UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES PÓS-GRADUAÇÃO … · A NEUROCIÊNCIA E O FUNCIONAMENTO DO CÉREBRO....
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UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES
PÓS-GRADUAÇÃO “LATO SENSU”
INSTITUTO A VEZ DO MESTRE
NEUROCIÊNCIAS PEDAGÓGICAS E AS HABILIDADES MÚLTIPLAS, SUA
IMPORTÂNCIA NA EDUCAÇÃO.
Por: Maria da Penha de Aguiar Martins
Orientador
Prof. Marta Pires Relvas
Rio de Janeiro
2010
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UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES
PÓS-GRADUAÇÃO “LATO SENSU”
INSTITUTO A VEZ DO MESTRE
A IMPORTÂNCIA DO CÉREBRO NO DESEMPENHO DAS HABILIDADES
MULTIPLAS.
Apresentação de monografia à Universidade
Candido Mendes como requisito parcial para
obtenção do grau de especialista em neurociências
pedagógicas.
Por: Maria da Penha de Aguiar Martins
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AGRADECIMENTOS
Agradeço a Deus pela inspiração; ao
meu marido Paulo Roberto, pelo
estímulo e por compartilhar todos os
momentos vividos no decorrer do
curso, a minha amiga Joilce Martins
pela dedicação e companheirismo a
minha professora e orientadora Marta
Pires Relvas, que com competência e
carinho me forneceu subsídios para
elaboração desse trabalho, onde pude
“descobrir” algumas das maravilhas do
cérebro humano.
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DEDICATÓRIA
Para minha mãe Maria Barbuti (in
memoriam), minha emoção maior, por ter
me ensinado o milagre do amor.
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RESUMO
Esta monografia investiga bibliograficamente a possibilidade de se
utilizar as Habilidades Múltiplas como instrumento facilitador de uma
aprendizagem significativa para o individuo.
O avanço tecnológico possibilitou a neurociências novos estudos acerca
do funcionamento do cérebro e da cognição.
Pesquisas mais recentes em desenvolvimento cognitivo e
neuropsicológico sugerem que as habilidades cognitivas são bem mais
diferenciadas e mais específicas do que se acreditava.
O foco da educação tem sido o conhecimento a ser ensinado de
maneira mecânica e igual a todos os alunos, sem a devida atenção à
individualidade, numa demonstração de total falta de consciência da força que
possuem os modelos mentais e da influência que eles exercem sobre o
comportamento. Por sua vez os alunos, acostumados a perceber o mundo a
partir da visão do docente, aceitam passivamente essa proposta pedagógica,
desempenhando um papel de receptor de informações, as quais nem sempre
são compreendidas e geram conhecimento. Proporcionar uma boa
aprendizagem para o aluno é fundamental para uma educação que pretende
ajudar o aluno perceber sua individualidade, tornando-o também responsável
pelo ato de aprender, proporcionando a otimização de suas habilidades.
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METODOLOGIA
Os métodos que levam ao problema proposto, como leitura de livros,
jornais, revistas, sites na internet... e a resposta, após coleta de dados,
pesquisa bibliográfica, observação do objeto de estudo. Contar passo a passo
o processo de produção da monografia. É importante incluir os créditos às
instituições que cederam o material ou que foram o objeto de observação e
estudo.
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SUMÁRIO
INTRODUÇÃO 10
CAPÍTULO I - NEUROCIÊNCIA E O FUNCIONAMENTO DO CÉREBRO 16
1.1. As células do Aprendizado 16 1.2. Neuroanatomia e Aprendizagem 17 CAPÍTULO II - HABILIDADES MULTIPLAS, TEORIA E FUNDAMENTOS
BIOLÓGICOS DA EDUCAÇÃO 19
2.1. A teoria 20 2.2. As Habilidades Múltiplas 22 2.3. A localização das Habilidades no Cérebro Humano 22 2.3.1. Considerações sobre Habilidades 22 2.4. Teoria das inteligências múltiplas e a educação 30 CAPÍTULO III – HABILIDADES, ESCOLA E ESTRAÉGIAS DE ENSINO 32
3.1. Estímulos e aprendizagem 33 3.2. A criança e as Altas Habilidades 35 3.3. Habilidades e Estímulos 36 3.3.1. Estratégias de ensino 37 3.4. A educação das habilidades. 38 CONCLUSÃO 41 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS 44
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INTRODUÇÃO
Em nossa prática educacional, ouvimos constantemente falar dos
problemas relacionados à aprendizagem, a falta de interesse, a desmotivação,
ao fracasso dos alunos, à falta de apoio familiar na educação dos filhos e
professores trabalhando com salas superlotadas e a falta de capacitação.
Embora existam constantes estudos e novas teorias sobre o
desenvolvimento da aprendizagem e da cognição, falta uma prática que
vislumbre a busca de resultados.
O presente trabalho, que se dá a partir de uma investigação
bibliográfica analisando teóricos que discutem o tema habilidades, utilizando
para tanto o método dialético, busca compreender, refletir e estabelecer
relação entre a neurociências e as Habilidades Múltiplas e os apelos do mundo
“pós-moderno”, considerando que as exigências contemporâneas exercem
influências na ação educativa formal. Para tanto buscamos obras de teóricos
que renomados.
No capítulo I buscamos compreender e o funcionamento do cérebro,
através do estudo da neurociência e suas contribuições no processo de
aprendizagem. No capítulo II, procuramos conhecer a teoria das Habilidades
Múltiplas e os fundamentos biológicos da educação, à luz a neurociências, e no
capítulo III, abordaremos as habilidades, a escola e as estratégias de ensino,
trabalhando as habilidades e estímulos, através de uma visão sistêmica,
buscando valorizar a bagagem de conhecimento que cada ser traz consigo.
Na era da globalização, mais do que nunca cabe à educação
diversificar para a aprendizagem dos alunos, pois devemos educar para a
formação de cidadãos críticos e reflexivos no qual poderão ser agentes ativos
de transformação da sociedade que está inserido, viabilizando o trabalho de
conteúdos de forma holística, capaz de promover uma prática educacional
comprometida com o desenvolvimento de capacidades que permitam a
intervenção desta realidade.
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O desejo de realizar a pesquisa referente ao tema Neurociências
Pedagógicas e as Habilidades Múltiplas, sua importância na educação, uma
perspectiva que pode tornar possível a tarefa de educar para o entendimento, é
devido à queixa da maioria dos profissionais da área de educação, que
vivenciam em suas práticas pedagógicas dificuldades de aprendizagem em
determinadas disciplinas ou conteúdos, desinteresse dos alunos e falta de
apoio familiar na educação formal dos filhos.
Embasados do estudo das Habilidades Múltiplas, esse trabalho propõe
pistas com as quais o professor poderá trabalhar e colocar em prática seu rol
de conhecimento a favor da mediação do desenvolvimento das múltiplas
competências em seus alunos, permitindo que eles vivenciem diversos
ambientes, ricos em materiais físicos e humanos, oportunizando formas
diversificadas de aprendizagem, interagindo com a família e a comunidade.
Uma pedagogia alicerçada na Neurociência e nas Habilidades
Múltiplas, centrada no indivíduo, pode tornar possível a tarefa de educar para o
entendimento, necessitando, para tanto de formas diferenciadas no ato de
aprender.
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CAPÍTULO I
A NEUROCIÊNCIA E O FUNCIONAMENTO DO CÉREBRO.
O CONCEITO
O cérebro e as funções cerebrais têm sido estudados cientificamente
por diversos ramos do saber. É um projeto pluri-disciplinar. Nasceu assim a
neurociência com o objetivo de estudar o funcionamento do Sistema Nervoso
nomeadamente de Sistema Nervoso Central, a partir de uma perspectiva
biológica.
Pierre Florens, por volta de 1825, começou com as primeiras
descobertas relacionadas com o funcionamento cerebral. Anatomistas e
fisiologistas desenvolveram novos métodos experimentais para intervir
diretamente no cérebro e observar os resultados destas intervenções sobre o
comportamento de animais. Estes métodos eram:
▪ A ablação cirúrgica seletiva de partes do cérebro de animais;
▪ A estimulação elétrica do cérebro de animais e seres humanos;
▪ Os estudos clínicos, ou seja, pacientes com deficiências neurológicas
ou mentais tiveram seus cérebros examinados após a sua morte, numa
tentativa de identificar com alterações detectáveis no tecido nervoso.
A eletrofisiologia, na qual elétrodos são colocados diretamente no
cérebro permite aos cientistas registrar a atividade córtex cerebral de neurônios
isolados ou grupos de neurônios, mas como requer uma cirurgia invasiva, é
uma técnica reservada apenas para cobaias animais. A eletroencelografia ou
EEG dá-se com a colocação de eletrodos sobre a pele, a fim de se registrarem
os impulsos nervosos (de natureza eletro-químico) gerados por diferentes
partes do córtex cerebral. O Exame detecta apenas mudanças em larga escala
e ocorridas apenas nas camadas mais externas do órgão. Com o aparecimento
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dos métodos de imagem, a Tomografia computadorizada ou TAC e da Imagem
por Ressonância Magnética, vieram revolucionar o estudo do funcionamento do
cérebro a tornar o diagnóstico médico mais rigoroso.
A Ressonância Magnética funciona medindo as mudanças no fluxo de
sangue dentro do cérebro, mas a atividade não é diretamente medida, e não
pode se distinguir onde a atividade é de inibição ou de onde é de excitação.
Testes de comportamento podem avaliar sintomas de doenças e o
desempenho mental, mas também são medidas indiretas das funções
cerebrais e podem não ser práticas em todos os animais.
O cérebro humano é constituído por cerca de 100 bilhões de
neurônios, que parecem organizados em agrupamentos chamados fibras
nervosas, cada uma com 80 a 100 neurônios em um diâmetro de 30-50 um.
Calcula-se que existam entre ambos os hemisférios cerebrais.
O cérebro é uma entidade material localizada dentro do crânio, que
pode ser visualizado, tocado e manipulado. É composto de substâncias
químicas, enzimas e hormônios, podendo ser medidos e analisados. Seu
funcionamento depende de neurônios, os quais consomem oxigênio, trocando
substâncias químicas através de suas membranas.
O crescimento de novos neurônios, ou seja, neurogênese, também
acontece no hipocampo, uma região ligada à memória e a aprendizagem
humana. Os ambientes enriquecidos e estimulados com recursos materiais,
prática de exercícios físicos e uma boa nutrição influenciam no
desenvolvimento da memória e na aprendizagem. Pesquisas médicas atestam
que o desenvolvimento do cérebro ocorre mais rápido nos primeiros anos de
vida da criança. O desenvolvimento sadio do cérebro atua diretamente sobre a
capacidade cognitiva.
Segundo Relvas (2009), o encéfalo encontra-se localizado no interior
do crânio, protegido por um conjunto de três membranas, que são as
meninges. É constituído por um conjunto de estruturas especializadas que
funcionam de forma integrada para assegurar unidade ao comportamento
humano. É formado por Bulbo raquidiano, Hipotálamo, Corpo caloso, Córtex
cerebral, Tálamo, Formação reticular, Cerebelo e Hipófese.
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O cérebro primitivo ou arquencéfalo é a unidade cerebral responsável
pela autopreservação e agressão. É formado pelas estruturas do tronco
encefálico e cerebelo, pelo mais antigo núcleo da base, o globo pálido e pelos
bulbos olfatórios. O correspondente ao cérebro dos répteis, também chamado
complexo-R ou formação reticular, é uma estrutura cerebral relacionada aos
instintos primitivos e agressivos do comportamento humano, por isso precisa
ser educado, pois do contrário, esse comportamento prevalecerá.
O cérebro intermediário é a unidade cerebral responsável pelas
emoções dos velhos mamíferos, é formado pelas estruturas do sistema límbico
e corresponde ao cérebro dos mamíferos inferiores. É com este cérebro que
aprendemos a cuidar das crias, com relações afetivas.
O cérebro superior ou cérebro racional é a unidade cerebral
responsável pelas tarefas intelectuais dos novos mamíferos e compreende a
maior parte dos hemisférios cerebrais (formado por um tipo de córtex mais
recente, denominado Neocórtex e alguns grupos neurais, subcorticais). É o
cérebro dos mamíferos superiores, incluindo os primatas e, consequentemente,
o homem moderno, Homo sapiens. Essas três estruturas foram aparecendo,
uma após a outra, durante o desenvolvimento do embrião e do feto (ontogenia),
recapitulando, cronologicamente, a evolução (filogenia) das espécies, do réptil
e até do Homo sapies. Elas são três computadores biológicos que, embora
interconectados, conservam cada um, nas palavras do cientista, “suas próprias
formas peculiares de inteligência, subjetividade, sentido de tempo e espaço,
memória, motricidade e outras funções menos específicas”.
Ainda, segundo Relvas (2009), em uma visão neurobiológica da
aprendizagem, pode-se dizer que, quando ocorre a ativação de uma área
cortical, determinada por um estímulo, provoca alterações também em outras
áreas, pois o cérebro não funciona como regiões isoladas. Isto ocorre em
virtude da existência de um grande número de vias de associações,
precisamente organizadas, atuando nas duas direções. Estas vias podem ser
muito curtas, ligando áreas vizinhas que trafegam de um lado para outro sem
sair da substância cinzenta. Outras podem constituir feixes longos e trafegam
pela substância branca para conectar um giro a outro de um lobo a outro,
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dentro do mesmo hemisfério cerebral. São as conexões intra-hemisféricas. Por
último, existem feixes comissurais que conduzem a atividade de um hemisfério
para outro, sendo o corpo caloso o mais importante deles.
As associações recíprocas entre as diversas áreas corticais asseguram
a coordenação entre a chegada de impulsos sensitivos, sua decodificação e
associação, até a atividade motora de resposta. A esta chamamos de funções
nervosas superiores, desempenhadas pelo córtex cerebral.
Lobo Frontal: Cótex pré-frontal, está relacionado com as funções
superiores representadas por vários aspectos comportamentais humano.
Recebe impulsos nervosos dos lobos pariental e temporal por meio de feixes
de longas fibras de associações situados no giro cíngulo. Lesões bilaterais da
área pré-frontal determinam perda da concentração, diminuição da habilidade
intelectual e déficit de memória e julgamento.
Inclui-se três giros frontais, o giro orbital, a maior parte do giro frontal
medial e, aproximadamente, a metade do giro cínculo.
O QUE FAZ: fala, função motora e psicomotora, escrita, memória
imediata, seriação, ordenação, planificação, programação, mudança de
atividade mental, excrutínio e exploração visual, tarefas visuoposturais,
julgamento social, controle emocional, motivação, estruturação espaço-
temporal, repertório práxico, controle e regulação próprio-exteroceptiva.
Lobo Temporal: Possui funções situadas em porções diferentes. A
parte posterior está relacionada com a recepção e a decodificação de
estímulos auditivos, que se coordenam com impulsos visuais, e a parte anterior
está relacionada com a atividade motora visceral (olfação e gustação) e com
alguns aspectos de comportamento instintivos.
O QUE FAZ: estímulos auditivos, não verbal e verbal percepção auditiva-
verbal e visual, memória auditiva, interpretação pictural, interpretação espaço-
temporal, discriminação e sequencialização auditiva, integração rítmica.
Lobo Pariental: Está relacionado à interpretação, à integração de
informações visuais (provenientes do córtex occipital) e à sonatossensitivas
primárias, principalmente o tato. A lesão do córtex primário occipital determina
perda do campo visual, enquanto lesões do lobo pariental resultam em perda
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do conhecimento geral, inadequação do reconhecimento de impulsos
sensoriais e falta de interpretação das relações espaciais (visual espacial e
motora).
O QUE FAZ: registro tátil, imagem do corpo (somatognosia),
exterognosias, reconhecimento tátil de formas e objetos, direcionalidade,
gnosia digital, leitura, elaboração grafomotora, imagem espacial, elaboração de
práxis, processamento espacial, integração somato-sensorial, autotopoagnosia,
discriminação tatilnestésica.
Lobo Occipital: Esta região realiza a integração visual e partir de
recepção dos estímulos que ocorre nas áreas primárias, leva informações para
serem apreciadas e decodificadas nas áreas secundárias e de associação
visual. Estes centros visuais são conectados por fibras intra-hemisféricas ao
córtex do pariental do mesmo lado, bem como a outras áreas corticais, tais
como ao lobo temporal, para outras atividades integradoras. Além da
integração intra-hemisférica, as áreas parientais direita e esquerda e temporais
posteriores são conectadas por meio do corpo caloso, comunicando os dois
hemisférios pelas fibras comissuais inter-hemisférias.
O QUE FAZ: estimulação visual, percepção visual, sequencialização
visual, rotação e perseguição visual, decodificação visual com participação de
outros centros do cérebro, figura fundo, posicionamento e relação espacial.
Troco Encefálico:
O QUE FAZ: atenção, vigilância, integração neurossensorial motora,
integração vestibular, integração tônica.
Cerebelo:
O QUE FAZ: coordenação de movimentos automáticos e voluntários,
segurança, proprioceptividade, regulação de padrões motores.
Apesar de o cérebro ser divido em dois hemisférios, não existe a
relação de dominância entre eles: pelo contrário, eles trabalham em conjunto,
utilizando dois milhões de fibras nervosas que constituem as comissuras
cerebrais e se encarregam de pô-los em constante interação. O conceito de
especialização hemisférica se confunde com o de lateralidade (algumas
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funções são representadas em apenas um dos lados, outras nos dois) e
assimetria (um hemisfério não é igual ao outro). (Relvas. 2009).
Segundo Lent (2002), o hemisfério esquerdo controla a fala em mais, de
95% dos seres humanos, mas isso não quer dizer que o direito não trabalhe;
ao contrário, é a prosódia do hemisfério direito que confere à fala nuances
afetivas essenciais para a comunicação interpessoal. O hemisfério esquerdo é
também responsável pela realização mental de cálculos matemáticos, pelo
comando da escrita e pela compreensão dela por meio da leitura. Já o
hemisfério direito é melhor na percepção de sons musicais e no
reconhecimento de faces, especialmente quando se trata de aspectos gerais. O
hemisfério esquerdo participa também do reconhecimento de faces, mas sua
especialidade é de descobrir precisamente quem é o dono de cada face. Da
mesma forma, o hemisfério direito é especialmente capaz de identificar
categorias gerais de objetos e seres vivos, mas é o esquerdo que detecta as
categorias específicas. O hemisfério direito é melhor na detecção espacial,
particularmente nas relações métricas quantificáveis, aquelas que são úteis
para o nosso deslocamento no mundo. O hemisfério esquerdo não deixa de
participar dessa função, mas é melhor no reconhecimento de relações
espaciais categoriais qualitativas. Finalmente, o hemisfério esquerdo produz
movimentos mais precisos da mão e da perna direitas do que o hemisfério
direito é capaz de fazer.
Usamos o cérebro inteiro para existir e funcionar.
Dois sistemas interrelacionados dividem a tarefa de focar as
necessidade internas e interagir com o meio externo.
Sistema Interno – os órgãos e sistemas do corpo se ligam ao cérebro
através do tronco cerebral e do sistema límbico. Juntos regulam as funções
corporais: respiração, apetite, defesa, sono e sexualidade. Juntos também
respondem pelas necessidades de sobrevivência, emocionais de atenção e
alimentação.
Tronco Cerebral (encefálico) – controla as funções vitais básicas.
Conectado ao tronco está o cerebelo, responsável pelo movimento e equilíbrio
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do corpo. Neste último, são guardadas memórias de procedimentos (como
nadar ou pular corda) e memórias automáticas (alfabeto).
Sistema Límbico – regula as emoções. Pode anular tanto os
pensamentos racionais quanto as respostas vitais.
Amígdala Cerebral – maior responsável pelas emoções, tem a função
de filtrar e interpretar as informações sensoriais que entram. Deve avaliar,
levando em conta as necessidades de sobrevivência e emocionais, e ajudar a
iniciar respostas imediatas.
Hipocampo – classifica e guarda recordações selecionadas nas redes
de memória do cérebro.
Tálamo – informa ao cérebro o que está acontecendo fora do corpo, e
o hipotálamo, dentro do corpo. Eles ajudam a regular a vida emocional e a
segurança física.
Sistema Externo – o cerebrum/córtex ocupa 85% da área cerebral,
responsável pela interação com o ambiente externo. Está organizado numa
vasta rede interconectada de neurônios. Recebe e interpreta informações, toma
decisões e ativa respostas.
Quando há domínio do cérebro esquerdo, a pessoa prefere processar
coisas em sequência. Aprende das partes para o todo. Gostam de palavras,
símbolos, letras. Prefere ler sobre o assunto antes e receber instruções em
ordem e detalhadas. Quer estrutura e previsão. Aceita informações factuais e
não-relacionadas. Porém, quando o domínio é do cérebro direito, a pessoa
sente-se confortável com o acaso. Aprende do todo para as partes. Prefere
experimentar ou ver antes. Gosta de gravuras, gráficos, quadros, imagens e
relacionamentos na aprendizagem. Quer um esquema aberto e supressas.
(RAMOS, 202. P.50).
Quando informações ou conceitos novos surgem, o cérebro procura
algo semelhante para ajudá-lo a entender. Ele faz associações, estabelecendo
laços entre o desconhecido e o familiar que está na memória. A nova
aprendizagem é assimilada no contexto de uma rede de significados que existe
previamente na mente da pessoa. O cérebro cria imagens novas a partir de
modelos mentais anteriores. (RAMOS, 2002. p.50).
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O cérebro tem relógio próprio: é mais alerta de manhã e menos
receptivo à tarde. É desenhado para ciclos de altos e baixos e não para a
atenção constante.
De acordo com Lopes (1980), os primeiros fatores básicos da
motivação humana são o hedonismo e o idealismo. O primeiro explica que o
homem não ama a dor e o desconforto, mas o prazer e o conforto. Eis aí a
razão dos conselhos acerca de como tornar agradáveis as condições e o
ambiente de trabalho, a fim de que aquele fator seja satisfeito, resultando no
aumento da motivação.
1.1. As células do Aprendizado.
De acordo com Riesgo (2007), ficam-se atentos somente aos dados
macroscópicos, ficam restritas as possibilidades de compreensão da
organização estrutural do Sistema Nervoso Central. Por isso a necessidade de
estudar neuro-histologia, cujo entendimento, no final do século XIX, foi muito
importante para a neurociência. Na época e no nível histológico, foram
descritos dois tipos de células nervosas, que corresponderiam ás duas
unidades estruturais e também funcionais do Sistema Nervoso Central: o
neurônio e o gliócito, também chamado de célula glial ou neuroglia.
Inicialmente, a idéia era a de que apenas o neurônio era a unidade
morfofuncional fundamental do Sistema Nervoso Central, enquanto que o
gliócito era tido meramente como uma célula de apoio. Poder-se-ia então
imaginar que somente o neurônio era “capaz de aprender”. Mas esta não é
toda a verdade.
Atualmente, é admitido que esta não é uma afirmação definitiva. Sabe-
se que as células gliais são 10 a 15 vezes mais numerosas do que os
neurônios, que podem modificar-se com a chegada de novas informações no
Sistema Nervoso Central e que de certo modo, portanto, também participam
dos mecanismos celulares do aprendizado.
Mais recentemente, verificou-se que as células gliais também têm
várias outras funções muito ativas, tais como orientação do crescimento e
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ajuda na migração dos neurônios durante o desenvolvimento, de comunicação
neural, de defesa e reconhecimento na vigência de situações patológicas e de
limitação das descargas neurais aberrantes.
Outro conceito que também tem mudado atualmente diz respeito á
capacidade de regeneração ou de recuperação funcional das células nervosas.
Esta possivelmente tenha sido uma das primeiras definições de
neuroplasticidade, mas não é completa, pois corresponde apenas a um
“reaprendizado”. Na realidade, a neuroplasticidade também está intimamente
ligada ao processo de aprendizagem normal.
1.2. Neuroanatomia e aprendizagem.
Ainda segundo Riesgo (2007), dentre as estruturas nervosas, alguém
poderia imaginar que só os hesmiférios cerebrais participam do processo de
aprendizado. Contudo, isso não é uma verdade total. Vai depender do tipo de
aprendizado
Por exemplo, atenção, pré-requisito dos mais primordiais para que se
dê um aprendizado, não depende só dos hemisférios cerebrais. Depende de
uma complexa interação entre estruturas do tronco encefálico e suas conexões
com o córtex frontal.
Desde o ponto de vista ontogenético, um dos primeiros sistemas a
complementar seu ciclo maturacional é justamente o da atenção.
Corresponderia ao que chamamos de a primeira unidade funcional de Luria.
O cerebelo, por seu turno, inicialmente imaginado como uma estrutura
iminentemente imaginado como uma estrutura eminentemente motora, que
tinha a ver com equilíbrio, tônus muscular e coordenação motora, atualmente é
também admitido como participante dos processos de mudança do foco da
atenção, manutenção da atenção, aprendizagem e linguagem, além de outras
funções tidas como “superiores”.
O digitador, o pianista e outros profissionais que necessitam repetir
com frequência certos atos motores acabam por desenvolver um tipo de
memória que poderia ser denominada memória cinestésica.
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Evidentemente, os hemisférios estão envolvidos naqueles
aprendizados tidos como mais elaborados. São exemplos as gnosias, as
praxias, alguns aspectos da linguagem, da matemática, da leitura e também da
escrita.
20
CAPÍTULO II
HABILIDADES MÚLTIPLAS, TEORIA E FUNDAMENTOS
BIOLÓGICOS DA EDUCAÇÃO.
A inteligência é o termo usado no discurso comum para se referir à
habilidade cognitiva. Está ligado a nossa capacidade de percepção, memória e
habilidade nos movimentos, áreas neurológica, cerebral.
Discorre-se a seguir sobre a teoria de Howard Gardner (1995),
conhecendo a Teoria das Habilidades Múltiplas, compreendendo o cérebro,
conhecendo cada habilidade. Na verdade, o que Gardner chamou de
“inteligências” são habilidades que estão englobadas nos dois grandes
tipos de inteligência, mas não constituem, por si mesmas, tipos de Inteligência.
No início do século XX, as autoridades francesas solicitaram a Alfredo
Binet que criasse um instrumento pelo qual se pudesse prever quais as
crianças que teriam sucesso nos liceus parisienses. O instrumento criado por
Binet testava a habilidade das crianças nas áreas verbal e lógica, já que os
currículos acadêmicos dos liceus enfatizavam, sobretudo o desenvolvimento da
linguagem e da matemática. Este instrumento deu origem ao primeiro teste de
inteligência, desenvolvido por Terman, na Universidade de Standford, na
Califórnia: o Standford-Binet Intelligence Scale.
Subseqüentes testes de inteligência e a comunidade de psicometria
tiveram enorme influência, durante este século, sobre a idéia que se tem de
Inteligência, embora o próprio Bine (Binet & Simon, 1905, Apud Kornhaber &
Gardner, 1989) tenha declaro que um único número, derivado da performance
de uma criança em um teste, não poderia retratar uma questão tão complexa
quanto à inteligência humana.
As pesquisas mais recentes em desenvolvimento cognitivo e
neuropsicologia sugerem que as habilidades cognitivas são bem mais
diferenciadas e mais específicas do que se acreditava (Gardner, 1985).
Neurologistas tem documentado que o sistema nervoso humano não é um
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órgão com propósito único nem tão pouco é infinitamente plástico. Acredita-se
hoje, que o sistema nervoso seja altamente diferenciado e que diferentes
centros neurais processem diferentes tipos de informação (Gardner, 1987).
Howard Gardner, psicólogo da Universidade de Hervad, baseou-se
nestas pesquisas para questionar a tradicional visão da inteligência, uma visão
que enfatiza as habilidades liguisticas e lógico-matemática. Segundo Gardner,
todos os indivíduos normais são capazes de uma atuação em pelo menos sete
diferentes e, até certo ponto, independentes áreas intelectuais. Ele sugere que
não existem habilidades gerais, duvida da possibilidade de se medi a
inteligência através de testes de papel e lápis e dá grande importância a
diferentes atuações valorizadas em culturas diversas. Finalmente, ele define
inteligência como a habilidade para resolver problemas ou criar produtos que
sejam significativos em um ou mais ambientes culturais.
2.1. A teoria.
A Teoria das Habilidades Múltiplas, de Howard Gardner (1985) é uma
alternativa para o conceito de inteligência como a capacidade inata, geral
e única, que permite aos indivíduos uma performance, maior ou menor, em
qualquer área de atuação. Sua insatisfação com a idéia e QI e com visões
unitárias de inteligência, que focalizam sobretudo as habilidades importantes
para o sucesso escolar, levou Gardner a redefinir inteligência à luz das origens
biológicas da habilidade para resolver problemas. Através da avaliação das
atuações de diferentes profissionais e m diversas culturas, e do repertório de
habilidades dos seres humanos na busca de soluções, culturalmente
apropriadas, para o seus problemas, Gardner trabalhou no sentido inverso ao
desenvolvimento, retroagindo para eventualmente chegar às inteligências que
deram origem a tais realizações. Na sua pesquisa, Gardner estudou também:
(a) o desenvolvimento de diferentes habilidades em crianças normais e
crianças superdotadas; b) adultos com lesões cerebrais e como estes não
perdem a intensidade de sua produção intelectual, mas sim uma ou algumas
habilidades, sem que outras habilidades sejam sequer atingidas; c) populações
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ditas excepcionais, tais como idiot-savants e autistas, e como os primeiros
podem dispor de apenas uma competência, sendo bastante incapazes nas
demais funções cerebrais, enquanto as crianças autistas apresentam
ausências nas suas habilidades intelectuais; (d) como se deu o desen-
volvimento cognitivo através dos milênios.
Psicólogo construtivista muito influenciado por Piaget, Gardner
distingue-se de seu colega de Genebra na medida em que Piaget acreditava
que todos os aspectos da simbolização partem de uma mesma função
semiótica, enquanto que ele acredita que processos psicológicos
independentes são empregados quando o indivíduo lida com símbolos
lingüísticos, numéricos gestuais ou outros. Segundo Gardner uma criança pode
ter um desempenho precoce em uma área (o que Piaget chamaria de
pensamento formal) e estar na média ou mesmo abaixo da média em outra
(o equivalente, por exemplo, ao estágio sensório-motor). Gardner descreve o
desenvolvimento cognitivo como uma capacidade cada vez maior de entender
e expressar significado em vários sistemas simbólicos utilizados num contexto
cultural, e sugere que não há uma ligação necessária entre a capacidade ou
estágio de desenvolvimento em uma área de desempenho ou estágios em
outras áreas ou domínios (Malkus e col. 1099). Num plano de análise
psicológico, afirma Gardner (1982), cada área ou domínio tem seu sistema
simbólico próprio; num plano sociológico de estudo, cada domínio se
caracteriza pelo desenvolvimento de competências valorizadas em culturas
específicas.
Gardner sugere, ainda, que as habilidades humanas não são
organizadas de forma horizontal; ele propõe que se pense nessas habilidades
como organizadas verticalmente, e que, ao invés de haver uma faculdade
mental geral, como a memória, talvez existam formas independentes de
percepção, memória e aprendizado, em cada área ou domínio, com possíveis
semelhanças entre as áreas, mas não necessariamente uma relação direta.
23
2.2. As Habilidades Múltiplas.
Gardner identificou as habilidades lingüísticas, lógico-matemática,
espacial, musical, cinestésica, interpessoal, intrapessoal e por último a
naturalista. Postula que essas competências intelectuais são relativamente
independentes, tem sua origem e limites genéticos próprios e substratos
neuroanatômicos específicos e dispõem de processos cognitivos próprios.
Segundo ele, os seres humanos dispõe de graus variados de cada uma das
habilidades e maneiras diferentes com que elas se combinam e organizam e se
utilizam dessas capacidades intelectuais para resolver problemas e criar
produtos. Gardner ressalta que, embora estas habilidades sejam, até certo
ponto, independentes uma das outras, elas raramente funcionam isoladamente.
Embora algumas ocupações exemplifiquem uma habilidade, na maioria dos
casos as ocupações ilustram bem a necessidade de uma combinação de
habilidades. Por exemplo, um cirurgião, necessita da acuidade da habilidade
espacial combinada coma destreza da cinestésica.
2.3. A localização das Habilidades no Cérebro Humano.
1. Habilidade lingüística: é o tipo de capacidade
exibida em sua forma mais completa, talvez pelos
poetas. Localização: parte do cérebro chamada
Centro de Broca;
2. Habilidade lógico-matemática: é a capacidade
lógico-matemática, assim como a capacidade
científica. Localização: Centro de Broca;
3. Habilidade espacial: é a capacidade de formar um modelo mental de
um mundo espacial e ser capaz de manobrar e operar utilizando esse modelo.
Localização: Hemisfério direito do cérebro;
24
4. Habilidade musical: é a capacidade voltada para a música. Localização:
hemisfério direito;
5. Habilidade corporal cinestésica: capacidade de resolver problemas ou de
elaborar produtos utilizando o corpo inteiro, ou partes do corpo. Localização:
Hemisfério esquerdo;
6. Habilidade interpessoal: capacidade de compreender outras pessoas: o
que as motiva, como elas trabalham, como trabalhar cooperativamente com
elas. Localização: Lobos Frontais;
7. Habilidade intrapessoal: é uma capacidade correlativa voltada para dentro
de si mesmo. É a capacidade de formar um modelo acurado e verídico de si
mesmo e de utilizar esse modelo para operar efetivamente na vida.
Localização: Lobos frontais.
8. Habilidade Naturalista – Esta inteligência foi recentemente adicionada à
lista das sete inteligências múltiplas e consiste na habilidade de
identificar e classificar padrões da natureza. É também conhecida como
inteligência biológica ou ecológica.Localização: Hemisfério direito.
2.3.1. Considerações sobre as habilidades.
Segundo, Travassos (2001), tendo esboçado as características e
critérios de uma inteligência, apresentam-se breves considerações de cada
uma das sete inteligências.
Cada esboço foi feito embasado numa breve biografia de uma pessoa
que demonstra uma facilidade incomum naquela inteligência. Embora cada
biografia ilustre uma inteligência particular, não se pode dizer que na idade
adulta as inteligências operam isoladamente. Exceto em indivíduos anormais,
as inteligências sempre funcionam combinadas e, qualquer papel adulto
sofisticado envolverá uma fusão de várias delas.
Ainda de acordo com Travassos (2001), alguns exemplos abaixo de
estudos de casos, verifica-se que as habilidades múltiplas é um produto de
uma operação cerebral que permite ao sujeito resolver problemas, levando-o a
25
construir conhecimentos, estruturar a aprendizagem e promove a
transformação do ser humano.
( www.eduep.uepb.edu.br/rbct/sumarios/pdf/inteligencias_multiplas.pdf)
Inteligência musical
Exemplo: Yehudi Menuhin foi colocado por seus pais na Orquestra de São
Francisco. O som do violino o fascinou tanto que quis ganhar um em seu
aniversário e quis também fazer aulas com o prof. Louis. Conseguiu ambos e
com apenas dez anos se tornou um músico internacional.
A inteligência musical do violonista manifestou-se mesmo antes dele ter tocado
ou recebido qualquer treinamento musical. Sua poderosa reação àquele som
particular e seu rápido progresso no instrumento sugerem que ele estava
biologicamente preparado de alguma maneira para esse empreendimento.
Dessa forma, a evidência das crianças-prodígio apoia a afirmação de que
existe um vínculo biológico a uma determinada inteligência. Outras populações
especiais, como a das crianças autistas que conseguem tocar
maravilhosamente um instrumento musical, mas não conseguem falar,
enfatizam a independência da inteligência musical.
Uma breve consideração desta evidência sugere que a capacidade
musical é aprovada em outros testes para uma inteligência. Por exemplo,
certas partes do cérebro desempenham papéis importantes na percepção e
produção da música. Estas áreas estão caracteristicamente localizadas no
hemisfério direito. As evidências que apoiam a interpretação da capacidade
musical, como uma "inteligência" chegam de várias fontes. Mesmo que a
capacidade musical não tipicamente considerada como uma capacidade
intelectual, como a matemática. Ela se qualifica a partir dos critérios
estabelecidos. Por definição, ela merece ser considerada; e, tendo em vista os
dados, sua inclusão está empiricamente justificada.
Inteligência corporal-cinestésica
Exemplo: Babe, aos quinze anos jogava na terceira base. Quando num certo
momento ruim do jogo, Babe criticou-o lá da terceira base, até que o técnico
26
sugeriu que ele arremessasse. Babe hesitou e lançou, em seguida se tornou
um batedor legendário.
Babe Ruth reconheceu seu "instrumento" imediatamente, em seu primeiro
contato com ele. Esse reconhecimento ocorreu antes de um treinamento
formal.
O controle do movimento corporal está, evidentemente, localizado no córtex
motor, com cada hemisfério dominante ou controlador dos movimentos
corporais no lado contra-lateral. Nos destros, a dominância desse movimento
normalmente é encontrada no hemisfério esquerdo. A capacidade de realizar
movimentos quando dirigido para fazê-los pode estar prejudicada mesmo nos
indivíduos que podem realizar os mesmos movimentos reflexivamente ou numa
base involuntária. A existência de uma apraxia específica constitui uma linha de
evidência de uma inteligência corporal-cinestésica.
A evolução dos movimentos especializados do corpo é uma vantagem
óbvia para as espécies, e nos seres humanos esta adaptação é ampliada
através do uso de ferramentas. O movimento corporal passa por um programa
desenvolvimental claramente definido nas crianças.
A consideração do conhecimento corporal cinestésico como
solucionador de "problemas" talvez seja menos intuitiva. Executar uma
seqüência mímica ou bater numa bola de tênis não é resolver uma equação
matemática. E, no entanto, a capacidade de usar o próprio corpo para
expressar uma emoção (como a dança), jogar um jogo (como esporte) ou criar
um novo produto (como no planejamento de uma invenção) é uma evidência
dos aspectos cognitivos do uso do corpo.
Inteligência lógico-matemática
Exemplo: Em 1983, Bárbara Mc Clintock ganhou o Prêmio Nobel de Medicina
ou fisiologia por seu trabalho em microbiologia. Seus poderes intelectuais de
dedução e observação ilustram uma forma de inteligência lógico-matemática,
freqüentemente rotulada como "pensamento científico".
Um incidente é particularmente esclarecedor na resolução do
problema: a esterilidade do milho. Seu assistente de pesquisa encontrava
27
plantas que eram apenas 25 a 30 por cento estéreis enquanto ela encontrava
50 por cento de esterilidade no milho. Isso se comprovou depois quando ele
arquitetou o seu raciocínio passo a passo originando daí a diferença dos 30 por
cento.
Esse fato ilustra bem dois aspectos da inteligência lógico-matemática.
Primeiramente, no indivíduo talentoso, o processo de resolução do problema
geralmente é surpreendentemente rápido. O cientista lida com várias hipóteses
que avaliadas serão aceitas ou rejeitadas. O fato registra também a natureza
não verbal da inteligência. A solução de um problema pode ser encontrada
antes de ser articulada. Isso acontece com ganhadores de Prêmio Nobel ou
então com quem possui a inteligência lógico-matemática.
Esta inteligência é apoiada por critérios empíricos. Certas áreas do
cérebro são mais importantes do que outras no cálculo matemático.
Inteligência lingüística
Exemplo: Com dez anos de idade T.S. Eliot criou uma revista chamada
Fireside, da qual era o único colaborador. Num período de três dias, durante as
férias de inverno, ele criou oito edições completas. Cada uma incluía poemas,
histórias de aventuras, uma coluna de fofocas e humor.
A inteligência lingüística foi comprovada nos testes empíricos. Uma
área específica do cérebro, chamada "Centro de Broca", é responsável pela
produção de sentenças gramaticais. Uma pessoa com dano nesta área pode
compreender palavras e frases muito bem, mas tem dificuldade em juntar
palavras em algo além das frases mais simples. Ao mesmo tempo, outros
processos de pensamento podem estar completamente inalterados.
O dom da linguagem é universal e o seu desenvolvimento nas crianças
é surpreendentemente constante em todas as culturas. Mesmo nas populações
surdas, em que a linguagem manual de sinais não é ensinada, as crianças
inventam sua própria linguagem manual.
28
Inteligência espacial
Exemplo: A navegação nas Ilhas Caroline, nos mares do Sul, é realizada sem
instrumentos. O navegador imagina uma ilha de referência, quando passa
embaixo de uma determinada estrela, e a partir disso ele computa o número
total de segmentos, a proporção de viagem que ainda resta, e quaisquer
correções no curso que sejam necessárias. Ele não vê as ilhas enquanto
navega, em vez disso, ele mapeia sua localização em sua "imagem" mental da
jornada.
Para se resolver problemas espaciais é necessário na navegação e no
uso do sistema notacional de mapas. Outra forma de uso dessa inteligência é
quando visualizamos um objeto de um ângulo diferente; o jogo de xadrez. As
artes visuais também utilizam esta inteligência no uso do espaço.
O hemisfério direito é comprovadamente o local mais crucial do
processamento espacial. Um dano nas regiões posteriores direitas provoca
prejuízo na capacidade de encontrar o próprio caminho em torno de um lugar,
de reconhecer rostos ou cenas, ou de observar detalhes pequenos.
As populações cegas ilustram a distinção entre a inteligência espacial e a
percepção visual. A pessoa cega pode recorrer ao método indireto para
reconhecer formas, passando a mão no objeto que traduzirá na duração do
movimento, que por sua vez é traduzida no formato do objeto. Para o cego, o
sistema perceptivo da modalidade tátil equivale à modalidade visual na pessoa
que enxerga.
Existem poucas crianças-prodígio entre os artistas visuais, porém há
sábios idiotas. Nádia (Selfe, 1977) é autista e no entanto desenhava com
impressionante destreza representacional e exatidão.
Inteligência interpessoal
Exemplo: Com pouco treinamento em educação especial e quase cega, Anne
Sullivan iniciou a tarefa de instruir uma criança cega e surda de sete anos.
Helen Keller apresentou um sinal de compreensão da linguagem e a partir
daquele momento ela progrediu com incrível rapidez. A chave para o milagre
da linguagem foi o entendimento de Anne Sullivan da pessoa Helen Keller.
29
A inteligência interpessoal está baseada na capacidade nuclear de
perceber distinções entre os outros; em especial, contrastes em seus estados
de ânimo, temperamentos, motivações e intenções. Em formas mais
avançadas, esta inteligência permite que um adulto experiente perceba as
intenções e desejos de outras pessoas, mesmo que elas os escondam. O
exemplo citado sugere que esta inteligência não depende da linguagem.
Os indícios na pesquisa do cérebro sugerem que os lobos frontais
desempenham um papel importante no conhecimento interpessoal. Um dano
nessa área pode provocar profundas mudanças de personalidade, ao mesmo
tempo que não altera outras formas de resolução de problemas.
A evidência biológica da inteligência interpessoal inclui dois fatores,
geralmente citados como exclusivos dos seres humanos. Um dos fatores é a
prolongada infância dos primatas, incluindo o estreito apego à mãe. Quando a
mãe se afasta, o desenvolvimento interpessoal fica prejudicado.
O segundo fator é a relativa importância da interação social para os
seres humanos. As habilidades tais como caçar, perseguir e matar, nas
sociedades pré-históricas exigia a participação e cooperação de grande
número de pessoas. A necessidade de coesão, liderança, organização e
solidariedade no grupo decorre naturalmente disso.
Inteligência intrapessoal
Exemplo: Woolf num ensaio intitulado A Sketch of the Cast, discute o algodão
da existência. Ela compara o "algodão" com três lembranças específicas de
sua infância: uma briga com seu irmão, ver uma determinada flor num jardim e
ficar sabendo do suicídio de um antigo visitante. Para a autora, todas as
experiências trouxeram para ela um aprendizado, fossem eles causadores de
um estado de choque ou não. Sendo choques, ela procura uma explicação e
atrás de cada um é uma revelação de algum tipo, é o sinal de alguma coisa
real por trás das aparências e daí elas se tornam reais.
O conhecimento dos aspectos internos de uma pessoa: o acesso ao
sentimento da própria vida, a gama das próprias emoções, a capacidade de
30
discriminar essas emoções e eventualmente rotulá-las e utilizá-las como uma
maneira de entender e orientar o próprio comportamento.
A pessoa com boa inteligência intrapessoal possui um modelo viável e
efetivo de si mesmo. Uma vez que esta inteligência é a mais privada, ela
requer a evidência a partir da linguagem, da música, ou de alguma outra forma
mais expressiva de inteligência para que o observador a perceba funcionando.
Os lobos frontais desempenham um papel central na mudança de
personalidade. Um dano na área inferior dos lobos frontais provavelmente
produzirá irritabilidade ou euforia, ao passo que um dano nas regiões mais
altas provavelmente produzirá indiferenças, desatenção, lentidão e apatia – um
tipo de personalidade depressiva. Nesses indivíduos "lobos-frontais", as outras
funções cognitivas geralmente continuam preservadas. O autista apresenta
essa inteligência prejudicada.
A inteligência intrapessoal é aprovada nos testes de uma inteligência e
apresenta uma forma de resolver problemas significativos para o indivíduo e
para a espécie. Ela nos permite compreender a nós mesmos e trabalhar
conosco.
Para falar e entender a Teoria das Inteligências Múltiplas não pode-se
esquecer que cada ato cognitivo envolve um agente que executa uma ação ou
uma série de ações em alguma tarefa ou domínio.A perspectiva biopsicológica
examina o agente e suas capacidades, inclinações, valores e objetivos.
A inteligência é um potencial biopsicológico. O fato de um indivíduo ser
ou não considerado inteligente e em que aspectos, é um produto em primeiro
lugar de sua herança genética e de suas propriedades psicológicas, variando
de seus poderes cognitivos às suas disposições de personalidade.
A Teoria das Inteligências Múltiplas conduz a uma reflexão
de educação centrada no indivíduo baseada numa perspectiva de
habilidades múltiplas levando a analisar e questionar a unicidade da
habilidade, a existência e implicações educacionais da Teoria das
Inteligências Múltiplas. Essa se baseia no pressuposto de que o
31
indivíduo possua múltiplas capacidades e habilidades e que através
delas seja possível encontrar caminhos alternativos capazes de atender
as dificuldades de aprendizagem dos educandos, procurando desenvolver
neles áreas de menor força intelectual, vislumbrando uma aprendizagem
integral, eficaz e significativa.
Uma aprendizagem significativa se dá através do entendimento.
Acontece quando um indivíduo é capaz de aplicar conhecimentos, conceitos ou
habilidades adquiridos em algum tipo de ambiente educacional em um novo
exemplo ou situação em que este conhecimento é de fato relevante, isto é,
quando é capaz de mobilizar os conceitos apropriados que aprende em algum
ambiente educacional.
O entendimento pode ser obtido de várias formas: através de conceitos,
informações, observações e brincadeiras, mas só pode ser aprendido e
apreciado se for desempenhado por um aluno que os aplica em situações
diversas.
2.4. Teoria das habilidades múltiplas e a educação
As implicações da teoria de Gardner para a educação são claras
quando se analisa a importância dada às diversas formas de pensamento, aos
estágios de desenvolvimento das várias habilidades e à relação existente
entre estes estágios, a aquisição de conhecimento e a cultura.
A teoria de Gardner apresenta alternativas para algumas práticas
educacionais atuais, oferecendo uma base para:
( a) o desenvolvimento de avaliações que sejam adequadas às
diversas habilidades humanas (Gardner & Hatch, 1989; Blythe Gardner, 1 990)
(b) uma educação centrada na criança com currículos específicos para cada
área do saber (Konhaber & Gardner, 1989); Blythe & Gardner, 1390) (c) um
ambiente educacional mais amplo e variado, e que dependa menos do
desenvolvimento exclusivo da linguagem e da lógica (Walters & Gardner, 1985;
Blythe & Gardner, 1990)
32
Quanto à avaliação, Gardner faz uma distinção entre avaliação e
testagem. A avaliação, segundo ele, favorece métodos de levantamento de
informações durante atividades do dia-a-dia, enquanto que testagens
geralmente acontecem fora do ambiente conhecido do indivíduo sendo testado.
Segundo Gardner, é importante que se tire o maior proveito das habilidades
individuais, auxiliando os estudantes a desenvolver suas capacidades
intelectuais, e, para tanto, ao invés de usar a avaliação apenas como uma
maneira de classificar, aprovar ou reprovar os alunos, esta deve ser usada para
informar o aluno sobre a sua capacidade e informar o professor sobre o quanto
está sendo aprendido.
No que se refere à educação centrada na criança, Gardner levanta dois
pontos importantes que sugerem a necessidade da individualização. O primeiro
diz respeito ao fato de que, se os indivíduos têm perfis cognitivos tão diferentes
uns dos outros, as escolas deveriam, ao invés de oferecer uma educação
padronizada, tentar garantir que cada um recebesse a educação que
favorecesse o seu potencial individual. O segundo ponto levantado por Gardner
é igualmente importante: enquanto na Idade Média um indivíduo podia
pretender tomar posse de todo o saber universal, hoje em dia essa tarefa é
totalmente impossível, sendo mesmo bastante difícil o domínio de um só
campo do saber.
Assim, se há a necessidade de se limitar a ênfase e a variedade de
conteúdos, que essa limitação seja da escolha de cada um, favorecendo o
perfil intelectual individual.
33
Capítulo III
HABILIDADES, ESCOLA E ESTRATÉGIAS DE ENSINO.
De acordo com a s idéias defendidas por Gardner (1995), o propósito
da escola deveria ser o de desenvolver as habilidades e ajudar os indivíduos a
atingirem objetivos de ocupação e passa tempo adequado ao seu espectro de
inteligência. As pessoas que são ajudadas, se sentem mais engajadas e
competentes, conseguindo servir à sociedade de uma maneira construtiva.
Para que isso ocorra é necessário uma educação centrada no indivíduo
que maximize o seu potencial intelectual, visto que as pessoas possuem
mentes muito diferentes umas das outras, devendo a educação ser modelada
de forma a responder a essas diferenças que oscilam por razões genéticas e
ambientais.
Critica a visão universalista da mente, bem como a prática da escola
uniforme, pois está baseada numa óptica fundamentalmente falha da cognição
humana, que Gardner chama de “pensamento estilo QI”.
Segundo Relvas (2009), para ser compreender o caminho percorrido
das informações pelos estímulos sensoriais até chegarem ao cérebro, há de se
ter a necessidade de uma abordagem anatômica e fisiológica (forma e função).
Para isso, faz-se entender que existem movimentos de conexões nervosas que
são dinâmicas e velozes, em razão da integração entre três sistemas
fundamentais para a construção de saberes do sujeito que aprende. O primeiro
aspecto é o sistema de informação, o segundo é a compreensão dos sistemas
biológicos e o terceiro que adentra em nosso cotidiano é a cibernética,
formando, assim uma teia de conectividade.
34
Diante disso, é fato que diversas dificuldades de aprendizagem
poderão ser resolvidas ou amenizadas quando os educadores tiverem seus
olhares focalizados na promoção do desenvolvimento dos diversos estímulos
neurais que se expõem de forma que se compreendam os processos e
os princípios das estruturas do cérebro, conhecendo e identificando cada
área funcional, visando estabelecer rotas alternativas para aquisição
da aprendizagem , utilizando-se de recursos sensoriais como instrumento
do pensar e do fazer.
É fundamental que educadores conheçam as estruturas cerebrais
como interfaces da aprendizagem e que sejam sempre um campo a ser
explorado. Para isso, os estudos da biologia cerebral vêm contribuindo para a
práxis em sala de aula, na compreensão das dimensões cognitivas, motoras,
afetivas e sociais no redimensionamento do sujeito aprendente e suas formas
de interferir nos ambientes pelos quais perpassam.
3.1. Estímulos e Aprendizagem.
Segundo Relvas (2009), a aprendizagem é um fenômeno
extremamente complexo, envolvendo aspectos cognitivos, emocionais,
orgânicos, psicológicos, sociais e culturais. A Aprendizagem é resultado do
desenvolvimento de aptidões e de conhecimentos, bem como da transferência
destes para novas situações.
A aprendizagem é um processo integrado que provoca uma
transformação qualitativa na estrutura mental daquele que aprende. Essa
transformação se dá por meio da alteração de conduta de um indivíduo, seja
por condicionamento operante, experiência ou ambos, de uma forma
razoavelmente permanente. As informações podem ser absorvidas por meio de
técnicas de ensino ou até pela simples aquisição de hábitos. O ato ou vontade
de aprender é uma característica essencial do psiquismo humano, pois
somente este possui o caráter intencional, ou a intenção de aprender,
dinâmico, por estar sempre em mutação e procurar informações para a
35
aprendizagem; autopoiético, por buscar novos métodos, visando à melhoria da
própria aprendizagem, por exemplo, pela tentativa do erro.
Outro conceito de aprendizagem é uma mudança relativamente durável
do comportamento, de uma forma mais ou menos sistemática, ou não,
adquirida pela experiência, pela observação e pela prática motivada.
O humano nasce potencialmente inclinado a aprender, necessitando
de estímulos externos e internos (motivação, necessidade) para o aprendizado.
Há aprendizados que podem ser considerados natos, como o ato de aprender
a falar, a andar, necessitando que ele passe pelo processo de maturação
física, psicológica e social. Na maioria dos casos, a aprendizagem se dá por
meio social e temporal em que o individuo convive; sua conduta muda,
normalmente, por esses fatores e por predisposições genéticas.
O processo de aprendizagem é desencadeado a partir da motivação.
Esse processo se dá no interior do sujeito, estando, entretanto, intimamente
ligado às relações de troca que o mesmo estabelece com o meio,
principalmente, seus professores e colegas. Nas situações escolares, o
interesse é indispensável para que o estudante tenha motivos de ação para
apropriar-se do conhecimento.
É importante ressaltar a atividade cerebral no processo de
aprendizagem a fim de compreender melhor as frases desse processo.
Relvas (2007) descreve o caminho percorrido pelos estímulos (Sistema
Nervoso Central) no processo de aprendizagem da seguinte maneira:
- O córtex cerebral, nas áreas lobo temporal, recebe, integra e organiza
as percepções auditivas.
- Nas áreas do lobo occipital, o córtex recebe, integra e organiza as
percepções visuais.
- As áreas temporais e occipital se ligam às áreas do lobo frontal,
situadas na terceira circunvolução frontal, responsável pela articulação das
palavras. A articulação frontal ascendente é responsável pela expressão da
escrita (grafia).
36
- A área parietotemporoccipital é responsável pela integração gnósica,
e as áreas pré-frontais, pela integração práxica, desde que essas funções
sejam moduladas pelo afeto e pelas condições cognitivas de cada um.
Nesse processo, são ativadas as funções perceptivas e motoras, além
das funções cognitivas do ato de aprender, produzindo modificações no
Sistema Nervoso Central. Relvas (2007) define o ato de aprender como um
“ato de plasticidade cerebral”, modulado por fatores intrínsecos (genéticos) e
extrínsecos (experiências).
3.2. A criança e as altas habilidades.
Segundo Relvas (2009), revela-se por um conjunto de traços e
características, e não apenas pela velocidade do desenvolvimento ou por
demonstração de inteligência.
São geralmente independentes, confiantes de idéias claras, atitudes
pertinentes. São capazes de formular conceitos críticos e pensar de modo
organizado. Só pode ser definida se a criança possui altas habilidades, depois
de cinco anos, caso a criança permaneça apresentando “fôlego intelectual”.
A inteligência superior faz parte de um conjunto, sendo usada de
maneira criativa, apresentando outras características, tais como:
- perseverança diante de uma tarefa;
- procura explicações mais profundas do que as aceitas por outras
crianças;
- tem alto nível crítico, exigindo muito das respostas, e comportamento
do adulto;
- prefere o pensamento abstrato ao pensamento crítico;
- a percepção do mundo que a rodeia é mais abrangente, mais
sensível e intuitiva do que se espera para sua faixa etária;
- é capaz de ter muitas idéias a respeito de qualquer situação-
problema;
- costuma ser independente, autossuficiente estável no aspecto
emocional.
37
Na educação, essa criança merece atenção especial pelo menos para
ter oportunidades correspondentes à sua idade mental e a outras aptidões e
para desenvolver plenamente suas potencialidades sociais, estéticas e
intelectuais. Aulas que não ofereçam desafios irão aborrecê-la, e seu interesse
diminuirá.
Existem casos de crianças com Altas Habilidades que não são bem
compreendidas, não são aceitas pelo grupo e, por isso, podem apresentar
desajustes no comportamento ou nos problemas psicológicos.
Os pais não devem tratá-los como adultos, pois necessitam de carinho
e afeto infantil. No ambiente escolar, é importante incentivar o convívio com
outras crianças, entre as quais encontrem estímulos para jogar e realizar
brincadeiras normais de sua idade.
Concluindo, o ideal é que a criança com Alta Habilidade consiga uma
relação satisfatória com as outras crianças, comportando-se de acordo com
sua idade e, ao mesmo tempo, mantendo-se em seus interesses especiais.
3.3. Habilidades e Estímulos.
Segundo Relvas (2009), as pesquisas mais recentes em
desenvolvimento cognitivo e neuropsicológico sugerem que as habilidades
cognitivas são bem mais diferenciadas e mais específicas do que se
acreditava. Neurologistas tem documentado que o sistema nervoso humano
não é um órgão com o propósito único nem tampouco é infinitamente plástico.
Acredita-se hoje, que o sistema nervoso seja altamente diferenciado e que
diferentes centros neurais processem diferentes tipos de informações.
A ciência acreditava que, uma vez completado seu desenvolvimento, o
cérebro era capaz de mudar, particularmente em relação às células nervosas,
ou neurônios. Pensava-se que os neurônios não podiam se reconstruir ou
alterar-se em mudanças significativas quanto às suas estruturas de conexão
com outros neurônios. As conseqüências práticas dessas crenças implicavam
que as partes comprometidas do cérebro, tais como aquelas apresentadas por
vítimas de tumores ou derrames, eram incapazes de crescer novamente e
38
recuperar, pelo menos parcialmente, suas funções. Fato esse de grande
relevância, porém, atualmente, sabe-se que a experiência e o aprendizado
podem alterar a funcionabilidade do cérebro, porém não sua anatomia
macroscópica, e sim microscópica.
Nos últimos 10 anos, pesquisas tem revelado um quadro inteiramente
interessante em resposta aos jogos, às estimulações e às experiências. O
cérebro exibe o crescimento de conexões neurais e, segundo a pesquisa em
comportamento biológico, acredita-se que a memória implica mudanças
estruturais nos circuitos neurais, mesmo que ainda não se dispõe de
evidências experimentais que comprovem essa noção teórica.
Em experiências realizadas com ratos, demonstram que os animais
que foram criados em ambiente enriquecedor, com uma gaiola cheia de
brinquedos e dispositivos, como bolas, rodas, escadas, rampas etc.,
desenvolviam um córtex cerebral significativamente mais espesso do que
aqueles criados em um ambiente mais limitado, sem os brinquedos ou vivendo
isolados. O aumento da espessura do córtex não era em razão apenas de um
maior número de células nervosas, mas havia também um aumento expressivo
de ramificações de seus dentritos e das interconexões com outras células.
Acompanhando o experimento, observa-se um desenvolvimento maior de
células neurônios em ambientes com estímulos externos.
3.3.1. Estratégias de ensino.
Ainda, segundo Relvas (2009), a conseqüência prática do
conhecimento de que as células nervosas crescem e se modificam em
respostas às experiências é uma extraordinária aprendizagem enriquecedora.
Considerando a escola como um ambiente de aprendizagem, é
importante destacar: “Quando a criança está em um ambiente sensorialmente
estimulador, desde a mais nova idade, pode ter um impacto sobre suas
capacidades cognitivas e de memória futuras”. A presença de estímulos, como
39
cores, músicas, sensações cinestésicas, variedade de interação com colegas e
parentes das mais variadas idades, exercício corporais e mentais, pode ser
benéfica (desde que os estímulos não sejam excessivos). Na verdade, existem
muitos estudos mostrando que essa “estimulação precoce” é verdadeira.
Atividades multidisciplinares podem recuperar parcialmente as funções
perdidas, submetendo à estimulação mental intensa e diversificada.
3.4. A educação das habilidades.
Segundo Antunes (2008), ao mostrar que a inteligência é estimulável,
desde que se usem esquemas de aprendizagem eficientes e que limitações
genéticas possam ser superadas por formas diversificadas de educação e,
sobretudo, ao destacar que os meios para essa estimulação não dependem de
drogas específicas e, menos ainda, de sistemas escolares privilegiando, essa
identificação pode fazer de qualquer criança uma pessoa integral e de qualquer
escola um centro múltiplas estimulações. Essa criança, sobretudo a
proveniente de meios pouco favorecidos, entra na escola com acentuada
habilidade espacial, imensa abertura verbal, curiosa percepção lógico-
matemática, aguda vivência naturalista e curiosidade pictórica infinita.
Ainda, segundo Antunes (2008), o papel do professor é o de usar a
perspectiva de como se dá a aprendizagem, para que, usando a ferramenta
dos conteúdos postos pelo ambiente e pelo meio social, estimule as diferentes
habilidades de seus alunos e os leve a se tornarem aptos a resolver problemas
ou, quem sabe, criar “produtos” válidos para seu tempo e sua cultura.
Essa redefinição do papel do educador traduz uma certeza e desperta
uma angústia. A certeza é de que sua função social, muito mais do que antes,
é primordial para humanidade e que sua missão se identifica com a garantia da
construção de um homem melhor e, portanto, de um mundo mais digno. A
angústia é indagar se, não tendo todas as habilidades devidamente
estimuladas, ele será capaz de se transformar em um estimulador de múltiplas
habilidades. Essa angústia parece não ser estruturalmente diferente da vivida
por Sócrates há 24 séculos, quando lembrava que a “pedra de afiar não
40
cortava”, talvez sugerindo que a limitação do exercício de determinadas
habilidades não impede que o professor possa transformar em um estimulador
dessas mesmas habilidades.
41
CONCLUSÃO
A aprendizagem é uma operação neural. Através da aprendizagem, o
indivíduo constrói e desenvolve os comportamentos que são necessários para
sua sobrevivência, pois não há realizações ou práticas humanas que não
resultem do aprendizado.
A Teoria das Habilidades Múltiplas faz uma consideração séria da
ampla variedade de habilidades humanas, conduzindo a uma nova visão de
educação: Educação centrada no individuo. Apresenta um sistema educacional
fundamentado e apoiado numa perspectiva de habilidades múltiplas, que
explora tanto o aprendizado tradicional e o museu contemporâneo para
crianças quanto a instrução vigente no século XXI. Esclarece o fato de que os
seres humanos existem em múltiplos contextos e que esses contextos
requerem e estimulam diferentes arranjos e grupos de inteligência em
diferentes níveis.
As pessoas aprendem aplicando estratégias para processar nova
informação, organizam-a com informação já existente em sua memória de
forma adequada no cérebro. As boas estratégias utilizadas em um ambiente
rico em materiais facilitam a aprendizagem, a estruturação e a organização do
que foi aprendido, aumentando a possibilidade de recuperação posterior, bem
como a capacidade de generalização e utilização do que foi o aprendizado.
Devido a inúmeras pesquisas desenvolvidas sobre o cérebro no
processo de aprendizagem, se verifica que cada indivíduo possui diferentes
potenciais de inteligência, que ela não é fixa, já que todo ser humano possui
habilidade para expandir e aumentar sua própria aprendizagem. O aluno deve
ser encorajado a aprender e o professor como o facilitador do aprendente,
deverá ser o motivador da aprendizagem, oportunizando à criança situações
favoráveis à aquisição do conhecimento, estabelecendo e criando vínculos de
forma positiva e confiando na capacidade de crescimento do aluno.
A escola tem um desafio importante, que é o de aproveitar o potencial
de inteligência de seus alunos para a conquista do sucesso no processo de
aprendizagem. Os professores juntamente com a equipe de apoio,
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devidamente capacitados, são os principais agentes desse processo,
desenvolvendo os trabalhos por meio de projetos de interesse do aluno,
compatível com suas vivências e realidade; estimulando de maneira positiva as
relações sociais.
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Uma educação que visa desenvolver as múltiplas habilidades,
configurando uma educação para o entendimento, deve ter um ambiente
atraente, descontraído e rico em materiais físicos e humanos, unido à estrutura
de rigor e disciplina que um aprendizado requer. Visto que nem todas as
pessoas aprendem da mesma forma, a teoria das Habilidades Múltiplas é
instrumento que possibilita tratar as diferenças. Na tentativa de se desenvolver
diferentes estilos de ensino e aprendizagem, surge a necessidade de se criar
ambientes educacionais sensíveis a estas diferenças.
Uma perspectiva de habilidades múltiplas, baseada no indivíduo, pode
tornar possível a tarefa de educar para o entendimento, uma vez que quase
todos os conceitos que valem a pena ser entendidos podem ser
conceitualizados de várias maneiras e representados e ensinados de várias
maneiras. Os conceitos importantes de cada disciplina podem ter vários
“pontos de entrada”, variando do estético e do narrativo num dos extremos ao
lógico, filosófico e experiencial no outro extremo. Dada uma variedade de
pontos de entrada pode ser possível encontrar pelo menos um que seja
adequado a cada aluno. Uma vez que o entendimento envolve a capacidade de
abordar um conceito ou habilidade de vários ângulos diferentes, oportunizar
vários pontos de introdução e diversificar as rotas para o conhecimento
aumentará a probabilidade de cada pessoa obter pelo menos algum
entendimento através de uma variedade de domínios humanos. Portanto,
necessita-se da busca de vários caminhos educacionais para se alcançar a
efetivação do conhecimento.
Neste contexto, o desafio é criar ambientes que proporcione meios
alternativos de avaliação, em que as habilidades possam ser desenvolvidas e
avaliadas de uma maneira tão naturalista e justa para com a inteligência quanto
possível. À medida em que se conseguir obter informações sólidas nesses
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ambientes realistas, menor será a necessidade de se utilizar instrumentos
padronizados e descontextualizados que avaliam apenas pequena porção dos
talentos humanos.
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REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS:
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edição. São Paulo: Papirus ed.
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Adriana Veríssimo Veronese. Porto Alegre: Artes Médicas, 1995.
LENT, Roberto. Cem Bilhões de Neurônios:Conceito Fundamental da
Neurociência. Rio de Janeiro: Vieira & Lent Casa Editorial, 2002.
RAMOS, Cosete (2002). O Despertar do gênio: aprendendo com o cérebro
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RELVAS, Marta Pires (2009). Neurociência e Educação – Potencialidade dos
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RELVAS, Marta Pires (2009). Neurociência e Transtornos de Aprendizagem. 3ª
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www.eduep.uepb.edu.br/rbct/sumarios/pdf/inteligencias_multiplas.pdf - Rio de
Janeiro, 19/11/2007 – 11.28 h.