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III SIMPÓSIO SOBRE A BIODIVERSIDADE DA MATA ATLÂNTICA. 2014 79 Unidades de Conservação do Extremo Norte do ES Panorama atual e principais desafios Gabriel Fernando Rezende 1 1 Gestor da Reserva Biológica do Córrego Grande – ICMBio-ES *Email para correspondência: [email protected] A história florestal corretamente entendida é, em todo o planeta, uma história da exploração e destruição.” Warren Dean (1932-1994) RESUMO: O presente resumo relata diversos aspectos relacionados às unidades de conservação (UCs) do extremo norte do estado do Espírito Santo (ES), apresentados durante palestra do autor no III SIMBIOMA – III Simpósio sobre a Biodiversidade da Mata Atlântica, ocorrido no Museu de Biologia Mello Leitão em Santa Tereza-ES, no final de maio e início de junho de 2014. Foram apresentados um breve histórico da devastação florestal ocorrida no norte do ES a partir da primeira metade do século XX; O processo de criação das Unidades de Conservação (UCs) presentes na região, dados físicos, socioambientais, demandas, pressões e potencialidades das UCs, aspectos estes que abordaremos a seguir. Introdução Breve histórico da devastação florestal no estado do Espírito Santo. A Floresta Atlântica, popularmente conhecida como Mata Atlântica, originalmente recobria grande parte do território nacional ao longo de 17 Estados. Rio Grande do Sul, Santa Catarina, Paraná, São Paulo, Goiás, Mato Grosso do Sul, Rio de Janeiro, Minas Gerais, Espírito Santo, Bahia, Alagoas, Sergipe, Paraíba, Pernambuco, Rio Grande do Norte, Ceará e Piauí e ao longo dos últimos quinhentos anos foi reduzida a fragmentos da sua vasta biodiversidade, conforme ilustrado na figura 1. A povoação da região litorânea do Brasil, conforme comprovam registros fósseis, remonta há aproximadamente 11.000 anos, ao final da última glaciação.

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III SIMPÓSIO SOBRE A BIODIVERSIDADE DA MATA ATLÂNTICA. 2014 79

Unidades de Conservação do Extremo Norte do ES Panorama atual e principais desafios

Gabriel Fernando Rezende1

1 Gestor da Reserva Biológica do Córrego Grande – ICMBio-ES *Email para correspondência: [email protected]

“A história florestal corretamente entendida é, em todo o planeta,

uma história da exploração e destruição.” Warren Dean (1932-1994)

RESUMO: O presente resumo relata diversos aspectos relacionados às unidades de

conservação (UCs) do extremo norte do estado do Espírito Santo (ES), apresentados

durante palestra do autor no III SIMBIOMA – III Simpósio sobre a Biodiversidade da

Mata Atlântica, ocorrido no Museu de Biologia Mello Leitão em Santa Tereza-ES, no final

de maio e início de junho de 2014.

Foram apresentados um breve histórico da devastação florestal ocorrida no norte do ES a

partir da primeira metade do século XX; O processo de criação das Unidades de

Conservação (UCs) presentes na região, dados físicos, socioambientais, demandas,

pressões e potencialidades das UCs, aspectos estes que abordaremos a seguir.

Introdução

Breve histórico da devastação florestal no estado do Espírito Santo. A Floresta

Atlântica, popularmente conhecida como Mata Atlântica, originalmente recobria grande

parte do território nacional ao longo de 17 Estados. Rio Grande do Sul, Santa Catarina,

Paraná, São Paulo, Goiás, Mato Grosso do Sul, Rio de Janeiro, Minas Gerais, Espírito

Santo, Bahia, Alagoas, Sergipe, Paraíba, Pernambuco, Rio Grande do Norte, Ceará e Piauí

e ao longo dos últimos quinhentos anos foi reduzida a fragmentos da sua vasta

biodiversidade, conforme ilustrado na figura 1.

A povoação da região litorânea do Brasil, conforme comprovam registros fósseis, remonta

há aproximadamente 11.000 anos, ao final da última glaciação.

80 REZENDE: UNIDADES DE CONSERVAÇÃO DO EXTREMO NORTE DO ES

Figura 1. Mapa comparativo da extensão da cobertura florestal da Mata Atlântica Fonte: Projeto Amazônia (2014) Estes registros mostram que a região inicialmente era povoada por povos caçadores-

coletores (como comprovam os registros fósseis, popularmente conhecidos como

sambaquis2), porém por volta do ano 450 d.C. a mesma passa a ser povoada por indígenas

nômades (do Tronco Tupi), que praticavam a “coivara”, agricultura itinerante baseada na

derrubada e uso do fogo (Figura 2).

Embora as estimativas populacionais apresentem grande variação, pesquisadores afirmam

que quando da chegada dos europeus ao Brasil, no início do século XVI existiam no Brasil

algo em torno de 2 a 5 milhões de indígenas.

Naturalmente esta ocupação que se iniciou aproximadamente um milênio antes da chegada

dos europeus, fez com que a Mata Atlântica sofresse perdas consideráveis em termos de

biomassa e complexidade, principalmente nas faixas litorâneas, onde se concentravam os

grupos indígenas.

III SIMPÓSIO SOBRE A BIODIVERSIDADE DA MATA ATLÂNTICA. 2014 81

Figura 2. Ilustração retratando cotidiano de grupo indígena do tronco Tupi Autor desconhecido Todavia, há que se considerar a grande extensão da costa atlântica brasileira o que

conformou uma baixa densidade populacional, além do peculiar modo de exploração dos

recursos florestais da Mata Atlântica empreendido pelos povos indígenas ao longo de

séculos. O que teria permitido que grandes formações florestais pudessem coexistir com

tais povos e ainda existirem quando da chegada dos povos europeus ao território brasileiro.

Entretanto, por questões históricas, diferente do processo de ocupação de outras regiões

sob o domínio da Mata Atlântica, a povoação da região do litoral espírito santense foi

deliberadamente, não estimulada e até mesmo cerceada, constituindo o território do estado,

quase inteiramente coberto por extensas florestas. Uma barreira natural ao acesso para as

Minas Gerais, numa estratégia de proteção engendrada pela Coroa Portuguesa contra

invasões e acesso as regiões onde então se situavam as ricas minas de ouro e diamantes do

então Brasil Colônia. (Prado Jr., 2011)

Desse modo, com características históricas peculiares, a devastação da Mata Atlântica no

norte do ES só vai se concretizar a partir da segunda metade do século XX, pois até a

primeira metade do século XIX, a região era praticamente deserta. Com alguns poucos

aldeamentos de índios selvagens, sendo o rio Doce a principal via de comunicação fluvial

com o litoral, além de alguns caminhos terrestres situados ao longo das margens dos rios

Jequitinhonha e Mucuri (Ibidem).

Reforça ainda tal afirmação, o fato de em 1891, toda a região situada ao norte do rio Doce,

no estado do ES, ainda ser constituída por terras públicas pertencentes ao Estado (DEAN,

1996).

82 REZENDE: UNIDADES DE CONSERVAÇÃO DO EXTREMO NORTE DO ES

Em termos mais específicos a região norte, que corresponde a 52,1% da área total do ES,

era até 1930, quase que totalmente desconhecida e resguardada por uma então vasta e

exuberante floresta, excetuando a faixa litorânea e a zona situada abaixo do rio Doce. O

percentual de ocupação de suas terras, contrastando com o de outras regiões e com o total

do Estado, era de apenas 5,6% (Garcia, 2000).

Somente a partir dos anos 1930, com a construção da ponte sobre o rio Doce, no município

de Colatina-ES, é estimulada a ”marcha do progresso” para o norte do estado, sendo que ao

final daquela década, já se podia observar um expressivo avanço econômico da região. Em

virtude da alta dos preços do café e o aumento da demanda interna por madeira, produtos

estes que passaram a movimentar a economia regional. Na década seguinte, graças ao

incremento da extração de madeira nativa e das lavouras de café, o norte espírito-santense

se consolida então como fronteira agrícola, o que sem dúvida propiciou a intensificação da

devastação de grandes fragmentos florestais de matas primárias ainda existentes à época.

Porém nos anos 1950, com a baixa dos preços do café, em virtude de sua superprodução a

nível nacional e com o início da diminuição das reservas de madeira, que foram

intensamente exploradas nas décadas anteriores, a região do norte espírito-santense vai

experimentar um período relativamente longo de estagnação econômica.

Tal estagnação se aprofundará na década de 1960, compondo um triste quadro de

esgotamento de seus recursos naturais com a consequente expansão de áreas de pastagens,

outrora ocupadas por exuberantes florestas, em paralelo ao aumento do crescimento urbano

industrial, em virtude do grande êxodo rural para núcleos urbanos mais adensados e

industrializados como Linhares, Colatina e a região metropolitana da capital Vitória.

Especificamente nos municípios de Conceição da Barra, São Mateus e Linhares, que nos

anos 1940, não desenvolveram lavouras de café em virtude da baixa fertilidade dos solos

dos tabuleiros. E por tal fato, nos anos 1960, ainda apresentavam remanescentes florestais

significativos, prevalecerão no início dos anos 1960, mesmo que de forma tímida, nas

baixadas aluviais, as lavouras de cacau, predominando nas zonas litorâneas a extração de

madeira e a criação de gado, com uma incipiente agricultura de subsistência (Rezende,

2012).

Porém no final da década de 1960 sob a égide do governo da Ditadura Militar e no esteio

da lógica nacionalista que privilegiava o desenvolvimento econômico, gestada já nos idos

dos anos 1950 com o Plano de Metas do Governo de Juscelino Kubitscheck (1955-1960)

dá se na região o início ao processo de implantação e consolidação das monoculturas de

eucalipto no extremo norte do ES (Figura 3).

III SIMPÓSIO SOBRE A BIODIVERSIDADE DA MATA ATLÂNTICA. 2014 83

Figura 3. Diagrama comparativo histórico da devastação da cobertura florestal da Mata Atlântica no norte do estado do ES (1500 a 2014) A partir do então Governo Geisel, com seu II Plano Nacional de Desenvolvimento - PND e

posteriormente com a proposição do Plano Nacional de Papel e Celulose – PNPC, cujos

objetivos são tornar o Brasil autossuficiente na produção de papel (Fanzeres, 2005) para

além de garantir o suprimento do mercado interno de celulose, gerar excedentes em escala

para exportação, ganha força a instalação das indústrias de papel e celulose na região do

eixo norte do Espírito Santo e extremo sul da Bahia. Ao tempo que se consolida o

eucalipto como principal fonte de fibras para fabricação de celulose e papel, conformando,

em outras palavras, a “pá de cal” da Mata Atlântica na região. (Dean, 1996)

Como principais consequências, no que tange ao aumento das áreas reflorestadas e os

impactos ambientais decorrentes, serão observadas perdas irreversíveis de recursos naturais

no âmbito dos territórios ocupados pelas plantações florestais, aumento dos níveis de

desemprego no campo, carência de alimentos e a concentração fundiária (Ibidem).

Todos estes fatores, conforme relatado anteriormente, contribuíram para o aumento do

êxodo rural e, consequentemente, a favelização dos centros urbanos, fazendo com que

regiões emblemáticas de tal quadro, como o eixo norte do espírito santo-extremo sul da

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Bahia, passassem então a ser exploradas de forma intensa nas últimas quatro décadas, até

chegar ao seu retrato contemporâneo, uma paisagem com poucos remanescentes florestais

significativos, em sua maioria protegidos como UCs e permeados por agropecuária e

silvicultura extensivas. (Garcia, 2000)

Os primeiros estudos fitogeográficos do Norte Capixaba. A criação e delimitação das

áreas protegidas no extremo norte do ES foram precedidas inicialmente pela constatação

científica “in loco” da grande biodiversidade da região ainda no século IX, seguida décadas

mais tarde, pela percepção da sua iminente ameaça de extinção a partir da metade do

século XX.

Remontam ao século IX, especificamente às décadas de 1810 e 1820, os primeiros estudos

que permitiram uma melhor elucidação a respeito da composição e fisionomia da cobertura

vegetal do estado do Espírito Santo (ES), onde tem destaque o trabalho do naturalista

francês Auguste de Saint-Hilaire (1779-1853), desenvolvido a partir das observações de

sua viagem pela então província do Espírito Santo no ano de 1818, onde o autor fez

notáveis referências a flora e fauna locais e oportunamente montou coleções de material

botânico com a descrição de diversas novas espécies de plantas3, (Ferreira & Silva, 2011)

Já no século XX diversos pesquisadores contribuíram de forma significativa para a

elaboração do atual perfil fitogeográfico do Espírito Santo, ampliando o leque das

informações sobre as formações florestais existentes, onde destacamos a caracterização

florística e estrutural das florestas da Zona Tabular Costeira do Norte do Espírito Santo,

em iniciativa pioneira para este tipo de formação vegetal. (Magnanini & Mattos Filho

(1956) 4 apud Ferreira & Silva, 2011)

Em 1950, o engenheiro agrônomo capixaba, naturalista e ecologista Augusto Ruschi

(1915-1986) apresenta a primeira fitogeografia do Estado, representada por um sistema

detalhado de classificação fisionômica de vegetação, onde cada tipologia era caracterizada

por uma relação de espécies vegetais, além de caracteres edáficos e climatológicos. Em

1962 é proposto um sistema da classificação detalhado para os tipos de vegetação do

Espirito Santo, fazendo a distribuição das comunidades observadas em mapa (Azevedo,

19625 apud Ferreira & Silva, 2011), anos mais tarde (Ruschi, 19696 apud Ferreira & Silva,

2011) apresenta um estudo florístico mais detalhado, o então mapa fitogeográfico do

Espírito Santo.

Não obstante as importantes contribuições fitogeográficas dos autores acima citados, todos

à época da publicação de seus estudos, foram unânimes em criticar a intensa exploração de

III SIMPÓSIO SOBRE A BIODIVERSIDADE DA MATA ATLÂNTICA. 2014 85

madeira, que, segundo os mesmos, sacrificou indiscriminadamente o potencial econômico

florestal do estado. Principalmente da região norte, numa destruição irracional das suas

formações vegetais, o que acabou por resultar na instalação de uma agricultura extenuante

para os solos arenosos naturalmente pobres dos tabuleiros, com a sua transformação

posterior em pastos igualmente pobres. (Ibidem)

Felizmente, neste contexto histórico, surgiram também os esforços e manifestações de

diversos representantes da sociedade civil capixaba e nacional, no sentido da necessidade

de se frear este movimento de destruição das florestas, o que por fim ensejou a criação das

primeiras UCs em todo o estado, incluindo as UCs da região do extremo norte7, conforme

relatamos a seguir.

As Unidades de Conservação do extremo norte do ES. A região do extremo norte do ES

possui atualmente cinco unidades de conservação (figura 4) sob regime da administração

pública, as Reservas Biológicas do Córrego do Veado (RBCV) e Córrego Grande (RBCG)

e a Floresta Nacional do Rio Preto (FNRP), administradas pelo ICMBio – Instituto Chico

Mendes de Conservação da Biodiversidade autarquia vinculada ao Ministério do Meio

Ambiente -MMA, e o Parque Estadual de Itaúnas (PEI) e a Área de Proteção Ambiental de

Conceição da Barra (APACB), administrados pelo IEMA – Instituto Estadual de Meio

Ambiente e Recursos Hídricos autarquia vinculada à Secretaria de Estado de Meio

Ambiente e Recursos Hídricos do ES.

Figura 4. UCs do extremo norte do Espírito Santo (Fonte: IEMA – 2012) O histórico de criação destas unidades remonta a década de 1940 e há de se destacar a

atuação de Augusto Ruschi, que ao longo de sua vida profissional, demarcou áreas,

86 REZENDE: UNIDADES DE CONSERVAÇÃO DO EXTREMO NORTE DO ES

desenvolveu pesquisas, publicou trabalhos e que em conjunto com outros representantes da

sociedade civil capixaba e nacional, travou lutas no plano político-social pelo

estabelecimento destas unidades de conservação.

A seguir indicamos os principais pontos do histórico de criação das unidades de

conservação do extremo norte do ES:

Reserva Biológica Córrego do Veado – RBCV

Em 1948 a área da unidade é indicada como Reserva Florestal Estadual;

Pela Lei Estadual 976/55 a área é doada ao Governo Federal;

Em 1970 recebe a denominação de Reserva Biológica após levantamento

topográfico e memorial descritivo realizado por Augusto Ruschi;

O Decreto 87.590/82 cria a Reserva Biológica do Córrego do Veado sob a

administração do então IBDF – Instituto Brasileiro de Desenvolvimento Florestal

(1967-1989) sendo atualmente administrada pelo ICMBio – Instituto Chico Mendes

de Conservação da Biodiversidade;

III SIMPÓSIO SOBRE A BIODIVERSIDADE DA MATA ATLÂNTICA. 2014 87

Reserva Biológica do Córrego Grande – RBCG

Pelo Decreto Estadual 55/48 o Governo do ES recomenda a criação da Reserva

Florestal Estadual do Riacho Doce num 13.800 ha que incluiam a área onde se situa

a RBCG.

Pela Lei Estadual 976/55 esta área é doada ao Governo Federal.

Em 1984 Augusto Ruschi move uma campanha contra o desmatamento da área que

incluía a RBCG, por ser o último refúgio de três espécies de beija-flores sob

ameaça de extinção.

Em 1985 através de acordo com o IBDF, a área da RBCG, já escriturada em nome

de uma propriedade particular, é doada ao Governo Federal, que em troca autoriza

a exploração e o desmatamento de aproximadamente 1200 ha de floresta nativa

contigua a área.

Em 1989 pelo Decreto Federal 97.657/89 é então criada a Reserva Biológica do

Córrego Grande sob a administração do então IBAMA – Instituto Brasileiro do

Meio Ambiente e Recursos Naturais Renováveis, sendo atualmente administrada

pelo ICMBio – Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade.

88 REZENDE: UNIDADES DE CONSERVAÇÃO DO EXTREMO NORTE DO ES

Floresta Nacional do Rio Preto – FNRP

Na década de 1960 a área era um remanescente florestal da COBRAICE S.A.,

empresa madeireira, que atuou no norte do Espírito Santo por mais de dez anos e

que “... derrubou aproximadamente 11 mil alqueires de madeira lei, abrindo

caminho para as agroindústrias como a Acesita e a Aracruz...” (SOUZA &

RESENDE, 1999:29) .

Após sofrer intensa exploração seletiva nos anos 60, foi vendida para a Acesita

Energética responsável pelo abastecimento de carvão vegetal aos altos fornos, da

siderúrgica Acesita S.A.

Permaneceu como área de Reserva Legal da Acesita Energética até 1985, quando

então foi então doada ao Governo Federal, como forma de quitação de dívida do

Plano de Reposição Florestal, em processo impetrado pelo então IBDF, contra

aquela empresa.

Em 1990 pelo Decreto Federal 98.845 é criada a Floresta Nacional do Rio Preto

sob a administração do IBAMA – Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e

Recursos Naturais Renováveis sendo atualmente é administrada pelo ICMBio –

Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade.

III SIMPÓSIO SOBRE A BIODIVERSIDADE DA MATA ATLÂNTICA. 2014 89

Parque Estadual de Itaúnas – PEI

Pelo Decreto Estadual 55/1948 a área é indicada como pertencendo a Reserva

Florestal do Riacho Doce.

Pela Lei Estadual 976/55 a área da reserva Florestal de Itaúnas é doada ao Governo

Federal.

Em 1986 ocorre o tombamento das “Dunas de Itaúnas” como bem natural, pelo

Conselho Estadual de Cultura.

No inicio dos anos 90, denúncias da abertura de uma estrada paralela à praia, na

faixa de restinga, levam a SEAMA – Secretaria de Estado para Assuntos de Meio

Ambiente a propor ao Governo do Estado a criação do PEI.

Em 1991, pelo Decreto 4967-E ocorre a criação do Parque Estadual de Itaúnas, sob

a administração conjunta da SEAMA e pelo então ITCF – Instituto de Terras,

Cartografia e Florestas (1981-1996). Atualmente o PEI é administrado pelo

Instituto Estadual de Meio Ambiente e recursos Hídricos do ES.

90 REZENDE: UNIDADES DE CONSERVAÇÃO DO EXTREMO NORTE DO ES

APA de Conceição da Barra – APACB

O histórico de sua criação está intimamente relacionado à necessidade de se

combater o avanço da destruição dos manguezais localizados na confluência da

divisa entre os municípios de Conceição da Barra e São Mateus, às margens do Rio

Cricaré.

Fatores como a grande dimensão da área e sua importante biodiversidade, aliados

ao seu potencial de desenvolvimento socioeconômico e a dispensa de indenizações,

foram decisivos na escolha da categoria da unidade.

A APACB foi criada em 13 de novembro de 1998, por meio do decreto estadual nº.

7.305-E, revogado pelo decreto nº 1876-R, em 04 de julho de 2007. Atualmente é

administrada pelo IEMA – Instituto Estadual de Meio Ambiente e recursos

Hídricos do ES.

As tabelas a seguir, apresentam dados relativos às UCs distribuídos em 08 (oito) temáticas: Dados gerais; b) Pesquisa; c) Recursos Humanos; d) Estrutura Física; Instrumentos Legais; f) Relações com o entorno; g) Incêndios florestais; h) Fiscalização ambiental.

III SIMPÓSIO SOBRE A BIODIVERSIDADE DA MATA ATLÂNTICA. 2014 91

Tabela 1 - Dados Gerais:

Tabela 2 – Dados relacionados à realização de pesquisas:

92 REZENDE: UNIDADES DE CONSERVAÇÃO DO EXTREMO NORTE DO ES

Tabela 3 – Dados do quadro de Recursos Humanos:

Tabela 4 – Dados relacionados à infra-estrutura física:

III SIMPÓSIO SOBRE A BIODIVERSIDADE DA MATA ATLÂNTICA. 2014 93

Tabela 5 - Instrumentos Legais existentes:

Tabela 6 – Dados relacionados a interações com comunidades do entorno:

94 REZENDE: UNIDADES DE CONSERVAÇÃO DO EXTREMO NORTE DO ES

Tabela 7 – Dados relacionados a Incêndios florestais:

Tabela 8 – Dados relacionados às atividades de fiscalização ambiental:

III SIMPÓSIO SOBRE A BIODIVERSIDADE DA MATA ATLÂNTICA. 2014 95

Em seguida apresentamos as principais demandas das UCs em análise: Tabela 9 – Quadro de demandas das UCs

Notadamente a demanda mais preemente nas UCs do extremo norte do ES é a necessidade

do aporte de recursos humanos, já que existem no total apenas 25 (vinte e cinco)

funcionários, distribuídos de forma não equânime, para as 05 (cinco) unidades de

conservação, incluindo se nesse montante corpo técnico, apoio administrativo, vigilância

patrimonial e auxiliares de campo e de limpeza.

Infelizmente, este quadro reflete uma realidade crônica da imensa maioria das UCs do

Brasil, já que pouquíssimas unidades de conservação, possuem um quadro mínimo de

recursos humanos que possibilite às UCs cumprir efetivamente seu papel principal de

proteção e conservação dos ecossistemas naturais. Neste quesito, o Brasil ainda tem “muito

a caminhar”, conforme mostra o gráfico 1.

96 REZENDE: UNIDADES DE CONSERVAÇÃO DO EXTREMO NORTE DO ES

Gráfico 1. Número de hectares protegidos por funcionário no Brasil e em outros países Fonte: Medeiros et. al. (2011) No mais das vezes, é a partir da constatação da realidade e do enfretamento de suas crises,

é que surgem as oportunidades. Nesse contexto, acreditamos que ganha força,

resguardados determinados limites, a busca de parcerias, para enfrentar os problemas

vivenciados pelas UCs como demonstra o quadro de potencialidades abaixo:

Tabela 10. Quadro de potencialidades:

Finalmente, acreditamos que muito ainda, há a ser feito no sentido de se buscar a

efetividade das UCs do Norte do estado do ES e não faltam desafios para tal, pois os

III SIMPÓSIO SOBRE A BIODIVERSIDADE DA MATA ATLÂNTICA. 2014 97

mesmos são diversos e naturalmente se modificam ao longo do tempo e de acordo com a

realidade local de cada UC.

Assim sendo, consideramos que os principais desafios para a efetiva conservação de seus

recursos naturais e mesmo da existência destes espaços protegidos no futuro são:

Ampliar efetivamente o quadro de recursos humanos das unidades de conservação;

Promover a recuperação das nascentes e o uso racional da água no entorno direto;

Promover estudos que permitam uma melhor estruturação das atividades de turismo

nas UCs;

Estabelecer medidas mitigadoras dos impactos decorrentes das atividades

econômicas em seu entorno direto;

Estabelecer corredores ecológicos visando aumentar o fluxo gênico das espécies;

Estabelecer uma aproximação mais firme e solidária com as comunidades

tradicionais presentes na região;

Ampliar o escopo das pesquisas científicas, buscando temáticas de interesse

comum;

Ampliar as parcerias com Instituições Públicas (Ministério Publico, Prefeituras,

Universidades) e Privadas (Empresas e ONG’s);

Desenvolver projetos de sensibilização ambiental a fim de minimizar as ocorrências

de ilícitos ambientais;

Fortalecer os elos de solidarização e integração com as demais UCs regionais.

Agradecimentos Aos demais colegas gestores das unidades de conservação citadas, que contribuíram com o

fornecimento de imagens e demais informações apontadas no presente resumo:

Tarciley Gonçalves de São José e Gilcimar Santana Pereira da Área de Proteção

Ambiental de Conceição da Barra – APACB; Alberto Felipe Klotz da Floresta Nacional

do Rio Preto – FNRP; Gustavo A. Braga da Rosa do Parque Estadual de Itaúnas – PEI e

Osvaldo Luiz Ceotto da Reserva Biológica do Córrego do Veado – RBCV

Literatura Citada

Dean, W. - A ferro e fogo: a história e a devastação da Mata Atlântica Brasileira - Tradução: Cid Knipel Moreira - revisão técnica: José Augusto Drummond - Editora Schwarcz Ltda (Companhia das Letras) - São Paulo - 1996 - 484 p.

Fanzeres, A. (coord.) - Temas Conflituosos Relacionados à Expansão da Base Florestal Plantada e Definição de Estratégias para Minimização dos Conflitos Identificados – Projeto MMA/FAO/TCP/BRA/2902 - Programa Nacional de Florestas – Secretaria de Biodiversidade e Florestas – Ministério do Meio Ambiente – Brasília – 2005 – 261 p.

98 REZENDE: UNIDADES DE CONSERVAÇÃO DO EXTREMO NORTE DO ES

Ferreira P. F., Silva A. G. A História da degradação da cobertura vegetal da região costeira do estado do Espírito Santo, sudeste do Brasil. (2011) Natureza on line 9 (1): 10-18. Disponível em: http://www.naturezaonline.com.br Acesso em 26/maio/2014

Garcia, M. A. (consultora-chefe) – Plano de Manejo da Reserva Biológica do Córrego Grande – IBAMA – Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis – Brasília – 2000

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Rezende, G. F. - Processos de Cooperação entre Unidades de Conservação e Empresas (?) - O Caso da Reserva Biológica do Córrego Grande - Conceição Da Barra - Norte do ES – Dissertação de mestrado – Pós-graduação em Ciência Ambiental - Universidade Federal Fluminense – Niterói/RJ - 2012 - 245 p.

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Pacievitch, T. – Sambaqui – revista eletrônica Infoescola – 2014 Disponível em: http://www.infoescola.com/arqueologia/sambaqui/ Acesso em

18/setembro/2014 Prado Jr. C.- Formação do Brasil Contemporâneo - colônia - Entrevista: Fernando Novais -

Posfácio: Bernardo Ricúpero - Editora Schwarcz Ltda (Companhia das Letras) - São Paulo - 2011 - 446 p.

Projeto Amazônia – Metas de Ano novo para a Mata Atlântica - 2014 – Disponível em: http://www.projetoamazonia.com.br/wp-content/uploads/2014/01/mata-

atlantica-1.jpg Acesso em 21/maio/2014 Notas: 2A palavra “sambaquis” tem origem Tupi, e é a mistura das palavras tamba (conchas) e ki (amontoado). Constituem locais muito antigos, onde os homens comiam moluscos (de origem marinha, terrestre ou de água salobra) em grandes grupos. Compostos por restos de moluscos, esqueletos de seres pré-históricos, ossos humanos, conchas e utensílios feitos de pedra ou ossos, são resultado de ações humanas, ou seja, são montes artificiais, com dimensões e formas variadas. (PACIEVITCH, 2014). 3Em 1833, Saint Hilaire publicou na França o 2º volume da sua coleção Viagens ao Interior do Brasil intitulado “Segunda viagem ao interior do Brasil: Espírito Santo”; As novas espécies descritas pelo naturalista passaram a incorporar a sua publicação “Flora Brasilis Meridionalis” . 4Magnanini A., Mattos Filho A. (1956) Composição das florestas costeiras ao norte do Rio São Matheus (Espírito Santo, Brasil). Arquivos do Serviço Florestal do Ministério da Agricultura 10: 163-190.anini A, Mattos Filho A (1956) Composição das florestas costeiras ao norte do Rio São Matheus (Espírito Santo, Brasil). Arquivos do Serviço Florestal do Ministério da Agricultura 10: 163-190. 5Azevedo, L. G. Tipos de vegetação do Estado do Espírito Santo. Revista Brasileira de Geografia, Rio de Janeiro, v. 24, n. 1, p. 111-115, 1962. 6Ruschi A (1969). O mapa fitogeográfico atual do estado do Espírito Santo. Boletim do Museu de Biologia Prof. Mello Leitão 30: 1-49, 1969. 7A região que denominamos de extremo norte do ES, compreende os municípios de São Mateus, Pinheiros, Pedro Canário e Conceição da Barra.