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UNIVERSIDADE ANHEMBI MORUMBI PÓS-GRADUAÇÃO EM EDUCAÇÃO COMUNITÁRIA TRABALHO DE CONCLUSÃO DE CURSO BRAZ RODRIGUES NOGUEIRA RENATA UDLIS MAZON IMPLEMENTAÇÃO DE UMA METODOLOGIA DE ENSINO COM BASE NOS PRINCÍPIOS DA ESCOLA DA PONTE Trabalho de Conclusão de Curso apresentado à Banca Examinadora como exigência parcial para a obtenção de título de Especialista em Educação Comunitária da Universidade Anhembi Morumbi. Orientador: Prof Dália Dener

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UNIVERSIDADE ANHEMBI MORUMBIPÓS-GRADUAÇÃO EM EDUCAÇÃO COMUNITÁRIA

TRABALHO DE CONCLUSÃO DE CURSO

BRAZ RODRIGUES NOGUEIRARENATA UDLIS MAZON

IMPLEMENTAÇÃO DE UMA METODOLOGIA DE ENSINO COM BASE NOS PRINCÍPIOS DA ESCOLA DA PONTE

Trabalho de Conclusão de Curso apresentado à Banca Examinadora como exigência parcial para a obtenção de título de Especialista em Educação Comunitária da Universidade Anhembi Morumbi.Orientador: Prof Dália Dener

SÃO PAULO2005

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DEDICATÓRIA

Dedicamos este trabalho a todos que acreditam em uma educação inovadora e com desafios. Mesmo com tantos problemas que encontramos na educação pública no Brasil, acreditamos que mudanças são possíveis de acontecer.

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SUMÁRIO

Capitulo 1 - Introdução............................................................................................. 4

Capitulo 2- A Favela de Heliópolis........................................................................... 9

Capitulo 3 - A EMEF Presidente Campos Salles..................................................... 11

Capitulo 4- A Escola da Ponte................................................................................. 19

Capitulo 5 – Emef Desembargador Amorim Lima: uma metodologia de ensino

inspirada na Escola da Ponte, de Portugal............................................................... 27

Capitulo 6 – Metodologia......................................................................................... 31

Capitulo 7- Discussão dos resultados......................................................................37

Capitulo 8 -Plano de ação – Proposta para o início do processo de desenvolvimento de

uma metodologia de ensino, na EMEF Pres. Campos Salles, com base nos princípios

da “Escola da Ponte.................................................................................. 41

Capitulo 9 - Considerações Finais........................................................................... 46

Referências Bibliográficas..................................................................................... 52

Anexos..................................................................................................................... 54

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1. INTRODUÇÃO

Este trabalho não visa apenas o atendimento a uma exigência formal, ou seja, o

registro de uma pesquisa para a obtenção de um título em Educação Comunitária. Ele

é importante por causa das ações e vivências desencadeadas. Vem provocando para

centenas de pessoas reflexões e posicionamentos que já estão contribuindo para o

processo de constituição dos sujeitos. E é, por isso, que pode ser denominado Projeto

Educacional/Social.

Para a sua elaboração foram objetos de investigação as metodologias da Escola da

Ponte e da EMEF Des. Amorim Lima por serem portadoras de uma nova mentalidade

que vê a criança e o adolescente como seres capazes de tomarem decisões, capazes

de se organizarem para aprender individual e coletivamente e que chegam à escola

trazendo os saberes de sua cultura. Nestas escolas alunos e professores não estão

submetidos a um currículo de ensino pré-determinado e seus espaços e tempos foram

reorganizados para que os alunos se expressem livremente o que implica que o

professor adquira um protagonismo inédito.

Por isso mesmo, elas superaram o que é muito comum nas escolas públicas brasileiras

– “os professores fingem que ensinam e os alunos fingem que aprendem”.

O produto dessa investigação organizou-se numa apresentação, que se dispõe a

seguir, nos capítulos:

Capitulo 1 – Introdução

Capitulo 2 - A Favela de Heliópolis

Capitulo 3 - A EMEF Presidente Campos Salles

Capitulo 4 - A Escola da Ponte

Capitulo 5 – Emef Desembargador Amorim Lima: uma metodologia de ensino

inspirada na Escola da Ponte, de Portugal

Capitulo 6 – Metodologia

Capitulo 7- Discussão dos resultados

Capitulo 8 -Plano de ação – Proposta para o início do processo de

desenvolvimento de uma metodologia de ensino, na EMEF Pres. Campos Salles,

com base nos princípios da “Escola da Ponte

Capitulo 9 - Considerações Finais

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1.1 Objetivo GeralA Escola da Ponte mostrou ser possível a organização do espaço e do tempo escolar

para que o aluno seja recebido como um ser competente que interage como sujeito

com os outros sujeitos que são os seus colegas de escola e os seus professores. Vive-

se na escola assim como se vive na comunidade e ambas se influenciam

reciprocamente e o ato de aprender torna-se prazeroso.

É, por isso, que este trabalho tem como objetivo geral - desenvolver um projeto para a

implementação de uma metodologia de ensino com base nos princípios da Escola da

Ponte: Autonomia, responsabilidade e solidariedade.

1.2 Objetivos específicos

Abordar a problemática da educação no Brasil tendo por foco a EMEF. Pres.

Campos Salles.

Pesquisar a metodologia da Escola da Ponte.

Pesquisar a implementação da metodologia da Escola da Ponte em uma escola

brasileira.

1.3 Situação Problemática

1.3.1 Problema da Escola Pública no Brasil

Para buscar causas estruturais e históricas que impedem nossos alunos de aprender,

tem que se começar falando de uma cultura escolar elitista, herança do tempo do

Império, e da falta de visão estratégica por parte do governo. Junte-se a isso uma

gestão pública ineficiente, em que por mais de um século o governo federal não se

articulou com estados e municípios para implementar as políticas e os legislativos, em

geral, não exerceram seu papel fiscalizador. A sociedade, por sua vez, em grande

parte por causa do aligeiramento com que a mídia trata a questão, é mal informada e

tende a confundir aparência com essência. Têm-se ainda os interesses corporativistas,

a estrutura precária de formação do educador, o mito das "causas nobres" — como o

Ensino Fundamental de nove anos e a educação em tempo integral — que às vezes

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aparecem como possíveis soluções. A qualidade ainda é confundida com um ensino de

elite, o que só colabora para a nossa educação ficar fora de sintonia com o século 21.

Para que exista uma escola de qualidade, é preciso que todos entrem e todos

aprendam. No tempo em que a escola era de poucos, as crianças que a freqüentavam

construíam significados em outros lugares. Elas pertenciam a famílias escolarizadas e

dominavam as chaves para formar os conhecimentos. A escola pública foi programada

para esse tipo de aluno. Quando começou a receber quem não tinha essa bagagem,

ela entrou em crise. Apesar do empenho e da dedicação de muitos professores, os

grandes números indicam infelizmente que a escola pública brasileira foi desenhada

para quem já sabe, não para quem não sabe e precisa dela para aprender.

O problema da escola pública no Brasil já era apontado por Anísio Teixeira, no início da

segunda metade do século XX, nos termos abaixo:

“A situação educacional brasileira apresenta-se como uma pirâmide, em que a base não chega a ter consistência e solidez de tão tênue que é, logo se afilando, mais à maneira de um obelisco do que mesmo de uma pirâmide. Tal aspecto manifesta-se desde a escola primária. Façamos do nosso sistema escolar um sistema de formação do homem para os diferentes níveis da vida social. Mas com um vigoroso espírito de justiça, dando primeiro aos muitos aquele mínimo de educação, sem o qual a vida não terá significação nem poderá sequer ser decentemente vivida e depois, aos poucos, a melhor educação possível, obrigando, porém, estes poucos a custear, sempre que possível, pelo menos parte dessa educação, e, no caso de ser preciso ou de justiça, pelo valor do estudante, dá-la gratuita, caracterizando de modo indisfarçável a dívida que está ele a assumir para com a sociedade. A educação mais alta que está assim a receber não lhe dá direito nem o faz credor da sociedade, antes lhe dá deveres e responsabilidade, fá-lo o devedor de um débito que só a sua produtividade real poderá pagar”. (TEIXEIRA, 1969:62)

Atualmente quase 100% das crianças brasileiras acessam ao Ensino Fundamental,

situação muito diferente da época de Anísio Teixeira, mas infelizmente a qualidade da

escola pública continua péssima. Pode-se dizer que a escola está paralisada nas suas

práticas e não vê o aluno como sujeito de sua aprendizagem, impondo-lhe um

currículo pré-determinado que não tem nada a ver com sua vida. O aluno real, concreto

não é acessado e ir à escola passa a ser uma mera obrigação. Daí deriva o chamado

“fracasso escolar” ou a “falência na relação professor-aluno”.

Como superar o fracasso escolar ou a falência na relação professor-aluno? Esta

pesquisa esclareceu que não adianta culpar o outro distante (Governos, Legislativos,

autoridades educacionais, etc), aliás, ele ficou quase ausente de propósito. Entende-se

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que todos são responsáveis pela educação, mas o que interessa aqui é o outro

próximo, ou seja, o professor, o funcionário, o aluno da EMEF Pres. Campos Salles e a

comunidade onde a escola está inserida.

Independentemente do outro distante, aqueles sim, podem se articular cotidianamente

e melhorar a qualidade da educação. Este não seria também o caminho para fazer com

que o executivo e o legislativo e as autoridades educacionais se impliquem

efetivamente com a educação, sem fazer dela uma bandeira eleitoreira?

1.3.2 Problema da EMEF. Pres. Campos Salles

Até recentemente se pensava que um dos problemas mais graves da escola fosse o

trânsito contínuo de professores, pois ele tem dificultado muito a relação professor-

aluno, a relação professor-professor, a relação professor-projeto, a relação professor-

comunidade. Atualmente não se tem dúvida de que o maior problema é a falência na

relação professor-aluno. Constatação comum entre muitos autores preocupados em

propor caminhos para a melhoria da qualidade da educação brasileira. Sendo um

deles, Mrech, (1999) que diz:

“Há, no Brasil, atualmente, um sintoma social que atinge a maior parte dos processos educacionais: a falência na relação professor-aluno. Por falência estamos entendendo a situação em que o professor se vê impossibilitado em dar cumprimentos às suas obrigações, por sentir que lhe faltam determinados conteúdos, sejam eles de base emocional, teórico-práticas ou financeiras”. (MRECH, 1999:39)

A falência na relação professor-aluno na EMEF Pres. Campos Salles, segundo dados

de 2004, se expressa da seguinte forma:

a) Alunos promovidos com rendimento insatisfatório – 14,82%. (Anexo A)

b) Alunos evadidos – 9,06%. (Anexo B)

c) Alunos retidos por falta – 5,97%.(Anexo C)

d) Alunos retidos por rendimento – 2,31%. (Anexo D)

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Isto significa que num universo de 1423 alunos, 458 fracassaram de acordo com os

padrões da escola, o que corresponde a 32,18% de seus alunos.

A falência na relação professor-aluno se expressa também na grande quantidade de

faltas de alunos e professores. (Anexo E)

Muitos alunos e professores fazem de tudo para se livrarem da sala de aula, o que aí

acontece não lhes interessa, ela está se tornando descartável. Qual é afinal o problema

da EMEF Pres. Campos Salles?

As práticas ou metodologias que predominam nas salas de aula vêm o aluno como um

ser menor, incompleto. Cabe ao professor completá-lo com aquilo que ele pensa que o

aluno precisa para ser gente. Ele não é visto como um ser integral capaz de tomar

decisões, capaz de organizar-se para aprender tanto individual como coletivamente e

portador de saberes de sua cultura.

1.4 Hipóteses

A implementação da metodologia da Escola da Ponte na EMEF Pres. Campos Salles

irá reforçar a natureza democrática do conhecimento. As crianças e os adolescentes

saberão o que têm de fazer. Uma educação na qual todos participam da construção e

da solução dos problemas.

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2. A FAVELA DE HELIÓPOLIS

A região de Heliópolis da década de 80 pode ser classificada como bairro novo ou

“periferia nova” cuja população foi aos poucos ocupando vastas áreas desabitadas, de

forma desordenada. Difere, no entanto, dessa classificação quando se observa o seu

atual estágio que apresenta uma expansão acelerada.

Em passado recente, Heliópolis foi um bairro periférico, o que hoje já não ocorre. O

crescimento do bairro do Ipiranga fez com que Heliópolis ficasse integrado à cidade,

pois dista apenas 7 km do centro e situa-se na divisa do maior centro industrial do país,

o ABCD. Sua localização é, portanto, privilegiada, sendo servido de ampla infra-

estrutura viária (trens, estradas, avenidas), comércio e indústria, além de contar com

locais de prestação de diversos serviços públicos essenciais. Heliópolis tem como um

dos seus limites a Estrada das Lágrimas, um traçado que bastante se identifica com o

antigo Caminho do Mar, que no período colonial servia de ligação entre a vila de S.

Vicente e os campos de Piratininga.

A atual Estrada das Lágrimas segue o caminho para o mar, e, em parte, acompanha o

traçado da Via Anchieta, rota de acesso ao litoral do Estado de São Paulo, vencendo

as escarpas do planalto sul-brasileiro, denominadas Serra do Mar.

Apesar de valorizado, é nesse local que se encontra a maior favela de São Paulo. A

história de suas terras remonta à própria história da expansão de São Paulo, que

principia favorecendo a especulação.

Essas terras se incorporam à cidade, inicialmente como um empreendimento

imobiliário, depois como uma gleba adquirida pelo IAPAS para a construção do maior

hospital da América Latina – o Hospital Heliópolis.

Em 1971/72 teve início a construção de um alojamento provisório para moradores da

favela da região vizinha de Vila Prudente que haviam sido desalojados devido ao

projeto de construção de viadutos, pelo então Prefeito Paulo Maluf.

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Aos poucos, outras famílias foram chegando e levantando mais barracos ao lado do

alojamento o que resultou no crescimento rápido da favela e nos problemas advindos

desse processo.

A área inicial da favela, que fica entre a Estrada das Lágrimas, Avenida Delamare e

Rua Juntas Provisórias, apresenta, atualmente, a maior concentração de barracos e

casas de alvenaria.

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3. A EMEF PRES. CAMPOS SALLES

A EMEF Pres. Campos Salles localiza-se no bairro de São João Clímaco à Rua

Cavalheiro Frontini, nº 87. Sua frente está voltada para a praça central de São João

Clímaco que é um ponto favoravelmente bem localizado em termos de benefícios

urbanos, enquanto os seus fundos limitam-se com a favela de Heliópolis, onde residem

mais de 95% dos seus 1400 alunos.

Os 1400 alunos estão distribuídos em três períodos de aulas, manhã, tarde e noite.

Cada período conta com 12 turmas de alunos. Nos períodos da manhã e tarde funciona

o curso regular do Ensino Fundamental com 24 turmas, sendo que 13 turmas são

formadas por alunos de 1ª a 4ª séries e 11 turmas são formadas por alunos de 5ª a 8ª

séries. No período noturno funciona o curso de Suplência (EJA) do Ensino fundamental

com 12 turmas, sendo que três turmas são formadas por alunos de 1ª a 4ª séries e 9

turmas são formadas por alunos de 5ª a 8ª séries. No total a escola atende a 36

turmas.

A escola conta com 86 profissionais, sendo 54 professores, 1 diretor, 2 coordenadoras

pedagógicas, 1 assistente de direção, 3 auxiliares de direção, 1 secretário, 2 auxiliares

de secretaria, 12 agentes escolares, 3 inspetores, 2 vigias, 2 professores orientadores

de informática, 2 professores orientadores de sala de leitura e 1 professora da sala de

apoio pedagógico.

A EMEF Pres. Campos Salles pertence à – Coordenadoria de Educação do Ipiranga –

da Secretaria Municipal de Educação de São Paulo.

A região conhecida como favela de Heliópolis localiza-se na zona sudeste de São

Paulo, no distrito do Ipiranga.. .

Atualmente, esta é uma das áreas mais densas da cidade de São Paulo. São

aproximadamente 120.000 pessoas distribuídas numa extensão de 1.000.000 de

metros quadrados, segundo a União de Núcleos, Associações e Sociedades de

Heliópolis e São João Clímaco (UNAS). Quase metade (49%) desta população é

constituída por crianças, adolescentes e jovens. A grande maioria dos adultos é

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constituída por migrantes nordestinos. São vítimas do desemprego, da violência, dos

baixos salários, das péssimas condições de moradia, saúde, alimentação e educação.

A EMEF Pres. Campos Salles surgiu antes do início do processo de favelização de

Heliópolis. Foi criada pelo Decreto, nº 3206 de 23/08/56, como Escolas Mistas de São

João Clímaco.

Em 1957, onde hoje é o Largo de São João Clímaco, foram construídos dois galpões,

um com duas salas e o outro com três. Foi inaugurada em 27/02/57 e começou a

funcionar em 21/03/57. Em 1967 foi inaugurado o prédio de alvenaria, com 12 salas e

1000 alunos, prédio este em que a escola ainda funciona.

Em 21 de novembro de 1995 assumiu uma nova direção que deu início a um trabalho

de integração Escola-Comunidade. E como conseqüência deste trabalho, atualmente, a

escola e a comunidade são parceiras na luta pela efetivação dos direitos da população

de Heliópolis.

Para melhor contextualizar a escola e o seu problema mais grave – utilização de

metodologia ou metodologias de ensino inadequadas – faz-se necessário à divisão de

sua história em três períodos levando-se em consideração a mudança do perfil da

população ao longo do tempo. O primeiro período de 1957 a 1970, o segundo de 1971

a 1995 e o terceiro, que iniciou-se em 1996 e que foi pesquisado arduamente.

1. Primeiro período (1957 – 1970)

A EMEF Pres. Campos Salles se restringia ao atendimento das séries iniciais do ensino

fundamental. Segundo uma das professoras entrevistadas, e documentos da escola

comprovam, a grande maioria dos alunos eram provenientes do Jardim Patente e São

João Clímaco. A grande maioria dos seus pais eram trabalhadores das chácaras e

olarias que se espalhavam pela região. Muitos eram descendentes de portugueses e

italianos.

2. Segundo período (1971 – 1995).

Em 1971/72, como dito anteriormente, começou a ocupação desordenada de

Heliópolis. A EMEF Pres. Campos Salles era a única escola próxima que poderia

atendê-los. Segundo uma professora, presente na escola desde 1978, a maioria das

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crianças que chegavam eram de 1ª ou 2ª série. Segundo a mesma, a partir do

momento que aprendiam a ler e escrever, os alunos se transferiam para as escolas

novas que estavam surgindo, mesmo sendo mais distantes. Diz ela: “Era muito difícil

formar uma 8ª série. Eles tinham vergonha de tirar o diploma aqui”. Desta fala e de

muitas outras se conclui o porquê do estigma imputado a EMEF Pres. Campos Salles,

como sendo a “escola dos favelados, dos marginais e dos baderneiros”.

3. Terceiro período (1996 - atual)

No dia 21 de novembro de 1995 assumiu a direção da EMEF Pres. Campos Salles o

diretor Braz Rodrigues Nogueira. A escola foi escolhida por ele por dois motivos:

proximidade de sua residência e a origem de sua família ser similar à maioria das

famílias de Heliópolis.

Ele chegou à escola com duas idéias na cabeça, sem querer negociá-las, mas com

uma grande disposição em argumentar para conseguir parceiros para adotá-las e

defendê-las. Estas duas idéias hoje são norteadoras do Projeto da EMEF Pres.

Campos Salles – Cidadania: Uma Questão de Sobrevivência – e estão assim

formuladas:

“Duas idéias norteadoras”:

a) A escola como Centro de Liderança

Com a pretensão de ser neutra, a Escola Pública, acabou abdicando-se da liderança que havia de exercer na comunidade em que atua. Para não ser ‘contaminada’, com o pretexto de que cuida dos ‘assuntos educacionais’, distanciou-se da realidade social, passando a trabalhar, então, com um aluno descontextualizado.

Atuando isoladamente, a escola, não é capaz de romper com os roteiros previamente estruturados, com a repetição, com a exclusão social, com os mecanismos da construção psico-social da subalternidade. Como sair desse impasse?

A princípio poderia se responder que essa empreitada é tarefa de todas as instituições, mas a escola deve se colocar à frente das demais, pois os educadores das escolas têm o privilégio de entrar em contato efetivo com toda a população, já que quase todas as crianças brasileiras acessam à escola e através delas poderiam interagir com toda a sociedade

O que se propõe de fato é o fortalecimento da relação Escola-Comunidade, onde a escola seria um centro de liderança comprometido com o saber e

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juntamente com as outras instituições e lideranças da comunidade, quebrariam as amarras que aprisionam a todos às estruturas sociais pré-determinadas.

b) Tudo Passa Pela Educação

Tudo passa pela educação quando o educador da escola é cidadão. Ele busca não só a mudança da escola, mas também a mudança da sociedade, juntamente com os outros agentes educativos que não estão dentro da escola. Sabe que a escola e a sociedade mudam juntas. Interage com o aluno contextualizado, pois é portador de uma visão de mundo que leva em consideração as estruturas políticas, econômicas, históricas e culturais que moldam os sujeitos. Ajuda o aluno a perceber que a sociedade que não atende aos direitos referentes à vida, à saúde, à moradia, à alimentação etc compromete os outros direitos, até mesmo o direito à educação.

O educador-cidadão não fala bem ou mal da luta do povo pelos direitos, ao contrário, assume-a como sua, pois quer educar e ser educado na ação, com os outros, na busca da melhoria da qualidade de vida. Ele sabe que a educação de um povo é tarefa de toda a sociedade. Sabe também que a escola nunca foi e nunca será a única responsável no campo educacional e que ela só faz bem a parte que lhe cabe quando atua articuladamente com a comunidade e suas instituições. (Projeto da EMEF Presidente Campos Salles)

Na busca de parceiros para a construção de um projeto de integração Escola-

Comunidade o diretor Braz atuou em várias frentes concomitantemente. Desde 1996

contou com duas aliadas, duas coordenadoras pedagógicas que chegaram neste

mesmo ano, e quase que de imediato adotaram como suas as duas idéias descritas

acima.

O diretor tinha uma preocupação muito grande com a constituição e coordenação da

equipe técnica e de sua importância para a construção do projeto. O que fica explícito

na citação a seguir:

“E desde que eu tive as duas coordenadora, eu sentei e eu disse: Nós coordenamos a escola. Se nós demos certo a escola caminha. Se nós não dermos certo a escola não caminha. Eu não quero que, em nenhum momento vocês deixem a parte administrativa nas minhas costas e eu, a parte pedagógica nas costas de vocês. E é juntos que vamos coordenar a escola. E, além de vocês, nós vamos precisar da Assistente de Direção, que vai ser complicado, porque não tem alcance para entender a questão pedagógica, e nós vamos precisar dos auxiliares de período, porque o auxiliar de período para mim é peça estratégica. E se não for, se a gente não trabalhar para que eles tenham algum poder, nós não fazemos nada, nós vamos ficar como bombeiros, aí, fingindo que está solucionando problemas que a gente não consegue solucionar. E, aí nós começamos a fazer uma reunião semanal para construir essa equipe, e ao mesmo tempo em que a gente fazia isso, eu me aproximava o máximo possível do aluno, da comunidade...” (GALLO, 2004:102).

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Foram desenvolvidas ações com o intuito de identificar e convidar lideranças, de cada

segmento, para a construção de um projeto coletivo para integrar a escola e a

comunidade. Uma ação que muito contribuiu para o avanço da construção do projeto

foi um curso para pais e lideranças comunitárias denominado – Educação e Cidadania

– que tinha como objetivo levar os participantes a perceberem que não se faz

educação de qualidade sem a participação da comunidade na vida da escola. Neste

curso a escola era mostrada por dentro com todas as suas contradições. Discutiam-se

as seguintes questões: participação, linhas pedagógicas, verbas, direitos dos

professores, direitos da comunidade, direitos dos alunos, etc. Alguns professores

ficaram muito revoltados com o conteúdo do curso, principalmente quanto à questão

dos direitos dos professores e funcionários, pois achavam que o diretor e as

coordenadoras pedagógicas faltavam com a ética quando diziam para os participantes

que professores e demais funcionários da escola têm direito a 10 faltas abonadas, 6

faltas justificadas, 60 faltas injustificadas por ano. Além destas faltas o professor tem

ainda direito de dispensa do ponto para participar das reuniões do sindicato como

representante de período, dispensa do ponto para participar da eleição do sindicato,

dispensa do ponto para participar de seminários e congressos. E ainda são tirados da

escola pela administração para cursos em horário de aulas quando ela não garante

nem mesmo professores para substituir aqueles que estão de licença médica.

Em 1998, a EMEF Pres. Campos Salles, já contava com um Conselho de Escola

bastante ativo e participante que contrastava muito do Conselho encontrado em

novembro de 1995, que tinha uma função meramente burocrática. O grêmio que

surgira, em 1996, ganhou corpo em 1998 e passou a ser uma organização fundamental

para a sustentação do projeto da escola. Como resultado do curso – Educação e

Cidadania – a escola passou a contar, no final de 1998, com a atuação de quatro

comissões: Limpeza, conservação e manutenção do prédio escolar; Cultura, esporte e

lazer; Relação escola-comunidade e Comissão de Reivindicação.

No final de 1998 o estigma que pesava sobre a escola – “escola dos favelados,

marginais e baderneiros” começou a ser substituído pela denominação de “escola da

comunidade”. Esta denominação foi confirmada de fato em 1999, quando fora

assassinada uma aluna da escola. Em três meses de trabalho a escola mobilizou a

comunidade e realizou a Primeira Caminhada pela Paz de Heliópolis. No final de 1999,

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foi realizada também a Primeira Mostra Cultural. A partir daí, estas duas ações vêm

sendo realizadas anualmente.

A EMEF Pres. Campos Salles é hoje considerada um exemplo de Integração Escola-

Comunidade. No ano de 2000 ela foi visitada pelo Presidente do Conselho Norte-

Americano de Educação (United States Department of Education), Sr. Terry Peterson.

Em 2001 a escola foi escolhida para o lançamento do Projeto Escola Aberta pelo

governo da cidade de São Paulo.

Seu trabalho tem sido também registrado pela imprensa paulistana e por alguns

trabalhos acadêmicos, como por exemplo, na tese de doutorado da PUC-SP, A escola

em tempos de mal-estar e drogas. (AMORIM, 2003) e em dissertação de mestrado,

também da PUC-SP, A parceria presente: A relação família-escola numa escola da

periferia de São Paulo, (GALLO, 2004).

Duas professoras que chegaram à escola no segundo período (1971 – 1995) - uma

delas chegou em fevereiro de 1978 e a outra em 1988 - e que ainda continuam

trabalhando, afirmam que nunca houve na escola um projeto com o objetivo de incluir a

comunidade na escola e esta na comunidade. Para elas, após 1996, o projeto começou

a ganhar visibilidade; recordam que ficaram muito assustadas com as idas da escola

até a comunidade e a vinda desta até a escola. Disseram também que o projeto, com o

passar do tempo, lhes trouxe segurança e mais tranqüilidade. Apontam ainda, que

durante os anos de 2000 e 2001, o projeto foi uma coisa fantástica e que a partir de

2002 ocorreu uma queda contínua na qualidade do ensino, tanto na Campos Salles,

como nas outras escolas. Segundo elas os alunos e professores estão muito

desmotivados.

Em um relatório feito pela escola, com a participação de todos os segmentos, no ano

de 1999, o forte entrelaçamento da escola com a comunidade pode ser percebido nas

palavras de João Miranda Neto1 quando diz:

1 João Miranda Neto, em 1999, tinha um dos filhos estudando na EMEF Pres. Campos Salles, era membro do Conselho e também membro da comissão de Reivindicação da escola. Já era uma das principais lideranças comunitária de Heliópolis. Era e é o Presidente da UNAS (União de Núcleos, Associações e Sociedades de Moradores de Heliópolis e São João Clímaco). Mesmo não tendo mais filhos estudando na escola continua a participar de todas as reuniões do Conselho, e é um dos parceiros mais interessados na implementação deste projeto social. Continua sendo um dos membros mais aguerrido da comissão de reivindicação.

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Page 17: Universidade Anhembi Morumbi€¦  · Web viewNão se tem dúvida, elas significam apenas as vigas mestras e o madeiramento. Cabe a cada aluno, a cada professor, a cada funcionário

“E o poder só é poder quando estamos juntos. Não adianta a comunidade estar lá e a escola estar aqui. Que poder é esse?Quando nos juntamos começamos a dizer assim: somos fortes porque é mais difícil de quebrar, né? É aquela história dos palitinhos de fósforos. Você pega dois, três e quebra, até dez, né? Pega quarenta pra quebrar, pra ver se consegue?As nossas pequenas experiências são como palitinhos de fósforos, juntas nos fortalece, traz vida e poder para a escola e comunidade” (Relatório da escola de 1999)

Não se tem dúvida de que a relação escola-comunidade se aprofundou muito no

terceiro período fazendo da escola um modelo neste quesito. Com todo esse sucesso,

como explicar a péssima qualidade do ensino ministrado pela escola? Como transferir

aquele sucesso também para a salas de aulas? Mas afinal, quais são os problemas da

EMEF Pres. Campos Salles? Por que os alunos e os professores estão tão

desmotivados?

3.1. Problemas da EMEF Pres. Campos Salles.

Os dados apurados expressam que a escola, apesar de um trabalho árduo, pela

convivência, pela cultura da paz, pela melhoria da qualidade de ensino, etc, não tem

conseguido acessar ao aluno real, concreto. Nas práticas que predominam nas salas

de aula, o aluno é visto como um ser menor, incompleto. Cabe, então, ao professor,

completá-lo com aquilo que o aluno precisa para ser gente. Ele não é visto como um

ser integral capaz de tomar decisões, já possuidor de saberes e capaz de se organizar

para aprender. Decorre disso que o aluno e o professor sofrem porque não estão

caminhando lado a lado. O professor tenta escapar da sala de aula por todos os meios

e o aluno fica feliz quando é dispensado porque não há professor para dar aula. Parece

que para ambos a sala de aula é descartável, fora as exceções.

Em levantamento feito, do dia 09 ao dia 22 de setembro de 2005, perfazendo um total

de 10 dias letivos, a média de faltas/dia de professores foi de 13,5. Quanto aos alunos,

o número de faltas também foi muito grande, de 1ª a 4ª séries a média foi de 4,73

faltas/dia por série, de 5ª a 8ª séries foi de 13,25 faltas/dia por série e no curso de

suplência de 1ª a 8ª séries a média de falta por série foi de 18,76 faltas/dia (Anexo E).

Outro dado refere-se ao ano de 2004, incluindo os alunos promovidos com rendimento

insatisfatório, os alunos evadidos, os alunos retidos por falta e os alunos de 4ª e 8ª

séries, retidos por rendimento, chega-se a um total de 458 alunos em um universo de

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Page 18: Universidade Anhembi Morumbi€¦  · Web viewNão se tem dúvida, elas significam apenas as vigas mestras e o madeiramento. Cabe a cada aluno, a cada professor, a cada funcionário

1423 alunos. Isto significa que 32,18% dos alunos fracassaram de acordo com os

padrões da escola (Anexos A, B, C e D).

A Doutora em Educação, Jaqueline Moll, da Universidade Federal do Rio Grande do

Sul, proferiu no Seminário Escolas Sem Muro – Uma Nova Geografia do Aprendizado 2

que “ a escola está no século XIX, o professor no século XX e o aluno no século no

século XXI”. Conclui-se que as escolas realmente não estão conseguindo fazer bem a

parte que lhes cabe na educação das crianças, dos adolescentes e dos jovens. É

preciso que surja uma nova mentalidade nos adultos para que a escola, o professor e o

aluno entrem, lado a lado, no século XXI.

As pesquisas realizadas permitem supor que as metodologias de ensino que

predominam na EMEF Pres. Campos Salles estão em contradição com a nova

mentalidade de que fala Jaqueline Moll. As crianças e os adolescentes ainda são vistos

como miniaturas dos adultos e educar-se significa submeter-se à vontade e desejos

daqueles que realmente sabem – os adultos. Não havendo espaço para que as

crianças e adolescentes se expressem na sua cultura, nas suas decisões, na sua

organização para aprender, como seres integrais que são, a sala de aula tornou-se, o

espaço que afugenta alunos e professores.

4. A Escola da Ponte

Especialista em Música e em Leitura e Escrita, José Pacheco, de 52 anos coordena,

desde 1976, a Escola da Ponte, instituição pública que se notabilizou pelo projeto

educativo inovador, baseado na autonomia dos estudantes. O educador português é

Mestre em Ciências da Educação pela Faculdade de Psicologia e de Ciências da

Educação da Universidade do Porto. 

José Pacheco não é o primeiro — e nem será o último — a desejar uma escola que

fuja do modelo tradicional. Ao contrário de muitos, no entanto, o educador português

pode se orgulhar por ter transformado seu sonho em realidade. Há 28 anos ele

2 O “Seminário Escolas sem Muros – Uma Nova Geografia do Aprendizado”, ocorreu no dia 28 de setembro de 2005. Realizou-se para comemorar os oito anos de existência da Cidade Escola Aprendiz. Jaqueline Moll participou da mesa – Trilhas Educativas: Articulação Comunitária como Elemento Transformador da Aprendizagem – com o tema: Juventude, Cidade e Espaço de Convivência e Aprendizagem. O diretor da EMEF Pres. Campos Salles, Braz Rodrigues Nogueira, participou da mesma mesa relatando a Relação Escola - Comunidade de Heliópolis

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Page 19: Universidade Anhembi Morumbi€¦  · Web viewNão se tem dúvida, elas significam apenas as vigas mestras e o madeiramento. Cabe a cada aluno, a cada professor, a cada funcionário

coordena a Escola da Ponte. Apesar de fazer parte da rede pública portuguesa, a

escola de ensino básico, localizada a 30 quilômetros da cidade do Porto, em nada se

parece com as demais.

A Ponte não segue um sistema baseado em seriação ou ciclos e seus professores não

são responsáveis por uma disciplina ou por uma turma específica. As crianças e os

adolescentes que lá estudam — muitos deles violentos, transferidos de outras

instituições — definem quais são suas áreas de interesse e desenvolvem projetos de

pesquisa, tanto em grupo como individuais.

A cada ano, as crianças e os jovens criam as regras de convivência que serão

seguidas, inclusive por educadores e familiares. É fácil prever que problemas de

adaptação acontecem. Há professores que vão embora e alunos que estranham tanta

liberdade. Nada, no entanto, que faça a equipe desanimar.

O sistema tem se mostrado viável por pelo menos dois motivos: primeiro, porque os

educadores estão abertos a mudanças; segundo, porque as famílias dos alunos

apóiam e defendem a escola idealizada por Pacheco.

A Escola da Ponte é bem diferente das tradicionais. Funciona sem séries, ciclos,

turmas, anos, manuais, testes e aulas. Os alunos se agrupam de acordo com os

interesses comuns para desenvolver projetos de pesquisa. Há também os estudos

individuais, depois compartilhados com os colegas. Os estudantes podem recorrer a

qualquer professor para solicitar suas respostas. Se eles não conseguem responder, os

encaminham a um especialista.

Não há salas de aula, e sim lugares, onde cada aluno procura pessoas, ferramentas e

soluções, testa seus conhecimentos e convive com os outros. São os espaços

educativos. Hoje, eles estão designados por área. Na humanística, por exemplo,

estuda-se História e Geografia; no pavilhão das ciências fica o material sobre

Matemática; e o central, abriga a Educação Artística e a Tecnológica.

Os professores têm a mesma formação que os de outras instituições. O diferencial é

que sentem uma inquietação quanto à educação e admitem existir outras lógicas.

Os alunos da Escola da Ponte têm entre 5 e 17 anos. Cerca de 50 (um quarto do total)

chegam extremamente violentos, com diagnósticos psiquiátricos e psicológicos. As

instituições de inserção social que acolhem crianças e jovens órfãos os encaminham

para as escolas públicas. Normalmente eles acabam isolados no fundo da classe e,

posteriormente, são encaminhados para a Escola da Ponte. No primeiro dia, chegam

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Page 20: Universidade Anhembi Morumbi€¦  · Web viewNão se tem dúvida, elas significam apenas as vigas mestras e o madeiramento. Cabe a cada aluno, a cada professor, a cada funcionário

dando pontapés, gritando, insultando, atirando pedras. Algum tempo depois desistem

de ser maus, como dizem, e admitem uma das duas hipóteses: ser bom ou ser bom.

Conforme Rui Canário (2004) há uma grande resistência, em Portugal, em aceitar o

modelo da escola, que é baseado em três grandes valores: a liberdade, a

responsabilidade e a solidariedade. Algumas pessoas consideram que todos precisam

ser iguais e que ninguém tem direito a pensamento e ação divergentes.

O sucesso do projeto ocorre quando todos reconhecem os objetivos comuns e se

conhecem. Isso não significa apenas saber o nome, e sim ter intimidade, como em uma

família. É nesse ponto que o projeto se distingue. O viver em uma escola é um

sentimento de cumplicidade, de amor fraterno. Todos que visitam a Escola dizem que

ficam impressionados com o olhar das pessoas que ali estão, com o afeto e a palavra

terna que trocam entre si.

A Escola da Ponte fez o que as outras devem e podem fazer, que é produzir sínteses e

não se engajar em um único padrão. Há muitas correntes e quem quer fazer diferente

tem de ter mais interrogações do que certezas.

4.1 A metodologia da escola da ponte

No Brasil, quando se confronta, no campo da educação, teoria e prática, percebe-se

um grande descompasso. Nas práticas escolares as crianças e adolescentes não são

vistos como sujeitos de sua aprendizagem, seres capazes de tomar decisões e seres

portadores de saberes. Educadores conscientes deste descompasso não têm

conseguido superá-lo. Proliferam então, os discursos que alimentam a idéia de que é

sempre o outro o grande culpado. Disso decorre a repetição, a paralisação das

mesmas práticas.

Faz-se necessário buscar uma metodologia que rompa com o processo descrito acima.

Mas será que há uma metodologia tão eficiente, capaz de romper com as orientações

prévias, com os estereótipos, com a repetição e deixar o novo entrar nas práticas

escolares cotidianas?

De acordo com Canário (2004), A metodologia da Escola da Ponte está na origem de

um movimento educacional que possibilita a superação do descompasso entre teoria e

prática. Lá, a escola tornou-se um espaço de vida. Os alunos trazem os saberes da

comunidade para a escola e estes saberes não são desconsiderados por ela, muito

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Page 21: Universidade Anhembi Morumbi€¦  · Web viewNão se tem dúvida, elas significam apenas as vigas mestras e o madeiramento. Cabe a cada aluno, a cada professor, a cada funcionário

pelo contrário, são considerados como a base da construção de novos saberes que

retornam para a comunidade para depois retornar novamente para a escola e assim

sucessivamente. Tal afirmação pode ser ilustrada pela citação abaixo: “O dialogismo cultural aqui praticado torna a escola permeável à influência cultural da sua. comunidade de inserção. Isto não significa, certamente, a localização radical da ação educativa com perda da identidade da instituição escolar enquanto espaço público institucionalizado erigido em torno de um projeto educativo democrático de âmbito nacional. Pelo contrário, significa o movimento simultâneo de dentro da escola para a comunidade e desta para dentro da escola, no sentido de potenciar a articulação, no espaço comunitário, do projeto educativo. Porem, sobretudo, exprime a concepção do aluno como ser social que trabalha na escola a cultura da sua comunidade, abrindo-se para uma formação universalista”. (CANÁRIO, 2004:69)

A metodologia da Escola da Ponte não submete o aluno e o professor a um

currículo pré-determinado. O aluno é visto na sua singularidade e escolhe as suas

tarefas de aprendizagem a cada momento, o que faz dele sujeito de sua

aprendizagem e participante do processo de tomada de decisões. Na Escola da

Ponte:“... a ação educativa afirma-se em função de uma dinâmica que não é concebida a partir de um dos pólos que permitem configurar essa ação (aluno, professor, conteúdos curriculares). Mas da relação que se estabelece entre eles. Uma relação que se afirma baseada em um objetivo formativo, em que a centralidade do aluno implica que o professor adquira um protagonismo inédito e o ato de aprender conduza à reconceptualização do ato de ensinar. Uma relação que se desenvolve obrigatoriamente marcada por tensões entre o saber cotidiano das crianças e o saber escolar, sem que isso possa constituir razão suficiente para justificar a renúncia face a um ou a outro”. (CANÁRIO, 2004:73)

O projeto “fazer da Ponte” nasceu do desejo espontâneo de uma pessoa ou de um

conjunto delas. Mesmo que – o projeto fazer a ponte – indique um outro caminho para

a educação, tem que se buscar na história as idéias que ajudaram na sua construção.

“... a institucionalização da infância por via da criação e expansão de uma instituição específica e exclusiva – a escola – não implicou que a escola pública, desde a sua gênese, adquirisse um ‘modo de produção escolar único e uniforme, ou, pelo menos, que o fizesse dominantemente sem importantes tensões. Com efeito, uma dupla orientação ter-se-á desenvolvido, assente numa antinomia entre a tendência desenvolvimentista – enraizada na perspectiva da formação integral do ser educando e na perspectiva do desenvolvimento infantil como algo que se vai construindo a partir da promoção das próprias capacidades, da mobilização da respectiva experiência de vida e da vitalização pedagógica da livre iniciativa das crianças – e a tendência elementar – academicista e disciplinadora, perspectivadora da prática educativa como de transmissão reprodutiva dos conhecimentos inerentes à cultura

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Page 22: Universidade Anhembi Morumbi€¦  · Web viewNão se tem dúvida, elas significam apenas as vigas mestras e o madeiramento. Cabe a cada aluno, a cada professor, a cada funcionário

escolar, com os correlativos processos de avaliação certificadores da conformidade das aprendizagens com os conteúdos prescritos para serem ensinados e com a subordinação dos alunos a uma disciplina social imposta”. (CANÁRIO; MATOS; TRINDADE, 2004:63-64)

A dupla orientação referida na citação acima tem a sua gênese na tendência

desenvolvimentista, que começou a criar corpo com Jean-Jacques Rousseau (1712 –

1778) e na tendência elementar com John Locke (1632 – 1704)

De acordo Canário (2004) John Locke é considerado o fundador da teoria do

conhecimento como uma disciplina autônoma. Na sua obra - Ensaio sobre o

entendimento humano – ele trata de forma sistemática a questão da origem, essência e

certeza do conhecimento. Para ele a experiência é a única fonte de conhecimento e só

é verdadeiro o que tem utilidade e fomenta a vida.

“A consciência cognoscente não tira os seus conteúdos da razão; tira-os exclusivamente da experiência. O espírito humano está por natureza vazio; é uma tabula rasa, uma folha em branco onde a experiência escreve. Todos os nossos conceitos, incluindo os mais gerais e abstratos, procedem da experiência”. (HESSEN, 1870:68)

Qual a concepção de infância que poderia ser construída a partir da visão de John

Locke? Não é de se admirar que:

“A escola tradicional adotou dominantemente um modelo formal envolvido numa concepção elementar, academicista e disciplinadora e assumiu, como pressuposto básico, uma representação da infância como categoria geracional caracterizada por um estatuto pré-social, uma forma de pensamento ‘moldável’ e um comportamento ‘socializável’ e uma presumida heteronomia, inibidora do exercício de direitos participativos próprios. A representação da infância que aqui se contém supõe o exercício legítimo do poder disciplinar pelo adulto que a educa”. (CANÁRIO; MATOS; TRINDADE, 2004:64)

Jean-Jacques Rousseau - diferentemente de Bacon, Galileu, Newton e John Locke,

que concebiam a natureza como matéria e movimento mecânico inteiramente exterior

ao sujeito humano - a concebia como algo que palpita dentro de cada ser humano,

como íntimo sentimento de vida. Para ele o sentimento era o verdadeiro instrumento de

conhecimento e não a razão ou a experiência. Preocupou-se, nas suas obras, com os

seguintes temas: relações entre natureza e sociedade, moral fundada na liberdade,

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primazia do sentimento sobre a razão, teoria da bondade natural do homem e doutrina

do contrato social. Sendo, “Emílio” e “Contrato Social”, as suas obras mais importantes.

“O Emílio é um ensaio pedagógico sob forma de romance e nele Rousseau procura traçar as linhas gerais que deveriam ser seguidas com o objetivo de fazer da criança um adulto bom. Mais exatamente, trata dos princípios para evitar que a criança se torne má, já que o pressuposto básico do autor é a crença na bondade natural do homem. Outro pressuposto de seu pensamento consiste em atribuir à civilização a responsabilidade pela origem do mal. Conseqüentemente, os objetivos da educação, para Rousseau, comportam dois aspectos: o desenvolvimento das potencialidades naturais da criança e o seu afastamento dos males sociais”. (PENSADORES, Cap II. 34, 1973:477)

Para Rousseau, a educação tem como papel principal, fazer da criança, um adulto

bom, e isso só é possível afastando-a dos males sociais, pelo menos, até o momento

em que ela adquira a consciência de suas relações com os semelhantes, aí então, o

processo educativo desloca-se do terreno propriamente pedagógico para os domínios

da teoria da sociedade e da organização política.

“A educação deve ser progressiva, de tal forma que cada estágio do processo pedagógico seja adaptado às necessidades individuais do desenvolvimento. A primeira etapa deve ser inteiramente dedicada ao aperfeiçoamento dos órgãos dos sentidos, pois as necessidades iniciais da criança são principalmente físicas. Incapaz de abstrações, o educando deve ser orientado no sentido do conhecimento do mundo através do contacto com as próprias coisas; os livros só podem fazer mal, com exceção de Robinson Crusoé, que relata as experiências de um homem livre em contato com a natureza”. (PENSADORES, Cap II. 34, 1973:477-478)

Para nossos dias a visão de Rousseau apresenta-se muito contraditória. Não se tem

como isolar as crianças do mundo dos adultos para que mais tarde elas possam

interagir socialmente sem o risco de serem corrompidas. Mas isto não nega a

importância de Rousseau para o início da tendência desenvolvimentista, embora ela

nunca tenha predominado durante os dois séculos de existência da escola.

“... toda uma forte tradição pedagógica, com importante influência na construção da reflexividade institucional sobre a educação, filia-se na orientação desenvolvimentista e é confessadamente tributária do pensamento de Rousseau, em flagrante oposição a essa outra figuração da escola tradicional, que é todavia, dominante. Referimo-nos à corrente que passa pelo Movimento da Escola Nova, mas influencia, igualmente, pensadores e pedagogos como J. Dewey, Makarenko, C. Freinet, L. Kholberg, Paulo Freire ou

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os portugueses Faria de Vasconcelos e Antônio Sérgio. Referimos todos esses nomes – especialmente esses e não ouros – porque a Escola da Ponte torna-se ininteligível sem a consideração da contribuição pedagógica desses autores e dos movimentos que se inspiraram no seu pensamento”. (CANÁRIO; MATOS; TRINDADE, 2004:64-65)

A originalidade do – projeto fazer a ponte – está na desconstrução da ruptura entre o

aluno e a criança. Neste projeto, o ofício do aluno corresponde ao ofício da criança.

Nele a criança explicitou-se como um ser competente que já chega à escola portando

saberes referentes à sua cultura, capaz de tomar decisões e organizar-se para

aprender com a ajuda de seus professores, que são também, seres que aprendem

caminhando lado a lado com seu aluno, num mesmo plano, portanto, nem abaixo e

nem acima dele.

“Finalmente, à concepção da competência das crianças e à atribuição de poderes de decisão e participativos aos alunos, adiciona-se a percepção da criança como portadora de saberes. O trabalho dos alunos como centro das aprendizagens, praticado de modo sistemático na Escola da Ponte, não significa a cooptação para atividades ativas de uma ciência de programa e de saberes pré-instituídos. Pelo contrário, ao potenciar a expressão dos alunos, põe-se em campo a mobilização dos saberes que são cultural e geracionalmente enraízados, considerados como formas legítimas de apropriação do real. Esses saberes são considerados como base de aquisição e construção de outros saberes e, sobretudo, da sua conjugação numa multiplicidade de linguagens (verbais, numéricas, informáticas, expressivas etc). A criança sabe e aprende outros saberes a partir da expressão do que sabe. O caráter ora festivo, ora laborioso do espaço comum na Escola da Ponte exprimem essa atividade de seres competentes, expressivos e participativos”. (CANÁRIO; MATOS; TRINDADE, 2004:68)

4.2 Escola dos Sonhos Existe Há 25 anos em Portugal

Em 1976, a Escola da Ponte era um arquipélago de solidões. Os professores

remetiam-se para o isolamento físico e psicológico, em espaços e tempos justapostos.

O trabalho escolar era exclusivamente centrado no professor, informado por manuais

iguais para todos, repetição de lições, passividade. Entregues a si próprios, encerrados

no refúgio da sua sala, a sós com seus alunos, seu método, seus manuais, sua falsa

competência multidisciplinar, em horários diferentes dos de outros professores, como

poderiam partilhar, comunicar, desenvolver um projeto comum?

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As crianças que chegavam à escola com uma cultura diferente da que ali prevalecia

eram desfavorecidas pelo não-reconhecimento da sua experiência sociocultural.

Algumas das crianças que acolhíamos transferiam para a vida escolar os problemas

sociais dos bairros pobres onde viviam. Exigiam de nós uma atitude de grande atenção

e investimento no domínio afetivo e emocional. E tomamos consciência de que não

passa de um grave equivoco a idéia de que se poderá construir uma sociedade de

indivíduos personalizados, participantes e democráticos enquanto a escolaridade for

concebida como um mero adestramento cognitivo.

A Escola da Ponte trabalha com uma pedagogia de incluir crianças portadoras de

deficiências no mesmo ambiente. As crianças convivem e aprendem nos mesmos

espaços, sem consideração pela faixa etária, mas apenas pela vontade de estar no

mesmo grupo. O critério de formação dos grupos é o afetivo e o afeto não tem idade.

Já o mestre Agostinho da Silva (2004) dizia que “os grupos devem constituir-se à

vontade dos alunos, para que haja coesão e entusiasmo pelo trabalho, alegria criadora

de quem se sente a construir um universo”.

A educação das crianças ditas com necessidades educativas especiais constituía mais

um problema dentro do problema. A colocação de crianças com necessidades

específicas junto dos ditos normais não era medida suficiente para se fazer o que

recentemente se designa por inclusão.

A inclusão não se processaria em abstrato, mas passaria por uma gestão diferente de

um mesmo currículo, para que os alunos não interiorizassem incapacidades, para que

não se vissem cada vez mais negativamente como alunos e depois como pessoas.

Freqüentemente, sob o rótulo e o estigma da diferença. Priva-se a “criança

diferente”(ainda que inconscientemente) de experiências que lhe permitiriam ganhar

consciência de si como ser social-com-os-outros. Hoje, em cada grupo há sempre um

aluno “especial”. Se os professores, por qualquer motivo, em determinado momento,

não podem acompanhar diretamente o trabalho de uma dessas crianças, logo um

colega atento se disponibiliza para a ajudar.

No padrão criado pela Escola da Ponte, os alunos decidem o que estudar montam

grupos de interesse e trabalham orientados por professores. E os professores estão lá,

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Page 26: Universidade Anhembi Morumbi€¦  · Web viewNão se tem dúvida, elas significam apenas as vigas mestras e o madeiramento. Cabe a cada aluno, a cada professor, a cada funcionário

atentos e disponíveis. Quando compreendemos que cada criança é um ser único e

“irrepetível”, que seria errado imaginar a coincidência de níveis de desenvolvimento,

concluímos que não seria inevitável pautar o ritmo dos alunos pelo ritmo de um manual

ou pela homogeneização operada pelos planos de aula destinados a um hipotético

aluno médio. Uma outra organização da escola, uma outra relação entre os vários

grupos que constituem a equipe educativa (pais, professores, alunos, pessoal auxiliar),

um outro modo de refletir as práticas. Passou-se de objetivos de instrução a objetivos

mais amplos de educação.

Talvez as “pontes” que vão sendo criadas em Portugal venham a atravessar o

Atlântico, para desassossegar os espíritos e participar da abertura de outros

“buracos”... Seria um modo possível de retribuir a dedicação de um “mineiro da Boa

Esperança, teólogo sem dogmas, psicanalista e poeta, pedagogo ocupado a

diagnosticar a doença da pedagogia, contador de estórias, catador de estórias dos

meninos aos quais gosta de seduzir para a brincadeira, dentro e fora da escola”.

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5 – Emef Desembargador Amorim Lima: uma metodologia de ensino inspirada na Escola da Ponte, de Portugal.

A EMEF Desembargador Amorim Lima, vem tentando com sucesso, desde o início de

2004, implantar o projeto inspirado na metodologia da Escola da Ponte, sendo a

primeira escola a fazê-lo no Brasil. Nela, qualquer observador atento pode perceber:

Todos participam da construção do projeto (comunidade, alunos, professores,

agentes escolares, inspetores de alunos, diretora, voluntários, pais, etc).

As falas nascem do fazer, da prática, não são alimentos do discurso vazio e da

repetição do pior.

Todos são aprendizes, inclusive os professores que acabam por ter um esforço

duplo: aprender o conteúdo de outras “disciplinas” para aprender orientar melhor

os alunos em seus roteiros de estudo.

Todos os envolvidos são considerados agentes educativos de fato. Os limites

entre as funções vêm se tornando muito tênues. O próprio aluno só recorre ao

professor orientador quando não consegue resolver o seu problema com os

demais colegas do grupo.

O educador desenvolveu uma grande paciência no trato com o aluno. Não

fazendo uma leitura direta das palavras proferidas pelo aluno consegue manter a

serenidade nas situações mais adversas.

Há um movimento instalado na escola. O que não dá certo é avaliado e mudado

toda vez que necessário.

Segundo a diretora, Ana Elisa Siqueira, o projeto trouxe a vida, o movimento para a

escola. Vida esta que nada mais é do que romper com as orientações prévias, com os

estereótipos, com a repetição. Na EMEF Desembargador Amorim Lima, as pessoas

não se entregaram ao lamento, esqueceram do outro “distante” que importuna,

voltaram-se para o seu cotidiano, arrancando dele cada gota de vida possível.

A experiência da EMEF Desembargador Amorim Lima é a prova de que é possível

inspirar-se na metodologia da Escola da Ponte e iniciar o processo de construção de

um projeto com a participação de todos. Ela aponta para a superação da falência na

relação professor-aluno, ou seja, do fracasso escolar.

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A Emef Desembargador Amorim Lima vem causando alvoroço na rede pública

paulistana. Em fevereiro de 2003, foi dada a partida a um ousado projeto piloto:

implementar uma metodologia de ensino inspirada no trabalho desenvolvido pela

Escola da Ponte, de Portugal. O resultado: capoeira, teatro e educação ambiental

entraram na grade curricular, paredes foram derrubadas e alunos passaram a decidir

com professores seus objetivos de aprendizagem e as formas de avaliação

empregadas.

Ana Siqueira que viu no grupo de pais e alunos um "germe de participação" que

gradualmente aumentou em quantidade e qualidade. "É uma comunidade muito

parceira", elogia a diretora3. As mudanças no Amorim Lima começaram com diversos

trabalhos de formação, financiados pelo MEC, dos quais participaram desde

funcionários de limpeza até a diretora. Outros trabalhos incluíram parcerias com

instituições como Vereda (que segue a proposta do educador Paulo Freire), Instituto

Pichon-Rivière e Práxis. "Essa formação foi essencial para darmos um norte ao nosso

trabalho", afirma Siqueira. Em outra fronte, a escassez de funcionários levou algumas

mães à escola nos recreios, para cuidar das crianças. Elas começaram a organizar

brincadeiras com alunos de primeiro e segundo ano, e, em 1998, nasceu o projeto

Oficina de Cultura Brasileira. Nessas oficinas, alunos de todas as séries podem ficar na

escola para aulas de capoeira, dança brasileira, música e educação ambiental, entre

outras atividades. As oficinas foram o embrião da revolução implementada neste ano

tratada por todos como "o projeto". "Trabalhar com as tradições brasileiras oferece a

oportunidade de lidar com a diversidade também no trabalho de cultura. Traz conflitos,

traz vida. Nos dá a oportunidade de falar dessas questões", diz a diretora. Com o aval

e o financiamento da Secretaria Municipal de Educação, foi dada a largada em outubro

de 2003. "Decidimos apoiar o projeto porque vimos que era muito consistente e que

pais e professores estavam convictos", conta a Secretária Municipal de Educação,

Maria Aparecida Perez.

"Afinal, o sucesso depende do envolvimento deles: é uma proposta na qual todos

participam da construção e da solução dos problemas. E foi a escola que pediu o

projeto, em nenhum momento foi algo imposto", acrescenta.

_________________3 Entrevista realizada em São Paulo, para o jornal Fola de São Paulo 31 de agosto de 2004

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Implementado no primeiro semestre deste ano, o projeto piloto cobre o primeiro e o

quinto ano do ensino fundamental. A turma do primeiro ano conta com dois professores

"gerais", e o trabalho é pautado na leitura, na escrita e nas "contas". "Especialização

antes da oitava série é absurdo. O ensino deve ser integrado", defende Ana Siqueira.

No quinto ano, em vez de um professor de história e outro de português, por exemplo,

existem três professores que trabalham com todas as áreas do conhecimento e estão

sempre juntos em sala de aula. O pressuposto do projeto é a busca de aprendizado

pessoal dentro de um processo e de um espaço coletivos. Para concretizar a teoria,

o primeiro passo foi derrubar as paredes entre as classes. "Dentro

desse espírito, os professores também precisavam ficar juntos, para

compartilhar experiências e poder discuti-las", explica a diretora.

O segundo passo foi inserir oficinas —de inglês, arte, educação física, teatro, capoeira,

leitura, informática e educação ambiental - na grade curricular. Cada uma dessas duas

séries piloto, com 105 alunos, foram divididas em 21 grupos de 5 estudantes, que

revezam as atividades entre a classe e as oficinas.

Em geral, ficam 25 alunos na sala de aula. "Isso elimina um dos problemas crônicos da

escola pública: aulas vagas devido a professores que faltam. Mesmo com dois

ausentes, um dá conta de uma sala com 25 pessoas", diz Ana.

Os alunos sempre trabalham coletivamente em atividades pessoais —podem pedir

ajuda aos colegas e compartilham oficinas, mas as tarefas são individuais. Eles

trabalham por objetivos, dentro das áreas propostas pelos professores. Uma vez por

semana, há a tutoria, quando a ficha de organização semanal de cada aluno é

discutida, e o progresso da semana, analisado. Ainda recém-nascido, o projeto já

apresenta aspectos positivos. Um deles é que a presença simultânea de vários

educadores ameniza conflitos entre aluno e professor, pois a terceira pessoa faz um

contraponto. "Trabalhar em grupo é muito difícil, mas já vemos bastante avanço", diz

Ana.

Tudo o que é novo causa um certo desconforto, mas Ana tem na ponta da língua a

resposta aos críticos. "A escola está totalmente de acordo com a Lei de Diretrizes e

Bases. Nosso projeto respeita a proposta dos ciclos, a importância do tempo de cada

aluno, a busca pela avaliação constante por objetivo", enumera. Outra crítica que

costuma ouvir é que, caso o modelo fosse adotado por toda a rede, haveria uma

redução nas vagas para professores por disciplina.

29

Page 30: Universidade Anhembi Morumbi€¦  · Web viewNão se tem dúvida, elas significam apenas as vigas mestras e o madeiramento. Cabe a cada aluno, a cada professor, a cada funcionário

A meta da escola para 2005 é ainda mais ambiciosa: expandir o projeto para todas as

séries. "Vimos que não dá para ter duas escolas em funcionamento ao mesmo tempo.

Ou é para todos, ou não é para ninguém."

O entusiasmo contagiante da diretora é um pré-requisito importante para o rali

profissional que escolheu. "Para trabalhar com a coisa pública, é preciso acreditar. Eu

acredito que a gente faz a diferença, e é essa força que me motiva todos os dias", diz3.

Ana desconfia que a sua perseverança tenha sido moldada na piscina. Ela foi

nadadora de fundo, competindo nas provas de 400 m e 800 m, além de praticar

travessia de mar. "Na natação, é preciso ter força para continuar, saber que não é tão

fácil. E perseverança é fundamental no trabalho em educação. O resultado não

aparece quase nunca3”.O fato de estar virando sua escola de ponta-cabeça não parece

preocupá-la. Ana reconhece não ter todas as respostas e acha isso bom. "O inusitado

tem de estar presente. É preciso estar o tempo todo aprendendo, mas a formação só

tem sentido quando exigida pela prática”.3

30

Page 31: Universidade Anhembi Morumbi€¦  · Web viewNão se tem dúvida, elas significam apenas as vigas mestras e o madeiramento. Cabe a cada aluno, a cada professor, a cada funcionário

6. - METODOLOGIA

O propósito deste trabalho foi conhecer o que predomina na educação brasileira,

principalmente nas escolas das classes populares, e ao mesmo tempo, conhecer

práticas que têm conseguido fazer com que o novo se manifeste na educação. A

finalidade era o desenvolvimento, na EMEF Pres. Campos Salles, de uma metodologia

de ensino que fosse portadora de uma nova mentalidade, em que a criança e o

adolescente, sejam vistos na relação pedagógica como seres capazes de exercerem a

autonomia, a responsabilidade e a solidariedade cotidianamente.

A pesquisa se deu em quatro direções, no que se refere aos procedimentos de fonte e

coleta de coleta adotados:

1. Educação Brasileira

Para este aspecto do trabalho, foram realizadas pesquisas bibliográficas, que de

acordo com:

Partiu-se de Anísio Teixeira (1969), que no início da segunda metade do século XX,

apontava os problemas da educação brasileira, e que de uma certa forma ainda

continuam os mesmos, a não ser a generalização do acesso principalmente no Ensino

Fundamental. Quanto à qualidade do ensino ainda pode-se irmanar a ele.

A partir do final da década de 70, surge em nosso país, uma linha de pesquisas que se

referem ao chamado “fracasso escolar”. Sua principal representante é Maria Helena de

Souza Patto (1990). Todas as suas pesquisa e publicações referem-se ao chamado

“fracasso escolar” das crianças pertencentes aos segmentos mais empobrecidos que

habitam os grandes centros urbanos de uma sociedade capitalista como a brasileira.

Esta linha de pesquisa aponta que os profissionais da escola quando entrevistados

remetem o fracasso escolar para as causa extra-escolares. O problema é sempre de

aprendizagem e não de ensinagem, e sendo assim, a escola e o sistema não têm nada

a fazer, já que o problema é só do aluno. Tenta encontrar nas crianças uma causa

orgânica, inerente a elas, que justifique seu mau rendimento. A este processo atribui-se

o nome de medicalização do fracasso escolar, a solução que deveria ser pedagógica

desloca-se para as áreas da saúde.Como sair desse impasse? Assumir o “fracasso

escolar” como problema social e politicamente produzido.

31

Page 32: Universidade Anhembi Morumbi€¦  · Web viewNão se tem dúvida, elas significam apenas as vigas mestras e o madeiramento. Cabe a cada aluno, a cada professor, a cada funcionário

Pesquisas feitas por Leny Magalhães Mrech (1999), na área de educação e

psicanálise, apontam que o maior problema da educação brasileira é a falência na

relação professor-aluno. Para ela a solução está em dar a fala aos professores e aos

alunos para que eles se constituam como sujeitos, pois estes se constituem falando.

2. Escola da Ponte

Para esta direção, foram realizadas:

Pesquisas bibliográficas a partir da leitura dos autores que escreveram sobre a

Escola da Ponte, com o intuito de captar a nova mentalidade que traz a

metodologia de ensino lá aplicada. Dentre eles destacam-se: José Pacheco (2004),

Rui Canário(2004), Rui Trindade (2004), o brasileiro Rubem Alves(2003) entre

outros.

Participação em palestras de José Pacheco: em 27 de novembro de 2004, na

Universidade Anhembi-Morumbi, por ocasião do lançamento do livro Escola da

Ponte Um Outro Caminho Para a Educação; em 20 de maio de 2005, no 12º

Congresso Internacional de Educação – Três experiências de vanguarda pedagógica:

EMEF Des. Amorim Lima, Escola da Ponte e Escola Lumiar e em 10 de agosto de

2005, no I Seminário de Avaliação do Projeto Amorim Lima.

3. EMEF Des. Amorim Lima

Para conhecer a metodologia de ensino que está sendo desenvolvida, na EMEF Des.

Amorim Lima foi realizada uma pesquisa de campo que incluiu:

Observação Sistemática, realizada no período entre 05 de abril de 2005 e 01 de junho

de 2005. Ao todo foram 7 dias, perfazendo um total de 20 horas (Anexo F). Os

objetivos da observação foram: conhecer e registrar como a escola está organizada

para superar a falência na relação professor-aluno; como os alunos e professores se

vêm em relação à construção do conhecimento; como os outros funcionários da escola

se articulam em relação ao projeto; enfim se há realmente uma nova prática

educacional ali instalada.

Entrevistas informais com alunos e professores para captar os seus

sentimentos e impressões em relação ao projeto que está sendo construído.

32

Page 33: Universidade Anhembi Morumbi€¦  · Web viewNão se tem dúvida, elas significam apenas as vigas mestras e o madeiramento. Cabe a cada aluno, a cada professor, a cada funcionário

Entrevista com a Diretora, Ana Elisa Siqueira, onde se buscou esclarecer

alguns aspectos obscuros que a observação não elucidou. Tais

esclarecimentos ainda são buscados, pelo Diretor Braz, por telefone ou em

eventos onde os dois se encontram.

Participação no I Seminário de Avaliação do Projeto Amorim Lima, em 10 de

agosto de 2005.

4. A participação de um grupo de 6 pessoas da EMEF Pres. Campos Salles,

dentre eles o Diretor Braz e o principal líder comunitário de Heliópolis, João Miranda

Neto, foi muito importante para a elaboração da proposta de mudança –

desenvolvimento de uma metodologia de ensino, na EMEF Pres. Campos Salles, com

base nos princípios da “Escola da Ponte” – pois se percebeu com muito mais clareza

que um projeto não pode ser reproduzido.EMEF Pres. Campos Salles.

Na EMEF Pres. Campos Salles os procedimentos de pesquisa foram muito variados.

No que se refere ao levantamento de dados para efeito de diagnóstico da escola, foram

adotados:

Observação para detectar as práticas pedagógicas que predominam nas salas

de aula.

Entrevistas informais com professores para contextualizar a escola e também

as mudanças no perfil da população atendida por ela desde o início do seu

funcionamento até hoje, e quanto a este último aspecto utilizou-se também

amostragem dos prontuários dos alunos de cada período da história da escola.

Contatos pessoais diversos com o intuito de perceber a preocupação de pais,

alunos, lideranças comunitárias e professores com a qualidade da educação

na EMEF pres. Campos Salles.

Pesquisa documental .O principal relatório utilizado para este trabalho foi

escrito em 1999 com a participação de todos os segmentos. Nele pode-se

perceber que a EMEF Pres. Campos Salles tem continuamente privilegiado a

participação como forma de solucionar os seus problemas.

Com o objetivo de detectar o fracasso escolar ou a falência na relação

professor-aluno, na EMEF Pres. Campos Salles, procedeu-se a um

levantamento estatístico referente ao ano de 2004 para evidenciar a

quantidade de alunos: promovidos com rendimento insuficiente (211), evadidos

33

Page 34: Universidade Anhembi Morumbi€¦  · Web viewNão se tem dúvida, elas significam apenas as vigas mestras e o madeiramento. Cabe a cada aluno, a cada professor, a cada funcionário

(129), retidos por falta (85) e retidos por rendimento nas 4ª e 8ª séries (33).

Isto significa que 458 alunos fracassaram de acordo com os padrões de escola

(ANEXO A, B, C e D). Para melhor esclarecer este fenômeno foram realizados

mais dois levantamentos estatísticos posteriormente: um para detectar a média

de faltas/dia dos alunos no período que transcorreu do dia 01 ao dia 22 de

setembro, total de 15 dias letivos, sendo que as médias de faltas/dia foram:

4,73 entre os alunos de 1ª a 4ª séries, 13,25 entre os alunos de 5ª a 8ª séries

e 18,76 entre os alunos da suplência; o outro para detectar a média de

faltas/dia dos professores, sem atentar para os motivos das faltas, o período

levado em consideração iniciou-se em 09 de setembro e terminou em 22 de

setembro, total de 10 dias letivos; a média de faltas/dia entre os professores foi

de 13,5 num universo de 54 professores (ANEXO E).

As pesquisas realizadas, na EMEF Pres. Campos Salles confirmou a presença do

fracasso escolar, como ele se expressa e apontou o caminho que se deve seguir para

a superação das práticas pedagógicas que ali predominam e já não satisfazem, nem

aos alunos e nem aos professores.

No que se refere aos procedimentos, com vistas ao desenvolvimento de uma

metodologia de ensino com base nos princípios da “Escola da Ponte” na EMEF Pres.

Campos Salles, foi adotada a pesquisa-ação: :

Sondagem feita por 3 professores com o intuito de perceber o grau de adesão de

seus pares ao novo projeto. No início as conversas foram sempre individuais e

posteriormente passaram a ser grupais.

Reuniões e conversas individuais com as lideranças comunitárias que desejam a

mudança na qualidade de ensino e com lideranças que ainda não são sensíveis

quanto à questão educacional.

Conversas informais, com todos os pais que procuram a escola para resolver

problemas, por parte do Diretor, da Assistente de Direção e das Coordenadoras

Pedagógicas.

Visitas de professores e lideranças comunitárias a EMEF Des. Amorim Lima.

Leitura de textos de livros que falam sobre a Escola da Ponte.

34

Page 35: Universidade Anhembi Morumbi€¦  · Web viewNão se tem dúvida, elas significam apenas as vigas mestras e o madeiramento. Cabe a cada aluno, a cada professor, a cada funcionário

Leitura coletiva e discussão do relatório do estágio feito pelo Diretor Braz por todos

os professores da escola.

Apresentação e discussão da Proposta para o início do processo de

desenvolvimento de uma metodologia de ensino com base nos princípios da Escola

da Ponte para 20 membros da diretoria ampliada da União de Núcleos, Associações

e Sociedades de Moradores de Heliópolis e São João Clímaco.

Apresentação e discussão da proposta para 16 turmas de alunos da EMEF Pres.

Campos Salles cuja duração foi de 1h e 30 min em cada turma. Excetuando as 5 8ª

séries em novembro de 2005, ainda faltavam 15 turmas. Nestas apresentações

percebia-se o brilho nos olhos dos pequenos e o entusiasmo dos maiores, e entre

estes, o entusiasmo era maior por parte daqueles que são considerados como

alunos problemas.

Apresentação da proposta em 03 de setembro de 2005 no I Seminário –

Adolescentes e Jovens de Heliópolis/Unas. Neste mesmo dia nos grupos temáticos

formou-se uma comissão com o objetivo de acompanhar e ajudar na implementação

do projeto. Muitos disseram estarem tristes, porque na sua época não havia um

projeto como este ou porque na escola onde estão as pessoas não pensam nisto.

Aprovação da proposta, em 27 de setembro de 2005, pelo Conselho de Escola. A

reunião teve duração de 3 horas. Contou com a participação de mais de 60

pessoas; apenas 21 delas eram conselheiras, 6 delas faltaram e uma não se

encontrava na sala de reunião. Apesar das objeções de um professor que não é

membro do Conselho a proposta foi aprovada com 21 votos, ou seja, todos os que

tinham direito de votar foram favoráveis. Outro aspecto relacionado ao Conselho da

EMEF Pres. Campos Salles é que ele não se reduz apenas aos membros efetivos,

todo um universo de pessoas gravita em torno dele. Quanto mais importante é o

assunto a ser decidido maior é o número de participantes da reunião.

Em 10 de outubro de 2005, a Direção da EMEF Pres. Campos Salles enviou um ofício

para a Coordenadoria e uma das solicitações foi o agendamento de uma reunião, com

a Coordenadora e com o Secretário da Educação, para discutir o papel das duas

esferas na implementação do projeto (Anexo G). Em 01 de novembro de 2005 foi

realizada na EMEF Pres. Campos Salles a reunião com a Coordenadora do Ipiranga,

Ela mostrou-se muito interessada após tomar conhecimento da proposta mais

detalhadamente e dispôs-se a ajudar no que for possível.

35

Page 36: Universidade Anhembi Morumbi€¦  · Web viewNão se tem dúvida, elas significam apenas as vigas mestras e o madeiramento. Cabe a cada aluno, a cada professor, a cada funcionário

As ações visando à implementação de uma metodologia de ensino com base nos

princípios da Escola da Ponte na EMEF Pres. Campos Salles já encontrou um alicerce

pronto, construído ao longo de 10 anos – as influências recíprocas entre escola e

comunidade – e estas exigem mudanças cada vez mais profundas para ambas. Qual o

significado, então, destas ações para a implementação do Projeto em pauta? Não se

tem dúvida, elas significam apenas as vigas mestras e o madeiramento. Cabe a cada

aluno, a cada professor, a cada funcionário da escola, a cada pai, a cada mãe, a cada

líder comunitário arregaçar as mangas pegar o martelo, os pregos, a colher, o cimento,

os tijolos e começar a nova construção no seu tempo e no seu ritmo. Caso a

construção fique com defeito, o problema não será procurado no indivíduo, pelo

contrário, o coletivo será mobilizado para resolver o problema.

Com base nos procedimentos apontados na pesquisa ação os resultados serão

discutidos no capítulo a seguir.

36

Page 37: Universidade Anhembi Morumbi€¦  · Web viewNão se tem dúvida, elas significam apenas as vigas mestras e o madeiramento. Cabe a cada aluno, a cada professor, a cada funcionário

7. DISCUSSÃO DE RESULTADOS

A aprovação da proposta para o início do processo de desenvolvimento de uma

metodologia de ensino, na EMEF Pres. Campos Salles, com base nos princípios da

Escola da Ponte, em 27 de outubro de 2005, pelo Conselho de Escola, tem operado

mudanças significativas. Não há dúvidas de que este projeto social/educacional já vem

mostrando o seu grande potencial de mobilização das pessoas na busca da melhoria

da qualidade de ensino na escola.

As discussões entre os professores têm como referência os princípios da autonomia,

da responsabilidade e da solidariedade, e o mesmo já começa a se transferir para os

alunos. A estrutura, os currículos, os tempos e os espaços escolares estão sendo

repensados dentro de uma nova ótica que vê o aluno como sujeito de sua

aprendizagem e não como objeto a ser formatado com aquilo que o adulto acha que é

bom para ele.

Prevê-se que este projeto ganhará contornos mais definidos durante os anos de 2006 e

2007, mas já está em andamento prenúncios de seu sucesso:

- Por iniciativa dos professores formou-se uma comissão para estudo e

mudança do Regimento Escolar para melhor adaptá-lo ao projeto. Ela é

formada por 4 professores e tem trabalhado arduamente para que as

mudanças introduzidas sejam aprovadas ainda em 2005, pela Coordenadoria

de Educação do Ipiranga, para que possam vigorar a partir de 2006.

- A professora da Sala de Apoio Pedagógico procurou o Diretor, antes da

aprovação da proposta, dizendo de suas preocupações com a questão da

inclusão dos alunos portadores de necessidades especiais na EMEF Pres

Campos Salles. Afirmou, na ocasião, que na escola havia uma certa

preocupação com estes alunos apenas de 1ª a 4ª séries e que a partir da 5ª

série eles eram desconsiderados e o novo projeto era uma oportunidade para

que os alunos fossem realmente incluídos em todas as séries. O Diretor

sugeriu que ela formasse uma comissão permanente com vistas a

37

Page 38: Universidade Anhembi Morumbi€¦  · Web viewNão se tem dúvida, elas significam apenas as vigas mestras e o madeiramento. Cabe a cada aluno, a cada professor, a cada funcionário

implementar a inclusão em todas as séries do Ensino Fundamental. A

comissão já foi formada e a discussão iniciada.

- Surgiu uma comissão de professores para liderar o processo de aproximação

das áreas do conhecimento. Após as primeiras discussões descobriu-se que

sua função é muito mais ampla, ou seja, para aproximar as áreas do

conhecimento é necessário reorganizar os tempos e os espaços escolares.

Sua principal tarefa é romper com as orientações prévias e buscar consensos

para que ocorra um trabalho transdisciplinar na escola.

- Formação de 2 grupos de alunos para elaborar e implementar projetos. Um

de grafite e outro de teatro. Formas de expressão que adquire um outro

valor, um outro significado tanto para os alunos como para os professores.

Estes grupos se organizaram em função da mostra cultural ocorrida nos dias

17 e 18 de novembro que teve como tema: O Afro-descendente – Brasil

Mostra a tua Cara.

O projeto de grafite nasceu por iniciativa de um professor de história para

incluir alguns alunos de uma 6ª série que são usuários de drogas lícitas e

ilícitas. Estes alunos vinham causando vários problemas de indisciplina que

afetavam professores e os colegas. No período de execução do projeto eles

eram olhados com desconfiança por professores e funcionários. O resultado

do trabalho levou a perceber que os alunos são portadores de saberes e

habilidades que merecem ser valorizadas. O professor contente com as

mudanças dos alunos e na visão que se tinha deles, propôs ao Diretor a

continuidade do trabalho. O próximo passo será a intervenção nos espaços

da quadra de esporte.

O projeto de teatro nasceu por iniciativa da professora de português. As

apresentações que o grupo fez na mostra cultural deixaram alguns

professores espantados com o resultado. O Diretor ouviu uma professora

dizer para a professora de português: “como você conseguiu isso dessas ...”.

A professora de português já expressou o desejo de continuar com o projeto

38

Page 39: Universidade Anhembi Morumbi€¦  · Web viewNão se tem dúvida, elas significam apenas as vigas mestras e o madeiramento. Cabe a cada aluno, a cada professor, a cada funcionário

e inclusive já encontrou uma parceira para ajudar na coordenação do

projeto, a professora de Educação Artística”.

- Uma professora de 1ª série vem tentando trabalhar com seus alunos dentro

da nova mentalidade e os resultados já comprovam que o aluno é capaz de

tomar decisões, capaz de organizar-se para aprender tanto individual como

coletivamente, mesmo sendo muito novo. Os casos de disciplina são

discutidos pelos alunos e decisões são tomadas e eles se responsabilizam

pela execução das mesmas. Já estabeleceram regras de como se

comportarem quando estão nas atividades grupais. Esta professora já quer

derrubar as paredes que dividem as salas de aula e está ansiosa para ver as

assembléias de alunos da escola.

- Até o momento já se conseguiu 5 voluntários para as atividades de monitoria,

por iniciativa da Assistente de Direção e da Orientadora da Sala de Leitura.

Sendo 2 deles professores aposentados da escola, 2 de uma escola

particular e 1 que já vem ajudando na implementação do projeto.

- Uma pessoa da comunidade que tem participado da implementação do

projeto, percebendo a necessidade de uma máquina de xerox para facilitar o

trabalho articulado dos professores na construção de um currículo vivo,

ofereceu 30.000 cópias/mês até que a escola tenha a sua própria máquina

de xerox. Como contrapartida a escola tem que fornecer apenas o papel e a

tinta.

- A escola obteve da Coordenadoria de Educação do Ipiranga através da

supervisão, a garantia de que os professores concursados, quando da

escolha na Secretaria Municipal de Educação, serão avisados de que a

escola tem um projeto diferenciado. O mesmo também ocorrerá nas

atribuições de aulas/classes na Coordenadoria de Educação no Ipiranga.

- Comissão pró-implementação do projeto. É formada por representantes da

Diretoria da União de Núcleos, Associações e Sociedades de Moradores de

Heliópolis e São João Clímaco e outras pessoas da comunidade. Todos já

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Page 40: Universidade Anhembi Morumbi€¦  · Web viewNão se tem dúvida, elas significam apenas as vigas mestras e o madeiramento. Cabe a cada aluno, a cada professor, a cada funcionário

são participantes ativos do projeto de integração escola-comunidade e estão

preocupados com a superação do fracasso escolar ou a falência na relação

professor-aluno.

Os resultados acima, embora seja um prenúncio, do que ocorrerá nos próximos anos,

são responsáveis pelo movimento dentro da escola. O processo dialético está

instalado. Os sujeitos falam e se expressam nas várias formas de linguagens. Estão se

constituindo como sujeitos com todo o seu vigor e contradição. Neste projeto

social/educacional a contradição será incorporada para que o processo não paralise.

40

Page 41: Universidade Anhembi Morumbi€¦  · Web viewNão se tem dúvida, elas significam apenas as vigas mestras e o madeiramento. Cabe a cada aluno, a cada professor, a cada funcionário

8. PLANO DE AÇÃO – PROPOSTA PARA O INÍCIO DO PROCESSO DE DESENVOLVIMENTO DE UMA METODOLOGIA DE ENSINO, NA EMEF PRES. CAMPOS SALLES, COM BASE NOS PRINCÍPIOS DA “ESCOLA DA PONTE”.

Após o estágio de observação na EMEF Des. Amorim Lima, feito pelo diretor da EMEF

Pres. Campos Salles, no qual foi sempre acompanhado por representantes de

professores, elaborou-se uma proposta que foi apresentada para as lideranças da

comunidade de Heliópolis, para um grupo de 100 jovens participantes dos projetos da

UNAS, para os alunos e para os professores da escola. Esse processo de

apresentação e discussão culminou com a reunião do Conselho de Escola no dia 27 de

setembro de 2005. Participaram da reunião mais de 60 pessoas, sendo que desse

número apenas 21 delas eram conselheiras. Este fato é muito importante porque revela

a forte relação da escola com a comunidade e que o Conselho não se restringe apenas

aos 28 membros efetivos, que no dia eram 21, pois 6 haviam faltado. A reunião teve

uma duração de 3h, nos trinta minutos iniciais a proposta foi apresentada pelo diretor,

em seguida deu-se a palavra para os participantes; após duas horas e 30 minutos de

diálogo a proposta foi aprovada pelo voto dos 21 conselheiros presentes. As principais

restrições à proposta foram feitas por um professor, mas todos os professores

conselheiros votaram favoravelmente.

Os três princípios: Autonomia, Responsabilidade e Solidariedade serão vivenciados

nas atividades desenvolvidas no cotidiano escolar por todos os alunos, mas também,

pelos profissionais que trabalham na escola. Todos serão aprendizes neste processo.

Com o passar do tempo estes princípios perpassarão toda a comunidade de Heliópolis

através dos alunos, dos seus pais, da ação dos profissionais da escola e das

lideranças que já estão envolvidas com o projeto.

Estes três princípios só farão sentido se articulados. Uma pessoa autônoma é uma

pessoa livre, mas uma pessoa livre só pode fazer aquilo pelo qual possa

responsabilizar-se e o que ela faz não pode prejudicar o outro. Viver de acordo com

estes princípios não é fácil. É uma aprendizagem lenta e gradual. A EMEF Pres.

Campos Salles tentará criar condições apropriadas para que estes princípios adquiram

sentidos de acordo com a vivência de cada um.

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Page 42: Universidade Anhembi Morumbi€¦  · Web viewNão se tem dúvida, elas significam apenas as vigas mestras e o madeiramento. Cabe a cada aluno, a cada professor, a cada funcionário

Autonomia, responsabilidade e solidariedade exigem por parte do adulto que trabalha

com a criança, uma nova mentalidade, que a perceba como um ser integral, completo;

capaz de tomar decisões, portador de saberes e capaz de organizar-se para aprender.

Isso exige dos adultos uma nova postura em relação às crianças e adolescentes, ou

seja, ajudá-los a se constituir como sujeitos autônomos, responsáveis e solidários e

não se tornarem cópias dos adultos. Esta nova mentalidade exige que o adulto

caminhe lado a lado da criança e do adolescente.

8.1.Monitoria

Em determinado dia da semana o aluno virá para a monitoria. Os alunos do período

serão divididos em grupos de 15 pessoas, cada grupo terá um professor monitor e um

aluno, como facilitador escolhido pelos seus pares. O grupo será composto por alunos

de séries diferentes. Os professores monitores serão conscientizados para que em

nenhum momento se tornem disciplinadores. No grupo de monitoria as atividades

terão como objetivo principal o exercício dos princípios da autonomia, da

responsabilidade e da solidariedade. Cabe ao monitor ser o incentivador das atividades

escolares dos alunos, dentro e fora da escola; acompanhar os alunos nas suas

dificuldades, que podem ir para além da escola; ajudar o seu grupo a se tornar um

grupo de auto-ajuda que extrapole os muros da escola; dar e garantir a fala ao aluno

quando em plenário.

As atividades da monitoria serão organizadas pelo coletivo de monitores levando-se em

consideração as necessidades dos alunos. Até o momento, levando em consideração o

trabalho que a escola já vem fazendo, foram propostas três atividades:

1. Pesquisa. Será preparado um questionário pelo coletivo dos professores, com o

objetivo, de conhecer a realidade das famílias dos alunos. O monitor e o seu grupo

visitarão as famílias de todos os alunos de sua monitoria para contato e também

para responder ao questionário. Após o preenchimento do questionário por todas as

monitorias, será realizada a tabulação e a interpretação dos dados. Esta pesquisa

será fundamental para a construção do currículo da EMEF Pres. Campos Salles.

2. História de vida. Na comunidade de Heliópolis há muitas pessoas idosas e

desempregadas, que vivem praticamente isoladas. Precisam interagir, mas ninguém

as procuram. Os monitores incentivarão os alunos a procurá-las para virem à escola

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Page 43: Universidade Anhembi Morumbi€¦  · Web viewNão se tem dúvida, elas significam apenas as vigas mestras e o madeiramento. Cabe a cada aluno, a cada professor, a cada funcionário

contar a sua história na monitoria. Os alunos estarão orientados para facilitarem o

relato. A história deve seguir o seguinte roteiro: infância, adolescência, juventude e

velhice quando for o caso. O objetivo principal desta atividade é oferecer referenciais

para que o aluno se constitua como sujeito autônomo, responsável e solidário.

3. História da família. Os alunos da monitoria serão divididos em duplas; cada

componente escreverá a história do outro componente. Será dado prazo de alguns

meses para a entrega das histórias. Cada monitor escolherá duas histórias bastante

significativas para os alunos. De posse das histórias escolhidas pelos monitores

individualmente, todos os monitores escolherão as cinco mais significativas.

Posteriormente os professores formarão grupos de alunos para a apresentação das

histórias para toda a escola e as famílias envolvidas, através de música, jogral, peça

de teatro, etc. O principal objetivo desta atividade é levar os alunos a perceberem a

função da escrita e a interação entre as famílias.

8.2 Áreas do Conhecimento

Em 2006 não serão derrubadas as paredes físicas que separam as salas de aula. A

EMEF Pres. Campos Salles tentará “derrubar as paredes” que separam as disciplinas

ou matérias. Para isso, as disciplinas serão agrupadas por áreas de conhecimento,

este trabalho ainda está sendo feito. Após a definição das áreas, e para evitar a

fragmentação em outro patamar, as áreas do conhecimento realizarão as seguintes

atividades:

a. Os professores de cada área se reunirão para estabelecer os objetivos e o sentido

de sua área do conhecimento para a formação humana, tendo como foco, o aluno

contextualizado e o Ensino Fundamental.

b. Divulgar os objetivos e o sentido de sua área de conhecimento para a formação

humana para as outras áreas, para os alunos e para os pais.

c. No final de cada mês haverá uma apresentação cujo objetivo é fazer o “marketing”

da área responsável pela apresentação. Esta apresentação será realizada pelos

alunos e supervisionada pelos professores da área.

43

Page 44: Universidade Anhembi Morumbi€¦  · Web viewNão se tem dúvida, elas significam apenas as vigas mestras e o madeiramento. Cabe a cada aluno, a cada professor, a cada funcionário

As atividades acima têm como objetivo principal facilitar um trabalho transdisciplinar e

preparar os profissionais da escola para derrubarem as paredes físicas da sala de aula,

em 2007, caso sintam necessidade. Todas as atividades serão pautadas pelos

princípios da autonomia, da responsabilidade e da solidariedade.

8.3 Salas de Aula

Para que as atividades da sala de aula, 4 dias por semana, não se isolem do trabalho

da monitoria e do trabalho das áreas de conhecimento, está sendo proposto:

1. Equipes. Cada turma será dividida em 5 ou 6 equipes de trabalho, dependendo da

quantidade de alunos. Elas serão respeitadas por todos os professores da série. Os

alunos serão incentivados, mas não obrigados, a se reunirem também fora da

escola.

2. Círculos ou plenários. Além do trabalho das equipes nas salas de aula, os

professores também utilizarão círculos ou plenários para socializar as novas

descobertas dos alunos.

3. Aulas expositivas explicativas. Os professores farão uso deste recurso apenas

quando sentirem necessidade, mas de tal forma que ele perda a predominância na

sala de aula.

4. Formação de grupos para elaborar e implementar projetos. Os professores

convidarão alunos de todas as séries que queiram vir para a escola para trabalhar

com projetos fora do horário de aula. Os projetos poderão ser para interferir na

escola ou na comunidade. Estes alunos serão conduzidos pelas orientadoras da

sala de leitura e pelas orientadoras da sala de informática e também por seus

professores de sala de aula.

5. Formação de grupos provisórios. Alunos de 1ª a 4ª séries que não dominam a

escrita e a leitura, serão agrupados, no seu período de estudo e também fora dele,

para que sejam alfabetizados. Após aprender a ler e escrever, o aluno voltará para a

sua série de origem. Esta ação tem como objetivo evitar que o aluno chegue na 5ª

série sem dominar a escrita e a leitura.

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A Coordenação Pedagógica e a Direção da escola supervisionarão a utilização das

atividades ou recursos, descritos acima, pelos professores da série, sempre com o foco

nos princípios da autonomia, responsabilidade e solidariedade.

A proposta descrita acima, aprovada pelo Conselho de Escola, em setembro de 2005,

é apenas o ponto inicial para a construção do Projeto da EMEF Pres. Campos Salles, a

partir do início do ano letivo de 2006. Constitui-se no arcabouço que será a base para a

construção de um projeto vivo, em movimento contínuo, com a participação de todos os

segmentos, sendo os alunos e os professores, os principais parceiros desta

construção.

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9. CONSIDERAÇÕES FINAIS

Durante as pesquisas e o registro deste trabalho surgiu um turbilhão de idéias.

Algumas foram registradas e outras não. O Diretor Braz Rodrigues Nogueira falando na

manhã do dia 11 de novembro de 2005, no Fórum da Criança e Adolescente de Vila

Prudente, para um público de mais 200 pessoas, quando se referiu à nova metodologia

de ensino que está sendo implementada na EMEF Pres. Campos Salles apontou

alguns aspectos que merecem ser inscritos mesmo a título de considerações finais. “A

comunidade deveria ter o poder de influenciar na contratação e dispensa dos

professores e funcionários da escola de suas crianças e adolescentes”. “Não se

constrói uma sociedade autônoma, responsável e solidária com pais mandando nos

filhos e diretores e professores mandando nos alunos. Esta sociedade só se construirá

quando crianças, adolescentes, jovens, adultos e idosos caminharem lado a lado”.

Vê-se nestas citações e nas outras inscritas, no corpo deste trabalho, que está sendo

desenvolvida uma nova mentalidade que torna o ser humano independente e sua

faixa etária, como um ser integral, e que, portanto, é capaz de tomar decisões,

organizar-se individual e coletivamente para aprender e conviver. A escola não pode

desconsiderar estas capacidades nas crianças que a ela acessam e principalmente os

saberes e valores de que são portadoras. Estas são expressões de sua comunidade de

inserção e é a possibilidade de construção de novos saberes e valores. A escola

portadora desta nova mentalidade organiza-se para que os alunos se expressem

livremente e funde-se com a comunidade onde está inserida, instaura-se então, um

processo dialético onde as influências recíprocas – escola/comunidade – produzem

síntese cada vez mais elaborada, ou em outras palavras, novos saberes e novos

valores.

Este trabalho não tem a pretensão de levar ninguém a imaginar que a solução do

fracasso escolar ou a falência na relação professor-aluno pode ser reduzida à questão

das metodologias de ensino. Ela é muito importante, mas uma metodologia de ensino

só pode ser eficiente se acompanhada da nova mentalidade aludida acima. Esta sim

instaura o movimento, a vida dentro e fora da escola.

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Parece tão simples deixar o novo, o movimento, a vida entrarem dentro da escola – o

desenvolvimento de uma metodologia com base nos princípios da Escola da Ponte que

seja portadora de uma nova mentalidade – mas será isto suficiente?

A Doutora Leny Magalhães Mrech (1999) não cansa de falar da necessidade que o

educador tem de romper com as orientações prévias, com os estereótipos, com a

repetição do pior. Tem que ser dada a palavra aos sujeitos, pois eles se constituem

falando; as palavras proferidas veiculam um sentido, mas são desprovidas de

concretude, por isso, não se pode interpretar as pessoas, só elas podem vir a saber de

si mesmas. O que ela está propondo?

Ela propõe, nada mais nada menos, buscar dentro de cada sujeito, aquilo que o amarra

e o impede de emergir, ou seja, as estruturas de alienação no saber. Diz ela:

“Um aspecto fundamental a ser assinalado nas estruturas individuais de alienação no saber é que elas apresentam um vínculo muito estreito com os fantasmas dos sujeitos e das instituições. O fantasma cria uma ‘ambiência’, isto é, um cenário que previamente o sujeito tentará encontrar em todos os lugares. Mais precisamente, o fantasma materializa cenários e cria roteiros previamente estruturados, para evitar que o sujeito entre em contato com os outros concretos”. (MRECH, 1999:16)

Acessar aos outros concretos, tem sido também, a grande preocupação do Diretor

Braz. Isto pode ser percebido na citação a seguir:

“Pensando sobre os ensinamentos da Professora Leny não pude também deixar de pensar no Professor Rafael, um ótimo colega de trabalho. Há mais de 19 anos lecionei numa escola estadual e lá tive o prazer de conhece-lo. Nesta época ele já havia lecionado por mais de 45 anos. Chegávamos de manhã, bem cedo, e conversávamos bastante antes de começarmos a trabalhar. Sempre fiquei intrigado com o bom humor deste professor e a sede de se aposentar por parte de outros. Mais intrigado fiquei quando após uma reunião pedagógica ele me disse: Braz, eu gosto muito de sua participação nas reuniões, do seu entusiasmo, mas não se iluda, há mais de 45 anos ouço a mesma coisa. Por favor, não perca o entusiasmo se não você não agüenta. O que será que o professor Rafael estava querendo me dizer? Talvez ele tinha a sensação de que o sujeito não tem quase nenhum ‘poder’ para se construir, já que há uma supremacia das instituições para molda-lo. E a pergunta que eu me faço é a seguinte: Como romper com as orientações prévias, com os estereótipos, com a repetição e deixar o novo entrar?” (ESTÁGIO DE OBSERVAÇÃO – EMEF Des. Amorim Lima)

Para a Doutora Leny Magalhães Mrech (1999), com base em Jacques Lacan (1999), a

linguagem não pode ser entificada, quando isso ocorre, e fazendo-se uma leitura direta

dela, perde-se então, o sujeito. A paralisação, a fossilização da linguagem é

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responsável pela paralisação do processo e o sujeito acaba ficando preso às suas

modalidades de gozo e são nestas que pode-se encontrar a estrutura de

funcionamento do sujeito.

Expressar-se livremente, através da fala ou das outras formas de linguagem possibilita

a circulação, o movimento e o rompimento das cadeias de gozo originárias dos

sujeitos.

“A linguagem é um tonel que vaza”. A linguagem vai remeter sempre a um outro significante, que remete a um outro significante, que remete a um outro significante. Só que, devido às cadeias de gozo, há uma paralisação desse processo. Então, existem certos sentidos, certas significações na história do sujeito, às quais ele se apega, se atrela, querendo apenas partir delas. Lacan pontua que o sujeito também não está nessas significações prévias. Ele também não está nos sentidos previamente fixados.

Na escola é muito importante que os educadores auxiliem os alunos a soltar o que Lacan designa as amarras da palavra, isto é, as significações prévias. Cabe aos educadores não compactuarem com estas significações estereotipadas. Cabe aos educadores caírem fora das cadeias de gozo originárias dos sujeitos”. (MRECH, 1999:80-81)

O Diretor Braz, no seu relatório reflexivo sobre o projeto da EMEF Des. Amorim Lima

faz os seguintes questionamentos: (Anexo F)

“Será que as pessoas da EMEF Des. Amorim Lima conhecem Lacan, os professores: Leny e Rafael? Será que deixaram o novo, o movimento entrarem para ficar? Será que estão introduzindo novas modalidades de gozo mais condizentes com as necessidades dos sujeitos na escola contemporânea?”. (ESTÁGIO DE OBSERVAÇÃO – EMEF Des. Amorim Lima)

A experiência da EMEF Des. Amorim Lima ainda é muito recente, teve seu início em

2004 e o projeto ainda não atingiu toda a escola. Precisa-se de mais tempo para que

se faça uma avaliação mais global. Mas a observação, as conversas informais com a

Diretora, com alunos, com professores e leituras de publicações sobre o seu projeto

nos autoriza a afirmar que lá há uma metodologia de ensino portadora da nova

mentalidade aludida no corpo deste trabalho. As amarras da palavra foram soltas e a

circulação, o movimento, o novo estão lá instalados. Enfim, o que lá acontece é prova

de que as mudanças na educação são possíveis.

O curioso é que a EMEF Des. Amorim Lima, com mais de 1000 alunos, inspirou-se no

projeto “Fazer a Ponte” da escola que ficou conhecida como “Escola da Ponte”,

localizada na Vila das Aves, em Portugal, que possui menos de 200 alunos, para

desenvolver a sua metodologia de ensino. O que se faz na EMEF Des. Amorim Lima

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não é o que se faz na Escola da Ponte, mas há algo em comum entre elas, que é a

crença de que a criança é um ser integral.

A Escola da Ponte é o espaço onde o aluno se expressa culturalmente numa

multiplicidade de linguagens – verbais, numéricas, informáticas, artísticas etc. A

originalidade do projeto “Fazer a Ponte” está na desconstrução da ruptura entre o aluno

e a criança. Nele a criança explicita-se como um ser competente que já chega à escola

portando saberes referentes à sua cultura, capaz de tomar decisões e organizar-se

para aprender com a ajuda de seus professores, que são também, seres que

aprendem caminhando lado a lado com seu aluno, num mesmo plano, portanto, nem

abaixo e nem acima dele.

Não há dúvidas quanto à importância e grandeza dessas duas experiências para a

superação do “fracasso escolar” ou “falência na relação professor-aluno”. O projeto

“Fazer a Ponte” vem sendo construído há quase 30 anos, o da EMEF Des. Amorim

Lima há apenas dois anos e estão sempre a começar, pois tanto lá como aqui se evita

a paralisação, a fossilização da linguagem. Ambos trouxeram o movimento, a vida para

a escola e a certeza de que as outras escolas podem romper com a paralisia à qual

foram acometidas.

Na verdade não se implementa uma metodologia de ensino pelo simples desejo das

pessoas. É preciso mais que o desejo de mudar, ou melhor, é preciso condições para

que o desejo se efetive. Na EMEF Pres. Campos Salles o desejo e as condições estão

presentes. Em 10 anos o alicerce foi colocado – a forte relação escola-comunidade –

que é uma das condições indispensáveis; a outra foi a discussão da proposta com os

vários segmentos e a sua aprovação pelo Conselho de Escola no dia 27 de setembro

de 2005.. A proposta para o início do processo de desenvolvimento de uma

metodologia de ensino com base nos princípios da Escola da Ponte, presente no corpo

deste trabalho, são as vigas mestras e o madeiramento do Projeto a ser construído a

partir do início de 2006.

Mudanças esperadas com a implementação de uma metodologia de ensino com base

nos princípios da Escola da Ponte na EMEF Pres. Campos Salles no prazo de dois

anos (2006 e 2007):

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1. Comunidade, alunos, professores, agentes escolares, inspetores de alunos,

diretor, coordenadores pedagógicos, assistente de direção, auxiliares de

direção, orientadores de sala de leitura, orientadores de sala de informática,

pais, voluntários e supervisor escolar caminhando lado a lado na busca de

uma educação pública de qualidade.

2. Superação do discurso que responsabiliza o outro pela solução dos

problemas.

3. Formação continuada contextualizada, portanto, a partir das práticas

cotidianas dos professores e dos alunos.

4. A superação da cisão aluno-criança e o reconhecimento de suas

competências pelo adulto.

5. Substituição da competição pela solidariedade no fazer pedagógico, todos

ensinando e aprendendo juntos independentemente da faixa etária.

6. Substituição da intolerância pela paciência diante das expressões dos alunos

e dos colegas de trabalho.

7. Reconhecimento e superação das orientações prévias que aprisionam os

sujeitos, dos preconceitos, dos estereótipos, da repetição do pior, para que o

novo, o movimento, a vida possam entrar e ficar na escola.

8. Superação gradual do “fracasso escolar” ou da “falência na relação

professor-aluno”

O “fracasso escolar” ou a “falência na relação professor-aluno”, na EMEF Pres.

Campos Salles, foi detectado no levantamento feito referente ao ano de 2004 (Anexo

E) e não deixa dúvida de que providências devem ser tomadas, o que justifica a

implementação deste projeto. O número de alunos promovidos com rendimento

insatisfatório, evadidos, retidos por falta e retidos por rendimento corresponde a

32,16% do total dos alunos da escola (Anexos A,B, C e D).

A melhora dos índices: a) promoção com rendimento insatisfatório – 14,82%; b) evasão

– 9,06%; c) retenção por falta – 5,97% e d) retenção por rendimento – 2,31% será a

garantia de que os objetivos acima estarão sendo atingidos.

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Este levantamento será feito anualmente e no final do ano de 2007 espera-se que

estes índices tenham baixado, pelo menos, em 50%.

A elaboração deste projeto social/educacional não teria sido possível sem o projeto da

Escola da Ponte e o projeto da EMEF Desembargador Amorim Lima, mas é necessário

referir-se também a uma outra fonte de inspiração – O Projeto Cidade Educadora

Aprendiz –, quase ausente neste trabalho, que pela sua filosofia tem contribuído para a

valorização dos dois projetos citados e de muitas outras experiências transformadoras.

Em uma de suas atividades – O Clube do Saber – são apresentadas experiências

originais, que trazem para os participantes a certeza de que o novo é possível e que o

ser humano aprende em todos os espaços e não só nas escolas, e aprenderá muito

mais quando estas forem melhores.

Por tudo o que foi dito acima, a EMEF Pres. Campo Salles foi beber na fonte que tornou possível as duas experiências, ou seja, a nova mentalidade que vê a criança como um ser integral, que já chega à escola portando os saberes de sua cultura e é capaz de exercer a autonomia, a responsabilidade e a solidariedade.

REFERÊNCIA BIBLIOGRÁFICA

ALVES, RUBENS. “A Escola que sempre sonhei sem imaginar que pudesse existir”.

Editora Papirus,Campinas, São Paulo, 2003.

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CANÁRIO, RUI; MATOS, FILOMENA; TRINDADE, RUI (Orgs.). "Escola da Ponte: um

outro caminho para a Educação", Editora Didática Suplegraf, São Paulo, 2004.

FRÚGOLI JUNIOR, HEITOR. “Centralidade em São Paulo: tragetórias, conflitos e

negociações na metrópole”. Editora Cortez, São Paulo, 2000.

HESSEM, JOHANNES. “Teoria do conhecimento”. Coimbra, Armênio Amado - Editor,

5ª edição, 1970.

LAHIRE, BERNARD. “Sucesso escolar nos meios populares – razões do improvável”.

Editora Ática, São Paulo, 1997.

MRECH, LENY. "Psicanálise e Educação - Novos operadores de leitura". Editora

Pioneira: São Paulo, 1999.

OS PENSADORES, volume XXIV, Rouseau, São Paulo, Abril Cultural, 1º edição, 1973.

PATTO, M.H.S. “A produção do fracasso escolar: histórias de submissão e rebeldia.

São Paulo, T.A Queiroz, 1990.

Projeto da EMEF Campos Salles

TEIXEIRA, ANISIO. Educação no Brasil. São Paulo: Cia. Editora Nacional, 1969.

Dissertações

AMORIM, NILBERTO DE MATOS. “A escola em tempos de mal-estar e drogas”.

São Paulo: Pontifícia Universidade Católica. 2004 (Tese de doutorado)

GALLO, MARCIA. “A parceria presente: A relação família – escola da periferia de São

Paulo”. São Paulo. Pontifícia Universidade Católica (Dissertação de Mestrado)

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ANEXO A

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ANEXO B

ANEXO C

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ANEXO D

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ANEXO E

LEVANTAMENTO DE FREQUENCIA POR SÉRIE

ANO 2005               MÊS:   SETEMBRO            

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SÉRIE 1 2 5 6 8 9 12 13 14 15 16 19 20 21 22 total por serie Média por série

1ªA MANHÃ 1 6 2 4 7 13 6 10 3 4 7 6 7   0 76 10,13333333

1ª B MANHÃ 10 6 5 2 9 1 6 6 7 3 8 8 4     75 10,71428571

1ªC TARDE 8 9 8 13 4 5 7 4 5 8 6 6 4 7   94 12,53333333

1ªD TARDE 5 4 4 13 5 7 5 3 4 3 1 2 2     58 8,285714286

2ªA MANHÃ 2 8 7 5 5 6 2 6 6 6 6 6 7     72 10,28571429

2ªB TARDE 2 1 1 1 5 6 6 1 4 4   3 1 2   37 5,285714286

3ªA MANHÃ 7 4 1 5 2 1 1 5 3 1 1 3 3     37 5,285714286

3ªB MANHÃ 9 8 10 5 8 11 6 8 12 5 9 1 4     96 13,71428571

3ªC TARDE 4 6 2 13 5 9 2 3 6 5 8 3 3 2   71 9,466666667

3ªD TARDE 3 8 5 11 5 7 5 4 4 5 2 8 7     74 10,57142857

4ªA MANHÃ   9 5   4 3 3 3 3 7 4 5 4     50 8,333333333

4ªB TARDE 2 4 4 11 3 6 3 4 3 4 4 5 1 3   57 7,6

4ªC TARDE 1 10 4 11 5 4 3 5 4 4 6 6 7 6   76 10,13333333

total por dia 54 83 58 94 67 79 55 62 64 59 62 62 54 20 0    

Média por dia 4,5 6,38 4,46 7,83 5,15 6,08 4,23 4,77 4,92 4,54 5,17 4,77 4,15 4 0    

Média total dia                               4,730769231  Média total série                                 9,410989011

                                   5ªA MANHÃ 8 12 13 9 10 11 4 6 2 4 9 4 6     98 145ªB TARDE 16 18 9 22 10 17 13 9 11 11 16 8 8     168 245ªC TARDE 4 9 5 12 8 8 3 2 7 5 9 4 2     78 11,142857146ªA MANHÃ 12 11 11 7 11 10 8 12 11 12 11 10 7     133 196ªB TARDE 7 7 9 14 8 9 8 8 11 8 6 12       107 16,461538467ªA MANHÃ 13 5 6 2 12 5 3 3 2 7 3 7 7     75 10,714285717ªB MANHÃ 10 14 8 4 14 9 6 3 5 2 6 5 3     89 12,714285717ªC TARDE 8 7 10 15 9 11 6 7 7 7 9 5 4     105 158ªA MANHÃ 10 7 10 9 13 9 6 8 10 8 6 12 9     117 16,714285718ªB MANHÃ 9 5 12 5 8 6 3 6 8 4 8 8 3     85 12,142857148ªC TARDE 11 14 12 12 8 10 8 10 10 8 12 9 9     133 19

total por 108 109 105 111 111 105 68 74 84 76 95 84 58 0 0    

58

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diaMédia por dia 18 18,2 17,5 18,5 18,5 17,5 11,3 12,3 14 12,7 15,8 14 10,5 0 0    Média total dia                               13,25858586  Média total série                                 15,53546454

                                   

1TA 13 18 13 25 17 21 14 14 15 14 22 19 14     219 31,28571429

3TA                               0 0

4TA 10 16 7 11 10 17 13 7 9 4 18 6 5     133 19

5TA 8 7 10 13 13 16 10 13   16 16 6 8     136 20,92307692

5TB   12 8 12 12 15 12 10 9   18 9 9     126 21

6TA   12 10 15 13   12 10 8 14   13 10     117 21,27272727

7TA     9   12 18 7 6 10   19 8 6     95 19

7TB     9 15 14 19 7 9 9 14 15 7       118 21,45454545

7TC 11 19 9 10 12 18 14 5 12 7 17 12 7     153 21,85714286

8TA 8   13 16 13 25 9 8 10 12   7 12     133 22,16666667

8TB 14 12 9   17 14 8 14 14   12 9 8     131 21,83333333

8TC 11 2 12 14   23 5 4 9 15 12 8 8     123 18,92307692total por dia 75 98 109 131 133 186 111 100 105 96 149 104 87 0 0    Média por dia 18,8 21,8 18,2 26,2 24,2 33,8 18,5 16,7 19,1 21,3 29,8 17,3 15,8 0 0    Média total dia                               18,76245791  Média total série                                 19,89302364

INFORMAÇÕES DE CONTROLE DE FREQUÊNCIA DIÁRIA DOS DOCENTESCOORDENADORIA DE EDUCAÇÃO IPIRANGA

    Nº DE Nº TOTAL DE                      

59

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DATA ESCOLA PROF. (1) ESCOLAS (2) FA FJ FI LM F DP HSPM D SI OUTROSTOTAL (3)

9/setEMEF"

Presidente Campos Salles"

50 1 8     7             1512/set 52 1 5   1 6       1     1313/set 50 1   1 1 9             1114/set 51 1 1   1 8   1         1115/set 49 1     1 8   1         10

LEGENDA:FA = FALTA ABONADAFJ = FALTA JUSTIFICADAF1 = FALTA INJUSTIFICADALM = LICENÇA MÉDICAF = FÉRIASDP = DISPENSA DE PONTOHSPM = HOSPITAL DO SERVIDOR PÚBLICO MUNICIPALD = DOENÇASI = SEM INFORMAÇÃO

INFORMAÇÕES DE CONTROLE DE FREQUÊNCIA DIÁRIA DOS DOCENTESCOORDENADORIA DE EDUCAÇÃO IPIRANGA

    Nº DE Nº TOTAL DE                      

DATA ESCOLA PROF.

(1) ESCOLAS (2) FA FJ FI LM F DP HSPM D SI OUTROS TOTAL (3)16/set

EMEF" Presidente

Campos Salles"

50 1 7   1 9             1719/set 52 1 4     11             1520/set 50 1 4   1 10       1     1621/set 51 1 2   2 11       1     1622/set 49 1       11             11

LEGENDA:FA = FALTA ABONADAFJ = FALTA JUSTIFICADAF1 = FALTA INJUSTIFICADALM = LICENÇA MÉDICAF = FÉRIASDP = DISPENSA DE PONTOHSPM = HOSPITAL DO SERVIDOR PÚBLICO MUNICIPALD = DOENÇASI = SEM INFORMAÇÃO

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ANEXO F

ESTÁGIO DE OBSERVAÇÃO

EMEF “DESEMBARGADOR AMORIM LIMA”Endereço: Rua Professor Peixoto, nº 50, Butantã

Tel: 3726-1119

Período de Realização: do dia 05/04/2005 a 01/06/2005,perfazendo um total de 20 horas.

BRAZ RODRIGUES NOGUEIRA

I. REGISTRO DE OBSERVAÇÃO

05/04/05 – Primeiro dia do estágio de observação. Cheguei a escola às 8h, horário de

entrada dos alunos de 5ª a 8ª séries. Permaneci na mesma até 11h e 30min. A minha

curiosidade e ansiedade eram grandes, pois sabia que estaria observando algo novo.

Fui acolhido por Ednéia, Auxiliar de Direção. Durante a conversa fiquei sabendo que

ela trabalha na escola há 24 anos. Enquanto estávamos na sala da Direção chegaram

três alunos reclamando que alguém os havia ameaçado com o Conselho Tutelar e

Febem. Exigiam que Ednéia tomasse providência.

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Page 62: Universidade Anhembi Morumbi€¦  · Web viewNão se tem dúvida, elas significam apenas as vigas mestras e o madeiramento. Cabe a cada aluno, a cada professor, a cada funcionário

Após conversar com Ednéia fiquei a vontade e dei uma volta pelo espaço interno e

externo da escola. A área interna é extensa e contém muitas plantas. Encontrei as

duas quadras de esportes com atividades, sendo uma delas coberta e a outra não.Na

quadra coberta quem estava com os alunos, jogando, era Teresinha, uma inspetora

com a qual eu já havia falado por telefone. Durante este telefonema fiquei espantado

com o conhecimento da mesma a respeito do projeto da escola. Apresentei-me a ela e

durante a conversa fiquei sabendo que o projeto, por ser o segundo ano, é feito ainda

com os alunos das 5ª, 6ª, 1ªe 2ª séries e que as demais serão incluídas em 2006.

Teresinha disse-me que: “Para os alunos é muito fácil adaptar-se ao projeto, mas para

nós é muito difícil, temos que nos virar do avesso”.

Por volta da 9h chegou a Diretora, Ana Elisa, toda sorridente. Após conversarmos um

pouco Ana Elisa me conduziu por toda a escola (área interna e externa). Numa das

salas, conhecida da escola como salão, havia 105 alunos, em grupos de cinco, sendo

orientados por cinco professores. Fiquei emocionado, em ver o quanto os alunos

estavam organizados e concentrados nas tarefas que estavam desempenhando.

Intuitivamente tive a certeza de que ali estava a solução para uma série de problemas

que afetam a escola tradicional.

Na medida em que caminhávamos pela escola, Ana Elisa se abaixava para pegar os

papéis jogados no chão de uma forma tão natural que parece ter já sido incorporado

como um hábito. Ana Elisa mostrou-se muito entusiasmada, durante todo o tempo em

que estivemos juntos, mas pareceu desolada quando por alguns instantes falamos

sobre a estrutura educacional que dificulta qualquer iniciativa inovadora.

Por último, Ana Elisa apresentou-me ao Geraldo, um profissional capacitado que

chegou na escola como voluntário. Geraldo é mestre e doutor em Lingüística pela USP.

Atualmente recebe um salário por 20 horas de trabalho semanal. Segundo o mesmo,

na medida em que foi se envolvendo foi também se apaixonando pelo projeto. Sua

tarefa é fundamental para o sucesso do projeto da escola – ajudar na construção do

currículo a partir das necessidades cotidianas dos alunos e também dos professores.

Saí da escola por volta das 11h e 30min muito entusiasmado, mas com um redemoinho

de interrogações na cabeça.

12/04/05 – Segundo dia de observação. Cheguei a escola às 7h e 55min. Conversei

com Ednéia e informei-lhe que viria uma professora da EMEF Pres. Campos Salles,

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Page 63: Universidade Anhembi Morumbi€¦  · Web viewNão se tem dúvida, elas significam apenas as vigas mestras e o madeiramento. Cabe a cada aluno, a cada professor, a cada funcionário

professora Mara, e que eu estaria na sala específica do projeto (conhecida por todos

da escola como salão). Neste segundo dia as observações se restringiram

praticamente ao que ocorre no salão.

Por volta das 8h subi para o salão. Inicialmente os alunos de três 5ª séries que

estavam no recinto mostravam-se desorganizados e dispersos. Após mais ou menos

quinze minutos a situação anterior mudara completamente, os alunos estavam

sentados em grupos e concentrados nas atividades.

Durante as três horas e 30 min que permaneci no salão incluindo os trinta minutos de

recreio pude perceber:

1. Por volta das 8h e 10min um aluno do grupo se levanta e anota o nome do aluno

faltoso de seu grupo no quadro de freqüência que fica afixado na parede.

2. O número de professores orientadores é variável, em alguns momentos, havia

cinco e este número chegava a cair para três.

3. Cada aluno tem o seu plano de estudo onde faz as devidas anotações. Este

parece ser muito importante para o professor tutor.

4. Os grupos são formados por quatro ou cinco pessoas. A pessoa pode ser

trocada de grupo, caso os professores achem necessário.

5. Nos grupos cada aluno pode optar pela atividade que quiser fazer no momento,

mas todas as atividades propostas serão feitas por cada um num momento ou

no outro de acordo com a opção do aluno.

6. Cada aluno tem um caderno de pauta que o orienta na suas atividades.

7. Esgotadas as possibilidades do grupo os alunos levantam as mãos para pedirem

orientação aos professores.

8. Alguns alunos por mim consultados disseram preferir as salas menores, onde há

só um professor, o da disciplina, porque no salão há muitas atividades para fazer

e quando termina uma o professor passa outras.

9. Num dia da semana há uma tutoria. Neste dia o professor tutor orienta os seus

alunos que são em número de quatorze.

10. O recreio é de 30min. Após os alunos comerem, o portão do pátio é aberto e os

alunos desfrutam da área externa da escola. Pude observar o encantamento de

um grupo de quinze alunos com um galho imenso que havia se desprendido de

uma árvore de eucalipto. Ficaram praticamente quinze minutos se balançando

sem que ninguém interferisse.

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Page 64: Universidade Anhembi Morumbi€¦  · Web viewNão se tem dúvida, elas significam apenas as vigas mestras e o madeiramento. Cabe a cada aluno, a cada professor, a cada funcionário

Por último, descobri que as atividades semanais dos alunos se distribuem da

seguinte forma:

Sala específica (Salão) – duas vezes por semana.

Salas normais (atividades com os professores de cada disciplina) – duas vezes

por Semana, sendo que cada 110min.

Tutoria – uma vez por semana

27/04/05 – Terceiro dia de observação. Permaneci na escola por um período de três

horas, das 8h ás 11h. Uma das coordenadoras pedagógicas da EMEF Pres. Campos

Salles, esteve comigo durante todo o período de observação. Mais uma vez fui para o

Salão, queria observar as turmas de 6ª séries por serem elas as pioneiras do projeto,

ou seja, estão no segundo ano, enquanto que as turmas de 5ª séries entraram no

projeto em 2005.

Além daquilo que observei no segundo dia, nas turmas de 5ª séries, pude constatar

algumas novidades:

1. A jornada de trabalho mais adequada ao projeto é a JEI (Jornada Especial

Integral). A JEA (Jornada Especial Ampliada) dificulta o encontro destes

professores com os professores em JEI, pois há uma grande diferença na

quantidade de horas adicionais entre ambas. O professor em JEI além das 25

horas aulas com alunos tem 15 horas adicionais semanais, enquanto que os

professores em JEA além das 25 horas aulas com alunos tem apenas 5 horas

adicionais semanais. A JB (Jornada Básica) é a mais inadequada ao projeto,

pois corresponde a 18 horas aulas com alunos e apenas 2 horas adicionais.

Este fato foi constatado em conversa com o professor de Educação Física, em

JB, que mesmo valorizando o projeto em sua fala disse se sentir deslocado

exatamente por não poder se reunir com os colegas e participar da construção

do mesmo.

2. Nas turmas de 5ª séries, no segundo dia de observação, parecia que nos grupos

não havia nenhuma troca. Em conversa com alunos e professores nas turmas

de 6ª séries pude perceber a importância de estarem em grupos. As dúvidas são

tiradas com os colegas e só quando eles não conseguem se ajudar é que

recorrem aos professores. Uma das professoras me disse que por uma questão

de linguagem eles conseguem explicar melhor do que o professor.

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Page 65: Universidade Anhembi Morumbi€¦  · Web viewNão se tem dúvida, elas significam apenas as vigas mestras e o madeiramento. Cabe a cada aluno, a cada professor, a cada funcionário

3. Descobri que o tema nuclear das 5ª séries é Memória, enquanto que o das 6ª

séries é Trabalho. Estes temas facilitam na organização do currículo a partir das

necessidades dos alunos e professores.

05/05/05 – Quarto dia de observação. Permaneci na escola das 8h às 11h. O foco de

observação foi a Tutoria. Cada professor tutor acompanha um grupo de 14 alunos. Os

grupos são acompanhados por voluntários, auxiliar de Direção, professores e mesmo

pela Diretora. Os grupos estavam espalhados por toda a escola, havia grupos no salão,

no pátio e até mesmo na sala da Diretora. Parece que o objetivo da tutoria seria a

construção de vínculos entre professor e alunos e entre os mesmos.

Tive a oportunidade de passar por vários grupos.As atividades desenvolvidas eram

diferentes, portanto o grupo é autônomo em relação aos demais. Observei as seguintes

atividades:

1. Num dos grupos a professora e os alunos estavam discutindo o significado da

tutoria. As principais falas dos alunos foram: “Na tutoria a professora vai ver o

nosso plano de estudo. Quando, por exemplo, brigarmos ela vai nos ajudar a

solucionar”. “Tutoria é uma reunião onde você pode conversar com o grupo e

dizer o que sente”. “Tutor é aquela pessoa que orienta o nosso estudo”.

2. No segundo grupo a professora estava lendo um capítulo do livro de Miguel de

Cervantes, ”Don Quixote”.

3. No terceiro grupo a tutora era a Diretora. Inicialmente alguns alunos

apresentaram algumas atividades que fizeram em casa. Posteriormente a tutora

ditou parte de uma história que os mesmos deveriam continuar.

4. No quarto grupo, cada aluno estava com uma ficha, onde já estava digitado o

que ele mais gosta de fazer na escola e fora dela. Havia também, na mesma

ficha, duas questões que os mesmos deveriam responder: uma sobre tutoria e

outra sobre o plano de estudo.

5. No quinto grupo a atividade era sobre a amizade. Para esta atividade estava

sendo usada a “Cartilha do Amigo”. Num certo momento uma menina se retirou

do grupo dizendo: “Eu não vou fazer merda de tutoria nenhuma”.

6. As atividades desenvolvidas por três dos grupos se cruzaram. O horário

determinado para que cada um deles fosse ao pátio para ter acesso ao material

de pintura não funcionou. Os três grupos acabaram se encontrando no pátio e

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Page 66: Universidade Anhembi Morumbi€¦  · Web viewNão se tem dúvida, elas significam apenas as vigas mestras e o madeiramento. Cabe a cada aluno, a cada professor, a cada funcionário

houve até filas. Parece que a pintura era para confeccionar algo para o dia das

mães.

7. O último grupo observado é tutorado por Ednéia, auxiliar de direção. Cada aluno

estava montando uma revista. A pintura que eu havia presenciado no pátio,

serviria como a capa da revista para os membros deste grupo.

10/05/05 – Quinto dia de observação. Havia três professores da EMEF Pres. Campos

Salles comigo, mas não ficamos juntos. O meu foco de observação seria a Iniciação e

o deles o salão. No momento o grupo de iniciação da 6ª séries é composto por 17

alunos. Os professores se revezam, a cada dia da semana, há uma dupla diferente de

professores orientadores com os alunos.

Inicialmente um dos professores entregou a cada aluno um roteiro de pesquisa com 14

objetivos. Na frente de cada objetivo havia a indicação do livro e páginas que deveriam

ser consultadas. Os livros indicados eram referentes às disciplinas: Português,

Matemática, Ciências, Geografia e História. Em seguida, os professores discutem com

os alunos a política do livro didático. Os alunos concluíram que os livros distribuídos

pelo governo não são gratuitos já que o dinheiro utilizado para comprá-los vem dos

impostos que pagamos.

Os professores pedem para o aluno colocar o seu nome na folha do roteiro de

pesquisa. Pedem também para não perdê-la e trazê-la todos os dias. O roteiro passa a

ser explicado para os alunos de forma detalhada. Vários alunos não estavam

concentrados e a comunicação entre eles mesmos e professores muito prejudicada.

Com o intuito de restabelecer a comunicação a Professora Marimar disse aos alunos

se quisessem mudar de grupo poderiam fazê-lo, mas era para parar de atrapalhar. O

professor Geraldo retomou a palavra e sem motivo nenhum um aluno disse: “professor

eu não gosto de você” e sem se alterar o professor disse: “está bom, você precisa

gostar de estudar”. Restabelece-se o diálogo e os alunos, com a ajuda dos

professores, começam a lembrar de pesquisas passadas que tinham relação com

alguns dos objetivos do roteiro de pesquisa.

Como exercício, para que os alunos se orientassem melhor para a tarefa dos dias

seguintes, cada um deles leu um dos objetivos em voz alta para os demais. Passado

este momento cada um deveria localizar o texto referente ao objetivo lido, lê-lo e fazer

anotações para passar para os demais. Iniciada essa etapa do trabalho a concentração

dos alunos aumentou e pela primeira vez o silêncio tomou conta da sala e durante todo

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Page 67: Universidade Anhembi Morumbi€¦  · Web viewNão se tem dúvida, elas significam apenas as vigas mestras e o madeiramento. Cabe a cada aluno, a cada professor, a cada funcionário

este tempo os dois professores circularam pelos grupos. Após todos terminarem foi

dada a palavra para os alunos exporem o que haviam descoberto. Novamente a

comunicação foi prejudicada por alguns alunos. Um deles chamou a professora

Marimar de fanhosa ao que esta respondeu: “eu tenho um problema, mas a sua atitude

é preconceituosa” e passou a explicar o que é preconceito. Continuando a exposição, o

professor Geraldo e o mesmo aluno que disse que não gostava dele iniciaram uma

discussão. Geraldo encerrou a discussão dizendo que era hora dele expor o que havia

descoberto e o aluno começou a expor como se nada tivesse acontecido

anteriormente.

Toda vez que os professores se dirigiam aos alunos estes eram chamados pelo nome.

Ninguém ficou esquecido no seu canto. Os alunos eram instigados continuamente a se

envolverem com as atividades e com os colegas. Os alunos da iniciação não são os

alunos esquecidos pela escola, muito pelo contrário, há um esforço sobre-humano para

incluí-los. Nenhuma “autoridade” externa foi mencionada pelos dois professores diante

do desacato por parte de alguns alunos.

20/05/05 – Participação no 12° Congresso Internacional de Educação – Tema: Três

experiências de vanguarda pedagógica: Escola Municipal Desembargador Amorim

Lima, Escola da Ponte e Escola Lumiar. Participantes: José Pacheco, Ana Elisa

Siqueira, Helena Singer e Rosely Sayão. Horário: das 13h30 às 14h30.

Ana Elisa fez um diagnóstico da escola antes do projeto e referiu-se ao processo de

sua implantação na escola e às mudanças ocorridas. Disse que o projeto trouxe a vida

para dentro da escola e que o respeito e a solidariedade começaram a ser entendidos

na prática sem discurso.

01/06/05 – Horário: das 8h às 11h. Cheguei à escola com uma série de questões,

sendo que a principal delas era a respeito da missão e/ou objetivos da escola, portanto

eu teria que conversar. Sabendo que todos lá estão muito ocupados com os alunos

poderia não alcançar o meu intuito. Quando a Diretora chegou já havia alguém à sua

espera, mesmo assim ela foi muito atenciosa, mas como eu sabia que naquele

momento a mesma tinha compromisso com os alunos no salão senti que estava

interferindo. Procurei ser um pouco rápido e disse-lhe que se eu tivesse o projeto da

escola em mãos a nossa conversa seria mais curta, pois nele eu poderia me certificar

dos objetivos, ela prontamente se levantou e começou a procurá-lo, não o encontrando

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Page 68: Universidade Anhembi Morumbi€¦  · Web viewNão se tem dúvida, elas significam apenas as vigas mestras e o madeiramento. Cabe a cada aluno, a cada professor, a cada funcionário

ofereceu-se a enviá-lo por fax. Continuamos a conversa e as principais descobertas do

dia foram as seguintes:

1. Para meu espanto e alegria a Diretora disse que houvera uma reunião e os

professores resolveram acabar com a Iniciação. Ainda estão estudando como

irão trabalhar com os alunos que anteriormente eram enviados para a Iniciação.

2. Os professores assumem a autoria do projeto em construção, e portanto, estão

dispostos a mudar quando percebem que as opções feitas não estão atingindo

os objetivos propostos.

3. O projeto trouxe a vida para a escola. Para a Diretora isso significa que: “o que

está em jogo é o movimento, não pode haver cristalizações.”

4. A escola está muito preocupada com o currículo que favorece a vida de seus

alunos.

5. Há uma preocupação por parte do professor de cada disciplina em ajudar o

aluno construir a sua “caixa de ferramentas”. Segundo a Diretora este é um

trabalho mais conceitual e visa capacitar os alunos para os seus roteiros de

estudo. Explicou que este conceito – caixa de ferramentas- é de Rubens Alves.

6. Para a Diretora a Jornada de trabalho mais adequada é a JEA e não a JEI como

eu imaginava.

7. A tutoria que era feita, até recentemente, uma vez por semana, durante meio

período de aula se estenderá por todo o período.

II. RELATÓRIO REFLEXIVO

Fazer o estágio de observação na EMEF Desembargador Amorim Lima, foi para mim,

assim como para os alunos da Iniciação (atividade observada no dia 10/05/05), uma

oportunidade para relembrar de outros conhecimentos que antecederam o meu atual

roteiro de estudo. Foi um relembrar acompanhado por atividades: reler textos por mim

escritos, ligar para uma professora muito especial que tive, procurar e certificar-me a

respeito do conteúdo de alguns livros estudados, conversas com a minha mulher e com

alguns professores da EMEF Pres. Campos Salles.

Acabei me detendo mais no livro: MRECH, LENY “Psicanálise e Educação – Novos

operadores de leitura”, Editora Pioneira, São Paulo, 1999. Neste livro, a autora à

página 39, nos diz: “Há, no Brasil, atualmente, um sintoma social que atinge a maior

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Page 69: Universidade Anhembi Morumbi€¦  · Web viewNão se tem dúvida, elas significam apenas as vigas mestras e o madeiramento. Cabe a cada aluno, a cada professor, a cada funcionário

parte dos processos educacionais: a falência na relação professor-aluno. Por falência

estamos entendendo a situação em que o professor se vê impossibilitado em dar

cumprimento às suas obrigações, por sentir que lhe faltam determinados conteúdos,

sejam eles de base emocional, teórico-práticas ou financeiras”.

A autora citada, quando minha professora, não cansava de dizer da necessidade que o

educador tem de romper com as orientações prévias, com os estereótipos, com a

repetição do pior. Dizia ainda que: temos que dar a palavra aos sujeitos, pois eles se

constituem falando; as palavras proferidas veiculam um sentido, mas não podemos

lhes dar concretude; não devemos interpretar as pessoas, pois só elas podem vir a

saber de si mesmas. O que é que a professora está nos propondo?

Ela nos propõe, nada mais nada menos, buscar dentro de cada sujeito, aquilo que o

amarra e o impede de emergir, ou seja, as estruturas de alienação no saber. Na obra

citada acima, ela mesmo nos esclarece, quando diz às páginas 16 e 17: “Um aspecto

fundamental a ser assinalado nas estruturas individuais de alienação no saber é que

elas apresentam um vínculo muito estreito com os fantasmas dos sujeitos e das

instituições. O fantasma cria uma ‘ambiência’, isto é, um cenário que previamente o

sujeito tentará encontrar em todos os lugares. Mais precisamente, o fantasma

materializa cenários e cria roteiros previamente estruturados, para evitar que o sujeito

entre em contato com os outros concretos.

Mas como fazer então para acessar aos outros reais, aos outros concretos? Para a

Psicanálise só há uma resposta que é procurar ouvir os alunos, sem nos colocarmos

em uma posição de defesa através da escuta prévia. No entanto, este processo não é

simples e nem fácil. Muitas vezes, o professor não consegue estabelecê-lo devido ao

fato de que ele necessita também ser escutado em toda a sua singularidade.”

Pensando sobre os ensinamentos da Professora Leny não pude também deixar de

pensar no professor Rafael, um ótimo colega de trabalho. Há mais de 19 anos lecionei

numa escola estadual e lá tive o prazer de conhecê-lo. Nesta época ele já havia

lecionado por mais de 45 anos. Chegávamos de manhã, bem cedo, e conversamos

bastante antes de começarmos a trabalhar. Sempre fiquei intrigado com o bom humor

deste professor e a sede de se aposentar por parte de outros. Mais intrigado fiquei

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Page 70: Universidade Anhembi Morumbi€¦  · Web viewNão se tem dúvida, elas significam apenas as vigas mestras e o madeiramento. Cabe a cada aluno, a cada professor, a cada funcionário

quando após uma reunião pedagógica ele me disse: Braz, eu gosto muito de sua

participação nas reuniões, do seu entusiasmo, mas não se iluda, há mais de 45 anos

ouço a mesma coisa. Por favor, não perca o entusiasmo se não você não agüenta. O

que será que o professor Rafael estava querendo me dizer? Talvez ele tinha a

sensação de que o sujeito não tem quase nenhum “poder” para se construir, já que há

uma supremacia das instituições para moldá-lo. E a pergunta que eu me faço é a

seguinte: Como romper com as orientações prévias, com os estereótipos, com a

repetição e deixar o novo entrar?

Num dos textos utilizado na pós-graduação: MRECH, LENY. Subversão do Sujeito.

FEUSP, 1999, p.1. A professora nos ajuda a responder a questão acima quando diz:

Com Lacan, “... o parâmetro da discussão se desloca do plano da consciência para o

plano do inconsciente articulando de que maneira o inconsciente estruturado como

uma linguagem, possibilita a própria constituição do sujeito”. Para ele a linguagem não

pode ser entificada, se isso ocorre, há uma paralisação, fossilização da mesma, o

processo se cristaliza e o sujeito fica preso às suas modalidades de gozo. E são nelas

que encontramos a estrutura de funcionamento do sujeito. Recorrendo ainda ao seu

livro, obra já citada nesta reflexão, às páginas 80 e 81, a autora nos diz: ‘A linguagem é

um tonel que vaza.’ A linguagem vai remeter sempre a um significante, que remete a

outro significante, que remete a um outro significante. Só que, devido às cadeias de

gozo, há uma paralisação desse processo. Então, existem certos sentidos, certas

significações na história do sujeito, às quais ele se apega, se atrela, querendo apenas

partir delas. Lacan pontua que o sujeito também não está nessas significações prévias.

Ele também não está nos sentidos previamente fixados.

Na escola é muito importante que os educadores auxiliem os alunos a soltar o que

Lacan designa as amarras da palavra, isto é, as significações prévias. Cabe aos

educadores não compactuarem com estas significações estereotipadas. Cabe aos

educadores caírem fora das cadeias de gozo originárias dos sujeitos.”

Será que as pessoas da EMEF Desembargador Morim Lima conhecem Lacan, os

professores: Leny e Rafael? Será que deixaram o novo, o movimento entrarem para

ficar? Será que estão introduzindo novas modalidades de gozo mais condizentes com

as necessidades dos sujeitos na escola contemporânea?

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Page 71: Universidade Anhembi Morumbi€¦  · Web viewNão se tem dúvida, elas significam apenas as vigas mestras e o madeiramento. Cabe a cada aluno, a cada professor, a cada funcionário

Não tenho condições para responder a todas as questões acima. É uma experiência

muito recente, teve seu início em 2004 e o projeto ainda não atingiu todos os alunos da

escola. Mas alguns aspectos observados atestam que o novo está lá instalado. Como

exemplo podemos citar:

1. As pessoas falam (comunidade, alunos, professores, agentes escolares,

inspetores de alunos, diretora, coordenadora pedagógica, voluntários, pais, etc)

2. As falas nascem do fazer, da prática, não são alimentos do discurso vazio e da

repetição do pior.

3. Todos são aprendizes, inclusive os professores que ao meu ver acabam por ter

um esforço duplo: aprender o conteúdo de outras “disciplinas” para aprender a

melhor orientar os alunos em seus roteiros de estudo.

4. Todos os envolvidos são considerados agentes educativos de fato. Os limites

entre as funções vêm se tornando muito tênues. O próprio aluno só recorre ao

professor orientador, no salão, apenas quando não consegue resolver o seu

problema com os demais colegas do grupo.

5. Os educadores desenvolveram uma grande paciência no trato com os alunos,

não vi nenhum deles se alterar diante de desacatos por parte deles. Penso que

essa paciência decorre do fato do educadores terem entendido que as palavras

proferidas veiculam um sentido, mas não podemos lhes dar concretude.

6. Há um movimento instalado na escola. O que não dá certo é avaliado e mudado

toda vez que for necessário. Podemos exemplificá-lo com a Tutoria e a Iniciação

que foram atividades por mim observadas nos dias, 05/05/05 e 10/05/05,

respectivamente. A Iniciação não vai existir mais porque não estava atingindo os

objetivos propostos e o período de duração da Tutoria será duplicado por estar

dando resultados positivos.

7. Segundo a diretora, Ana Elisa Siqueira, o projeto trouxe a vida para a escola e o

que está em jogo é o movimento, não pode haver cristalizações.

Eu gostaria de dizer, para encerrar essa reflexão, que o que interessa não é o projeto

da EMEF Desembargador Amorim Lima, mas sim a vida que ele trouxe. Vida esta que

nada mais é do que romper com as orientações prévias, com os estereótipos, com a

repetição. Lá as pessoas não se entregaram ao lamento, esqueceram do outro

“distante” que nos importuna, voltaram-se para o seu cotidiano, arrancando dele toda

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gota de vida possível. Estar lá, foi para mim, a oportunidade para resgatar a esperança

já quase adormecida.

III. ESTRUTURA INSTITUCIONAL

1. Objetivos

Segundo a diretora ainda não há o registro do projeto porque o mesmo é muito novo. O projeto inicial de duas páginas, segundo a mesma, apresentado na Secretaria de Educação não foi encontrado para que eu o tivesse em mãos, portanto não tenho como discriminar os objetivos gerais e específicos. Com base na observação penso que o principal objetivo da escola seria: dar ferramentas ao aluno para que ele seja o sujeito de sua aprendizagem.

ANEXO G

São Paulo, 10 de outubro de 2005

Ofício nº 17 / 2005

Assunto: Projeto para 2006 – Desenvolvimento de uma metodologia com base nos princípios da

“Escola da Ponte”: autonomia, responsabilidade e solidariedade.

Sra Coordenadora,

Diante do fracasso escolar, a EMEF Pres. Campos Salles, no desejo de fazer bem a parte que lhe cabe, aprovou no Conselho de Escola, no dia 27/09/05, um projeto para 2006, que tem como objetivo: A implementação de uma metodologia de ensino com base nos princípios da “Escola da Ponte”: autonomia, responsabilidade e solidariedade.

Há dois anos fui procurado por alguns professores que assinalaram que a escola era realmente um exemplo no quesito – Integração Escola/Comunidade – mas que as práticas que ocorriam nas salas de aula eram inadequadas. Apontaram, então, a “Escola da Ponte” como um exemplo no qual

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PREFEITURA DO MUNICÍPIO DE SÃO PAULOSECRETARIA MUNICIPAL DE EDUCAÇÃO – SMECOORDENADORIA DE EDUCAÇÃO-IPIRANGA

EMEF PRESIDENTE CAMPOS SALLES

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deveríamos nos inspirar. Fiquei muito receoso quando lhes perguntei qual era o número de alunos da referida escola e eles responderam que era de 190 alunos. A minha grande questão naquele momento foi: Como podemos nos inspirar neste exemplo, se nossa escola, conta com mais de 1400 alunos?

Logo em seguida, início do ano letivo de 2004, a EMEF Des. Amorim Lima, com mais de 1000 alunos, vem implementando um projeto com base nos princípios da “Escola da Ponte”.

No segundo semestre de 2004, iniciei um curso de pós-graduação em Educação Comunitária. No primeiro semestre de 2005, realizei o estágio de observação, uma das exigências do curso, na EMEF Des. Amorim Lima. Após a apresentação do mesmo para meus colegas e professores, os últimos sugeriram para que eu trabalhasse também o projeto social nesta direção. O projeto está sendo escrito e a previsão é de que essa etapa fique pronta até o final de novembro, mas a sua implementação de fato já se iniciou.

Este é um projeto que para ter sucesso a curto, médio e longo prazo precisa de uma rede de parceiros, tanto da esfera púbica como da esfera privada.

A EMEF Pres. Campos Salles, necessitará para o início do ano letivo de 2006:

1. Agendar com urgência, uma reunião com a Coordenadoria de Educação do Ipiranga e o Sr. Secretário de Educação para discutir o projeto e o papel de cada uma destas esferas na implementação do mesmo.

2. Terceirização da Merenda.Três agentes escolares estão na eminência de solicitar aposentadoria, sendo que dois deles já extrapolaram o tempo legal. Alguns serão deslocados para outras atividades para garantir suporte ao projeto.

3. Uma Máquina de Xerox com autonomia para rodar 20.000 cópias/mês. Sem este suporte os professores terão dificuldades de envolverem-se com o projeto e trabalharem articuladamente na construção de um currículo vivo.

4. Voluntários para serem monitores. Os alunos serão divididos em grupos de 14 ou 15 pessoas. Cada um desses grupos terá um monitor. No dia da monitoria, uma vez por semana, o número de professores do período terá que ser multiplicado por 2,5. Diretor, Coordenadores Pedagógicos, Assistente de direção, Agente escolar com magistério, Professores em JEI, JEA e JB do período, todos serão monitores, sendo que nas duas últimas jornadas, se for desejo do professor o mesmo poderá assumir grupos de monitoria em outro período. Mesmo assim, não teremos na escola o número suficiente de monitores, e por isso, gostaríamos da interferência da Coordenadoria e da Secretaria Municipal da Educação no sentido de celebrar convênios com universidades para que a escola pudesse contar com estagiários como monitores.

5. Autonomia para que a escola não seja obrigada, por nenhum meio, a pegar mais que 35 alunos por série.

6. Tratamento diferenciado por parte da Coordenadoria e da Secretaria Municipal da Educação. Inclusive com a indicação de duas pessoas para acompanhar e ajudar na implementação do projeto, sendo uma de cada uma das duas instâncias.

Atenciosamente

Braz Rodrigues Nogueira

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