Unicuique suum Non praevalebunt · caminho de vida e de santidade, que nos permite superar as...

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Preço € 1,00. Número atrasado € 2,00 L’O S S E RVATORE ROMANO EDIÇÃO SEMANAL Unicuique suum EM PORTUGUÊS Non praevalebunt Ano XLIX, número 37 (2.532) Cidade do Vaticano quinta-feira 13 de setembro de 2018 y(7HB5G3*QLTKKS( +:!"!}!%!_! O Papa convoca os presidentes das Conferências episcopais Para a proteção dos menores Pág. 2: Discurso a viúvas consagradas; pág. 3: Catequese de quarta-feira 12 de setembro; O Pontífice espera visitar o Japão em 2019; pág. 4: À União internacional das beneditinas; pág. 5: Aos representantes da Associação italiana de pais; pág. 6: Mensagem da Cnbb em vista das eleições presidenciais e Iniciativa do Conselho nacional de Igrejas cristãs no Brasil; pág. 7: O Papa convoca os presidentes de todas as Conferências episcopais; «A coragem de ver», concluída a assembleia plenária da Pontifícia comissão para a tutela dos menores; págs. 8 e 9: Aos bispos que participaram num encontro promovido pela Con- gregação para a evangelização dos povos; págs. 10 e 11: Missas em Santa Marta; pág. 12: Beatificação de Afonsa Maria Ep- pinger; pág. 13: A função dos meios de comunicação católicos na África, por Paolo Ruffini; pág. 14: Conclusão do congresso de espiritualidade ortodoxa sobre «Discernimento e vida cristã», por Adalberto Mainardi;; pág. 16: Angelus dominical. NESTE NÚMERO

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Preço € 1,00. Número atrasado € 2,00

L’O S S E RVATOR E ROMANOEDIÇÃO SEMANAL

Unicuique suum

EM PORTUGUÊSNon praevalebunt

Ano XLIX, número 37 (2.532) Cidade do Vaticano quinta-feira 13 de setembro de 2018

y(7HB5G3*QLTKKS( +:!"!}!%!_!

O Papa convoca os presidentes das Conferências episcopais

Para a proteção dos menores

Pág. 2: Discurso a viúvas consagradas; pág. 3: Catequese de quarta-feira 12 de setembro; O Pontífice espera visitar o Japãoem 2019; pág. 4: À União internacional das beneditinas; pág. 5: Aos representantes da Associação italiana de pais; pág. 6:Mensagem da Cnbb em vista das eleições presidenciais e Iniciativa do Conselho nacional de Igrejas cristãs no Brasil; pág. 7:O Papa convoca os presidentes de todas as Conferências episcopais; «A coragem de ver», concluída a assembleia plenária daPontifícia comissão para a tutela dos menores; págs. 8 e 9: Aos bispos que participaram num encontro promovido pela Con-gregação para a evangelização dos povos; págs. 10 e 11: Missas em Santa Marta; pág. 12: Beatificação de Afonsa Maria Ep-pinger; pág. 13: A função dos meios de comunicação católicos na África, por Paolo Ruffini; pág. 14: Conclusão do congressode espiritualidade ortodoxa sobre «Discernimento e vida cristã», por Adalberto Mainardi;; pág. 16: Angelus dominical.

NESTE NÚMERO

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página 2 L’OSSERVATORE ROMANO quinta-feira 13 de setembro de 2018, número 37

L’OSSERVATORE ROMANOEDIÇÃO SEMANAL

Unicuique suumEM PORTUGUÊSNon praevalebunt

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GI O VA N N I MARIA VIANd i re t o r

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Discurso a viúvas consagradas

Próximas dos pequeninos e dos pobres

Francisco a «Il Sole 24 Ore»

A pessoa e as famílias no centro

Queridas amigas!É com alegria que vos recebo, porocasião da vossa peregrinação aRoma. Agradeço-vos a vossa apre-sentação e transmito a minha cor-dial saudação às componentes daFraternité Notre-Dame de la Résur-re c t i o n e da Communauté Anne laP ro p h e t e s s e , hoje presentes em vá-rios países, assim como aos sacer-dotes que vos acompanham e,através de vós, a todas as pessoasque são provadas pela morte dopróprio cônjuge.

«A viuvez é uma experiênciaparticularmente difícil [...]. Al-

guns... mostram que sabem fazerconvergir as suas energias parauma dedicação ainda maior aos fi-lhos e netos, encontrando nestaexperiência de amor uma novamissão educativa» (Exort. ap. pós-sinodal Amoris laetitia, 254). Se is-to é verdade para a maioria devós, a morte do vosso esposo le-vou-vos também a reconhecer umachamada particular do Senhor e aresponder-lhe consagrando-vos aEle por amor e com amor. Junta-mente convosco, dou graças aDeus pela fidelidade do seu amorque une todas vós aos vossos es-posos, para além da morte, e que

vos chamou e consagrou para vi-ver hoje o seguimento de Cristona castidade, obediência e pobre-za. «Às vezes a vida apresenta de-safios maiores e, através deles, oSenhor convida-nos a novas con-versões que permitam à sua graçamanifestar-se melhor na nossaexistência, “para nos tornar parti-cipantes da sua santidade” (Hb 12,10)» (Exort. Ap. Gaudete et exsul-tate, 17). Assim, mediante a vossaconsagração, vós testemunhais queé possível, com a graça de Deus, oapoio e o acompanhamento dosministros e de outros membros daIgreja, viver os conselhos evangéli-cos exercendo as próprias respon-sabilidades familiares, profissionaise sociais.

A vossa consagração na viuvezconstitui um dom que o Senhoroferece à sua Igreja para recordara todos os batizados que a força

do seu amor misericordioso é umcaminho de vida e de santidade,que nos permite superar as prova-ções e renascer para a esperança ea alegria do Evangelho. Portanto,convido-vos a manter o vossoolhar fixo em Jesus Cristo e a cul-tivar o vínculo particular que vosune a Ele. Pois é ali, no coração acoração com o Senhor, escutandoa sua palavra, que nós encontra-mos a coragem e a perseverança, afim de nos entregarmos de corpo ealma para oferecer o melhor denós mesmos através da nossa con-sagração e dos nossos compromis-sos (cf. ibid., n. 25).

Que também vós, mediante avossa vida sacramental, possais daro testemunho deste amor de Deus,que é para cada homem uma cha-mada a reconhecer a beleza e a fe-licidade de ser amado por Ele.Unidas a Jesus Cristo, sede fermen-to na massa deste mundo, luz paraquantos caminham nas trevas e nasombra da morte! Com a qualida-de da vossa vida fraterna, no seiodas vossas comunidades, atravésda experiência da vossa própriafragilidade, procurai tornar-vospróximos dos pequeninos e dospobres para lhes manifestar a ter-nura de Deus e a sua proximidadeno amor. Nesta perspetiva, encora-jo-vos a viver a vossa consagraçãona vida diária com simplicidade ehumildade, invocando o EspíritoSanto a fim de que vos ajude atestemunhar, no âmbito da Igrejae do mundo, que «Deus pode agirem qualquer circunstância, até nomeio de aparentes fracassos» e que«a pessoa que se oferece e se en-trega a Deus por amor, segura-mente será fecunda» (Exort. Ap.Evangelii gaudium, 279).

É com esta esperança que vosconfio ao Senhor e, por interces-são da Virgem Maria, vos concedoa Bênção Apostólica, que faço ex-tensiva a quantas fazem parte daFraternité Notre-Dame de la Résur-re c t i o n e da Communauté Anne laP ro p h e t e s s e . E, por favor, orai pormim como eu rezo por vós. Obri-gado!

A gestão da economia e das finanças, a criação de novosempregos, o respeito do meio ambiente, o acolhimentoe a integração dos migrantes são temas que passam por«uma ética amiga da pessoa». Porque «atrás de qual-quer atividade há uma pessoa humana» e estão engana-dos quantos pensam que «o dinheiro se faz com o di-nheiro: o dinheiro, aquele verdadeiro, faz-se com o tra-balho». Eis uma das reflexões centrais da entrevista con-cedida pelo Papa Francisco a Guido Gentili, diretor deIl Sole 24 Ore, Radio 24 e RadiocorPlus, e publicadana edição de sexta-feira, 7 de setembro, do jornal italia-no económico-financeiro.

No que diz respeito às finanças que dominam a eco-nomia real, o Papa reafirmou que «é o trabalho queconfere a dignidade ao homem, não o dinheiro». O de-semprego generalizado em diversos países europeus «é aconsequência de um sistema económico que já não é ca-paz de criar trabalho, porque colocou no centro um ído-lo, que se chama dinheiro». No centro, ao contrário, de-ve estar «a família e as pessoas», para que «se possa irem frente sem perder a esperança».

Relativamente ao papel dos empresários, o Pontíficepediu «humildade, confiança e responsabilidade» paracriar «um novo humanismo» do trabalho. «Ajudemosnós mesmos a desenvolver a solidariedade — foi o seuauspício — e a realizar uma nova ordem económica que

não gere descartes, enriquecendo o agir económico coma atenção aos pobres e à diminuição da desigualdade».Em síntese, há necessidade «de coragem e de criativida-de genial». Inclusive diante do «grande desafio» dosmigrantes; a este propósito Francisco constatou que «ospobres que se movem tem medo especialmente aos po-vos que vivem no bem-estar». Contudo, «não existe fu-turo pacífico para a humanidade a não ser no acolhi-mento da diversidade, na solidariedade, no pensar nahumanidade como uma só família». Portanto, para eles,a Igreja deve ser «mãe». E é «natural para um cristãoreconhecer Jesus em cada pessoa. O próprio Cristo nospede que acolhamos os nossos irmãos e irmãs migrantese refugiados de braços abertos».

À Europa, que «necessita de esperança e de futuro»,o Pontífice pediu ainda mais «genialidade e coragem»nas suas «respostas aos pedidos de ajuda»: respostasque, «mesmo se generosas, talvez não tenham sido sufi-cientes, e hoje estamos a chorar milhares de mortos.Houve demasiados silêncios». Para superar o medo, oPapa convidou a saber «integrar» os migrantes, confian-do «estas responsabilidades também à prudência dosgovernos, a fim de que encontrem modalidades partilha-das para dar acolhimento digno a muitos irmãos e irmãsque invocam ajuda».

«Através da experiência da vossa própria fragilidade, procurai tornar-vospróximos dos pequeninos e dos pobres»: foi a exortação do Papa Franciscoàs viúvas consagradas da Fraternité Notre-Dame de la Résurrection e daCommunauté Anne la Prophetesse, recebidas em audiência na sala doConsistório, a 6 de setembro.

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número 37, quinta-feira 13 de setembro de 2018 L’OSSERVATORE ROMANO página 3

Audiência geral de quarta-feira

Livres das escravidões

Embaixadores da amizadeO Pontífice espera visitar o Japão em 2019

CO N T I N UA NA PÁGINA 4

O terceiro mandamento «convida acelebrar no repouso a libertação» da«escravidão interior do pecado paratornar o homem capaz de amar»,frisou Francisco na audiência geral dequarta-feira 12 de setembro, na praçade São Pedro, prosseguindo a série decatequeses dedicadas ao Decálogo.

Estimados irmãos e irmãs, bom dia!Na catequese de hoje voltamos a fa-lar do terceiro mandamento, sobre odia do repouso. O Decálogo, pro-mulgado no livro do Êxodo, é repe-tido no livro do Deuteronómio demodo quase idêntico, com a exceçãodesta terceira Palavra, onde temosuma diferença preciosa: enquanto noÊxodo o motivo do repouso é a bên-ção da criação, no Deuteronómio, aocontrário, ele comemora o fim da es-c ra v i d ã o . Neste dia o escravo devedescansar como o patrão, para cele-brar a memória da Páscoa de liberta-ção.

Com efeito, por definição os es-cravos não podem descansar. Masexistem muitos tipos de escravidão,tanto exterior como interior. Háconstrições externas, como as opres-sões, as vidas raptadas pela violênciae por outros géneros de injustiça.Além disso, existem as prisões inte-riores que são, por exemplo, os blo-queios psicológicos, os complexos,os limites carateriais e outros. Existedescanso nestas condições? Um ho-

mem preso ou oprimido pode per-manecer, contudo, livre? E uma pes-soa atormentada por dificuldades in-teriores, pode ser livre?

Com efeito, há pessoas que até naprisão vivem uma grande liberdadede espírito. Pensemos, por exemplo,em São Maximiliano Kolbe ou noCardeal Van Thuan, que transforma-ram obscuras opressões em lugaresde luz. Assim como há pessoas mar-cadas por grandes fragilidades inte-riores que, contudo, conhecem o re-pouso da misericórdia e sabemtransmiti-lo. A misericórdia de Deusliberta-nos. E quando nos depara-mos com a misericórdia de Deus, te-mos uma grande liberdade interior esomos também capazes de a trans-mitir. Por isso, é muito importanteabrir-nos à misericórdia de Deus pa-

ra não sermos escravos de nós mes-mos.

Portanto, o que é a verdadeira li-berdade? Consiste porventura na li-berdade de escolha? Certamente, es-ta é uma parte da liberdade, e enga-jamo-nos para que seja garantida acada homem e mulher (cf. CONC.ECUM. VA T. II, Const. Past. Gaudiumet spes, 73). Mas bem sabemos quefazer o que desejamos não é sufi-ciente para ser verdadeiramente li-vres e nem sequer felizes. A verda-deira liberdade é muito mais!

Com efeito, há uma escravidãoque acorrenta mais do que uma pri-são, mais que uma crise de pânico,mais que uma imposição de qual-quer tipo: trata-se da escravidão dopróprio ego.1 Aqueles que se espelhamo dia inteiro para ver o ego. E opróprio ego tem uma estatura maisalta do que o próprio corpo. São es-cravos do ego. O ego pode tornar-seum verdugo que tortura o homem,onde quer que ele se encontre, pro-vocando-lhe a mais profunda opres-são, aquela que se chama “pecado”,que não é banal violação de um có-digo, mas fracasso da existência econdição de escravos (cf. Jo 8, 34).2

Afinal, o pecado é dizer e fazer ego.“Quero fazer isto e não me importase há um limite, se existe um man-damento, nem sequer importa seexiste o amor”.

O ego, pensemos por exemplonas paixões humanas: o guloso, oluxurioso, o avarento, o iracundo, oinvejoso, o preguiçoso, o soberbo —e assim por diante — são escravosdos seus vícios, que os tiranizam eatormentam. Não há trégua para oguloso, porque a gula é a hipocrisiado estômago, que está cheio masfaz-nos crer que está vazio. O estô-mago hipócrita torna-nos gulosos.Somos escravos de um estômago hi-pócrita. Não há trégua para o gulo-so e o luxurioso, que devem viver deprazer; o anseio da posse destrói oavarento, que amontoa sempre di-nheiro, fazendo mal ao próximo; ofogo da ira e o caruncho da invejaarruínam os relacionamentos. Os es-critores dizem que a inveja amarele-ce o corpo e a alma, como quandouma pessoa tem hepatite: torna-seamarela. Os invejosos têm a almaamarela, porque nunca podem ter o

Em Nagasaki o monumentoaos quatro dignitários da missão Tensho

Antes da audiência geral de quarta-feira, 12 desetembro, o Papa recebeu num ambiente adjacenteà sala Paulo VI, os membros da associação“Tensho Kenoho Shisetsu Kenshokai” p ro v e n i e n t e sdo Japão. A seguir, a saudação do Pontífice.

Prezados amigos provenientesdo Japão, bom dia!Estou muito feliz por vos receber e por meencontrar, juntamente convosco, com os Pa-dres Renzo De Luca e Shinzo Kawamura.

O Papa dá as boas-vindas a Roma ao vossogrupo de delegados da Associação “Te n s h oKenoho Shisetsu Kenshokai”. Há mais de 400anos, em 1585, quatro jovens japoneses chega-ram a Roma, acompanhados por alguns mis-sionários jesuítas, para visitar o Papa, que na-quela época era Gregório XIII. Foi uma via-gem extraordinária, porque era a primeira vezque um grupo de representantes do vossogrande país vinha à Europa. Os quatro jovensreceberam um acolhimento maravilhoso, nãoapenas por parte do Papa, mas também de to-das as cidades e cortes que atravessaram: Lis-boa, Madrid, Florença, Roma, Veneza, Milão,Génova... Os europeus encontraram-se comos japoneses, e os japoneses encontraram-secom a Europa e com o coração da Igreja cató-lica. Um encontro histórico entre duas gran-des culturas e tradições espirituais, do qual éjusto conservar a memória, como faz a vossaAsso ciação.

A viagem dos vossos jovens predecessoresdurou no total mais de oito anos; naquelaépoca não havia aviões! A vossa é mais brevee menos cansativa. Mas espero que vos sintaisacolhidos pelo Papa, assim como eles o forame que, como eles, aproveiteis a alegria desteencontro e sejais animados a regressar ao vos-so país como embaixadores de amizade e pro-motores de grandes valores humanos e cris-tãos. Os quatro jovens da época Tensho fo-ram-no, com determinação e coragem. Querorecordar em particular o seu líder, Mancio Ito,que se tornou sacerdote, e Julian Nakauraque, como muitos outros, padeceu o suplíciona famosa colina dos mártires de Nagasaki efoi proclamado beato.

Sei que a vossa Associação promove lindosprojetos de cultura e de solidariedade. Enco-rajo sobretudo o vosso atual compromisso pa-ra criar um fundo de ajuda destinado à for-mação de jovens e órfãos, graças à contribui-ção de empresas sensíveis aos seus problemas.Desejais demonstrar que a religião, a cultura eo mundo da economia podem colaborar paci-ficamente para criar um mundo mais humanoe caraterizado por uma ecologia integral. Istoestá plenamente em sintonia com quanto tam-bém eu desejo para a humanidade de hoje ede amanhã, como escrevi na Carta EncíclicaLaudato si’. É o caminho certo para o porvirda nossa casa comum.

Mais uma vez, obrigado pela vossa visita.Como os vossos quatro jovens predecessores,levai ao vosso maravilhoso povo e ao vossogrande país a amizade do Papa de Roma e aestima de toda a Igreja católica.

E, aproveitando esta visita, gostaria de vosanunciar a minha vontade de visitar o Japãono próximo ano. Espero poder fazê-lo!

Estou deveras feliz por aquilo que me dis-sestes e por esta história, que eu conhecia delonge. As amizades constroem-se ao longo dahistória. Por isso, a memória é importante.Não vos esqueçais do que a cultura, o país, alíngua, a religião e a pertença social nos pro-porcionaram. Não vos esqueçais disto; e daium passo em frente. O Provincial sabe-o, por-que foi diretor de um museu, e portanto sabe-o bem. É necessário cultivar a memória!

C AT E Q U E S E

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página 4 L’OSSERVATORE ROMANO quinta-feira 13 de setembro de 2018, número 37

Irmãs na fé e no corpo de CristoÀ União internacional das beneditinas

CO N T I N UA Ç Ã O DA PÁGINA 3

Livres das escravidões

vigor da saúde da alma. A inveja destrói. A pre-guiça que evita qualquer esforço torna-nos inca-pazes de viver; o egocentrismo — aquele ego doqual eu falava — soberbo escava um fosso entrenós e os outros.

Caros irmãos e irmãs, quem é por conseguinteo verdadeiro escravo? Quem é aquele que não co-nhece o repouso? Quem não é capaz de amar! Etodos estes vícios, estes pecados, este egoísmo nosafastam do amor e nos tornam incapazes de amar.Somos escravos de nós mesmos e não podemosamar, porque o amor é sempre pelos outros.

O terceiro mandamento, que convida a celebrarno repouso a libertação, para nós cristãos é profe-cia do Senhor Jesus, que interrompe a escravidãointerior do pecado para tornar o homem capaz deamar. O amor verdadeiro é a liberdade autêntica:desapega da posse, reconstrui os relacionamentos,sabe acolher e valorizar o próximo, transforma emdom jubiloso todo o cansaço, tornando-nos capa-

zes de comunhão. O amor liberta até na prisão,mesmo se somos frágeis e limitados.

Esta é a liberdade que recebemos do nosso Re-dentor, nosso Senhor Jesus Cristo.

1. Cf. Catecismo da Igreja Católica, n. 1733: «Aopção pela desobediência e pelo mal é um abusoda liberdade e conduz à escravidão do pecado».

2. Cf. Catecismo da Igreja Católica, n. 1739: «Aliberdade do homem é finita e falível. E, de facto,o homem falhou. Livremente pecou. Rejeitando oprojeto divino de amor, enganou-se a si mesmo;tornou-se escravo do pecado. Esta primeira alie-nação gerou uma multidão de outras. A históriada humanidade, desde as suas origens, dá teste-munho de desgraças e opressões nascidas do cora-ção do homem, como consequência de um mauuso da liberdade».

No final da catequese, o Papa saudou os váriosgrupos linguísticos. Eis algumas das suas expressões,

na memória litúrgica do Santíssimo Nome de Maria.

Queridos peregrinos vindos de Portugal, do Brasile de outros países de língua portuguesa, de cora-ção lhes desejo as boas-vindas, particularmente aosfiéis de Tomar, Pernes e ao grupo de Magistradosbrasileiros. Vivamos a Eucaristia dominical com es-pírito de fé e de oração, sabendo que a carne deJesus nos fortalece na verdadeira liberdade dos fi-lhos de Deus. Sobre vós e sobre vossas comunida-des, desça a Bênção do Senhor. Obrigado!

Dirijo um pensamento especial aos jovens, aosidosos, aos doentes e aos recém-casados. Aos re-cém-casados, digo que são corajosos, porque nes-ta época é preciso ter coragem para casar. E porisso são valorosos! Hoje celebra-se a memória li-túrgica do Santíssimo Nome de Maria. Todosnós, cristãos, somos convidados a ver no nome deMaria o grande projeto que Deus teve para estacriatura excelsa e, ao mesmo tempo, a resposta deamor que, como Mãe, deu ao seu Filho Jesus, co-laborando incansavelmente para a sua obra desalvação.

Padre Abade Primaz, Irmã Judi-th Ann e todas vós monjas e ir-mãs Beneditinas!Sede bem-vindas a Roma! Agra-deço ao Padre Primaz as pala-vras de introdução: disse-lheque melhorou o italiano! O vos-so congresso é uma ocasião pro-pícia para as Beneditinas de to-do o mundo viverem juntas umtempo de oração e refletir sobreas diversas maneiras em que oespírito de São Bento, depois demil e quinhentos anos, continuaa ressoar e a agir hoje. Estou es-piritualmente próximo de vós,nestes dias do vosso encontro.

Como tema escolhestes umaexortação tirada do capítulo 53da Regra de São Bento: «Todossejam acolhidos como Cristo».Esta expressão imprimiu à Or-dem Beneditina uma marcadavocação para a hospitalidade,em obediência àquela palavrado Senhor Jesus que é parte in-tegrante da sua “regra de com-p ortamento” contida no Evan-gelho de Mateus: «Era peregri-no e me acolhestes» (25, 35; cf.Exort ap. Gaudete et exsultate,102-103). Hoje no mundo hámuitas pessoas que procuram vi-ver a ternura, a compaixão, amisericórdia e o acolhimento deCristo na sua vida. A elas vósofereceis o dom precioso do vos-so testemunho, quando vos fa-zeis instrumentos da ternura deDeus para quantos estão em ne-cessidade. O vosso acolhimentodas pessoas de diferentes tradi-ções religiosas contribui para le-var em frente com unção espiri-tual o ecumenismo e o diálogointer-religioso. Há séculos queos lugares beneditinos são con-hecidos como ambientes deacolhimento, de oração e de

poder continuar, nos vossosmosteiros, esta obra evangélicaessencial.

O mote “Ora et labora” põe ao ra ç ã o no centro da vossa vida. Acelebração diária da Santa Missae da Liturgia das Horas coloca-vos no coração da vida eclesial.Todos os dias, a vossa preceenriquece, por assim dizer, o “fô-lego” da Igreja. É oração de lou-vor, com a qual dais voz à hu-

camente com estas pessoas, massois suas irmãs na fé e no Corpode Cristo. Não se pode calcularo valor da vossa prece, mas écertamente um dom muito pre-cioso. Deus ouve sempre as ora-ções dos corações humildes echeios de compaixão.

Agradeço-vos também pelocuidado especial que tendes pe-lo meio ambiente e pelo vossocompromisso em preservar os

dons da terra, para que possamser partilhados por todos. Seique as monjas e as irmãs Bene-ditinas no mundo são boas ad-ministradoras dos dons deDeus. Como mulheres, sentis eapreciais de modo especial a be-leza e a harmonia da criação.Os vossos mosteiros estão situa-dos com frequência em lugaresde grande beleza onde as pes-soas vão para rezar, para encon-trar silêncio e contemplar as ma-ravilhas da criação. Encorajo-vosa prosseguir neste estilo e nesteserviço, para que as obras deDeus possam ser admiradas efalar d’Ele a muitas pessoas.

A vossa vida comunitária dátestemunho da importância doamor e do respeito recíproco.Com efeito, vós provindes de lu-gares e experiências diversos, evós mesmas sois diversas entrevós, por isso o acolhimento recí-proco é o primeiro sinal quedais num mundo que tem difi-culdade em viver este valor. To-dos somos filhos de Deus e avossa oração, o vosso trabalho, avossa hospitalidade, a vossa ge-nerosidade, concorrem para ma-nifestar uma comunhão na di-versidade que expressa a espe-rança de Deus pelo nosso mun-do: uma unidade feita de paz,de acolhimento recíproco e deamor fraterno.

Queridas irmãs, acompanho-vos com a oração. Vós ofereceisum dom precioso à vida daIgreja com o testemunho femini-no de bondade, fé e generosida-de, à imitação da Santa Mãe daIgreja, a Virgem Maria. Vós soisícone da Igreja e de Nossa Sen-hora: não vos esqueçais disto.Ícone. Quem vos vê, vê a IgrejaMãe e Nossa Senhora, Mãe deCristo. Por isto louvamos aoSenhor e vos agradecemos. Pe-ço-vos, por favor, que rezeis pormim e abençoo de coração avós, as vossas comunidades, etodos os que servis em nome deCristo. Obrigado!

hospitalidade generosa. Faço vo-tos para que, refletindo juntossobre este tema e partilhando asexperiências, façais emergir vá-rias modalidades com as quais

manidade inteira e também àcriação. É prece de agradecimen-to pelos inumeráveis e contínuosbenefícios do Senhor. É oraçãode súplica pelos sofrimentos epelas ansiedades dos homens edas mulheres do nosso tempo,especialmente dos pobres. É ora-ção de intercessão por quantossofrem injustiças, guerras e vio-lências, e veem violada a sua di-gnidade. Não vos encontrais fisi-

«Não se pode calcular» o valor da oração de intercessão que se eleva to-dos os dias dos mosteiros «por quantos sofrem injustiças, guerras e vio-lências, e veem a sua dignidade violada». Disse o Papa às participantesno simpósio da União internacional das beneditinas, que recebeu em au-diência na manhã de sábado, 8 de setembro, na Sala do Consistório.

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número 37, quinta-feira 13 de setembro de 2018 L’OSSERVATORE ROMANO página 5

Confiança e colaboraçãoentre escola e família

DISCURSO

É preciso recuperar o «pacto educativo» entreescola e família recriando uma relação deconfiança recíproca e de colaboração, disse oPapa aos representantes da Associação italianade pais (Age) que recebeu em audiência namanhã de sexta-feira, 7 de setembro, na salaPaulo VI.

Queridos irmãos e irmãs, bom dia!Sinto-me feliz por dar as boas-vindas a to-dos vós, representantes da Age, AssociaçãoItaliana de Pais, que este ano celebra o cin-quentenário. Uma boa meta! E uma ocasiãopreciosa para confirmar as motivações dovosso compromisso a favor da família e daeducação: um compromisso que levais pordiante segundo os princípios da ética cristã,a fim de que a família seja um sujeito cadavez mais reconhecido e protagonista na vidaso cial.

Muitas das vossas energias são dedicadasa acompanhar e apoiar os pais na sua tarefaeducativa, sobretudo no respeitante à escola,que desde sempre constitui o principal par-ceiro da família na educação dos filhos. Oque fazeis neste âmbito é deveras meritório.Com efeito, hoje, quando se fala de aliançaeducativa entre escola e família, é sobretudopara denunciar a sua ausência: o pacto edu-cativo está a diminuir. A família já não apre-cia, como outrora, o trabalho dos professo-res — com frequência mal remunerados — eestes sentem como uma ingerência inoportu-na a presença dos pais nas escolas, acaban-do por os manter à margem ou por os con-siderar adversários.

Para mudar esta situação é necessário quealguém dê o primeiro passo, vencendo omedo do outro e estendendo a mão com ge-nerosidade. Por isso convido-vos a cultivar ea alimentar sempre a confiança em relação àescola e aos professores: sem eles correis orisco de ficar sozinhos na vossa ação educa-tiva e ser cada vez menos capazes de enfren-tar os novos desafios educativos que vêm dacultura contemporânea, da sociedade, dosmass media, das novas tecnologias. Os pro-fessores estão, como vós, comprometidos to-dos os dias no serviço educativo em benefí-cio dos vossos filhos. Se é justo lamentar oseventuais limites da sua ação, é um deverestimá-los como se fossem os mais preciososaliados no empreendimento educativo quejuntos levais por diante. Permiti que vos

conte um episódio. Eu tinha dez anos, edisse uma coisa feia à professora. Ela cha-mou a minha mãe. No dia seguinte a minhamãe foi à escola e a professora foi recebê-la;falaram, depois a mãe chamou-me, e dianteda professora repreendeu-me e disse-me:“Pede desculpa à professora”. E eu obedeci.“Dá um beijinho à professora”, disse a mi-nha mãe. E eu obedeci, e depois voltei paraa sala, feliz, e acabou ali a história. Não,não acabou... O segundo capítulo conti-nuou quando voltei para casa... Isto chama-se “colab oração” na educação de um filho:entre a família e os professores.

A vossa presença responsável e disponí-vel, sinal de amor não só pelos vossos filhosmas por aquele bem de todos que é a esco-la, ajudará a superar muitas divisões e in-compreensões neste âmbito, e a fazer comque seja reconhecido às famílias o seu papelprimário na educação e na instrução dascrianças e dos jovens. Com efeito, se vós,pais, precisais dos professores, também a es-cola precisa de vós e ela não pode alcançaros seus objetivos sem realizar um diálogoconstrutivo com quem tem a primeira res-ponsabilidade do crescimento dos seus alu-nos. Como recorda a Exortação Amoris laeti-tia, «A escola não substitui os pais; serve-lhes de complemento. Este é um princípiobásico: «qualquer outro participante no pro-cesso educativo não pode operar senão emnome dos pais, com o seu consenso e, emcerta medida, até mesmo por seu encargo»(n. 84).

A vossa experiência associativa certamen-te ensinou-vos a confiar na ajuda recíproca.Recordemos o sábio provérbio africano:«Para educar uma criança é necessária umaaldeia». Por isso, na educação escolar nuncadeve faltar a colaboração entre as diversascomponentes da mesma comunidade educa-tiva. Sem comunicação frequente e sem con-fiança recíproca não se constrói comunidadee sem comunidade não se consegue educar.

Contribuir para eliminar a solidão educa-tiva das famílias é tarefa também da Igreja,que vos convido a sentir sempre ao vosso la-do na missão de educar os vossos filhos ede tornar toda a sociedade um lugar à me-dida de família, para que cada pessoa sejaacolhida, acompanhada, orientada rumo aosverdadeiros valores e posta em condições dedar o melhor de si para o crescimento co-mum. Por conseguinte, tendes uma forçadupla: a que vos deriva de serdes associa-ção, isto é, pessoas que se unem não c o n t raalguém mas pelo bem de todos, e a forçaque recebeis dos vossos laços com a comu-nidade cristã, na qual encontrais inspiração,confiança, apoio.

Queridos pais, os filhos são o dom maisprecioso que recebestes. Sabei preservá-locom dedicação e generosidade, dando-lhes aliberdade necessária para crescer e amadure-cer como pessoas por sua vez capazes, umdia, de se abrirem ao dom da vida. A aten-ção com que, como associação, vigiais sobreos perigos que insidiam a vida dos mais pe-queninos não impeça que olheis com con-fiança para o mundo, sabendo escolher e in-dicar aos vossos filhos as ocasiões melhores

de crescimento humano, civil e cristão. Ensi-nar aos vossos filhos o discernimento moral,o discernimento ético: isto é bom, aquilonão é tão bom, e isto é mau. Que eles sai-bam distinguir. Mas isto aprende-se em casae na escola: conjuntamente, ambas.

Agradeço-vos este encontro e abençoo decoração a vós, às vossas famílias e a toda aassociação. Garanto-vos a minha recordaçãona oração. E também vós, por favor, nãovos esqueçais de rezar por mim. Obrigado!

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página 6 L’OSSERVATORE ROMANO quinta-feira 13 de setembro de 2018, número 37

Iniciativa do Conselho nacional de Igrejas cristãs no Brasil

Contraa cultura do ódio

Mensagem da Cnbb em vista das eleições presidenciais

Esp erarnum país diferente

Mural no Rio de Janeiro

Uma «mensagem de encoraja-mento e esperança por um Brasiljusto, solidário, ético e fraterno»foi dirigida pela Conferência na-cional dos bispos do Brasil(CNBB) a toda a população dopaís, por ocasião da semana dapátria, que culminou no dia 7 desetembro, e em vista das próxi-mas eleições presidenciais, queterão lugar a 7 de outubro.

Estes dias são decisivos para adefinição das candidaturas, dasquais ainda está excluído o ex-presidente Luiz Inácio Lula daSilva, condenado por corrupção.O seu pedido de participaçãonas eleições foi rejeitado pelasautoridades judiciárias brasilei-ras. E na semana passada, o can-didato de direita, Jair Bolsonaro,63 anos, do partido social liberal,um dos favoritos, foi esfaqueadodurante uma manifestação eleito-ral em Juiz de Fora, no Estadode Minas Gerais. Segundo o quereferiu a equipe médica que o as-siste, o candidato precisará devários dias de convalescença, oque impedirá a sua participaçãonas últimas atividades da campa-nha eleitoral.

No documento assinado pelopresidente da CNBB, cardeal Sér-

jar — escrevem os bispos — estarealidade desafia-nos e põe-nosem estado de vigilância». A men-sagem insiste sobre a «força demudança do povo. Depende denós, colaborar para que istoaconteça — prossegue a nota —participando nas eleições que de-sempenham um papel-chave nasociedade democrática. O estadodemocrático de direito deve serreforçado e defendido cada vezmais, e não se conforma com ati-tudes como autoritarismo, funda-mentalismo e intolerância. Pelocontrário, exige respeito entre aspessoas e realização dos direitosfundamentais da população, es-pecialmente dos mais pobres efrágeis, com os necessários inves-timentos nos campos da saúde,da educação, da segurança públi-ca e da cultura».

Tendo em vista as próximaseleições, relativas à escolha dopresidente da República e dosmembros do novo Parlamento,mas também a renovação dasprefeituras em muitos Estados,os bispos convidam todos «aavaliar seriamente cada candida-to e candidata, as suas promes-sas, a sua campanha eleitoral, as

gio da Rocha, arcebispo de Bra-sília, pelo vice-presidente, D.Murilo Sebastião Ramos Krieger,arcebispo de São Salvador daBahia, e pelo secretário-geral, D.Leonardo Ulrich Steiner, auxiliarde Brasília, afirma-se que, nãoobstante o cenário de desencan-to, justificado pela má condutapor parte de um grande númerode atores políticos, as eleiçõesoferecem a possibilidade concretade mudar o rumo da Nação bra-sileira. «Longe de nos desencora-

alianças do seu partido e o seupassado político».

Particular atenção «deveria serprestada à escolha dos senadorese deputados», uma vez que noCongresso nacional e nas assem-bleias legislativas «são votadas asleis que podem ajudar ou preju-dicar o povo». Os votos brancosou nulos — admoesta a presidên-cia da Conferência nacional dosbispos do Brasil — «favorecem apior política e debilitam a demo-cracia».

«Fé e democracia» foi o tema es-colhido este ano pelo Conselhonacional de Igrejas cristãs doBrasil (Conic) em colaboraçãocom o Fórum ecuménico dopaís, para reafirmar a estreita li-gação entre o compromisso doscristãos na vida social e a sua de-fesa. Nesta perspetiva, na sema-na passada os cristãos do grandepaís latino-americano foramexortados a interrogar-se sobre omodo como contribuir paraconstruir juntos a democracia,deixando contudo a máxima li-berdade das formas na realizaçãodeste confronto, de maneira queo debate não fosse circunscrito aum evento público nacional masse tornasse sobretudo a ocasiãopara uma ulterior radicação docaminho ecuménico nas comuni-dades locais.

Com esta iniciativa, promovidano período em que no Brasil secelebra a «semana da pátria»com uma série de manifestaçõespúblicas, o Conic, instituído em1982 e do qual faz parte a Igrejacatólica, quis abrir um espaço dediálogo sobre a relação entre osvalores cristãos e a democracia.A decisão de propor esta reflexãonasceu em particular da vontadede oferecer um contributo quali-ficador de diálogo num tempoem que, como foi frisado pelospromotores desta iniciativa, oódio e a intolerância parecemquerer sufocar o confronto de-mocrático, como foi dramatica-mente testemunhado por nume-rosos atos de violência que estãoa marcar também a campanhaeleitoral para as próximas elei-ções presidenciais.

Fazendo recurso inclusive à re-de, debateu-se sobre a naturezado termo “demo cracia” tal comoé declinado na sociedade con-temporânea, na qual parece queassumiu um significado novo,que se afasta da preocupação pe-la realização do bem para cadahomem e mulher.

Neste período numerosas in-tervenções públicas denunciaramprecisamente esta distorção dosignificado do termo democracia,reafirmando, como o Conic sus-tenta há anos, a importância devoltar a considerar a democracia

como o modo de dar voz às ne-cessidades do povo e não aos in-teresses de poucos privilegiados.Nesta ótica, frisou-se a necessida-de de prosseguir a reflexão sobrea maneira como as Igrejas, «en-quanto espaço público reconheci-do e ativo», podem contribuirpara a realização destes valoresdemocráticos que circundam efortalecem a garantia dos direitospara todas as pessoas, sobretudopara quantos nestes últimos anospermaneceram ou acabaram àsmargens da sociedade.

Por isso, observou-se, os cris-tãos brasileiros devem compro-meter-se a fim de favorecer o res-peito da diversidade de opinião,para reforçar a cultura da paz e,sobretudo, para superar o climade ódio e violência que atual-mente acompanha de maneirapreocupante a campanha eleito-ral. Desta forma, precisamentena descoberta ou redescoberta dequanto os cristãos de diversasconfissões podem fazer juntospela sociedade brasileira, eviden-ciou-se a necessidade de relançarprojetos por uma economia real-mente mais respeitadora da cria-ção, citando também quanto asIgrejas já estão a fazer no mundosobre este tema, inclusive à luzdos ensinamentos ditados pelaencíclica Laudato si’.

Em numerosas intervençõesacentuou-se que o movimentoecuménico deve ser chamado aconfrontar-se sobre o tema daconstrução da democracia para adefesa dos direitos de todos, in-clusive com as religiões não cris-tãs, na medida em que estas tra-dições religiosas souberem acei-tar o convite a desempenhar umpapel público na sociedade bra-sileira. Com a promoção destasemana de reflexão e confronto oConic quis reafirmar quão rele-vante deve ser para o caminhoecuménico no Brasil engajar-sena defesa dos últimos, compreen-dendo o «grito dos excluídos»,como sinal da justiça que os cris-tãos são chamados a construirdiariamente em nome da fideli-dade a Cristo, combatendo ódioe violência e favorecendo a cultu-ra da escuta e do diálogo. (ric-cardo burigana)

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número 37, quinta-feira 13 de setembro de 2018 L’OSSERVATORE ROMANO página 7

A coragem de verConcluída a assembleia plenária da Pontifícia comissão

Respostas claras

A pontifícia Comissão para a tutelados menores concluiu os trabalhos danona assembleia plenária, que teve lu-gar em Roma de 7 a 9 de setembro.Publicamos o comunicado final.

O Santo Padre frisou a importânciafundamental da escuta daqueles quesofreram abusos, para fazer com queas suas histórias orientem a respostada Igreja a favor da proteção e dasalvaguarda dos menores.

Os membros da Comissão inaugu-raram a assembleia, ouvindo os tes-temunhos de duas pessoas que vive-ram o drama do abuso sexual porparte de clérigos: duas mulheres, en-tre as quais uma mãe de dois filhos,hoje adultos, abusados quando eramcrianças. A Comissão agradece-lhespor terem partilhado as suas histó-rias, pela coragem do seu testemu-nho e por terem contribuído para oseu contínuo conhecimento.

Os membros refletiram tambémsobre os recentes acontecimentos naIgreja universal que feriram tantaspessoas, inclusive aqueles que sofre-ram abusos, as famílias e as comuni-dades de fiéis: tais gestos privarammuitas crianças da sua infância. Asperguntas que surgiram nos últimosmeses não só focalizam a gravidadeda questão dos abusos, mas repre-sentam também a oportunidade parachamar a atenção de todos sobre osinstrumentos de prevenção em vistade tornar o futuro diferente do nos-so passado. O nosso ponto de parti-da não é indagar os casos particula-res mas prevenir para o futuro.

Trabalhar com quemsobreviveu ao abuso

Durante a assembleia plenária osperitos do Working Group “Tr a b a -lhar com quem sobreviveu ao abuso”anunciaram o lançamento de váriosprojetos-piloto, o primeiro dos quaisserá realizado no Brasil. Em conti-nuidade com o trabalho dos mem-

bros fundadores, estes projetos visamcriar ambientes seguros e processostransparentes no âmbito dos quais aspessoas que foram abusadas possamconfidenciar-se. Através de tais pro-jetos é desejável que também as lide-ranças das Igrejas locais sejam bene-ficiadas pelo testemunho direto dasvítimas, de modo a aperfeiçoar con-tinuamente a proteção e a salvaguar-da que oferecem a menores e adultosvulneráveis.

Responsabilidade localA partir da assembleia plenária

que teve lugar em abril passado, osmembros desta pontifícia Comissãoparticiparam em mais de cemw o rk s h o p s sobre a salvaguarda.

O grupo de trabalho que se ocupade “Educação e formação” delineouuma série de iniciativas futuras, semi-nários e conferências, que represen-tam uma parte essencial na promoçãoda responsabilidade e da consciênciapara as políticas de tutela local.

Em abril de 2019, a Comissão pa-trocinará a Safeguarding Conferencefor Church Leaders in Central/EasternE u ro p e . Além disso em Aparecida,no Brasil, a Comissão oferecerá coma Conferência nacional dos bisposdo Brasil uma semana de formaçãosobre o tema da salvaguarda a bis-pos e formadores. Para novembro de2019 os membros foram convidadosa realizar um encontro com o Con-selho episcopal latino-americano noMéxico. Em 2020, em Bogotá, naColômbia, a Comissão co-patrocina-rá o Congress on Protection of Mi-n o rs , destinado a agentes da Igreja eda sociedade civil.

O grupo de trabalho “Linhas-guia e normas para a tutela” com-partilhou os seus progressos sobre odesenvolvimento do instrumento deauditing para oferecer apoio às con-ferências episcopais locais, relativa-mente às políticas de salvaguarda.

gregação para a evangelização dospovos e o outro pela Congregaçãopara os bispos.

A intervenção da Comissão susci-tou intensa participação e os mem-bros exprimem profunda gratidãoaos prefeitos das congregações, car-deais Filoni e Ouellet, e aos seus co-laboradores. Tais encontros demons-traram a sua grande atenção aos te-mas da nossa missão.

Na próxima semana, a pontifíciaComissão para a tutela dos menoresparticipará em encontros de trabalhocom a Congregação para a doutrinada fé e com a conferência episcopalitaliana, em vista de prosseguir ocompromisso comum no campo dasalvaguarda dos menores.

30° aniversário da Convençãodos direitos da infância

A 20 de novembro de 2019 cele-brar-se-á o 30° aniversário da Con-venção dos direitos da infância, rati-ficada por 196 Estados, inclusive pe-la Santa Sé. A Comissão trabalharáativamente com vários s t a k e h o l d e rspara aproveitar esta oportunidade depromover a consciência sobre a tute-la dos menores.

Trabalhar com a SantaSé

Também a colabo-ração com as estrutu-ras da Santa Sé e daCúria romana faz par-te integrante do man-dato da Comissão deoferecer ajuda ao San-to Padre. Durante aplenária, alguns mem-bros tiveram a oportu-nidade de se dirigiraos dois cursos de for-mação para bispos re-cém-ordenados, umorganizado pela Con-

A «necessidade urgente de umaresposta clara por parte da Igrejasobre os abusos sexuais» cometi-dos contra menores foi reiteradapelo cardeal Sean Patrick O’Mal-ley na entrevista concedida a “Va -tican news” no dia 9 de setembro,na conclusão da plenária da Ponti-fícia comissão para a tutela dosmenores, à qual ele preside.

Respondendo às perguntas for-muladas por Sergio Centofanti, opurpurado explicou que uma dasresponsabilidades do organismo é«procurar ouvir as vítimas. Esta-mos sempre ansiosos por ouvir ostestemunhos das vítimas, que dãoforma às nossas deliberações e aosnossos juízos. Desta vez, demosinício à reunião ouvindo testemu-nhos, primeiro de uma mulher daAmérica Latina que foi abusadapor um sacerdote; depois, da mãede duas vítimas adultas provenien-tes dos Estados Unidos». De res-to, observou o capuchinho arcebis-po de Boston, «a voz das vítimasé deveras importante. Recente-

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O Papa convoca os presidentes de todas as Conferências episcopais

Para a proteção dos menores«Plena solidariedade ao Papa Francisco» e o pe-dido de «uma reflexão sobre a composição» doConselho de cardeais, foram expressos pelos pró-prios purpurados que o compõem, através de umadeclaração publicada no final da tarde de 10 desetembro, por ocasião da primeira reunião da vi-gésima sexta sessão do organismo.

Os cardeais conselheiros, lê-se na nota, «dis-pondo-se a entregar ao Santo Padre a propostaacerca da reforma da Cúria Romana elaboradanos primeiros cinco anos de atividade, em vistado prosseguimento» acharam «por bem pedir» aoPontífice «uma reflexão sobre o trabalho, a estru-tura e a composição do próprio Conselho, tendoem conta inclusive a idade avançada de algunsmembros». Além disso, «reafirmaram a plena soli-dariedade ao Papa Francisco diante de quantoaconteceu nas últimas semanas», cientes de «queno atual debate a Santa Sé está para formular oseventuais e necessários esclarecimentos». Por fim,o Conselho congratulou-se com o cardeal KevinJ. Farrell e com o Dicastério para os leigos, a fa-

mília e a vida, que juntamente com o arcebispode Dublin, Diarmuid Martin, organizaram o no-no Encontro mundial das famílias, pelo bom êxi-to do evento.

Depois de ter ouvido o Conselho de cardeais, oPapa Francisco convocou uma reunião com ospresidentes das conferências episcopais do mundointeiro sobre o tema da proteção dos menores edos adultos vulneráveis. A reunião com o Pontífi-ce terá lugar no Vaticano de 21 a 24 de fevereirode 2019. Quem o anunciou foram os próprios car-deais conselheiros, num comunicado redigido naconclusão dos trabalhos e lido por Paloma GarcíaOvejero, vice-diretora da Sala de imprensa daSanta Sé, durante um encontro com os jornalistasna manhã de 12 de setembro.

Os purpurados presentes na reunião do Conse-lho, refletiram profundamente com o Papa sobreos temas do abuso. Grande parte da atividadedestes dias foi dedicada aos últimos ajustes do es-boço da nova Constituição apostólica da Cúriaromana, cujo título provisório é Praedicate evange-

lium. O Conselho concluiu a releitura dos textosjá preparados, dedicando atenção especial ao cui-dado pastoral das pessoas que nele trabalham, eentregou ao Pontífice o texto provisório que, con-tudo, está destinado a uma revisão de estilo e auma releitura canonista.

O cardeal Sean Patrick O’Malley atualizou ospurpurados presentes sobre o trabalho da pontifí-cia Comissão para a tutela dos menores. Mais umavez, os purpurados manifestaram plena solidarie-dade a Francisco pelos acontecimentos das últimassemanas. Como de costume, o Papa participou nostrabalhos, não obstante tenha estado ausente emtrês momentos: no final da manhã de segunda-fei-ra, devido à audiência ao cardeal Beniamino Stel-la; na manhã de terça-feira, à visita ad limina daconferência episcopal da Venezuela; e na manhãde quarta-feira, à audiência geral. A próxima reu-nião com o Conselho terá lugar de 10 a 12 de de-z e m b ro .

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número 37, quinta-feira 13 de setembro de 2018 L’OSSERVATORE ROMANO página 8/9

O Santo Padre aos bispos que participaram num encontro promovido pela Congregação para a evangelização dos povos

Homens de oraçãode anúncio e de comunhão

Mary Padgelek, «Eu sou o bom pastor»

Igrejas jovens em fermento«Pastores de comunidades jovens infrequentemente chaga-das no corpo e no espírito, provadas por situações de vio-lência, humilhadas pela indiferença de grande parte domundo da opulência»: assim o cardeal prefeito Fernando Fi-loni, no início da audiência, apresentou ao Papa os bisposnomeados recentemente que participam no seminário de for-mação organizado pela Congregação para a evangelizaçãodos povos. Ao mesmo tempo, acrescentou o purpurado, eles«representam Igrejas vivas, iluminadas pela esperança, zelo-sas e laboriosas, onde se vivem liturgias intensas e jubilosas»e no seio das quais «cresce o sentido comunitário». A pontoque «em várias dioceses aumentam as vocações sacerdotais ereligiosas» e amadurece «a convicção de se tornarem porsua vez missionárias».

Em síntese, constatou o cardeal prefeito de Propagandafide, trata-se de «pequenos sinais que narram a vida de Igre-jas jovens em fermento e prontas a “sair”». Uma vitalidade eum dinamismo, concluiu, que são ainda mais importantes«hoje, num momento de particular dificuldade para toda acomunidade eclesial».

Homem de oração, de anúncio e de comunhão: eis o perfil do bispo segundo oPapa Francisco, que na manhã de sábado 8 de setembro recebeu em audiênciana Sala Clementina os prelados que participaram no seminário promovido pelaCongregação para a evangelização dos povos.

Homem de oração. O bispo é su-cessor dos Apóstolos e como osApóstolos é chamado por Jesus aestar com Ele (cf. Mc 3, 14). En-contra ali a sua força e a sua con-fiança. Diante do tabernáculoaprende a ter confiança no e aconfiar ao Senhor. Assim amadu-rece nele a consciência de que atéde noite, quando dorme, ou dedia, entre a fadiga e o suor nocampo que cultiva, a sementeamadurece (cf. Mc 4, 26-29). Parao bispo a oração não é devoção,mas necessidade; não é um com-promisso entre muitos, mas umministério indispensável de inter-cessão: ele deve levar todos os diasdiante de Deus as pessoas e as si-tuações. Como Moisés, ergue asmãos ao céu a favor do seu povo(cf. Êx 17, 8-13) e é capaz de insis-tir com o Senhor (cf. Êx 33, 11-14),de negociar com o Senhor, comoAbraão. A p a r ré s i a da oração.Uma oração sem p a r ré s i a não éoração. Este é o Pastor que reza!Alguém que tem a coragem dediscutir com Deus pelo seu reba-nho. Ativo na prece, partilha apaixão e a cruz do seu Senhor.Nunca satisfeito, procura constan-temente assimilar-se a Ele, a cami-nho para se tornar como Jesus, ví-tima e altar para a salvação do seupovo. E isto não deriva do factode ter muitos conhecimentos, masdo conhecer uma só coisa todos osdias na prece: «Jesus Cristo e Estecrucificado» (1 Cor 2, 2). Pois éfácil carregar uma cruz no peito,mas o Senhor pede-nos que carre-guemos outra muito mais pesadasobre os ombros e no coração: pe-de que partilhemos a sua cruz. Pe-dro, quando explicou aos fiéis oque deviam fazer os diáconos re-centemente criados, acrescentou —

e que é válido também para nós,bispos: “A prece e o anúncio daPa l a v r a ”. A oração em primeiro lu-gar. Gosto de perguntar a cadabispo: “Quantas horas rezas pordia?”.

Homem de anúncio. Sucessor dosApóstolos, o bispo sente como seuo mandato que Jesus lhes deu:

se apraz com o confort, não gostade uma vida tranquila e não pou-pa energias, não se sente príncipe,mas prodigaliza-se pelos outros,abandonando-se à fidelidade deDeus. Se procurasse apoios e se-guranças mundanas, não seria umverdadeiro apóstolo do Evangelho.

E qual é o estilo do anúncio?Testemunhar com humildade oamor de Deus, precisamente comofez Jesus, que se humilhou poramor. O anúncio do Evangelhosofre as tentações do poder, da sa-tisfação, da boa imagem, da mun-danidade. A mundanidade. Preca-vei-vos da mundanidade. Há sem-pre o risco de cuidar mais da for-ma do que da substância, de setransformar mais em ator do queem testemunha, de diluir a Palavrade salvação propondo um Evange-lho sem Jesus crucificado e ressus-

Amados irmãos, bom dia!Sinto-me feliz por me encontrarconvosco por ocasião do vosso se-minário de formação. Convoscosaúdo as comunidades que vos sãoconfiadas: os sacerdotes, os reli-giosos e as religiosas, os catequis-tas e os fiéis leigos. Estou grato aoCardeal Filoni pelas palavras queme dirigiu e agradeço também aD. Rugambwa e a D. Dal Toso.

Quem é o bispo? Questionemo-nos acerca da nossa identidade depastores para dela termos maiorconsciência, mesmo sabendo quenão existe um modelo padrãoidêntico em todos os lugares. Oministério do bispo causa arrepios,por ser tão grande o mistério quetraz em si. Graças à efusão do Es-pírito Santo, o bispo é configura-do com Cristo Pastor e Sacerdote.Ou seja, é chamado a ter as carac-terísticas do Bom Pastor e a fazerseu o coração do sacerdócio, istoé, a oferenda da vida. Portanto,não vive para si, mas propenso adoar a vida às ovelhas, em particu-lar às mais débeis e em perigo.Por isso o bispo sente compaixãoverdadeira pelas multidões de ir-mãos que são como ovelhas sempastor (cf. Mc 6, 34) e por quan-tos, de várias maneiras, são descar-tados. Peço-vos que tenhais gestose palavras de especial conforto porquantos experimentam marginali-dade e degradação; mais do queoutros, têm necessidade de sentir apredileção do Senhor, do qual soisas mãos cuidadosas.

Quem é o bispo? Gostaria de es-boçar convosco três aspetos essen-ciais: é homem de oração, homemdo anúncio e homem de comu-nhão.

«Ide e anunciai o Evangelho» (Mc16, 15). “Ide”: não se anuncia oEvangelho sentado, mas a cami-nho. O bispo não vive no escritó-rio, como um administrador deempresa, mas no meio do povo,pelas veredas do mundo, como Je-sus. Leva o seu Senhor para ondeEle não é conhecido, onde é desfi-gurado e perseguido. E saindo desi reencontra-se a si mesmo. Não

citado. Mas vós sois chamados aser memórias vivas do Senhor, pararecordar à Igreja que anunciar sig-nifica dar a vida, sem meias-medi-das, prontos a aceitar até o sacrifí-cio total de si.

E terceiro, homem de comunhão.O bispo não pode ter todos osdotes, o conjunto dos carismas — al-guns pensam que os têm, pobres

infelizes! — mas é chamado a ter ocarisma do conjunto, ou seja, man-ter unidos, cimentar a comunhão.A Igreja precisa de união e não desolistas fora do coro nem de cau-dilhos de batalhas pessoais. OPastor reúne: bispo p a ra os seusfiéis, cristão com os seus fiéis. Nãoé notícia nos jornais, não procuraa aprovação do mundo, não estáinteressado em tutelar o seu bomnome, mas gosta de tecer a comu-nhão comprometendo-se em pri-meira pessoa e agindo de maneirahumilde. Não sofre por falta deprotagonismo, mas vive radicadono território, sem ceder à tentaçãode se afastar com frequência daDiocese — a tentação dos “bisp osde aeroporto” — e evitando a bus-ca de glórias pessoais.

Não se cansa de ouvir. Não sebaseia em projetos previamenteconcebidos, mas deixa-se interpe-lar pela voz do Espírito, que gostade falar através da fé dos simples.Torna-se um todo com o seu povoe antes de tudo com o seu presbi-tério, sempre disponível para rece-ber e encorajar os seus sacerdotes.Promove mais com o exemplo doque com as palavras, uma fraterni-dade sacerdotal genuína, mostran-do aos sacerdotes que somos Pas-tores para a grei, não por razõesde prestígio nem de carreira, que étão feio. Não sejais arrivistas, porfavor, nem ambiciosos: apascentaia grei de Deus «não como domi-nadores sobre os que vos foramconfiados, mas como modelo dovosso rebanho» (1 Pd 5, 3).

E depois, amados irmãos, evitaio clericalismo, «maneira anómalade entender a autoridade na Igre-ja, muito comum em numerosascomunidades nas quais se verifica-ram comportamentos de abuso depoder, de consciência e sexual». Oclericalismo corrói a comunhão,porque «gera uma rutura no cor-po eclesial que beneficia e ajuda aperpetuar muitos dos males quedenunciamos hoje. Dizer não aoabuso — de poder, de consciência,a qualquer abuso — é dizer energi-camente não a qualquer forma declericalismo» (Carta ao Povo deDeus, 20 de agosto de 2018). Por-tanto, não vos sintais senhores dagrei — não sois donos do rebanho— mesmo se outros o fizessem ouse determinados costumes locais ofavorecessem. O povo de Deus,para o qual e ao qual sois ordena-dos, vos sinta pais, não donos;pais cuidadosos: ninguém deve

mostrar atitudes de submissão emrelação a vós. Nesta conjunturahistórica parece que se acentuamem várias partes determinadas ten-dências à “l i d e ra n ç a ”. Mostrar-sehomens fortes, que se mantêm àdistância e mandam nos outros,poderia parecer conveniente e cati-vante, mas não é evangélico. Cau-sa danos por vezes irreparáveis aorebanho, pelo qual Cristo deu avida com amor, abandonando-se eaniquilando-se. Por conseguinte,

sede homens pobres de bens e ri-cos de relações, nunca rígidos nemirritados, mas afáveis, pacientes,simples e abertos.

Gostaria de vos pedir que vospreocupeis, em especial, com algu-mas realidades:

As famílias. Mesmo se penaliza-das por uma cultura que transmitea lógica do provisório e privilegiadireitos individuais, permanecemas primeiras células de cada socie-

dade e as primeiras Igrejas, porserem igrejas domésticas. Promo-vei percursos de preparação para omatrimónio e de acompanhamentopara as famílias: serão sementeirasque darão fruto na devida altura.Defendei a vida do concebido e ado idoso, apoiai os pais e os avósna sua missão.

Os seminários. São os viveiros doporvir. Neles, sede de casa. Verifi-cai atentamente que sejam guiadospor homens de Deus, por educa-dores competentes e maduros, osquais, com a ajuda das melhoresciências humanas garantam a for-mação de perfis humanos sadios,abertos, autênticos, sinceros. Daiprioridade ao discernimento voca-cional a fim de ajudar os jovens areconhecer a voz de Deus entre astantas que ressoam nos ouvidos eno coração.

E agora os jovens, aos quais serádedicado o iminente Sínodo. Po-nhamo-nos à escuta, deixemo-nosprovocar por eles, acolhamos osseus desejos, dúvidas, críticas ecrises. São o futuro da Igreja, sãoo futuro da sociedade: dependedeles um mundo melhor. Atéquando parecem estar infetadospelo vírus do consumismo e dohedonismo, nunca os coloquemosem quarentena; procuremo-los,ouçamos o coração deles que su-plica vida e implora liberdade.Ofereçamos-lhes o Evangelho comcoragem.

Os pobres. Amá-los significa lu-tar contra todas as pobrezas, espi-rituais e materiais. Dedicai tempoe energias aos últimos, sem receiode sujar as vossas mãos. Comoapóstolos da caridade alcançai asperiferias humanas e existenciaisdas vossas Dioceses.

Por fim, queridos Irmãos, des-confiai, por favor, da tibieza queleva à mediocridade e à preguiça,aquele “démon de midí”. Descon-fiai dele. Desconfiai da tranquili-dade que evita o sacrifício; dapressa pastoral que leva à intole-rância; da abundância de bens quedesfigura o Evangelho. Não vosesqueçais que o diabo entra pelosbolsos! Desejo-vos, ao contrário, asanta inquietação pelo Evangelho,a única inquietação que dá paz.Agradeço-vos a atenção e aben-çoo-vos, na alegria de vos ter co-mo os mais queridos dos irmãos.E peço-vos, por favor, que não vosesqueçais de rezar e de fazer rezarpor mim. Obrigado.

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página 10 L’OSSERVATORE ROMANO quinta-feira 13 de setembro de 2018, número 37

Quinta-feira, 6 de setembro

E Simão tornou-se Pedro«O primeiro passo da conversão eda penitência» é a atitude «de seacusar a si mesmo», nunca «os ou-tros», falando mal deles: «não é su-ficiente reconhecer-se pecador», re-correndo a um pouco de «cosméti-ca» espiritual ou confissões «blá-blá-blá», de papagaio, mas deve-se ex-perimentar concretamente «o senti-mento da vergonha» e «a admiraçãode se sentir salvo», frisou o Papa,inspirando-se na experiência doapóstolo Pedro.

Comentando o excerto evangélicode Lucas (5, 11) proposto pela litur-gia, o Pontífice explicou que «lançaras redes e fazer uma pesca milagro-sa», narrado no trecho de hoje, «nosrecorda a outra, em Tiberíades, nofinal, depois da ressurreição». Semdúvida, «são dois momentos fortesonde Pedro lança a rede e faz umapesca milagrosa». O Papa recordouque «neste caso» o apóstolo já se-guia «Jesus há tempos: admirava oMestre, concluía o trabalho, lavavaas redes». Enquanto que «no outrocaso, no fim, estava a pescar».

Nesta primeira circunstância, «Je-sus disse-lhe: “Por favor, deixa-mesubir ao teu barco, afastar-me umpouco da margem para poder pregartranquilo à multidão. No outro caso,no fim, da margem grita-lhe: “Jo-vens, tendes algo para comer?”. Eeles, zangados porque não tinhampescado nada: “Não”, dizem, e cor-tam a conversa». Contudo, em am-bos os momentos «no início da vidaapostólica de Pedro e no fim, háuma unção de Pedro. Neste caso,nesse momento diz-lhe: “Serás pes-cador”. No fim diz-lhe: “Vai e apas-centa as minhas ovelhas”. Fá-lo pas-tor».

Depois de ter reiterado que «Pe-dro seguia Jesus há tempos», o Papaobservou que «tinha levado a Jesuso seu irmão André. Jesus viu-o emudou-lhe imediatamente o nome:“Chamar-te-ás Pedro”; chamava-seSimão. Pedro não entendeu. Mas,dado que era um bom israelita, sabiaque a mudança de nome tinha umsignificado, o significado de mis-são». Assim, «nesse momento seguiaJesus. Labutava, seguia Jesus, cuida-va da família, fazia um pouco de tu-do». Agora, «com esta pesca mila-grosa Pedro dá mais um passo na vi-da. E a vida de Pedro é sempre pas-so a passo, mais um passo».

O apóstolo, explicou Francisco,«gabava-se de seguir Jesus: “É oprofeta, vou atrás dele, sou um dosseguidores do profeta”, e sentia-seorgulhoso porque realmente amavaJesus». Mas «após este milagre, Pe-dro sentiu algo; sentia uma forte ad-miração e quando o Senhor lhe dizpara se fazer ao largo», ele respon-de: «Senhor, trabalhamos a noite in-teira e nada apanhamos, mas porcausa da tua palavra, lançarei as re-des». Em síntese, «tinha confiança

em Jesus». E «depois, quando viuaquele milagre tão grande que as re-des quase se rompiam com tantospeixes, sentiu algo dentro».

Também «na pesca final, no mila-gre conclusivo, o Evangelho diz queele se lançou na água para ir imedia-tamente ao encontro de Jesus. Eleesperou. Pediu ajuda para levar ospeixes e quando se aproximou deJesus, ajoelhou-se dizendo: “S e n h o r,afasta-te de mim, pois sou um peca-dor”».

Portanto, precisamente «este é oprimeiro passo decisivo de Pedro nocaminho do discipulado, de discípu-lo de Jesus, acusar-se a si mesmo:“Sou um pecador”. O primeiro pas-so de Pedro é este — acrescentou oPapa — e também o primeiro passode cada um de nós, se quisermosprogredir na vida espiritual, na vidade Jesus, servir Jesus, seguir Jesus,deve ser este, acusar-nos a nós mes-mos: sem não nos acusarmos nãopodemos caminhar na vida cristã».Poder-se-ia objetar, sugeriu Francis-co: «Mas, padre, eu sempre o façono início da missa, rezo, confesso.Mas sentes aquilo que... sentes Je-sus?». E no entanto, o Evangelhodiz que «o enlevo tinha invadido»Pedro diante daquela pesca milagro-sa. Por conseguinte, para o Papasurgiu uma pergunta: «Quando teacusas a ti mesmo, ages com este arde enlevo? Ou, sim, sou pecador,vamos em frente...». Com efeito,prosseguiu, «estamos muito habitua-dos a dizer: “Sou um pecador”. Éverdade, se agora eu dissesse:“Quem de vós não é pecador?”, cer-tamente ninguém levantará a mão.Pois todos sabemos que somos peca-dores. Mas não é fácil confessar,acusar-se a si mesmo de pecado, deser um pecador concreto, com enle-vo». A tal ponto que «dizemos:“Sim, sou pecador”, do mesmo co-mo afirmamos: “Sou humano”, “Soucidadão italiano”, “Sou isto”».

Ao contrário, «é outra coisa: acu-sar-me a mim mesmo é o sentimentoda minha miséria, de me sentir mise-rável, mísero face ao Senhor. O sen-timento da vergonha». Com efeito,«acusar-se a si mesmo» não se podefazer com palavras, é preciso sentirno coração: «É sempre uma expe-riência concreta».

De resto, «quando Pedro disse:“Afasta-te de mim, pois sou um pe-cador”, tinha no coração todos osseus pecados e via-os, sentia-se deve-ras pecador. E depois sentiu-se sal-vo. A salvação que nos leva a Jesusprecisa desta confissão de pecado-res». Mas «esta confissão que nascedo coração, que é sincera, porque asalvação que nos traz Jesus é since-ra», provém do coração. Com efeito,«a salvação de Jesus não um cosmé-tico, que te muda um pouco, comduas pinceladas mudam-te o rosto.É algo que entra no coração e trans-forma». Todavia, para «a fazer en-trar» deve-se abrir «espaço com aconfissão dos pecados, com a confis-são sincera a Ele: “Senhor, afasta-te

de mim, pois sou um pecador”».Caso contrário, não se pode experi-mentar «o enlevo de Pedro».

«Estamos tão habituados a dizer:“Somos pecadores, sim, somos as-sim», insistiu Francisco. «É verdade,mas não basta. O que conta é quecada um de nós viva diante do Se-nhor a vergonha e depois o enlevode se sentir salvo. Devemos conver-ter-nos. Devemos fazer penitência».E «o primeiro passo da conversão,da penitência, é esta atitude de seacusar a si mesmo».

A tal propósito, auspiciou o Papa,«far-nos-á bem pensar: “Acuso-me amim mesmo ou acuso os outros?”.Há pessoas que vivem falando maldo próximo, acusando os outros, enunca pensam em si mesmas, equando vou ao confessionário, comome confesso, como os papagaio?“blá-blá-blá, fiz isto e aquilo”». Mas«sentes no coração o que fizeste?Muitas vezes, não. Vais ali para fa-zer cosmética, para te pintares umpouco e para saíres bonito. Mas istonão entrou completamente no teucoração, porque não abriste espaço,porque não foste capaz de te acusa-res a ti mesmo».

«O primeiro passo é este, é umagraça, ninguém o pode fazer com aspróprias forças», advertiu o Pontífi-ce. Por isso é preciso «pedir estagraça: “Senhor, que eu aprenda aacusar-me a mim mesmo, que apren-da a dar este primeiro passo”». E«um sinal que uma pessoa, um cris-tão não sabe acusar-se a si mesmo équando se acostuma a acusar o pró-ximo, a falar mal dos outros, a metero bedelho na vida alheia. É um mausinal. Faço isto? É uma boa pergun-ta para chegar ao coração».

Francisco concluiu, exortando apedirmos «hoje ao Senhor a graçade nos colocarmos diante dele comeste enlevo que provém da sua pre-sença e a graça de nos sentirmos pe-cadores concretos, dizendo como Pe-dro: “Afasta-te de mim, pois sou ump ecador”. E assim a vida de Pedrofoi em frente, até à outra pesca nofinal, quando Jesus o faz pastor dagrei». Sim, «peçamos hoje esta gra-ça uns para os outros: “Senhor, queaprendamos a acusar-nos a nós mes-mos”, não os outros, o próximo. Ca-da um se acuse a si mesmo!».

MISSAS EM S A N TA M A R TA

Segunda-feira, 10 de setembro

A grande novidade«A grande novidade» de Cristo éabsoluta e deve ser considerada nasua totalidade, e não pela metadecomo se fosse «uma ideologia», por-que «não se fazem negociações»mundanas com a verdade e não se«dilui o anúncio do Evangelho». Pa-ra a sua meditação, o Papa Franciscoinspirou-se numa «contrariedade»de Paulo devido à «vida dupla» doscristãos de Corinto e observou queacabamos por ser «hipócritas» senão percebermos a diferença «entre“a novidade” de Jesus Cristo e “asnovidades” que o mundo nos pro-põe».

«O apóstolo Paulo está um poucocontrariado com os cristãos de Co-rinto», observou o Papa referindo-seao trecho da primeira carta aos Co-ríntios (5, 1-8) proposto hoje pela li-turgia como primeira leitura. Aliás,acrescentou Francisco, Paulo não es-tá «um pouco», mas «muito zanga-do» com aqueles cristãos e «repreen-de-os porque viviam “uma vida du-pla”, digamos assim». De facto, es-creve o apóstolo na sua carta: «Ir-mãos, ouve-se dizer constantementeque se comete, no vosso meio, a lu-xúria, e uma luxúria tão grave quenão se costuma encontrar nem mes-mo entre os pagãos». Como se qui-sesse dizer: mas vós sois cristãos eviveis desta maneira? Há alguma in-co erência.

«Paulo repreende» explicou oPontífice, mas «explica, a ponto quediz algo desagradável. Algo forte eaté desagradável: as pessoas que fa-zem isto sejam entregues a satanás,porque a nossa vida segue outro ca-minho».

«Esta é a realidade que Paulo vê»insistiu o Papa. E «relativamente aesta realidade não só condena, masexplica inclusive o princípio. Estagente gabava-se por ser assim, diga-mos “cristãos abertos”, onde a con-fissão de Jesus Cristo caminhava demãos dadas com uma imoralidadetolerada entre eles. E “não é bomque vos vanglorieis deste modo”»escreve claramente Paulo.

Mas depois o apóstolo «explica oprincípio: “Não sabeis que um pou-co de fermento leveda a massa toda?

Rafael, «A pescamilagrosa» (detalhe)

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número 37, quinta-feira 13 de setembro de 2018 L’OSSERVATORE ROMANO página 11

Terça-feira, 11 de setembro

A força do bispo«Ultimamente parece que o GrandeAcusador acordou, irritado com osbispos», procurando «revelar os pe-cados, para que sejam vistos, a fimde escandalizar o povo». Mas «aforça do bispo — “homem de oração,no meio do povo e que se sente es-colhido por Deus” — contra o Gran-de Acusador é a prece, a de Jesuspor ele e a própria». Foi uma oração«pelos nossos bispos: por mim, porestes que estão aqui na frente e portodos os bispos do mundo» que oPapa pediu celebrando a missa. Eaos bispos pediu que permaneçamsempre «próximos do povo deDeus, longe de uma vida aristocráti-ca» que afasta a sua «unção» semserem «arrivistas» ou «procurandorefúgio nos poderosos e na elite».

«Comovem o coração a simplici-dade e a transparência, com a qualLucas nos narra a eleição dos após-tolos, dos primeiros bispos» obser-vou o Papa, referindo-se ao excertoevangélico proposto hoje pela litur-gia (Lc 6, 12-19), comparando-o coma atualidade, recordando que nesteperíodo «aqui em Roma estão a de-correr — um deles já terminou — trêscursos para os bispos». Promove-ram, comentou, um curso «de atua-lização para os bispos que completa-ram dez anos de episcopado» que«se concluiu recentemente». No en-tanto, explicou, «neste momento es-tão a decorrer dois cursos: um parasetenta e quatro bispos que perten-cem às dioceses que dependem daCongregação de Propaganda Fide».E outro no qual participam «cento etrinta, cento e quarenta» prelados«que pertencem à Congregação paraos bispos». Portanto, todos «os no-vos bispos, mais de duzentos», par-ticipam «nesses dois cursos». E des-ta forma, confidenciou, «pensei queneste momento, quando no Vaticanose realiza esta atividade com os no-vos bispos, talvez fosse bom meditarum pouco sobre a eleição dos bis-pos: como Jesus a realizou a primei-ra vez, o que nos ensina».

«São três aspetos — afirmou Fran-cisco referindo-se ao trecho de Lucas— que causam admiração da atitudede Jesus». Antes de mais «que Jesusreza». O evangelista escreve: «Jesusfoi para o monte a fim de fazer ora-ção, e passou a noite a orar aDeus». A «segunda» atitude é que«Jesus escolhe: Ele escolhe os bis-pos». E a «terceira, Jesus desce comeles para um sítio plano onde encon-tra uma grande multidão: no meiodo povo». Precisamente estas são as«três dimensões do ministério espi-copal: rezar, ser eleito e estar com opovo». «Jesus ora, reza pelos bis-pos» prosseguiu o Papa. «É a gran-de consolação que um bispo sentenos momentos difíceis: Jesus rezapor mim». De resto, «disse-o expli-citamente a Pedro: “Rezarei por ti,para que a tua fé não esmoreça”».Sim, insistiu Francisco, Jesus «rezapor todos os bispos. Neste momen-to, diante do Pai, Jesus ora. O Bispoencontra consolação e força na cons-ciência de que Jesus ora por ele, estáa rezar por ele». E «isto leva a re-zar». Pois «o bispo é um homem deoração».

«Pedro tinha esta convicção — ob-servou o Pontífice — quando anun-ciava ao povo a tarefa dos bispos:“A nós a oração e o anúncio da pa-lavra”. Não disse: “A nós a organiza-ção dos planos pastorais”». Portan-to, espaço à «oração e ao anúncioda palavra». Deste modo «o bisposabe que é protegido pela oração deJesus, e isto leva-o a rezar». E orar«é o primeiro dever do bispo. Rezarpelo povo de Deus, por si mesmo,pelo povo de Deus. O bispo é ho-mem de oração».

«A segunda dimensão que vemosaqui é que Jesus “escolhe” os doze:não são eles que escolhem». E «istotambém nos discípulos: o endemoni-nhado gadareno que queria seguirJesus», depois de ter sido libertadodos demónios. Mas, resumindo, Je-sus respondeu-lhe «não, não te esco-lhi, tu permaneces aqui e praticas obem aqui». Porque «o bispo fiel sa-be que não escolheu; o bispo queama Jesus não é um arrivista que vaiem frente com a sua vocação comose fosse uma função, talvez olhandopara outra possibilidade de ir emfrente e subir na vida». Na realidade«o bispo sente-se escolhido. E tem acerteza de ter sido escolhido. Isto le-va-o ao diálogo com o Senhor: “Tuescolhestes-me, que sou pouca coisa,que sou pecador”. Tem a humildade.Porque ele, quando se sente escolhi-do, percebe o olhar de Jesus sobre aprópria existência e isto dá-lhe a for-ça».

Resumindo, o bispo é «homem deoração, homem que se sente escolhi-do por Jesus». E depois, acrescentouFrancisco, é «homem que não temmedo de descer a um sítio plano epermanecer próximo do povo: é pre-cisamente o bispo que não se afastado povo: aliás, sabe que no povo háuma unção para o seu ministério eencontra no povo a realidade de serapóstolo de Jesus». Eis «o bispoque permanece distante do povo —afirmou o Pontífice — que não tematitudes que o afastam do povo; obispo toca o povo e deixa-se tocarpelo povo. Não vai procurar refúgionos poderosos, nas elites, não. Serãoas elites a criticar o bispo; o povotem esta atitude de amor em relaçãoao bispo, e tem aquela a que chama-mos unção especial: confirma o bis-po na vocação».

«Homem no meio do povo, ho-mem que se sente escolhido porDeus e homem de oração: esta é aforça do bispo» repetiu o Papa, su-gerindo que «é bom recordar, nestestempos em que parece que o GrandeAcusador acordou, irritado com osbispos. É verdade, todos somos pe-cadores, nós bispos». O GrandeAcusador, afirmou, «procura revelaros pecados, para que se vejam, paraescandalizar o povo. O Grande Acu-sador que, como ele mesmo diz aDeus no capítulo 1 do Livro de Job,“dá voltas pelo mundo procurandoo modo para acusar”. A força dobispo contra o Grande Acusador é aoração, a de Jesus, por ele e a pró-pria; e a humildade de se sentir es-colhido e permanecer próximo dopovo de Deus, longe de uma vidaaristocrática que o priva desta un-ção». Na conclusão Francisco exor-tou a rezar «hoje pelos nossos bis-pos: por mim, por estes que estãoaqui na frente e por todos os bisposno mundo».

Purificai-vos do velho fermento, pa-ra que sejais massa nova”». Portan-to, é preciso tirar o «fermento velho,para que haja outro fermento, ou ne-nhum fermento, para que a massaseja boa». Paulo «usa aquele símbo-lo dos ázimos, a massa pura, a mas-sa boa». E «isto recorda-nos» a ex-pressão «de Jesus “vinho novo emodres novos”». Com efeito, explicouo Papa, «a novidade do Evangelho,a novidade de Cristo não consistesomente em transformar a nossa al-ma; mas em transformar todos nós:alma, espírito e corpo, todos, tudo,ou seja, transformar o vinho — o fer-mento — em odres novos, tudo».Porque, acrescentou, «a novidade doEvangelho é absoluta, total; abrangetodos, porque nos transforma a par-tir de dentro: o espírito, o corpo e avida quotidiana».

«Mas esta gente era assim, não ti-nha compreendido isto» prosseguiuo Pontífice fazendo sempre referên-cia à carta aos Coríntios, sublinhan-do: «Tinham talvez considerado anovidade do Evangelho como umaideologia, um modo de viver bem,social: “Sim, sim Jesus, sim”, masdepois viviam seguindo costumespagãos». Mas «a novidade do Evan-gelho é muito clara. O próprio Pau-lo explica-a claramente no final dotrecho hodierno da sua carta: «E, defacto, Cristo, nossa Páscoa, foi imo-lado! Celebremos, pois, a festa, nãocom o fermento velho nem com ofermento da malícia e da corrupção,mas com os pães não fermentadosde pureza e de verdade”».

«A grande novidade do Evange-lho — afirmou Francisco — é queCristo está vivo, Cristo ressuscitou,Cristo pagou pelos nossos pecados,Cristo — a ressurreição de Cristo —transformou-nos e enviou o Espíritopara que nos acompanhe na vida.Precisamente «esta é a novidade doEvangelho! Eis o convite de Jesus aviver esta novidade. Nós cristãos so-mos homens e mulheres de novida-de, da grande novidade».

Os cristãos de Corinto, «que que-riam ambas as coisas, viviam “de no-vidades”, não “da novidade”». E«tanta gente procura viver o cristia-nismo “de novidades”» dizendo«mas hoje pode-se fazer assim; hojepode-se fazer assim». Mas «estagente que vive de novidades que lhesão propostas pelo mundo é munda-na, não aceita toda a novidade». E,deste modo, «há um confronto entre“a novidade” de Jesus Cristo e “asnovidades” que o mundo nos pro-põe para viver».

«Por esta razão — explicou o Papa— Paulo condena as pessoas que vi-vem assim: é gente tíbia, imoral, égente que simula, é gente formal, hi-pócrita». Com efeito, «quando nãoconsideramos a totalidade do anún-cio de Jesus Cristo e aceitamos vivercom “as novidades”, conviver comambas as coisas, acabamos por serhip ó critas».

«A chamada de Jesus é para a no-vidade» reafirmou o Pontífice. Cer-tamente, «alguém podem dizer “pa-dre, nós somos débeis, somos peca-d o re s ”». Mas «esta é outra coisa: seaceitares ser pecador e débil, Eleperdoa-te, porque um aspeto da no-vidade do Evangelho consiste emconfessar que Jesus Cristo veio parao perdão dos pecados. Mas se tu,

que afirmas ser cristão, convives comestas novidades mundanas, não, estaé uma hipocrisia. Esta é a diferen-ça». O próprio Jesus, observou oPapa, «tinha-nos dito no Evangelho:«Estai atentos quando vos disserem:Cristo está aqui, ali, lá. As novida-des são estas: não, a salvação é comisso, com isto”». Porque «Cristo éum só. E a mensagem de Cristo éclara».

A este ponto, sugeriu o Pontífice,«talvez possa surgir a pergunta —porque a liturgia de hoje nos indicaisto — mas como é o caminho dequantos vivem “a novidade” e nãoquerem viver “as novidades”?». Aresposta encontra-se no «trecho doEvangelho de hoje» (Lc 6, 6-11):«Mas eles — os escribas, os doutoresda lei — fora de si pela raiva — p or-que não tinham podido apanhar Je-sus em flagrante a cometer um erro— começaram a discutir entre si so-bre o que teriam podido fazer a Je-sus». Basicamente, acrescentou o Pa-pa, «como o apanhar, como o ma-tar», como «o eliminar».

«O caminho de quantos aceitam anovidade de Jesus Cristo — re c o rd o uFrancisco — é o mesmo de Jesus: ocaminho rumo ao martírio; quer omartírio cruento, quer o martírio detodos os dias». É «o testemunho domartírio; aquele é o caminho, não háoutros. Aquela é a estrada, “p orqueos inimigos — como explica o Evan-gelho — observavam Jesus, para verse curava no dia de sábado a fim deencontrar um pretexto para o acu-sar”». E «atrás deles estava o grandeacusador: satanás». Também «nósestamos a caminho e somos observa-dos pelo grande acusador que incitaos acusadores de hoje para nos apa-nhar em contradição».

«O convite da Igreja hoje — con-cluiu o Papa — é considerar “a gran-de novidade”, toda, e não fazer ne-gociações com “as novidades”». Emsíntese, «não diluir o anúncio doEvangelho».

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página 12 L’OSSERVATORE ROMANO quinta-feira 13 de setembro de 2018, número 37

Beatificada em Estrasburgo Afonsa Maria Eppinger

Uma Europa acolhedora

Fiéis na cerimónia de beatificação na catedral de Estrasburgo

Intenções de oração para o mês de setembro

Educação e trabalhopara os jovens do continente africano

de uma lúcida leitura da so-ciedade e das dificuldades dasperiferias no mundo contem-porâneo: «Rezemos a fim deque os jovens do continenteafricano tenham acesso à edu-cação e ao trabalho no pró-prio país».

Num contexto mundial noqual se assiste ao drama dequantos são obrigados — p e-las guerras, pelas violências epela pobreza — a fugir do seupaís em busca de um futuro,o Papa acrescenta ao conviteao acolhimento e à ajudaimediata, perspectivas de in-tervenção a longo prazo.

«A África — frisa Francisco— é um continente rico, e a

«Mulher corajosa e forte, com o seu extraordi-nário testemunho cristão» a nova beata AfonsaMaria Eppinger «exorta todos os europeus ater um coração grande, a demonstrar um amorsolícito e acolhedor, que saiba ir ao encontrodos necessitados: os frágeis, derrotados, des-cartados, quantos fogem de situações de guer-ra, violência, perseguição». Eis a herança vivade acolhimento deixada ao velho continentepela fundadora da congregação das irmãs doSantíssimo Salvador e frisada durante a ceri-mónia de beatificação presidida a 9 de setem-bro na França, pelo cardeal Angelo Becciu, emrepresentação do Papa Francisco.

Uma ênfase ditada pelo lugar da celebra-ção, a catedral de Estrasburgo, «cidade que,num certo sentido, é o coração da Europa,porque aqui se encontram instituições funda-mentais da vida dos seus cidadãos». Eis porque razão, comentou o prefeito da Congrega-ção para as causas dos santos, «daqui se elevaum urgente apelo a todo o continente euro-peu, cada vez mais tentado pelo egoísmo epelo fechamento em si mesmo», a fim de queos cristãos que o habitam tenham como mo-delo, entre outros, esta «audaz mulher alsacia-na apaixonada por Deus e incansável dispen-sadora de misericórdia à humanidade sofredo-ra; fiel discípula do Evangelho e intrépidamensageira do amor divino».

Na homilia, o purpurado voltou a percorrero itinerário biográfico da beata, nascida em1814 e falecida em 1867, cuja profunda espiri-tualidade pode ser resumida em «dois pontosascéticos focais: conhecer os desejos de Deus esegui-los cumprindo a sua vontade». Mas, ad-vertiu imediatamente, «não devemos pensarque Isabel», o seu nome secular, «era uma me-nina toda piedosa e dócil». Pelo contrário, «ti-nha uma personalidade forte, muitas vezes re-belde»; pelo menos até tomar «consciência dedois dados surpreendentes: quanto Deus a amae, ao mesmo tempo, como tantas pessoas semostram indiferentes a tamanho amor. Sensibi-lizada de modo profundo pelo amor de Deus,deseja ardentemente que também os outros,aliás, todos vivam a experiência do amor infini-to de Deus. Nasce no seu coração, claro e pre-mente, o impulso a ser instrumento do amorde Deus: que através dela todos possam expe-rimentar quanto são amados» pelo Senhor.

Daqui derivam «intensidade de vida e ale-gria transbordante» que não podem deixar in-diferentes as pessoas que a circundam. Atraí-das pelo seu estilo e inspiradas pelo lema porela escolhido — «Bebei com alegria nas fontesda salvação» — um primeiro pequeno núcleode amigas começa a reunir-se com ela «paracontemplar no Evangelho o Coração miseri-

cordioso de Jesus, a sua atitude diante dequantos sofrem no corpo e no coração, diantedos pecadores». Assim nasce uma família reli-giosa na qual hoje três institutos femininos re-conhecem as suas raízes, para viver o carismade Isabel que, como consagrada, assume onome de Afonsa Maria. «Um carisma — expli-cou o cardeal Becciu — centrado na misericór-dia de Deus: ir à casa dos pobres para respon-der às suas necessidades de ordem espiritual ematerial».

Sob a guia da fundadora, as jovens irmãsprodigalizam-se «para aliviar o sofrimento,

sem fazer alguma distinção de religião ou declasse social. Tornam-se missionárias da cari-dade, enfrentando com coragem até as epide-mias: algumas morrem contagiadas pelasdoenças, sobretudo durante a terrível cólerade 1854. Velam dia e noite à cabeceira dos en-fermos, dão provas de engenho para salvar vi-das humanas e debelar o contágio, assistem osmoribundos, consolam as famílias, exortam anão perder a esperança».

Nos mesmos anos, «a guerra da Crimeia le-va-as a curar os feridos nos hospitais de cam-po, seguindo o exército nos seus deslocamen-tos». A tal propósito o doutor Kuhn, médicode Niederbronn, escreveu: «Estas jovens pie-dosas não velam simplesmente sobre os doen-tes, mas garantem-lhes dia e noite os cuidadosmais assíduos, expondo-se a todos os riscosde contágio e superando o desgosto, mas en-tram também nas casas miseráveis dos pobres,levando-lhes o conforto da religião. Compor-tam-se com cortesia diante de modos rudes,fazem reinar o asseio onde esta qualidade nãoera conhecida nem apreciada, a dão lições àscrianças até dos subúrbios isolados, sem pro-fessores nem escolas».

Uma lição cheia de atualidade, definiu-a oprefeito Becciu, porque até «nos nossos diasainda há muita necessidade de testemunhar oautêntico amor cristão: ele não é uma ideiaabstrata, mas torna-se concreto na ajuda aopróximo, antes de tudo os frágeis e pobres».De resto, concluiu, em toda a sua vida a beataAfonsa Maria Eppinger testemunhou, com apalavra e as obras, que Jesus não veio só paranos falar do amor do Pai, mas encarnou pes-soalmente a sua imensa misericórdia, curandoquantos encontrava no seu caminho. Soubereconhecer as chagas de Jesus na humanidadepobre e necessitada e por ela fez-se instru-mento do amor misericordioso de Deus».

Um jovem e uma moça, na penumbra de umbazar na periferia de uma metrópole africana,preparam à pressa uma bolsa com documentos.Depois correm para a universidade: têm queentregar ao professor de arquitetura os resulta-dos dos seus estudos. Avaliação superada: o es-forço é premiado, podem continuar a projetaro seu futuro.

É o breve vídeo que acompanha a intençãodo Papa Francisco para o mês de setembro,confiada à rede mundial de oração (www.the-p op evideo.org).

O olhar do Pontífice desta vez focaliza aÁfrica e o apelo à oração tem a concretização

maior riqueza, a mais preciosa, são os jovens».E os jovens «devem poder escolher entre dei-xar-se vencer pelas dificuldades ou transformaras dificuldades em oportunidades». Como fa-zer? «O caminho mais eficaz para os ajudarnesta escolha é investir na sua educação», afir-ma o Papa. Pois, concluiu, «se um jovem nãotiver possibilidade de educação, o que poderáfazer no futuro?».

Traduzido em nove línguas, o vídeo foi pre-parado para a Rede mundial de oração do Pa-pa pela agência La Macchi, que se ocupa daprodução e distribuição, em colaboração comVatican Media que fez a gravação.

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número 37, quinta-feira 13 de setembro de 2018 L’OSSERVATORE ROMANO página 13

Desenvolvimento integral da ÁfricaA função dos meios de comunicação católicos

Credenciais do embaixadorda República de Angola

Na manhã de sexta-feira, 7 de setembroo Pontífice recebeu em audiência Sua Excelência

o senhor Paulino Domingos Baptistanovo embaixador da República de Angola

por ocasião da apresentação das cartascom as quais é acreditado junto da Santa Sé

Publicamos excertos da mensagem do prefeitodo Dicastério para a comunicação à conferênciada União da imprensa católica africana(Ucap), que decorre de 9 a 13 de setembro naÁfrica do Sul.

PAOLO RUFFINI

Por muitos anos o “desenvolvimento” foiconsiderado apenas “crescimento económi-co”. Felizmente, hoje o conceito abrange to-das as dimensões da pessoa humana numapercepção holística e mais complexa, queengloba os aspectos antropológico, históri-co, cultural, económico, político, ecológico,religioso e espiritual (ver a encíclica Popolo-rum progressio, de 1967). Muitos estudiososevidenciaram que a ideia convencional dedesenvolvimento como crescimento econó-mico é obsoleta, depois de ter assistido àtentativa malograda de impor uma ideologiade desenvolvimento a países pobres.

A opinião pública está cada vez maisconsciente da necessidade de encarar o factode que o crescimento económico não criapostos de trabalho nem diminui a desigual-dade. Aumenta unicamente os problemashumanos e ambientais. O Papa Franciscosublinhou que «um desenvolvimento tecno-lógico e económico, que não deixa um mun-do melhor e uma qualidade de vida inte-gralmente superior, não se pode considerarprogresso» (Laudato si’, n. 194).

A mensagem ao povo de Deus, publicadano final da segunda assembleia especial doSínodo dos bispos para a África, faz umapelo a unir as forças espirituais e recordaquanto foi dito pelo Papa Bento XVI na ho-milia durante a missa inaugural do sínodo,ou seja, que a África é o «“pulmão” espiri-tual» para a humanidade atual. Contudo,ele advertiu também que este “pulmão” cor-re o risco de ser afetado pelo duplo vírus domaterialismo e do fanatismo religioso.

O escândalo da Probo Koala na Costa deMarfim em 2006 revelou o comércio ilícitode resíduos tóxicos na África. A África, berçoda humanidade, é usada como aterro para osresíduos tóxicos do mundo industrializado,não obstante a Convenção de Basileia.

Claramente, o continente africano está lu-tando com determinação para preservar opróprio património espiritual contra diver-sos ataques e contaminações. Por esta razão,gostaria de recordar a «Declaração comumdos bispos de África e Madagáscar», nãosuficientemente divulgada, sobre os desen-volvimentos atuais no continente africano,em vista da cimeira a ser realizada de 25 a

27 de setembro em Nova Iorque para a ado-ção de uma «Agenda de desenvolvimentoglobal pós-2015».

Por fim, encorajo a colaboração com Sig-nis, a Associação católica mundial para acomunicação, Cameco, o Conselho dosmeios de comunicação católicos, e o Comitépanafricano das comunicações sociais (Ce-pacs). Apraz-me tomar conhecimento da no-va cooperação com o apoio da Federação damídia católica (Federation des médias catho-liques). É minha esperança sincera que aCatholic News Agency for Africa (Canaa)seja fortalecida, aproveitando do jubileu deouro do Secam (Simpósio das Conferênciasepiscopais de África e Madagáscar). Nuncavamos insistir suficientemente sobre a neces-sidade de colaboração entre os agentes dacomunicação e os mass media católicos nabusca dos meios alternativos para dar voz aquem não tem voz, indicar a corrupção edenunciar as estruturas do mal.

Possa o jubileu ser uma oportunidade pa-ra instituir Ucap em todas as 37 Conferên-cias episcopais a nível nacional e regional,de modo que os jornalistas católicos africa-

nos se possam unir para formar uma equi-pe. Individualmente devem ser embaixado-res de esperança, ajudando a comunicaruma imagem positiva da África!

Possa a Ucap continuar a conectar-se,com organizações nacionais e internacionais,a fim de promover a construção de compe-tências a favor de todos os jornalistas católi-cos africanos.

Possa esta Conferência encorajar-vos edesafiar-vos com base nas vossas tradições eculturas, assim como na vossa secular sabe-doria africana, para enfrentar e responderaos desequilíbrios estruturais que criam emantêm o empobrecimento neste bonitocontinente, não só a nível material, mastambém antropológico e especialmente espi-ritual!

Possa o vosso programa, baseado na dou-trina social católica, com a road map deAfricae munus, ajudar a responder aos desa-fios da reconciliação, justiça e paz, ilumi-nando assim os sinais dos tempos com oEvangelho e restituindo dignidade a todasas crianças africanas, dando a máxima prio-ridade aos jovens.

Sua Excelência o senhor Paulino Do-mingos Baptista, novo embaixador daRepública de Angola junto da SantaSé, nasceu em Luanda, a 8 de julhode 1951. É casado e tem quatro filhos.

Formou-se em economia (Universi-dade Agostinho Neto, 1988) e desem-penhou, entre outros, os seguintescargos: delegado do ministério do In-terior nas províncias de Cunene, Hui-la e Luanda (1976-1990); diretor na-cional do Turismo (1990); vice-minis-tro, secretário de Estado e ministroad interim do Turismo (1991-2016); eministro do Turismo (2016-2017).

Ao novo embaixador da Repúblicade Angola junto da Santa Sé, transmi-timos, no momento em que se preparapara assumir o seu alto cargo, as feli-citações do nosso jornal.

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página 14 L’OSSERVATORE ROMANO quinta-feira 13 de setembro de 2018, número 37

Em Bose a conclusão do congresso de espiritualidade ortodoxa sobre «Discernimento e vida cristã»

Aprender a esperar e a ter confiança

«Sinaxe dos doze apóstolos», ícone do século XIII

ADALBERTO MAINARDI

A exortação evangélica a discernir «estetempo» (Lucas 12, 56), a interpretar «os si-nais dos tempos» (Ma t e u s 16, 3), inspirou otema do vigésimo sexto congresso ecuméni-co internacional de espiritualidade ortodo-xa, «Discernimento e vida cristã», que seconcluiu no dia 8 de setembro no mosteirode Bose. O encontro — no qual participarammetropolitas, bispos, monges e monjas, teó-logos e teólogas pertencentes a todas asIgrejas ortodoxas, à Igreja católica, às Igre-jas da tradição reformada — foi uma ocasiãode reflexão sobre o tempo que estamos a vi-ver, interpretado à luz da Palavra de Deus eatravés da sabedoria da tradição da Igrejaindivisa.

Nesta nossa época da aceleração, na qualpassado e futuro estão submetidos à tiraniado momento, «o discernimento autêntico»,

recordou o Papa Francisco na sua mensa-gem ao congresso, «exige que nos eduque-mos na paciência de Deus e nos seus tem-pos, que não são os nossos». No telegramaque recebemos através do cardeal secretáriode Estado, Pietro Parolin, o Papa exortou aprocurarmos juntos os «critérios de discerni-mento pessoais e comunitários necessáriospara alcançar o conhecimento e a vontadede Deus, na qual reside toda a plenitude davida». Se o exercício do discernimento dizrespeito antes de tudo à vida pessoal docristão, esta ação, frequentemente difícil ecansativa, deve abranger também a vidaeclesial, as relações entre as Igrejas, no tem-po em que vivemos. Foi sobre a constanteinterrelação entre estas duas dimensões, pes-soal e comunitária, rumo à interioridade eao espaço público, que os relatórios apre-sentados no congresso interpelaram os cami-nhos do discernimento na Escritura, na tra-dição do oriente cristão e dos padres monás-ticos, no confronto com as ciências humanase com os eventos da história.

A condição humana essencial de sermospostos diante de uma escolha, que se ex-pressa no mito grego de Hércules na encru-zilhada da indecisão, deve ser relacionadacom a Escritura, na qual Deus revela a Is-

rael o seu constitutivo estar diante de umaopção: «Coloco diante de ti a vida e a mor-te, a felicidade e a maldição». O manda-mento de Deus é sempre pela vida: «Esco-lhe a vida e então viverás... Ama o Senhorteu Deus, escuta a sua voz e permanece-lhefiel» (D e u t e ro n ó m i o 30, 15-16.19-20).

É necessário fazer uma escolha. O discer-nimento é precisamente esta arte da escolha,para «discernir o tempo presente, o kairósno qual Deus age e fala, o tempo da decisão(Enzo Bianchi). Existe um sujeito do discer-nimento: é a pessoa e a sua liberdade. A es-colha ocorre naquele lugar secreto que a Bí-blia chama coração humano, que é a cons-ciência. Todavia, sujeito do discernimento étambém a comunidade que — como narramos Atos dos apóstolos — no tempo da ex-pectativa da vinda do Senhor, é chamada adiscernir sinodalmente a vontade de Deus,com a ajuda do Espírito Santo que age em

sinergia com o corpo eclesial, sem nunca sesubstituir ao agir humano.

Há também o objeto do discernimento: opróprio Cristo. Se no Evangelho o Senhorpede para discernir, reconhecer o tempo(kairós) da sua presença (cf. Lucas 12, 56-57), Paulo pedirá para discernir o corpo doSenhor na comunidade que celebra a Euca-ristia (1 Coríntios 11, 28). Precisamente nestefundamento bíblico, no qual convergem oantigo e o novo testamento, é que a tradiçãocristã antiga, com Santo Ireneu, pôde ofere-cer critérios-guia para discernir a unidadeda Igreja: acolhendo a diversidade e a plu-ralidade, suscitadas pelo próprio Espírito,mas «excluindo a proliferação intelectual (agnose) que acabava sempre por negar a uni-cidade de Jesus de Nazaré» (Irenei Steen-b erg).

Este discernimento eclesial, que deu for-ma às decisões dos concílios ecuménicos,hoje deve ser sempre exercido de novo, notempo em que as Igrejas estão comprometi-das no caminho da unidade: é necessáriodiscernir juntos a verdade, no diálogo teoló-gico, para reconhecer a comum fé batismalem Cristo, superando as divisões criadas nahistória por incompreensões linguísticas,culturais, políticas (Vassiliki Sttathoskosta).

Analogamente, o princípio teológico da“economia” não estabelece uma “d e r ro g a -ção” à exatidão (akribía) dos cânones ecle-siásticos, mas indica o discernimento com oqual toda a tradição canónica deve ser inter-pretada para corresponder à missão salvíficada Igreja. Este princípio é de grande impor-tância no tempo presente, no qual com ur-gência cada vez maior as Igrejas são inter-peladas pelas novas fronteiras das questõeséticas (Patriciu Vlaicu).

No plano da formação da pessoa, «semdiscernimento não se tem outro ponto dereferência exceto as próprias opiniões, e oresultado inevitavelmente será um compor-tamento autodestrutivo» (Kyriaki Fitzge-rald). Os mestres espirituais cristãos ensina-ram os caminhos do discernimento dos“p ensamentos” (em grego loghismoi, em la-tim cogitationes), que distraem a mente dabusca de Deus, tornando-a prisioneira deuma imagem ilusória de si mesma: «A pro-

teção mais segura para o nosso tesouro é co-nhecermo-nos: cada um de nós deve conhe-cer-se a si mesmo tal como é, de modo anão proteger inconscientemente algo diversode si» (Gregório de Nissa, Homilias sobre oCântico dos cânticos).

O congresso analisou como o acompa-nhamento espiritual pode agir juntamentecom a psicologia e as ciências humanas, etambém os riscos — não desconhecidos àtradição — de desvios e falhas, onde não ésalvaguardada a liberdade da pessoa. «En-quanto um ato não concordar com a cons-ciência não é genuíno mas, ironia do desti-no, é uma simples ilusão dos demónios», jáescrevia Barsanufio de Gaza.

O caminho da consciência e da autentici-dade na Igreja hoje, a todos os níveis, passapelo exercício de uma docilidade espiritual,de uma humilde sensibilidade para as moti-vações do próximo: é a via da sinodalidade,de um «caminhar delicadamente juntos, quese encontra no centro do dom do discerni-mento» (John Chryssavgis).

Discernir o tempo significa abrir um futu-ro, não se condenar ao passado. Compreen-der a arte do discernimento é aprender a es-perar e a ter confiança em Deus e no ho-mem.

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número 37, quinta-feira 13 de setembro de 2018 L’OSSERVATORE ROMANO página 15

INFORMAÇÕES

Audiências

O Papa Francisco recebeu em audiên-cias particulares:

No dia 6 de setembroSua Ex.cia o Senhor Václav Kolaja,Embaixador da República Checa,para a apresentação das Cartas Cre-denciais.D. Nicolas Henry Marie Denis The-venin, Arcebispo Titular de Aecla-num, Núncio Apostólico na Guate-mala; D. José Domingo Ulloa Men-dieta, Arcebispo de Panamá (Pana-má); D. Gerardo Antonazzo, Bispode Sora-Cassino-Aquino-Pontecorvo(Itália); e D. Vincenzo Paglia, Presi-dente da Pontifícia Academia para aVi d a .Sua Ex.cia a Senhora Emma Madi-gan, Embaixadora da Irlanda, em vi-sita de despedida.

No dia 7 de setembroSua Ex.cia o Senhor Paulino Domin-gos Baptista, Embaixador da Repú-blica de Angola, para a apresentaçãodas Cartas Credenciais.D. Brian Udaigwe, Arcebispo Titu-lar de Suelli, Núncio Apostólico noBenim e no Togo; D. Corrado Lore-fice, Arcebispo de Palermo (Itália).

No dia 8 de setembroO Senhor Cardeal Marc Ouellet,Prefeito da Congregação para osBisp os.

No dia 10 de setembroO Senhor Cardeal Beniamino Stel-la, Prefeito da Congregação para oC l e ro .

No dia 11 de setembroOs seguintes Prelados da Conferên-cia Episcopal da Venezuela, em visi-ta «ad limina Apostolorum»: D.Juan Carlos Bravo Salazar, Bispo deAcarigua-Araure; D. Luis ArmandoTineo Rivera, Bispo de Carora; D.José de la Trinidad Valera Angulo,Bispo de Guanare; D. Víctor HugoBasabe, Bispo de San Felipe; D.Manuel Felipe Díaz Sánchez, Arce-bispo de Calabozo; D. Alfredo Enri-que Torres Rondón, Bispo de SanFernando de Apure; D. Ramón JoséAponte Fernández, Bispo de Vallede la Pascua; D. Gustavo García Na-ranjo, Bispo de Guarenas; D. RaúlBiord Castillo, Bispo de La Guaira;D. Ulises Antonio Gutiérrez Reyes,Arcebispo de Ciudad Bolívar; D.Helizandro Terán Bermúdez, Bispode Ciudad Guayana; D. Enrique Pé-rez Lavado, Bispo de Maturín; D.Mariano José Parra Sandoval, Arce-bispo de Coro, com o ArcebispoEmérito D. Roberto Lückert León;D. Carlos Alfredo Cabezas Mendo-za, Bispo de Punto Fijo; D. JesúsGonzález de Zárate Salas, Arcebispode Cumaná; D. Jorge Aníbal Quin-tero Chacón, Bispo de Barcelona; D.Jaime José Villarroel Rodríguez, Bis-po de Carúpano; D. Fernando JoséCastro Aguayo, Bispo de Margarita;D. José Manuel Romero Barrios,Bispo de El Tigre; D. José Luis

Azuaje Ayala, Arcebispo de Mara-caibo, com o Bispo Auxiliar D. Án-gel Francisco Caraballo Fermín, ecom o Arcebispo Emérito D. Ubal-do Ramón Santana Sequera; D.Juan de Dios Peña Rojas, Bispo deEl Vigía — San Carlos del Zulia; D.Jesús Alfonso Guerrero Contreras,Bispo de Machiques; Cardeal Balta-zar Enrique Porras Cardozo, Arce-bispo de Mérida, AdministradorApostólico «sede vacante et ad nu-tum Sanctae Sedis» de Caracas, como Bispo Auxiliar de Mérida, D. LuisEnrique Rojas Ruiz, e os Auxiliaresde Caracas, D. Tulio Luis RamírezPadilla, D. José Trinidad FernándezAngulo e D. Enrique José ParravanoMarino, e com o Arcebispo Eméritode Caracas, Cardeal Jorge LiberatoUrosa Savino; o Rev.do Pe. VíctorManuel Roa, Administrador Diocesa-

A 12 de setembro

De D. José Ronaldo Ribeiro, ao go-verno pastoral da Diocese de For-mosa (Brasil).

Nomeações

O Sumo Pontífice nomeou:

No dia 8 de setembro

Núncio Apostólico no Belize, D.Fortunatus Nwachukwu, ArcebispoTitular de Aquaviva, atualmenteNúncio Apostólico em Trindade eTobago, Antígua e Barbuda, Baha-mas, Barbados, Dominica, Jamaica,Granada, República Cooperativa daGuiana, São Cristóvão e Névis, San-ta Lúcia, São Vicente e Granadinas,Suriname, e Delegado Apostóliconas Antilhas.

No dia 12 de setembro

Administrador Apostólico sede va-cante da Diocese de Formosa (Bra-sil), D. Paulo Mendes Peixoto,atualmente Arcebispo Metropolitanode Uberaba.

no de Barinas, com o Bispo Emérito,D. Ramón Antonio Linares Sando-val; D. Pablo Modesto González Pé-rez, Bispo de Guasdualito; D. Mariodel Valle Moronta Rodríguez, Bispode San Cristóbal de Venezuela; D.Cástor Oswaldo Azuaje Pérez, Bispode Trujillo; D. Reinaldo del PretteLissot, Arcebispo de Valencia en Ve-nezuela; D. Saúl Figueroa Albornoz,Bispo de Puerto Cabello; D. PolitoRodríguez Méndez, Bispo de SanCarlos de Venezuela; D. GeorgesKahhalé Zouhaïraty, Exarca Apostóli-co para os fiéis greco-melquitas resi-dentes na Venezuela; D. TimoteoHikmat Beylouni, Exarca Apostólicopara os fiéis sírios residentes na Ve-nezuela; D. Benito Adán MéndezBracamonte, Ordinário Militar paraa Venezuela; D. Felipe GonzálezGonzález, Vigário Apostólico de Ca-roní; D. Jonny Eduardo Reyes Se-quera, Vigário Apostólico de PuertoAyacucho, com o Vigário ApostólicoEmérito, D. José Ángel Divassón Cil-veti; e D. Ernesto José Romero Ri-vas, Vigário Apostólico de Tucupita.

RenúnciasO Santo Padre aceitou a renúncia:

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mente realizámos um encontro comnovos bispos e, como aconteceu ou-tras vezes, convidei Marie Collins afim de que eles pudessem ouvir otestemunho direto de alguém queexperimentou este horror na pró-pria vida» explicando «as conse-quências e as repercussões dos abu-sos no indivíduo, na família e emtoda a comunidade. Este ano MarieCollins não pôde vir, mas foi muitogentil enviando-nos um bonito ví-deo que partilhámos com mais deduzentos novos bispos. Todos osanos, depois deste encontro, muitosbispos vieram ter comigo para medizer que o testemunho de MarieCollins tinha sido o aspeto maisimportante durante toda a semanade conferências».

Eis porque, prosseguiu o purpu-rado, «levar a voz das vítimas à cú-pula da Igreja é crucial para fazerentender a todos como é importan-te que a Igreja dê respostas de ma-neira rápida e correta a cada situa-ção de abuso em qualquer momen-to que se manifeste. Em particular,à luz da situação atual, se a Igrejase demonstrar incapaz de respondercom todo o coração e de fazer des-te tema uma prioridade, as restantesatividades de evangelização, obrasde caridade e de educação, serãoprejudicadas. Esta deve ser a priori-dade sobre a qual nos devemosconcentrar agora».

Interpelado sobre o tema da «res-ponsabilidade local» na proteçãodos menores, o cardeal O’Malley ex-

plicou que «a Comissão foi incansá-vel ao transmitir a mensagem de tu-tela em todo o mundo» ciente deque «há muitos continentes onde es-te é um tema novo, sobre o qual aspessoas não falam muito, às vezes, eem particular, nas terras de missão,onde a Igreja tem deveras poucosrecursos». A tal propósito o entre-vistado referiu que os membros par-ticiparam em mais de cem conferên-cias e estão a programar outras noBrasil, em colaboração com a Con-ferência episcopal, na Colômbia,México e Polónia. «Estamos a tra-balhar diligentemente também naslinhas-guia — acrescentou — e umadas últimas iniciativas foi desenvol-ver instrumentos de averiguação quepossam ser utilizados pelas confe-rências episcopais para verificar aimplementação e o respeito das mes-mas. Deste modo, quando os bisposvierem a Roma, em visita “ad limi-na”, poderão demonstrar o modocomo concretizaram as linhas-guiaque cada conferência episcopal foiencarregada de aplicar pela Santa Sée pelo próprio Santo Padre».

Além disso, observou o cardeal,os episcopados nacionais «engaja-ram-nos no que diz respeito à edu-cação e formação. Uma das nossasiniciativas agora é criar S u r v i v o rs ’advisory panels (Painéis consultivosde sobreviventes) em diversos conti-nentes. O primeiro será no Brasil,mas demos início ao processo tam-bém na África e na Ásia. Deste mo-do formaremos grupos de vítimasque poderão dar conselhos às con-ferências episcopais locais».

Por fim, o purpurado esclareceuo papel que desempenha o organis-mo por ele presidido. «Às vezes aspessoas apresentam-me como o pre-sidente da “comissão sobre o abusosexual” e eu corrijo-as dizendo quea nossa competência consiste naproteção dos menores: é verdadeira-mente um dever que concerne aprevenção. Não somos um organis-mo que se ocupa de casos que jáaconteceram ou de situações parti-culares de abuso. Estamos a tentarmudar o futuro a fim de que não serepitam estas tristes histórias; e de-sempenhamos esta tarefa através daadoção de recomendações que apre-sentamos ao Santo Padre. Certa-mente o nosso dever consiste empromover também algumas linhas-guia que considerem a salvaguardae a prevenção. Além disso, realiza-mos programas de educação e for-mação para quantos fazem parte dacúpula da Igreja, de tal forma queos nossos bispos, sacerdotes e reli-giosos se conscientizem da gravida-de da questão e disponham dos ins-trumentos para ter como prioridadea tutela dos menores e o cuidadopastoral da vítima. Este é o objetivoque orienta a nossa atividade». Deresto, concluiu com um antigo dita-do, «an ounce of prevention is wortha pound of cure» [uma onça de pre-venção vale um quilo de cura] e «onosso trabalho abrange a prevençãoe procura tornar a Igreja o lugarmais seguro para as crianças e osadultos vulneráveis».

Respostas claras

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página 16 L’OSSERVATORE ROMANO quinta-feira 13 de setembro de 2018, número 37

Fazer o bemsem ostentação

ANGELUS

Deixemo-nos envolverna relação de amor com Jesus

e seremos capazes de realizar boas obrasque perfumam de Evangelho

(@Pontifex_pt)

O bem «deve ser praticado sem clamores, semostentação, sem “tocar a trombeta”: deve serpraticado em silêncio», recordou o PapaFrancisco durante o Angelus de domingo 9 desetembro, na praça de São Pedro, comentandoo trecho evangélico de Marcos (7, 31-37), quenarra a cura do surdo-mudo. Eis a meditaçãodo Santo Padre.

Prezados irmãos e irmãs, bom dia!O Evangelho deste domingo (cf. Mc 7, 31-37) narra o episódio da cura milagrosa deum surdo-mudo, realizada por Jesus. Trou-xeram-lhe um surdo-mudo, rogando-lhe quelhe impusesse as mãos. Contudo, Jesus fazvários gestos sobre ele: antes de tudo, levou-o para um lugar apartado, distante da mul-tidão. Nessa ocasião, assim como noutras,Jesus age sempre com discrição. Não querimpressionar o povo, não está à procura dapopularidade nem do sucesso, mas só desejafazer o bem às pessoas. Com esta atitude,Ele ensina-nos que o bem deve ser praticadosem clamores, sem ostentação, sem “tocar atromb eta”. Deve ser praticado em silêncio.

Depois de se ter afastado, Jesus pôs osdedos nos ouvidos do surdo-mudo e tocoua sua língua com a saliva. Este gesto remetepara a Encarnação. O Filho de Deus é umhomem inserido na realidade humana: fez-sehomem, e portanto pode compreender acondição dolorosa de outro homem e inter-vém com um gesto no qual está envolvida a

há uma segunda cura, talvez mais difícil, etrata-se da cura do medo. A cura do medoque nos impele a marginalizar o enfermo, amarginalizar o sofredor, o deficiente. E exis-tem muitos modos de marginalizar, até me-diante uma pseudopiedade, ou eliminando oproblema; permanecemos surdos e mudos

tá», para viver em comunhão com Deus ecom os irmãos.

No final da prece dominical, antes de saudaralguns dos grupos presentes, o Pontíficerecordou as iniciativas marianas promovidasno santuário de Loreto, por ocasião da festa danatividade da Virgem, e falou sobre a religiosafrancesa Afonsa Maria Eppinger, beatificadana tarde de domingo em Estrasburgo. A seguir,as palavras proferidas por Francisco.

Estimados irmãos e irmãs!

Ontem, em Loreto, no Pontifício Santuárioda Santa Casa, celebrou-se a Festa da Nati-vidade de Maria e teve início a proposta deespiritualidade para as famílias: a Casa deMaria, Casa de cada família. Confiemos àVirgem Santa as iniciativas do Santuário equantos, de vários modos, nelas participa-re m .

Hoje, em Estrasburgo, celebra-se a Beati-ficação de Afonsa Maria Eppinger, fundado-ra das Irmãs do Santíssimo Salvador. De-mos graças a Deus por esta mulher corajosae sábia que, sofrendo, silenciando e rezando,deu testemunho do amor de Deus principal-mente a quantos estavam doentes no corpoe no espírito. Todos juntos, um aplauso ànova Beata!

Saúdo com afeto todos vós, romanos eperegrinos provenientes de vários países: asfamílias, os grupos paroquiais e as associa-ções.

Saúdo os fiéis da diocese de Como, os jo-vens participantes no encontro promovidopela Obra da Igreja e os crismados de Pre-valle.

Desejo bom domingo a todos. E, por fa-vor, não vos esqueçais de rezar por mim.Bom almoço e até mais ver!

própria humanidade. Ao mesmo tempo, Je-sus quer fazer entender que o milagre serealiza por causa da sua união com o Pai:por isso, elevou os olhos ao céu. Depois,emitiu um suspiro e pronunciou a palavradecisiva: «Efatá», que significa “A b re - t e ! ”. Eimediatamente o homem ficou curado: osouvidos abriram-se-lhe, a língua libertou-se-lhe. A cura foi para ele uma «abertura» aosoutros e ao mundo.

Esta narração do Evangelho ressalta a exi-gência de uma dúplice cura. Antes de tudo, acura da doença e do sofrimento físico, pararestituir a saúde do corpo; embora esta fina-lidade não seja completamente alcançávelno horizonte terreno, não obstante tantosesforços da ciência e da medicina. Contudo,

sos irmãos sofredores e necessitados de aju-da, evitando o egoísmo e o fechamento docoração. É precisamente o coração, ou seja,o núcleo profundo da pessoa, que Jesusvem «abrir», libertar, para nos tornar capa-zes de viver plenamente a relação comDeus e com o próximo. Ele fez-se homemporque o homem, que o pecado tornou in-teriormente surdo e mudo, possa ouvir avoz de Deus, a voz do Amor que fala aoseu coração e assim, por sua vez, aprenda afalar a linguagem do amor, traduzindo-aem gestos de generosidade e de doação desi mesmo.

Maria, Aquela que se «abriu» totalmenteao amor do Senhor, nos conceda experi-mentar cada dia, na fé, o milagre do «Efa-

diante das dores das pessoas mar-cadas por doenças, angústias e di-ficuldades. Demasiadas vezes o en-fermo e o sofredor tornam-se umproblema, enquanto deveriam serocasião para manifestar a solicitu-de e a solidariedade de uma socie-dade em relação aos membrosmais frágeis.

Jesus revelou-nos o segredo deum milagre que também nós po-demos repetir, tornando-nos pro-tagonistas do «Efatá», daquelapalavra “A b re - t e ! ” com a qual Elerestituiu a palavra e a audição aosurdo-mudo. Trata-se de nosabrirmos às necessidades dos nos-