UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES PÓS-GRADUAÇÃO … · Kishimoto, Friedmann, Paulo freire, João...
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UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES
PÓS-GRADUAÇÃO “LATO SENSU”
AVM FACULDADE INTEGRADA
BRINCANDO E APRENDENDO COM O CORPO
Por: Luciane de Araújo Teixeira Martins
Orientador
Prof. Edla Trocoli
Rio de Janeiro
2012
2
UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES
PÓS-GRADUAÇÃO “LATO SENSU”
AVM FACULDADE INTEGRADA
BRINCANDO E APRENDENDO COM O CORPO
Apresentação de monografia à AVM Faculdade
Integrada como requisito parcial para obtenção do
grau de especialista em....
Por: Luciane de Araújo T. Martins.
3
AGRADECIMENTOS
.... ....ao meu marido, as minhas sogras
e aos meus filhos que me
oportunizaram o tempo para o
enriquecimento do meu saber......
4
DEDICATÓRIA
.....dedico esse trabalho aos meus alunos
que me incentivam através da prática da
docência querer mais e a fazer sempre o
melhor.......
5
RESUMO
Este trabalho tem como objetivo principal, compreender a importância
da Psicomotricidade na Escola, assim como a importância do corpo na
formação global do ser humano. Corpo esse composto por elementos
psicomotores que possibilitam o reconhecimento do eu enquanto pessoa, e
também o desenvolvimento das estruturas cognitivas e sociais.
Possui a intenção de contribuir para a reflexão dos educadores da
importância da escola enquanto espaço lúdico e criativo. Além de levantar
discussões e questionamentos que possam proporcionar uma educação
eficiente e eficaz na Creche e na Educação Infantil, que compreende a faixa
etária de 0 a 6 anos. Respeitando a subjetividade, principal característica
humana, além de promover uma educação inclusiva,
O desenvolvimento de uma criança é a soma da interação do corpo,
com os objetos que o rodeiam e das pessoas que o influenciam, gerando
emoções e conflitos, que irão possibilitarão um crescimento harmonioso.
Entretanto, ainda nos dias de hoje, a escola se acha “Dona” desse corpo e o
aprisiona em movimentos padronizados, indo além uma vez que insiste em
dissociar ação, corpo, mente e emoção, fragmentando os conhecimentos,
consequentemente o desenvolvimento da criança.
6
METODOLOGIA
Visando atingir aos objetivos propostos para a realização deste trabalho,
realizamos uma pesquisa qualitativa. Essa pesquisa se deu através de um
levantamento bibliográfico sobre o tema Psicomotricidade.
Esta pesquisa qualitativa nos possibilitou a pesquisa através de livros,
artigos de revistas especializadas e internet. Este tema foi articulado a
Educação Infantil.
A bibliografia utilizada incluiu autores como: Vitor da Fonseca,
Kishimoto, Friedmann, Paulo freire, João Batista Freire, entre outros.
7
SUMÁRIO
INTRODUÇÃO 08
CAPÍTULO I - A Escola como espaço de criação 10
CAPÍTULO II - A Psicomotricidade e Wallon 22
CAPÍTULO III – A importância da Psicomotricidade no planejamento das
atividades pedagógicas 37
CONCLUSÃO 43
BIBLIOGRAFIA CONSULTADA 45
BIBLIOGRAFIA CITADA (opcional) 47
ANEXOS 58
ÍNDICE 48
FOLHA DE AVALIAÇÃO 49
8
INTRODUÇÃO
A psicomotricidade como uma técnica que busca conhecimentos em
diversos campos da ciência apresenta como estudo de trabalho o corpo em
movimento, partindo do pressuposto que este corpo é biológico, mas que
interage e é transformado pelo meio (social) e pelas emoções.
O presente trabalho tem como objetivo principal apresentar como as
brincadeiras psicomotoras podem contribuir e enriquecer de forma globalizada
o desenvolvimento intelectual.
A escola como espaço de formação e de criação deve proporcionar a
criança a socialização, o desenvolvimento da autonomia e da criatividade, e
ainda a aprendizagem de conteúdos específicos, de um modo interdisciplinar
e contextualizado. Cabe ao professor papel formar homens criativos e
autônomos, quebrando o paradigma que o professor é dono do saber,
excluindo o aluno do processo ensino aprendizagem. Paralelo a esse processo
educacional haverá a internalização das condutas sociais e a produção de
cultura, fenômenos importantes, se não fundamentais, para a interação e
sobrevivência humana.
A proposta inicial era a de classificar brinquedo, brincadeiras e jogos,
mas ao ler alguns títulos do autor João Batista Freire, reformulamos nossa
ideia sobre o assunto e nos demos conta que não existe brinquedo ou
brincadeira sem o jogo da imaginação. Jogo esse que se inicia logo no
nascimento da criança, com o jogo de troca de olhares entre essa e o
cuidador, na fase seguinte a criança descobre o “eu,” consequentemente o seu
corpo torna-se o seu primeiro brinquedo, com a descoberta e exploração da
sua mão e assim sucessivamente. Com esse pequeno exemplo, já seria o
suficiente para comprovar que o brincar, o brinquedo e o jogo são inerentes a
criança, que um não é independente do outro e que sem a imaginação nenhum
deles sobreviveria.
Veremos que o lúdico é um recurso pedagógico de estimulação
prático, que pode e deve ser utilizado em qualquer etapa do desenvolvimento
9
humano, seja para aplicação de conteúdos ou de valores, além de ser uma
forte aliada no processo de inclusão.
No capitulo II será apresentado o conceito de psicomotricidade
segundo a Sociedade Brasileira de Psicomotricidade, o que são as
habilidades psicomotoras e, Wallon, um estudiosos do universo infantil, que
corresponde ao período do zero aos seis anos, que defendia que a emoção é
fator relevante para que ocorra a aprendizagem.
Ainda hoje, vemos que o brincar, o corpo e o conhecimento social das
crianças são desprezados como parte integrante do processo educacional,
reafirmando que a escola ainda é um espaço dominado pela elite, que
determina os conteúdos, os recursos e as metodologias de acordo com
estudiosos de outros países, sem que haja qualquer adaptação necessária.
É preciso mostrar a importância da quebra do paradigma nas escolas
que compartimentalizam o saber, desprezando o corpo e seu movimento como
recursos pedagógicos e objetos de aprendizagem.
10
CAPÍTULO I
A escola como espaço de criação
A sociedade atual necessita de pessoas criativas, que possuam uma
relação intrapessoal e intrapessoal equilibrada, que sejam autônomas, no
sentido de buscar seus conhecimentos e de transformá-los de acordo com as
suas necessidades.
Com a globalização e com os avanços tecnológicos, o aceso as
informações é direto e rápido. Os conhecimentos se tornam obsoletos e se a
escola não se adequar a essa nova realidade perderá seus alunos para o
mundo. A maioria das escolas não se utiliza das novas mídias e assim as aulas
continuam predominantemente no quadro, no giz e na mecanização de
repetição, através da memorização dos conteúdos e sem um propósito ou
contextualização. Froebel em sua época já combatia o excesso de abstração
da educação, argumentando que isso afastava os alunos do aprendizado. O
tratamento contextualizado é o recurso de que o professor deve lanças mão
para retirar o aluno da condição de espectador passivo do processo de
conhecimento. Conforme citação de Delors (1998):
“Não basta, de fato, que cada um acumule no começo da
vida uma determinada quantidade de conhecimentos de
que possa abastecer-se indefinidamente. É, antes,
necessário estar à altura de aproveitar e explorar, do
começo ao fim da vida, todas as ocasiões de atualizar,
aprofundar e enriquecer estes primeiros conhecimentos, e
de adaptar a um mundo em mudanças.” ( DELORS,1998,
p. 84).
Além disso, a Pedagogia existe para confirmar que se existe mais de
uma maneira de aprende, existe mais de uma maneira de ensinar. O
paradigma que o processo escolar é ensino-aprendizagem caiu por água
11
abaixo, como diz o ditado popular, porque o ensino pode ter acontecido, mas
não necessariamente a aprendizagem. Para Delors (1998) uma nova
concepção ampliada de educação deveria fazer com que todos pudessem
descobrir, reanimar e fortalecer seu potencial criativo- revelando o tesouro
escondido em cada um de nós. Isto supõe que se ultrapasse a visão
puramente instrumental da educação, considerada como via obrigatória para
obter certos resultados (saber-fazer, aquisição de capacidades diversas, fins
de ordem econômica), e se passe a considerá-la em toda a sua plenitude:
realização da pessoa que, na sua totalidade, aprende a ser.
O professor precisa se atualizar constantemente, conhecer a
comunidade onde a escola está inserida e reconhecer que hoje o professor
não é mais o transmissor de conteúdos e sim, o facilitador da aprendizagem.
Cabe ao educador, junto aos seus alunos, fazer a relação entre os conteúdos
curriculares e a experiência social que eles têm, produzindo diversidades de
experiências que abram possibilidades para o aluno decidir de acordo com a
sua subjetividade.
Freire (1996), como grande pedagogo, diz que ensinar e aprender tem
que ver com o esforço metodicamente crítico do professor de desvelar a
compreensão de algo e com o empenho igualmente crítico do aluno de ir
entrando como (grifo do autor) sujeito em aprendizagem, no processo de
desvelamento que o professor ou professora deve deflagrar. Diz, ainda, que
ensinar exige risco, aceitação do novo e rejeição a qualquer forma de
discriminação, e cita:
“É próprio do pensar certo à disponibilidade ao risco, a
aceitação do novo que não pode ser negado ou acolhido
só porque assim é novo, assim como o critério de recusa
do velho não é apenas o cronológico” ( FREIRE,1969, p.
35).
O processo ensino-aprendizagem depende muito da motivação e do
trabalho de incentivo que é feito pela escola para que este aluno se torne
12
participativo no processo. Cabe ao educador conhecer as necessidades e os
interesses de seus alunos e criar desafios, oferecendo-lhes situações que
incentivem sua participação no trabalho pedagógico, saindo da situação de
espectador, e sendo co-participante nessa ação pedagógica. Esse processo
integrado professor-aluno irá favorecer a formação integral da personalidade
da criança, além de quebrar a visão compartimentalizada do conhecimento e
da criança.
Delors (1998) defende que a educação possui quatro pilares (tipos
de aprendizagem) que devem ser a base para de estruturar um processo
educacional, são eles:
Aprender a conhecer: envolve o prazer de conhecer, de compreender e de
construir seu conhecimento;
Aprender a fazer: é o desenvolvimento das habilidades e competências, é a
aplicação dos conhecimentos adquiridos, seja na escola ou não;
Aprender a viver junto (conviver): é o desenvolvimento da sociabilidade e o
saber valorizar as pessoas enquanto únicas e diferentes, é o prazer em
trabalhar em grupo;
Aprender a ser: essa aprendizagem acontece a partir do autoconhecimento, da
auto-estima, desenvolve o pensamento crítico, a criatividade e a
responsabilidade de ser e de agir bem.
Esses pilares são de fundamental importância para a atual
Educação, é a formação do aluno aqui, agora e para o futuro. É a formação do
aluno enquanto ser atuante e modificado pelo meio social, indo muito além da
transmissão dos tradicionais conteúdos. De acordo com Freire (2005) os
conteúdos educacionais, assim como todos os produtos culturais, são
plásticos, efêmeros e substituíveis. A cada instante novos conteúdos são
incorporados, enquanto outros deixam de fazer sentido.
O Referencial Curricular Nacional para a Educação Infantil – RCNEI
(BRASIL,1998) orienta que o trabalho escolar deva acontecer de forma
interdisciplinar, já que essa dissegmentação do conhecimento, ora a criança é
movimento, ora é intelectual, ora é emocional, etc. desfavorece a formação da
13
educação como um todo, onde um conhecimento completa e interage com o
outro.
“...os conteúdos devem ser trabalhados de forma
integrada, relacionados entre si. Essa integração
possibilita que a realidade seja analisada por diferentes
aspectos, sem fragmentá-la.” ( BRASIL,1998, p. 54).
Vivemos em pares, onde há troca de experiências, há transformação
do ser, consequentemente ocorre produção de cultura, a inexistência desse
fenômeno, acarretará o empobrecimento cultural de uma determinada
sociedade, possibilitando muitas vezes que uma cultura de sobreponha a
outra.
1.1– A escola e o lúdico
Uma das características humanas é o prazer em brincar, é se utilizar
do lúdico para trazer harmonia ao meio na qual está inserido. Huizinga (in put
Venâncio e Freire, 2005) definiu o homo ludens, defendendo que a
humanidade possui a tendência ao lúdico. Essa ludicidade é responsável pelo
desdobramento da atividade lúdica em: jogo, arte, religião e cultura.
Cabe à escola resgatar esse espaço lúdico, já que hoje, não há mais
espaço para as brincadeiras de rua como subir nas árvores, pique esconde,
bola de gude, soltar pipa, etc. Esse fenômeno ocorre devido, também, a
violência urbana, a moradia em prédios e a valorização dos brinquedos
industrializados. As brincadeiras e jogos, ditos tradicionais, não são mais
apresentadas às crianças pelos pais, estes não possuem mais tempo de
brincar. Muitas vezes pela cobrança da nossa sociedade capitalista, fazem
rotina dupla de trabalho ou por presentear com brinquedos caros e
industrializados, acreditam que o comprar e o presentear substituem o estar e
o brincar.
Friedmann (2006) ressalta que o brincar não tem sido mais
explorado no espaço escolar, e é essa a questão que os pesquisadores da
14
área do lúdico querem resgatar. E argumenta que enquanto brinca a criança,
sem saber fornece informações a seu respeito.
Devemos lembrar que ao ingressar na escola, a criança transpõe o
limiar da família e passa a conviver com crianças da sua idade, obtendo novas
experiências e enriquecendo a sua própria. O convívio social proporcionado
pela escola possibilita condições que às vezes a família não proporciona.
Esse resgate do lúdico é enriquecedor já que possibilita ao educador
ensinar e a criança aprender brincando, tendo prazer junto ao processo ensino
aprendizagem. As brincadeiras e os jogos sempre estiveram presentes na vida
das crianças, feitos de diferentes materiais e diferentes regras, esses foram
criados e recriados, em diferentes tempos e com diferentes significados. Para
Friedmann (1995) existem inúmeras relações de jogos, em que são
classificados por faixa etária, por área de desenvolvimento, por tipo de
estímulo, pela origem, pela utilização de objetos ou não, porém vai além da
importância da classificação dos jogos quando cita que:
“Existe também, um tipo de classificação que se encontra
na memória de cada um de nós: são aqueles jogos que
nossos pais e avós brincavam na infância, e que nos
transmitiram. Jogos que não foram tirados de livros,
ensinados por um professor, mas sim transmitidos pelas
gerações anteriores à nossa ou aprendidos com nossos
colegas. Os jogos que aconteciam na rua, no parque, na
praça, dentro de casa ou no recreio da escola.”
( FRIEDMANN, 1995, p. 54)
Brincando com seus pais, as crianças aprendem as brincadeiras que
eles aprenderam com seus avós, e assim por diante. Assim, sob o ponto de
vista sociológico, podemos afirmar que as atividades lúdicas, também, são
responsáveis, pela transmissão cultural de um povo. Porque, no brincar a
criança além de desenvolver comportamentos, está construindo e
reconstruindo, através de sua subjetividade, a cultura. Essa construção se dá
15
individualmente, porém para se concretizar há a necessidade da participação
do outro.
O RCNEI (1998) diz que toda criança, como todo ser humano, é um
sujeito e faz parte de uma organização familiar que está inserida em uma
sociedade, com uma determinada cultura, em determinado momento histórico.
É profundamente marcada pelo meio social em que se desenvolve, mas
também o marca e, ainda que, compreender, conhecer e reconhecer o jeito
particular das crianças serem e estarem no mundo é o grande desafio da
educação infantil e de seus profissionais.
Nas literaturas científicas (Kishimoto, Freire, Friedmann, Winnicott )
há estudos que comprovam a importância da “exploração” da imaginação, do
lúdico tanto no universo infantil quando no do adulto. É fato que, nos primeiros
anos de vida, a criança é pura expressão criativa que se une à atividade lúdica,
permitindo que a mesma construa e reconstrua seu mundo, proporcionado
uma aprendizagem das regras e valores sociais.
Esses estudos têm comprovado a importância das atividades lúdicas
no desenvolvimento seja na área física, cognitiva, emocional ou social da
criança. Com um planejamento adequado, o educador proporcionará
condições favoráveis para que ocorra esse desenvolvimento global.
Lembrando que essa desfragmentação, ocorre para melhor entendimento do
trabalho.
Para Winnicott (1982) a criança busca, ao participar de uma
atividade lúdica, prazer, para mostrar agressividade, para controlar a
ansiedade, para estabelecer contatos sociais, para realizar a integração da
personalidade, e , por fim, para comunicar-se com as pessoas. A autora
explica que o brincar da criança é uma maneira de lidar com as tensões entre
o mundo interno e o mundo externo, exemplifica que quando a criança substitui
a presença de uma pessoa querida por uma boneca, simbolicamente a pessoa
está presente, mesmo sendo uma representação transitória, ou seja,
utilizando-se de um brinquedo ( ou não) e do jogo de imaginação, a criança
diminui naquele momento a tensão da “perda” da pessoa querida.
16
O educador através de atividades lúdicas, pode ajudar seu aluno a
crescer feliz, a se relacionar com os pares e também, a valorizar o espaço
escolar. Para isso, deve proporcionar um ambiente/conteúdo que desafiem a
curiosidade, incentivando o desenvolvimento da criatividade, do senso crítico e
da autonomia.
O lúdico, além de divertir, através das brincadeiras e dos jogos,
ajuda a criança a desenvolver o pensamento, a imaginação e a criatividade.
Para a criança é possível brincar sem ter nada nas mãos e esse processo
lúdico utilizando a imaginação irá acompanhá-lo pela sua vida, sendo o limite
entre o mundo “real” e o seu mundo, permitindo a ação sobre este, e a
adaptação ao que está vivendo ou acontecendo com ele naquele momento.
O brincar na proposta lúdica não significa o brincar por brincar, e
sim o brincar como instrumento de trabalho, é um recurso pedagógico como
meio de se alcançar os objetivos estabelecidos, podendo alcançar além
desses, já que a criança é um ser curioso e ativo. A autora Kishimoto ( 2002)
cita:
“Quando as situações lúdicas são intencionalmente
criadas pelo adulto com vista a estimular certos tipos de
aprendizagem, surge a dimensão educativa. Desde que
mantidas as condições para a expressão do jogo, ou seja,
a ação intencional da criança para brincar, o educador
está potencializando as situações de aprendizagem.”
(KISHIMOTO, 2002, p.36).
Consideramos atividades lúdicas aquelas que possibilitam a
realização conjunta da ação, do cognitivo e do emocional, seja ela realizada
através dos brinquedos, das brincadeiras ou dos jogos. Para educar de forma
lúdica temos de conhecer o mundo infantil, suas etapas e mecanismos para
que esse recurso lúdico possa, realmente, contribuir no processo de ensino e
com uma real aprendizagem, e não ser, um lazer sem propósito pedagógico. A
brincadeira é uma linguagem natural e própria da criança, a criança se utiliza
17
dessa linguagem para manifestar-se, descobrir o mundo e interagir com os
outros. É importante que esta forma de expressão esteja presente na pré-
escola e que seja permitida a espontaneidade da criança.
Froebel, um dos precursores na valorização da infância, conhecido
como “Pai do Jardim de Infância”, considerava o período de 0 a 6 anos,
relevante na formação integral do ser humano, acreditava que as atividades e
o material escolar devam ser determinados de antemão, para oferecer o
máximo de oportunidades e tirar proveito educativo nas atividades lúdicas.
Desenhou círculos, esferas, cubos e outros objetos que tinham por objetivo
estimular o aprendizado, feitos de material macio e manipulável, geralmente
com partes desmontáveis, para que ocorra a manipulação, exploração e
resolução de problemas. Acreditava no desenvolvimento multissensorial nesse
período.
Na Educação infantil a maior preocupação deve ser a própria
criança, não se trata de uma etapa de “escolarização” e sim, de apoio ao seu
desenvolvimento, enquanto ser em formação, as oportunidades oferecidas
devem priorizar o aprender a ser, ou seja, a auto- descoberta como um ser
capaz, autoconfiante e seguro. E os métodos devem ser aqueles que fazem
parte desse universo: o movimento, o corpo, a ludicidade e a fantasia, já que o
conhecimento nessa fase se dá principalmente pela ação e pela interação com
o outro.
A ludicidade que vem sendo negada às crianças transformará a
sociedade com homens menos criativos, menos autônomos, menos adaptáveis
às mudanças e menos formadores de cultura. A autonomia defendida é tão
importante para a educação quanto para a vida futura do aluno, e não
acontece se não houver ação. Como defende Freire (1996) em seu livro
“Pedagogia da Autonomia”:
“...ninguém é autônomo da noite para o dia, a autonomia
vai se construindo nas experiências de várias e inúmeras
decisões que vão possibilitando aquela criança a
participar.” (FREIRE, 1996, p.107).
18
1.1.2 – Inclusão e autonomia através dos jogos e brincadeiras
Froebel defendia as brincadeiras e os jogos como recursos
pedagógicos para a aprendizagem de conteúdos específicos, utilizando o
lúdico, o jogo simbólico e o faz-de-conta. O objetivo é representar o mundo real
para posteriormente haver o entendimento das condutas sociais. Podendo
ainda, ser um forte aliado no desenvolvimento da inclusão e da autonomia, já
que possibilita a participação direta e efetiva dos envolvidos, professor e
aluno.
Freire (2005) argumenta que a escola deve quebrar o paradigma
que o jogo não produz além do movimento físico. Para ele um dos motivos que
fazem o jogo ser ausente da pedagogia escolar é a ignorância quanto ao seu
caráter educativo e o medo do professor de “perder” o controle da turma. Na
verdade esses professores é que perdem as várias possibilidades de
alcançarem de forma prazerosa e contextualizada diversos conteúdos, como
matemática (área), inglês (cores e marcação da quadra), português oral e
escrita (construção das regras), história (papel do jogo e dos desportos na
história do homem), etc. Kishimoto (1993) defende sua aplicação:
“O poder do jogo, de criar situações imaginárias permite à
criança ir além do real, o que colabora para o seu
desenvolvimento. No jogo a criança não é mais do que é
na realidade, permitindo-lhe aproveitamento de todo o
seu potencial. Nele a criança toma iniciativa, planeja,
executa, avalia. Enfim, ela aprende a tomar decisões, a
introjetar o seu contexto social na temática do faz de
conta. Ela aprende e se desenvolve. O poder simbólico
do jogo do faz de conta abre um espaço para a
19
apreensão de significados de seu contexto e oferece
alternativas para novas conquistas no seu mundo
imaginário.” (KISHIMOTO, 1993, 26)
É preciso planejar com uma proposta que garante o espaço para o
lúdico, respeitando a diversidade, os diferentes ritmos de aprendizagem e as
experiências anteriores, seja ela da escola ou do meio social. Na Educação
Infantil o processo de participação é o de maior importância, através das
experiências concretas a criança aprenderá a viver junto, a fazer, a conhecer e
a ser, além de desenvolver a linguagem oral, a socialização, a construção de
regras e valores, interagindo e reinventando a cultura. Além de possibilitar a
inclusão e a autonomia, e auxiliar na apropriação de conceitos e
procedimentos relativos a conteúdos específicos, acreditamos que aprende- se
a participar ao construir a própria participação. O RCNEI (1998) preconiza:
“O principal desafio da Escola inclusiva é desenvolver
uma Pedagogia centrada na criança, capaz de educar a
todos, sem discriminação, respeitando suas diferenças;
uma escola que dê conta da diversidade das crianças e
ofereça respostas adequadas às suas características e
necessidades, solicitando apoio das instituições e
especialistas quando isso se fizer necessário. É uma
meta a ser perseguida por todos aqueles comprometidos
com o fortalecimento de uma sociedade democrática,
justa e solidária.” (BRASIL, 1998, p.36)
Um princípio de inclusão é quando o educador organiza suas aulas,
independente da atividade a ser utilizada, com o objetivo de tornar o ambiente
apropriado para o ensino, no qual as trocas e as interações sociais com o
conhecimento são construídas em cooperação com outras pessoas,
professores e pares que, com autonomia, solucionam problemas mediados
20
pela ação efetiva do professor. (VYGOSTKY,1978 in put OLIVEIRA e PERIM,
2009).
A inclusão ocorre quando o educador aceita que as diferenças vão
além das classes sociais, inclui o corpo, os gêneros, as etnias, as capacidades
físicas e as necessidades especiais. Aceita que alunos com a mesma idade,
de uma mesma turma, apresentem aprendizagens diferentes. E com isso
elabora jogos ou brincadeiras com contextos de aprendizagem que
proporcionem participação de todos, independente das diferenças. Apresenta
oportunidades para que todos possam estar envolvidos, nas mais diversas
experiências motoras, afetivas, sociais e cognitivas.
Para que haja espaço para autonomia e uma real inclusão, não
excluindo os “menos aptos” ou qualquer outra diferença, as atividades, no caso
brincadeiras e jogos, não devem seguir um padrão estabelecido de resposta,
seja ele motor ou não. Para que assim os alunos tenham chance de evoluir
não somente na parte motora, nas habilidades do movimento, mas, também,
como cidadãos. É importante que as brincadeiras ou jogos possibilitem uma
vivência e possam gerar conhecimentos que transcendam o movimento pelo
movimento, devem ser organizados para além do momento de sua realização.
Freire vai além quando cita:
“Uma aula porquanto eficaz, não se basta e não se
esgota no momento de sua realização, de forma que a
missão de cada disciplina é, mais que ensinar conteúdos
específicos, ensinar a viver.” ( FREIRE, 2005, p.4)
O educador como mediador da aprendizagem deve identificar as
barreiras que possam dificultar a participação de qualquer que seja o aluno e
assim, propor ao grupo a mudança de regras, através adequação das
mesmas e de materiais ou, ainda, incentivar diferentes formas de participação.
Através de sua própria atuação, o aluno estará aprendendo
valores, como cooperação, respeito, responsabilidade e amizade, aceitando as
diferenças e diversidade, dando novo significado e prazer a sua prática, já que
21
a aprendizagem de autonomia e de inclusão são facilitadas quando se
estimula o aluno a participar das discussões e reflexões que venham a
aparecer. Em seu livro ”Jogo: entre o riso e o choro” Freire (2005), diz que o
desenvolvimento da autonomia decorre, entre outras coisas, da possibilidade
de decidir, entre opções, em cada situação, aquela que for julgada pelo
sujeito a mais adequada (grifo meu).
A autonomia não se faz pela atuação do professor, mas pela ação
do educando, pelas oportunidades que lhes são oferecidas. E a inclusão será
efetiva quando se ressignificar a escola, a ação de todos os envolvidos , o
acesso e a permanência do aluno no processo educacional, só assim
poderemos vislumbrar as possibilidades de um real princípio inclusivista.
22
CAPÍTULO Il
A Psicomotricidade e Wallon
Na tentativa de explicar as práticas, a realidade, os estudiosos foram
interpretando seu mundo, seu ponto de vista. Devemos considerar que sempre
haverá a subjetividade, já que um referencial teórico é “o olhar” do estudioso,
que pode não ter significado para outro, que vê o mundo, a questão, de outra
maneira. Conforme diz Leonardo Boff (2002):
“Todo ponto de vista é a de um ponto de vista.
Ler significa reler e compreender, interpretar. Cada um lê
com os olhos que tem. E interpreta a partir de onde os
pés pisam.
Todo ponto de vista é a vista de um ponto. Para entender
como alguém lê, é necessário saber como são os seus
olhos e qual a sua visão de mundo. Isso faz da leitura
sempre uma releitura.
A cabeça pensa a partir de onde os pés pisam. Para
compreender, é essencial conhecer o lugar social de
quem olha. Vale dizer: como alguém vive, com quem vive,
que experiências tem, e que trabalha, que desejos
alimenta, como assume os dramas da vida e da morte e
que esperanças o animam. Isso faz parte da
compreensão sempre uma interpretação.
Sendo assim, fica evidente que cada leitor é coautor.
Porque cada um lê e relê com os olhos que tem. Porque
23
compreende e interpreta a partir do mundo que habita.
(BOFF, 2002, p.9-10)
Não existe uma única teoria que possa abranger a totalidade da
infância, assim como não encontraremos um único modelo pedagógico, que
possa ser transmitido e que dê conta da multiplicidade de experiências vividas
em uma sala de aula. Os trabalhos científicos em Educação e
Psicomotricidade, nesse trabalho especialmente a de Wallon, consideram os
primeiros anos de vida da criança essências no desenvolvimento físico,
emocional, social e intelectual do ser humano. Nesses primeiros anos se
insere a creche e a educação Infantil, compreendendo o período de 0 a 6
anos, quando a criança tem oportunidades de desenvolver suas
potencialidades, preparando-se e despertando para a vida.
Embora os teóricos organizem as fases do desenvolvimento
humano em estágios, com idades preestabelecidas, sabemos que esse é
somente um fator orientador, que não deve ser seguido rigidamente como
períodos iniciais e finais. As crianças se desenvolvem na diversidade social e
biológica, esse último ligado a fatores hereditários e nutricionais.
No desenvolvimento infantil, o “eu” também está se formando, e as
transformações, muitas vezes, passam despercebidas, porém têm uma
importância e ritmo acentuados. Esse desenvolvimento inicia-se pela
intervenção dos que o rodeiam, que são fonte de ações diversas que
possibilitam interações fundamentais para a evolução cognitiva, afetiva e
social.
Segundo a Sociedade Brasileira de Psicomotricidade (2012) a
Psicomotricidade:
“É a ciência que tem como objeto de estudo o homem
através do seu corpo em movimento e em relação ao seu
mundo interno e externo. Está relacionada ao processo
de maturação, onde o corpo é a origem das aquisições
cognitivas, afetivas e orgânicas. É sustentada por três
conhecimentos básicos: o movimento, o intelecto e o
24
afeto. Psicomotricidade, é portanto um termo empregado
para uma concepção de movimento organizado e
integrado, em função das experiências vividas pelo sujeito
cuja ação é resultante de sua individualidade, sua
linguagem e sua socialização.” (S.B.P.)
Desde o nascimento vivenciamos experiências de caráter físico,
mental e emocional, é por meio delas que desenvolvemos aptidões inatas e
outras que adquirimos, com as várias possibilidades que nos são ( ou deveriam
ser ) oferecidas pelo do meio em que nos encontramos . Por isso a importância
da Educação Infantil com uma atuação consciente e planejada do educador.
2.1– Wallon: Aprendendo com emoção
Henri Wallon ( 1879-1962) , médico, psicólogo e filósofo francês,
define que o conhecimento se dá através da integração afetiva, intelectual e
motora, e que o desenvolvimento ocorre através das interações sociais.
Segundo o autor, entre o indivíduo e o seu meio há uma unidade indivisível, e
mesmo assim, não há uma contradição entre o desenvolvimento psicológico e
a maturação neurológica; e as condições do meio (incorporação de regras e
cultura) que o justificam e motivam. O autor sempre falou de um indivíduo
concreto, situado e inserido no meio. A sociedade é para o homem uma
“necessidade orgânica” que determina o seu desenvolvimento e, portanto, a
sua inteligência. ( FONSECA, 2008, p. 15 )
Wallon defende que a emoção tem uma função primordial no
desenvolvimento do ser humano, é através dela que a criança mostra seus
desejos e anseios. O autor define a afetividade como sendo a disposição da
pessoa de ser afetada pelo mundo interno e externo, por meio de sensações
agradáveis ou não. Wallon baseia, a afetividade, em três momentos
marcantes, descritos abaixo. Vale resaltar que os três resultam de fatores
fisiológicos e sociais, porém apresentam características diferenciadas.
25
Na emoção há o predomínio da ativação fisiológica, sendo a
exteriorização da afetividade, com uma expressão motora e corporal,
provocando uma variação de tônus (nível de tensão muscular), estabelecendo
padrões posturais como medo, alegria, raiva, ciúme, etc., é uma reação
instantânea e direta. Wallon (in put Fonseca, 2009) sublinhou que:
“...o tônus é o suporte onde se fazem as atitudes, e é o
responsável pelas perturbações da evolução humana.
Para o mesmo autor, a função tônica intervém na
dialética da atividade de relação e no meio da
psicogênese.” (FONSECA, 2009, p.201)
A emoção estimula o desenvolvimento cognitivo e, assim, há um
antagonismo entre emoção e intelecto: quando predomina a emoção, o
aprendizado diminui, quando predomina o cognitivo, as emoções são mais
brandas. Já o sentimento é a representação da afetividade, que pode ser
expresso pela ação ou pela linguagem. Nos adultos há um maior controle dos
sentimentos, pela maior capacidade de observação e reflexão, e também,por
já estar “embutido” nas regras sociais. E o mesmo autor explica, a paixão
sendo o autocontrole, a condição de dominar uma situação. Predomina o
cognitivo, com o objetivo de satisfazer as necessidades afetivas.
A obra de Wallon se apresenta como uma psicologia de
desenvolvimento da personalidade, interagindo afetividade e inteligência. Os
diferentes estágios pelos quais o individuo passa caracterizam-se por um
conjunto de interesses, necessidades e comportamentos. Os estágios são
sucessivos e contínuos, ou seja, uma etapa vivida cria condições para as
mudanças seguintes, mas também, se interagem. Nesses estágios, há
momentos, segundo Wallon, que o individuo está mais para o desenvolvimento
do autoconhecimento e outros para o conhecimento do mundo. A sucessão
dos estágios de desenvolvimento ocorre através de uma passagem
descontínua marcada por conflitos entre o conhecido e o desconhecido
Dentro da visão global e integrada do indivíduo, o autor procura
caracterizar cada um dos seus estágios como um sistema em si, ou seja, o
26
processo está completo pela integração do conjunto, já que o indivíduo é uma
unidade indissociável e única. Para entender melhor cada fase da criança
Wallon divide o desenvolvimento psicomotor dentro dos cinco estágios do
desenvolvimento afetivo, aqui entraremos em contato com 4 deles, que são as
fases de nosso interesse. São eles:
Estágio 1: Impulsivo (0 a 3 meses) nesta fase o desenvolvimento psicomotor é
predominantemente de Reflexos, o bebê expressa as emoções através de
movimentos desordenados, que são simples descargas de energia muscular,
com o objetivo de satisfazer as necessidades orgânicas (mundo interno).
Porém, essa ação motora já possui uma carga emocional que alterna entre o
bem e o mal estar, interpretado pela tonicidade e a motricidade, o que Wallon
denominou de “diálogo tônico”. Nessa fase, o meio social do bebê terá de
entender e produzir respostas que o satisfaça. Nesse período predomina a
afetividade ( a inteligência não se separa da afetividade).
“O corpo assume, então, nesse estádio, o núcleo crucial e
preferencial de onde emanam todos os processos de
comunicação não verbal, uma complexa linguagem
corporal infra estrutural, de onde mais tarde vão emergir
os gestos simbólicos e, depois, as palavras”. (FONSECA,
2008, p.22)
Nessa dependência social, o bebê não percebe seu corpo
independente do outro, por isso Wallon define que o bebê vive de forma
sincrético-social, dependendo das ações, das posturas e dos cuidados do
outro. O outro (o cuidador) é um auxiliar essencial na construção do eu. Na
teoria psicogenética de Wallon, a construção do EU depende da construção do
Outro. Essa relação do EU-Outro pode ser de acolhimento ou de oposição.
“... A atitude afetiva da mãe em face da agitação
explosiva e descoordenada da criança, pode assumir
extraordinárias repercussões no desenvolvimento
27
posterior da motricidade e da personalidade”.
(FONSECA, 2008, p.189)
A segunda fase desse primeiro estágio é denominado Tônico-
emocional (6 meses a 1 ano), nessa fase a psicomotricidade é das
Emoções, é o inicio dos movimentos significativos e da subjetividade, é a
conscientização da ação com algum objetivo. Inicia-se os movimentos de
equilíbrio, possibilitando a evolução para postura sentada, da reptação e para
o engatinhar. Essa evolução é um ponto importantíssimo na vida do bebê,
porque permite a conquista do espaço. No desenvolvimento da locomoção e
da preensão ( sentada e manipulando objetos) , a criança transita para o nível
de desenvolvimento psicomotor denominado Homo erectus. Vitor da Fonseca
(2008) descreve a importância dessa fase na seguinte frase:
“Tais competências psicomotoras vão não só gerar, como
aquisições básicas da sua identidade, a busca da
segurança gravitacional bípede, como vão alterar
significativamente a auto percepção que ela vai
adquirindo de si e do espaço por si explorado”.
(FONSECA, 2008, p.24)
O desenvolvimento biológico com a integração do meio social, vão
proporcionar o potencial exploratório e expressivo da criança, mais projetada
com o envolvimento afetivo-cultural. Com a possibilidade de interação e troca
com os adultos, a criança começa a estabelecer associações, aprendendo
com situações novas a antecipar ações e respostas, sendo aí o início da
cognição. É a fase da descoberta dos vários sentidos, relacionados com a
emoção.
Estágio 2: Sensório-motor (1 ano a 24 meses) nesta fase o desenvolvimento
psicomotor é das Posturas onde uma linguagem corporal complexa está bem
desenvolvida dando apoio a linguagem oral. Fonseca (2009) afirma:
28
“O gesto precede a palavra, abre-lhe o caminho e
representa-a, e pode perfeitamente substituí-la quando a
sua rechamada não está ainda acessível ou integrada.”
(FONSECA, 2009, p.29)
A percepção está mais desenvolvida, proporcionando o
entendimento da ação e consequentemente a eficiência e a inteligência dos
gestos. Ocorre uma exploração da realidade externa.
“A criança vai se estruturando na repetição e na
reprodução de ações, já sabendo e antecipando o fim a
que se destinam, tendo consciência das suas finalidades.
(FONSECA, 2008, p.28)
Nessa fase não se manipula somente o objeto em si, mas também
as partes do seu corpo. O objeto é uma continuação de seu corpo, sendo parte
intrínseca do eu. Essa ação eu-objeto proporciona excitação emocional,
possibilitando o conhecimento do real através da investigação e da exploração,
dando início ao simbolismo e a representação. Para Fonseca (2008), a
criança explora o objeto ao mesmo tempo que explora corporalmente a si
própria, autoconhecendo-se. O mesmo autor acrescenta:
“A autonomia crescente e a independência em relação ao
meio é operada pelo movimento interiorizado, introjetado
e integrado, pelo qual o indivíduo assume sua noção de
um ser distinto. A maioria das necessidades é satisfeita
pelo comportamento motor, pois é pela resolução mais ou
menos favorável de conflitos e das situações problemas
que se processa a maturação orgânica.” (FONSECA,
2009, p.182)
29
A próxima fase, do estágio Sensório-motor, é a Projetivo ( 2 a 3
anos) nesse estágio o desenvolvimento psicomotor é do Eu Corporal, a
criança já possui linguagem oral e a capacidade de locomoção; sua atenção
volta-se para o mundo externo (social) com o objetivo de contato e exploração
de objetos e pessoas. Para Wallon (in put Fonseca, 2009) uma característica
importante desse período é o desenvolvimento do simulacro, que é um
pensamento apoiado em gestos, com o objetivo de substituir objetos e utilizá-
los para novas situações.
“A partir desse estádio, a criança é capaz de dar
significação ao símbolo e ao signo, ou seja, passa a ser
capaz de encontrar para um objeto a sua representação e
para sua representação, um signo” (FONSECA, 2008,
p.31)
O processo de imitação é muito importante nesse período, porque é
através da relação do movimento do outro que a criança irá entender quem é,
quem são os outros e o meio que o envolve. Essa imitação é um elo de ligação
e a relação psicomotora irá possibilitar a transformação da ação em imagens
mentais. Fonseca ( 2008) afirma que:
“Ao imitar os modelos sociais, a criança, incubando-os
corporalmente e construindo imagens mentais
contextualizadas, recria-os e modifica-os, através de
interiorizações, e de elaborações e de exteriorizações
sensório-motoras.” (FONSECA, 2008, p.31)
Estágio 3: Personalístico ( 3 aos 6 anos) nessa fase a criança está voltada
para si, é um enriquecimento do eu. As ações deixam de ser simples atos
motores concretos e passam a ter todo uma representação mental, que irá ter
suporte na imagem corporal, sendo na fase a psicomotora denominada dos
Símbolos, de acordo com Fonseca (2008):
30
“A motricidade passa, então, a estar a serviço da
representação mental permeada por relações sociais,
conquistas e conflitos, contradições e crises de afirmação,
que aparecem e reaparecem infindavelmente...”
(FONSECA, 2008, p.31)
Esse estágio se subdivide em:
• Crise de oposição ( 3 a 4 anos), nessa fase a criança tem a necessidade
de experimentar a sua independência, querendo impô-la, muitas vezes,
pelo usa da força.
• Idade da graça ou da sedução ( 4 a 5 anos), nessa fase a criança tem
necessidade de elogios, e faz de tudo para ser o centro das atenções.
Fonseca ( 2008) relata que a exuberância motora da criança, fruto da
sua maturação biológica, possibilita a substituição do objeto pelo
gestos.
• Imitação ou da Identificação ( 5 a 6 anos), é a fase de descoberta das
diferenças entre Eu, as outras crianças e o adulto. As pessoas que
admira e os super heróis são modelos a serem copiados.
Estágio 4: Categorial ( 6 a 11 anos) essa fase Wallon denominou o
desenvolvimento psicomotor de Práxis, quando não há mais o automatismo
das ações, dos movimentos, estes já estão internalizados, conscientes. É uma
fase de inibição do desenvolvimento motor, mais concentrada em relação a
parte sensorial e ao desenvolvimento da atenção. Com diferenciação mais
nítida, em relação a anterior, entre Eu e o outro. Já há possibilidades de
exploração mental do mundo externo, através do tripé de desenvolvimento
motor-afetivo-cognitivo. Já é possível atividades cognitivas de agrupamento,
classificação, categorização em vários níveis de abstração. São curiosas,
questionam tudo.
Estágio 5: Puberdade e Adolescência ( 12 em diante) Fonseca (2008)
descreve muito bem essa fase quando cita:
31
“Afetivamente, a imagem corporal pode passar por
abruptos desequilíbrios interiores, inexplicáveis fobias
(dismorfofobias), sentimentos de vergonha e timidez,
sonhos e fantasias impossíveis e incompreendidas
sensibilidades,...” (FONSECA, 2008, p.37)
Nessa fase a parte psicomotora, como o esquema corporal, está em
profunda reorganização, devida ao intenso desenvolvimento físico e ao
conturbado desenvolvimento emocional.
2.2 – Entendendo as Habilidades Psicomotoras
Cabe iniciar esse subcapítulo com uma citação de Fonseca (2012) :
“A OPM (Observação Psicomotora) visa detectar a partir
do corpo e do movimento, significações psiconeurológicas
que constituem a materialização do intelecto, visto que,
em termos antropológicos (FONSECA,1982), a evolução
da inteligência é indissociável de uma motricidade cada
vez mais organizada e corticalizada. Na OPM, Motricidade
e Psicomotricidade não se opõem, nem se reduzem
mutuamente, porque, na primeira, está em causa o
equipamento neurológico e, na segunda, o seu
funcionamento. De um lado, os aspectos periféricos e
objetivos da própria ação, do outro, os aspectos centrais
e subjetivos que preparam, planificam e regulam a
intenção, intenção essa que confere àquela a
características de uma atividade psíquica superior.” .”
(FONSECA, 2012, p.237)
32
A Psicomotricidade tem esse olhar diferenciado, ao mesmo tempo que
avalia a criança de acordo com a faixa etária na qual se encontra, já que o
esquema de desenvolvimento é comum a todas as crianças; respeita a
subjetividade, pois cada sujeito é portador de ideias, comportamentos e
motivações diferenciadas.
A Psicomotricidade e o sujeito devem ser compreendidos na sua
formação global. Alves ( 2008) escreve que a criança busca um espaço para o
seu corpo, para poder viver intensamente. E se não há esse espaço, poderá
ocorrer um bloqueio psicomotor, tornando-o um mero “observador do mundo”,
porém como não há desenvolvimento que se encerra em si, é necessário que
o professor conheça o ritmo de desenvolvimento psicomotor da criança e crie
condições para o seu progresso. E ainda cita:
“A criança que progrediu inicialmente muito rápido pode
reduzir o seu ritmo e ser alcançada por aquela criança
que parecia “atrasada” alguns meses antes.” (ALVES,
2008, p.17)
O desenvolvimento psicomotor abrange o desenvolvimento funcional
de todo o corpo e suas partes. A descoberta do corpo, de suas sensações, de
sua potencialidade é fundamental nessa fase da Educação Infantil, porque
nesse momento, do zero aos seis anos, a criança está construindo sua
imagem corporal. Este desenvolvimento está dividido em elementos ou
habilidades psicomotores que estão intimamente relacionados entre si e
devem estar equilibrados de forma que contribuam para o desenvolvimento
humano, são eles:
Imagem Corporal: É a correspondência afetiva de como imagino que
eu sou, é subjetivo. Essa imagem corporal estará em constante reestruturação,
devido a mudanças biológicas, social e afetiva. A partir da união da imagem
corporal com o esquema corporal que irão ser desenvolvidas todas as outras
habilidades psicomotoras. Não menos importante, é o trabalho de
33
sensibilização e discriminação visual, auditiva e tátil, que contribui, também,
para a construção da imagem corporal e para a escolarização.
“A sua imagem corporal tem que passar por várias fases
ou períodos de maturação para que a criança possa vir a
construir-se como um ser que atua sozinho.” (ALVES,
2008, p.55)
.
Esquema corporal: É a representação global (dele enquanto indivíduo),
científica ( enquanto conhecimento das partes e suas funções ) e diferenciada
(em relação ao meio e diferenciá-lo do objetos e das pessoas) que a criança
tem do seu próprio corpo. O esquema corporal é um elemento básico
indispensável à formação da personalidade da criança. Segundo Fonseca
(2008) a educação do esquema corporal pretende a harmonização entre os
dados perceptivos e dados motores da conduta humana.
“A noção do próprio corpo é a primeira função da troca
dialética entre o organismo e o meio. Só depois da noção
do próprio corpo, o indivíduo inicia uma relação
significativa com o meio e elabora, como autoconstrução,
o seu desenvolvimento. É após o momento da noção do
corpo que o indivíduo dá um requisito à sua interioridade,
projetada em uma espacialidade exterior que permitirá,
concomitantemente, a representação desse meio
ambiente.” (FONSECA, 2009, p.183)
Lateralidade: É a noção da existência dos dois lados do corpo, de olhar e de
agir para todas as direções. A lateralidade se manifesta não somente a nível
motor, mas também, nas funções sensoriais e sensitivas. Quando a criança se
utiliza preferencialmente por um dos lados, esquerdo ou direita, diremos que
já existe a dominância lateral. O lado dominante apresenta maior precisão,
34
força muscular e rapidez. E indispensável na aprendizagem da escrita, da
leitura e da matemática.
“A lateralidade é importante na evolução da criança, pois
influi na ideia que a criança tem de si mesma, na
formação de seu esquema corporal, na percepção da
simetria do seu corpo, contribuindo para determinar a
estruturação espacial (percebendo seu eixo corporal).”
(ALVES, 2008, p.67)
Coordenação motora: Representa um sistema de movimentos coordenados
com uma intenção determinada, inclui duas ou mais capacidades motoras,
com ação simultânea de diferentes grupos musculares na execução dos
movimentos. Existe coordenação motoras diferenciadas, são elas:
coordenação motora fina : quando se utiliza das mãos e dos dedos para a
realização de uma tarefa de movimento mais refinado como preensão, que são
essenciais para escrever, utilizar uma pinça, etc.; e coordenação motora
global : que é a precisão e a harmonia dos padrões posturais e locomotores,
onde há a utilização dos grandes músculos.
“Falhas na coordenação motora podem ser causadas
pela deficiência de movimentos na primeira infância.
Devemos oferecer o máximo de experiências de
movimentos coordenados à criança.” (ALVES, 2007,
p.57)
Ainda temos a coordenação motora relacionada a visão como a
coordenação óculo-manual e óculo-pedal ( olho-mão e olho-pé
respectivamente). Tanto a coordenação motora fina quanto a óculo-manual
são de fundamental importância no processo da aprendizagem da escrita.
Percepção: Para entendermos as duas habilidades que irão ser explicadas
agora, temos que entender o termo percepção, que segundo Fonseca ( 2008):
35
“ Processo de organização e interpretação dos dados do
mundo exterior (eventos, objetos, imagens, símbolos,etc.)
e do mundo interior ( movimentos, sensações, emoções,
etc.) que são obtidos através dos sentidos. Processo de
captação e de integração atencional que se segue à
sensação e que envolve a análise e a síntese dos dados
sensoriais,...” ( FONSECA, 2008, p.567)
Percepção ou Orientação Espacial: podemos dizer que é uma elaboração e
uma construção mental que se desenvolve pelos movimentos em relação aos
objetos que estão ao seu redor, para isso utiliza-se o seu corpo como
referência. Isso significa que ele desenvolve essa aprendizagem através de
seu corpo em movimento. É importante ressaltar que para que os conceitos
espaciais sejam assimilados se faz necessária uma lateralidade bem definida.
Percepção ou Orientação Temporal: Proporciona à criança a consciência do
desenvolvimento das ações do tempo. É um conceito abstrato. Acreditamos
que o tempo é um espaço vivido, que necessita de um movimento (ação) no
espaço para confirmá-lo. Logo, é importante lembrar que sempre que estiver
trabalhando com o espaço, estará consequentemente, trabalhando com o
tempo. Junto a percepção espacial a percepção temporal se faz
extremamente necessária para um bom desenvolvimento na escolarização,
pois é a partir delas que se conseguirá um domínio da folha de papel e a
colocação das letras de forma ordenadas, e consequentemente a construção
correta das palavras (ALVES, 2008). Além de, dominar os conceitos do tempo
e sequenciar histórias e acontecimentos.
Ritmo: Está relacionado diretamente à aprendizagem da orientação temporal
com a orientação espacial. A combinação dos dois dá origem ao movimento, é
por isso que a aprendizagem desse elemento psicomotor, assim como os
outros, também, se consegue através do corpo. O não desenvolvimento do
ritmo externo, já que o interno é inerente ao indivíduo, pode ocasionar uma
leitura lenta, silabada, com pontuação e entonação inadequadas.
36
“ Os conceitos temporais apresentam maior dificuldade
para serem compreendidos. A criança sente a passagem
do tempo, inicialmente, pelos seus próprios ritmos e
necessidades biológicas ( a fome e a sede que
obedecem a uma organização rítmica, sincronizada pela
alternância de vigília-sono).” ( ALVES, 2008, p.77)
Equilíbrio: É o controle da estabilidade corporal, seja ele estático ou dinâmico.
Permite relaxar e dinamizar as articulações, sendo necessário, o trabalho
conjunto com a regulação do tônus muscular. Ainda vale ressaltar que de
acordo com Fonseca (2012):
“...a atenção, a orientação, o controle, a adaptação, etc.
reclamam a participação da tonicidade, função de
transição entre o corpo e o cérebro e entre esse e o
meio.” ( FONSECA, 2012, p.130)
Os jogos, as brincadeiras, o movimento, ou seja, tudo que envolve o
corpo e seus elementos psicomotores é de fundamental importância no
processo de desenvolvimento escolar do nosso aluno. Isso porque, envolve
diretamente a formação de um ser humano (meio interno) capaz de relacionar-
se da melhor maneira possível com o mundo (meio externo) e com maior
capacidade no seu desenvolvimento intelectual. Fonseca ( 2009) defende:
“...É pelo aspecto motor que a criança reivindica uma
porção de espaço pela qual estabelece os primeiros
contatos com a linguagem socializada. As noções de
“aqui” e “ali”, de “esquerda” e “direita”, de “frente” e
37
“atrás”, de “em cima” e “em baixo”, de “dentro” e de “fora”
etc. são fundamentais para ao orientação do ser humano,
no sentido de sua autonomia e de sua independência.”
( FONSECA, 2009, p.230)
CAPÍTULO IlI
A importância da Psicomotricidade no planejamento
das atividades pedagógicas
Desde o nascimento, ou até antes, dentro do ventre materno, o
movimento é a mais rica forma de interação com o meio externo, é um
instrumento de comunicação e de aprendizagem. É através da motricidade que
a criança exprime seus desejos mais primários, e o seu bem estar ou não,
traduzido assim, numa comunicação não verbal complexa.
“ A criança faz-se entender por gestos nos primeiros dias
de sua vida, e , até o momento da linguagem, o
movimento constitui quase que a expressão global de
suas necessidades. A profundidade e o valor da
intercomunicação humana pelo gesto são de extrema
importância na criança, tanto por estar em relação estreita
com as emoções (grifo do autor) como propriamente por
ser o veiculo de transmissão do equilíbrio do estado
interior do recém-nascido.” (FONSECA, 2009,p.188)
Os gestos precedem a palavra, o que Wallon, denominou de
mentalidade projetiva, ou seja, a ato mental projeta-se através dos atos
38
motores. O movimento é a principal forma de comunicação da vida psíquica
da criança, é através dele que a criança se relaciona e interage com os outros.
“Até a aquisição da linguagem, a motricidade é, pois, a
característica existencial e essencial da criança, é a
resposta preferencial e prioritária às suas necessidades
básicas e aos seus estados emocionais e relacionais. A
motricidade na criança é, por isso, já na fase tão precoce,
a expressão do seu psiquismo prospectivo.” ( FONSECA,
2008, p. 15)
O brincar do bebê é o início para o reconhecimento do próprio “eu”
e do mundo a sua volta, utiliza-se do próprio corpo como o primeiro brinquedo
que possibilita uma divertida brincadeira, um jogo de descobertas.
Posteriormente, utiliza-se de objetos (brinquedos ou não) externos a ele,
dando-lhes significados próprios, num verdadeiro jogo da imaginação. Nessa
fase, não mais de utiliza somente do corpo, nesse brincar a criança pode
utilizar-se, além do próprio corpo, com seus movimentos ou não, de objetos
externos. Nas duas situações ocorrerá através da imaginação um significado
transitório e subjetivo.
“É através do corpo que a criança vai descobrir o mundo,
experimentar sensações e situações, expressar-se,
perceber-se e perceber as coisas que a cercam. À
medida que a criança se desenvolve, quanto mais o meio
permitir, ela vai ampliando suas percepções e controlando
o seu corpo através da interiorização das sensações.
Com isso ela vai conhecendo seu corpo e ampliando suas
possibilidades de atuação.” (ALVES, 2008, p.49)
39
Um das áreas de grande importância na aplicabilidade da
Psicomotricidade é a escola, principalmente no período da Educação Infantil e
no 1º ciclo do Ensino Fundamental, visto que a Psicomotricidade é uma ciência
que se utiliza de atividades, que através do corpo e do seu movimento, auxilia
no desenvolvimento das capacidades básicas não só de ordem motora mas
também, cognitiva e social; que irão auxiliar no desenvolvimento da
aprendizagem, já que possibilita a experimentação e exploração que levam a
consciência corporal, a lateralidade, a noção espaço-temporal, a coordenação
motora, e ao ritmo. Como a natureza da criança tende a ação, a escola deveria
levar em conta suas ações espontâneas, como andar, correr, trepar, agarrar e
lançar.
“O desenvolvimento do Esquema Corporal, Lateralidade,
Estruturação Espacial, Orientação Temporal são
fundamentais na aprendizagem; um problema em um
destes elementos irá prejudicar uma boa aprendizagem.”
(ALVES, 2008, p.128)
Em sua teoria pedagógica, Wallon, diz que a inteligência ( o
intelectual, o aprender) vai além do aspecto biológico, sendo a conjunção do
corpo e da afetividade, e desvendou que a criança não é apenas um cérebro e
sim um corpo com emoção em sala de aula. Para o autor, o desenvolvimento
da inteligência se dá na dualidade do mundo interno da criança, da ludicidade
própria da infância, com o mundo do faz de conta; e da realidade, com valores
sociais e culturais definidos. Para Alves (2008, p.38) “as escolas, tão
preocupadas em desenvolver os saberes que moram na cabeça, não têm
sequer noção da sabedoria que mora no corpo”.
A motricidade ocupa um lugar importante na concepção de Wallon.
Ele defende que o movimento e a motricidade possuem caráter pedagógico
quanto a sua intenção de representação, assim, condena as instituições que
persistem em imobilizar as crianças, impedindo a fluidez de emoções,
40
pensamentos e movimentos, que são fundamentais para o desenvolvimento
global do ser humano.
“A obrigação de deixar o corpo estático, sem movimento,
pode ser uma das causas da hiperatividade- um do
distúrbios de aprendizagem mais comum hoje em dia-, de
manias e de comportamentos repetitivos sem
significados.” ( LEVIN, 2012)
Em sua concepção, Wallon acredita que o processo ensino-
aprendizagem é produtivo e satisfatório quando concebido em sua integridade,
ou seja, atendendo as necessidades do aluno, mas, também do professor. É
nessa troca na relação professor/aluno que propomos a utilização de uma
ciência, a Psicomotricidade, que vê no movimento, seja ele livre ou dirigido, a
oportunidade de desenvolvimento e autoconhecimento mútuo das próprias
potencialidades.
É importante que os educadores saibam que não é suficiente o
simples contato com os objetos ou o movimento sem intenção. É preciso que
as crianças sejam desafiadas, instigadas a explorar e descobrir novas
possibilidades de uso e de regras. O importante não é só o contato físico que
se estabelece com o objeto, mas a interação que se organiza, visto que é
fundamental a ação corporal para a aquisição dos signos, conceitos e a
atividade do pensamento.
“É sempre a ação motriz que regula o aparecimento e o
desenvolvimento das formações mentais. O ato, portanto
o movimento, mistura-se com a própria realidade.”
(FONSECA, 2009, p.229)
Como educadores não falamos de ensinar a brincar, nem de
padronizar movimentos, porque o brincar e o movimento se completam , são
naturais e inerentes à criança, e possibilitam a “exploração” do corpo, do meio
41
e de objetos, seja ele brinquedo ou não, para que o desenvolvimento global
ocorra de forma prazerosa e criativa. O RCNEI (1998) preconiza:
“A dimensão subjetiva do movimento deve ser
contemplada e acolhida em todas as situações do dia-a-
dia na instituição da educação infantil, possibilitando que
as crianças utilizem gestos, posturas e ritmos para
expressar e se comunicar. Além disso, é possível criar,
intencionalmente, oportunidades para que as crianças se
apropriem dos significados expressivos do movimento.”
(BRASIL, 1998, p.30)
Venâncio e Freire (2005) defendem que através do brincar, a
criança aprende a manipular objetos do mundo externo, porém, assimilando
os elementos do seu mundo interno (afetos e ilusões). Alves relaciona a
importância do brincar com o corpo quando cita:
“ O corpo é, portanto,”o ponto de referência que o ser
humano possui para conhecer e interagir com o mundo”.
Ele servirá de base para o desenvolvimento cognitivo,
para a aquisição de conceitos referentes ao espaço e ao
tempo, para um maior domínio de seus gestos e harmonia
de movimentos.” (ALVES, 2008, p.49)
Apesar de Wallon não ter escrito sobre motivação especificadamente,
ele enfatiza que é de responsabilidade do professor, adequar o meio escolar
às possibilidades e necessidades dos alunos. Cabe assim, ao professor que
orienta as brincadeiras psicomotoras não apenas corrigir o movimento mas,
apreciar, motivar, elogiar e valorizar o avanço de cada um, respeitando a
subjetividade do corpo, do movimento e do pensar.
42
Em 1997 Freire (1997, p.170) nos ensinava que, “a afetividade é o
território dos sentimentos, das paixões, das emoções, por onde transita medo,
sofrimento, interesse, alegria”. E ainda nos dias de hoje, nos faz parecer que
as escolas não estão preparadas para trabalhar com o corpo e com essas
manifestações diretamente relacionadas. Assim, professores desenvolvem
aulas utilizando medidas disciplinares pra enquadrar as crianças em hábitos
estereotipados de movimentos.
Assim, consideramos fundamental a ideia da atuação do professor
com o seu aluno inteiro, considerando-o mente, corpo e emoção. Essa forma
de pensar é defendida por Freire (1997) quando afirma que não é possível
provar (e não é) que uma pessoa aprende melhor quando está imóvel e em
silêncio. E ainda defende que só é possível aprender no espaço da liberdade.
Liberdade essa que já foi constatada como a primeira forma de linguagem, de
comunicação da criança, a corporal. Uma coisa é certa: negar a cultura
infantil é, no mínimo, mais uma das cegueiras do sistema escolar. ( Freire,
1997)
43
CONCLUSÃO
Uma prática educativa lúdica proporciona a internalização de valores,
novos conhecimentos, e o desenvolvimento da sociabilidade e criatividade,
aspectos nos quais se instala o verdadeiro sentido da educação: mediar os
conhecimentos de modo que estes despertem a alegria de viver com
significado e sentido para os alunos. Através dos brinquedos, das brincadeiras
e do movimento a aprendizagem deixa de ser tediosa e passa a ser construída
com prazer e alegria.
A formação de um cidadão autônomo não se faz pela atuação do
professor, mas pela ação do educando, pelas oportunidades que lhes são
oferecidas. E a inclusão será efetiva quando se ressignificar a escola, a ação
de todos os envolvidos , o acesso e a permanência do aluno no processo
educacional, só assim poderemos vislumbrar as possibilidades de um real
princípio inclusivista.
Na Educação infantil a maior preocupação deve ser a própria criança,
não se trata de uma etapa de “escolarização” e sim, de apoio ao seu
desenvolvimento. As oportunidades oferecidas devem priorizar o aprender a
ser, ou seja, a auto- descoberta como um ser capaz, autoconfiante e seguro.
A obra de Wallon se apresenta como uma psicologia de
desenvolvimento da personalidade, interagindo afetividade e inteligência. Os
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diferentes estágios pelos quais o individuo passa caracterizam-se por um
conjunto de interesses, necessidades e comportamentos. Os estágios são
sucessivos e contínuos, ou seja, uma etapa vivida cria condições para as
mudanças seguintes, e também, se interagem. Nesses estágios, há
momentos, segundo o autor, que o individuo está mais para o desenvolvimento
do autoconhecimento e outros para o conhecimento do mundo. E que a
sucessão dos estágios de desenvolvimento ocorre através de uma passagem
descontínua marcada por conflitos entre o conhecido e o desconhecido.
O corpo, na escola, é refém na relação de controle, qualquer postura
que se manifeste diferente ao determinado pelo sistema é punida. Aos alunos
cabe o direito de ver e ouvir, através de aulas expositivas sem corpo e
emoção.
Devemos, enquanto educadores, lembrar que o movimento não é somente um
deslocar do corpo mas, uma forma de linguagem que age e tem intenção de
comunicação, muitas vezes mais explícitas que muitas palavras.
Os métodos utilizados na Educação Infantil devem ser aqueles que
fazem parte desse universo: o movimento, o corpo, a ludicidade e a fantasia,
o conhecimento nessa fase se dá principalmente pela ação e pela interação
com o outro. Quando a escola acreditar que a educação pelo movimento é à
base de uma real ação pedagógica, principalmente no período do 0 aos 6
anos, conseguiremos resolver os problemas atuais e consequentemente um
novo olhar se abrirá para a escola, que terá não somente a participação de
uma mente, mas de um ser composto por corpo, mente e emoção.
Para trabalhar a psicomotricidade escolar, em qualquer que seja a
disciplina e, ainda em um trabalho multidisciplinar, podemos utilizar de jogos,
atividades livres e direcionadas. A maior preocupação é que essas não sejam
excludentes e sim inclusivas, devemos promover e enfatizar as possibilidades
de acertos. E para que tenhamos tal sucesso, é preciso planejá-las
respeitando a graduação de dificuldade, de ação e de pensamento, além da
faixa etária e a sua fase de desenvolvimento. Essas brincadeiras psicomotoras
contribuem para reforçar todas as áreas do desenvolvimento infantil,
45
representando um inestimável benefício para a formação e o equilíbrio da
personalidade da criança.
Acreditamos que uma ação educativa comprometida com o ser
humano deve priorizar o desenvolvimento das múltiplas linguagens, da
socialização, da criatividade e da autonomia. As crianças da Creche e da
Educação Infantil devem estar imersas num ambiente cuidador e acolhedor,
mas também rico em experiências corporais, da musicalidade, das artes
plásticas, dentre outras. Porque desde a mais tenra idade a criança busca,
dentro de suas possibilidades, diferentes formas e meios de se comunicar e de
desenvolvimento.
BIBLIOGRAFIA CONSULTADA
FREIRE, Paulo. Pedagogia da Autonomia. 31ª ed., São Paulo: Paz e Terra,
1996.
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Educação Física. 4ª ed., São Paulo: Scipione, 1997.
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educação. 6ª ed., São Paulo: Cortez, 2003.
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___________, Tizuko Morchida. Jogos infantis - O jogo, a criança e a
educação. 6ª ed., Petrópolis, RJ: Vozes, 1993.
FRIEDMANN, Adriana. O Brincar no Cotidiano da criança. 1ª Ed. São Paulo:
Moderna, 1996.
___________, Adriana. Jogos Tradicionais. www.crmariocovas.sp.gov.br
Publicação: Série Ideias n. 7. São Paulo: FDE, 1995.
DELORS, Jaques. Os quatros Pilares da Educação.Um Tesouro a Descobrir.
Relatório para UNESCO Comissão Internacional sobre Educação para o
século XXI. São Paulo: MEC, Corteze UNESCO, 1998.
ARCE, Alessandra. Friedrich Froebel: o Pedagogo dos Jardins-de-Infância.
1ª ed., Rio de Janeiro: Ed. Vozes, 2002.
BOFF, Leonardo. A Águia e a Galinha. 39ª ed., Petrópolis: Vozes, 2002.
HENRI, Wallon. Henri Wallon: a evolução psicológica da criança. Tradução de
Claudia Berliner. 1ª ed., São Paulo: Martins Fontes, 2007.
ALVES, Rubem. Ensinar, cantar, aprender. 1ª ed., Campinas, SP: Papirus,
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ALVES, Fátima. Psicomotricidade: Corpo, Ação e Emoção. 4ªed. Rio de
Janeiro: Wak Ed., 2007.
FONSECA, Vitor da. Desenvolvimento Psicomotor e Aprendizagem. 1ª ed.
Porto Alegre: Artmed,2008.
_______________. Psicomotricidade: filogênese, ontogênese e retrogênese.
3ªed. Rio de Janeiro: Wak Ed., 2009.
47
_______________. Manual de Observação Psicomotora- Significação
Psiconeurológica dos Fatores Psicomotores. 2ª ed. Rio de Janeiro: Wak Ed.,
2012.
BIBLIOGRAFIA CITADA
1 - FREIRE, Paulo. Pedagogia da Autonomia. 31ªed. São Paulo: Paz e Terra,
1996.
2 - FREIRE, João Batista. O jogo: entre o riso e o choro. Campinas: Autores
Associados, 2005.
3- _______________ . Educação de corpo inteiro: Teoria e Prática da
Educação Física. 4ª ed., São Paulo: Scipione, 1997.
3 - BRASIL. Ministério da Educação e do Desporto. Secretaria da Educação
Fundamental. Referenciais Curriculares Nacionais para educação infantil. Vol.
1. Brasília; MEC/SEF, 1998.
4 - KISHIMOTO, Tizuko Morchida (Org.). Jogo, brinquedo, brincadeira e a
educação. São Paulo: Cortez, 2003.
5 - VENANCIO, Silvana e FREIRE, João Batista (orgs). O jogo dentro e fora da
escola. 1ª ed. Campinas: Autores Associados, 2005.
6- Blog da Sociedade Brasileira de Psicomotricidade. Acesso em 05/06/2012.
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7-ALVES, Rubem. Ensinar, cantar, aprender. 1ª ed., Campinas, SP: Papirus,
2008.
8-ALVES, Fátima. Psicomotricidade: Corpo, Ação e Emoção. 4ªed. Rio de
Janeiro: Wak Ed., 2007.
9- ESTEBAN LEVIN “O corpo ajuda o aluno a aprender.” Revista Nova Escola.
Ed. Abril. 2012.
ÍNDICE
FOLHA DE ROSTO 2
AGRADECIMENTO 3
DEDICATÓRIA 4
RESUMO 5
METODOLOGIA 6
SUMÁRIO 7
INTRODUÇÃO 8
CAPÍTULO I
A Escola como Espaço de Criação 10
1.1 – A Escola e o Lúdico 13
1.1.2 – Inclusão e Autonomia através de Jogos e Brincadeiras18
CAPÍTULO Il
A Psicomotricidade e Wallon 22
2.1 – Wallon: Aprendendo com Emoção 24
1.1.2 – Entendendo as Habilidades Psicomotoras 31
CAPÍTULO Ill
A Importância da Psicomotricidade no Planejamento das Atividades
Psicomotoras 37
49
CONCLUSÃO 43
BIBLIOGRAFIA CONSULTADA 45
BIBLIOGRAFIA CITADA 47
ÍNDICE 48