UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES PÓS-GRADUAÇÃO … · 5 RESUMO Esta monografia tem por objetivo...

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UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES PÓS-GRADUAÇÃO “LATO SENSU” PROJETO A VEZ DO MESTRE MELHORIA DA QUALIDADE DE VIDA ATRAVÉS DO CANTO CORAL Por: Shirley de Oliveira Magnoni Ataíde Orientador Profª. Fabiane Muniz da Silva Rio de Janeiro 2010

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UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES

PÓS-GRADUAÇÃO “LATO SENSU”

PROJETO A VEZ DO MESTRE

MELHORIA DA QUALIDADE DE VIDA

ATRAVÉS DO CANTO CORAL

Por: Shirley de Oliveira Magnoni Ataíde

Orientador

Profª. Fabiane Muniz da Silva

Rio de Janeiro

2010

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UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES

PÓS-GRADUAÇÃO “LATO SENSU”

PROJETO A VEZ DO MESTRE

MELHORIA DA QUALIDADE DE VIDA

ATRAVÉS DO CANTO CORAL

Apresentação de monografia à Universidade

Candido Mendes como requisito parcial para

obtenção do grau de especialista em Arteterapia em

Educação e Saúde

Por: . Shirley de Oliveira Magnoni Ataíde

3

AGRADECIMENTOS

...ao Supremo Deus e às pessoas

especiais com quem me relacionei ao

longo desses anos e que propiciaram a

execução deste trabalho...

4

DEDICATÓRIA

... dedico esse trabalho aos meus pais e

ao meu marido que sempre me

apoiaram...

5

RESUMO

Esta monografia tem por objetivo mostrar como uma atividade artística

ligada à música, como o canto coral, pode influir na qualidade de vida das

pessoas que a praticam. Um breve panorama das histórias individuais dos

participantes do Coral Mokiti Okada do Rio de Janeiro, núcleo Vila da Penha,

revelou: mudanças de comportamento, tanto sociais como pessoais, e o auxílio

no tratamento de alguns distúrbios, evidenciando a importância dessa prática

para o bem-estar de seus praticantes.

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METODOLOGIA

Para confirmar ou infirmar a hipótese de que o canto coral interfere de

modo significativo na qualidade de vida das pessoas, foram feitas observações

in loco e ouvidos alguns depoimentos dos coralistas do Coral da Fundação

Mokiti Okada do Rio de Janeiro (CMORJ), núcleo Vila da Penha, no período de

1999 a 2009.

A coleta dos dados foi sendo feita ao longo dos anos. Através das várias

histórias e depoimentos das pessoas envolvidas nessa prática, surgiu o

questionamento se o canto coral melhora a qualidade de vida de seus

integrantes. Mas, apenas essas histórias sem um embasamento teórico ou um

novo olhar sobre a questão não poderiam responder essa pergunta.

Sendo assim, com base no conteúdo das diversas disciplinas ao longo

do curso de Arteterapia em Educação e Saúde, levantou-se uma bibliografia

que possibilitou um caminho para algumas respostas e que gerou alguns

capítulos desse trabalho monográfico, colocando as informações colhidas à luz

de uma nova perspectiva.

Enfim, há que discorrer sobre o assunto para não sermos privados de

um maior conhecimento sobre o porquê das mudanças comportamentais, tanto

pessoais quanto sociais, bem como da melhora significativa de alguns

distúrbios físicos, servindo como auxiliar no tratamento dos mesmos.

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SUMÁRIO

INTRODUÇÃO 8

CAPÍTULO I A Cultura Musical 11

1.1 – A Música no Mundo 12 1.2 - Breve Histórico Sobre O Canto Coral 22

CAPÍTULO II - Entendendo a Música 26

2.1 – Os Mitos e Lendas da Música 27 2.2 – A Atuação da Música na Psique 30 2.3 – Como a Música Se Processa no Cérebro 34 CAPÍTULO III – O Canto Coral na Vida de Seus Praticantes 38

CONCLUSÃO 47

BIBLIOGRAFIA CONSULTADA 48

ÍNDICE 53

FOLHA DE AVALIAÇÃO 54

8

INTRODUÇÃO

Há vários estudos sobre o canto coral, mas a maioria diz respeito à

técnica, sejam elas: de regência, de técnicas de ensaio, repertório, etc. Alguns

até abordam a questão da sociabilidade, da aprendizagem de princípios

morais, da história do canto coral e vários outros temas.

Neste trabalho de monografia a prioridade será enfocar a

expressividade individual e coletiva, as emoções e os sentimentos que surgem

no momento do fazer musical através do canto, bem como aqueles que se

eternizam numa sensação de bem-estar.

Observando um coral por dez anos consecutivos, notam-se mudanças

de comportamento e situações vividas por seus integrantes que nos levam a

questionar sobre a importância do Canto Coral em suas vidas. Vários

problemas, como: baixa estima, depressão, etc., foram observados ao longo

desses anos e o canto coral teve atuação preponderante para superar os

efeitos desses problemas ou simplesmente elevar os ânimos de seus

praticantes. Tal observação leva-nos a buscar novos conhecimentos entre a

arte e seu papel terapêutico, principalmente do ponto de vista psicológico.

Será que: o Canto Coral melhora a qualidade de vida de seus

integrantes? Provavelmente, assim como outras expressões artísticas, ele

interfere de modo significativo na qualidade de vida das pessoas. Mas, para

responder essa pergunta é preciso que tenhamos uma visão crítica e analítica

se e como, através do canto coral, foram superados ou minimizados os

problemas mencionados acima nos participantes de tal prática. Para isso, além

das observações in loco, foram ouvidos alguns depoimentos dos coralistas do

Coral da Fundação Mokiti Okada do Rio de Janeiro (CMORJ), núcleo Vila da

Penha, de 1999 a 2009, tendo em alguns períodos da amostragem até 25

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componentes. Não se levou em conta a faixa etária do grupo estudado,

embora estejam na faixa dos 20 aos 80 anos de idade.

Numa classificação geral os corais podem ser: profissionais, mantidos

por instituições públicas, governos e grandes teatros, onde todos os

participantes, do regente aos cantores, são remunerados, ou; amadores,

mantidos por universidades, escolas, fundações, empresas, etc. Estes últimos

são a maioria em todo mundo, muito embora não sejam sinônimos de

inferioridade técnica. Talvez, com o estudo desses grupos de coralistas

poderemos saber quanto o canto coral contribui como agente transformador na

vida de seus praticantes, para uma melhor qualidade de vida. O CMORJ faz

parte dessa classificação de amador sem fins terapêuticos ou sociais e é

aberto a todo tipo de público. Ou seja, ele é um coral misto, com vozes

masculinas e femininas, bem diversificado.

Muitos acreditam que para participar de um coral, basta cantar, mas

um coral é muito mais que um simples canto coletivo interpretando uma peça

musical. Não foram poucas as pessoas que chegaram ao CMORJ na ilusão de

que apenas iriam se divertir ou virar cantores solistas. Ao perceberem que

havia certa disciplina, técnica, esforço e principalmente o espírito de

colaboração entre os integrantes, muitos deram as costas e nem

experimentaram o sabor de novas descobertas. Sim, porque independente de

ser ou não um agente transformador na vida das pessoas, como foi citado

acima, o canto coral envolve muito mais que música, mas também: psicologia,

sociologia, antropologia, fonoaudiologia e outras ciências de igual monta. Isto

porque, a interpretação musical de cada coralista deve fundir-se com o todo.

Seu envolvimento requer controle muscular e psicológico num gesto corporal

completo e coletivo.

É conhecido o quanto a música faz bem ao ser humano. Porém, é

importante verificarmos o quanto isso é verdadeiro. Espera-se que esse

trabalho possa contribuir para um novo olhar sobre o Canto Coral, que não

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seja simplesmente técnica musical e deleite para os ouvidos, mas uma grande

ferramenta para o bem estar dos indivíduos.

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CAPÍTULO I

A CULTURA MUSICAL

“A música expressa o que não pode

ser dito em palavras e não pode ficar

em silêncio.” Victor Hugo

Quando falamos de canto coral estamos nos referindo a uma forma de

expressão do homem através da arte da música. Este capítulo destina-se a

fazer uma viagem sobre a origem da mesma, para conhecermos um pouco

dessa arte do ponto de vista histórico e social. Só assim poderemos ter alguma

noção de sua importância no mundo e conhecermos sua evolução dentro da

sociedade humana.

O referencial bibliográfico deste capítulo pertence a vários autores que

disponibilizaram seus conhecimentos na internet, principalmente os textos

referentes: à História da Música, seus períodos e etnias, e ao Canto Coral,

facilmente identificados no final desta monografia. Essas informações foram

analisadas e compiladas gerando o texto a seguir.

Até poucas décadas atrás, a história da música relatava apenas a

origem e evolução da música ocidental. Somente com a etnomusicologia, que

faz parte da área da etnologia, é que começou o estudo e a documentação

histórica dos demais tipos de música conhecidos pelo mundo.

Existem duas vertentes para o estudo que tenta relacionar a música

com a cultura na qual está inserida: uma é alemã, mais precisamente da

“Escola de Berlim” chamada de Kulturkreis, cuja teoria indica que as diferenças

culturais são causadas pelo nível que cada cultura se encontra; a outra é

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americana da área cultural, que correlaciona a música de uma determinada

localidade com a cultura daquela região.

Independentemente de teorias, basta uma simples observação para

percebermos a influência sociocultural exercida sobre a música de um

determinado local. Há diferenças que, dependendo da região, são tão

acentuadas, que podemos identificar sua origem pelo simples fato de ouvi-la.

Segundo Araújo:

“/.../ A música, ao ser produzida e/ou reproduzida, é influenciada diretamente pela organização sociocultural e econômica local, contando ainda com as características climáticas e o acesso tecnológico que envolvem toda a relação com a linguagem musical. A música possui a capacidade estética de traduzir os sentimentos, atitudes e valores culturais de um povo ou nação. A música é uma linguagem local e global.” (ARAÚJO, 2008)

Sendo assim, falar da música é contar um pouco de sua história, da

evolução cultural do povo em que ela está inserida, da técnica e estética de

uma época ou lugar, enfim, é nos posicionarmos dentro de uma cultura e

conhecermos as diversidades culturais. É reconhecermos a nós mesmos e o

outro como seres inseridos dentro de uma organização sociocultural.

1.1 – A Música no Mundo

Acredita-se que desde os primórdios da humanidade o homem se

expressa musicalmente. Provavelmente, as primeiras manifestações musicais

ocorreram no continente africano. Depois, expandiu-se pelo mundo com o

dispersar da raça humana na Terra. Por isso, começaremos nossa viagem

pela pré-história.

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Em alguns sítios arqueológicos foram encontrados fragmentos do que

poderiam ser instrumentos musicais do período neolítico e algumas artes

ruprestes com figuras que parecem cantar, dançar e tocar alguns instrumentos.

Indícios estes, que nos dão uma idéia sobre o desenvolvimento musical dessa

época, muito embora não se consiga determinar o que aconteceu primeiro: se

o canto ou as percussões corporais ou com bastões. De acordo com alguns

conceitos da sociologia, podemos imaginar como seria a música nesse período

se observarmos algumas sociedades atuais que ainda vivem na pré-história,

com uma agricultura rudimentar e organização social tribal. Essas sociedades

nos fazem perceber que a música na pré-história deve ter tido um caráter

religioso e mágico. Nos seus rituais, fossem eles para agradecer aos deuses

ou pedir sua proteção, batiam-se mãos e pés, num ritmo preciso.

Nas primeiras civilizações musicais, tais como: na Mesopotâmia, no

Egito próximo ao rio Nilo, às margens dos rios da Ásia Central, nas aldeias do

Jordão, no vale do Indo, e na China, a música estava sempre presente nos

atos solenes, principalmente em rituais religiosos, e era intimamente ligada à

magia, à saúde, à metafísica e à política. Além disso, muitos documentos

dessas civilizações registram a existência de instrumentos musicais.

Na bacia da Mesopotâmia, a milhares de anos antes de Cristo, a

música dos sumérios era os hinos e os cantos salmodiados usados na sua

liturgia. Mais tarde, eles viriam a influenciar as culturas que se instalariam

nessa região, como a dos babilônios, caldeus e judeus.

Há cerca de 4.000 anos a.C., a música egípcia era praticada em

coletividade, inclusive pelas mulheres, podendo ser de caráter militar, social e

religioso, mas, sempre com expressões elevadas e serenas. Provavelmente

baseava-se numa escala de sete notas e alguns de seus instrumentos

musicais eram as harpas, as flautas, os trompetes, os tambores e outros

instrumentos de percussão. Nas cerimônias religiosas eram batidos uma

espécie de discos com paus. O canto também se fazia presente e os

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sacerdotes dos templos treinavam os coros para os rituais sagrados. No século

II a.C., Ctesíbio inventou o órgão hidráulico.

Alguns documentos egípcios e mesopotâmicos mostram a fama que a

Palestina e a Síria tinham por causa de seus músicos. A lira de oito cordas era

o instrumento mais popular, mais tarde ela foi levada para o Egito e Grécia. De

2.000 a 500 anos a.C., a Síria experimentou seu melhor período musical. Sua

escala musical era tetracorde, sistema de quatro notas, que mais tarde foi

assimilado pelos gregos e depois pela Igreja Católica, resultando nos Cantos

Gregorianos.

Aproximadamente há 3.000 anos a.C. na Ásia, a civilização chinesa

acreditava que a música tinha um poder mágico, que sua origem vinha da

natureza e que era orientada pelo elemento cósmico. Somente imperadores e

príncipes podiam criar músicas, pois seu objetivo era orientar o povo e

purificar-lhe o pensamento. Seus instrumentos musicais eram a cítara, várias

espécies de flauta e instrumentos de percussão. Cerca de 2.500 a.C., o chinês

Ling-Lun instituiu a escala pentatônica, um sistema formado por cinco sons.

Em 234 anos a.C. outro chinês chamado Lin-Len, ministro do imperador

Haung-Ti, estabeleceu a oitava com doze semitons, aos quais deu o nome de

Liu Yang e Liu Yin, correspondendo aos doze meses do ano. Todo esse

conhecimento passou para a Coréia e de lá para o Japão. Neste último, até

então, a música restringia-se a emitir os sons dos sutras budistas. Com a

introdução da arte chinesa, passaram a imitá-la até que conseguiram criar seu

próprio estilo. Como achavam monótona a voz humana soar simultaneamente

com o instrumento musical, ambos eram utilizados defasados, para evitar a

coincidência de acentos, ou seja, o instrumento precedia a voz. O Japão na

era Meiji (1868-1912) passou a receber grande influência da cultura ocidental,

principalmente dos Estados Unidos e da Europa, incorporando em sua arte, a

cultura que vinha do ocidente.

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Também na Ásia, cerca de 800 anos a.C., a civilização indiana

considerava a música como parte integrante da formação do Universo e dos

sistemas religiosos. No início, sua música era baseada em um modo melódico,

sistematizada em tons e semitons, num sistema chamado “ragas”. Esse

sistema fazia com que o músico ao usar uma nota omitisse outra. Chegaram a

existir duzentos e sessenta e quatro “ragas”. Atribui-se os trinta e seis primeiros

saídos das cinco bocas de Shiva e outros cento e um saídos da boca de sua

esposa Parvati. Somente os gurus e mestres-de-canto podiam ensinar o canto,

acompanhado de sinos e pandeiros. Seus instrumentos musicais eram alguns

instrumentos de corda como a “vina”, que segundo a lenda foi dada pelo Deus

Brama, e alguns instrumentos de percussão como címbalos e tambores. A

invenção da escala musical, utilizada até hoje, é atribuída a Deusa Svaragrama

e as sete notas levam o nome das sete ninfas que acompanham essa deusa.

A música guerreira e religiosa dos hebreus era executada

principalmente em festas e lamentações. Na Bíblia, em Gênesis (capítulo 4,

versículo 21), faz-se menção dos instrumentos musicais como a harpa e a

flauta. O Velho Testamento fala: das trompas que fizeram ruir os muros de

Jericó; da harpa tocada por David para acalmar o rei Saul; dos cânticos

hebraicos, como os Salmos. Conta-se que David organizou o primeiro corpo

oficial de música e cantores do Templo. Mais tarde, em Jerusalém no século X

a.C., seu filho Salomão compôs o “Cântico dos Cânticos” para harpas, sistros,

trompas de prata e um grande coral. Assim, podemos dizer que a música

hebraica era rica de instrumental e seu canto era provavelmente em uníssono,

como nos demais povos da antiguidade.

Os fenícios, que viviam entre o Mar Mediterrâneo e o Monte Líbano,

tinham uma música sensual e libertina voltada para o prazer estético e

acompanhamento do sexo. Para os gregos, a melodia foi inventada em Sidon.

Para os judeus, a cidade de Tiro era “a grande meretriz com uma lira”.

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Os árabes, de origem persa, vieram de dois grupos etnicamente

distintos que habitavam a Arábia: os sabeus e os beduínos. Seu canto no pré-

islamismo foi passado oralmente, pois não havia notação musical. Para os

beduínos ele era monótono e repetitivo, acompanhando o passo cadenciado

do camelo, e para os sabeus ele era cantado em roda, dançando e batendo

palmas. No início, a prática do canto e de tocar instrumentos eram confiadas

às mulheres e escravos. Seus instrumentos eram a rabeca do poeta, pequenas

harpas, alaúde, flauta e adufe.

Os versículos do Alcorão, livro sagrado dos árabes, são cantados até

hoje. Com a morte de Maomé no ano de 632, o islamismo ficou fortalecido e

sob o pretexto de que a música “distraía a fé”, os músicos passaram a ser

perseguidos. Cinqüenta anos depois, os árabes dominavam o norte da África,

a Península Ibérica e várias regiões da Europa. Embora proibida, a música era

muito praticada e chegou à Espanha, daí para o mundo. Gradativamente, a

música deixou de ser um elemento religioso ou simples diversão e passou a

ocupar uma posição importante e permanente em qualquer cerimônia na corte

dos califas. No século VIII Chalil foi o primeiro estudioso da música árabe e

seu foco de estudo era o ritmo. Porém, o célebre filósofo e músico Al Farab

(872 – 950) foi o primeiro a afirmar que o som era obtido pelas vibrações do ar.

Um século depois, o teórico Safi-Ab-Din criou em Bagdá a escala musical

árabe com dezessete sons.

Muitas são as regiões, nações e grupos étnicos africanos. Do mesmo

modo é a música na África, rica e variada. Atualmente, denominam-se música

africana apenas as dos povos ao sul do Saara, incluindo os Khoisan do

sudeste. Pois, a música da África do Norte está mais para um estilo afro-

asiático e as do sul do continente para o estilo do leste europeu. Além disso, a

cultura africana aportou em várias partes do mundo, levada pelos escravos,

principalmente as da costa da Guiné, da região do Congo e Angola e do

sudeste africano. O sistema ritmico africano segue certos princípios de tempo

bem diferente do sistema rítmico ocidental. Os motivos musicais são

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desenvolvidos como frases verbais, sendo o mesmo empregado para os

motivos de movimento.

Na Antiguidade Clássica, os gregos atribuíam à mitologia a origem da

música, palavra esta que significava a “arte das musas”. Na antiga Grécia a

música estava sempre associada à palavra. Na realidade, a junção de três

artes, como a música, a poesia e a dança é que realmente eles chamavam de

música. Sua notação musical tinha as letras do seu alfabeto para dar nome às

notas e “modo” era o nome dado as suas escalas. Seu sistema era tetracorde

descendente, formado por uma sucessão de quatro sons, e dependendo da

combinação dos mesmos era um determinado “modo”. Seus instrumentos

eram de corda, como a lira e a cítara, e de sopro, como a flauta de pan e o

aulo. Seu canto era uníssono, fosse ele executado por um cantor ou um coro e

tinham uma vasta produção musical ligada às festividades e ao teatro, como as

tragédias gregas.

A música na Grécia tinha um papel de destaque, inclusive na

educação, fazendo parte integrante da cultura intelectual da época. Nenhum

outro povo da Antiguidade teve teorias musicais tão elaboradas. Pitágoras no

século VI a.C., além de inventar o monocórdio, associava a música à

matemática demonstrando proporções intervalares numéricas nas escalas

musicais e acreditava que podiam desvendar os segredos do mundo. Lassus,

mestre de Píndaro, aproximadamente 540 anos a.C. escreveu sobre a teoria

musical. No século IV, o gramático Cominianus escreveu o “interpretatur nutus”

significando um signo ou um gesto. Provavelmente, foi a primeira obra onde se

utilizou um “neuma”, palavra esta que siginificava “gesto” na Grécia Antiga e

por isso mesmo, seu primeiro código era relativo ao gestual do regente.

Roma, ao conquistar a Grécia, deixou-se dominar pela cultura do povo

vencido, inclusive sua música. Porém, a índole guerreira do povo romano levou

à decadência da arte musical, convertendo-se em diversão barata e vulgar. Os

romanos inventaram o trompete reto, a que chamavam de “tuba”. Conta-se que

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o conselheiro de Otávio, Caius Cilnius Maecenas que conquistou o Egito,

conseguia financiamento para os músicos e cantores, recebendo por isso o

título de Protetor das Artes, dos Artistas e dos Sábios, a partir daí, seu nome

(Mecenas) passou a ter esse significado. Por sua vez, Nero costumava

apresentar-se em concursos como executante e cantor. Competiu com os

melhores músicos. Atribuem-lhe a criação da claque, para aplaudi-lo durante

as competições. A partir de Nero, todos os reis e imperadores foram músicos e

alguns deles dançarinos. Aproximadamente no ano 100, podia-se dizer que o

povo romano era um povo musical. O cristianismo trouxe de volta as mais

belas e sinceras composições, elevando a música como arte divina. Cerca de

mil anos mais tarde, os italianos maravilhavam o mundo com sua música.

Em meados do século X, o fragmento de Laon, Metz contém

indicações para o canto das palavras usando sinais sobre as sílabas do texto.

Porém, essa notação não era clara para as pessoas que desejassem cantar

uma peça sem um conhecimento prévio da mesma. Mais tarde, os neumas

passaram a dar noções de altura dos sons na medida em que ficavam mais

próximos ou mais afastados dos textos e só depois, com a criação de várias

linhas-guia e o emprego de claves é que foram fixadas as alturas. Quanto à

duração dos sons, primeiramente estava implícita no texto a ser cantado.

Posteriormente, foram introduzidas quatro figuras diferentes representando as

durações relativas entre as notas.

O monge beneditino Guido d’Arezzo (992? – 1050?) desenvolveu a

notação musical, colocando cada nota na sua posição precisa na pauta

musical. Foi também o criador do solfejo, método de ensino musical onde o

estudante de música canta os nomes das notas. Para isso, ele deu nomes às

notas através das sílabas iniciais do Hino a São João Batista chamado Ut

Queant Laxis, substituindo o sistema de letras anterior. A partir de então, o

sistema de notação de pautas tornou-se padrão no ocidente e pode ser

utilizado tanto para música vocal quanto instrumental

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Gradativamente, nos séculos XII e XIII surgiram os trovadores, nobres

que cultivavam a dança, a poesia e a música. Na Alemanha, essa arte também

se desenvolveu na classe média, formando as primeiras associações de

músicos profissionais. Embalados pelas Cruzadas, invasões bárbaras,

façanhas dos cavaleiros andantes e guerras romanescas, eles cantavam o

amor, a amizade, os épicos de cavalaria, a alvorada, etc. Nas suas viagens,

faziam também às vezes de porta-vozes das notícias, cantando suas histórias.

Vemos assim, que nesse período havia dois tipos de música: a sacra e a

profana, trazendo equilíbrio para a coletividade. De acordo com a teoria de

Jung, a sombra seria o lado reprimido e desvalorizado que habita em nossa

psique. Sendo assim, os trovadores estavam na sombra da coletividade

dominante e possibilitavam o exercício terapêutico da música, mantendo a

harmonia psíquica da época.

Na Renascença, a música profana transformou a música sacra,

moldando-se esta última a primeira. Antes proibida pela Igreja, a música

instrumental conquista seu espaço e na música vocal surgiu a polifonia coral,

ou seja, várias vozes cantando harmonicamente.

O Barroco, no início do século XVII, apresenta-se como uma tendência

nas artes plásticas, na literatura e na música. As composições eram

grandiosas e cheias de ornamentos. Seu ritmo era enérgico com sonoridades

fortes e elementos contrastantes. Os instrumentos foram aperfeiçoados e

ganharam destaque, inclusive sozinhos ou acompanhados pelo canto coral

passaram a ser aceitos nas igrejas. Nesse período surgem vários tipos de

composições, tais como: cantatas, oratórios, concertos, suítes, sonatas,

tocatas, fugas e óperas, esta última, sendo uma mistura de música e teatro,

exemplifica o imaginário do povo. Cabe à ópera a transição do Barroco para o

Classicismo.

Chegamos ao século XVIII e o período Clássico baseava-se

culturalmente nos modelos antigos consagrados. Na música, harmonizou

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melodias e acompanhamentos. A “polifonia” da Idade Média evoluiu e se

transformou na “harmonia”, que visa o estudo e o encadeamento dos acordes,

passando a ser um dos mais ricos campos musicais. Trouxe também o

emprego dos instrumentos de sopro para as orquestras proporcionando leveza

e unidade às composições num equilíbrio perfeito entre a estrutura formal da

música e a expressividade.

No final do século XVIII surgiu na Europa um novo movimento

chamado de Romantismo. Ao contrário do Clássico que primava pelo

equilíbrio, o Romantismo centrava a visão de mundo no indivíduo, onde o

sentimento predominava. Na música, os compositores exploraram muito a

harmonia, os vários volumes e alturas sonoras, a combinação e contraste dos

timbres. Às vezes, a formação da orquestra era gigantesca, com grande massa

de metais, tornando a peça ainda mais dramática.

No século XX, surgem novas técnicas de expressão, novas tendências

e novos sons. A harmonia apresenta-se dissonante, os ritmos são vigorosos

com métricas incomuns, novos timbres foram descobertos, tudo isso faz com

que a criatividade encontre terreno fértil para se desenvolver. Surge assim, o

impressionismo, o expressionismo, o nacionalismo do século XX, o jazz e sua

influência nas demais músicas, a atonalidade, o pontilhismo, o serialismo, o

serialismo total, o neoclassicismo, a microtonalidade, a música concreta, a

música eletrônica, a música aleatória, etc. Com essa gama de variações não

se pode determinar um estilo, como nos períodos anteriores, a não ser que a

marca das músicas desse século primam pela experimentação sonora.

No Brasil, a música indígena era e ainda é tida como sobrenatural,

ligada a mitos fundadores. De acordo com a lenda, a música foi um presente

dos deuses que estavam tristes por causa do silêncio humano. Os indígenas

usam a música para culto, ligação com os ancestrais, exorcismos, magia, cura

de doenças e socialização. O canto é predominante e o ritmo é extremamente

trabalhado. Mas, excetuando-se os próprios indígenas, a sua música faz parte

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apenas do nosso folclore, não sendo um elemento ativo na formação de nossa

cultura musical. Sendo assim, a música brasileira originou-se de uma fusão

entre a música européia, onde Portugal foi o responsável por trazer tal

influência, e a música africana, trazida pelos escravos. A influência portuguesa

trouxe a maioria do instrumental, o sistema harmônico, a literatura musical e

várias formas musicais européias. Já os negros trouxeram a diversidade

rítmica, alguns instrumentos e danças, sendo muito valorizadas a partir do

século XX. Com o passar do tempo, elementos musicais de outros países

foram introduzidos, como: a ópera italiana e francesa; as danças espanholas,

como a zarzuela, o bolero, a habanera; as valsas germânicas; o jazz

norteamericano. Somente em meados do século XX é que a música erudita

brasileira começou a ter seu caráter próprio, através da grande síntese

realizada por Villa lobos. A crescente globalização a partir dos anos 90,

juntamente com o conhecimento, valorização e divulgação de nossas raízes

históricas, a música popular brasileira tem se mostrado bastante original e

variada devido à fusão de influências diversas. Atualmente os gêneros

musicais são: o samba, a música sertaneja, o BRock, o samba-reggae, o

baião, o forró, o funk, o frevo, o hip hop, o charme, a música eletrônica, os

regionalistas, e outros.

Observamos que, em algumas culturas ou em certos períodos

históricos, a liberdade de expressão era restrita ao poder dominante. Talvez

por isso ou apesar disso, a música como forma de expressão ao longo de sua

história ora se apresentava carregada de emoções ora numa forma mais

velada, amparada por regras.

Além disso, a música não teve apenas um papel importante dentro de

todas as culturas, mas, na origem de quase todas elas, a música estava ligada

a um poder mágico, exercendo a função de religar o homem à sua essência

divina, conduzindo-o à totalidade cósmica.

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Podemos também concluir que as técnicas e estéticas musicais variam

de acordo com o povo, a etnia, o período cronológico e assim por diante. A

concepção de feio ou bonito não é relevante, depende do indivíduo e da

cultura a qual está inserido.

Um fator a considerar é que quando dois ou mais sons são ouvidos

simultaneamente geram acordes consonantes ou dissonantes, dependendo do

nível de tensão percebidos por nossos ouvidos. Cada povo tem as suas

próprias consonâncias e dissonâncias derivadas de seus costumes, gostos,

temperamento e subjetividade. Sendo assim, de acordo com a idéia de

ROSCHEL (s/d) sobre o assunto, essas definições de consonância e

dissonância é que variam entre as culturas, principalmente entre a música

oriental e ocidental. Chegam ao ponto de serem incompreensíveis às pessoas

fora daquela cultura em que a obra foi criada, soando estranhamente aos

ouvidos dos que não estão acostumados.

Tal afirmação somente seria comprovada através de um novo estudo,

o que não é o foco desta monografia. Porém, devido a diversidade do

repertório do coral estudado e, conseqüentemente, de alguns depoimentos a

esse respeito, podemos ter algumas considerações interessantes sobre esse

tema, inclusive no que concerne a auto-estima.

1.2 – Breve Histórico Sobre O Canto Coral

Como estamos falando de cultura musical, é essencial discorrermos

sobre a história do canto coral. Como pudemos observar no item anterior, o

canto isolado ou coletivo sempre fez parte de todas as culturas. Porém o canto

coral, como é conhecido e praticado por nós, faz parte da cultura ocidental.

Sendo assim, é sobre essa cultura que daremos maior enfoque nesse item.

Primeiro, para que possamos nos posicionar na cultura a qual estamos

23

inseridos; segundo, para conhecermos sua importância na evolução da música

ocidental de um modo geral.

Datando do período neolítico, encontraremos alguns registros antigos

que supomos ser a origem do canto coral. Existe uma imagem na Caverna de

Cogul na Espanha que nos leva a crer na existência de canto e dança coletivo.

Sendo assim, seguindo essa linha de pensamento, o canto coral existia na pré-

história embora numa forma rudimentar.

No período da Antiguidade, na Grécia, há referência de um coro ligado

ao teatro grego. No século I, em Roma, acredita-se que os cristãos já

cantavam em coro.

Entre os séculos I e VI, surgiu um canto monofônico, de ritmo livre,

sem compasso, seguindo a acentuação e o fraseado de textos bíblicos em

latim e se tornou a base principal da música ocidental. Utilizado nas liturgias

cristãs das Igrejas de Constantinopla, Roma, Antióquia e Jerusalém, ele era

cantado sem acompanhamento instrumental devido ao seu caráter religioso,

uma vez que os instrumentos eram utilizados nas festas pagãs. Esse canto

recebeu o nome de canto gregoriano em homenagem ao papa São Gregório

Magno (540-604) que publicou dois livros, a saber: o Antifonário, que continha

melodias das Horas Canônicas, e; o Gradual Romano com os cantos da Santa

Missa. Além disso, criou também uma escola para preparar cantores para os

ofícios religiosos chamada de Schola Cantorum.

Por volta do século VIII, os neumas passaram a representar as notas

musicais no canto gregoriano ou cantochão, como ficaria conhecido a partir do

século XIII. É importante salientar o poderio religioso da Igreja Católica no

período Medieval. Sendo assim, o cantochão estava ligado a uma ordem

religiosa e não a um sentido religioso, onde apenas o homem católico podia

cantar.

24

Somente no século X houve o desenvolvimento da linguagem musical

e consequentemente o registro sobre um possível canto coletivo, através da

escrita neumática.

Finalmente, no alvorecer do século XI, apareceram na Europa os

primeiros coros ligados à religião, nos mosteiros e comunidades religiosas.

Mas foi no século XII que surgiram os primeiros registros específicos de

música para coro.

O Canto Coral na Idade Média era apenas para os homens. Logo, as

composições desse período foram notadamente criadas para as vozes de

tenores, barítonos e baixos. Somente no século XVI, com o advento da

Reforma Protestante é que as mulheres iniciaram sua participação nessa

atividade. Sendo assim, os arranjos musicais para corais passaram a ser

criados para sopranos, contraltos, tenores e baixos. Essa união de masculino e

feminino, anima e animus juntos, propiciou certamente o self musical.

O canto coral foi trazido para o Brasil pelos padres jesuítas. Muito

embora, podemos observar uma prática sociocultural no canto coletivo dos

índios brasileiros e mais tarde dos africanos trazidos como escravos para o

Brasil. No século XX, instituiu-se o canto orfeônico nas escolas através do

Maestro Heitor Villa Lobos.

Grandes mestres da música compuseram para coro, porém seu

período áureo foi através dos compositores: Giovanni da Palestrina e Johann

Sebastian Bach.

Desenvolvendo-se juntamente com a inteligência e a cultura humana, o

canto coletivo provavelmente existe desde os primórdios da humanidade, seja

ele simples ou com certa complexidade de execução. É uma grande

ferramenta de socialização, pois desenvolve não apenas o lado musical, mas

25

também as relações interpessoais. Nesse sentido, as palavras de Villa –Lobos,

citado na monografia de Souza (2009), dizem o seguinte:

“O canto coletivo predispõe o indivíduo a perder no momento necessário a noção egoísta da individualidade excessiva, integrando-o na comunidade, valorizando a idéia da necessidade de renúncia e da disciplina ante os imperativos da coletividade social, favorecendo a noção de solidariedade humana, que requer de cada pessoa uma participação anônima na construção das grandes nacionalidades. O canto contribui para uma das mais altas cristalizações e verdadeiro apanágio da música, porque, com seu enorme poder de coesão, cria um poderoso organismo coletivo, integrando o indivíduo no patrimônio social da Pátria.” (VILLA LOBOS apud SOUZA,2009)

Como vimos, a música permite a expressão dos sentimentos através

da nossa voz, sendo a base da música vocal. Mas, também permite que duas

ou mais vozes possam soar em conjunto harmoniosamente, sendo a base da

música instrumental.

Logo, podemos dizer que, foi da harmonia de vozes humanas

cantando em conjunto que surgiu a música instrumental como é conhecida

atualmente. Outro ponto relevante é sobre a notação musical que foi instituída

a partir da necessidade de documentar o canto. Com isso, podemos perceber

a importância do canto coral na evolução da arte musical.

26

CAPÍTULO II

ENTENDENDO A MÚSICA

“A música, eu a considero, em princípio,

como um indispensável alimento da

alma humana.” Villa Lobos

Como já vimos no capítulo anterior, o canto está intimamente ligado à

arte musical. Logo, entender a música é entender o próprio canto. Perguntas

do tipo: como a música se manifesta? Como ela se processa dentro de nós?

Como nos sentimos envolvidos por ela? Até onde a música pode afetar a

nossa vida? De que maneira? Essas e outras perguntas fazem parte do nosso

imaginário a cerca da música. Mas, será que ela tem mesmo a condição

necessária para nos afetar interiormente, a ponto de melhorar nossa qualidade

de vida? Para Márcia Victorio:

“A música, com seus sons, silêncios e ruídos, apresenta-se como um potencial instrumento criador em direção a saúde, capaz de compreender e transformar freqüências distorcidas e desarmônicas em busca da ordem original, da perfeita sincronia com o ser divino que todos somos.” (VICTORIO, 2008, p.19-20).

Nesse capítulo procuraremos entender essas questões, levando em conta

algumas teorias sobre o assunto. Podemos destacar as idéias de VICTORIO

(Impressões Sonoras-Música em Arteterapia, 2008) que foram usadas como

base desse estudo. Outros autores corroboraram com seus conhecimentos

para os argumentos teóricos aqui sustentados, como: RELVAS (Fundamentos

Biológicos da Educação: despertando inteligências e afetividade no processo

de aprendizagem, 2009); PEDRO (Em Busca da Transformação: A filosofia

pode mudar sua vida, 2009) e outros citados ao longo do capítulo. Além disso,

27

o referencial bibliográfico do primeiro capítulo pode ser enquadrado aqui, pois

a História da Música e Mitologia andam lado a lado.

2.1 – Os Mitos e Lendas da Música

A ciência, apesar de sua importância, não explica certas coisas ligadas

à subjetividade. Como explicar nossos medos e frustrações à luz da razão? Às

vezes é necessário transcendermos a realidade e é nesse ponto que criamos e

mantemos vivos os mitos. Através do mito, valores universais dão sentido às

nossas vidas.

Jung enfatiza o estudo da mitologia para relacionarmos os mitos com

as imagens simbólicas do inconsciente. Infinitos são os dramas arquetípicos da

humanidade e vários são os mitos que expressam o mundo e a essência

humana. Assim narra a Dra. Nise da Silveira:

“Sentada diante do mestre no seu gabinete de trabalho, junto à larga janela com vista sobre o lago, falei-lhe do desejo de aprofundar meu trabalho no hospital psiquiátrico, de minhas dificuldades de autodidata. Ele me ouvia muito atento. Perguntou-me de repente: - Você estuda mitologia? Não, eu não estudava mitologia. – Pois se você não conhecer mitologia nunca entenderá os delírios de seus doentes, nem penetrará na significação das imagens que eles desenhem ou pintem. Os mitos são manifestações originais da estrutura básica da psique.” (SILVEIRA apud SANTOS, 2008, p. 32)

O mito é algo maior que o próprio homem, é uma representação

coletiva passada por várias gerações e podemos entendê-los nas imagens dos

contos de fada, sonhos, folclore, etc.. A música não poderia ficar de fora, ela

possui sua própria história mitológica em quase todos os povos e é essa

mitologia musical que será explanada a seguir.

28

Começaremos pelos egípcios que acreditavam na invenção da música

por Tot ou por Osíris. Quanto à Índia, ela é rica em mitologia ligada à música e

os hindus atribuem a vários deuses a criação de instrumentos e técnicas

musicais. Para eles, a música fazia parte da formação do Universo e estava

ligada ao processo essencial da vida humana. Cada som era tido como uma

revelação divina para os ouvidos humanos. Brahma era o deus criador e,

segundo a lenda, deu aos homens a “vina”, tipo de instrumento de corda. Shiva

era o deus aniquilador e de sua boca saíram as primeiras trinta e seis “ragas”,

modo melódico hindu, e da boca de sua esposa Parvati saíram outros cento e

um “ragas”. Saraswati era a deusa da música e Ganesha, o deus da sabedoria,

que para louvar os deuses inventou o canto, além de tocar samburá.

Para os chineses, a música era dirigida pelo elemento cósmico e o

gongo servia não só para despertar os deuses e expulsar os maus espíritos

como também salvar a Lua do Dragão nos eclipses.

Na Grécia, o deus Zeus partilhou seu leito com Mnemosina, a deusa

da memória, nascendo assim, as nove Musas, para que cantassem as vitórias

dos deuses do Olimpo sobre os Titãs, filhos de Urano. No princípio, as Musas

eram somente deusas da música, mas depois receberam outros atributos. No

monte Parnaso, as Musas faziam parte do cortejo de Apolo, que era o deus

das Artes, da Poesia e da Medicina. Ele, tocando sua lira, as acompanhava

nos seus cânticos sobre o passado, o presente e o futuro. A palavra “música”

tem sua origem na “arte das musas”.

Conta-se que Anfião, filho de Zeus, dedicava-se exclusivamente à

música, desde que ganhou de Hermes uma lira. Dionísio, filho de Zeus e da

princesa tebana Sêmele, mais conhecido por Baco na mitologia romana, era o

deus das festas etílicas regadas com muito vinho e embaladas ao som de

tambores, címbalos, gaitas e muita dança que levavam seus participantes a um

estado alterado de consciência. Pan, o deus brincalhão e travesso dos

bosques, estava sempre acompanhado de uma flauta de sete tubos e

29

freqüentava as festas de Baco. Morava em grutas e percorria vales e

montanhas caçando ou dançando com as ninfas. Minerva, deusa da sabedoria,

das artes e da guerra, criou a flauta, mas para não ficar bochechuda, por

causa do sopro, a entregou a Marsias.

Sobre as sereias fala-se que seu canto era tão belo que hipnotizava os

homens para a morte. Orfeu, filho da musa Calíope, que era cantor, músico e

poeta, subjugava os animais selvagens, parava as ondas e fazia dançar as

árvores e rochas com o poder de sua música. O filho de Eumolpo, chamado

Museo, curava as doenças através de sua música.

Nos textos bíblicos do Velho Testamento, escrito pelos hebreus, há

várias passagens mostrando o poder mágico da música sobre o homem. O

músico mais conhecido é o Rei Davi que tocava harpa. Porém, Salomão ficou

famoso no Oriente por sua música que tinha a Rainha de Sabá como sua

apreciadora. Para os judeus, a música fora inventada por Jubal.

A mitologia como foi explicada acima serve para projetar nossos

desejos e completar nossa vida, sendo assim, os mitos não são apenas

personagens do passado. Além da mitologia clássica, temos atualmente

muitos mitos, como por exemplo, o rei do Carnaval, o rei do futebol, etc.. A

música também nos dá muitos mitos e não são poucos os seguidores dos

mesmos.

Nessa breve passada pela mitologia percebemos que a música estava

sempre ligada a um deus ou poder mágico ou algo cósmico. Servia como fonte

de prazer e/ou cura. Outrossim, é importante citar a “Canção de UR”, visto que

é uma melodia espontânea, cantada por crianças do mundo todo dos dezoito

meses aos três anos de idade, independente da cultura a qual está inserida.

Isso nos leva a crer que ela possa estar gravada no nosso inconsciente

coletivo fazendo-nos considerar o padrão arquetípico existente na música.

30

2.2 – A Atuação da Música na Psique

Para entendermos os efeitos que a música provoca na nossa psique

torna-se necessário, primeiramente, entendermos o som. Ao vibrarmos um

corpo no ar provocamos uma oscilação das partículas desse meio, dando

origem ao som que nós ouvimos. Sendo assim, som é vibração e, por

conseguinte, a música também é vibração.

O filósofo grego Pitágoras, que viveu no século VI a.C., acreditava que

a música era o elo entre o homem e o cosmo. Compreendia que a música e a

matemática forneciam a chave para os segredos do mundo. Descobriu que

havia uma relação mística entre os números e, as formas, os sons e os corpos

celestes. Para ele, o Universo cantava, logo vibrava, pois acreditava que os

astros tinham diferentes tonalidades harmônicas, sendo a Tetraktys o símbolo

da música cósmica ou “harmonia das esferas” como foi descrita no Timeu por

Platão. Apesar de mais tarde essa teoria ser contestada por Aristóteles, ela

serviu de inspiração para Kepler determinar suas leis sobre o movimento dos

planetas.

Seguindo essa linha de pensamento, percebemos que tudo o que

existe no Universo está em vibração, inclusive nós. Como vibração origina o

som, logo somos constituídos de som e vivemos num mundo de som.

Analogamente, a ausência de vibração poria em risco toda a criação. Logo, o

silêncio que seria a ausência de som, ou melhor, de vibração, não pode ser

concebido. Mas então por que o silêncio se faz necessário inclusive nas

composições musicais? Não podemos deixar de relevar que no silêncio, como

nós o concebemos, podem existir sons que não são percebidos por nós.

Nossos ouvidos conseguem ouvir entre 20 e 20.000 Hz de freqüência, abaixo

disso são denominadas freqüências infra-sônicas e acima, de freqüências

ultra-sônicas. A verdade de que no silêncio pode haver som é o fato de que

outros animais conseguem produzir e ouvir sons fora dessa faixa audível ao

31

ser humano. Nós mesmos vibramos ininterruptamente, nosso corpo produz

sons que não percebemos, como por exemplo, nosso batimento cardíaco, e

interagimos por ressonância com o Universo e com os demais indivíduos.

Sendo assim, a vibração sonora produz impressões em nós e ao percebermos

que estas vibrações criam e formam um sentido, expressamos através da

música idéias e emoções, individuais e coletivas, que normalmente não

revelamos no discurso comum. Sendo assim, essa forma de expressão

contribui para a harmonização entre razão e emoção.

Mas, para que possamos significar nossas vibrações sonoras é preciso

que nossos ouvidos as ouçam e as transmitam ao nosso cérebro por vias

neurais. Porém, entre a recepção e a significação há algo que nos diferencia,

pois depende de nossos arquétipos pessoais e coletivos. De certa forma, isso

é ratificado por Maturana (MATURANA, s/d apud GRACIANO, 1997) quando

diz que o psíquico, a alma ou a mente são uma referência a um modo de ser,

de viver e de nos relacionarmos com os outros. Conclui que, apesar de serem

dois domínios distintos, o da nossa corporalidade molecular e o de nossas

interações e relações, existe uma relação geradora entre ambos.

O inconsciente se manifesta através de símbolos, sejam eles

subjetivos, representando o conteúdo da psique, ou objetivos, representando

os conteúdos coletivos, com capacidade de trazer à lembrança certas

emoções, sendo o ponto de estudo da música na Arteterapia. Nesse aspecto,

a música não só acessa simbolicamente o inconsciente, trazendo à

consciência desejos, perdas, dores, decepções, desconfortos; como também

propicia a expressão dessas emoções, promovendo transformações e fazendo

com que o indivíduo caminhe rumo à individuação.

Quando a freqüência das vibrações se torna irregular, temos o que

chamamos de ruído. Sendo assim, o som, o silêncio e o ruído fazem parte da

tríade vibratória. Como somos vibração, nosso corpo e psique também o são.

Assim sendo, podemos associar o som com o nosso consciente e o silêncio

32

com nosso inconsciente. Se nossa freqüência estiver harmonizada, podemos

dizer que a saúde está estabelecida tanto a níveis pessoais, como corpo,

mente e psique, tanto a níveis coletivos, como social, cultural e ecológico. Se

houver alguma freqüência desarmônica, teríamos o que chamamos de doença.

Seguindo esse raciocínio, podemos entender Esculápio que para curar

seus doentes receitava músicas leves. E Platão, que declarava estar

incompleta uma receita se não incluísse músicas, e, outros tantos

depoimentos, sobre a ação terapêutica da música, feitos por Homero,

Eurípedes, Aristófanes, Teifrasto, Macróbio, Catão, Tíbulo, Propércio, Horácio,

Varron, Virgílio, Ovídio e Lucano, entre outros. Pitágoras utilizava a música

para diversos fins, como: para aquietar as mentes, para curar os doentes

fisicamente e mentalmente, para instruir seus discípulos e purificar-lhes suas

faculdades psíquicas, etc..

De acordo com a teoria musical, a música é composta de três

elementos principais: a melodia, a harmonia e o ritmo. Como o pulso rítmico

regula e organiza o sentido musical, ele é a base da expressão musical.

Podemos afirmar que sem ele não há música, pois é o único elemento que

independe dos outros dois.

Cada órgão do nosso organismo tem um pulso que faz com que nosso

corpo se apresente como um todo harmônico, isso se estende também para a

psique, pois a desorganização psíquica pode levar a uma desorganização

sonora nas composições. Quando esse equilíbrio fica comprometido,

afastando-nos do sentido de nossas vidas, por causa de perturbações

inconscientes, poderemos perder nosso pulso regulador. Dependendo do caso,

as músicas que têm o pulso bem marcado podem servir para a restauração

desse equilíbrio, atuando de fora e transformando o que está por dentro, pelo

princípio da ressonância. Cabe aqui, citar Marta Pires Relvas:

“/../ o cérebro é particularmente sensível a estímulos especiais de luz e som, que, quando o atingem nas

33

proporções adequadas e coerentes, faz com que os neurônios busquem continuar a produzir esse mesmo padrão rítmico (gerando o fenômeno de biorretroalimentação ou biofeedback).” (RELVAS, 2009, p. 43-44)

A harmonia foi responsável pelo desenvolvimento da arte musical.

Consiste na execução simultânea de dois ou mais sons, gerando um acorde.

Enquanto que, a melodia é uma sucessão de notas e se desenvolve a partir da

acentuação das palavras de acordo com a língua. Isso nos remete à textura

musical. Quando a música é monofônica, ou seja, com apenas uma única linha

melódica sem qualquer harmonia, como o nosso canto individual, poderemos

dizer que ela é a que mais se aproxima de nossa essência devido a sua

tessitura simples. Quando a música é polifônica, com duas ou mais linhas

melódicas e ritmos diferentes, poderemos dizer que ela se parece com as

nossas relações com o outro, pois precisamos utilizar várias “personas” para

nos adaptarmos ao meio em que vivemos. O indivíduo cuja “persona” é

saudável se adapta perfeitamente a vida social, pois se utiliza de suas

máscaras sociais criativamente, mas quando a “persona” tem alguma

patologia, sua identidade fica confusa e quase sempre se apresenta como um

indivíduo rígido e defensivo. O número de variedades e nuances sonoras é

proporcional as possibilidades de expressão e, no caso citado acima, quanto

mais, melhor.

Quanto às formas musicais, verificamos que a repetição e o contraste

são elementos freqüentes na construção de uma música. Assim é como em

nossas vidas, às vezes fazemos escolhas sadias que procuramos manter e

outras que precisamos fazer mudanças, sejam elas radicais ou não. Do

mesmo modo, temos as variações musicais onde existe um tema central e

fazemos variações sobre o mesmo.

O timbre é a propriedade sonora que faz com que possamos distinguir

um som do outro, ou seja, é a personalidade do som. Depende da combinação

dos harmônicos que acompanham o som gerador e a forma como é produzido.

34

É a propriedade que identifica os diversos sons, inclusive a nossa voz. Assim

como cada pessoa tem uma digital, cada um de nós possui um timbre vocal

que nos torna únicos e nos identifica. Por isso, não seria exagero afirmar que

nós somos o som que produzimos.

De acordo com o que foi exposto até aqui, podemos concluir que a

música atua como uma representação simbólica pelo favorecimento da

expressão de nossas emoções, sensações e sentimentos. Percebemos

também, que em muitos de seus elementos podemos relacioná-los com as

várias nuances de nossas vidas, tanto no individual como no coletivo.

2.3 – Como a Música Se Processa no Cérebro

Há diversas teorias a respeito dos efeitos da música em nosso cérebro.

Para alguns, os sons estimulam a liberação de serotonina, outros dizem que

ele libera a adrenalina e outros hormônios. Porém, uma das teorias mais

plausível é a de Dorothy M. Schullian e Max Schoen, que diz:

“música contorna completamente os centros que envolvem a razão e a consciência, não depende do cérebro mestre para adentrar pelo corpo (ou seja, a música não depende das funções superiores do cérebro para entrar no organismo), ainda pode excitar por meio do tálamo – o posto de intercomunicação de todas as emoções, sensações e sentimentos. Uma vez que um estímulo foi capaz de alcançar o tálamo, o cérebro superior é automaticamente invadido, e, se o estímulo é mantido por algum tempo, um contato íntimo entre o cérebro superior e o mundo da realidade pode ser desta forma estabelecido.” (SCHULLIAN; SCHOEN apud OLIVIER, 2008, p. 70)

Sendo assim, podemos responder a um estímulo musical, mesmo que

não prestemos atenção a ele. A música pode ser ouvida e até entendida sem,

contudo, ser interpretada pelo cérebro mestre. Uma amostra disso é que

35

quando ouvimos música podemos executar outra tarefa concomitantemente,

como por exemplo: ler, escrever, pintar, desenhar, etc. e se unida à dança ou

ao teatro essa assimilação será completa. Nessa questão, temos o

pensamento de Picasso, que diz: “Se queres desenhar, fecha os olhos e

canta.” (PICASSO apud SIMÕES, 1985, p.71).

Outro ponto a ser considerado é a memória. Vários tipos de sons,

cheiros, sabores, objetos, rostos, emoções, medos, números,

comportamentos, cenários e assim por diante, são armazenados no cérebro.

Na fase conhecida por aquisição, as informações chegam aos sistemas

sensoriais por meio dos estímulos, sejam eles auditivos, visuais, táteis,

olfativos ou gustativos. Chegando ao cérebro, esses dados são processados

em diferentes regiões formando as memórias. Essas memórias são fragmentos

ou traços armazenados, não são amostras verídicas dos fatos reais, depende

do contexto em que são recuperadas. Logo, a construção de uma história de

vida se dá pelos conhecimentos vividos, adquiridos e experimentados pela

memória.

Ao ouvir um som familiar, automaticamente surgem lembranças ligadas

a ele. Nesse momento de evocação de uma memória, estabelece-se um

intenso trânsito de sinapses, que é o espaço entre os neurônios e onde se dá a

transferência de informações por meio de impulsos elétricos ou reações

bioquímicas. Cada lembrança tem o seu percurso sináptico que a localiza em

meio às demais informações.

Há diferentes formas das memórias serem processadas no cérebro,

pois varia de acordo com o seu tipo. A memória “ultrarrápida” retém as

informações por alguns minutos. A memória de “curto prazo ou de curta

duração” retém as informações até sua utilização e depois são esquecidas. A

memória de “longo prazo ou de longa duração” subdivide-se em duas: a

memória “não declarativa” ou “reflexiva” inclui o condicionamento clássico, as

habilidades e os hábitos, sendo frequentemente inconsciente, e; a memória

36

“declarativa” que recupera conscientemente eventos ou fatos ocorridos. Apesar

de distintas, esses dois tipos de memória estão relacionados, uma vez que, a

memória “declarativa” pode se converter em memória “não declarativa” por

força da repetição, criando assim um hábito. Um bom exemplo disso é quando

se toca piano. Esse comportamento complexo, com o treinamento constante,

torna-se um hábito, gerando uma memória cinestésica/corporal e psicomotora.

Temos algo parecido nas práticas do coral. Ao incluir uma música no

repertório, todos os coralistas ficam concentrados e atentos as informações e

gestos do regente. Porém, com a continuação dos ensaios, quando aquele

repertório fica familiar, o regente sente dificuldade de manter a atenção do

grupo. Nota-se claramente que aquilo se tornou um hábito.

Atualmente, com o avanço do estudo sobre a estrutura e o

funcionamento do cérebro, conhecemos a plasticidade cerebral que é a

capacidade do sistema nervoso mudar o funcionamento do sistema motor e

perceptivo de acordo com o ambiente, por meio da conexão ou reconexão das

sinapses nervosas. Da plasticidade cerebral depende todo o processo de

aprendizagem e a reabilitação das funções motoras e sensoriais no caso de

lesão. Cada grupo especial de neurônios controla funções específicas de

processamento, porém se uma dessas funções fica inutilizada, esses

neurônios ligados a ela passam a controlar outra função. Com isso, o cérebro

se renova, seja para aprender a sentir-se melhor, seja para se autorreparar

para pensar melhor.

O cérebro é constituído por dois hemisférios, o direito e o esquerdo, e

ambos trabalham em conjunto sem domínio um sobre o outro. Estudos

recentes mostram que a habilidade musical não é exclusividade do hemisfério

direito, como se imaginava no passado, mas de ambos os hemisférios,

fazendo com que o nosso cérebro seja todo ele musical. Assim, o hemisfério

esquerdo seria responsável pela avaliação da duração, ordem temporal,

seqüência e ritmo. O hemisfério direito avaliaria a memória tonal, timbre,

reconhecimento de melodias e intensidade.

37

Quanto ao córtex cerebral (RELVAS, 2009, p. 42) cabe a

responsabilidade dos nossos atos conscientes, nossos pensamentos e a

capacidade de respondermos voluntariamente a um estímulo ambiental. Nele

está contido o lobo temporal, responsável pelo sentido da audição,

possibilitando o reconhecimento de tons específicos e intensidade do som. O

córtex temporal do hemisfério esquerdo (VICTORIO, 2008, p.23) é

indispensável para a composição e a escrita musical.

A ligação com o meio ambiente se processa em todo o organismo. Ao

ouvirmos uma música, o corpo e o cérebro interagem com o ambiente. Dessa

forma, a percepção não é algo exclusivo ao cérebro, mas sim de todo o

organismo que reage ativamente favorecendo a melhor troca de informação

possível. Logo, a percepção atua no meio ambiente e dele recebe os sinais.

Falando em termos de música, podemos dizer que ela, de acordo com as

características objetivas e subjetivas do indivíduo, gera uma percepção a nível

físico e psíquico possibilitando a sua expressão.

Com base nas teorias apresentadas nesses dois primeiros capítulos,

provavelmente o nosso olhar para as histórias e depoimentos dos coralistas do

CMORJ será diferente. Não serão apenas histórias de um grupo, mas, em

alguns casos, poderemos notar verdadeiros caminhos rumo à individuação de

seus componentes.

38

CAPÍTULO III

O CANTO CORAL NA VIDA DE SEUS PRATICANTES

“Sou tocado por tudo que acontece no

mundo... e então sinto vontade de

expressar meus sentimentos na música.”

Robert Schumann

O Coral Mokiti Okada do Rio de Janeiro (CMORJ), núcleo Vila da

Penha, começou suas atividades em 20 de abril de 1999. Desde então está

ativo, com apresentações mensais regulares e outras extraordinárias, tanto em

relação ao calendário quanto à carga de emoções geradas aos seus

praticantes.

A idéia inicial não era a formação de um coral, mas sim uma espécie

de encontros semanais para aqueles que gostariam de conhecer um pouco da

arte musical. O sucesso desses encontros e o que essas pessoas aprenderam

fez com que o amor pela música surgisse naturalmente. Daí a quererem exibir

seus novos conhecimentos e se expressarem musicalmente foi um pulo.

Assim, em agosto desse mesmo ano, aconteceu a primeira apresentação

desse grupo como um coral.

A observação in loco e alguns depoimentos dos coralistas integrantes

do CMORJ partem desse período em diante. Porém, foram usados nomes

fictícios para preservar a identidade dessas pessoas e facilitar a leitura.

Observando as pessoas no início da atividade, houve alguns casos

muitos interessantes que ficaram registrados na história desse grupo. Foi o

caso da Sra. Heloísa, que chegou a esses encontros, acompanhada de seu

marido. Notava-se sua timidez e dificuldade de relacionar-se com os demais.

39

Segundo ela própria, não tinha o menor conhecimento musical e nem tinha o

costume de ouvir nada relativo à música, nem rádio. Sua voz não conseguia

atingir no canto o lá natural, tendo muita dificuldade de afinação. Por isso, a

priori, ela ficou no naipe dos contraltos, voz mais grave feminina.

Com o passar do tempo, o trabalho vocal começou a dar resultado.

Sua voz começou a ficar mais aguda e, conseqüentemente, a afinação

começou a melhorar. Paralelamente, seu entusiasmo pela nova aprendizagem

era visível. Mais tarde, ela veio a declarar que por ter estudado somente o

primário e ter casado muito jovem, com uma vida até então limitada ao lar, se

sentia inferior aos outros, ficando muito apegada ao seu marido, praticamente

não saindo de casa sem ele.

Com a nova bagagem de conhecimento, sua auto-estima brotou e ela

acabou se destacando na relação com o grupo, inclusive sendo indicada como

representante dos coralistas. Seu marido, por motivo de trabalho, acabou se

afastando do coral. Porém, a Sra. Heloísa, já fortalecida psicologicamente,

continuou na atividade, chegando a viajar com o grupo para as apresentações

fora do estado.

Todos os coralistas, sem exceção, sentiram a diferença de sua

postura, agora forte, decidida, extrovertida, articulada, não só no grupo, mas

também nas suas relações sociais. Hoje, poderíamos dizer que sua persona é

saudável, criativa e flexível de acordo com o meio em que vive. Isto

provavelmente se deve: ao aprendizado novo, de algo bem específico como a

música, bem como a colocação de sua voz, mostrando todo o seu potencial; as

relações interpessoais dentro do grupo com as mais diferentes pessoas, tanto

no sentido social, como econômico, intelectual e racial, e; pela possibilidade de

se expressar através de variadas nuances sonoras, dando vazão às suas

emoções.

40

É a própria Sra. Heloísa quem diz: “Conhecer e aprender sobre a

música é muito importante para mim. /.../ Quando eu estou cantando eu sinto

uma sensibilidade através da música. /.../ O canto coral representa alegria e

confiança em mim.”

Caso parecido foi o do Sr. Gabriel. Ele e sua esposa, a Sra. Abigail,

iam para os encontros somente “para ver como é”. O Sr. Gabriel era rígido e

defensivo. Sua postura era formal e pouco sorria. Sua voz era extremamente

aguda, tanto no falar quanto no cantar. Aos poucos, começou a praticar o

canto junto com o grupo e com o passar do tempo, passou a ser mais

expansivo. A formalidade inicial deu lugar à brincadeira, à flexibilidade nas

relações e ao sorriso. Pouco a pouco, sua voz foi sendo trabalhada e se definiu

grave e clara, fazendo-o a pertencer ao naipe dos baixos. Certo dia, ele

comentou que no trabalho, seus colegas estavam sentindo a diferença de sua

postura e de sua voz. Podia-se perceber que falava isso com muito orgulho,

demonstrando plena satisfação pelas mudanças, tornando-se um dos

coralistas mais ativos do coral.

Quanto ao aspecto social, temos o caso da Sra. Edina, de oitenta

anos, que afirmava ser o coral sua segunda família. Apesar de ter uma casa

numa cidade mais tranqüila, ela relutava em mudar, dizendo que não sairia do

coral. Dizia também que, ao morrer iria preparar o caminho para a formação de

nosso coral no céu. Além disso, sua emoção em determinadas músicas era

visível. Seu canto se tornava belo com uma sonoridade ímpar.

Da mesma forma temos a Sra. Edith, que aos oitenta e um anos

mostra um dinamismo e uma motivação de causar inveja aos mais novos,

sendo uma das coralistas mais ativa. É um referencial no naipe dos contraltos.

Segundo ela, graças aos exercícios preparatórios que antecedem o ensaio

propriamente dito, fazem com que ela tenha disposição física. Por outro lado,

há músicas que a emocionam. Há uma historia interessante contada por ela.

Numa bodas de prata, no momento que o sacerdote abençoava o casal, ela

41

num ímpeto se levantou e começou a cantar o “Pai Nosso” de Albert H.

Malotte. Depois, o casal em questão, agradeceu emocionado. Segundo ela, foi

como um presente para o casal, que ficou tomado de emoção, e para ela

própria, que sem olhar para os lados, deu vazão ao seu sentimento, tendo

plena convicção do que estava fazendo. Nesse sentido, ela informou que o

canto coral propiciou mudanças na sua vida, como: “ter confiança, ficar alegre

e otimista e mais sensível.”

Em 2000, houve o caso de uma médica que se uniu ao grupo. A Dra.

Sônia tinha câncer. Logo em seguida, ela entrou na fase da quimioterapia. Os

ensaios lhe traziam um pouco de alegria e fazia com que, momentaneamente,

esquecesse seu problema. O fato mais marcante desse caso foi quando ela

participou pela última vez do coral. Naquele ensaio, ela chegou com uma

fisionomia abatida e com uma peruca, por causa da queda de seus cabelos.

Gradativamente seu rosto se iluminou e o sorriso ficou evidente. Cantava e

gesticulava dando expansão às suas emoções. Num dado momento, arrancou

sua peruca, mostrando sem preconceito sua calvície, e dando o braço a seus

colegas, cantava demonstrando sua alegria. Era como se a música a estivesse

envolvendo plenamente e aos demais. Somente aqueles que participaram

deste momento conseguiriam mensurá-lo.

O Sr. Maciel, violeiro convicto, sofreu uma isquemia cerebral. Com

isso, seu amor pela música ficou em segundo plano. Sabendo da existência do

CMORJ, ele passou a freqüentar os ensaios, apenas para ouvir e ver os

procedimentos do grupo. Porém, não controlando sua ansiedade, o Sr. Maciel

juntamente com sua esposa, passaram a fazer parte como coralistas. Daí, a

acompanhar o coral, não apenas cantando, mas também tocando seu violão,

foi rápido. Seu ânimo e sua energia eram impressionantes, mostrando o

quanto a música influiu na sua qualidade de vida. Provavelmente, a área do

córtex temporal direito (VICTORIO 2008, p. 24) cuja função, entre outras

coisas é a execução musical, tanto cantando quanto tocando, não foi

demasiadamente afetada. Outrossim, como a música transmite mensagens por

42

um sistema de signos que possui algumas regras, como uma sequência de

sons e harmonias, seu aprendizado pode ajudar no desenvolvimento cognitivo,

principalmente em relação à semântica e aos sistemas de memória. No caso

do Sr. Maciel, o violão era como uma extensão de seu corpo, e, unido ao

canto, ele externava seu mundo interno mesmo tendo um problema físico em

seu cérebro.

Caso parecido ocorreu com a Rafaela, que relatou o seguinte:

“Em 1999 fui submetida a uma neurocirurgia no lobo temporal da memória, foi recomendado pelos médicos que eu fizesse vários tipos de exercícios, para ativar a melhora da mesma, tipo palavras cruzadas, jogos no computador, etc. Na recreação, tentei dança de salão e não consegui bom resultado. /.../. Fiz teste vocal e me apaixonei pelo canto coral e pude sentir que houve melhora significante em minha memória, durante as atividades dá para perceber isso. Estou completando seis anos de dedicação. Esta dedicação me faz muito feliz. Em apresentações que realizamos em hospital, sentimos que a música melhora o emocional dos pacientes.”

Laércio era exímio percursionista, tendo tocado em diversas bandas.

Um dia, ele entrou para o coral, aprendeu todo o repertório, desde o popular,

que era seu forte, ao sacro e erudito. Tornou-se o melhor tenor do grupo e

aprendeu as várias nuances sonoras. Foi convidado a participar de uma banda

e começaram as viagens da turnê. Certo dia, ele apareceu no ensaio e

agradeceu ao regente pelo aprendizado ali recebido, pois isso acabou sendo o

diferencial, não só por sua permanência na banda como para a própria banda

em si, que lucrou com a riqueza de harmonia e sonoridades. Seu gosto pelo

coral e sua gratidão pelo que aprendeu fez com que, em suas folgas, ele

continuasse ensaiando no CMORJ e dando sua contribuição ao grupo.

Numa apresentação do coral, Vivian fazia parte da platéia. Foram

cantadas diversas músicas, dentre as quais estava o “Canto do Pagé” de Villa-

43

Lobos. Nesse momento, a memória de Vivian trouxe a tona lembranças

relacionadas a essa música, ficando muito emocionada. Naquele instante,

tomou a resolução de que faria parte do coral. Como ela própria disse: “/.../

escutei o coral cantar o ‘Canto do Pagé’. Apaixonei!”. Entrou em contato com o

grupo e começou a freqüentar. Segundo ela: “As vezes, durante a aula de

canto coral sentimentos escondidos brotam”. Hoje, diz que sente falta do coral

em dias como feriados. Sua música preferida continua a mesma, mas sua

sede de aprendizado levou-a a dedilhar o teclado.

Fato curioso foi o relatado por Daisy. Com a educação de sua voz o

relacionamento com seus filhos mudou e, é dela própria as seguintes palavras:

“Eu adquiri conhecimentos com a voz, que passei a gritar menos com meus

filhos.”. Além de melhorar os relacionamentos, ela também fala da importância

do canto coral para a expressão emocional: “Sou muito emotiva, e cantando

me tornei mais alegre.”

Déa chegou ao grupo meio desconfiada, sem saber se iria conseguir

ou não cantar dentro da linha melódica de seu naipe. Com o tempo, sua

concentração melhorou e sua voz foi sendo trabalhada. Num determinado

ensaio ela gritou: “A nota saiu do alto de minha cabeça. É como se fosse uma

caixa acústica.”. Entre o susto e a admiração, Déa ficou empolgada. Depois

disso, se tornou uma coralista ativa e queria cada vez mais desafios sonoros.

O Sr. Sandro tinha problema de afinação, mas seu esforço era visível,

sendo acolhido pelo grupo. Num dos ensaios, tomado de emoção, encontrou

campo fértil para falar de sua verdadeira intenção. Separado da mulher, tinha

pouco contato com seu filho, que era músico. Sendo assim, participar do coral

era mais do que uma atividade, era se sentir ligado ao filho através da música.

Após isso, ele desejou participar do grupo em outro nível. Foi estudar música

num conservatório e passou a acompanhar seu filho nos shows, estreitando

ainda mais sua ligação com ele. Para ele, o coral foi o espaço para expressar

suas emoções e propiciar seu crescimento como pai.

44

O repertório do CMORJ é rico em texturas, formas e ritmos. Ele varia

entre o erudito, o sacro, o popular, o folclórico e o étnico. Nesse último quesito,

como visto no primeiro capítulo, há consonâncias díspares daquelas as quais

estamos acostumados. É de se estranhar a preferência desse tipo de música

por um de nós, que somos criados dentro da cultura clássica ocidental. Porém,

ela se mostra a preferida de Ângela e de Rafaela que se empolgam ao cantar

em outros ritmos e dialetos. Apesar dessa preferência não ser unânime entre o

grupo, todos os coralistas respondem bem a certas dissonâncias, como se já

estivessem acostumados com as diferenças.

Nesse ponto, alguns falam com orgulho das novas experiências, como

é o caso do Sr. Casemiro. Ele diz, freqüentemente, para as pessoas com quem

se relaciona que canta vários tipos de música e em vários idiomas e que nunca

havia pensado que, a essa altura de sua vida, iria “virar poliglota”. Exageros a

parte, mas com a auto-estima bem alta, o Sr. Casemiro se empolga a cada

novo desafio de aprendizado lingüístico. Nesse aspecto, podemos citar Márcia

Victorio: “Há indícios de que algumas funções musicais e lingüísticas são

mediadas por substratos neurais comuns, como é o caso da sintaxe presente

na música e na fala humana.” (VICTORIO, 2008, p.24). Voltando ao Sr.

Casemiro, ele relatou: “desde aos 17 anos de idade já gostava de músicas

clássicas, no coral aprendia variações de músicas”. Ele também fala das

mudanças de comportamento após sua entrada no coral, segundo ele: “Eu fui

muito tímido quando jovem. Tinha vergonha em me expressar em público”.

Atualmente, o Sr. Casemiro lida muito bem com o público, sendo difícil, hoje,

acreditar que um dia ele foi tímido. Para ele, o canto coral: “me traz muita paz

interior. Para mim uma terapia agradável. /.../, pois me sinto muito bem após o

canto.”.

Para Nair o maior aprendizado que o coral promoveu em sua vida foi a

tolerância e segundo ela, o canto coral: “Me da muita paz de espírito”. O

mesmo foi enfocado por Eva, quando fala o quanto mudou após seu ingresso

45

no coral: “Muito, principalmente com as outras pessoas” e completa: “Um

aprendizado de vida”.

No capítulo anterior vimos os mitos e o poder mágico atribuído à

música pelos ancestrais de várias culturas. Temos a história de Márcia, que

entre outros aspectos, pode ser enquadrada sobre esse ângulo. Márcia estava

em processo de separação quando chegou ao CMORJ. Fragilizada

emocionalmente, tinha momentos que sua voz ficava embargada. A música,

principalmente o canto, serviu para exteriorizar o que se passava no seu

interior e que na linguagem comum não conseguia externar. Para ela, a música

tem um poder mágico de fazer as coisas voltarem ao normal. Ela disse: “A

felicidade é passageira e vem algumas ondas de tristezas, se acontece isto, eu

canto, e tudo volta ao normal.”. O canto coral para ela: “ajuda a transmitir

sentimentos que evolui espiritualmente. /.../ não consigo mais viver sem ele, é

a sustentação de alegria para a vida.”. Apaixonada convicta pelo coral, Márcia

assim relatou sobre essa prática:

“A música me trouxe uma grande felicidade interior eu me sinto quase o tempo inteiro da minha vida feliz, para muitos a felicidade não existe ela tem apenas momentos feliz, eu desafio esta teoria, a tristeza passa em minha vida como reflexo, ela não fica, quando fico triste eu canto, eu escuto uma boa música de preferência do coral, e a tristeza vai embora.”

A música tem o poder que cada um lhe confere, mas certamente ela

atua em nossa mente e corpo com a força de nossas emoções, propiciando o

conhecimento das causas de nossos conflitos e gerando a mudança de nossos

valores.

Laís e André, mãe e filho, resolveram entrar para o coral. Os conflitos

no lar eram freqüentes e a separação do casal era iminente. André sofria com

a situação e dava total apoio a sua mãe. Não demorou muito e Laís começou a

apresentar sintomas físicos, resultado do stress gerado pela situação. Um dia,

46

André chegou ao ensaio falando que descobrira um modo para melhorar sua

mãe nas crises. Contou que ela havia passado mal na noite anterior e, sem

pensar duas vezes, cantou uma das músicas que faz parte do repertório do

coral. Segundo ele, era como se o ambiente fosse clareando e sua mãe

ganhou forças para levantar e seguir sua vida. Tal testemunho foi ratificado por

Laís que estava mais forte e decidida que outrora.

As práticas do coral envolvem o corpo, como: a voz, a coordenação

motora, a respiração, a audição, o relaxamento corporal e os cuidados com o

próprio corpo uma vez que, todo o nosso organismo vibra e somos

responsáveis pelo som que emitimos. A mente é desenvolvida através da

concentração, da percepção, da memorização, da linguagem musical, da

lingüística das letras das músicas e assim por diante. O espírito também é

desenvolvido através das emoções que vêm à tona por meio de certas músicas

e suas expressões. A hora do fazer musical é o momento que os coralistas têm

para externar seus sentimentos. Além disso, alguns comportamentos éticos

são passados entre seus praticantes como um virtuoso contágio, tais como:

disciplina, ordem, amizade, altruísmo, solidariedade, sinceridade e outros.

Cada um sabe que não pode brilhar sozinho, o brilho tem que ser coletivo, do

tipo: “para eu brilhar, meu colega tem que brilhar”. Um ensina ao outro, que

pratica com o outro, que ajuda o outro, que ouve o outro, ... Forma-se assim,

um elo entre as pessoas, elevando ainda mais seus espíritos na direção do

self. Pode-se dizer que, o coral é como um vício, uma vez adquirido, a sede de

seus praticantes os impele a querer sempre mais.

47

CONCLUSÃO

A música é uma forma de expressão em potencial e ligada à prática do

canto coral, onde a voz humana é o instrumento perfeito para a manifestação

da interioridade do ser humano, essa potencialidade se torna superior.

Ao observarmos as nuances de uma voz no momento do canto,

podemos notar as emoções que estão sendo afloradas naquele momento. É

como se abrisse um caminho para o descobrimento e a significação dos

conteúdos psíquicos do ser. E estando em meio a um grupo que tem um

objetivo em comum, dentro de um trabalho e esforço coletivo, o indivíduo

encontra a situação propícia para aceitar suas descobertas e promover

mudanças em sua vida.

Além disso, essa atividade colabora, através dos exercícios de

relaxamento, respiração e afinação e o ato de cantar, para o bem estar

corpóreo, incluindo o cérebro, como vimos em alguns casos. Assim, a trilogia

corpo, mente e espírito se torna una com o ser na busca de sua individuação.

Sendo o grupo estudado amador, sem fins terapêuticos ou sociais,

misto e aberto ao público, podemos afirmar que a hipótese dessa monografia

se confirmou, dentro dos padrões acima citados. O mesmo pode ou não

ocorrer com coros profissionais ou mesmo amadores que tenham outros fins

ou sigam outros princípios, podendo ser alvos de novos estudos.

Portanto, dentro das situações apresentadas, podemos dizer que o

canto coral melhora a qualidade de vida de seus praticantes.

48

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53

ÍNDICE

FOLHA DE ROSTO 2

AGRADECIMENTO 3

DEDICATÓRIA 4

RESUMO 5

METODOLOGIA 6

SUMÁRIO 7

INTRODUÇÃO 8

CAPÍTULO I

A CULTURA MUSICAL 11

1.1 - A Música no Mundo 12

1.2 – Breve Histórico Sobre O Canto Coral 22

CAPÍTULO II

ENTENDENDO A MÚSICA 26

2.1 – Os Mitos e Lendas da Música 27

2.2 – A Atuação da Música na Psique 30

2.3 – Como a Música Se Processa no Cérebro 34

CAPÍTULO III

O CANTO CORAL NA VIDA DE SEUS PRATICANTES 38

CONCLUSÃO 47

BIBLIOGRAFIA CONSULTADA 48

ÍNDICE 53

54

FOLHA DE AVALIAÇÃO

Nome da Instituição:

Título da Monografia:

Autor:

Data da entrega:

Avaliado por: Conceito: