UNIVERSIDADE CÂNDIDO MENDES CURSO DE PÓS … · pode-se verificar que a Orientação Educacional...
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UNIVERSIDADE CÂNDIDO MENDES CURSO DE PÓS-GRADUAÇÃO ‘LATO SENSU’ ADMINISTRAÇÃO E SUPERVISÃO ESCOLAR ORIENTAÇÃO EDUCACIONAL NA EDUCAÇÃO DE JOVENS E ADULTOS Por: Adélia Cristina Canella Orientador: PROFº. Nilson Guedes de Freitas Niterói, 2009
UNIVERSIDADE CÂNDIDO MENDES CURSO DE PÓS-GRADUAÇÃO ‘LATO SENSU’ ADMINISTRAÇÃO E SUPERVISÃO ESCOLAR Por: Adélia Cristina Canella ORIENTAÇÃO EDUCACIONAL NA EDUCAÇÃO DE JOVENS E ADULTOS Monografia apresentada à Universidade Cândido Mendes – INSTITUTO A VEZ DO MESTRE – requisito à obtenção do grau de Especialista em Administração e Supervisão Escolar. Orientador: Profº. Nilson Guedes de Freitas Niterói, 2009
Canella, Adélia Cristina Orientação Educacional na educação de jovens e adultos / Adélia Cristina Canella; orientador Profº. Nilson Guedes de Freitas, Niterói, RJ: UCAM, 2009. Monografia (pós-graduação) – Universidade Cândido Mendes, Projeto A Vez do Mestre, 2009.
1. Orientador. 2. Educação. 3. Jovens e Adultos. Freitas, Nilson Guedes de.
AGRADECIMENTOS A minha família pelo carinho e apoio em todos os momentos difíceis. Às minhas amigas de equipe, que não me deixaram ficar no meio do caminho, fazendo acreditar que a amizade é uma espécie rara, mas ainda existe. E não menos importante, a Deus e Nossa Senhora que me protegeram todo o tempo mostrando que os obstáculos foram feitos para serem vencidos. Obrigada meu Deus! Pela minha família e minhas amigas.
DEDICATÓRIA Aos meus pais, por abdicar de suas vidas pela minha. A Fernanda Rigo, por ser essa pequena e grande amiga que esteve ao meu lado em todos os momentos. A vocês dedico esse trabalho. Obrigada por tudo.
SUMÁRIO
INTRODUÇÃO.......................................................................................... 2
CAPÍTULO 1 – A ORIENTAÇÃO EDUCACIONAL E O DESENVOLVIMENTO
EDUCACIONAL ............................................................................................... 4
1.1 – A ORIENTAÇÃO EDUCACIONAL E A EVOLUÇÃO DAS DIFERENTES
TENDÊNCIAS EDUCACIONAIS ................................................................ 8
CAPÍTULO 2 – EDUCAÇÃO DE JOVENS E ADULTOS: UMA VISÃO
HISTÓRICA ..................................................................................................... 13
2.1 – A HISTÓRIA DE EDUCAÇÃO DE JOVENS E ADULTOS .................... 13
2.2 – O ENSINO-APRENDIZAGEM DE JOVENS E ADULTOS NO BRASIL..16
2.3 – O PAPEL DO PROFESSOR ...................................................................18
CAPÍTULO 3 – A ORIENTAÇÃO EDUCACIONAL NA EDUCAÇÃO DE
JOVENS E ADULTOS...................................................................................... 21
3.1 – SONDAGEM ........................................................................................... 23
3.2 – AS RESPOSTAS .................................................................................... 24
CONCLUSÃO .................................................................................................. 28
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ............................................................... 29
INTRODUÇÃO
Apesar de estarmos no século XXI a questão da Educação de Jovens e
Adultos (EJA) é ainda alvo de discussão na educação. A partir desta
constatação desenvolvemos este trabalho monográfico que abrange capítulos
teóricos para subsidiar posteriores estudos e uma sondagem da prática
pedagógica e da ação do Orientador Educacional (OE) em turmas de EJA.
Portanto, esse estudo contribuirá para um repensar do educador e do papel do
Orientador Educacional que atuam nas classes da EJA, fazendo-os refletir
sobre suas práticas para que ajudem na formação de cidadãos conscientes de
seu papel na sociedade.
Seja qual for o motivo que a Educação tome na fundamentação teórica,
pode-se verificar que a Orientação Educacional se associa em analisar o
processo de ensino e aprendizagem na EJA, da mesma forma que as
características da Educação acompanham um perfil que determinada época lhe
atribuiu, de igual modo ao interagir com os demais tem a possibilidade de
contribui coletivamente para a produção de um conhecimento além do
conhecimento próprio da Orientação Educacional.
Assim se discute a evolução da Orientação Educacional, relacionando-a
a inclusão do aluno da EJA já que esta modalidade se constitui numa forma
especial de educação. As adequações nos currículos, nos recursos utilizados,
nos métodos de avaliação, sobretudo o maior número de professores e
profissionais especializados para atender as diferentes necessidades dos
alunos e evitar as dificuldades são colocadas em prática com a colaboração do
OE.
Hoje o comprometimento da Orientação Educacional está mais
abrangente, é vista como uma prática a ser exercida dentro da escola,
participando no processo da construção do ensino-aprendizagem. Está
relacionada a uma dimensão coletiva que favorece o desenvolvimento do
aluno. O Orientador tem por objetivo, portanto, particular em seu papel
cotidiano o currículo, a sociedade, os pais, a escola e a vida, auxiliando as
relações que se estabelecem no âmbito escolar.
A metodologia de pesquisa no levantamento bibliográfico, leitura de
autores que desenvolveram pesquisas que perpassam a temática em estudo, a
fim de basear teoricamente todo o trabalho monográfico caracterizando-o como
pesquisa qualitativa e descritiva. Na pesquisa de campo foi realizado contato
com um professor e um orientador educacional que atuam em uma Escola
Pública Municipal de São Gonçalo.
No entanto, para oferecer uma educação de qualidade para a vida,
conforme indicam as Diretrizes Curriculares Nacionais, é preciso levar em
consideração a quem se destina o ensino, os cursos e/ou currículos e acima de
tudo, que tipo de indivíduo formar para atender a sociedade que funciona como
uma “roda viva”, que nunca pára. Para discutir tais questões realizamos este
estudo em três capítulos.
Os capítulos abordam os seguintes assuntos: A Orientação Educacional
e o Desenvolvimento Educacional, destacando a história e as tendências
educacionais; Educação de Jovens e Adultos em uma visão histórica discutindo
a aprendizagem e o papel do professor de EJA; A Orientação Educacional na
Educação de Jovens e Adultos, respectivamente.
Para o desenvolvimento da discussão nossa reflexão fundamenta-se em
Grinspun (2006), Freire (1996; 1999) e outros.
CAPÍTULO 1 – A ORIENTAÇÃO EDUCACIONAL E O
DESENVOLVIMENTO EDUCACIONAL
O capítulo tem por objetivo recorrer à trajetória histórica da Orientação
Educacional, analisando sua prática no processo educacional a ração de sua
conceituação ter sofrido um processo evolutivo ao longo da própria história da
educação. À medida que a Orientação passou do campo específico da
psicologia para uma abordagem mais pedagógica uma configuração própria, de
acordo com os princípios que ela busca alcançar: “É perceptível que a
Orientação está cada vez mais junto como um todo, na busca das finalidades
de um projeto político-pedagógico formulado para a escola, em favor de seus
próprios alunos”. (GRINSPUN, 2006, p.21)
Ao buscarmos o conceito etimológico de educação, encontramos em
Grinspun (2006) os vocábulos latinos, tanto em educare, como em educere, as
fontes iniciais da origem histórica da própria Orientação; assim é que em
educare temos o guiar, nortear, orientar o indivíduo; e em educere, o buscar as
potencialidades do indivíduo, no sentido de fazê-las vir de “dentro para fora”.
Identificamos então uma estreita relação da Orientação com a educação.
A trajetória da Orientação Educacional tem início pela área da
Orientação Vocacional, sendo todo seu procedimento voltado para a escolha
de uma profissão ou ocupação. Ela surge no contexto mundial como fruto de
movimentos da época, que fizeram eclodir tal prática. São os movimentos em
prol da psicometria, da revolução industrial, da saúde mental e das novas
tendências pedagógicas que impulsionam a Orientação Educacional,
orientando seus alunos fora do sistema educativo formal:
Em todos os países que implantam a Orientação Educacional nas escolas, ou menos fora delas, a característica marcante era a Orientação Vocacional. A concepção que a Orientação Educacional tinha configurava-se no aconselhamento que Marcou significativamente toda sua trajetória. (GRISPUN, 2006, P.21).
Em relação à organização escolar, Grispun diz que ela surge, nas
escolas, em 1912, em Detroit, nos Estados Unidos, através de Jessé Davis,
mas sua característica básica era atender à problemática vocacional e social
dos alunos de sua escola.
No Brasil, a Orientação Educacional, recebeu, em sua implantação, uma
grande influência da orientação americana, em especial o “counseling”
aconselhamento, e da Orientação Educacional francesa, nos moldes
americano ou europeu, começam a ser estruturados aos serviços de orientação
as escolas, cuja experiência pioneira é de Aracy Muniz Freire e de Maria
Junqueira Schmidt, no Colégio Amaro Cavalcanti, no Rio de Janeiro, em 1934.
O Brasil foi o primeiro país no mundo a ter Orientação Educacional
proclamada obrigatória, ela aparece na década de 20, quando também surge
todo o movimento em prol da educação do povo. O governo estava interessado
em dar Educação para todas as pessoas.
De um lado, tínhamos o “interesse do governo” em promover a
escolarização de seu povo; do outro, intelectuais, no poder assumindo as
reformas educacionais em seus Estados. Foi sendo configurado um ambiente
propício à Orientação, enquanto ela poderia tanto contribuir para a melhoria da
educação de seu povo, quanto ter um lugar certo nas reformas que começam a
surgir no país, uma vez que os moldes importados tinham grande receptividade
entre nós.
Na década de 30 surge o movimento dos educadores que reagiram ao
desinteresse político pela educação. O “Manifesto dos Pioneiros” de 1932,
significativo à implantação da orientação. Dois anos após a divulgação do
Manifesto dos Pioneiros da Educação Nova, a Associação Brasileira de
Educação (ABE) ofereceu um curso de Extensão sobre a Orientação
Educacional, aberto a professores interessados em realizar Orientação
Educacional. Nesse curso, teve como professor, dentre outros, Lourenço Filho,
Capanema, Faria Góes e Abgar Renault.
Por este motivo histórico, político e econômico, a década de 80
apresenta grandes mudanças, avanços, recuos e contradições. Os
orientadores, principalmente através de seus órgãos de classe, começam a
buscar respostas para suas indagações, a partir dos questionamentos sociais,
assumem um papel mais político e mais comprometido com as causas sociais
e fora de escola. Grinspun (2006, p.29) assim define o seu papel:
O papel do orientador está relacionado com a mudança social, através do questionamento do modo de perceber o mundo, da valorização dos conteúdos que serão transmitidos aos alunos instrumentos que lhe permitem transformar a sociedade. O orientador tem que se posicionar em relação a seu trabalho e sua atribuição, dentro e fora da escola.
Nas recomendações do IX Congresso Brasileiro de Orientação
Educacional, realizado em Florianópolis, em 1986, a autora conclui que o
orientador, a partir de então, deveria ter uma linha de trabalho que colocasse
as questões sociais, econômicas, políticas e culturais como pontos
fundamentais para sua prática.
Assim, o início da década de noventa apresenta uma nova situação para
os Orientadores Educacionais citada por Grinspun (2006): a extinção da
Federação Nacional de Orientadores Educacionais (FENOE) em 1990,
entidade criada em 1966, em Porto Alegre, no II Encontro Nacional de
Orientadores Educacionais. A autora registra em seu estudo que a maioria dos
orientadores presentes ao Congresso Extraordinário de Orientação
Educacional entendeu que deveria ser formado um sindicato único, em que
direitos e lutas fossem definidos e incorporados na mesma entidade que
reunisse os trabalhadores da Educação: a CNTE (Confederação Nacional dos
Trabalhadores da Educação). No Rio de Janeiro foi criado a ASFOE
(Associação Sul Fluminense de Orientadores Educacionais), com sede no
município de Vassouras.
Atualmente, o trabalho do Orientador, é muito mais abrangente, no
sentido de sua dimensão pedagógica. De caráter mediador junto aos demais
educadores, atuando com todos os protagonistas da escola no resgate de uma
ação mais efetiva e de uma educação de qualidade nas escolas. Este
profissional está comprometido com a formação da cidadania dos alunos,
considerando, em especial, o caráter da formação da subjetividade.
A concepção de Orientação Educacional deve, de acordo com Grinspun
(2006), estar comprometida com:
- A construção do conhecimento, através de uma visão da relação sujeito-objeto, em que se afirma, ao mesmo tempo, a objetividade, esta considerada como um momento individual de internalização daquela; - A realidade concreta da vida dos alunos, vendo-os como atores de sua própria história; - A responsabilidade do processo educacional na formação da cidadania, valorização as questões do saber pensar, saber agir e saber falar na própria pedagógica;
- A atividade realizada na prática social, levando-se em consideração que é prática que provém o conhecimento, e que se dá como um empreendimento coletivo; - A diversidade da educação, questionando valores pessoais e sociais, submersos nos atos da escola e da decisão do indivíduo; - A construção da rede de subjetividade que é tecida em diferentes momentos na escola e por ela; - O planejamento e a efetivação do projeto político-pedagógico da escola em termos de sua finalidade, considerando os princípios que o sustenta, portanto, a filosofia de educação, que o fundamenta, e as demais áreas que o articulam. O principal papel da Orientação será ajudar o aluno na formação de uma
cidadania crítica, e a escola, na organização e realização de seu projeto
político-pedagógico. Isso significa ajudar o aluno “por inteiro”: com utopias,
desejos e paixões. A Orientação trabalha na escola em favor da cidadania.
A Orientação Educacional deve buscar os subsídios, a fundamentação
teórica específica de sua área, bem como os conhecimentos necessários para
o entendimento desse novo tempo que vive a sociedade e, portanto, a própria
Educação.
1.1 – ORIENTAÇÃO EDUCACIONAL E A EVOLUÇÃO DAS
DIFERENTES TENDÊNCIAS EDUCACIONAIS
As características da Educação acompanham o perfil que determinada
época ou categoria lhe atribui, identificamos, na Orientação Educacional, em
igual procedimento associando-se a uma ou outra tendência educacional. Para
Grinspun (2006), a Orientação Educacional procura compreender a teoria e a
prática em uma relação de mútua dependência e reciprocidade. Busca a
Orientação, ajudar na construção de uma prática emancipatória, tendo, na
teoria, a função de mediação, buscar os meios necessários para que a escola
cumpra seu papel de ensina/educar, promovendo as condições básicas à
formação da cidadania dos alunos. Fica evidente na evolução teórico-prática da
educação brasileira, que o modelo formado para sua concepção – durante
longo período histórico do país – é que a escola tinha o papel de ensinar o
aluno, a ele, portanto, o de aprender.
A profissional dialética as relações e vê o aluno como um ser real,
concreto e histórico. A partir do conhecimento do aluno é que é elaborado o
projeto político-pedagógico da Escola, no qual a Orientação tem um papel de
destaque e relevância.
O OE como educador assume-se como ser político, percebendo a
Educação como parte do contexto sócio-econômico-político-cultural.
Basicamente, nas tendências contemporâneas da Educação, em uma visão
progressista, temos como papel a orientação, segundo Grinspun (2006, p.55 e
56):
- Na tendência libertadora o papel é levar os educandos a compreender o papel vivido até chegar a um nível mais crítico do conhecimento de sua realidade, valorizando a questão da prática social. O diálogo é uma abordagem pela Orientação, assim como as questões problematizadoras trabalhadas nos grupos de discussão. O orientador caminha junto com o aluno, procurando fazê-lo mais participante de seu grupo em um dimensionamento político de sua formação de cidadão.
- Na tendência libertária, o papel é com o institucional, valorizando a vivência grupal na forma de autogestão. O orientador é um catalisador e se mistura ao grupo para uma reflexão em comum; ele ajuda o professor em sua função de conselheiro ou instrutor – monitor à disposição do grupo. As relações de poder são discutidas com os alunos, uma vez que a pedagogia libertária recusa qualquer forma de poder ou autoridade.
- Na tendência crítico-social dos conteúdos, o papel é junto à escola, preparando o aluno para o mundo e suas contradições, fornecendo-lhe instrumental, por meio da aquisição de conteúdos e por meio da socialização, para uma participação organizada e ativa na democratização da sociedade. O orientador atua como mediador, auxiliando a relação pedagógica da escola e promovendo as condições para que professores e alunos a efetivem.
Hoje, não mais por imposição legal, até porque a Lei de Diretrizes e
Bases de Educação Nacional, LDB nº 9394/96, não traz mais a obrigatoriedade
da Orientação, mas por efetiva consciência profissional, o orientador tem
espaço próprio junto aos demais protagonistas da escola para um trabalho
pedagógico integrado, compreendendo criticamente as relações que se
estabelecem no processo educacional. O orientador, mais do que nunca, deve
estar no trabalho coletivo da escola, atuando harmoniosamente com os demais
profissionais da Educação; o trabalho deve ser interdisciplinar, onde o currículo
deve ser construído por todos, e onde a interdisciplinaridade deve ser buscada,
para uma melhor compreensão do processo pedagógico da escola.
Entre tantos estudiosos, Grinspun (2006) cita Lefebvre, Michael de
Certeau, Maffesolie Heller que contribuíram para entender o dia-a-dia da
escola: o cotidiano escolar apresenta a natureza das práticas, das ações
desenvolvidas/realizadas em seu interior e, na medida em que conheço essa
realidade, passo a entender melhor as decisões que a escola efetiva através de
seus diferentes protagonistas, envolvendo não só as questões do currículo
escolar, do projeto-político-pedagógico, mas também todas as questões da
relação de poder, de saber, de afeto, de emoção, etc., que em determinado
tempo/espaço fazendo parte da vida do aluno/professor.
No cotidiano escolar desvela tudo aquilo que ocorre em seu contexto,
como forma de traduzir, de efetivar as práticas sociais que são do domínio de
todos e que são colocados em processo no dia-a-dia da escola. Ele não tem
uma linearidade, embora a rotina dele faça parte, assim com certa
hierarquização de tarefas e procedimentos. Há de se pensar, também, que nele
existem esquemas de resistência, e que às vezes a homogeneidade de suas
ações se dá por falta de compreensão e de aceitação das diferenças.
Não se vive o cotidiano como um contínuo de práticas na sociedade,
negociadas pelas inúmeras formas de se manter nela; há que se buscar
entender como é produzir essas práticas; então, o Orientador Educacional
reflete sobre esse cotidiano, procurando:
- Desvelá-lo, trazendo à tona o que está oculto, menosprezando ou alienando; - Analisá-lo, priorizando o que, para o indivíduo, é o essencial, o relativo, o particular, o coletivo, o duradouro, o efêmero, o transformador, o ameaçador, etc; - Relacioná-lo com os outros cotidianos com os quais o indivíduo convive. Estou mencionando e caracterizando o cotidiano escolar, mas temos outros também: o familiar, o dos amigos, o do trabalho, o da religião, o pessoal, etc; - Discuti-lo, interrogando sobre as determinações e obrigações, sobre as ambigüidades, sobre as diferenças e desigualdades;
- Compreendê-lo, contextualizando a trama das relações que dele provêm e os dramas que ele pode nos provocar se não tivermos a consciência de que em parte somos também responsáveis pelo cotidiano escolar; - Visualizá-lo, identificando o aproveitamento do espaço/tempo em que ocorre da mesma forma como acontecem as tomadas de decisão da escola.
Este espaço do cotidiano, além de privilegiado pela vivência, pode
produzir o que os outros esperam que aconteça ou pode transformar o que os
outros acreditam que não seria possível acontecer. Se o cotidiano, como diz
Cereal, citado por Grinspun (2006) é um espaço estratégico de usos e táticas,
eu diria que, para a Orientação, o cotidiano escolar é a arte de ouvir e de saber
agir para melhor se disponibilizar para o outro e para a instituição.
A partir do momento em que se torna clara a natureza do trabalho
coletivo na escola, tentamos identificar algumas possibilidades de trabalho do
orientador junto a cada um dos segmentos da escola. Segundo Grinspun
(2006, p.111-113):
- Junto ao aluno: auxiliá-lo através de uma prática pedagógica que estimule sua participação, desenvolvendo sua capacidade de criticar e fundamentar sua crítica, de optar e assumir a responsabilidade de suas escolhas, de participar do planejamento, da execução e da avaliação do trabalho pedagógico. No processo de participação, o aluno vai compreender a força das ações coletivas e a fragilidade das ações individuais e, nesse sentido, o orientador poderá estimular os grupos de trabalho, a participação nos grêmios diretórios, enfim, estimular ações que se comprometam mais com o social. Na medida em que o aluno vai construindo sua personalidade, enquanto participa do processo pedagógico, ele terá possibilidade de construir sua identidade pessoal, grupal, de classe, de nacionalidade, de auto-conceito positivo, de conhecimento de si, do outro e do mundo. - Junto ao professor: colaborar e participar de construção do projeto político-pedagógico da escola, principalmente através de seu currículo. Trabalhando junto dos professores, através de uma reflexão crítica da prática-pedagógica, o Orientador procurará contribuir para a discussão da realidade dos alunos, das finalidades do processo pedagógico, do sistema de avaliação, das questões da evasão e repetência escolar, dos recursos físicos e materiais de que a escola dispõe das metodologias empregadas, enfim, sobre as questões técnico-pedagógicas da escola. - Junto à direção: colaborar com a direção significa estar junto tanto nas decisões tomadas pela direção, como a obtenção de dados inerentes aos aspectos administrativos. O Orientador deve participar da organização das turmas, dos horários, da distribuição dos professores em turmas, do número de alunos em sala de aula, dos horários da merenda, da recreação, das atividades
complementares, da matrícula, enfim de toda a prática que organiza a infra-estrutura da escola. - Junto aos funcionários da escola: colaborar na valorização de suas tarefas, considerando-as necessárias ao bom desenvolvimento da organização da escola, sejam eles inspetores, funcionários da secretária, merendeiras, serventes, trabalhadores da cantina, jardineiros, porteiros, etc. O orientador deve procurar trabalhar a auto-estima, a identidade profissional, e suas atribuições para o funcionamento da escola. - Junto aos pais e a comunidade em geral: trazer os pais à escola constitui uma das atividades do orientador. Ele faz com que eles participem do projeto dela de diferentes formas, desde o planejamento do projeto pedagógico até as decisões que a escola deve tomar.
Orientador Educacional deve, portanto, procurar se envolver com a
comunidade, resgatando sua realidade sócio-econômico-cultural como meio de
contribuir pra a adequação curricular, tendo em vista a transformação da escola
e da sociedade.
Assim o profissional que atua no setor de orientação deve trabalhar com
um planejamento participativo, sempre voltado para a concepção crítica. Um
diálogo entre as comunidades das disciplinas teóricas e das disciplinas práticas
permitirá a busca dessa concepção crítica.
Compreendo a importância do Orientador Educacional ao atuar com os
segmentos de ensino considera-se pertinente pensar a natureza do seu
trabalho atuando na modalidade de ensino Educação Jovens e Adultos. Assim
o próximo capítulo aborda a questão do ensino visando apresentar o OE na
EJA.
CAPÍTULO 2 – EDUCAÇÃO DE JOVENS E ADULTOS: UMA
VISÃO HISTÓRICA
O capítulo propõe apresentar a EJA quanto à sua trajetória identificando,
também, a atuação do OE nesta modalidade de ensino, o que será abordado
no terceiro capítulo.
2.1 – A HISTÓRIA DA EDUCAÇÃO DE JOVENS E ADULTOS
Freire (1999) diz que definimos erroneamente a EJA. Por isso, é
necessário conhecer um pouco a história dessa modalidade de ensino. O termo
Educação de Jovens e Adultos em relação ao não-formal tem sido
popularizado principalmente por organizações internacionais – UNESCO –
referindo-se a uma área especializada da educação. No entanto, existe uma
diversidade de paradigmas dentro da EJA.
A EJA tem estado a partir da Segunda Guerra Mundial, a cargo do
estado, muito diferente da educação não-formal, que está vinculada a
organizações não governamentais.
Até a Segunda Guerra Mundial, a educação popular era concebida como
extensão da educação formal para todos, sobretudo para os menos
privilegiados que habitavam as áreas das zonas urbanas e rurais.
Para Freire o passo seguinte foi dado pelo MEC quando instituiu um
grupo de trabalho para definir a política do Ensino Supletivo e propor as bases
doutrinárias da Vanir Chagas. O Ensino Supletivo foi apresentado como um
princípio inesgotável de solução para ajustar, a cada instante, a realidade
escolar às mudanças que se aprovem em ritmo crescente no país e no mundo.
A estrutura de Ensino Supletivo, após a LDB de 1971, seguiu a
orientação expressa na legislação de procurar suprir a escolarização regular
daqueles que não tinham oportunidades anteriormente na idade própria. As
formas iniciais de atendimento a essa prerrogativa foram os exames e os
cursos. O que até então era a “madureza” passou ao controle do estado, foi
redefinido e se transformou em Exames Supletivos. A novidade trazida pelo
Parecer nº. 699/72 estava em implantar cursos que dessem outro tratamento
ao atendimento da população que se encontrava fora da escola, a partir da
utilização de novas metodologias (BRASIL, CEF, 1972).
A Lei nº. 5692/71 concedeu flexibilidade e autonomia aos Conselhos
Estaduais de Educação para normalizarem o tipo de oferta de cursos supletivos
nos respectivos Estados. Isso gerou grande heterogeneidade nas modalidades
implantadas nas unidades da federação. Para implementar a legislação, a
Secretaria Estadual da Educação criou em 1975, o departamento de Ensino
Supletivo (DESU) em reconhecimento à importância que essa modalidade de
ensino vinha assumindo (BRASIL, MEC, LDB, 1974).
No Plano Nacional de educação, um dos objetivos e prioridades
afirmados:
Garantia de ensino fundamental a todos aos que não tiverem acesso na idade própria ou que não o concluíram. A erradica- cão do analfabetismo faz parte dessa prioridade, consideran- do-se a alfabetização de jovens e adultos como o ponto de partida intrínseca desse nível de ensino. A alfabetização des- sa população é entendida no sentido amplo de domínio dos instrumentos básicos da cultua letrada, das operações mate- máticas elementares, da evolução histórica da sociedade hu- mana, da diversidade do espaço físico e político mundial da constituição brasileira. Envolve, ainda, a formação de cida- dãos responsáveis e conscientes de seus direitos (BRASIL, (PNE, out.2006).
Considerando a própria realidade dos educandos, o educador
conseguirá promover a motivação necessária à aprendizagem, despertando
neles interesses e entusiasmos, abrindo-lhes maior campo para atingir o
conhecimento. Segundo Paulo Freire (1999) o jovem e o adulto querem ver a
aplicação imediata do que estão aprendendo e, ao mesmo tempo, precisam ser
estimulados para resgatar a sua auto-estima, pois sua ignorância lhes trará
ansiedade, angústia e complexo de inferioridade. Esses jovens e adultos são
tão capazes como uma criança, exigindo somente mais técnicas e metodologia
eficientes para esse tipo de modalidade.
Diante do exposto, é imprescindível falar também, da história de uns
principais expoentes nessa modalidade educacional que foi Paulo Freire, ao
abordar a educação popular comunitária, voltada para os jovens e adultos que
estão fora da faixa etária, procurando instruir a política como forma de suprir tal
demanda que outrora, encontra-se aquém, visto ser a educação um fenômeno
social capaz de mudar a realidade de um país.
2.2 – O ENSINO-APREDIZAGEM DE JOVENS E ADULTOS NO
BRASIL
A EJA está prevista na LDB 9394/96 e classificada como parte
integrante da educação básica, portanto deve ser encarada com o mesmo
compromisso presente no ensino fundamental. Todavia, um breve
levantamento já pode evidenciar as divergências na aplicabilidade deste
segmento escolar. Do ponto de vista pedagógico podemos destacar a falta de
profissionais habilitados para trabalhar com adultos, a falta de recursos
didáticos e, sobretudo, a falta de estratégias metodológicas direcionadas para
este público específico. São muitos os obstáculos encontrados por aqueles que
já tiveram alguma experiência na EJA. Apesar da importante função social
desempenhada por esta modalidade educativa, uma vez que se encarrega de
reparar as desigualdades causadas àqueles alunos do ensino regular (BRASIL,
MEC/LDB out.2006 p.15). Para Freire hoje é notável a expansão básica, e há
um quantitativo de vagas cada vez mais crescente, e a fim de fazer jus ao
princípio de obrigatoriedade ou toda criança na escola.
Entretanto, as condições sociais adversas acabam condicionando o sucesso de
muitos alunos. A média nacional de permanência na escola no período
obrigatório é de oito anos, todavia, a realidade se estende até 11 anos em
média, e muitos alunos permanecem no ensino fundamental, quando já deveria
estar cursando o ensino médio. As expressões mais claras desta realidade são
a repetência, a reprovação, e principalmente, a evasão. Ambas promovem a
manutenção da distorção idade e ano escolar, retardando o acerto no fluxo
escolar que continua a reproduzir excluídos. Neste contexto perverso, a
Educação de Jovens e Adultos em muitos casos se constitui na única
alternativa de inclusão social para os alunos que já estão fora do sistema de
ensino. Diante desta realidade novos métodos de ensino precisam ser
experimentados, novos conteúdos, novas estratégias. Os conteúdos
ministrados em sala de aula precisam estar de acordo com o padrão mínimo, e
ao mesmo tempo, estar sintonizados com as particularidades e especificidades
do lugar em que o ensino está sendo desenvolvido. Precisam ser oferecidas
condições para que os alunos possam construir suas idéias a partir de suas
experiências, tornando-se sujeitos aptos a conhecer diferentes épocas e
lugares, e poder compará-los com sua própria história de vida.
Os currículos do ensino fundamental e médio devem ter uma base
nacional comum, a ser complementada, em cada sistema de ensino e
estabelecimento escolar, por uma parte diversificada, exigida pelas
características regionais e locais da sociedade (Cap.2, Seção-I, Art.26,
MEC/LDB out.2006).
Para Freire (1999), saber que o conjunto de conhecimentos de ordem
prática jamais estará em pé de igualdade no interior de sua sociedade onde o
código escrito ocupa posição privilegiada. Todavia, os diversos saberes não
podem ser ignorados no processo de alfabetização, principalmente nos
processos de ensino-aprendizagem que tenham a humanização como princípio
já que a ausência de escolarização não pode e nem deve justificar uma visão
preconceituosa do analfabeto como inculto ou que seja apenas para tarefas
simplórias e atividades desqualificadas, negligenciando sua cultura e
capacidade de conhecimento prático.
O grande desafio é romper com os limites que restringem a atividade
escolar à mera repetição de conteúdos. Procurar a formação de propostas que
integram os conteúdos das diferentes disciplinas, diferentes abordagens na
explicação da realidade presente interna e externamente, à escola configura-se
o maior desafio a ser enfrentado. E isto equivale a selecionar as atividades que
serão desempenhadas pelos alfabetizados, que em sua maioria são: donas de
casa, pescador, pedreiro, pintor, etc. Cabe ao alfabetizador discutir a
importância do papel desempenhado por cada aluno na sua comunidade, ao
passo que estas atividades sejam incluídas no processo de alfabetização.
2.3 – O PAPEL DO PROFESSOR
Segundo Carrano (2000) estudiosos convergem quanto à importância do
professor ser qualificado para ensinar jovens e adultos. Além de dominar a
metodologia de ensino escolhida, o professor precisa ter a capacidade de
mobilizar e incentivar constantemente o aluno em sala de aula. A EJA desafia
não só educadores e os pesquisadores, mas, de modo muito especial, a todos
os gestores da educação em diversas esferas políticas, afirma o autor.
Carrano continua afirmando que é preciso que os educadores sejam e
estejam capacitados em nível inicial e comprometido com sua formação
contínua para o exercício de docência. Jovens e adultos buscam na escola a
sua inclusão social, carregando consigo patrimônio cultural que dê sentido às
suas vidas. A construção de um saber novo não se realizará com eficiência se
o educador não considerar a realidade desses educandos que é, não só
econômica, mas também social e, sobretudo cultural.
Cada sala de aula em que se encontra alunos desse nível de
modalidade estabelece-se um contexto novo. Este precisa ser conhecido,
analisado e sistematizado. Cabe aos gestores de educação criar condições
necessárias para que os educadores, coletivamente estudem e sistematizem
as realidades presentes. Isso exige tempo e espaço próprios, garantidos por
política que disponibilizem recursos financeiros e condições de trabalho
adequado ao tipo de escolarização. Diante disso, reforça-se que ações
pedagógicas são fundamentais para a execução do processo dos jovens e
adultos que necessitam avançar sua escolaridade e, consequentemente seu
aprendizado, considerando as condições sociais, históricas e culturais dos
sujeitos da alfabetização. Considerando que ninguém é analfabeto por eleição,
mas o é como conseqüência das condições objetivas em que transcorreu e
continua transcorrer em sua própria vida, o não domínio do ler e escrever
configura a situação de exclusão social a que está submetido o analfabeto.
Desta forma Carrano (2000) afirma que, o analfabetismo, comum até o século
XXI, continua a desfiar a educadores, gestores e poderes políticos no Brasil,
porque passou a ser inaceitável um flagelo que deveria ser eliminado em todas
as culturas. Se o conceito de analfabetismo do IBGE abrangesse todas as
questões relativas ao domínio da leitura e da escrita, o Brasil estaria na fase
final de superação da problemática. O termo analfabeto funcional passou a
caracterizar a todos aqueles que tiverem acesso à escolarização. Nesse caso,
os índices são muito maiores, já que dois terços da população brasileira maior
de 15 anos não têm as oito séries do Ensino Fundamental, nível de
escolarização que a Constituição Federal garante como direito a todos.
De modo geral, os alunos da EJA são tratados como uma massa de
alunos, como uma massa de alunos, sem identidade, qualificados sob
diferentes nomes, relacionados diretamente ao chamado fracasso escolar, a
atenção para o discurso escolar que os trata, como repetentes, evadidos,
defasados, deixando de fora dimensões das condições humanas desses
sujeitos, básicas para o processo educacional. Ou seja, concepção e proposta
de EJA comprometidas com a formação humana que passam,
necessariamente, por entender quem são os sujeitos e que processos de
Orientação Educacional deverão ser desenvolvidos para dar conta de suas
necessidades e desejos.
Ao se analisar a Educação de Jovens e Adultos, constata-se que, longe
de estar servindo à democratização das oportunidades educacionais, ela se
conforma no lugar dos que podem menos e também obtém menos, os olhares
sobre a condição social, política e cultural dos alunos da EJA têm condicionado
as diversas concepções da educação que lhes é oferecida. Os lugares sociais
a eles reservados – marginais, oprimidos, excluídos, têm condicionado o lugar
reservado a sua educação no conjunto das políticas oficiais.
Para se ter uma idéia da condição dos educadores de EJA, podemos
pensar sob as questões raciais. No Brasil, as desigualdades raciais são
também desigualdades sociais e ficam flagrantes quando examinamos os
dados relativos ao EJA, o pertencimento racial tem importância na estruturação
das desigualdades sociais e econômicas no Brasil. Os negros e pardos com
mais de 10 anos de idade têm menos anos de escolarização do que brancos,
sendo que na Região Norte, Nordeste e Centro-Oeste essas diferenças se
apresentam de forma mais aguda.
Portanto, a educação básica deverá propiciar aos alunos condições para
desenvolverem seus estudos de forma que possam inserir-se na sociedade
através do trabalho e do exercício da cidadania. A EJA precisa mudar, construir
estratégias de escolarização para a produção de oportunidades concretas,
influenciando as políticas destinadas especialmente aos educandos.
CAPÍTULO 3 – A ORIENTAÇÃO EDUCACIONAL NA
EDUCAÇÃO DE JOVENS E ADULTOS
O tema nos remete a questionar sobre a junção dessas duas etapas de
vida jovens e adultos em uma só modalidade de educação, entretanto o que se
refere ao assunto se justifica por ser uma questão de ordem funcional, que é a
de suprir uma educação que não lhes foi oferecida em tempo regular. Muito
embora aponte para uma questão sócio-cultural.
Dimensionando os termos jovens podem-se apontar significativas
afirmações, não se pode dizer que o jovem apresenta uma história de
escolarização regular, muito menos que buscou enriquecimento pessoal, ela
chega ao curso da EJA para cursar algumas séries do ensino fundamental;
ainda muito cedo assume responsabilidades da etapa da vida adulta como sua
inserção no mundo do trabalho e a construção de uma família.
No que diz respeito ao adulto que freqüenta a EJA, no âmbito da
educação ele não é o estudante universitário, tampouco o trabalhador bem
sucedido que freqüenta cursos de capacitação, visando aperfeiçoar seus
conhecimentos, na memória às vezes são pessoas oriundas de áreas
empobrecidas, possuidores de pouca escolaridade ou nenhuma, buscando a
escola tardiamente para alfabetizar-se ou cursar algumas séries iniciais.
Com base nesses conceitos, o trabalho da Orientação Educacional na
EJA é necessário estabelecendo uma relação de confiança, ajuda e respeito,
levando em consideração no que se refere ao educando da EJA; não se refere
a qualquer sujeito e sim um grupo particular, que apresenta características
próprias. São pessoas possuidoras de pouca ou nenhuma escolarização, que
foram excluídas do sistema escolar, e que precisam estar com auto-estima
fortalecida para recuperar sua identidade como cidadãos de direitos.
Alguns pontos são importantes para a Orientação Educacional:
autonomia, participação, responsabilidade, reflexão e solidariedade. Contribui
para a construção do sujeito no sentido de incluir na vida da sociedade todos
os seus alunos, diminuindo ou eliminando o fator exclusão. Colaborar para que
o espaço vivido na escola seja para o aluno um local de aquisição e
conhecimento e experiências de sentimentos. Procurando re-significar este
termo é importante que as pessoas se libertem de preconceitos que já estão
internalizados de forma incorreta: aos jovens é atribuída a idéia de
irresponsabilidade, de rebeldia, de manter-se alheio ao acontecimento. Aos
adultos atribui-se a idéia de “velho” ou “idoso”, assumindo a incapacidade de
executar tarefas e até mesmo de insanidade.
No momento em que o pensamento das pessoas modifica-se, novas
respostas aos questionamentos aparecerão, dando novo significado ao termo
jovens e adultos. É necessário que se aprenda a ver o mundo de uma outra
forma, que busque novas leituras, que não se sinta receoso de experimentar o
“novo”, colocando em prática esses desafios estaremos ampliando a nossa
visão.
Em face das transformações que vivem no mundo e que repercutem em
todas as instituições, o papel da OE é muito significativo, ao possibilitar o
indivíduo compreender e analisar esse mundo, favorecendo a interação com o
outro, e também ajudando ao desenvolvimento do processo da educação.
Por compreender o OE como um profissional que pode por meio de uma
proposta de ação mediadora, interferir na formação de jovens e adultos ao
desenvolver um trabalho de parceria e investimento na auto-estima dos alunos
da EJA, que realizamos neste estudo preliminar um contato com dois
profissionais que atuam com esta modalidade de ensino visando saber o que
pensam a respeito do OE na EJA.
3.1 – SONDAGEM
Realizamos durante a elaboração deste estudo um contato preliminar
com os sujeitos que atuam em uma escola pública municipal, localizada no
município de São Gonçalo, na modalidade Educação de Jovens e Adultos.
O contato com um professor e um orientador educacional visava como
ocorre a parceria desses profissionais diante dos alunos de EJA.
Elaboramos um questionário para cada um dos sujeitos contatados com
05 questões cada um, como pode ser identificado abaixo:
A) Questionário para o Professor.
1) Você fez alguma especialização para trabalhar na EJA?
2) O que você entende por EJA?
3) Você trabalha com a EJA fundamentada em algum posicionamento
teórico específico? Qual? Por quê?
4) Quais as dificuldades na prática profissional da EJA?
5) Uma das propostas da EJA é levar esse aluno a ter um pensamento
crítico e consciente, preparando-o para a vida? Qual é a participação do
OE nessa proposta colaborando com a sua prática pedagógica?
B) Questionário para o Orientador.
1) Há quanto tempo trabalha com OE? Trabalha em escola pública ou
privada?
2) Em sua opinião, qual o papel do OE?
3) Uma das propostas da EJA é levar esse aluno a ter um pensamento
crítico e consciente, preparando-o para a vida. Qual é a participação do
OE nessa proposta?
4) Qual é o papel do OE diante da evasão?
5) Qual é o papel diante da prática docente?
3.1.1 – AS RESPOSTAS
Foi realizado um contato individual com os sujeitos, professor e
orientador na escola municipal. No contato foi repassado qual é o propósito
do questionário solicitando a colaboração que prontamente a recebi de
ambos. No entanto, solicitaram que mantivéssemos o anonimato de seus
nomes e então passaremos a identificá-los com “P” , Professor e “OE” para
o Orientador Educacional.
Os profissionais atuam na mesma Instituição e vêem a discussão o
papel do orientador no trabalho docente como pertinente e necessário.
Quanto à formação, “P” não tem especialização para trabalhar no EJA.
Enquanto o “OE” trabalha já há 12 anos na área.
“P” entende que a educação de jovens e adultos normalmente é
procurada por pessoas que estão no mercado de trabalho e percebem ou
não tiveram a oportunidade, como também não se adequarem às
metodologias convencionais; e assim retornam à escola. Como trabalha no
SESI, “P” tem uma metodologia própria “SESI EDUCAR”, define como, “é
um apanhado de teóricos da educação, trabalhamos com turmas
multisseriadas, em grupos, sem reprovação e cada aluno administra o
próprio tempo.”
Ao analisar na prática profissional da EJA, “P” diz:
Não vejo dificuldades distintas do sistema convencional. Que mais temos de trabalhar é a auto-estima do educando que se sente sempre “fora” do tempo, ultrapassando (no caso os adul- tos), e os adolescentes/jovens sentem-se incapazes de apren- der depois foram reprovados no sistema dito convencional.
Afirma que uma das propostas da EJA é levar esse aluno a ter um
pensamento crítico e consciente, preparando-o para vida e quanto a isso
considera a participação do OE importante para a implementação do projeto
político-pedagógico colaborando assim com a sua prática pedagógica:
“sempre trabalhamos com projetos orientados pela OE, trabalhos que
desenvolvem questões de cidadania e sua prática, dessa forma buscamos a
criticidade dentro do ensino”. (“P”)
Para “P”,
O essencial do professo em sua turma é destacar que eles
querem aprender, ensinar não é uma coisa que caminha em
uma direção só, com o professor enchendo a mente do seu
aluno com conhecimentos, é um processo de ida e volta,
ambos aprendem um com o outro. Ensinar nunca é um pro-
cesso mecânico, pois todos somos diferentes, tudo é impre-
visível, você nunca pode prever com muita certeza que rumo
tomará a lição quando você entra na sala de aula.
É importante facilitar a integração desses alunos com os demais da
classe realizando atividades em grupo, dinâmica, incentivando-os de que
são capazes de realizarem tarefas mesmo sendo diferentes. Desta forma
“P” diz que contribui para o crescimento de auto-estima desses alunos,
fazendo com que todos aprendam com as diferenças tornando a educação
mais prazerosa.
Já o “OE” considera que o seu papel na implementação de tal proposta
se dá como “mediador principalmente dentro da escola, fazendo a interação
entre aluno e professor, família e equipe técnica pedagógica.”
Essa mediação e interação se aplicam quando realiza: “contatos por
telefonemas para a residência do aluno para trazê-lo para a escola
novamente: visitar as salas de aula, tentar incentivá-lo para permanecer na
escola, conversar e informar sobre o mercado de trabalho (...).”
Sabe, portanto, que essa dinâmica tem que ser diária porque está
constantemente frente à evasão do público que freqüenta a EJA. Diante dessa
questão, o OE diz que o seu papel,
É de acreditar que grande parte desse problema pode ser resolvido quando a escola vai além de apenas apresentar conteúdos e pro- vas. É preciso conhecer o público que trabalhamos, mas vivenciar um discurso e ao mesmo tempo não o praticarmos, deixando dessa forma de desempenhar nosso trabalho de qualidade, ficando nossos alunos em uma situação de defesa.
Para que isso ocorra considera que sua atuação diante da prática
docente é de “Responsabilidade ao convocar reunião com os pais, professores,
contatos com outras instituições, realizar a ponte direção e professores, além
de conversar com os alunos e sessão de classe.” (OE)
Assim o objetivo do trabalho do Orientador Educacional na escola onde
atua,
é de auxiliar o professor e o aluno no desenvolvimento do processo ensino-aprendizagem. Fazer a interação do aluno, pais e comunida- de com a escola, conscientizando os pais que a escola não é um depósito, mas um lugar onde se promove a educação e a socializa- ção do aluno com o meio. A parceria com a supervisão, colabora com idéias e sugestões, de- tectando as dificuldades, favorecendo a integração do professor
com o aluno e desenvolvendo projetos como palestras educativas com os familiares dos alunos que necessitam de uma atenção mais
específica. No exercício da minha função considero bastante positivo, o resul- tado de resgatar o aluno da sala de aula, participando da constru- cão de sua formação, de uma educação mais justa e de qualidade. Por isso, acredito que o OE deve se empenhar, lutar para fazer va- ler o reconhecimento do seu trabalho na escola.
Para um contato inicial com dois dos principais sujeitos que atuam em
escolas que têm modalidade de Jovens e Adultos considera-se que o
resultado foi positivo, pois confirma o que Grinspun (2006) afirma ao longo
de seu estudo e que compilamos no capítulo 1 desta monografia: o papel do
Orientador Educacional frente ao EJA significa estar em sintonia com o
perfil deste grupo de alunos, desenvolvendo projetos que os envolvam no
resgate de suas identidades.
CONCLUSÃO
Ao longo dessa pesquisa percebemos que OE pode ser um dos
profissionais que procurem o cenário da evasão na EJA, fazendo com que
essa clientela sinta-se acolhida e possa realizar seus sonhos que muitas
vezes é o próprio reconhecimento enquanto cidadão. A partir do momento
que ela tem lugar na sociedade e no mundo podem lutar pelos seus ideais.
Sabemos que para desenvolver esse trabalho de inclusão é necessário
romper com várias barreiras, que são encontradas no decorrer dos anos.
Sabemos que, como educadores, temos a missão de preparar nosso
educando não para conteúdos, mas fazê-lo sentir como participante dessa
história.
Acreditamos que isso só será possível quando todos os envolvidos no
processo educacional tiverem espírito de equipe, pequenas idéias a cada
dia, maturidade para tentar solucionar os conflitos que surgirão ao longo
dessa caminhada, integridade para fazer o trabalho sem prejudicar
ninguém, visibilidade diante dessa situação, tendo empatia, reconhecendo
que sozinho não seremos capazes de resolver, mas a partir do momento
que trabalhamos em equipe e com a mesma finalidade, conseguiremos
fazer a diferença para a modalidade de ensino em EJA.
O OE possui o papel de mediador na construção da aprendizagem, não
apenas mediar a relação professor, aluno equipe pedagógica, mas a todo
tempo deve estar preocupado com a aprendizagem dessa clientela, uma
vez, que a aprendizagem se dá de forma significativa tudo fica mais
prazeroso e pode fazer fluir grandes resultados.
É preciso acreditar sim, acreditar no processo, na ação educacional,
mas ter coragem para transformá-la quando as circunstâncias o podem.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
BRASIL, MEC Lei de Diretrizes e Bases da Educação nº9.394/96.
Disponível em http://www.mec.gov.br
CARRANO, Paulo César Rodrigues. Identidades juvenis e escola.
Alfabetização Cidadania. São Paulo: Rede de Apoio à Ação Alfabetizadora
do Brasil (RAAAB), n. 10, no, 2000.
FUCK, Irene Terezinha. Alfabetização de adultos. Relato de uma
experiência construtiva. Rio de Janeiros: Vozes, 1993.
GRINSPUN, Mirian P. S. Zippin. A Orientação Educacional, conflitos de
paradigmas e alternativas para a escola, 2006.
Lei de Diretrizes e Bases da Educação nº 5692 de 11/8/74, capítulo IV.
Ensino Supletivo. Legislação de Ensino Supletivo, MEC, DFU,
Departamento Documentação e Divulgação. Brasília, 1974.
Freire, Paulo. A educação contra a educação. Rio de Janeiro: Paz e Terra,
1979.
________. Pedagogia da autonomia – saberes necessários à prática
educativa. 8º ed., São Paulo: Paz e Terra, 1999.
________. Educação como prática de liberdade. 22º ed., Rio de Janeiro:
Paz e Terra, 1996.
RESUMO Este trabalho tem por objetivo, identificar as ações da Orientação Educacional na Educação de Jovens e Adultos. Consiste em dois capítulos que abordam os aspectos conceituais e históricos da Orientação Educacional assim como da Educação de Jovens e Adultos. Em um terceiro capítulo apresenta-se o resultado de uma sondagem de pesquisa com um professor e um OE quanto aos objetivos que atuam na Educação de Jovens e Adultos no município de São Gonçalo/RJ, visando destacar a importância do seu papel para essa modalidade de ensino. Conclui-se destacando que a contribuição do OE para EJA é de grande relevância quando sua atuação volta-se para uma prática de mediadoras estabelecendo numa dinâmica de contatos com professores, responsáveis, alunos e equipe técnico-administrativa, da escola visando a aprendizagem do aluno da EJA. Nesta realidade, o trabalho desempenhado com o OE se funde com o do supervisor. O OE é supervisor mediador servindo de elo entre a comunidade e a escola. PALAVRAS-CHAVES: Orientador; Educação e Jovens e Adultos.