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Preço € 1,50. Número atrasado € 3,00 L ’O SSERVATORE ROMANO EDIÇÃO SEMANAL EM PORTUGUÊS Unicuique suum Non praevalebunt Ano LI, número 51 (2.696) terça-feira 22 de dezembro de 2020 Cidade do Vaticano Audiência aos membros do Colégio cardinalício e da Cúria romana Viver a crise come germe de novidade e oportunidade de mudança Mensagem do Santo Padre para a celebração do 54° Dia mundial da paz A cultura do cuidado como percurso de paz Foi apresentada na Sala de impren- sa da Santa Sé, a 17 de dezembro em streaming, a mensagem de Sua Santidade o Papa Francisco para o 54° Dia mundial da paz, que se ce- lebra a 1 de janeiro de 2021, sobre o tema «A cultura do cuidado como percurso de paz». O cardeal Peter Kodwo Appiah Turkson, prefeito do Dicastério para o desenvolvi- mento humano integral, introdu- ziu a apresentação, frisando que «os eventos que marcaram o cami- nho da humanidade neste ano que terminou, ensinam-nos a impor- tância de cuidarmos uns dos outros e da criação, para construir uma sociedade fundada em relações de fraternidade». Em seguida, tomou a palavra entre outros, mons. Bruno-Marie Duffé, secretário do mesmo Dicas- tério, frisando que a terrível pande- mia de Covid-19 «levou a desco- brir, ou a redescobrir, a fragilidade dos nossos organismos físicos e psicológicos: o nosso corpo e a nossa saúde». Mas também a fragi- lidade das «nossas instituições e das nossas políticas que apoiaram um desenvolvimento de tipo “tec- nocrático”», como se lê na encícli- ca Laudato si', sem pensar «na tutela e no cuidado da biodiversidade e das pessoas». Corpos e vidas, afir- mou, foram instrumentalizados unicamente ao serviço da produção e do lucro». PÁGINAS 4 E 5 NESTE NÚMERO Audiência geral de quarta-feira Não se pode rezar sem amar Anunciou o Pontífice numa mensagem de vídeo ao Climate ambition summit 2020 Vaticano com “emissões zero” até 2050 PÁGINA 6 Audiência aos artistas do concerto de Natal A luz da beleza na escuridão da pandemia PÁGINA 7 No Angelus o Papa denunciou que o consumismo sequestrou o Natal Um presente para quem tem mais necessidade PÁGINA 8 Uma «reflexão sobre a crise» causada pela atual pandemia, que «nos adverte para não julgarmos precipitadamente a Igreja» com os seus «escândalos de ontem e de hoje»; uma recomendação a «não con- fundir a crise com o conflito», pois a primeira «geralmente tem um êxito positivo», e o segundo «cria sempre um contraste»; e uma exortação a encontrar «a humildade de dizer que o tempo da crise é um tempo do Espírito», porque «quem não olha para a crise à luz do Evangelho, limita-se a fazer a autópsia de um cadáver». São estes os três elementos principais contidos no discurso pro- nunciado pelo Papa Francisco na Sala da Bênção por ocasião do anual encontro realizado na manhã de segunda-feira, 21 de dezem- bro, para a tradicional apresentação dos bons votos de Natal aos membros do Colégio cardinalício e da Cúria romana. No «Natal da pandemia», explicou Francisco, o flagelo da Covid-19 pode ser «uma grande ocasião para nos convertermos e recuperarmos autenticida- de». Com efeito, também a Bíblia está «povoada de pessoas que fo- ram “passadas pelo crivo”, de “personagens em crise”» como Abraão, Moisés, Elias, João Batista, Paulo de Tarso e o próprio Je- sus. E contudo, acrescentou o Bispo de Roma, «subjacente a qual- quer crise há sempre uma justa exigência de atualização. Mas se qui- sermos deveras uma atualização» — recomendou o Santo Padre — são necessárias «uma disponibilidade total» e um compromisso a não «pensar na reforma da Igreja como remendar roupa velha, ou na simples redação de uma nova constituição apostólica». Em suma — concluiu o Pontífice — trata-se de «rezar mais» e, ao mesmo tempo, de fazer «tudo o que nos for possível» com mais confiança. PÁGINAS 2 E 3

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  • Preço € 1,50. Número atrasado € 3,00

    L’OSSERVATORE ROMANOEDIÇÃO SEMANAL EM PORTUGUÊS

    Unicuique suum Non praevalebunt

    Ano LI, número 51 (2.696) terça-feira 22 de dezembro de 2020Cidade do Vaticano

    Audiência aos membros do Colégio cardinalício e da Cúria romana

    Viver a crise come germe de novidadee oportunidade de mudança

    Mensagem do Santo Padre para a celebração do 54° Dia mundial da paz

    A cultura do cuidadocomo percurso de paz

    Foi apresentada na Sala de impren-sa da Santa Sé, a 17 de dezembroem streaming, a mensagem de SuaSantidade o Papa Francisco para o54° Dia mundial da paz, que se ce-lebra a 1 de janeiro de 2021, sobre otema «A cultura do cuidado comopercurso de paz». O cardeal PeterKodwo Appiah Turkson, prefeitodo Dicastério para o desenvolvi-mento humano integral, introdu-ziu a apresentação, frisando que«os eventos que marcaram o cami-nho da humanidade neste ano queterminou, ensinam-nos a impor-tância de cuidarmos uns dos outrose da criação, para construir umasociedade fundada em relações defraternidade».

    Em seguida, tomou a palavraentre outros, mons. Bruno-MarieDuffé, secretário do mesmo Dicas-tério, frisando que a terrível pande-mia de Covid-19 «levou a desco-brir, ou a redescobrir, a fragilidadedos nossos organismos físicos epsicológicos: o nosso corpo e anossa saúde». Mas também a fragi-lidade das «nossas instituições edas nossas políticas que apoiaramum desenvolvimento de tipo “tec-no crático”», como se lê na encícli-ca Laudato si', sem pensar «na tutelae no cuidado da biodiversidade edas pessoas». Corpos e vidas, afir-mou, foram instrumentalizadosunicamente ao serviço da produçãoe do lucro».

    PÁGINAS 4 E 5

    NESTE NÚMERO

    Audiência geral de quarta-feira

    Não se pode rezarsem amar

    Anunciou o Pontíficenuma mensagem de vídeo ao Climateambition summit 2020

    Vaticano com “emissõesz e ro ” até 2050

    PÁGINA 6

    Audiência aos artistas do concertode Natal

    A luz da belezana escuridãoda pandemia

    PÁGINA 7

    No Angelus o Papa denunciouque o consumismo sequestrou o Natal

    Um presentepara quemtem mais necessidade

    PÁGINA 8

    Uma «reflexão sobre a crise» causada pela atual pandemia, que «nosadverte para não julgarmos precipitadamente a Igreja» com os seus«escândalos de ontem e de hoje»; uma recomendação a «não con-fundir a crise com o conflito», pois a primeira «geralmente tem umêxito positivo», e o segundo «cria sempre um contraste»; e umaexortação a encontrar «a humildade de dizer que o tempo da crise éum tempo do Espírito», porque «quem não olha para a crise à luz doEvangelho, limita-se a fazer a autópsia de um cadáver».

    São estes os três elementos principais contidos no discurso pro-nunciado pelo Papa Francisco na Sala da Bênção por ocasião doanual encontro realizado na manhã de segunda-feira, 21 de dezem-bro, para a tradicional apresentação dos bons votos de Natal aosmembros do Colégio cardinalício e da Cúria romana. No «Natal dapandemia», explicou Francisco, o flagelo da Covid-19 pode ser «umagrande ocasião para nos convertermos e recuperarmos autenticida-de». Com efeito, também a Bíblia está «povoada de pessoas que fo-ram “passadas pelo crivo”, de “personagens em crise”» comoAbraão, Moisés, Elias, João Batista, Paulo de Tarso e o próprio Je-sus. E contudo, acrescentou o Bispo de Roma, «subjacente a qual-quer crise há sempre uma justa exigência de atualização. Mas se qui-sermos deveras uma atualização» — recomendou o Santo Padre — sãonecessárias «uma disponibilidade total» e um compromisso a não«pensar na reforma da Igreja como remendar roupa velha, ou nasimples redação de uma nova constituição apostólica». Em suma —concluiu o Pontífice — trata-se de «rezar mais» e, ao mesmo tempo,de fazer «tudo o que nos for possível» com mais confiança.

    PÁGINAS 2 E 3

  • L’OSSERVATORE ROMANOpágina 2, terça-feira 22 de dezembro de 2020, número 51 número 51, terça-feira 22 de dezembro de 2020, página 3

    Audiência aos membros do Colégio cardinalício e da Cúria romana para a tradicional troca dos bons votos de Natal num ano marcado pela pandemia

    Viver a crise come germe de novidadee oportunidade de mudança

    A reforma da Igreja não é um remendo em roupa velha nem uma nova constituição ap ostólica

    Queridos irmãos e irmãs!

    1. O Natal de Jesus de Nazaréé o mistério de um nascimentoque nos recorda que «os ho-mens, embora tenham de mor-rer, não nasceram para morrer,mas para recomeçar», comoobserva de maneira clarividen-te e incisiva Hanna Arendt, afilósofa judia que inverte opensamento do seu mestreHeidegger, segundo o qual ohomem nasce para ser lançadona morte. Sobre as ruínas dostotalitarismos do século XX,Arendt reconhece esta verdadeluminosa: «O milagre que pre-serva o mundo, a esfera das vi-cissitudes humanas, da suaruína normal, “natural”, é emúltima instância o facto da na-talidade. (…) É esta fé e espe-rança no mundo que encontraa sua expressão talvez maisgloriosa e eficaz nas poucaspalavras com que o Evangelhoanunciou a “feliz notícia” doadvento: “Um menino nasceupara nós”».1

    2. Perante o mistério da En-carnação, junto do Meninodeitado numa manjedoura (cf.Lc 2, 16), bem como diante doMistério Pascal, na presençado homem crucificado, só en-contramos o lugar certo se nosapresentarmos desarmados,humildes, essenciais; só depoisde termos realizado no meioonde vivemos – incluindo aCúria Romana – o programade vida sugerido por São Pau-lo: «Toda a espécie de azedu-me, raiva, ira, gritaria e injúriadesapareça de vós, juntamentecom toda a maldade. Sede, an-tes, bondosos uns para com osoutros, compassivos; perdoan-do-vos mutuamente comotambém Deus vos perdoou emCristo» (Ef 4, 31-32); só se esti-vermos «revestidos de humil-dade» (cf. 1 Pd 5, 5), imitandoJesus «manso e humilde decoração» (Mt 11, 29); só depoisde nos termos colocado «noúltimo lugar» (Lc 14, 10) e feito«servo de todos» (cf. Mc 10,44). E a este respeito, nos seusE x e rc í c i o s , Santo Inácio chegaao ponto de pedir que nosimaginemos no cenário dopresépio, «fazendo-me eu – es-creve – pobre e indigno servoque olha para eles, contempla-os e serve-os nas suas necessi-dades» (114, 2).

    Agradeço ao Cardeal Deca-no as suas palavras de sauda-ção neste Natal, nelas expres-sando os sentimentos de to-dos. Cardeal Re, obrigado!

    3. Este Natal fica marcadopela pandemia, pela crise sani-tária, pela crise económica, so-cial e até eclesial que atingiu,sem distinções, o mundo intei-ro. A crise deixou de ser umlugar-comum dos discursos eda elite intelectual para se tor-nar uma realidade partilhadapor todos.

    Este flagelo foi um testeconsiderável e, ao mesmo tem-po, uma grande ocasião paranos convertermos e recuperar-mos a autenticidade.

    Em 27 de março passado,no Adro de São Pedro com aPraça aparentemente vaziamas na realidade estava cheiagraças à pertença fraterna quenos acomuna nos vários cantosda terra, quando lá quis rezarpor todos e com todos, tive

    ocasião de referir em voz alta opossível significado da «tem-pestade» (cf. Mc 4, 35-41) quese abatera sobre o mundo: «Atempestade desmascara a nos-sa vulnerabilidade e deixa adescoberto as falsas e supér-fluas seguranças com queconstruímos os nossos progra-mas, os nossos projetos, osnossos hábitos e prioridades.Mostra-nos como deixamosadormecido e abandonadoaquilo que nutre, sustenta e dáforça à nossa vida e à nossa co-munidade. A tempestade põea descoberto todos os propósi-tos de “empacotar” e esquecero que alimentou a alma dosnossos povos; todas as tentati-vas de anestesiar com hábitosaparentemente “s a l v a d o re s ”,incapazes de fazer apelo àsnossas raízes e evocar a memó-ria dos nossos idosos, privan-do-nos assim da imunidadenecessária para enfrentar asadversidades. Com a tempes-tade, caiu a maquilhagem dosestereótipos com que mascara-mos o nosso “eu” sempre preo-cupado com a própria ima-gem; e ficou a descoberto,uma vez mais, aquela (aben-çoada) pertença comum a quenão nos podemos subtrair: apertença como irmãos».

    4. Precisamente neste tem-po difícil, quis a Providênciadar-me a possibilidade de es-crever a encíclica Fratelli tutti,dedicada ao tema da fraterni-dade e da amizade social. E

    dos «evangelhos da infância»,onde se narra o nascimento deJesus, vem-nos uma lição, ouseja, a de uma nova cumplici-dade – uma nova cumplicida-de! – e união que se cria entrequantos são os seus protago-nistas: Maria, José, os pasto-res, os magos e todos aquelesque, de uma forma ou de ou-tra, ofereceram a sua fraterni-dade, a sua amizade, para po-der ser acolhido na escuridãoda história o Verbo que Se fezcarne (cf. Jo 1, 14).

    Assim deixei escrito na refe-rida encíclica: «Desejo arden-temente que, neste tempo quenos cabe viver, reconhecendoa dignidade de cada pessoahumana, possamos fazer re-nascer, entre todos, um anseiomundial de fraternidade. En-tre todos: Aqui está um ótimosegredo para sonhar e tornar anossa vida uma bela aventura.Ninguém pode enfrentar a vi-da isoladamente (...); precisa-mos de uma comunidade quenos apoie, que nos auxilie edentro da qual nos ajudemosmutuamente a olhar em frente.Como é importante sonharjuntos! (...) Sozinho, corres orisco de ter miragens, vendoaquilo que não existe; é juntosque se constroem os sonhos.Sonhemos como uma únicahumanidade, como caminhan-tes da mesma carne humana,como filhos desta mesma terraque nos alberga a todos, cadaqual com a riqueza da sua fé

    ou das suas convicções, cadaqual com a própria voz, mastodos irmãos» (Fratelli tutti, 8).

    5. A crise da pandemia éocasião propícia para uma bre-ve reflexão sobre o significado dacrise em si mesma, que nos pos-sa ajudar a cada um.

    A crise é um fenómeno queafeta tudo e todos. Presentepor todo o lado e em cada pe-ríodo da história, envolve asideologias, a política, a econo-mia, a técnica, a ecologia, a re-ligião. Trata-se de uma etapaobrigatória da história pessoale da história social. Manifesta-se como um facto extraordiná-rio, que provoca sempre umsentimento de trepidação, an-gústia, desequilíbrio e incerte-za nas opções a tomar. Comolembra a raiz etimológica doverbo krino, a crise é aquele cri-vo que limpa o grão de trigodepois da ceifa.

    A própria Bíblia está po-voada por pessoas que foram«passadas pelo crivo», por«personagens em crise», masque, precisamente através de-la, realizam a história da salva-ção.

    A crise de Ab ra ã o , que deixaa sua terra (Gn 12, 1-2) e vive agrande prova de dever sacrifi-car a Deus o seu único filho(Gn 22, 1-19), é resolvida, doponto de vista teologal, com onascimento de um novo povo.Mas este nascimento não pou-pa Abraão de viver um dramaonde a confusão e o desorien-tamento só não prevaleceramgraças à fortaleza da sua fé.

    A crise de Mo i s é s manifesta-se na falta de confiança em simesmo: «Quem sou eu para irter com o faraó e fazer sair osfilhos de Israel do Egito?» (Êx3, 11); «eu não sou um homemdotado para falar (...) tenho aboca e a língua pesadas» (Êx4, 10); «sou incircunciso de lá-bios» (Êx 6, 12.30). Por isso,tenta evitar a missão que Deuslhe confia: «Senhor, envia amensagem pela mão de outro»(Êx 4, 13). Mas, por meio destacrise, Deus fez de Moisés oseu servo, que guiou o povopara fora do Egito.

    Elias, o profeta tão forte quefoi comparado ao fogo (cf. Sr48, 1), num momento de gran-de crise até desejou a morte,mas depois experimentou apresença de Deus, não no ven-to impetuoso, nem no tremorde terra, nem no fogo, mas no«murmúrio de uma brisa sua-ve» (cf. 1 Rs 19, 11-12). A voz deDeus nunca é a voz r u m o ro s a dacrise, mas é o murmúrio que nosfala d e n t ro da própria crise.

    João Baptista sente-se aca-brunhado pela dúvida sobre aidentidade messiânica de Je-sus (cf. Mt 11, 2-6), porque nãoSe apresenta como o justiceiroque ele talvez esperasse (cf. Mt3, 11-12); mas é precisamentedepois do facto da prisão deJoão que Jesus começa a pre-gar o Evangelho de Deus (cf.Mc 1, 14).

    E ainda a crise teológica dePaulo de Tarso: abalado pelodeslumbrante encontro comCristo no caminho de Damas-

    co (cf. At 9, 1-19; Gl 1, 15-16), éimpelido a deixar as suas se-guranças para seguir Jesus (cf.Fl 3, 4-10). São Paulo foi ver-dadeiramente um homem quese deixou transformar pela cri-se e, por isso, foi o artífice da-quela crise que impeliu a Igre-ja a sair do recinto de Israelpara chegar aos confins da ter-ra.

    Poderíamos prolongar a lis-ta de personagens bíblicos –há tantos – e cada um de nóspoderia encontrar nela o seul u g a r.

    Mas a crise mais eloquenteé a de Jesus: os evangelhos si-nópticos destacam que inau-gura a sua vida pública com aexperiência da crise vivida nastentações. Embora o protago-nista desta situação possa pa-recer o diabo com as suas fal-sas propostas, todavia o verda-deiro protagonista é o EspíritoSanto; é Ele, de facto, quemconduz Jesus neste momentodecisivo da sua vida: «O Espí-rito conduziu Jesus ao deserto,a fim de ser tentado pelo dia-bo» (Mt 4, 1).

    Os evangelistas evidenciamque os quarenta dias vividospor Jesus no deserto estãomarcados pela experiência dafome e da fragilidade (cf. Mt 4,2; Lc 4, 2). E é precisamente nomais fundo desta fome e destafragilidade que o maligno ten-ta jogar o seu trunfo, aprovei-tando-se da humanidade can-sada de Jesus. Mas, naquelehomem provado pelo jejum, oTentador experimenta a pre-sença do Filho de Deus quesabe vencer a tentação pormeio da Palavra de Deus, nãocom a palavra própria. Jesusnunca dialoga com o diabo,nunca! E isto é uma lição paranós: com o diabo nunca sedialoga. Jesus expulsa-o ouobriga-o a manifestar o seunome; mas com o diabo, nun-ca se dialoga.

    Depois Jesus enfrentouuma crise indescritível no Get-sémani: solidão, medo, angús-tia, a traição de Judas e oabandono dos Apóstolos (cf.Mt 26, 36-50). Por fim, vem acrise extrema na cruz: a solida-riedade com os pecadores atéao ponto de Se sentir abando-nado pelo Pai (cf. Mt 27, 46).Apesar disso, é com plenaconfiança que entregou o seuespírito nas mãos do Pai (cf. Lc23, 46). E este seu abandonototal e confiante abriu o cami-nho da ressurreição (cf. Hb 5,7).

    6. Irmãos e irmãs, esta refle-xão sobre a crise alerta paranão julgarmos precipitada-mente a Igreja com base nascrises causadas pelos escânda-los de ontem e de hoje, comofez o profeta Elias que, desa-bafando com o Senhor, Lheapresentou uma descrição darealidade sem esperança: «Ar-do em zelo pelo Senhor, Deusdo universo, porque os filhosde Israel abandonaram a tuaaliança, derrubaram os teus al-tares e mataram os teus profe-tas. Só eu escapei; mas agoratambém me querem matar a

    mim» (1 Rs 19, 14). E quantasvezes também as nossas análi-ses eclesiais parecem descri-ções sem esperança. Uma lei-tura da realidade sem esperan-ça não se pode chamar realis-ta. A esperança dá às nossasanálises aquilo que muitas ve-zes o nosso olhar míope é in-capaz de captar. Deus respon-de a Elias que a realidade nãoé assim como ele a percebeu:«Vai e volta pelo caminho dodeserto em direção a Damasco(...) deixarei com vida em Is-rael sete mil homens que nãoajoelharam perante Baal e cu-jos lábios o não beijaram» (1Rs 19, 15.18). Não é verdadeque o profeta esteja sozinho:está em crise.

    Deus continua a fazer ger-minar as sementes do seu Rei-no no meio de nós. Aqui, naCúria, muitos são os que dãotestemunho com o trabalhohumilde, discreto, sem mur-murações, silencioso, leal, pro-fissional, honesto. São muitos,no vosso meio... Obrigado! Onosso tempo também tem osseus problemas, mas possuiigualmente o testemunho vivode que o Senhor não abando-nou o seu povo, com a únicadiferença de que os problemasvão parar imediatamente aosjornais – sucede isto todos osdias – enquanto os sinais deesperança fazem notícia só de-pois de muito tempo e... nems e m p re .

    Quem não olha a crise à luzdo Evangelho limita-se a fazera autópsia de um cadáver:olha a crise, mas sem a espe-rança do Evangelho, sem a luzdo Evangelho. Estamos assus-tados com a crise não só por-que nos esquecemos de a ava-liar como o Evangelho nosconvida a fazê-lo, mas tam-bém porque olvidamos que oEvangelho é o primeiro a colo-car-nos em crise.2 É o Evange-lho que nos coloca em crise.Mas, se reencontrarmos a co-ragem e a humildade de dizerem voz alta que o tempo dacrise é um tempo do Espírito,então, mesmo no meio da ex-periência da escuridão, da fra-queza, da fragilidade, das con-tradições, da confusão, já nãonos sentiremos esmagados,mas conservaremos sempre aconfiança íntima de que ascoisas estão prestes a assumiruma forma nova, nascida ex-clusivamente da experiênciade uma graça escondida na es-curidão. «Porque no fogo seprova o ouro; e os eleitos deDeus, no cadinho da humilha-ção» (Sr 2, 5).

    7. Por fim, gostaria de vosexortar a não confundir a crisecom o conflito. São duas coisasdistintas… A crise geralmentetem um desfecho positivo, en-quanto o conflito cria sempreum contraste, uma competi-ção, um antagonismo aparen-temente sem solução, entre su-jeitos que se dividem em ami-gos a amar e inimigos a com-bater, com a consequente vitó-ria de uma das partes.

    A lógica do conflito semprebusca os «culpados» a estig-

    O cardeal Giovanni Battista Re, decano do colégio cardinalício,saúda o Pontífice em nome dos presentes

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    Audiência aos membros do Colégio cardinalício e da Cúria romana para a tradicional troca dos bons votos de Natal num ano marcado pela pandemia

    matizar e desprezar e os «jus-tos» a justificar, a fim de intro-duzir a noção – muitas vezesmágica – de que esta ou aquelasituação nada tem a ver con-nosco. Esta perda do sentidode uma pertença comum favo-rece o crescimento ou a afir-mação de certas atitudes elitis-tas e de «grupos fechados»que promovem lógicas restriti-vas e parciais, que empobre-cem a universalidade da nossamissão. «Quando paramos naconjuntura conflitual, perde-mos o sentido da unidade pro-funda da realidade» (Exort.ap. Evangelii gaudium, 226).

    Lida com as categorias deconflito – direita e esquerda,progressista e tradicionalista –a Igreja divide-se, polariza-se,perverte-se e atraiçoa a suaverdadeira natureza: é umCorpo perenemente em crise,precisamente porque está vivo,mas não deve tornar-se jamaisum Corpo em conflito comvencedores e vencidos, poisdeste modo semeará temor,tornar-se-á mais rígida, menossinodal, e imporá uma lógicauniforme e uniformizadora,muito distante da riqueza epluralidade que o Espírito deuà sua Igreja.

    A novidade introduzida pe-la crise querida pelo Espíritonunca é uma novidade emcontraposição ao antigo, masuma novidade que germina doantigo e o torna sempre fecun-do. Jesus usa uma frase queexpressa esta passagem de for-ma simples e clara: «Se o grãode trigo, lançado à terra, não

    morrer, fica ele só; mas, semorrer, dá muito fruto» (Jo 12,24). O ato de morrer da se-mente é ambivalente, porqueassinala simultaneamente ofim dalguma coisa e o iníciodoutra. Ao mesmo momentochamamos morte-apodrecer enascimento-germinar, porquesão a mesma coisa: diante dosnossos olhos, vemos um fim e,ao mesmo tempo, naquele fimmanifesta-se um novo início.

    Neste sentido, todas as re-sistências que fazemos ao en-trar em crise, deixando-nos

    conduzir pelo Espírito notempo da prova, condenam-nos a ficar sós e estéreis, nomáximo em conflito. Defen-dendo-nos da crise, obstaculi-zamos a obra da graça deDeus, que quer manifestar-seem nós e por meio de nós. Porisso, se um certo realismo nosmostra a nossa história recenteapenas como a soma de tenta-tivas, nem sempre bem-sucedi-das, de escândalos, quedas,pecados, de contradições, decurtos-circuitos no testemu-nho, não devemos assustar-nos, nem negar a evidência de

    tudo aquilo que em nós e nasnossas comunidades é afetadopela morte e precisa de con-versão. Tudo aquilo que demau, contraditório, fraco e frá-gil se manifesta abertamente,lembra-nos ainda mais inten-samente a necessidade de mor-rer para um modo de ser, ra-ciocinar e agir que não refleteo Evangelho. Só morrendo pa-ra uma certa mentalidade éque conseguiremos tambémabrir espaço à novidade que oEspírito suscita constantemen-te no coração da Igreja. Bem

    cientes disto esta-vam os Padres daIgreja, apelandocontinuamente àmetanoia.

    8. Subjacente acada crise, hásempre uma justaexigência de atua-lização: é um pas-so em frente. Masse quisermos deverdade uma

    atualização, devemos ter a co-ragem de uma disponibilidadesem limites; há que deixar depensar na reforma da Igrejacomo remendo de um vestidovelho ou mera redação de umanova constituição apostólica.A reforma da Igreja é outracoisa.

    Não se trata de «remendaruma peça de vestuário», por-que a Igreja não é simples«vestido» de Cristo, mas o seuCorpo que abraça a históriainteira (cf. 1 Cor 12, 27). Somoschamados, não a mudar ou re-formar o Corpo de Cristo –«Jesus Cristo é o mesmo on-tem, hoje e pelos séculos» (Hb13, 8) – mas a revestir com umvestido novo aquele mesmoCorpo, a fim de que resulteclaramente que a graça possuí-da não vem de nós, mas deDeus: de facto, «trazemos estetesouro em vasos de barro, pa-ra que se veja que este extraor-dinário poder é de Deus e nãoé nosso» (2 Cor 4, 7). A Igreja ésempre um vaso de barro, pre-cioso pelo que contém e nãopelo que às vezes mostra de simesma. No fim, terei o prazerde vos dar um livro, um pre-sente de Padre Ardura, ondese mostra a vida de um vaso debarro, que fez brilhar a gran-deza de Deus e as reformas daIgreja. Este é um tempo em

    que parece evidente que o bar-ro de que fomos feitos está las-cado, rachado, partido. Temosde esforçar-nos por que a nos-sa fragilidade não se torneobstáculo ao anúncio doEvangelho, mas lugar onde semanifeste o grande amor comque Deus, rico em misericór-dia, nos amou e continua aamar (cf. Ef 2, 4). Se riscásse-mos Deus, rico em misericór-dia, da nossa vida, esta seriauma farsa, uma mentira.

    Durante o período da crise,Jesus acautela-nos dalgumastentativas de sair dela que, àpartida, estão condenadas aofracasso, como aquela que «re-corta um bocado de roupa no-va para o deitar em roupa ve-lha»; o resultado é previsível:ficará rasgada a nova e, «àroupa velha, não se ajustarábem o remendo que vem danova». Da mesma forma,«ninguém deita vinho novoem odres velhos; se o fizer, ovinho novo rompe os odres ederrama-se, e os odres ficarãoperdidos. Mas deve deitar-se ovinho novo em odres novos»(Lc 5, 36-38).

    O comportamento correto éo do «doutor da Lei instruídoacerca do Reino dos céus[que] é semelhante a um paide família, que tira coisas no-vas e antigas do seu tesouro»(Mt 13, 52). O tesouro é a Tra-dição; esta, como recordavaBento XVI, «é o rio vivo quenos liga às origens, o rio vivono qual as origens estão sem-pre presentes. O grande rioque nos conduz ao porto daeternidade (Catequese, 26 deabril de 2006). Isto traz-me aopensamento a frase daquelegrande musicista alemão: «Atradição é a salvaguarda do fu-turo e não um museu, guar-dião das cinzas». São «coisasantigas» a verdade e a graçaque já possuímos. As «coisasnovas» são os vários aspetosda verdade que pouco a poucovamos compreendendo. Aque-la frase do século V «ut annisscilicet consolidetur, dilatetur tempo-re, sublimetur aetate – fortalece-secom o decorrer dos anos, de-senvolve-se com o andar dostempos, cresce através das ida-des» define o que é a tradição;por isso cresce. Nenhuma mo-dalidade histórica de viver oEvangelho esgota a sua com-

    preensão. Se nos deixarmosguiar pelo Espírito Santo, ire-mos dia após dia aproximan-do-nos cada vez mais da «Ver-dade completa» (Jo 16, 13). Aocontrário, sem a graça do Es-pírito Santo, pode-se até co-meçar a conceber a Igreja deforma sinodal, mas, em vez dese referir à comunhão com apresença do Espírito Santo,chega a ser concebida comoqualquer assembleia democrá-tica composta por maiorias eminorias, por exemplo, comoum Parlamento; e a sinodali-dade não é isto. Só a presençado Espírito Santo fará a dife-re n ç a .

    9. Como comportar-nos nacrise? Antes de mais nada,aceitá-la como um tempo degraça que nos foi dado paracompreender a vontade deDeus sobre cada um de nós e aIgreja inteira. É preciso entrarna lógica, aparentemente con-traditória, de que, «quandosou fraco, então é que sou for-te» (2 Cor 12, 10). Tenha-sepresente a garantia dada porSão Paulo aos Coríntios:«Deus é fiel e não permitiráque sejais tentados acima dasvossas forças, mas, com a ten-tação, vos dará os meios desair dela e a força para a su-portar» (1 Cor 10, 13).

    Ponto fundamental é nãointerromper o diálogo comDeus, mesmo que seja cansati-vo. Rezar não é fácil. Não de-vemos cansar-nos de rezarsempre (cf. Lc 21, 36; 1 Ts 5, 17).Não conhecemos outra solu-ção para os problemas que es-tamos a viver, senão a de rezarmais e, ao mesmo tempo, fazertudo o que nos for possívelcom mais confiança. A oraçãopermitir-nos-á ter «esperança,para além do que se podia es-perar» (Rm 4, 18).

    10. Amados irmãos e irmãs,conservemos uma grande paze serenidade, plenamenteconscientes de que todos nós,a começar por mim, somosapenas «servos inúteis» (Lc 17,10), com quem usou de miseri-córdia o Senhor. Por isso, seriabom se deixássemos de viverem conflito e voltássemos asentir-nos a caminho, abertosà crise. O caminho sempre tema ver com os verbos de movi-mento. A crise é movimento,faz parte do caminho. Ao con-trário, o conflito é um cami-nho fictício, é um girovagarsem motivo nem finalidade, épermanecer no labirinto, é sódesperdício de energias e oca-sião de mal. E o primeiro mala que nos leva o conflito e doqual devemos procurar fugir, éa murmuração. Tenhamos cui-dado com isto! Falar contra amurmuração não é uma maniaminha; é a denúncia de ummal que entra na Cúria; aqui,no Palácio, há muitas portas ejanelas que lhe dão entrada ehabituamo-nos a isto, à male-dicência, que nos fecha namais triste, desagradável e su-focante autorreferencialidadee transforma toda a crise emconflito. Narra o Evangelhoque os pastores acreditaram noanúncio do Anjo e puseram-sea caminho para ir ver Jesus (cf.Lc 2, 15-16). Ao contrário, He-rodes fecha-se diante da narra-ção dos Magos e transformoueste seu fechamento em menti-

    ra e violência (cf. Mt 2, 1-16).Cada um de nós, indepen-

    dentemente do lugar que ocu-pa na Igreja, interrogue-se sequer seguir Jesus com a docili-dade dos pastores ou com aautoproteção de Herodes, se-gui-Lo na crise ou defender-sed’Ele no conflito.

    Permiti que vos peça ex-pressamente, a todos vós queme acompanhais no serviço doEvangelho, esta prenda deNatal: a vossa colaboração ge-nerosa e apaixonada no anún-cio da Boa Nova sobretudoaos pobres (cf. Mt 11, 5). Lem-bremo-nos que só conheceverdadeiramente a Deus quemacolhe o pobre que vem debaixo com a sua miséria e que,precisamente nestas vestes, éenviado do Alto; não pode-mos ver o rosto de Deus, maspodemos experimentá-lo aoolhar para nós quando honra-mos o rosto do próximo, dooutro que nos ocupa com assuas necessidades.3 O rostodos pobres. Os pobres são ocentro do Evangelho. E recor-do o que dizia aquele santobispo brasileiro: «Quando meocupo dos pobres, dizem demim que sou um santo; mas,quando me pergunto e lhespergunto: “Porquê tanta po-b re z a ? ”, chamam-me “comu-nista”».

    Não haja ninguém que difi-culte voluntariamente a obraque o Senhor está a realizarneste momento, e peçamos odom da humildade do serviçoa fim de que Ele cresça e nósdiminuamos (cf. Jo 3, 30).

    Boas-festas a todos, a cadaum de vós, às vossas famílias eaos vossos amigos. E obriga-do! Obrigado pelo vosso tra-balho. Muito obrigado! E, porfavor, rezai sempre por mim,para que tenha a coragem depermanecer em crise. FelizNatal! Obrigado!

    [Bênção]Esqueci-me de dizer que

    vos darei, de prenda, dois li-vros. Um é a vida de Carlos deFoucauld, um Mestre da crise,que nos deixou um dom, umlegado belíssimo. Trata-se deuma oferta que me fez o PadreArdura: obrigado! O outro in-titula-se «Holotropia: os ver-bos da familiaridade cristã»;servem para ajudar a viver anossa vida. É um livro publi-cado nestes dias, escrito porum biblista, discípulo do Car-deal Martini; trabalhou emMilão, mas é da diocese de Al-b enga-Imp eria.

    1 HANNA AR E N D T, The Hu-man Condition (Universidade deChicago 1958), traduzido emitaliano: Vita activa. La condizioneumana (Bompiani, Milão1994), 182.

    2 «Depois de o ouvirem,muitos dos seus discípulos dis-seram: “Que palavras insupor-táveis! Quem pode entenderisto?”. Mas Jesus, sabendo noseu íntimo que os seus discí-pulos murmuravam a respeitodisto, disse-lhes: “Isto escan-daliza-vos?”» (Jo 6, 60-61).Mas somente a partir desta cri-se é que pôde nascer esta pro-fissão de fé: «A quem iremosnós, Senhor? Tu tens palavrasde vida eterna» (Jo 6, 68).

    3 Cf. E. LEVINAS, Totalité etinfini (Paris 2000), 76.

    Gostaria de vos convidar a nãoconfundir a crise com o conflitoa primeira «geralmentetem um êxito positivo»o segundo cria sempre um contraste

    O cardeal Giovanni Battista Re, decano do colégio cardinalício,saúda o Pontífice em nome dos presentes

  • L’OSSERVATORE ROMANOpágina 4, terça-feira 22 de dezembro de 2020, número 51 número 51, terça-feira 22 de dezembro de 2020, página 5

    MENSAGEM DO SANTO PADRE PARA A CELEBRAÇÃO DO DIA MUNDIAL DA PAZ

    A cultura do cuidadocomo percurso de paz«A cultura do cuidado como percurso de paz» é o tema da mensagem do Papa Francisco — a p re -sentado no dia 17 de dezembro na Sala de imprensa da Santa Sé — para o 54º Dia mundial dapaz, que se celebra a 1 de janeiro de 2021. Publicamos a seguir o texto da mensagem.

    1. Aproximando-se o Ano Novo, dese-jo apresentar as minhas respeitosassaudações aos Chefes de Estado e deGoverno, aos responsáveis das Orga-nizações Internacionais, aos líderes es-pirituais e fiéis das várias religiões, aoshomens e mulheres de boa vontade.Para todos formulo os melhores votos,esperando que o ano de 2021 faça ahumanidade progredir no caminho dafraternidade, da justiça e da paz entreas pessoas, as comunidades, os povose os Estados.

    O ano de 2020 ficou marcado pelagrande crise sanitária da Covid-19, quese transformou num fenómeno pluris-sectorial e global, agravando forte-mente outras crises inter-relacionadascomo a climática, alimentar, económi-ca e migratória, e provocando grandessofrimentos e incómodos. Penso, emprimeiro lugar, naqueles que perderamum familiar ou uma pessoa querida,mas também em quem ficou sem tra-balho. Lembro de modo especial osmédicos, enfermeiras e enfermeiros,farmacêuticos, investigadores, volun-tários, capelães e funcionários doshospitais e centros de saúde, que seprodigalizaram — e continuam a fazê-lo — com grande fadiga e sacrifício, aponto de alguns deles morrerem quan-do procuravam estar perto dos doen-tes a fim de aliviar os seus sofrimentosou salvar-lhes a vida. Ao mesmo tem-po que presto homenagem a estas pes-soas, renovo o apelo aos responsáveispolíticos e ao sector privado para quetomem as medidas adequadas a garan-tir o acesso às vacinas contra a Covid-19 e às tecnologias essenciais necessá-rias para dar assistência aos doentes ea todos aqueles que são mais pobres emais frágeis.1

    É doloroso constatar que, ao ladode numerosos testemunhos de carida-de e solidariedade, infelizmente ga-nham novo impulso várias formas denacionalismo, racismo, xenofobia etambém guerras e conflitos que se-meiam morte e destruição.

    Estes e outros acontecimentos, quemarcaram o caminho da humanidadeno ano de 2020, ensinam-nos a impor-tância de cuidarmos uns dos outros eda criação a fim de se construir umasociedade alicerçada em relações defraternidade. Por isso, escolhi comotema desta mensagem «a cultura do cui-dado como percurso de paz»; a cultura docuidado* para erradicar a cultura daindiferença, do descarte e do conflito,que hoje muitas vezes parece prevale-c e r.

    2. Deus Criadororigem da vocação humana

    ao cuidado

    Em muitas tradições religiosas, exis-tem narrativas que se referem à origemdo homem, à sua relação com o Cria-dor, com a natureza e com os seus se-melhantes. Na Bíblia, o livro do Génesis

    revela, desde o início, a importânciado cuidado ou da custódia no projeto deDeus para a humanidade, destacandoa relação entre o homem (’adam) e aterra (’adamah) e entre os irmãos. Nanarração bíblica da criação, Deus con-fia o jardim «plantado no Éden» (cf.Gn 2, 8) às mãos de Adão com o encar-go de «o cultivar e guardar» (Gn 2, 15).Isto significa, por um lado, tornar aterra produtiva e, por outro, protegê-la e fazê-la manter a sua capacidade desustentar a vida.2 Os verbos «cultivar»e «guardar» descrevem a relação deAdão com a sua casa-jardim e indicamtambém a confiança que Deus deposi-ta nele fazendo-o senhor e guardião detoda a criação.

    O nascimento de Caim e Abel gerauma história de irmãos, cuja relaçãoem termos de tutela ou custódia será vi-vida negativamente por Caim. Depoisde ter assassinado o seu irmão Abel, aDeus que lhe pergunta por ele, Caimresponde: «Sou, porventura, g u a rd a domeu irmão?» (Gn 4, 9).3 Com certeza!Caim é o «guarda» de seu irmão.«Nestas narrações tão antigas, ricas deprofundo simbolismo, já estava conti-da a convicção atual de que tudo estáinter-relacionado e o cuidado autênti-co da nossa própria vida e das nossasrelações com a natureza é inseparávelda fraternidade, da justiça e da fideli-dade aos outros».4

    3. Deus Criadormodelo do cuidado

    A Sagrada Escritura apresentaDeus, além de Criador, como Aquele

    que cuida das suas criaturas, em parti-cular de Adão, Eva e seus filhos. Opróprio Caim, embora caia sobre ele amaldição por causa do crime que co-metera, recebe como dom do Criadorum sinal de proteção, para que a sua vidaseja salvaguardada (cf. Gn 4, 15). Estefacto, ao mesmo tempo que confirmaa dignidade inviolável da pessoa, criada àimagem e semelhança de Deus, mani-festa também o plano divino para pre-servar a harmonia da criação, porque«a paz e a violência não podem habi-tar na mesma morada».5

    É precisamente o cuidado da cria-ção que está na base da instituição doShabbat que, além de regular o culto di-vino, visava restabelecer a ordem so-cial e a solicitude pelos pobres (Gn 2,1-3; Lv 25, 4). A celebração do Jubileu,quando se completava o sétimo anosabático, consentia uma trégua à terra,aos escravos e aos endividados. Nesteano de graça, cuidava-se dos mais vul-neráveis, oferecendo-lhes uma novaperspetiva de vida, para que não hou-vesse qualquer necessitado entre o po-vo (cf. Dt 15, 4).

    Digna de nota é também a tradiçãoprofética, onde o auge da compreen-são bíblica da justiça se manifesta naforma como uma comunidade trata osmais frágeis no seu seio. É por issoque particularmente Amós (2, 6-8; 8) eIsaías (58) erguem continuamente avoz em prol de justiça para os pobres,que, pela sua vulnerabilidade e faltade poder, são ouvidos só por Deus,que cuida deles (cf. Sal 34, 7; 113, 7-8).

    4. O cuidado no ministério de Jesus

    A vida e o ministério de Jesus en-carnam o ápice da revelação do amordo Pai pela humanidade (Jo 3, 16). Nasinagoga de Nazaré, Jesus manifestou-Se como Aquele que o Senhor consa-grou e enviou a «anunciar a Boa-Novaaos pobres», «a proclamar a libertaçãoaos cativos e, aos cegos, a recuperaçãoda vista; a mandar em liberdade osoprimidos» (Lc 4, 18). Estas açõesmessiânicas, típicas dos jubileus, cons-tituem o testemunho mais eloquenteda missão que o Pai Lhe confiou. Nasua compaixão, Cristo aproxima-Sedos doentes no corpo e no espírito ecura-os; perdoa os pecadores e dá-lhesuma nova vida. Jesus é o Bom Pastorque cuida das ovelhas (cf. Jo 10, 11-18;Ez 34, 1-31); é o Bom Samaritano queSe inclina sobre o ferido, trata dassuas feridas e cuida dele (cf. Lc 10, 30-37).

    No ponto culminante da sua mis-são, Jesus sela o seu cuidado por nós,oferecendo-Se na cruz e libertando-nos assim da escravidão do pecado eda morte. Deste modo, com o dom dasua vida e o seu sacrifício, abriu-nos ocaminho do amor e disse a cada um:«Segue-Me! Faz tu também o mes-mo» (cf. Lc 10, 37).

    5. A cultura do cuidadona vida dos seguidores de Jesus

    As obras de misericórdia espiritual ecorporal constituem o núcleo do servi-ço de caridade da Igreja primitiva. Oscristãos da primeira geração pratica-vam a partilha para não haver entreeles alguém necessitado (cf. At 4, 34-35) e esforçavam-se por tornar a comu-nidade uma casa acolhedora, aberta atodas as situações humanas, disposta aocupar-se dos mais frágeis. Assim, tor-nou-se habitual fazer ofertas voluntá-rias para alimentar os pobres, enterraros mortos e nutrir os órfãos, os idosose as vítimas de desastres, como os náu-fragos. E em períodos sucessivos,quando a generosidade dos cristãosperdeu um pouco do seu ímpeto, al-guns Padres da Igreja insistiram que apropriedade é pensada por Deus parao bem comum. Santo Ambrósio afir-mava que «a natureza concedeu todasas coisas aos homens para uso comum.(…) Portanto, a natureza produziuum direito comum para todos, mas aganância tornou-o um direito de pou-cos».6 Superadas as perseguições dosprimeiros séculos, a Igreja aproveitoua liberdade para inspirar a sociedade ea sua cultura. «As necessidades daépoca exigiam novas energias ao servi-ço da caridade cristã. As crónicas his-tóricas relatam inúmeros exemplos deobras de misericórdia. De tais esforçosconjuntos, resultaram numerosas insti-tuições para alívio das várias necessi-dades humanas: hospitais, alberguespara os pobres, orfanatos, lares paracrianças, abrigos para forasteiros, e as-sim por diante».7

    6. Os princípiosda doutrina social da Igreja

    como base da cultura do cuidado

    A diakonia das origens, enriquecidapela reflexão dos Padres e animada, aolongo dos séculos, pela caridade ope-rosa de tantas luminosas testemunhasda fé, tornou-se o coração pulsante dadoutrina social da Igreja, proporcio-nando a todas as pessoas de boa von-tade um precioso património de prin-

    cípios, critérios e indicações, donde sepode haurir a «gramática» do cuida-do: a promoção da dignidade de todaa pessoa humana, a solidariedade comos pobres e indefesos, a solicitude pelobem comum e a salvaguarda da cria-ção.

    * O cuidadocomo promoção da dignidade

    e dos direitos da pessoa

    «O conceito de pessoa, que surgiu eamadureceu no cristianismo, ajuda apromover um desenvolvimento plena-mente humano. Porque a pessoa exigesempre a relação e não o individualis-mo, afirma a inclusão e não a exclu-são, a dignidade singular, inviolável enão a exploração».8 Toda a pessoa hu-mana é fim em si mesma, e nunca ummero instrumento a ser avaliado ape-nas pela sua utilidade: foi criada paraviver em conjunto na família, na co-munidade, na sociedade, onde todosos membros são iguais em dignidade.E desta dignidade derivam os direitoshumanos, bem como os deveres, querecordam, por exemplo, a responsabi-lidade de acolher e socorrer os pobres,os doentes, os marginalizados, o nosso«próximo, vizinho ou distante no es-paço e no tempo».9

    * O cuidado do bem comum

    Cada aspeto da vida social, políticae económica encontra a sua realização,quando se coloca ao serviço do bemcomum, isto é do «conjunto das con-dições da vida social que permitem,tanto aos grupos como a cada mem-bro, alcançar mais plena e facilmente aprópria perfeição».10 Por conseguinteos nossos projetos e esforços devem tersempre em conta os efeitos sobre a fa-mília humana inteira, ponderando assuas consequências para o momentopresente e para as gerações futuras.Quão verdadeiro e atual seja tudo isto,no-lo mostra a pandemia Covid-19,perante a qual «nos demos conta deestar no mesmo barco, todos frágeis edesorientados mas ao mesmo tempoimportantes e necessários, todos cha-mados a remar juntos»,11 porque «nin-guém se salva sozinho»12 e nenhumEstado nacional isolado pode assegu-rar o bem comum da própria popula-ção.13

    * O cuidadoatravés da solidariedade

    A solidariedade exprime o amor pe-lo outro de maneira concreta, não co-mo um sentimento vago, mas como «adeterminação firme e perseverante dese empenhar pelo bem comum, ou se-ja, pelo bem de todos e de cada um,porque todos nós somos verdadeira-mente responsáveis por todos».14 Asolidariedade ajuda-nos a ver o outro— quer como pessoa quer, em sentidolato, como povo ou nação — não comoum dado estatístico, nem como meio ausar e depois descartar quando já nãofor útil, mas como nosso próximo,companheiro de viagem, chamado aparticipar, como nós, no banquete davida, para o qual todos somos igual-mente convidados por Deus.

    * O cuidadoe a salvaguarda da criação

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    MENSAGEM DO SANTO PADRE PARA A CELEBRAÇÃO DO DIA MUNDIAL DA PAZ

    A encíclica Laudato si’ reconhece ple-namente a interconexão de toda a rea-lidade criada, destacando a exigênciade ouvir ao mesmo tempo o grito dosnecessitados e o da criação. Desta es-cuta atenta e constante pode nascerum cuidado eficaz da terra, nossa casacomum, e dos pobres. A propósito,desejo reiterar que «não pode ser au-têntico um sentimento de união ínti-ma com os outros seres da natureza, seao mesmo tempo não houver no cora-ção ternura, compaixão e preocupaçãopelos seres humanos».15 Na verdade«paz, justiça e salvaguarda da criaçãosão três questões completamente liga-das, que não se poderão separar paraser tratadas individualmente, sob penade cair novamente no reducionis-mo».16

    7. A bússolapara um rumo comum

    Assim, num tempo dominado pelacultura do descarte e perante o agrava-mento das desigualdades dentro dasnações e entre elas,17 gostaria de convi-dar os responsáveis das Organizaçõesinternacionais e dos Governos, dosmundos económico e científico, da co-municação social e das instituiçõeseducativas a pegarem nesta «bússola»dos princípios acima lembrados paradar um rumo comum ao processo de glo-balização, «um rumo verdadeiramentehumano».18 Na verdade, este permiti-ria estimar o valor e a dignidade de ca-da pessoa, agir conjunta e solidaria-mente em prol do bem comum, ali-viando quantos padecem por causa dapobreza, da doença, da escravidão, dadiscriminação e dos conflitos. Atravésdesta bússola, encorajo todos a torna-rem-se profetas e testemunhas da cul-tura do cuidado, a fim de preenchertantas desigualdades sociais. E isto sóserá possível com um forte e generali-zado protagonismo das mulheres nafamília e em todas as esferas sociais,políticas e institucionais.

    A bússola dos princípios sociais, ne-cessária para promover a cultura do cui-dado, vale também para as relações en-tre as nações, que deveriam ser inspi-radas pela fraternidade, o respeito mú-tuo, a solidariedade e a observância dodireito internacional. A este respeito,hão de ser reafirmadas a proteção e a

    promoção dos direitos humanos fun-damentais, que são inalienáveis, uni-versais e indivisíveis.19

    Deve ser recordado também o res-peito pelo direito humanitário, sobre-tudo nesta fase em que se sucedem,sem interrupção, conflitos e guerras.Infelizmente, muitas regiões e comu-nidades já não se recordam dos tem-pos em que viviam em paz e seguran-ça. Numerosas cidades tornaram-seum epicentro da insegurança: os seushabitantes fatigam a manter os seusritmos normais, porque são atacados ebombardeados indiscriminadamentepor explosivos, artilharia e armas ligei-ras. As crianças não podem estudar.Homens e mulheres não podem traba-lhar para sustentar as famílias. A ca-restia lança raízes em lugares onde an-tes era desconhecida. As pessoas sãoobrigadas a fugir, deixando para trásnão só as suas casas, mas também asua história familiar e as raízes cultu-rais.

    As causas de conflitos são muitas,mas o resultado é sempre o mesmo:destruição e crise humanitária. Temosde parar e interrogar-nos: O que foique levou a sentir o conflito como al-go normal no mundo? E, sobretudo,como converter o nosso coração e mu-dar a nossa mentalidade para procurarverdadeiramente a paz na solidarieda-de e na fraternidade?

    Quanta dispersão de recursos paraarmas, em particular para as armas nu-c l e a re s , 20 recursos que poderiam serutilizados para prioridades mais signi-ficativas a fim de garantir a segurançadas pessoas, como a promoção da paze do desenvolvimento humano inte-gral, o combate à pobreza, o remédiodas carências sanitárias! Aliás, tam-bém isto é evidenciado por problemasglobais, como a atual pandemia Co-vid-19 e as mudanças climáticas. Co-mo seria corajosa a decisão de criar«um “Fundo mundial” com o dinheiroque se gasta em armas e outras despe-sas militares, para poder eliminar a fo-me e contribuir para o desenvolvimen-to dos países mais pobres»!21

    8. Para educarem ordem à cultura do cuidado

    A promoção da cultura do cuidadorequer um processo educativo, e a bússola

    dos princípios sociais constitui, para oefeito, um instrumento fiável para vá-rios contextos relacionados entre si. Apropósito, gostaria de fornecer algunsexemplos:

    A educação para o cuidado nascena família, núcleo natural e fundamen-tal da sociedade, onde se aprende a vi-ver em relação e no respeito mútuo.Mas a família precisa de ser colocadaem condições de poder cumprir estatarefa vital e indispensável.

    Sempre em colaboração com a fa-mília, temos outros sujeitos encarrega-dos da educação como a escola e a uni-v e rs i d a d e e analogamente, em certos as-petos, os sujeitos da comunicação social.22São chamados a transmitir um sistemade valores fundado no reconhecimen-to da dignidade de cada pessoa, de ca-da comunidade linguística, étnica e re-ligiosa, de cada povo e dos direitosfundamentais que dela derivam. Aeducação constitui um dos pilares desociedades mais justas e solidárias.

    As religiões em geral, e os líderes re-ligiosos em particular, podem desem-penhar um papel insubstituível natransmissão aos fiéis e à sociedade dosvalores da solidariedade, do respeitopelas diferenças, do acolhimento e docuidado dos irmãos mais frágeis. Re-cordo, a propósito, as palavras que oPapa Paulo VI proferiu no Parlamentodo Uganda em 1969: «Não temais aIgreja; esta honra-vos, educa-vos cida-dãos honestos e leais, não fomenta ri-validades nem divisões, procura pro-mover a liberdade sadia, a justiça so-cial, a paz; se tem alguma preferênciaé pelos pobres, a educação dos peque-ninos e do povo, o cuidado dos atribu-lados e desvalidos».23

    A todas as pessoas empenhadas noserviço das populações, nas organiza-ções internacionais, governamentais enão governamentais, com uma missãoeducativa, e a quantos trabalham, pe-los mais variados títulos, no campo daeducação e da pesquisa, renovo o meuencorajamento para que se possa che-gar à meta de uma educação «maisaberta e inclusiva, capaz de escuta pa-ciente, diálogo construtivo e mútuac o m p re e n s ã o » . 24 Espero que este con-vite, dirigido no contexto do PactoEducativo Global, encontre ampla e va-riegada adesão.

    9. Não há pazsem a cultura do cuidado

    A cultura do cuidado, enquanto com-promisso comum, solidário e partici-pativo para proteger e promover a dig-nidade e o bem de todos, enquantodisposição a interessar-se, a prestar

    atenção, disposição à compaixão, à re-conciliação e à cura, ao respeito mú-tuo e ao acolhimento recíproco, cons-titui uma via privilegiada para a cons-trução da paz. «Em muitas partes domundo, fazem falta percursos de pazque levem a cicatrizar as feridas, hánecessidade de artesãos de paz pron-tos a gerar, com criatividade e ousadia,processos de cura e de um novo en-c o n t ro » . 25

    Neste tempo, em que a barca da hu-manidade, sacudida pela tempestadeda crise, avança com dificuldade àprocura de um horizonte mais calmo esereno, o leme da dignidade da pessoahumana e a «bússola» dos princípiossociais fundamentais podem consen-tir-nos de navegar com um rumo segu-ro e comum. Como cristãos, mante-mos o olhar fixo na Virgem Maria, Es-trela do Mar e Mãe da Esperança. Co-laboremos, todos juntos, a fim deavançar para um novo horizonte deamor e paz, de fraternidade e solida-riedade, de apoio mútuo e acolhimen-to recíproco. Não cedamos à tentaçãode nos desinteressarmos dos outros,especialmente dos mais frágeis, nãonos habituemos a desviar o olhar,26mas empenhemo-nos cada dia concre-tamente por «formar uma comunida-de feita de irmãos que se acolhem mu-tuamente e cuidam uns dos outros».27

    Vaticano, 8 de dezembro de 2020.

    1 Cf. Mensagem em vídeo por ocasiãoda LXXV Sessão da Assembleia Geraldas Nações Unidas (25 de setembro de2020).

    * A expressão «cultura docuidado» aparece na encíclica Laudatosi’: «o amor social impele-nos a pensarem grandes estratégias que detenhameficazmente a degradação ambiental eincentivem uma cultura do cuidadoque permeie toda a sociedade» (n. 231).Veja-se também o número 229.

    2 Cf. Carta enc. Laudato si’ (24 demaio de 2015), 67.

    3 Cf. «Fraternidade, fundamento ecaminho para a paz», Mensagem para a ce-lebração do XLVII Dia Mundial da Paz (1 dejaneiro de 2014), 2.

    4 Carta enc. Laudato si’ (24 de maiode 2015), 70.

    5 PO N T. CONSELHO «JUSTIÇA E PA Z »,Compêndio da Doutrina Social da Igreja, n.488.

    6 De officiis, 1, 28, 132: PL 16, 67.7 K. BIHLMEYER — H. TÜCHLE,

    Church History, vol. 1 (Westminster, TheNewman Press, 1958), 373-374.

    8 Discurso aos participantes noCongresso promovido pelo Dicastériopara o Serviço do DesenvolvimentoHumano Integral, no cinquentenárioda «Populorum progressio» (4 de abril de2017).

    9 Mensagem à XXII Sessão da Confe-rência das Partes da Convenção-Qua-dro das Nações Unidas sobre as Mu-danças Climáticas (COP22) (10 de no-vembro de 2016. Cf. MESA INTERDICAS -TERIAL DA S A N TA SÉ SOBRE A ECOLO GIAINTEGRAL, Em marcha pelo cuidado da casacomum; no V aniversário da «Laudato si’»(L E V, 31 de maio de 2020).

    10 CONC. ECUM. V A T. II, Const. past.sobre a Igreja no mundo contemporâ-neo Gaudium et spes, 26.

    11 Momento Extraordinário de Ora-ção em Tempo de Epidemia (27 de mar-ço de 2020).

    12 Ibidem.

    13 Cf. Carta enc. Fratelli tutti (3 de ou-tubro de 2020), 8; 153.

    14 SÃO JOÃO PAU L O II, Carta enc.Sollicitudo rei socialis (30 de dezembro de1987), 38.

    15 Carta enc. Laudato si’ (24 de maiode 2015), 91.

    16 CONFERÊNCIA D O EPISCOPAD OD OMINICANO, Carta past. Sobre la rela-ción del hombre con la naturaleza (21 de janei-ro de 1987); cf. Carta enc. Laudato si’ (24de maio de 2015), 92.

    17 Cf. Carta enc. Fratelli tutti (3 de ou-tubro de 2020), 125.

    18 Ibid., 29.19 Cf. Mensagem aos participantes

    na Conferência Internacional «Os di-reitos humanos no mundo contempo-râneo: conquistas, omissões, negações»(Roma, 10 de dezembro de 2018).

    20 Cf. Mensagem à Conferência daONU finalizada a negociar um instru-mento juridicamente vinculante sobrea proibição das armas nucleares, que le-ve à sua total eliminação (23 de marçode 2017).

    21 Mensagem em vídeo por ocasiãodo Dia Mundial da Alimentação de2020 (16 de outubro de 2020).

    22 Cf. BENTO XVI, «Educar os jovenspara a justiça e a paz», Mensagem parao X LV Dia Mundial da Paz (1 de janeirode 2012), 2; «Vence a indiferença e con-quista a paz», Mensagem para o XLIXDia Mundial da Paz (1 de janeiro de2016), 6.

    23 Discurso aos Deputados e Senadores doUganda (Kampala 1 de agosto de 1969).

    24 Mensagem para o lançamento doPacto Educativo (12 de setembro de2019).

    25 Carta enc. Fratelli tutti (3 de outu-bro de 2020), 225.

    26 Cf. ibid., 64.27 Ibid., 96; cf. «Fraternidade, funda-

    mento e caminho para a paz», Mensa-gem para a celebração do X LV I I D iaMundial da Paz (1 de janeiro de 2014),1.

  • L’OSSERVATORE ROMANOpágina 6 terça-feira 22 de dezembro de 2020, número 51

    CATEQUESE - SOBRE A ORAÇÃO DE IN TERCESSÃO

    Não se pode rezarsem amar

    «Quem não ama o irmão não rezaseriamente», frisou o Papa na au-diência geral de quarta-feira, 16 dedezembro, realizada na Bibliotecaparticular do Palácio Apostólico,ainda sem a presença de fiéis devidoàs medidas para impedir a difusãoda Covid-19. Prosseguindo as cate-queses sobre a prece, o Pontífice falouacerca da oração de intercessão.

    Amados irmãos e irmãs, bomdia!Quem reza nunca deixa omundo para trás. Se a oraçãonão recolhe as alegrias e triste-zas, as esperanças e angústiasda humanidade, torna-se umaatividade “decorativa”, umaatitude superficial, teatral,uma atitude intimista. Todosprecisamos de interioridade:de nos retirarmos para um es-paço e um tempo dedicadosao nosso relacionamento comDeus. Mas isto não significafugir à realidade. Na oração,Deus “toma-nos, abençoa-nos,e depois reparte-nos e oferece-nos”, pela fome de todos. Ca-da cristão é chamado a tornar-se, nas mãos de Deus, pão re-partido e partilhado. Isto é,uma oração concreta, que nãoseja uma fuga.

    Assim, homens e mulheresde oração procuram a solidãoe o silêncio, não para não serincomodados, mas para ouvirmelhor a voz de Deus. Por ve-zes retiram-se do mundo, naintimidade do seu quarto, co-mo Jesus recomendava (cf. Mt6, 6), mas onde quer que este-jam, mantêm sempre a portado seu coração aberta: umaporta aberta para aqueles querezam sem saber que estão arezar; para aqueles que não re-zam minimamente mas trazemdentro de si um grito abafado,uma invocação oculta; paraaqueles que cometeram um er-ro e perderam o rumo... Qual-quer pessoa pode bater à por-ta de um orante e encontrarnele ou nela um coração com-passivo, que reza sem excluirninguém. A oração é o nossocoração e a nossa voz, e faz-secoração e voz de muitas pes-soas que não sabem rezar ounão rezam, ou não querem re-zar ou estão impossibilitadasde o fazer: somos o coração ea voz destas pessoas, que seelevam a Jesus, ao Pai, somosintercessores. Na solidãoquem ora — quer na solidão demuito tempo, quer na solidãode meia hora — separa-se detudo e de todos para encon-trar tudo e todos em Deus.Assim o orante reza pelo mun-do inteiro, carregando sobreos ombros as suas dores e osseus pecados. Reza por todose por cada pessoa: é como seele fosse a “antena” de Deusneste mundo. Em cada pobreque bate à porta, em cada pes-soa que perdeu o sentido dascoisas, quem reza vê o rostode Cristo.

    O Catecismo escreve: «Inter-

    ceder, pedir a favor de outrem,é próprio [...] de um coraçãoconforme com a misericórdiade Deus» (n. 2635). Isto é be-líssimo. Quando rezamos es-tamos em sintonia com a mi-sericórdia de Deus: misericór-dia em relação aos nossos pe-cados — que é misericordiosoconnosco — mas também mi-sericórdia para com quantospediram para rezar por eles,pelos quais queremos rezar emsintonia com o coração deDeus. Esta é a verdadeira ora-ção. Em sintonia com a mise-ricórdia de Deus, aquele cora-ção misericordioso. «No tem-po da Igreja, a intercessãocristã participa na de Cristo: éa expressão da comunhão dossantos» (ibid.). O que significaparticipar na intercessão deCristo, quando intercedo poralguém ou rezo por alguém?Porque Cristo diante do Pai éintercessor, reza por nós e oramostrando ao Pai as chagasdas suas mãos; porque Jesusfisicamente, com o seu corpoestá perante o Pai. Jesus é onosso intercessor, e rezar é fa-zer um pouco como Jesus: in-terceder em Jesus junto doPai, pelos outros. E isto é mui-to bom.

    A oração preocupa-se pelohomem. Simplesmente pelohomem. Quem não ama o ir-mão não reza seriamente. Po-de-se dizer: em espírito deódio não se pode rezar; em es-pírito de indiferença não sepode rezar. A oração só se dáem espírito de amor. Quemnão ama finge que reza, oupensa que reza, mas não reza,pois falta precisamente o espí-rito que é o amor. Na Igreja,quem conhece a tristeza ou aalegria do outro vai mais afundo do que aquele que in-vestiga os “sistemas máxi-mos”. É por isso que existeuma experiência do humanoem cada oração, porque aspessoas, por muitos erros quepossam cometer, nunca devemser rejeitadas nem descarta-das.

    Quando um crente, movidopelo Espírito Santo, reza pe-los pecadores, não faz sele-ções, não emite juízos de con-denação: reza por todos. E re-za também por si. Nesse mo-mento, ele sabe que nem se-quer é muito diferente daspessoas por quem reza: sente-se pecador, entre os pecado-res, e reza por todos. A liçãoda parábola do fariseu e do

    publicano é sempre viva eatual (cf. Lc 18, 9-14): não so-mos melhores do que qual-quer outra pessoa, somos to-dos irmãos numa afinidade defragilidade, de sofrimento e depecado. Portanto, eis umaoração que podemos dirigir aDeus: Senhor, nenhum viven-te é justo na vossa presença(cf. Sl 143, 2) — assim diz o sal-mo: Senhor, nenhum vivente éjusto na vossa presença, ne-nhum de nós: somos todos pe-cadores — somos todos deve-dores que têm contas a ajus-tar; não há ninguém que sejaimpecável aos teus olhos. Se-nhor tem piedade de nós. Ecom este espírito a oração é fe-cunda, pois vamos com hu-mildade diante de Deus rezarpor todos. Ao contrário, o fa-riseu rezava de maneira sober-ba: “Dou-te graças, Senhor,porque não sou como os peca-dores; sou justo, faço sem-p re …”. Esta não é oração: éolhar-se no espelho, para aprópria realidade, olhar-se noespelho maquilhado pela so-b erba.

    O mundo avança graças a

    esta cadeia de orantes que in-tercedem, e que na sua maio-ria são desconhecidos... masnão a Deus! Há muitos cris-tãos desconhecidos que, emtempos de perseguição, pude-ram repetir as palavras de nos-so Senhor: «Pai, perdoa-lhes,pois não sabem o que fazem»(Lc 23, 34).

    O bom pastor permanecefiel até perante a constataçãodo pecado do próprio povo: obom pastor continua a ser paimesmo quando os filhos seafastam e o abandonam. Per-severa no serviço de pastor atéperante aqueles que o levam asujar as mãos; não fecha o co-ração a quem talvez o tenhafeito sofrer.

    A Igreja, em todos os seusmembros, tem a missão depraticar a oração de interces-são, intercede pelos outros.Em particular, é dever de to-dos aqueles que desempe-nham um papel de responsa-bilidade: pais, educadores, mi-nistros ordenados, superioresde comunidades... Tal comoAbraão e Moisés, devem porvezes “defender” p erante

    Deus as pessoas que lhes fo-ram confiadas. Na realidade,trata-se de olhar para elas comos olhos e o coração de Deus,com a sua mesma invencívelcompaixão e ternura. Rezarcom ternura pelos outros.

    Irmãos e irmãs, somos to-dos folhas da mesma árvore:cada desprendimento lembra-nos a grande piedade que de-vemos nutrir, na oração, unspelos outros. Rezemos uns pe-los outros: far-nos-á bem e fa-rá bem a todos. Obrigado!

    No final da catequese, saudando osfiéis que o seguiam através dos meiosde comunicação, o Pontífice disse aosde língua portuguesa.

    Dirijo uma cordial saudaçãoaos fiéis de língua portuguesa.Queridos irmãos, a oração du-rante o tempo do Advento nosajuda a lembrar que não so-mos mais justos e melhores doque os outros, mas somos to-dos pecadores necessitados deser tocados pela misericórdiade Deus. Sobre cada um devós desça a benção do Se-nhor!

    Vaticano com “emissões zero” até 2050Anunciou o Pontífice numa mensagem de vídeo ao Climate ambition summit 2020

    «O Estado da Cidade do Vaticano compromete-se a reduzir asemissões líquidas a zero antes de 2050» e «a Santa Sé a pro-mover a educação para a ecologia integral», anunciou o PapaFrancisco através da mensagem em vídeo com a qual interveioa 12 de dezembro no High Level Virtual Climate AmbitionSummit 2020, organizado pela Grã-Bretanha e França, emparceria com o Chile e a Itália.

    A atual pandemia e as alterações climáticas, quetêm relevância não só ambiental mas também ética,social, económica e política, atingem, acima de tu-do, a vida dos mais pobres e frágeis. Desta forma,apelam à nossa responsabilidade de promover, atra-vés de um compromisso coletivo de solidariedade,uma cultura do cuidado que ponha no centro a digni-dade humana e o bem comum.

    Além da adoção de certas medidas que não po-dem ser adiadas por mais tempo, é necessária umaestratégia para reduzir a zero as emissões líquidas(net-zero emission).

    A Santa Sé une-se a este objetivo, avançando emdois níveis:

    1. Por um lado, o Estado da Cidade do Vaticanocompromete-se a reduzir a zero as emissões líquidasantes de 2050, intensificando os esforços de gestãoambiental, já em curso há alguns anos, que tornem

    possível a utilização racional de recursos naturais,tais como água e energia, eficiência energética, mo-bilidade sustentável, reflorestação e economia cir-cular também na gestão de resíduos.

    2. Além disso, a Santa Sé compromete-se a pro-mover a educação para a ecologia integral. As me-didas políticas e técnicas devem ser associadas a umprocesso educativo que favoreça um modelo cultu-ral de desenvolvimento e sustentabilidade centradona fraternidade e na aliança entre os seres humanose o meio ambiente. Nesta perspetiva, inaugurei oPacto educativo global, para acompanhar escolas e uni-versidades católicas, frequentadas por mais de se-tenta milhões de estudantes em todos os continen-tes; e apoiei a Economia de Francisco, através da qualjovens economistas, empresários, especialistas emfinanças e no mundo do trabalho, promovem novoscaminhos que superem a pobreza energética, queponham o cuidado dos bens comuns no centro daspolíticas nacionais e internacionais, e que favore-çam a produção sustentável também em países debaixo rendimento, partilhando tecnologias avança-das apropriadas.

    Chegou o momento de uma mudança de rumo.Não roubemos às novas gerações a esperança numfuturo melhor. Obrigado!

    LEITURA: EF 6, 18-20

    Orai unicamente, em união com o Espírito, multiplican-do invocações e súplicas. Perseverai nas vossas vigílias,com preces por todos os santos, e também por mim, pa-ra que me seja dado anunciar corajosamente o Mistériodo Evangelho, do qual, mesmo com as algemas, sou em-baixador, e para que tenha a audácia de falar dele comoconvém.

  • L’OSSERVATORE ROMANOnúmero 51, terça-feira 22 de dezembro de 2020 página 7

    L’OSSERVATORE ROMANOEDIÇÃO SEMANAL EM PORTUGUÊS

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    Francisco recebeu em audiência os artistas do concerto de Natal

    A luz da belezana escuridão da pandemia

    Audiências

    O Papa Francisco recebeu em audiências parti-c u l a re s :

    No dia 10 de dezembroO Senhor Cardeal Francesco Monte-

    negro, Arcebispo de Agrigento (Itália),com D. Alessandro Damiano, Arcebis-po Coadjutor, e D. Vincenzo Bertolone,Arcebispo de Catanzaro-Squillace (Itá-lia); e D. Stefano Russo, Bispo Eméritode Fabriano-Matelica (Itália), Secretá-rio-Geral da Conferência Episcopal Ita-liana.

    No dia 11 de dezembroO Senhor Cardeal Marc Ouellet,

    Prefeito da Congregação para os Bis-p os.

    No dia 14 de dezembroSua Excelência a Senhora Zyzana

    Čaputová, Presidente da República Es-lovaca, com o Séquito.

    Renúncias

    O Sumo Pontífice aceitou a renúncia:

    A 11 de dezembroDe D. Gustavo García Naranjo, ao

    governo pastoral da Diocese de Guare-nas (Venezuela).

    Do Senhor Cardeal Crescenzio Sepeao governo pastoral da ArquidioceseMetropolitana de Nápoles (Itália).

    A 14 de dezembroDe D. Henri Coudray, S.J., ao gover-

    no pastoral do Vicariato Apostólico deMongo (Chade).

    Nomeações

    O Santo Padre nomeou:

    No dia 10 de dezembroNúncio Apostólico na Albânia, D.

    Luigi Bonazzi, Arcebispo Titular deAtella, até agora Núncio Apostólico noCanadá.

    Bispo da Diocese de Saint-Claude,na França, o Rev.do Pe. Jean-Luc Garin,do clero da Arquidiocese Metropolita-na de Lille, até hoje Pároco da Paróquiada Santíssima Trindade, em Lamber-sart.

    D. Jean-Luc Garin nasceu a 27 de outubrode 1969, em La Bassée, Arquidiocese Metropoli-tana de Lille (França), e foi ordenado Presbíteroem 29 de junho de 1997.

    No dia 11 de dezembroArcebispo Metropolitano de Nápo-

    les (Itália), D. Domenico Battaglia, atéà presente data Bispo da Diocese deCerreto Sannita-Telese-Sant’Agata de’Goti.

    Auxiliar da Diocese de Tarnów (Po-

    lónia), o Rev.do Cónego Artur Ważn y,do clero da mesma Diocese, até agoraDiretor do Departamento para a For-mação Permanente do Clero, simulta-neamente eleito Bispo Titular de Maza-ca.

    D. Artur Ważny nasceu em Rzeszów (Poló-nia), no dia 12 de outubro de 1966, e recebeu aOrdenação sacerdotal a 25 de maio de 1991.

    No dia 12 de dezembroBispo da Diocese de Guarenas (Ve-

    nezuela), D. Tulio Luis Ramírez Padil-la, até esta data Auxiliar da Arquidioce-se Metropolitana de Caracas.

    No dia 14 de dezembroVigário Apostólico de Mongo (Cha-

    de), o Rev.do Pe. Philippe Abbo Chen,membro do Instituto Secular “N o t re -Dame de Vie”, até agora Vigário Dele-gado de Mongo.

    D. Philippe Abbo Chen, nasceu a 10 de maiode 1962 em Dadouar, Mongo (Chade), e foi or-denado Sacerdote no dia 17 de maio de 1997.

    No dia 15 de dezembroMembros de Dicastérios da Cúria

    Romana, os Senhores Cardeais: daCongregação para as Igrejas Orientais edo Dicastério para a Comunicação,Marcello Semeraro, Prefeito da Con-gregação para as Causas dos Santos; daCongregação para os Bispos, AugustoPaolo Lojudice, Arcebispo de Sena-Colle di Val d’Elsa-Montalcino; daCongregação para a Evangelização dosPovos, Antoine Kambanda, Arcebispode Kigali; da Congregação para o Cle-ro, Jose F. Advincula, Arcebispo de Ca-piz; da Congregação para o Clero, Cor-nelius Sim, do Título de São Judas Ta-deu Apóstolo e Vigário Apostólico doBrunei; da Congregação para os Insti-tutos de Vida Consagrada e as Socieda-des de Vida Apostólica, Mauro Gam-betti, Diácono do Santíssimo Nome deMaria no Fórum Trajano; do Dicastériopara os Leigos, a Família e a Vida, Wil-ton Daniel Gregory, Arcebispo deWashington; do Pontifício Conselhopara a Promoção da Unidade dos Cris-tãos, Mario Grech, Secretário-Geral doSínodo dos Bispos; e da Pontifícia Co-missão para a América Latina, CelestinoAós Braco, Arcebispo de Santiago doChile.

    Auxiliar da Arquidiocese Metropoli-tana de São Paulo (Brasil), o Rev.do Pe .Carlos Silva, O.F.M. Cap., até agoraConselheiro-Geral da Ordem dos Fra-des Menores Capuchinhos em Roma,simultaneamente eleito Bispo Titularde Summula.

    D. Carlos Silva, O.F.M. Cap., nasceu a 5 dedezembro de 1962 em Andradina, Diocese deAraçatuba, no Estado de São Paulo. Estudou fi-

    losofia no Seminário Seráfico São Fidélis em Pi-ra c i c a b a - SP e teologia na Pontíficia Universida-de Católica de Campinas-S P. Frequentou o Cen-tro de estudios franciscanos y pastorales paraAmérica Latina (C E F E PA L ) em Petrópolis-RJ. A10 de janeiro de 1988, emitiu a profissão religio-sa na Ordem dos Frades Menores Capuchinhos eem 1 de agosto de 1992 foi ordenado sacerdote.Na Província capuchinha de São Paulo foi coor-denador da pastoral vocacional e missionária(1996-2004). Em 2004 foi enviado como mis-sionário para o México, onde ocupou os seguintescargos: promotor vocacional (2004-2011), vigá-rio paroquial de Nuestra Señora de Guadalupeem Yécora, Sonora (2004-2007); mestre de no-viços (2007-2008); mestre de pós-noviciado(2008-2013); guardião do convento de San Píode Pietrelcina (2009-2013) e pároco da Santísi-ma Trinidad em Ciudad Benito Juárez, NuevoLeón (2013). Em 2013 regressou ao Brasil e foieleito ministro provincial da Província capuchi-nha da Imaculada Conceição, com sede em SãoPaulo. Desde 2018 era conselheiro-geral da Or-dem dos Frades Capuchinhos Menores em Ro-ma.

    Prelados falecidos

    Adormeceram no Senhor:

    A 4 de dezembroD. James Odongo, Arcebispo Eméri-

    to de Tororo, em Uganda.O ilustre Prelado nasceu na Arquidiocese de

    Tororo (Uganda), a 27 de março de 1931. Foiordenado Sacerdote em 22 de dezembro de 1956 erecebeu a Ordenação episcopal no dia 16 de feve-reiro de 1965.

    A 12 de dezembroD. Victor Gnanapragasam, Vigário

    Apostólico de Quetta (Paquistão).O saudoso Prelado nasceu a 21 de novembro

    de 1940, em Jaffna (Sri Lanka). Recebeu a Or-denação presbiteral em 21 de dezembro de 1966 efoi ordenado Bispo a 29 de abril de 2010.

    Início de Missãode Núncio Apostólico

    De D. Francisco Montecillo Padilla,na Guatemala (19 de outubro).

    INFORMAÇÕES

    Tribunal da Rota Romana

    Notificação

    «Na perplexidade causada pela pandemia», acriatividade e a beleza podem gerar uma luz ca-paz de penetrar «a escuridão da dor», afirmouo Papa a 12 de dezembro, no discurso que diri-giu aos artistas do concerto de Natal no Vatica-no, dedicado este ano ao apoio solidário das ini-ciativas das Missões Dom Bosco e Scholas Oc-currentes, inspiradas no Global Compact onEducation.

    Estimados artistas e caros amigos,bom dia!Uma saudação cordial a todos e um“obrigado” por estardes aqui. Este ano,as luzes do Natal um pouco encobertassão motivo de oração e recordação dasnumerosas pessoas que sofreram e con-tinuam a sofrer devido à pandemia.Nesta situação, sentimos ainda maisfortemente a interdependência que nosune a todos. Este encontro dá-me aoportunidade de partilhar convosco al-gumas reflexões sobre a arte e o seu pa-pel num momento histórico tão difícil.

    Na criação artística podemos reco-nhecer três movimentos. O primeiro mo-vimento é o dos sentidos, que são apreen-didos com maravilha e admiração. Estadinâmica inicial, exterior, estimula ou-tras mais profundas.

    O segundo movimento, com efeito, toca

    a interioridade da pessoa. Uma com-posição de cores, palavras ou sons temo poder de comover a alma humana.Desperta memórias, imagens, senti-mentos...

    Mas o movimento generativo da artenão acaba aqui. Há um terceiro aspeto: aperceção e contemplação da beleza ge-ra um sentimento de esperança, quetambém se irradia no mundo circun-dante. Neste ponto, os movimentos ex-terior e interior fundem-se e, por suavez, incidem nas relações sociais: ge-ram a empatia capaz de compreender ooutro, com o qual temos tanto em co-mum. É uma nova sociabilidade, nãosó vagamente expressa mas percebida epartilhada.

    Este triplo movimento de maravilha,de descoberta pessoal e de partilha pro-duz um sentido de paz, que — comotestemunha São Francisco de Assis —nos liberta de qualquer desejo de domi-nar os outros, faz-nos compreender asdificuldades dos últimos e impele-nosa viver em harmonia com todos.1 Umaharmonia que está ligada à beleza e àb ondade.

    Este vínculo é muito rico de referên-cias na tradição judaica e cristã. O livrodo Génesis — narrando a obra criadora

    de Deus — enfatiza que perante as cria-turas «Deus viu que era bom» (Gn 1,12.18.25). Em hebraico o adjetivo“b om” tem um significado muito maisamplo e também pode ser traduzidocomo “harmonioso”.2 A criação surpre-ende-nos com o seu esplendor e varie-dade e, ao mesmo tempo, faz-nos com-preender o nosso papel no mundo facea tamanha grandeza.

    Os artistas estão conscientes disto e— como São João Paulo II escreveu —«quem tiver notado em si mesmo estaespécie de centelha divina que é a voca-ção artística» sente ao mesmo tempo«a obrigação de não desperdiçar estetalento, mas de o desenvolver para ocolocar ao serviço do próximo e de to-da a humanidade».3

    Na sua famosa mensagem de 8 dedezembro de 1965, na conclusão doConcílio Vaticano II, São Paulo VI diri -giu-se aos artistas, chamando-os «pri-sioneiros da beleza».4 E disse que «omundo em que vivemos tem necessida-de de beleza para não cair no desespe-ro » . 5 Também no desnorteamento cau-sado pela pandemia, a vossa criativida-de pode gerar luz. A crise torna mais es-pessas «as sombras de um mundo fe-chado» (cf. Enc. Fratelli tutti, 9-55) e pa-

    rece obscurecer a luz do divino, do eter-no. Não cedamos a este engano. Procu-remos a luz da Natividade: ela penetrana escuridão da dor e das trevas.

    Dirijo-me a vós, caros artistas, quesois de forma especial «guardiães dabeleza do mundo».6 Agradeço-vos avossa solidariedade, que nestes temposé ainda mais evidente. A vossa é umavocação elevada e exigente, que requer«mãos puras e desinteressadas»7 paratransmitir verdade e beleza. Ambas in-fundem alegria nos nossos corações esão um «fruto precioso que resiste aopassar do tempo, que une as gerações eas faz comungar na admiração».8 Hojecomo então, esta Beleza aparece-nos nahumildade do Presépio. Hoje, comoentão, celebramo-la com um espíritocheio de esperança.

    Manifesto a minha gratidão às Mis -sões Dom Bosco e às Scholas Occurrentes p elo

    empenho e espírito de serviço com querespondem à emergência educativa esanitária, através dos seus projetos ins-pirados no Global Compact on Education.

    Mais uma vez obrigado. Obrigado.Os melhores votos e bom concerto!Muito obrigado!

    1 Cf. Enc. Fratelli tutti (3 de outubrode 2020), 4.

    2 Cf. Discurso aos participantes no encon-tro mundial “I Can”, 30 de novembro de2019.

    3 Carta aos artistas (4 de abril de 1999),3.

    4 Mensagem aos artistas (8 de dezembrode 1965), 1.

    5 Ibid., 4.6 São Paulo VI, Mensagem aos artistas

    (8 de dezembro de 1965), 5.7 Ibid.8 Ibid.

    Sancti Pauli in Brasilianullitatis matrimonii

    (Matsunaga — Krzeminska)

    Prot. N. 24065

    Notificatio

    ln causa de qua supra, R. P. D. Po-nens sequens edidit

    Decretum concordationis dubiidie 21/04/2020

    Infrascriptus Ponens, pensitatovoto Rev.mi Defensoris Vinculi H.A.T.diei 4 martii currentis mensis, in causade qua supra, subsequentia statuit:

    Visa formula dubii in prima instan-tia statuta: “an constet de matrimoniinullitate, in casu: ob defectum discre-

    tionis iudicii in muliere conventa; et/velob exclusum matrimonium ipsum exparte eiusdem mulieris conventae”;

    Viso Rescripto ex audientia Sum-mi Pontificis Francisci diei 7 decem-bris 2015; in causa de qua supra, du-bium, definitiva sententia solvendumin hoc iudicii gradu, poni iuxta hancformulam:

    “An constet de matrimonii nullita-te, in casu”.

    Partibus in causa earumque Patro-nis constitutis vel constituendis iusest recurrendi, intra decendium a dienotificationis huius decreti (can. 1513§ 3), ad formulam dubii mutandamatque, intra mensem, proponendiexhibendique novas probationes(cann. 1639, § 3- 1640; 1600).

    Vitus Angelus TODISCOPonens

  • L’OSSERVATORE ROMANOpágina 8 terça-feira 22 de dezembro de 2020, número 51

    Angelus - O Papa denunciou que o consumismo sequestrou o Natal

    Um presente para quemtem mais necessidade

    Apelo a favor dos marítimos distantes de casa

    va, mas ativa. Ela não se sub-mete a Deus, mas adere aDeus. Ela é uma apaixonadadisposta a servir o seu Senhorem tudo e imediatamente. Po-deria ter pedido algum tempopara pensar sobre isso, ou pa-ra mais explicações acerca doque iria acontecer; ter estabe-lecido algumas condições...Ao contrário, não pediu tem-po, não fez Deus esperar, nãoadiou.

    Quantas vezes — p ensemosagora em nós — quantas vezesa nossa vida é feita de adia-mentos, até a nossa vida espi-ritual! Por exemplo: sei que ébom para mim rezar, mas hojenão tenho tempo... “amanhã,amanhã, amanhã, amanhã...”adiamos as coisas: faço-oamanhã; sei que ajudar al-guém é importante — sim, te-nho que fazer isto: faço-oamanhã. É a mesma série deamanhãs... Adiar as coisas.Hoje, em vésperas do Natal,Maria convida-nos a nãoadiar, a dizer “sim”: “Devo re-zar?”. “Sim, e rezo”. “D evoajudar os outros? Sim”. Comoo faço? Faço-o. Sem adiar.Cada “sim” custa. Cada “sim”custa, mas sempre menos doque quanto custou a ela aque-le “sim” corajoso, aquele“sim” imediato, aquele «Fa ç a -se em mim segundo a tua palavra»que nos trouxe a salvação.

    E nós, que “sim” p o demosdizer? Neste momento difícil,em vez de nos queixarmos doque a pandemia nos impedede fazer, façamos algo poraqueles que têm menos: nãomais um presente para nós epara os nossos amigos, maspara uma pessoa carente naqual ninguém pensa! E outroconselho: para que Jesus nas-ça em nós, preparemos o cora-ção: rezemos. Não nos deixe-mos “levar” pelo consumismo:“Devo comprar presentes, te-nho que fazer isto e aquilo...”.Este frenesim de fazer tantas

    coisas... o importante é Jesus!O consumismo, irmãos e ir-mãs, sequestrou-nos o Natal.O consumismo não está namanjedoura de Belém: nelahá realidade, pobreza, amor.Preparemos o coração comofez Maria: livre do mal, aco-lhedor, pronto a hospedarD eus.

    «Faça-se em mim segundo a tuap a l a v ra ». É a última frase daVirgem neste último domingode Advento, e é o convite adar um passo concreto em di-reção ao Natal. Porque se onascimento de Jesus não tocara nossa vida — a minha, a tua,todas — se não tocar a vida,passará em vão. No An g e l u sagora também nós diremos“cumpra-se em mim a tua palavra”:que Nossa Senhora nos ajudea dizê-lo com a vida, com aatitude destes últimos dias, afim de nos prepararmos bempara o Natal.

    No final da recitação da prece ma-riana, o Papa fez um apelo a favor

    de todos os trabalhadores marítimosque sofrem as consequências da crisecausada pela pandemia. Em segui-da, exortou os fiéis a visitar os pre-sépios que este ano foram realizadossob a colunata de São Pedro, reno-vando o convite à solidariedade comos irmãos necessitados.

    Estimados irmãos e irmãs, apandemia de coronavírus cau-sou particular angústia aostrabalhadores marítimos.Muitos deles — cerca de400.000 em todo o mundo —estão bloqueados em naviosalém dos termos dos seus con-tratos e não podem regressara casa. Peço à Virgem Maria,Stella Maris, que conforte estaspessoas e quantos se encon-tram em situações difíceis, eexorto os governos a fazeremtudo o que estiver ao seu al-cance para lhes permitir re-

    gressar entre os seus entesqueridos.

    Este ano, os organizadorestiveram a feliz ideia de fazer aexposição “100 Presépios” soba Colunata. São muitos presé-pios que realizam precisamen-te uma catequese de fé para opovo de Deus. Convido-vos avisitar os presépios sob a Co-lunata, para compreenderque, com a arte, as pessoasprocuram mostrar como nas-ceu Jesus. Os presépios queestão sob a Colunata são umagrande catequese da nossa fé.

    Saúdo todos vós, romanose peregrinos de vários países,famílias, grupos paroquiais,associações e fiéis. Que o Na-tal, agora próximo, seja paratodos uma ocasião de renova-ção interior, de oração, deconversão, de passos em fren-te na fé e de fraternidade en-

    tre nós. Olhemos à nossa vol-ta, olhemos especialmente pa-ra aqueles que estão em neces-sidade: o irmão que sofre, on-de quer que esteja, pertence-nos. É Jesus na manjedoura:quem sofre é Jesus. Pensemosum pouco nisto. Que o Natalseja uma proximidade de Je-sus neste irmão e nesta irmã.Está ali, no irmão necessitado,o presépio ao qual devemos ircom solidariedade. Este é opresépio vivo: o presépio noqual encontraremos verdadei-ramente o Redentor nas pes-soas necessitadas. Caminhe-mos, pois, em direção à NoiteSanta e aguardemos o cum-primento do mistério da Sal-vação.

    Desejo bom domingo a to-dos. Por favor, não vos esque-çais de rezar por mim.

    Bom almoço e até à vista!

    Audiência aos doadores do presépio e da árvore

    Sinais de esperança no Natal da pandemia«Também neste Natal, no meio do sofrimento dapandemia, Jesus, pequenino e indefeso, é o “Si-nal” que Deus dá ao mundo», frisou o Papa —convidando a reler a carta «Admirabile signum»assinada há um ano em Greccio — por ocasião daaudiência aos doadores do presépio e da árvorepara a praça de São Pedro. Francisco recebeu-osna Sala Clementina a 11 de dezembro, algumashoras antes da cerimónia de inauguração que tevelugar na tarde do mesmo dia.

    Estimados irmãos e irmãs!Viestes para a entrega oficial da árvorede Natal e do presépio colocados na Pra-ça de São Pedro; dou-vos cordiais boas-vindas e agradeço a vossa presença. Saú-do a delegação da República da Eslové-nia, chefiada pelo Ministro dos Negó-cios Estrangeiros, acompanhada peloCardeal Rodé e pelo Arcebispo de Mari-

    bor, e composta por outros Ministros,Embaixadores e ilustres personalidades.A Eslovénia ofereceu a majestosa árvore,escolhida nos bosques de Kočevje. Esaúdo a delegação da Diocese de Tera-mo-Atri, com o Bispo Lorenzo Leuzzi enumerosas autoridades civis: o monu-mental presépio de cerâmica vem da vos-sa terra, precisamente de Castelli. Estatarde haverá a inauguração destes “íco-nes” do Natal. Mais do que nunca, sãoum sinal de esperança para os romanos epara os peregrinos que tiverem a oportu-nidade de os vir admirar.

    A árvore e o presépio ajudam a criaruma atmosfera de Natal favorável paraviver com fé o mistério do Nascimentodo Redentor. No presépio, tudo fala dapobreza “b oa”, a pobreza evangélica,que nos torna bem-aventurados: con-

    templando a Sagrada Família e os váriospersonagens, somos atraídos pela suahumildade desarmante. Nossa Senhora eSão José vão de Nazaré até Belém. Nãohá lugar para eles, nem sequer um pe-queno quarto (cf. Lc 2, 7); Maria ouve,observa e guarda tudo no seu coração(cf. Lc 2, 19.51). José procura um lugarpara ela e para o Menino que está pres-tes a nascer. Os pastores são protagonis-tas no presépio, como no Evangelho. Vi-vem ao ar livre. Vigiam. O anúncio dosAnjos é para eles, e vão imediatamente àprocura do Salvador que nasceu (cf. Lc2, 8-16).

    A festa do Natal recorda-nos que Je-sus é a nossa paz, a nossa alegria, a nossaforça, o nosso conforto. Mas, para aco-lher estes dons de graça, precisamos denos sentir pequenos, pobres e humildes,como os personagens do presépio. Tam-bém neste Natal, no meio do sofrimentoda pandemia, Jesus, pequenino e indefe-so, é o “Sinal” que Deus oferece ao mun-do (cf. Lc 2, 12). Admirável sinal, comocomeça a Carta sobre o presépio que as-sinei há um ano em Greccio. Far-nos-ábem relê-la nestes dias.

    Caros amigos, obrigado a todos dofundo do coração! Também àqueles quenão puderam estar presentes hoje, bemcomo a quantos ajudaram a transportar ea montar a árvore e o presépio. Que oSenhor vos recompense pela vossa dis-ponibilidade e generosidade. Expresso-vos os meus votos de uma celebração deNatal cheia de esperança, e peço-vos queos transmitais às vossas famílias e a to-dos os vossos concidadãos. Asseguro-vosas minhas orações e abençoo-vos. E vóstambém, por favor, não vos esqueçais derezar por mim. Feliz Natal! Obrigado.

    Amados irmãos e irmãs,bom dia!Neste quarto e último domin-go de Advento, o Evangelhopropõe-nos, mais uma vez, anarração da Anunciação.«“Salve, ó cheia de graça, oSenhor está contigo”», diz oanjo a Maria, «Hás de conce-ber no teu seio e dar à luz umfilho, ao qual porás o nomede Jesus» (Lc 1, 28.31). Pareceser um anúncio de mera ale-gria, destinado a fazer feliz aVirgem: quem, entre as mu-lheres da época, não desejavaser a mãe do Messias? Mas,juntamente com a alegria, es-tas palavras prenunciam aMaria uma grande provação.Porquê? Porque naquele mo-mento ela era “noiva” (v. 27).Em tal situação, a Lei de Moi-sés estabelecia que não deve-ria haver qualquer relaçãonem coabitação. Portanto,tendo um filho, Maria teriatransgredido a Lei, e as penaspara as mulheres eram terrí-veis: era previsto o apedreja-mento (cf. Dt 22, 20-21). Cer-tamente a mensagem divinaencheu o coração de Maria deluz e força; no entanto, teveque se confrontar com umaescolha crucial: dizer “sim” aDeus, arriscando tudo, inclu-sive a própria vida, ou recusaro convite e seguir o seu cami-nho normal.

    O que fez ela? Respondeuassim: «“Faça-se em mim se-gundo a tua palavra”» (Lc 1,38). Fa ç a - s e (fiat). Mas na lín-gua em que o Evangelho estáescrito não é simplesmenteum “faça-se”. A expressão ver-bal indica um forte desejo, in-dica a vontade de que algo secumpra. Por outras palavras,Maria não diz: “Se tiver queser, assim seja... se não houveroutra solução...”. Não se tratade resignação. Ela não expri-me uma aceitação fraca e sub-missa, mas um desejo forte,um desejo vivo. Não é passi-

    O convite a «fazer algo por quem tem menos» — não«mais um presente para nós e para os nossos amigos»mas «para um necessitado no qual ninguém pensa» —foi dirigido pelo Papa, a 20 de dezembro, aos fiéis reu-nidos na praça de São Pedro para a recitação do Ange-

    lus e a quantos participaram na prece mariana atravésdos meios de comunicação. Comentando o trecho doEvangelho de Lucas (1, 26-38) no centro da liturgia doquarto domingo de Advento, o Pontífice proferiu as se-guintes palavras.

    Portoghese 1 (01 - Prima) - 22/12/2020 051_PORTPortoghese 2-3 (Doppia) - 22/12/2020 051_PORT (Left)]Þ�HŽÜ�œÕŒÿŠä ‡¿LI��l…II�‹®££b ‡¿LI��l…II�«˘OI�x"±LI�Àð81I�¾˘�Šû�À�I�x"±LI��þÿÿÿÿÿÿÿ5ýulÀð81I�]èul`ŒˆOI�•ŒˆOI�`ŒˆOI�þÿÿÿÿÿÿÿþÿÿÿÿÿÿÿPortoghese 2-3 (Doppia) - 22/12/2020 051_PORT (Right)»Ä~ôê.LÄzrl°ý"4I�`¡˘OI�h®££bl®££bÀÊ�»£ …lÀÊ� ŠÝ2I�»�ÿÿÿÿÿÿÿþÿÿÿÿÿÿÿÀË�•À•l`�˚3I�`˳l8ò�PI�»ÀË�L˙�Šû�Portoghese 4-5 (Doppia centrale) - 22/12/2020 051_PORT (Left)œÕŒÿŠäð¼òOI��£LI�‹®££bð¼òOI��£LI�09.PI�¨°êKI�à4çKI�¾˘�Šû�À�I�¨°êKI��þÿÿÿÿÿÿÿ5ýulà4çKI�]èulàï«LI�ð«LI�àï«LI�þÿÿÿÿÿÿÿþÿÿÿÿÿÿÿPortoghese 4-5 (Doppia centrale) - 22/12/2020 051_PORT (Right)Ä~ôê.LÄzrlдF1I�€˛MI�h®££bl®££bÀ¨�»£ …lÀ¨�’~uLI�»�ÿÿÿÿÿÿÿþÿÿÿÿÿÿÿÀ©�•À•l ¡˛3I�`˳l�ž•II�»À©�L˙�Šû�Portoghese 6 (Sinistra) - 22/12/2020 051_PORTPortoghese 7 (Gerenza_DX) - 22/12/2020 051_PORTPortoghese 8 (Ultima_colore) - 22/12/2020 051_PORT