenvolvimento integral da criança, se integrando às demais áreas do

conhecimento.

Refletindo sobre a realidade, buscando meios de superar dificuldades,

com criatividade e imaginação, construindo a verdadeira arte-educação, com

objetivos, métodos e características próprias a fim de garantir uma educação

plena de vivências e significados.

METODOLOGIA

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Este trabalho foi desenvolvido a partir da pesquisa bibliográfica,

utilizando-se livros, artigos, teses, impressos e virtuais, de autores como: Ana

Mae Barbosa, discutindo Arte e Educação; Silvia Sell Duarte Pillotto e suas

contribuições sobre o uso da Arte na Educação Infantil; o tema Criatividade

segundo Fayga Ostrower; Robert Saunders com sua educação criadora; e

ainda o pensamento de Jung, Vygotsky, bem como os Parâmetros Curriculares

Nacionais para o Ensino de Arte e o Referencial Curricular Nacional para a

Educação Infantil, tendo como base a vivência do uso das Artes em sala de

aula com crianças de quatro a seis anos na Educação Infantil.

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SUMÁRIO

INTRODUÇÃO 08

CAPÍTULO I – Breve histórico da Arte na Educação Infantil 11

CAPÍTULO II – Ensinando Arte hoje 16

CAPÍTULO III – Educando com Arte 21

CAPÍTULO IV – Criando 26

CAPÍTULO V – Fazendo Arte 31

CONCLUSÃO 36

BIBLIOGRAFIA 38

ÍNDICE 40

INTRODUÇÃO

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Mãozinhas pequeninas, um pouco descoordenadas, sujas de tinta que

coçam o nariz e limpam-se na roupa, pezinhos com meia ou descalços cheios

de terra, sorrisos e gargalhadas, olhos brilhantes e conversa animada, fantasia

e realidade misturados em cores e sons. Um dia comum numa sala de aula de

Educação Infantil: alunos, “Fazendo Arte”.

Crianças deparando-se com uma experimentação quase ilimitada,

misturando-se com a matéria, dando formas para seu pensamento,

vivenciando várias meios de expressão, interpretando a vida numa fantasia,

contando histórias, batucando e criando melodias, mexendo e remexendo o

corpo, relacionando-se com o grupo e com si, projetando sonhos e

sentimentos, construindo saberes que vão além das teorias: alunos da

Educação Infantil, “Fazendo Arte”.

Mas isso, que mais parece brincadeira de criança, é Arte? O que é Arte

para a educação? Para que ela serve? Como a Arte tem sido vivenciada na

escola? Como ensiná-la? E a criatividade, também se ensina ou já nasce

conosco? O que é preciso para “Fazer Arte”? São alguns questionamentos que

procuraremos refletir durante este trabalho.

Sabemos que a Arte tradicional dos grandes artistas está atualmente

circunscrita a um meio social favorecido e que a escola, enquanto primeiro

espaço formal de formação de cidadãos, é que pode efetivamente contribuir na

expansão do acesso à Arte a uma grande maioria de crianças e jovens. É

através desta instituição que se pode ter contato sistematizado com o universo

artístico e suas linguagens: artes visuais, teatro, dança, música e literatura, e

com a integração destas linguagens às disciplinas curriculares é que se pode

ter uma educação escolar mais completa.

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A sala-de-aula que se propõe a produzir Arte deve ser viva, dinâmica,

um local sagrado onde pesquisas são desenvolvidas, técnicas são criadas e

recriadas, descobertas são feitas a cada momento, tanto para o educando

quanto para o educador. Mas, na verdade, não é esse o quadro que tem-se

visto. O ensino das Artes ainda está relegado ao segundo plano: falta de

política educacional que invista em material humano e físico, poucas horas

destinadas ao ensino das linguagens artísticas e desvalorização do potencial

educativo contido no universo da Arte são alguns entraves para o seu

reconhecimento enquanto um ramo do conhecimento de igual importância

quanto aos demais.

O acesso à Arte é um direito do homem, como tantos outros ramos do

conhecimento o são. O “Fazer Arte”, conhecer Arte, cultura e estética, amplia o

conhecimento de si e do mundo, o potencial cognitivo, contribuindo para o

desenvolvimento infantil. Mas esse “Fazer Arte” na escola não deve estar

ligado ao dom ou talento artístico. O ensino da Arte, enquanto área do saber,

que se deve buscar é aquele que rompe as barreiras da exclusão e da

competição, onde o que importa é o caminhar de experimentação, descobertas

e superação de cada um, numa dinâmica entre o sentir, pensar e agir. A Arte,

então, terá sentido e fará parte de suas vidas quando cada aluno se

reconhecer como participante e construtor do seu próprio caminhar.

Entendendo ainda Arte como uma das condições de vida, veículo de

prazer, com possibilidades ilimitadas, expressão de sentimentos humanos,

meio de comunhão entre pessoas, percebemos a importância do seu ensino às

crianças. Para os pequenos da Educação Infantil, em especial, o fazer artístico

surge como uma brincadeira, envolvendo o imaginário e o concreto, trazendo a

tona a realidade de vida de cada criança, seus sonhos e medos,

potencialidades e limitações, interesses e necessidades, descortinando cada

individualidade.

Assim, ao considerarmos toda expressão artística, em sua várias

linguagens, dotada de um rico simbolismo, expressão de idéias e emoções,

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veículo de comunicação e socialização, entendemos que o “Fazer Arte”

interfere no indivíduo em si, promovendo o auto-conhecimento, a auto-crítica,

auto-superação e auto-estima.

O contato direto com o fazer artístico, suas diferentes linguagens,

técnicas e materiais, desde os primeiros anos de vida, desenvolve o potencial

criativo, estimulando o espírito lúdico, motivando na criança o interesse pela

experimentação, investigação, pela descoberta do novo, abrindo campo para a

superação de limites, facilitando o processo de aprendizagem e tornando-o

prazeroso.

A cultura amplia-se. Ao conhecermos historicamente os povos e suas

culturas artísticas estamos socialmente ampliando também a visão do mundo,

o conhecimento de outras realidades de vida, de outros padrões éticos e

estéticos, valorizando a diversidade e incentivando novos conceitos de Arte.

Portanto, estudar, analisar, criar, fazer arte desenvolve a capacidade

cognitiva, colaborando para uma melhor integração entre o pensar e o sentir, e

assim, para um melhor entendimento de áreas do conhecimento como línguas,

matemática, história, geografia, ciências.

O “Fazer Arte” transforma o processo de Educação na Pré-escola num

momento mágico, prazeroso e enriquecedor, capaz ainda de estabelecer

relações sadias entre educandos e educadores, criando condições satisfatórias

para o desenvolvimento integral da criança e para a sua formação quanto

cidadão do mundo, objetivos estes gerais e fundamentais da educação.

CAPÍTULO I

BREVE HISTÓRICO DA ARTE NA EDUCAÇÃO INFANTIL

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Na década de 30, com o avanço da ciência e as grandes mudanças

sociais causadas pela industrialização e pelo crescimento das cidades, a

educação tradicional no Brasil, caracterizada pelo ensino ditado por um

mestre, por alunos em silêncio, submissos, sem direito a manifestação, por

conteúdos descontextualizados que deveriam ser decorados a todo custo, e

por uma escola desligada da vida real, começou a sofrer reações importantes.

Foi então que muitas personalidades da Educação tiveram a

oportunidade de contribuir brilhantemente com suas idéias para transformar o

ensino em nosso país. Entre outros, citemos Montessori, que já defendia há

anos os temas lúdicos e o ensino ativo através de atividades livres com

estimulação sensório-motora, ganhando destaque. Freinet, propondo a

valorização do trabalho em grupo como forma de estimular a cooperação, a

iniciativa e a participação. E, mais tarde, Paulo Freire introduzindo a reflexão

da realidade sócio-cultural no processo escolar para uma educação libertadora

e relacionada à vida.

Porém, apesar dos avanços, a importância do ensino das Artes nas

escolas não sofreu grande destaque, ficando ainda limitado ao ensino de

técnicas fracionadas e estanques, que requeriam habilidades, ou como mera

recreação, pouco fundamentada.

Ao longo desses anos, muito se falou sobre a necessidade da inclusão

efetiva das Artes na escola, até que em 1971, pela Lei 5692, a disciplina

Educação Artística tornou-se parte dos currículos escolares.

Foi então que, na década de 70, algumas experiências educativas bem

sucedidas ganharam reconhecimento justamente por aliar o ensino das Artes

às demais áreas do conhecimento de forma a promover a aprendizagem.

Começaram a surgir discussões mais aprofundadas quanto ao papel das Artes

na Educação, e aqui destacaremos na Educação Infantil, seu poder de

atuação nas áreas cognitivas, sensíveis, simbólicos e culturais dos educando.

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Pensemos que, até bem pouco tempo, o aspecto cognitivo não era

muito considerado na Educação Artística e até mesmo na própria Educação

Infantil, que não estava integrada na Educação Básica. A pré-escola era

dissociada do ensino regular por se considerar que os pequenos não tinham

ainda o que aprender, por pouca capacidade para tal e por não necessitar de

muito conhecimento. Considerava-se que deles bastava cuidar, ensinando

algumas noções superficiais de cuidado com si mesmo, algumas

oportunidades de socialização, de desenvolvimento motor limitado e algumas

letras e números, geralmente fora de contexto e sem objetivos maiores. As

brincadeiras até eram incentivadas, mas sem se reconhecer o seu valor

criativo. O “Fazer Arte” era disperso e sem sentido.

Na década de 80, por exemplo, o trabalho do profissional da Educação

Infantil estava fundamentado nos chamados “Cadernos de Atendimento ao

Pré-escolar”, criados pelo Ministério da Educação e Cultura – MEC, que muito

contribuíram naquela época, mas que limitavam-se às etapas evolutivas da

criança, nos seus aspectos sensíveis e de desenvolvimento motor, utilizando a

Arte como técnica para aulas recreativas e muitas vezes fragmentas. De

acordo com Pillotto (2000, p. 61), “esse Caderno, embora tenha uma

fundamentação teórica voltada às concepções do ensino da arte modernista,

na sua essência é muito mais tecnicista, no que diz respeito aos exercícios

repetitivos, mecânicos e sem a preocupação com a reflexão dos conceitos”.

Já nos anos 90, o MEC avançou bastante na abordagem das Artes para

pré-escola, lançando o “Caderno do Professor da Pré-Escola”. “Fazer Arte”

deixou de ser apenas uma atividade de lazer para transformar-se num

momento de reflexão, mas ainda conceitual, metodológico e muito voltado ao

aspecto emocional.

Somente em 1996, a Lei 9.394 de Diretrizes e Bases da Educação veio

modificar este pensamento ao articular Arte, Estética, Cultura e Conhecimento,

garantindo assim a importância cognitiva da Educação Infantil e Artística nos

currículos. As discussões sobre a Arte na pré-escola ganharam então novo

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rumo com o intuito de se promover a integração do profissional da educação

infantil, do profissional de Arte, das crianças, da instituição e da comunidade

em projetos pedagógicos que enfatizem os aspectos cognitivos, sensíveis,

simbólicos e culturais em Arte, criando um espaço artístico e cultural que

possibilite a livre expressão através das múltiplas linguagens, levando sempre

em consideração o contexto social, as necessidades e interesses dos

educandos.

As Artes, então, assumiram um papel fundamental na Educação Infantil

e a questão da constituição da linguagem visual e da visualidade da criança

ganhou destaque como um dos objetivos do ensino de Arte para os pequenos.

Objetivou-se ainda desencadear questionamentos e um novo olhar sobre o

fazer artístico infantil, rompendo algemas estabelecidas há tanto tempo,

normas e convenções estanques, resgatando sentido poético à vida.

Já dizia Pitágoras: “Educai as crianças e não será preciso punir os

homens.” E nesse processo de educar, a expressão artística mostrou-se um

meio vigoroso de auto-conhecimento e conhecimento do mundo para uma

educação integral do ser, e ainda um meio de se curar nos pequenos o que

está em desequilíbrio, os seus atavismos, facilitando a aprendizagem. Assim,

bem recentemente, a Arte ganhou também o cunho de terapia facilitadora para

a Educação.

Na Arteterapia, ciência fundamentada nas Artes e na Medicina, que

estuda e pratica meios de curar através da expressão artística, busca-se a arte

pela arte, analisando-se principalmente o processo criativo e não a obra em si.

Os avanços dessa ciência muito contribuíram para a formação do novo olhar

sobre o ensino das Artes nas escolas, um olhar que vai além dos muros desta

instituição.

Considerando-se que através das várias linguagens artísticas o homem

tem, ao longo da história, se expressado simbolicamente, se relacionado,

compreendendo a si e ao mundo, e sabendo-se que uma imagem muitas

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vezes fala mais que palavras, causando emoções em criador e observador,

tornando consciente o inconsciente, podemos dizer que o processo criativo da

“Fazer Arte” é um poderoso meio terapêutico que nos faz compreender a nós

mesmos e ao mundo que nos cerca, promovendo curas e auxiliando no

desenvolvimento do indivíduo.

Temos ainda visto que, atualmente, a Arte, com seu poder curador e

modificador, tem tocado em questões sociais delicadas e conseguido grandes

avanços. Muitos projetos com classes menos favorecidas, crianças de rua,

prostituídas, com dificuldades de aprendizagem, entre outros problemas

vividos pela infância no Brasil, têm começado pela arte e promovido bons

resultados quanto ao resgate da auto-estima, ao desenvolvimento das

potencialidades, à superação de limites e ao alargamento das possibilidades

na melhoria de vida dessas crianças. Saibamos que a Arte está escondida,

mas presente em todos os movimentos de recuperação social. Isso,

infelizmente não é muito divulgado, talvez porque o artista tem um certo

estigma, que vai da glória à marginalidade, e sua produção nunca foi muito

valorizada em nosso país. Gênios das Artes são reverenciados no mundo todo,

mas quando um jovem escolhe o caminho das Artes como profissão causa,

muitas vezes, calafrios nos pais.

Nesse contexto, surgiu recentemente a figura do educador de Arte.

Para ser um “arte-educador” não basta trabalhar com arte, com a “livre

expressão”, uma abordagem comum até a década de 80, ou desenvolver

projetos de inclusão social, promover eventos artísticos, ou, ainda, dar aulas de

Artes, de trabalhos manuais ou artesanato. É algo muito mais amplo e

importante, pois está ligado à educação do ser e à construção do seu saber.

Não é simplesmente promover a expressão das individualidades, mas entender

esse processo de expressão como um todo, com início, meio e fim. É

compreender Arte como uma área do conhecimento com conteúdos e métodos

específicos que devem ser trabalhados (ensinados e aprendidos) pelo “arte-

educador” junto com seus alunos, num processo de interação e descobertas

contínuas.

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Mas essa prática profissional não é fácil de ser atingida. Somente com

investimentos na formação e qualificação dos professores é que a Arte poderá

perder o cunho de recreação para apoio pedagógico de outras disciplinas e

transformar-se em prática significante para quem dela participa. Como nos

disse Ana Mae Barbosa: “Por meio da Arte é possível desenvolver a percepção

e a imaginação, apreender a realidade do meio ambiente, desenvolver a

capacidade crítica, permitindo ao indivíduo analisar a realidade percebida e

desenvolver a criatividade de maneira a mudar a realidade que foi analisada”.

(Barbosa, 2003, p.18).

A Arte na Educação Infantil está, portanto, vivendo um momento de

transformações, exigindo das políticas educacionais, dos cursos de Formação

de Professores, de cada profissional da área um novo olhar e um maior

comprometimento não somente com os já descobertos e importantes aspectos

cognitivos, sensíveis e culturais, mas também com outros que poderão surgir

na vivência em sala-de-aula, considerando sempre a formação de cidadãos,

protagonistas de uma história presente, com ligações no passado e visões

para o futuro.

CAPÍTULO II

ENSINANDO ARTE HOJE

Educar através da Arte, promovendo o desenvolvimento da criatividade,

das potências artísticas e do conhecimento, é por si só um dos objetivos do

ensino da Arte nos currículos, porém, esse discurso freqüente é muito mais

genérico que prático.

Normalmente tem-se visto nas escolas a associação do

desenvolvimento criativo à Educação Artística, excluindo a participação da

criatividade nas demais áreas de ensino, dissociando a capacidade criadora da

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construção do conhecimento, como se a criança não fosse um ser de cultura,

inserida num meio cultural, um ser que produz experiências criativas no

universo das diferentes matérias escolares, em constante transformação da

realidade e produção do “novo”.

Na Educação Infantil este quadro é ainda mais grave. A prática

pedagógica da grande parte dos educadores da pré-escola tem sido de utilizar

as Artes mais como uma diversão, um passatempo, sem um significado real

para o aluno. Em verdade temos visto que esse professor não está envolvido

com o “Fazer Arte” infantil, seja por não compreender como se dá o processo

criativo, por ele mesmo não vivenciar oportunidades criativas, por desconhecer

atividades verdadeiramente enriquecedoras ao aluno e até mesmo por não dar

real importância à vivência artística.

Em verdade, muitas vezes, este mesmo professor não tem recebido

incentivo e orientação devidos para conhecer os objetivos, conteúdos e

métodos para se ensinar as linguagens artísticas de forma realmente

produtiva, incentivando a formação cultural e artística de seus alunos,

identificando o momento vivenciado por cada um na construção do

conhecimento artístico e o fazendo avançar, valorizando sempre a sua

expressividade e o seu potencial criativo.

Conhecer e praticar o que se ensina é fundamental e, em se tratando de

Educação Artística, a sensibilidade e a criatividade do profissional também são

indispensáveis. Se o professor quer estimular a expressão artística prazerosa e

proveitosa em seus alunos é necessário vivenciar ele mesmo esta experiência,

aguçando sua sensibilidade criadora, reservando tempo e espaço para tal,

explorando materiais e técnicas já conhecidas, criando outras, lendo muito,

visitando museus, ateliês, exposições, indo a teatros e espetáculos em geral,

se especializando em cursos, trocando experiências com outros educadores,

buscando tudo que possa ampliar seus conhecimentos e sua sensibilidade,

mas essa não é uma prática muito fácil de ser alcançada. A falta de tempo por

se desdobrar em várias aulas, poucos recursos para investir em si com

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capacitação profissional e até mesmo com uma diversão construtiva, entre

outros problemas sociais a que estes profissionais estão submetidos, têm

prejudicado suas vivências em sala de aula.

Falando novamente em sensibilidade, vale destacar que, trabalhando

com Artes, a capacidade de percepção do educador deve ser sempre

desenvolvida e apurada, não somente si, mas para que ele possa também

compreender seus alunos, as mensagens verbais, não verbais e pictóricas que

a todo momento eles lhe comunicam de forma natural e simples, mas

encerrando muitos significados. Mais uma vez, pensemos se o professor de

hoje tem recebido conhecimento e apoio psicológico para melhor compreender

e agir com seus alunos. Infelizmente podemos dizer que a grande maioria não

vive essa realidade.

A sensibilidade psicológica auxilia muito o trabalho do educador, pois

nem sempre a criança precisa falar de si para que a conheçamos. Algumas

vezes ela não quer falar, não consegue, geralmente quando sabe que algo

está errado sente-se incomodada e reage de alguma forma a chamar a

atenção, ou pelo exagero em alguma atitude, ou pela própria ausência de

atitude, pelo isolamento. É justamente neste momento que o professor deve

atuar com sabedoria e discrição a fim de auxiliar seu aluno a superar

dificuldades, desenvolvendo-se com todo seu potencial, e a expressão artística

é um eficaz meio de ação para se alcançar este objetivo.

Pensemos que Arte cura. Jung nos diz que a impossibilidade da

expressão de potências (não somente artísticas) é um fator desencadeador de

doenças psíquicas. Da ênfase nesta expressão de potências que levam ao

desenvolvimento integral do indivíduo surge a possibilidade de pensar a Arte

com uma grande qualidade curativa capaz de auxiliar as crianças desde os

primeiros anos escolares. O trabalho brilhante da Dra. Nise da Silveira com

pacientes esquizofrênicos, que baseia-se nesse potencial curativo da Arte,

conceito desenvolvido a partir da teoria Junguiana das forças curativas do

inconsciente, é um bom exemplo do poder que a vivência artística pode ter.

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Uma questão que pode prejudicar o trabalho emocional com uma

classe, desencadeando tantos outros problemas, inclusive de aprendizagem, é

a postura adotada por grande parte dos educadores. O professor costuma ver

a classe como um todo, já o aluno o vê como único. Sua figura, geralmente em

evidência, centro das atenções, gera um comportamento em seus educandos

de meros espectadores que assistem ao mestre como um artista no palco,

criando uma posição de ídolo inquestionável, obrigado a saber tudo, acertar

sempre, que é muito prejudicial para o processo de aprendizagem. A mudança

desta postura de “mestre” é fundamental: convidar os alunos a falar mais, ouvi-

los com calma e atenção, pedir suas opiniões, por em prática suas sugestões,

vivenciando todos juntos o processo de planejamento das atividades,

execução, criação e avaliação, compartilhando, experimentando, descobrindo,

num grande fazer coletivo que servirá para o desenvolvimento pessoal dos

seres envolvidos e para a integração de todo o grupo. E isso também tem a ver

com sensibilidade.

Outra questão fundamental, também ligada à sensibilidade, a ser

verificada antes de se iniciar qualquer trabalho de Arte com crianças,

principalmente com os pequeninos da Educação Infantil, é conhecer cada

individualidade, sua personalidade, perceber o lugar que ocupa em sua família,

seus vínculos afetivos, sua história de vida, seus valores, desejos e

necessidades. Para isso, deve-se primeiro saber ouvir, dar crédito a seus

contos e até mesmo fantasiar com eles. Respeitar dramas, marcas, segredos,

possibilidades e limitações faz parte do processo de confiança e segurança

que deve ser estabelecido em qualquer ambiente educativo, principalmente em

se tratando de um local que vise promover o “Fazer Arte”. Na Educação

Infantil, em especial, tudo é um caminhar de descobertas e o desenvolvimento

das potências deve ser construído dia-a-dia, respeitando-se potências únicas e

tempos próprios.

É natural que, durante este processo, o professor sinta-se inseguro por

ter de dar conta de toda uma subjetividade individual e psicológica e de todo

um conteúdo prático, com métodos e técnicas próprias, mas ao mesmo tempo

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de inúmeras possibilidades que o ensino das Artes traz. O próprio aluno

também pode sentir-se inseguro ao perceber-se diante do fazer artístico,

devido à sua própria inexperiência, por estar em processo de formação física e

emocional e por ter forte necessidade de orientação mais direta e concreta

diante de algum “fazer”. Consideremos que o professor lida diretamente com

seres humanos, com suas histórias, seus sentimentos conscientes e

inconscientes, e o próprio professor também é um ser humano com histórias e

sentimentos, consciente e inconscientes.

A Arte enquanto terapia para a educação busca, justamente, a

consciência e o respeito de si e dos outros como forma de busca de

conhecimento, segurança, autonomia e liberdade, promovendo ainda saúde

emocional e estimulando o potencial criador. Por isso, ela é tão importante de

ser vivenciada por crianças e, por isso, a responsabilidade de quem a “ensina”.

Já foi dito que uma das formas mais eficazes de promoção de saúde

nas crianças, saúde emocional e até mesmo física, é desenvolver seu

potencial criador. Porém, o mundo atual, cada vez mais dependente das altas

tecnologias, tem proporcionado poucas oportunidades criativas aos pequenos.

Vivemos numa cultura de consumo onde a criação maior que vivenciamos é a

de desejos sobre o que não se tem. Não bastar somente ser, mas ter, e a

maioria da população não tem o consumo facilitado, criando uma classe de

excluídos.

A televisão e o computador viraram referências de vida e principais

meios de lazer, um lazer imóvel de fórmulas já prontas oferece poucas

experiências enriquecedoras de criação. Vive-se hoje um copiando o outro,

numa uniformização estanque que só a Arte é capaz de transformar. Se a

palavra está cedendo cada vez mais lugar à imagem, se a globalização está

atingindo cada vez mais pessoas, interligando-as, que a escola, o professor,

saiba aproveitar esse gancho para promover a criatividade, buscando a

integração da imagem na sua prática pedagógica para análise e reflexão.

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Para piorar, a violência e a insegurança das grandes cidades fez com

que as famílias protegessem suas crianças em casa, longe da rua e do contato

ativo com outras crianças, minando as brincadeiras infantis de tanto valor

criativo, emocional e físico. E algo ainda mais grave, as crianças de hoje

convivem menos com seus pais, cada vez mais ocupados, sem tempo para

cuidar e brincar com seus filhos, e até mesmo para educá-los, delegaram à

escola estas importantes tarefas, além da de ensinar a que esta instituição

sempre se propôs. Sobrou para a ela ser ainda o local seguro de contato

infantil, aumentando sua responsabilidade quanto a educar e cuidar num

espaço de saber criativo.

Vamos então refletir em formas de superação dos problemas e busca de

soluções criativas para o ensino das Artes na Educação Infantil.

CAPÍTULO III

EDUCANDO COM ARTE

Não aprendo aquilo que o outro me dá pronto. Aprendo em função daquilo que posso trabalhar sobre o que o outro me diz, ou daquilo que o objeto me mostra ou descubro. Construo, invento, sempre dentro de minhas necessidades e do campo de possibilidades. (SALTINI, 1999, p.15).

Educar, educare, conduzir para construção do saber, priorizando

criatividade, capacidade de adaptação, flexibilidade, transformação e

conhecimento. Nesse processo de educar, característico da escola, podemos

considerar o professor como primeiro e mais importante instrumento de ensino.

Sua capacidade de comunicação, interação e relação com os alunos, o

domínio de conceitos e técnicas de ensino, seu poder criativo, bem como a

relação afetiva e prazerosa que estabelece em sala de aula são fatores

primordiais para o processo ensino-aprendizagem.

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Porém, para educar uma criança é necessário, antes de tudo, gostar de

crianças, da forma como falam e lidam no mundo, como sentem e se

expressam, gostar de interagir e aprender com elas, de brincar. Gostar para

melhor entender é fundamental. E nessa busca de entendimento do universo

infantil, o professor deverá se colocar no lugar dos pequenos, ouvindo a

própria “criança interior”, se rementendo à sua infância. Como disse Carl

Gustav Jung, psiquiatra suíço criador da psicologia analítica, “carregamos

sempre a criança que fomos, em sua incompletude, solicitando cuidado,

atenção e educação incessantes para o desenvolvimento da personalidade”.

É, portanto, fundamental que o professor aprenda a aprender com elas

e como elas, aprendendo o papel de sentimentos, emoções e fantasias nas

práticas educacionais que facilitarão o processo de ensino, buscando uma

verdadeira parceria com seus educandos, num processo contínuo de trocas e

descobertas.

Na busca por esta aprendizagem, que na verdade é um “educar do

professor”, tornando-se como criança, sem deixar de ser como é, segundo

Pedro de Figueiredo Ferreira (1976, p. 8), é possível entender o universo

infantil e aprender que criança quer e precisa brincar. Brincar desenvolve a

comunicação, a associação de idéias, cria sensações e prazeres, traz

conhecimento.

Em verdade, brincando, a criança representa a percepção do mundo a

sua volta, relaciona-se com o espiritual e o real, dá significação ao seu

imaginário. A própria Organização Mundial para a Educação Pré-escolar –

OMEP defendeu, já no ano de 1999, o direito de brincar como atividade

fundamental para o desenvolvimento psicológico e social da criança, o

desenvolvimento da imaginação e da interpretação da realidade.

Brincadeira é, portanto, coisa séria, é um meio de fazer cultura,

pressupondo aprendizagem. Cabe então ao professor, em especial o que lida

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com os pequenos da Educação Infantil, aprender a brincar com eles, sem

preconceitos ou julgamentos, respeitando cada individualidade, conhecendo

suas realidades e seus interesses, aproveitando cada momento lúdico, de

aparente “brincadeira”, para a realização dos objetivos da educação através da

Arte.

Outro fator importante quando se fala em educar com prazer, produzir

conhecimento, promover crescimento interior, é a questão do ambiente onde

se educa. Saltini dizia que o ambiente destinado à educação deveria, antes de

tudo, entender de amor, sonhos, fantasias, símbolos e dores, antes de

entender de conteúdos e técnicas educativas. Na Educação Infantil este fator

é ainda mais visível já que não existem “conteúdos”, propriamente dito, mas é

justamente um ambiente acolhedor, agradável, confortável, bem organizado,

limpo, iluminado, arejado e rico em possibilidades que vai proporcionar o

desenvolvimento das potencialidades esperadas para a faixa etária.

Destaquemos também algo importante, ou melhor, fundamental para o

processo de ensino: a motivação para aprender. O ser humano precisa se

interessar para realizar e com as crianças essa relação é ainda mais intensa.

É por algum tipo de chamado, uma imagem, um som, uma sensação, que os

pequenos se lançam em busca da exploração, da experimentação, da criação,

da aprendizagem. Assim, o professor deve sempre buscar, em si e em seus

alunos, motivar para poder ensinar, dando motivos afetivos, carinhosos,

despertando o desejo de experimentar para conhecer, criar e crescer. É

através das relações afetivas com seres, objetos, e fatos que construímos

nosso ser e nosso saber.

O processo de aprendizagem requer o estabelecimento de vínculos

afetivos positivos, tanto da parte do educando como do educador. Ao primeiro,

cabe querer aprender e, ao segundo, saber ensinar, e é justamente a Arte com

sua característica libertadora, prazerosa, mas também organizadora, que pode

favorecer este processo de modo criativo e produtivo, respeitando

potencialidades únicas e tempos próprios.

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Outra questão que não deve ser esquecida e que está presente em

qualquer vivência educativa é a busca por valores fundamentais como o

respeito às diversidades, o incentivo à solidariedade e ao espírito de

cooperação, a valorização das potências individuais e dos esforços

empregados na superação de limites, com vistas à inclusão, à convivência e

não ao isolamento.

A arte é um fazer ativo, porém, não competitivo. No “Fazer Arte” que se

busca em sala de aula não deve haver o bonito ou o feio, o certo ou o errado.

Não deve haver julgamentos, nem causar competição, práticas tão comuns em

nossa sociedade. A Arte de cada um deve ser considerada como única,

valorosa, perfeita, encerrando em si um mundo de significados, sentimentos,

desejos, realidades que descortinarão as individualidades e abrirão novas

possibilidades de conhecimento pessoal e coletivo. Umas produções serão

belas, outras talvez não, mas realmente importante será o caminho de

revelação que ela proporcionou. Sem interpretações, o professor deve buscar

conhecer a interpretação do próprio autor diante de sua criação, levando em

consideração esta informação direta rica em tantas outras indiretas.

E esse fazer ativo deve se dar tanto da parte do educando quanto do

próprio educador. Experimentando os materiais, conhecendo suas

características e possibilidades o professor pode melhor orientar seus alunos

nas atividades que propõe e buscar ele mesmo seu auto-conhecimento, sua

superação, seu desenvolvimento. Jung descobriu que traduzindo as próprias

emoções em imagens, numa atividade lúdica de construção, sentia-se menos

perturbado ou aflito. Ele buscou em si a experiência para construir sua teoria.

Não é possível ensinar sem saber, sem conhecer. Saber sem praticar é inútil.

Praticar sem saber também. Lembremos ainda que o professor tem um poder

muito importante diante de seus alunos: de grande incentivador ou grande

destruidor de potências e que é sempre um modelo para seus educandos, a

quem eles gostam de copiar, se inspirar, e esse “modelo” precisa demonstrar

segurança e intimidade diante do fazer artístico.

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O profissional de Educação Infantil que se dispõe a trabalhar com seus

alunos as linguagens artísticas de forma criativa não pode fugir à vivência e ao

conhecimento pessoal das Artes, aliando ainda este conhecimento ao das

características, necessidades, interesses e possibilidades de seus alunos para

propor atividades artísticas que realmente possam ser enriquecedoras.

Conhecimento teórico e prático do processo criativo e conhecimento

afetivo e psicológico dos alunos são as bases para um trabalho de sucesso em

Artes. O seu ensino exige, portanto, profissionais corajosos e inovadores,

capazes de superar preconceitos e idéias limitadoras, unindo saber e

sentimento, explorando em seus alunos potencialidades e realidades

individuais e distintas que contribuirão para o crescimento e construção de

conhecimento da classe como um todo

Com todas essas considerações, pode-se dizer que o professor estará

capacitado para a prática educativa com vistas ao desenvolvimento, de si e de

seus alunos, das chamadas “múltiplas inteligências”: verbal, lógico-matemática,

espacial, musical, corporal-cinestésica, naturalista e pictórica, de Howard

Gardner, e ainda intrapessoal , interpessoal e emocional, de Daniel Goleman,

tão em voga atualmente.

E o que a Arte tem a ver com tudo isso? Ela perpassa cada brincadeira,

cada espaço, motivando para o novo, desenvolvendo a auto-imagem, auto-

estima e autoconfiança no potencial pessoal, tornando o aluno sujeito se seu

aprendizado, formando cidadãos do mundo capazes de transformá-lo.

Portanto, diante da importância que a Arte tem assumido na Educação,

o professor, e aqui destacamos o da Educação Infantil, deverá superar

concepções pré-concebidas que vão além da livre expressão, pura diversão,

ou da simples técnica artística, reconhecendo o papel do ensino das Arte aos

pequenos, conhecendo e se envolvendo com seus objetivos, conteúdos e

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métodos próprios, particulares, únicos, promovendo o desenvolvimento da

imaginação criadora, da percepção e expressão do pensamento, do

sentimento, do conhecimento, e ainda da noção estética e da reflexão do

mundo.

Como disse Selma de Assis Moura: “aprendendo mais para ensinar

melhor... semeando idéias e práticas... que darão frutos no futuro”.

CAPÍTULO IV

CRIANDO

Criatividade: vocação ou habilidade, inata ou adquirida, aptidão ou

potência, imaginada, sentida ou pensada, elaborada? As diferentes

concepções sobre “criatividade” demonstram sua natureza interdisciplinar que

engloba amplos objetivos e inúmeras potencialidades.

Originalmente, o termo criatividade esteve ligado aos conceitos estéticos

do belo, diretamente relacionado às Artes e à sensibilidade e ligado aos

processos da imaginação, invenção e originalidade. A palavra Arte, que vem

do latim ars, artis, remete a um fazer criativo, uma técnica, um saber.

Carl Gustav Jung, psiquiatra suíço, criador da psicologia analítica,

considerava o processo psíquico como uma imagem e um imaginar, o que

torna o processo criativo a característica central da vida psicológica: “Arte é a

expressão mais pura que há para a demonstração do inconsciente de cada

um. É a liberdade de expressão, é sensibilidade, criatividade, é vida.”

Para ele e Fayga Ostrower, artista plástica e professora de Artes, a

criatividade é como um “instinto humano”, algo necessário e inerente ao ser,

presente não somente nas Artes, mas em todas as atividades humanas. O ato

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de criar poderia ser relacionado ao ato de viver, uma necessidade de

expressão da nossa natureza que contribui para a formação da personalidade.

Por outro lado, alguns estudiosos consideram que o ato de criar está

diretamente ligado aos processos da inteligência e não somente ao sensível.

Criar, ser criativo, dependeria, assim, de desenvolvimento, de estímulo, nas

mais diferentes áreas de ensino, e de conhecimento das habilidades que

envolvem a representação artística, nas mais diferentes linguagens.

Atualmente, o processo de criar está ligado ao processo de pensar em

busca de algo novo, original e não simplesmente à “livre expressão” inicial.

Para Saunders (1984, p. 19): “Criar livremente não significa poder fazer tudo e

qualquer coisa a qualquer momento, em quaisquer circunstâncias e de

qualquer maneira.[...] Ao se criar, defini-se algo até então desconhecido.

Interligam-se aspectos múltiplos e talvez divergentes entre si, que a uma nova

síntese se integram”. Ana Mae Barbosa (2003, p.14) cita que, em sua

experiência, tem visto que "a chamada livre-expressão e o espontaneísmo

apenas não bastam, porque o mundo de hoje e a arte de hoje exigem um leitor

informado e um produtor consciente. Não é aceitável hoje confundir

improvisação com criatividade".

Poderíamos, assim, dizer que criar é dar forma, estruturar segundo

padrões, produzir algo material e simbólico, através de técnicas e materiais,

que expresse e comunique algo, pressupondo uma atividade reflexiva e uma

“imaginação criadora”. Segundo os Parâmetros Curriculares Nacionais de Arte

(1997, p. 41): “a imaginação criadora permite ao ser humano conceber

situações, fatos, idéias e sentimentos que se realizam como imagens internas

[...]. É a capacidade de formar imagens que torna possível a evolução do

homem e o desenvolvimento da criança; visualizar situações que não existem,

mas que podem vir a existir abre o acesso a possibilidades que estão além da

experiência imediata.”

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Vygotsky (1982, p. 31-32) também fala em “imaginação criadora” como

resultante da capacidade de fantasiar situações: “O indivíduo irá criar segundo

a sua capacidade de imaginar e fantasiar com base numa série de fatores,

entre eles, a experiência acumulada, enquanto um produto de sua época e seu

ambiente”. E Rollo May acrescenta ainda que para se criar é necessária

coragem corporal, moral, social e criativa, vencendo medos que reprimem

sentimentos e potências.

Assim, os questionamentos sobre a natureza da imaginação criadora,

fonte originária da criatividade, e os modos de estimulá-la, não somente na

área artística, a qual está diretamente ligada, mas nas demais esferas de

ensino, chegam à sala de aula através da educação artística como importante

recurso de ensino interdisciplinar.

Se considerarmos um dos objetivos de se ensinar Artes o

desenvolvimento da criatividade, em toda sua potencialidade, bem como o

conhecimento estético e cultural, entendemos a importância de motivar o

espírito criativo nas crianças desde os primeiros anos escolares, em especial,

na Educação Infantil, onde criar é também brincar.

Considerando ainda que todo fazer criativo está cheio da subjetividade

de quem o exerce num processo geralmente de grande prazer, seja pelo

contato com materiais diversos, seja pela possibilidade de manipulá-los de

forma a materializar idéias e sentimentos, em momentos de autoconhecimento,

descoberta e desenvolvimento do ser. Ao produzir algo, seja com matérias e

técnicas ou com o próprio corpo, o ser conhece mais a si mesmo, não só pelo

resultado final de sua produção, quanto pela maneira que vivenciou este

processo, como se relacionou com os materiais, com as possibilidades de

criação e como chegou ao resultado final.

Porém, o que temos visto são adultos pouco criativos, inseguros diante

de um lápis e uma simples folha em branco. Com certeza podemos dizer que

foram seres cerceados e desmotivados a criar na infância, aprisionados em

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crenças e padrões, sem liberdade para modificar por medo de críticas e

julgamentos, que se convenceram de sua “incapacidade criativa” e se

acostumaram a copiar moldes, numa forma de fuga menos penosa. O olhar

negativo geralmente é plantado na infância, fazendo crescer seres que

simplesmente repetem desculpas prontas como “eu não tenho o menor jeito

para isso”. A criança ferida, com medo de ser julgada e criticada novamente

torna-se passiva e pouco arrisca, carregando para a vida adulta toda essa

construção psicológica limitadora.

Para piorar, esses adultos vivem hoje vidas agitadas onde pouco tempo

sobra para si, para o auto-conhecimento e a experimentação da vivência

artística. Em verdade, o ato de criar vai de contrário à correria do dia-a-dia. É

necessário tempo para que imagens, sons, movimentos se formem e

transformem. Todos somos ou podemos ser seres criativos desde que nos

dispomos a isso, sem desculpas ou atalhos. Como defendia Ostrower, não há

atalhos para a vida e tampouco os há para a criação. Depende de cada um a

busca, a reflexão, a experimentação, a coragem para entrar em contato com si

mesmo.

Desde o nascimento sentimos a necessidade de nos expressar, primeiro

guiados pelo instinto, depois pela própria aprendizagem que construímos no

contato com outros seres. E é a brincadeira a primeira forma de expressão que

aprendemos. Brincando, a criança se comunica livremente e

espontaneamente, com alegria e naturalidade, num processo que se

assemelha ao de criar. Brincando, aprende sem que ninguém precise ensinar

a desenhar, pintar, modelar, interpretar, cantar, dançar, explora formas e

materiais, descobre possibilidades e limitações, numa atividade enriquecedora

que aguça sentidos e desenvolve o psicológico, o cognitivo e o físico.

Assim, brincando, a criança entra naturalmente em contato com a Arte,

primeiramente através dos rabiscos e desenhos. Um texto de Montessori,

citado no livro Educação pela Arte, de Read, fala bem sobre essa primeira

expressão artística que é o desenho:

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... não ensinamos desenho diretamente à criança. Nós a preparamos indiretamente, deixando-a livre para a misteriosa e divina tarefa de produzir coisas de acordo com seus próprios sentimentos. Assim, o desenho vem satisfazer uma necessidade de expressão, da mesma forma que a linguagem; e quase toda idéia pode buscar expressão por meio do desenho. O esforço por aperfeiçoar essa expressão é muito similar ao que a criança desenvolve quando se esforça para aperfeiçoar sua linguagem a fim de ver seu pensamento traduzido em realidade. Esse esforço é espontâneo: e o verdadeiro professor de desenho é a vida interior, que a partir de si mesma, se desenvolve, atingindo o refinamento e busca irresistivelmente nascer para a existência externa sob alguma forma empírica. Até a menor das crianças tenta espontaneamente desenhar os objetos que vê (...). O desenvolvimento universal da maravilhosa linguagem das mãos não virá de uma ‘escolha de desenho’, mas de uma ‘escolha do novo homem’, que fará essa linguagem brotar espontaneamente como água de uma fonte inesgotável. Para conferir o dom do desenho, devemos criar um olhar que veja uma mão que obedeça, uma alma que sinta: e para esta tarefa a vida toda deve colaborar. Nesse sentido, a própria vida é a apenas uma preparação para o desenho. Se estivermos vivos, a centelha interior da visão fará o resto.” (MONTESSORI, 1918)

Pensemos no exemplo do desenho, tão bem explorado por Montessori,

e levemos essa primeira experiência artística para as demais vivências com

Artes na Educação Infantil e teremos dado conta do seu “ensino” às crianças.

Que cada um se concentre em si mesmo para criar os próprios caminhos,

fazendo, experimentando, descobrindo aos poucos e o próprio fazer mostrará

as possibilidades para a criação.

Se desde pequenos sentimos a necessidade de nos expressarmos

artisticamente, se trazemos em nós o potencial criativo, se criar é viver, como

nos disse Jung, que possamos aproveitar em nós as oportunidades criativas

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que surgem enquanto educadores e promover nos nossos educandos tantas

outras, ainda mais enriquecedoras, na vivência missionária da Educação.

CAPÍTULO V

FAZENDO ARTE

Para uma criança, brincar de “Fazer Arte” é, na verdade, uma forma de

expressar a sua visão de mundo e representar a realidade vivida. Os primeiros

rabiscos, as primeiras formas e cores que surgem com diferentes materiais,

sons e músicas, a linguagem dos movimentos, vão mostrando pouco a pouco

cada individualidade. Esses momentos expressivos não acontecem por acaso,

como simples impressões que a criança registra sem razão, mas são sim

momentos de descoberta do próprio eu, emocional, intelectual, social.

A partir da linguagem corporal e do trabalho com diferentes materiais e

técnicas o ser revela conteúdos simbólicos e desenvolve a imaginação, a

sensibilidade, o pensamento, “curando-se” num tipo de “psicanálise natural”.

Como nos disse Ostrower (1987, p. 53), o homem neste exercício de

ordenação e domínio da matéria é levado a se ordenar e a se dominar

interiormente, se conhecendo um pouco melhor e ampliando sua consciência

nesse processo dinâmico em que recria suas potencialidades essenciais.

Cores, formas, texturas, peso, altura, cada objeto tem seu significado

histórico e pessoal, consciente e inconsciente, eles vivem, falam, comunicam,

segundo o pensamento Junguiano.

Ao se escolher os materiais e as técnicas que serão utilizadas nas

atividades pedagógicas deve-se levar em conta os interesses e as

necessidades dos educandos, a identificação afetiva com os objetos, o nível de

desenvolvimento psico-motor para a realização das propostas, o ambiente

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onde serão realizadas, o tempo para tal e o que se pretende atingir. É

fundamental ainda que esses materiais sejam apresentados no momento

certo, com sensibilidade, em toda sua diversidade, e que as técnicas de

utilização possibilitem a ampla exploração dos mesmos, promovendo uma

atividade rica e surpreendente em resultados.

Desenhando

Precisei de toda uma existência para aprender a desenhar como as crianças. (PABLO PICASSO)

Modo de expressão da criança e talvez o primeiro e mais simples

contato com a Arte, o desenho tem linguagem e vocabulário próprios; é meio

de brincar, expressar, comunicar, registrar, socializar. Os pequenos sentem

grande prazer em deixar a sua marca, sobre o papel ou através de uma

construção, tudo aquilo em que possam mostrar quem são.

Dos rabiscos ou garatujas (termo utilizado por Viktor Lowenfeld para

nomear os rabiscos produzidos pela criança nos primeiros anos de vida), onde

o desenho é uma ação prazerosa de movimentos e cores, causando efeitos

visuais sobre uma superfície, evoluindo para construções mais ordenadas,

surgindo os primeiros símbolos e as primeiras formas definidas que

representam imagens reais e imaginárias, a criança evolui psicológica e

fisicamente num processo natural e fundamental para a construção do seu

conhecimento.

Surge, então, na mente infantil a intenção de elaborar cada vez mais o

fazer artístico, ampliando a articulação com o espaço e a interação com os

materiais. A criança desenha como se imprimisse tudo o que sabe, vê e sente

sobre o mundo, criando individualmente um meio expressivo que integra a sua

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percepção, imaginação, reflexão e sensibilidade. Seu desenho é do sentimento

e da identidade, sem muita preocupação estética.

Pintando

Tons de cores combinadas, traços mais ou menos fortes, surgindo

texturas com ritmo, movimento, luz, sentimento, criando formas, cenários,

histórias. Esse é o ato de pintar, expansivo, impulsivo, intencional, que

geralmente gera fascínio e prazer, principalmente em crianças. Os pequenos

começam a pintar com os dedos, descobrindo os materiais pelas sensações

táteis numa atividade calmante e fluente, de grande valor motor e psicológico,

que proporciona geralmente muita alegria.

Rasgando, cortando, separando e colando

Divertido e criativo, que concentra e organiza o pensamento,

promovendo o contado com uma enorme variedade de materiais, produzindo

obras “misturadas” e cheias de significado em cada detalhe. Essa é a atividade

onde as crianças buscam formas para, através da colagem, criar cenários de

grande fantasia e valor sinestésico.

Moldando

Sentir o material, sua consistência, textura, temperatura, explorando

suas possibilidades, fazendo e desfazendo formas, conscientes e

inconscientes, onde a flexibilidade dinâmica é o grande atrativo da criação. Eis

a proposta da modelagem. O contato sensorial de apertar, puxar, moldar

massinhas, argila, papel, cria nas crianças descobertas sensíveis que

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reorganizam o sentimento e o pensamento, desenvolvem a coordenação

motora e favorecem o contato corporal.

Construindo

Esculturas, maquetes, bonecos, brinquedos... construídos a partir de

vários materiais e diferentes técnicas, representando simbolicamente o real e o

imaginário, desenvolvem a auto-estima, a inteligência espacial, a consciência

de si e do todo, a concentração, a capacidade motora, a sensibilidade e a

criatividade.

Contando Histórias

A criança está inserida num mundo mágico de faz-de-conta que é a todo

momento povoado de histórias reais e irreais, projetadas e fantasiadas. As

maiores de 6 anos têm maior capacidade de fantasiar e maior contato com

contos de fada, mitos, lendas, fábulas, contos populares, poesias, pelo próprio

conhecimento da leitura e da escrita, e as pequeninas misturam fantasia com

realidade por acreditarem que tudo a volta tem vida. Gostam de ouvir e criar

histórias, principalmente a partir imagens e fatos; trazem essas histórias para a

vida real, representando como um teatro, nas brincadeiras, e de contá-las a

outras pessoas.

O sentimento, a intuição, o pensamento, a crítica, vão sendo expressos

através de seus gestos, expressões faciais e tons de voz. Gostam ainda de

registrar graficamente personagens e cenas fantasiadas com riqueza de

sentimentos: alegria, tristeza, amor, ódio, sonhos e medos. Desenvolvem a

atenção, a memória, dividem fantasias, estruturam o pensamento e a

linguagem de forma clara, organizada e lógica e ampliam o conhecimento de si

e do mundo.

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Cantando

Para a criança, música é pura alegria. Para Djavan, “cantar é mover um

dom”. A sensação de bem estar que ouvir ou cantar uma música provoca nos

pequenos facilita e motiva a aprendizagem. Relaxando ao som da natureza, da

água, do vento, dos animais; criando sons a partir de instrumentos de

percussão, ou com objetos de sala de aula, ou trazidos de casa ou ainda

confeccionados com sucatas; ouvindo e cantando melodias que causam

movimentos corporais irresistíveis e emocionais; as crianças ativam sua

memória afetiva e verbal, articulam a linguagem, desenvolvem o auto-

conhecimento e a auto-estima, criando ainda um cenário de prontidão para o

processo educativo.

Dançando

Diretamente relaciona à música, a dança é a linguagem do corpo,

respondendo a estímulos sonoros através de movimentos pessoais,

espontâneos, expansivos e ricos em significado, a “terapia do futuro”, como

defende Jung. Para os pequenos, em especial, vemos que a dança auxilia o

desenvolvimento da relação tempo e espaço, da noção de ritmo, a consciência

do corpo e das suas possibilidades, a superação de limites, a criação de

expressões próprias e o extravasamento de emoções, num processo natural,

criativo e enriquecedor. Dançar sozinho, em par, grupo, com objetos, cria

sensações de prazer, estabelece vínculos afetivos, ativa o corpo, cura o físico

e o espírito.

CONCLUSÃO

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Com a “mão na massa”, desenhando, pintando, colando, dobrando,

construindo, inventando, criando, em meio a olhares surpresos, curiosos,

animados por palavras eufóricas, sorrisos e mãozinhas muito sujas, as

crianças da Educação Infantil vão contando suas histórias de vida, desvendo a

si e ao mundo, num processo prazeroso, de “brincadeira séria” e

enriquecedora.

Ensinar Arte, ou melhor, promover Arte — já que Arte não se ensina

propriamente dito — é dar ao aluno meios de ele se conhecer e se reconhecer

inserido num mundo cultural e histórico cheio de significados, e, assim,

estabelecer relações sociais sadias, expor sentimentos contidos, refletir sobre

o seu fazer, formular conceitos cognitivos, construir experiências de vida,

crescer e se desenvolver de forma plena e integral, auxiliando ainda às demais

áreas do conhecimento. As artes plásticas, a música e a dança facilitam a

lógica matemática e a percepção tátil presente na Geografia e nas Ciências; a

contação e interpretação de histórias promovem a linguagem visual, oral e

escrita, a comunicação e o conhecimento histórico e científico. Arte, portanto,

está e deve estar integrada ao currículo escolar não apenas como ferramenta

lúdica, mas como meio prático e subjetivo do fazer educativo.

No uso da Arte para a Educação o mais importante não é revelar

talentos em potencial, mas mostrar aquilo que cada um é capaz, o olhar do

mundo através da perspectiva pessoal. O conhecimento artístico tem que estar

interligado ao ser e ao meio em que vive, por isso, o que se ensina e o que se

aprende têm de fazer sentido. Assim, se a Arte faz sentido, se está presente

no dia-a-dia, se toca o coração, passa a ser parte fundamental da vida do ser,

em qualquer contexto social, econômico e cultural.

Daí a necessidade de sensibilidade e conhecimento do fazer artístico

por parte do educador, a fim de facilitar a promoção da vivência das múltiplas

linguagens das Artes integradas à vivência educativa através de atividades

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onde materiais, técnicas, cores, formas, sons, movimentos, cultura e natureza

íntima sejam matérias-primas para o envolvimento e a participação do grupo

num processo verdadeiramente criativo e produtivo. E nesse processo,

educando e educador devem interagir e se misturar — como se misturam as

tintas sobre o papel —, num caminhar diário de fazer prazeroso.

Sem distorcer a criação natural e simbólica da criança em conotações

meramente decorativas, sem inflamar egos e promover competições, levando

em conta a paz, a tranqüilidade, o espaço físico e o tempo necessários para o

processo criativo, para que o trabalho com Arte possa atingir todo o rico

potencial a que se dispõe, essa deve ser a postura ética do professor da

Educação Infantil que de propõe a educar com Arte.

Para os pequenos, a Arte é “fazer de conta”, é brincadeira de criança, é

pura poesia. É um modo singular e lúdico de ver, ouvir, sentir, imaginar e

expressar o universo infantil tão rico em significados e simbolismos. É alegria

em poder fazer, criar, e orgulho em admirar o feito, a criação. Sem feio ou

bonito, mas único e próprio: “minha Arte”.

“Fazendo Arte, deixo um pouco de mim...”

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Page 39: UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES PÓS-GRADUAÇÃO LATO … · educativo contido no universo da Arte são alguns entraves para o ... dotada de um rico simbolismo, expressão de idéias

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ÍNDICE

FOLHA DE ROSTO 2

AGRADECIMENTO 3

DEDICATÓRIA 4

RESUMO 5

METODOLOGIA 6

SUMÁRIO 7

INTRODUÇÃO 8

CAPÍTULO I – Breve histórico da Arte na Educação Infantil 11

CAPÍTULO II – Ensinando Arte hoje 16

CAPÍTULO III – Educando com Arte 21

CAPÍTULO IV – Criando 26

CAPÍTULO V – Fazendo Arte 31

CONCLUSÃO 36

BIBLIOGRAFIA 38

ÍNDICE 40