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7/26/2019 Uma metodologia emprica para a identificao e descrio de ilocues e a sua aplicao para o estudo da Orde
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Bruno Neves Rati de Melo Rocha
Uma metodologia emprica para a identificao e descrio
de ilocues e a sua aplicao para o estudo da Ordem
em PB e Italiano
Belo HorizonteFaculdade de Letras da UFMG
Fevereiro de 2016
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Bruno Neves Rati de Melo Rocha
Uma metodologia emprica para a identificao e descrio
de ilocues e a sua aplicao para o estudo da Ordem
em PB e Italiano
Tese apresentada ao Programa de Ps-Graduao em Estudos
Lingusticos da Universidade Federal de Minas Gerais, comorequisito parcial para obteno do ttulo de Doutor emLingustica.
Orientador: Prof. Dr. Tommaso Raso.Coorientador: Prof. Dr. Joo Antnio de Moraes.rea de concentrao: Lingustica Terica e Descritiva.Linha de Pesquisa: Estudos Lingusticos Baseados emCorpora.
Belo HorizonteFaculdade de Letras da UFMGFevereiro de 2016
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AGRADECIMENTOS
Meu orientador Tommaso Raso pela dedicao sem fim, pela sabedoria compartilhada
e pela pacincia durante todo esse percurso, desde a minha Iniciao Cientfica at a
concluso dessa tese.
Heliana Mello pelas contribuies diretas e indiretas nesse e outros trabalhos e por ter
criado, junto com o Tommaso, um grupo de pesquisa em que so valorizados o trabalho em
equipe, a solidariedade e a busca contnua pelo conhecimento.
Emanuela Cresti e Massimo Moneglia por terem me acolhido no LABLITA e por
terem dedicado a mim tanta ateno, proporcionando uma experincia mpar de
aprendizagem.Joo Moraes pelas contribuies nessa pesquisa e por toda a receptividade no Rio.
Plnio Barbosa, Ernesto Perini e Rui Rothe-Neves pela leitura cuidadosa e pela
discusso proveitosa.
Alessandro, Lorenzo, Lorena e Pan, pela amizade e pelas discusses.
Colegas e ex-colegas do LEEL, com quem tive o prazer de trabalhar junto nesses anos
e de construir boas amizades. Em particular, agradeo a Cassiano pelos alinhamentos, a
Victor e Giulia pela ajuda com os experimentos e a Adriana, Andressa, Crysna, Fred, Lucia,Luciana, Luis, Marcelo, Maryual e Priscila pelo trabalho em conjunto.
Martha e Marcus, Beth, Dinorah e Rose pelo apoio irrestrito e incondicional e pelo
exemplo.
Julia, pelo companheirismo e carinho.
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*BMR: tem vez que t eu e a Bel aqui +*BMR: "t eu e a Bel aqui" / timo hhh //
*HEL: por que que a gente fala assim ?*BMR: a gente fala assim //
(bfamdl35)
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Essa pesquisa foi desenvolvida com financiamento da CAPESMaro/2012 a Fevereiro/2016
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RESUMO
Esse trabalho apresenta uma nova proposta de metodologia emprica para o estudo deilocues e a aplica para uma investigao da ilocuo de Ordem em quatro de suas possveisatitudes (atitude de Referncia, Cortesia, Instruo e Urgncia) em Portugus Brasileiro (PB)e em Italiano. A base terica desse trabalho a Language into Act Theory(L-AcT) (CRESTI,2000; RASO, 2012; MONEGLIA; RASO, 2014), que define o enunciado como a menorsequncia lingustica dotada de interpretabilidade pragmtica e prosdica, identificvel pormeio de quebras prosdicas terminais. A ilocuo seria a ao verbal realiza pelo falantesobre o seu interlocutor por meio de um enunciado. Para que um enunciado realize umailocuo, deve apresentar um conjunto de propriedades prosdicas associadas a ela, chamado
forma prosdica ilocucionria. A atitude definida como a maneira pela qual a ilocuo realizada (irritada, corts, sedutora, autoritria), expressa prosodicamente em toda a unidadetonal. A metodologia aqui apresentada consiste de uma fase emprica e uma faseexperimental: (a) identificao de ilocues em corpus, por meio de uma anlise pragmtica
dos enunciados; (b) eliciao, em contexto controlado, de enunciados pragmaticamentecompatveis com os encontrados em corpus e descrio da forma prosdica ilocucionria. Pormeio da anlise de dados do C-ORAL-BRASIL corpus de fala espontnea do PortugusBrasileiro (RASO; MELLO, 2012) e de enunciados eliciados em contexto artificial,observou-se que a ilocuo de Ordem realizada, em PB, por enunciados cujo ncleoapresenta dois movimentos de f0. O primeiro um movimento nivelado ou ascendente com
pico alinhado primeira postnica do enunciado. O segundo sempre um movimentodescendente. O 1 pico de f0 apresenta uma variao entre 85% e 95% a depender da atitude edo tamanho de contedo locutivo com que realizada. O ataque e o valor mnimo de f0apresentam uma variao expressivamente menor (33-45% para o ataque e 17-29% para ovalor mnimo), sugerindo que a excurso de f0 na ilocuo de Ordem seja regulada pela altura
do 1 pico. Alm disso, foi notado que a primeira vogal tnica do ncleo deve apresentar umadurao compatvel da ltima, a qual deve ser realizada em um movimento descendente. Aanlise de enunciados em Italiano eliciados em contexto artificial mostrou que as principais
propriedades observadas para a ilocuo de Ordem e suas atitudes em PB se confirmam emItaliano. Alm disso, durante o exame do C-ORAL-BRASIL, foram encontradas uma srie deilocues ainda no presentes no repertrio LABLITA (MONEGLIA, 2011). So elas: Oferta,Pergunta de Confirmao, Permisso para Falar, Pedido de Repetio Total, Manifestao deAteno Continuada e Pedido de Concordncia. Por fim, esse trabalho ressalta a importnciade uma perspectiva pragmtica de base emprica para o estudo dos atos de fala, aponta anecessidade do refinamento dos parmetros pragmtico-cognitivos usados na definio dasilocues e explora a interao prosdica entre as categorias de ilocuo e atitude na
construo do enunciado, aprofundando o conceito deforma prosdica ilocucionria.
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ABSTRACT
This thesis sets forth a new empirical methodology for the study of illocutions and applies itto the study of the illocution of Order in four of its possible attitudinal realizations (i.e.attitude of Reference, Politeness, Instruction and Authority) in Brazilian Portuguese (BP) andItalian. The methodology involves the investigation of the prosodic interplay between thecategories of illocution and attitude in the realization of utterances, delving into the concept ofillocutionaryprosodic formand highlighting the importance of a pragmatic approach based onempirical observations for the study of speech acts. The theoretical basis for this dissertationis theLanguage into Act Theory (CRESTI, 2000; RASO, 2012; MONEGLIA; RASO, 2014),in which the utteranceis defined as the smallest linguistic sequence that shows pragmatic and
prosodic interpretability signaled by a terminal prosodic break. Illocution is regarded as theverbal action performed by the speaker on the addressee by means of the utterance. For anutterance to be able to accomplish an illocution, it must show a set of prosodic propertiesassociated with the illocution; this set of properties is called illocutionary prosodic form.
Attitude is defined as the manner in which the illocution is realized (e.g. irritated, polite,enticing, authoritarian). The prosodic scope of the attitude is the entire tone unit. Themethodology here proposed comprises two phases, one empirical and the other experimental:(a) identification of illocutions in a corpus through a pragmatic analysis of utterances; (b)elicitation in a controlled environment of utterances that are pragmatically compatible withthe ones found in the corpus and description of the illocutionary prosodic form. By analyzingthe data obtained from the C-ORAL-BRASIL a spontaneous speech corpus of BrazilianPortuguese (RASO; MELLO, 2012)and the utterances elicited in simulated environment, itwas possible to observe that the illocution of Order in BP is realized by utterances whosenuclei show two f0 movements. The first one may be flat or rising, with the f0 peak alignedwith the first post-stressed syllable of the utterance. The second one is always a falling
movement. The first f0 peak shows a variation ranging from 85% to 95%, depending on theattitude and the amount of locutive content of the utterance. The onset of the unit and theminimum f0 value show a much smaller variation (33-45% for the onset and 17-29% for theminimum value), which suggests that the f0 contour of the illocution of Order may correlatewith the level of the first peak. Furthermore, it was observed that the duration of the firstnuclear, stressed vowel must be compatible with the duration of the last nuclear, stressed one,which in turn must be realized in a falling movement. The analysis of Italian utterances thatwere elicited in artificial environment showed that the fundamental properties that wereobserved for the illocution of Order and its attitudes in BP also apply to Italian. Finally, thisdissertation documents several illocutions found in the C-ORAL-BRASIL corpus that areabsent in the inventory proposed by the LABLITA group (MONEGLIA, 2011). Those
illocutions are as follows: Offer, Confirmation Question, Permission to Speak, Request forComplete Repetition, Expression of Sustained Attention, and Request for Assent.
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LISTA DE FIGURAS
FIGURA 3.1Oscilograma e curso de f0 de (3.6) ............................................................................... 42
FIGURA 3.2Oscilograma e curso de f0 de (3.7) ............................................................................... 43FIGURA 3.3Curso de f0 do enunciado [103]. Ilocuo: Confirmao ............................................. 46
FIGURA 3.4Curso de f0 do enunciado [104]. Ilocuo: Incredulidade ............................................ 46
FIGURA 3.5Curso de f0 do enunciado [106]. Ilocuo: Concluso ................................................. 46
FIGURA 3.6Oscilograma e curso de f0 de (3.12)Pri.................................................................... 51
FIGURA 3.7Oscilograma e curso de f0 de (3.13)Tommaso......................................................... 51
FIGURA 3.8Oscilograma e curso de f0 de (3.14) Mrcia.......................................................... 51
FIGURA 3.9Tpico de (3.20), com poro de ligao em destaque ................................................ 54
FIGURA 3.10Curso de f0 de (3.21) .................................................................................................. 58FIGURA 3.11Sntese de (3.21) sem os movimentos irrelevantes de f0 ............................................ 58
FIGURA 3.12Sntese de (3.21) sem movimentos relevantes de f0 ................................................... 58
FIGURA 3.13Curva de f0 de (3.22) .................................................................................................. 60
FIGURA 3.14Curva de f0 de (3.23) .................................................................................................. 60
FIGURA 3.15Curso de f0 do Tpico de (3.27) ................................................................................. 66
FIGURA 3.16Curso de f0 do Tpico de (3.28) ................................................................................. 66
FIGURA 3.17Curso de f0 do Tpico de (3.29) ................................................................................. 66
FIGURA 3.18Curso de f0 do Tpico de (3.30) ................................................................................. 67FIGURA 3.19Curso de f0 do Tpico de (3.31) ................................................................................. 67
FIGURA 3.20Curso de f0 do Tpico de (3.32) ................................................................................. 67
FIGURA 3.21Curso de f0 do Tpico de (3.33) ................................................................................. 68
FIGURA 3.22Curso de f0 do Apndice de Tpico de (3.34) ............................................................ 68
FIGURA 3.23Curso de f0 do Apndice de Tpico de (3.35) ............................................................ 69
FIGURA 3.24Curso de f0 dos Parentticos de (3.36) ....................................................................... 70
FIGURA 3.25Curso de f0 do Parenttico de (3.37) .......................................................................... 70
FIGURA 3.26Curso de f0 do Introdutor Locutivo de (3.38) ............................................................ 71FIGURA 3.27Curso de f0 do Introdutor Locutivo de (3.39) ............................................................ 71
FIGURA 3.28Curso de f0 do Introdutor Locutivo de (3.40) ............................................................ 72
FIGURA 3.29Curso de f0 do Incipitrio de (3.41) ........................................................................... 73
FIGURA 3.30Curso de f0 do Ftico de (3.42) .................................................................................. 74
FIGURA 3.31Curso de f0 do Ilocuo de Chamamento de (3.43) ................................................... 74
FIGURA 3.32Curso de f0 do Alocutivo de (3.44) ............................................................................ 75
FIGURA 3.33Curso de f0 do Conativo de (3.45) ............................................................................. 75
FIGURA 3.34Curso de f0 do Expressivo de (3.46) .......................................................................... 76FIGURA 3.35Curso de f0 do Conector Discursivo de (3.47) ........................................................... 76
FIGURA 3.36Curso de f0 da Escanso de (3.48) ............................................................................. 77
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FIGURA 3.37Curso de f0 dos Comentrios Mltiplos de lista de (3.49) ......................................... 78
FIGURA 3.38Curso de f0 dos Comentrios Mltiplos de comparao de (3.50)............................. 79
FIGURA 3.39Curso de f0 dos Comentrios Mltiplos de pedido de confirmao de (3.51) ........... 79
FIGURA 3.40Curso de f0 dos Comentrios Mltiplos de relao necessria de (3.52) ................... 79FIGURA 3.41 Oscilograma, e curso de f0 dos enunciados de Pergunta Total com atitude no
marcada(ao centro), Pergunta Total com atitude Engajada ( esquerda) e PerguntaTotal com atitude Irritada ( direita) ........................................................................ 89
FIGURA 4.1Curso de f0 e diviso em fones de (4.1)rimetti a posto.......................................... 106
FIGURA 4.2Curso de f0 e diviso em fones de (4.2)domande................................................... 107
FIGURA 4.3Curso de f0 e diviso em fones de (4.3)luniversit............................................... 107
FIGURA 4.4Perfil prosdico de (4.6) (esquerda) e sua estilizao (direita)brontolalo.............. 116
FIGURA 4.5Sobreposio do perfil de f0 das ilocues de Instruo (cinza) ................................ 118
FIGURA 4.6Sobreposio do perfil de f0 das ilocues de Instruo (cinza) ................................ 121
FIGURA 4.7Esquema dos enunciados gravados para a anlise prosdica da ilocuo de Ordem . 127
FIGURA 4.8Escala do questionrio pr-teste piloto ....................................................................... 130
FIGURA 4.9Escala usada no teste piloto e na verso definitiva do teste de percepo ................. 133
FIGURA 5.1 Oscilograma, curso de f0 e diviso em fones de (5.1) Ordem com atitude deRefernciav o preo........................................................................................... 138
FIGURA 5.2 Oscilograma, curso de f0 e diviso em fones de (5.4) Ordem com atitude deAutoridadebaixa essa msica.............................................................................. 138
FIGURA 5.3Oscilograma, curso de f0 e diviso em fones de (5.8) Ordem com atitude de Irritaovolta aqui................................................................................................................ 138
FIGURA 5.4 Oscilograma, curso de f0 e diviso em fones de (5.10) Ordem com atitude deInsistncialeva ele................................................................................................ 139
FIGURA 5.5 Oscilograma, curso de f0 e diviso em fones de (5.15) Ordem com atitude deInteresseme explica esse jogo............................................................................... 139
FIGURA 5.6 Oscilograma, curso de f0 e diviso em fones de (5.14) Ordem com atitude deCortesiapode arredar o p um pouquinho pra trs............................................... 139
FIGURA 5.7 Manipulao do curso de f0 de (5.14) no Praat, transformando o movimentoascendente final em um movimento descendente. O curso de f0 resultante da
manipulao corresponde linha contnua e o curso original representado pelalinha tracejadapode arredar o p um pouquinho pra trs................................... 141
FIGURA 5.8 Manipulao do curso de f0 de (5.12) no Praat, transformando a parte final domovimento descendente em um movimento ascendente. O curso de f0 resultante damanipulao corresponde linha contnua e o curso original representado pelalinha tracejadad a almofada marrom pra Hel................................................. 141
FIGURA 5.9 Oscilograma, curso de f0 e diviso em fones de enunciado produzido na cena deeliciao de Ordem com Refernciapega o livro(udiopb_referncia_p_1) ... 144
FIGURA 5.10 Oscilograma, curso de f0 e diviso em fones de enunciado produzido na cena deeliciao de Ordem com Refernciapega o livro preto(udiopb_referncia_m_1)................................................................................................................................ 145
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FIGURA 5.11 Oscilograma, curso de f0 e diviso em fones de enunciado produzido na cena deeliciao de Ordem com Referncia pega o livro preto pra mim (udiopb_referncia_g_1) ................................................................................................. 145
FIGURA 5.12 Oscilograma, curso de f0 e diviso em fones de enunciado produzido na cena de
eliciao de Ordem com Cortesiapega o livro(udiopb_cortesia_p_1) ........... 146FIGURA 5.13 Oscilograma, curso de f0 e diviso em fones de enunciado produzido na cena de
eliciao de Ordem com Cortesiapega o livro preto(udiopb_cortesia_m_1). 146
FIGURA 5.14 Oscilograma, curso de f0 e diviso em fones de enunciado produzido na cena deeliciao de Ordem com Cortesia pega o livro preto pra mim (udiopb_cortesia_g_1) .................................................................................................... 146
FIGURA 5.15Oscilograma, curso de f0 e diviso em fones de enunciado sem Irritao produzido nacena de eliciao de Ordem com Irritao pega o livro (udiopb_irritao_sem_p_1) ........................................................................................... 148
FIGURA 5.16Oscilograma, curso de f0 e diviso em fones de enunciado sem Irritao produzido na
cena de eliciao de Ordem com Irritao pega o livro preto (udiopb_irritao_sem_m_1) .......................................................................................... 148
FIGURA 5.17Oscilograma, curso de f0 e diviso em fones de enunciado sem Irritao produzido nacena de eliciao de Ordem com Irritao pega o livro preto pra mim (udiopb_irritao_sem_g_1) ........................................................................................... 148
FIGURA 5.18 Oscilograma, curso de f0 e diviso em fones de enunciado com pouca Irritaoproduzido na cena de eliciao de Ordem com Irritao pega o livro (udiopb_irritao_pouca_p_1) ....................................................................................... 149
FIGURA 5.19 Oscilograma, curso de f0 e diviso em fones de enunciado com pouca Irritaoproduzido na cena de eliciao de Ordem com Irritao pega o livro preto(udio
pb_irritao_pouca_m_1) ...................................................................................... 149FIGURA 5.20 Oscilograma, curso de f0 e diviso em fones de enunciado com pouca Irritao
produzido na cena de eliciao de Ordem com Irritao pega o livro preto pramim(udiopb_irritao_pouca_g_1) .................................................................... 149
FIGURA 5.21 Oscilograma, curso de f0 e diviso em fones de enunciado com muita Irritaoproduzido na cena de eliciao de Ordem com Irritao pega o livro (udiopb_irritao_muita_p_1) ........................................................................................ 150
FIGURA 5.22 Oscilograma, curso de f0 e diviso em fones de enunciado com muita Irritaoproduzido na cena de eliciao de Ordem com Irritao pega o livro preto(udiopb_irritao_muita_m_1) ....................................................................................... 150
FIGURA 5.23 Oscilograma, curso de f0 e diviso em fones de enunciado com muita Irritaoproduzido na cena de eliciao de Ordem com Irritao pega o livro preto pramim(udiopb_irritao_muita_g_1) ..................................................................... 150
FIGURA 5.24 Oscilograma, curso de f0 e diviso em fones de enunciado produzido na cena deeliciao de Ordem com Urgnciapega o livro(udiopb_urgncia_p_1) ........ 151
FIGURA 5.25 Oscilograma, curso de f0 e diviso em fones de enunciado produzido na cena deeliciao de Ordem com Urgncia pega o livro preto (udio pb_urgncia_m_1)................................................................................................................................ 151
FIGURA 5.26 Oscilograma, curso de f0 e diviso em fones de enunciado produzido na cena deeliciao de Ordem com Urgncia pega o livro preto pra mim (udio
pb_urgncia_g_1) ................................................................................................... 152
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FIGURA 5.27 Sobreposio das curvas de f0 dos enunciados de Ordem de com locuo mdia(pega o livro preto). Em linhas contnuas, os trs takes com atitude de Cortesia.Em linhas pontilhadas, os trs takes com atitude de Referncia ............................. 162
FIGURA 5.28Sobreposio dos cursos de f0 dos enunciados da ilocuo de Ordem com atitude de
Referncia (preto), Urgncia (azul claro), Cortesia (verde), sem Irritao (vermelho),pouca Irritao (azul escuro) e muita Irritao (rosa)pega o livro...................... 169
FIGURA 5.29Sobreposio dos cursos de f0 dos enunciados da ilocuo de Ordem com atitude deReferncia (preto), Urgncia (azul claro), Cortesia (verde), sem Irritao (vermelho),pouca Irritao (azul escuro) e muita Irritao (rosa)pega o livro preto............ 170
FIGURA 5.30Sobreposio dos cursos de f0 dos enunciados da ilocuo de Ordem com atitude deReferncia (preto), Urgncia (azul claro), Cortesia (verde), sem Irritao (vermelho),pouca Irritao (azul escuro) e muita Irritao (rosa) pega o livro preto pra mim................................................................................................................................ 170
FIGURA 5.31Manipulaes das quatro primeiras slabas fonticas (pega o livro preto) do take 2
da Ordem com pouca Irritao e locuo grande (pega o livro preto pra mim). esquerda, manipulao do curso de f0 da ltima tnica, transformando-a em ummovimento descendente. Ao centro, manipulao da durao da ltima tnica,alongando-a. direita, manipulao do curso de f0 e da durao da ltima tnica 181
FIGURA 5.32Manipulao das quatro primeiras slabas fonticas (pega o livro preto) do take 2 daOrdem com pouca Irritao e locuo grande (pega o livro preto pra mim).Manipulao do curso de f0 da ltima tnica, transformando-a em um movimentodescendente e reduo da durao da primeira tnica ............................................ 183
FIGURA 5.33 Sobreposio das curvas de f0 dos enunciados de Ordem de com locuo pequena(prendi il libro). Em linhas contnuas, os trs takes com atitude de Cortesia. Emlinhas pontilhadas, os trs takes com atitude de Referncia ................................... 189
FIGURA 5.34 Sobreposio dos perfis de f0 com locuo pequena, no programa Praat, da ilocuode Ordem com atitude de Referncia (preto), Urgncia (azul claro), Cortesia (verde),sem Irritao (vermelho), pouca Irritao (azul escuro) e muita Irritao (rosa). esquerda, enunciados em PB (pega o livro). direita, enunciados em Italiano(prendi il libro) ....................................................................................................... 193
FIGURA 5.35Sobreposio dos perfis de f0 com locuo mdia, no programa Praat, da ilocuo deOrdem com atitude de Referncia (preto), Urgncia (azul claro), Cortesia (verde),sem Irritao (vermelho), pouca Irritao (azul escuro) e muita Irritao (rosa). esquerda, enunciados em PB (pega o livro preto). direita, enunciados em Italiano(prendi il libro nero) ............................................................................................... 193
FIGURA 5.36Sobreposio dos perfis de f0 com locuo grande, no programa Praat, da ilocuo deOrdem com atitude de Referncia (preto), Urgncia (azul claro), Cortesia (verde),sem Irritao (vermelho), pouca Irritao (azul escuro) e muita Irritao (rosa). esquerda, enunciados em PB (pega o livro preto pra mim). direita, enunciados emItaliano (prendi il libro nero per favore) ................................................................ 194
FIGURA 5.37Sobreposio do curso de f0 de enunciados com atitude de Cortesia (linhas contnuas)e Referncia (linhas tracejadas) com locuo pequena, mdia e grande. As setasindicam a altura do ponto mnimo de f0 de cada enunciado ................................... 197
FIGURA 6.1 Oscilograma, curso de f0 e diviso em fones de (6.2) Pergunta de Confirmao essa a sacola de po............................................................................................. 209
FIGURA 6.2Oscilograma, curso de f0 e diviso em fones de (6.3) Ofertac quer uma almofada
................................................................................................................................ 210
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FIGURA 6.3 Oscilograma, curso de f0 e diviso em fones do enunciado eliciado por cena deeliciao de Pergunta de Confirmao com atitude de Referncia suco de pssego................................................................................................................................ 211
FIGURA 6.4 Oscilograma, curso de f0 e diviso em fones do enunciado eliciado por cena de
eliciao de Oferta com atitude de Refernciasuco de pssego.......................... 211FIGURA 9.1Questionrio usado no pr-teste piloto..............................................................254
FIGURA 10.1Primeira tela de instrues do teste de percepo no programaPsychopy.......255
FIGURA 10.2Segunda tela de instrues do teste de percepo no programaPsychopy.......255
FIGURA 10.3Tela de resposta do teste de percepo no programaPsychopy.......................255
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LISTA DE QUADROS
QUADRO 2.1Classes ilocucionrias de Sbis .................................................................................. 33
QUADRO 3.1 Quadro de referncia das ilocues encontradas no corpus LABLITA acrescido dasilocues identificadas por essa pesquisa e por estudos conduzidos no LEEL ........ 47
QUADRO 3.2Macro-classes ilocucionrias da L-AcT ..................................................................... 48
QUADRO 3.3Parmetros pragmtico-cognitivos das ilocues....................................................... 55
QUADRO 3.4Movimentos de f0 identificados pelo IPO .................................................................. 59
QUADRO 3.5Padro tonal x padro informacional ......................................................................... 62
QUADRO 3.6Propriedades dos diferentes tipos de fenmenos afetivos .......................................... 86
QUADRO 4.1Arquitetura dos corpora C-ORAL-ROM ................................................................... 99
QUADRO 4.2Descrio pragmtico-cognitiva do exemplo de Ordem e de Instruo ................... 113QUADRO 4.3Forma prosdica de Ordem e forma prosdica de Instruo .................................... 118
QUADRO 4.4Parmetros de eliciao das ilocues de Ordem e Instruo .................................. 122
QUADRO 4.5Vdeos da ilocuo de Ordem com diferentes atitudes ............................................ 129
QUADRO 4.6Resultado do pr-teste piloto para o Grupo A (5 sujeitos) ....................................... 131
QUADRO 4.7Resultado do pr-teste piloto para o Grupo B (4 sujeitos) ....................................... 131
QUADRO 4.8Vdeos de Ordem com diferentes atitudes usados no teste piloto ............................ 132
QUADRO 4.9Resultado do teste piloto para o Grupo A (5 sujeitos) ............................................. 134
QUADRO 4.10Resultado do teste piloto para o Grupo B (3 sujeitos) ............................................ 134QUADRO 5.1Parmetros utilizados na cena de Ordem ................................................................. 143
QUADRO 5.2Ncleos dos enunciados de Ordem com atitude de Referncia ................................ 153
QUADRO 5.3Ncleos dos enunciados de Ordem com muita Irritao .......................................... 154
QUADRO 5.4Ncleos dos enunciados de Ordem com Cortesia .................................................... 154
QUADRO 5.5Nome dos arquivos de udio e dos arquivos de TextGrid dos enunciados gravados nascenas de eliciao em PB ........................................................................................ 156
QUADRO 5.6Nome dos arquivos de udio e dos arquivos de TextGrid dos enunciados gravados nascenas de eliciao em Italiano ................................................................................. 184
QUADRO 5.7Vdeos assistidos por cada grupo no teste de percepo .......................................... 203
QUADRO 6.1 Vdeos do teste de substituio entre as ilocues de Pergunta de Confirmao eOferta................................................................................................................................................... 212
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LISTA DE TABELAS
TABELA 3.1Enunciados simples e complexos com e sem verbo nos textos dialgicos do C-ORAL-
BRASIL e do C-ORAL-ROM ....................................................................................... 83TABELA 3.2 Enunciados simples e complexos com e sem verbo nos textos monolgicos do C-
ORAL-BRASIL e do C-ORAL-ROM ........................................................................... 83
TABELA 3.3 Enunciados simples e complexos verbais e no verbais no subcorpus do C-ORAL-BRASIL ......................................................................................................................... 84
TABELA 4.1Idade dos falantes do C-ORAL-BRASIL .................................................................... 103
TABELA 4.2Escolaridade dos falantes do C-ORAL-BRASIL ......................................................... 103
TABELA 5.1Medidas de f0 dos enunciados em PB (valores mdios) .............................................. 157
TABELA 5.2Durao das vogais dos enunciados em PB, calculadas emz-score(valores mdios). 159
TABELA 5.3 Taxa de variao e excurso do 1 e do 2 movimentos de f0 dos enunciados em PB(valores mdios) ........................................................................................................... 161
TABELA 5.4 Taxa de variao e excurso do 3 movimento de f0 da atitude de Cortesia em PB(valores mdios) ........................................................................................................... 163
TABELA 5.5Taxa de articulao dos enunciados em PB (valores mdios) ..................................... 164
TABELA 5.6Intensidade mxima dos enunciados em PB (valores individuais) .............................. 165
TABELA 5.7Posio dos picos de f0 e de intensidade nos enunciados em PB ................................ 168
TABELA 5.8Descrio da atitude de Referncia em PB .................................................................. 171
TABELA 5.9Descrio da atitude de Cortesia em PB ...................................................................... 173
TABELA 5.10Descrio da atitude de Urgncia em PB ................................................................... 175
TABELA 5.11Descrio da atitude de Irritao: enunciados sem Irritao em PB .......................... 176
TABELA 5.12Descrio da atitude de Irritao: enunciados com pouca Irritao em PB ............... 177
TABELA 5.13Descrio da atitude de Irritao: enunciados com muita Irritao em PB ................ 177
TABELA 5.14Valores maiores e menores de ataque de f0, 1 pico de f0 e mnimo de f0 em PB .... 179
TABELA 5.15Durao das vogais dos enunciados com atitude de Referncia, pouca Irritao e muitaIrritao em PB, calculadas em z-score (valores mdios) ......................................... 182
TABELA 5.16Medidas de f0 dos enunciado em Italiano (valores mdios) ...................................... 185
TABELA 5.17Durao bruta das 5 primeiras vogais dos enunciados em Italiano (valores mdios) 186
TABELA 5.18Durao bruta das 5 ltimas vogais dos enunciados em Italiano (valores mdios) ... 187
TABELA 5.19 Taxa de variao e excurso do 1 e do 2 movimentos de f0 dos enunciados emItaliano (valores mdios) ......................................................................................... 188
TABELA 5.20Taxa de variao e excurso do 3 movimento de f0 da atitude de Cortesia em Italiano(valores mdios) ........................................................................................................ 189
TABELA 5.21Taxa de articulao dos enunciados em Italiano (valores mdios) .......................... 190
TABELA 5.22Intensidade mxima dos enunciados em Italiano (valores mdios) ......................... 191
TABELA 5.23Posio dos picos de f0 e de intensidade nos enunciados em Italiano .................... 192TABELA 5.24Descrio da atitude de Referncia em Italiano ...................................................... 194
TABELA 5.25Descrio da atitude de Cortesia em Italiano .......................................................... 196
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TABELA 5.26Descrio da atitude de Urgncia em Italiano ......................................................... 198
TABELA 5.27Descrio da atitude de Irritao: enunciados sem Irritao em Italiano ................ 199
TABELA 5.28Descrio da atitude de Irritao: enunciados com pouca Irritao em Italiano ..... 200
TABELA 5.29Descrio da atitude de Irritao: enunciados com muita Irritao em Italiano ...... 200TABELA 5.30Valores maiores e menores de ataque de f0, 1 pico de f0 e mnimo de f0 em Italiano
................................................................................................................................... 202
TABELA 5.31Notas do teste de substituio da ilocuo de Ordem em 4 atitudes ....................... 204
TABELA 5.32ndice de aceitao e ndice de rejeio das cenas de Ordem .................................. 204
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LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS
ALL Alocutivo
APC Apndice de ComentrioAPT Apndice de Tpico
CMM Comentrios Mltiplos
COB Comentrios Ligados
COM Comentrio
COM_r Comentrio de Reportao
CNT Conativo
DCT Conector Discursivo
EMP Empty
EXP Expressivo
f0 Frequncia fundamental
i-COM Comentrio interrompido
INT Introdutor Locutivo
INP Incipitrio
INT Introdutor Locutivo
LABLITA Laboratorio Linguistico del Dipartimento di Italianistica dellUniversit di Firenze
PAR Parenttico
PB Portugus do BrasilPHA Ftico
SCA Unidade de Escanso
TMT Tomada de Tempo
TOP Tpico
UFMG Universidade Federal de Minas Gerais
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LISTA DE SMBOLOS
(@) linha de metadados
(*) incio de turno(%) incio de linha dependente
(ABC) identificao do informante
(//) quebra prosdica terminal; fim de enunciado
(/) quebra prosdica no-terminal; fim de unidade tonal interna ao enunciado
(+) enunciado interrompido
(< >) sobreposio de fala
([/n]) retractingou falha na execuo do enunciado
(&) incio de palavra interrompida
(&he) hesitao ou silncio preenchido
( ) citao
(hhh) comportamento paralingustico
(xxx) palavra ininteligvel
(yyyy) trecho de udio no-transcrito
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SUMRIO
1. INTRODUO ......................................................................................................... 18
1.1. Justificativa ................................................................................................................ 191.2. Objetivos .................................................................................................................... 21
1.3. Histrico da pesquisa ................................................................................................ 22
2. OS ATOS DE FALA NA TRADIO LINGUSTICA ................................................ 23
2.1. Thomas Reid .............................................................................................................. 23
2.2. Austin ......................................................................................................................... 24
2.3. Searle .......................................................................................................................... 26
2.4. Alston .......................................................................................................................... 30
2.5. Bach e Harnish .......................................................................................................... 31
2.6. Sbis ............................................................................................................................ 32
2.7. Ilocuo e prosdia .................................................................................................... 33
2.8. Levinson e sua crtica Teoria dos Atos de Fala .................................................... 35
2.9. A Language in to Act Theorye um novo paradigma para o estudo das ilocues 35
3. LANGUAGE INTO ACT THEORY (L-AcT) ................................................................ 37
3.1. O enunciado como unidade de referncia da fala .................................................. 37
3.2. Enunciado, prosdia e ato de fala ............................................................................ 43
3.2.1. Estrutura do Comentrio e forma prosdica ........................................................ 503.2.2. A importncia dos parmetros pragmtico-cognitivos para a ilocuo ............... 54
3.3. O modelo prosdico ................................................................................................... 57
3.4. As unidades informacionais ...................................................................................... 62
3.4.1. As unidades textuais ............................................................................................ 633.4.2. Unidades de auxlio dialgico ............................................................................. 72
3.4.3. Limites do isomorfismo ...................................................................................... 773.5. A independncia entre as noes de ilocuo e predicao ................................... 81
3.6. Atitude ........................................................................................................................ 86
4. DISCUSSO E ELABORAO METODOLGICA ................................................. 91
4.1. Caractersticas de um corpus adequado ao estudo das ilocues ......................... 91
4.1.1. Alta variao diafsica ........................................................................................ 924.1.2. Segmentao prosdica ....................................................................................... 934.1.3. Alta qualidade acstica ........................................................................................ 94
4.1.4. Alinhamento texto-som ....................................................................................... 944.1.5. Corpora que possuem essas caractersticas ......................................................... 95
4.2. O corpus C-ORAL-BRASIL .................................................................................... 95
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4.2.1. O corpus C-ORAL-ROM .................................................................................... 964.2.2. Caractersticas do C-ORAL-BRASIL ................................................................. 99
4.3. Metodologia LABLITA para o estudo de ilocues ............................................. 103
4.3.1. Identificao das ilocues em corpus .............................................................. 105
4.3.2. Descrio pragmtico-cognitiva das ilocues ................................................. 1114.3.3. Produo de cenas fictcias em vdeo que eliciem as ilocues ........................ 1134.3.4. Extrao de uma forma prosdica prototpica para as ilocues....................... 1164.3.5. Validao da forma prosdica prototpica das ilocues (teste de repetio) ... 1164.3.6. Substituio da forma de uma ilocuo no contexto de outras ilocues (teste desubstituio) ...................................................................................................................... 1174.3.7. Descrio da forma prosdica ........................................................................... 117
4.4. Anlise crtica da metodologia LABLITA ............................................................ 118
4.5. Uma nova proposta de metodologia....................................................................... 124
4.6. Procedimentos metodolgicos adotados na pesquisa ........................................... 126
4.6.1. Teste de percepo ............................................................................................ 128
5. APRESENTAO E ANLISE DE DADOS .............................................................. 135
5.1. Anlise dos enunciados encontrados em corpus ................................................... 135
5.1.1. Seleo das atitudes ........................................................................................... 141
5.2. Anlise dos enunciados produzidos em laboratrio ............................................. 142
5.2.1. Cenas de eliciao de Ordem com atitudes diferentes ...................................... 1435.2.2. Identificao do ncleo dos enunciados de Ordem ........................................... 1525.2.3. Anlise prosdica dos enunciados ..................................................................... 155
5.2.4. Caracterizao das atitudes ............................................................................... 1695.2.5. Forma prosdica de Ordem em PB ................................................................... 179
5.3. Anlise dos enunciados produzidos em laboratrio a partir das cenas em IT .. 183
5.3.1. Anlise prosdica dos enunciados ..................................................................... 1845.3.2. Caracterizao das atitudes ............................................................................... 1935.3.3. Forma prosdica de Ordem em Italiano ............................................................ 202
5.4. Teste de substituio entre as cenas de Ordem em PB ........................................ 202
6. OUTROS FENMENOS DIGNOS DE NOTA ........................................................... 207
6.1. Oferta e Pergunta de Confirmao ........................................................................ 2076.2. Ilocues dialgicas ................................................................................................. 215
6.2.1. Pedido de Repetio Total ................................................................................. 2166.2.2. Permisso para Falar ......................................................................................... 2166.2.3. Manifestao de Ateno Continuada ............................................................... 2176.2.4. Pedido de Concordncia .................................................................................... 218
6.3. Sequncias de enunciados com o mesmo contedo locutivo ................................ 218
7. DISCUSSO DOS RESULTADOS ............................................................................... 224
7.1. A importncia da caracterizao pragmtica das ilocues ................................ 2257.2. A descrio da forma prosdica ilocucionria ...................................................... 229
7.3. A importncia de se refinar a caracterizao pragmtica dos enunciados ........ 233
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8. CONCLUSES ............................................................................................................... 242
8.1. Caracterizao resumida da forma prosdica de Ordem em PB ....................... 244
8.2. Caracterizao resumida das atitudes de Ordem em PB .................................... 2449.2.1. Atitude de Referncia ........................................................................................ 2448.2.1. Atitude de Cortesia ............................................................................................ 2448.2.2. Atitude de Urgncia .......................................................................................... 2458.2.3. Atitude de Irritao ............................................................................................ 245
8.3. Trabalhos futuros .................................................................................................... 245
REERNCIAS......................................................................................................................... 247
ANEXO IQuestionrio aplicado no pr-teste piloto ........................................................ 254
ANEXO IITelas de instruo e tela de resposta do teste pilotoe da verso definitiva doteste de percepo ............................................................................................. 255
ANEXO IIIExemplos de Ordem ........................................................................................ 256
ANEXO IVSequncias de enunciados com o mesmo contedo locutivo ........................ 260
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1. INTRODUO
Esse trabalho se prope a apresentar e aplicar uma metodologia para o estudo de
ilocues em corpora de fala espontnea. A metodologia constitui-se de (a) uma fase emprica
de identificao e caracterizao pragmtica de ilocues a partir do exame de dados de
corpus e (b) uma fase experimental de descrio da forma prosdica das ilocues. As
descries se concentraro na ilocuo de Ordem e em quatro de suas possveis atitudes
(atitude de Referncia, Cortesia, Irritao e Urgncia) em Portugus Brasileiro (PB). Para
tanto, sero analisados dados extrados do C-ORAL-BRASILcorpus oral de fala espontnea
do Portugus Brasileiro, com enfoque na diatopia mineira (RASO; MELLO, 2012a) e
enunciados produzidos em contextos de eliciao. Em seguida, ser feita uma descrio, em
carter exploratrio, da ilocuo de Ordem e de suas atitudes em Italiano, tambm com baseem enunciados eliciados. A partir da aplicao da metodologia para o estudo da Ordem,
faremos reflexes tericas mais amplas que avanam o estado da arte na compreenso da
categoria de ilocuo.
Para entender as diferenas desse trabalho com relao a outras abordagens existentes,
cumpre lembrar que, em linhas gerais, a ilocuo definida como a dimenso acional do
enunciado, ou seja, a ao que realizamos sobre nosso interlocutor quando endereamos a ele
um enunciado. Estudos empricos (CRESTI, 2000; FIRENZUOLI, 2003; MONEGLIA, 2011)sugerem que podemos realizar mais de 80 tipos de ilocues diferentes, tais como Ordem,
Instruo, Resposta, Advertncia, Sugesto e Atenuao. O primeiro autor a propor que todo
enunciado corresponde sistematicamente a uma ao foi o filsofo John Austin, em seu livro
How to do things with words(AUSTIN, 1962). Pouco tempo depois, John Searle formula, em
Speech Acts(SEARLE, 1969), um novo tratamento ao tema, de matriz lgico-sinttica, com o
objetivo de prever quais so as possveis ilocues de uma lngua e de identificar as estruturas
sintticas que as realizam. A abordagem proposta por Searle orienta uma parcela significativados trabalhos publicados sobre o tema desde ento.
O tratamento dado nessa tese ao problema da ilocuo diverge substancialmente do de
Searle por trs motivos. Em primeiro lugar, porque se fundamenta na Language into Act
Theory (L-AcT, ou Teoria da Lngua em Ato) (CRESTI; MONEGLIA, 2005; CRESTI, 2000;
MONEGLIA; RASO, 2014; RASO; MELLO, 2012a), uma teoria emprica que prope
conceitos de ilocuo e de enunciado diferentes daqueles adotados por Searle. Segundo a L-
AcT, o enunciado, tomado como a unidade de referncia da fala, definido como a menor
sequncia lingustica dotada de autonomia pragmtica e prosdica (CRESTI, 2000) e
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corresponde a um ato de fala (AUSTIN, 1962). A ilocuo definida em termos austinianos
como a dimenso acional do enunciado. Todavia, a L-AcT prope que a realizao de cada
ilocuo esteja vinculada estrutura prosdica do enunciado segundo uma configurao
especfica de parmetros prosdicos (chamada de forma prosdica da ilocuo), em uma
situao dotada de certas propriedades pragmtico-cognitivas. Assim, na viso da L-AcT, a
realizao de uma ilocuo independe da presena de uma estrutura predicativa no enunciado.
O segundo motivo de diferena com relao a abordagens tradicionais uma
decorrncia do primeiro: uma vez que essa tese se fundamenta em uma teoria de base
emprica, a metodologia para o estudo de ilocues proposta por esse trabalho tambm de
base emprica. De fato, defendemos que somente a observao de dados reais de fala possa
revelar ao pesquisador as ilocues existentes em uma lngua e, tambm, uma srie depropriedades importantes dessas ilocues. Assim, a nosso ver, os procedimentos
experimentais usados para a descrio de uma forma prosdica ilocucionria no podem
prescindir da fase de observao direta dos dados reais de fala.
O terceiro motivo o de que essa tese se fundamenta em uma diferena conceitual
precisa entre as categorias de ilocuoe de atitudeessa ltima entendida como a maneira
pela qual uma ilocuo realizada (encorajadora, autoritria, sedutora, etc.) (MELLO; RASO,
2011). A atitude uma categoria lingustica que tambm incide sobre o enunciado e semanifesta pela prosdia. Por esse motivo, consideramos que uma metodologia para a
descrio de formas prosdicas ilocucionrias deva necessariamente levar em conta a sua
interao com as propriedades atitudinais.
1.1. Justificativa
A questo dos atos de fala permanece um problema em aberto na lingustica atual. A nosso
ver, as inmeras tentativas de se explicar como usamos a linguagem verbal para realizar aes
sobre os nossos interlocutores incorrem em um erro comum a vrias teorias lingusticas: o de
se tentar analisar a fala a partir de categorias cunhadas (e que funcionam bem) para a escrita.
No que diz respeito aos atos de fala, o prprio Austin j defendia que essa categoria
pertencesse tanto fala quanto escrita (e, de fato, suas intuies advm, em boa medida, da
sua preocupao com a linguagem legal). Da mesma forma, o quadro terico de Searle, que
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tem os objetivos de fazer uma taxionomia dos atos de fala e de identificar as estruturas
sintticas associadas a cada classe ilocucionria, utilizado para analisar as duas diamesias.0F
1
Historicamente, esse problema deriva do fato de que, at pouco tempo atrs, no
existiam meios para fixar a linguagem oral preservando suas caractersticas intrnsecas e
peculiares ligadas ao sinal sonoro, como a prosdia. De fato, a criao, o aperfeioamento e a
popularizao de dispositivos de gravao e de anlise acstica so fenmenos muito
recentes. Alm disso, mesmo com uma quantidade cada vez maior de corpora de fala, nota-se
que grande parte dos estudos baseados nos mesmos feita a partir do exame de suas
transcries, e no das gravaes em si (muitas vezes, em funo da dificuldade de se
encontrar, em uma longa gravao, o trecho que corresponde a um enunciado especfico).
Nesse contexto, uma quantidade expressiva de estudos a respeito dos atos de falacontinua a se concentrar em anlises da lngua escrita. Por outro lado, h muitos trabalhos que
reconhecem a importncia da prosdia para a veiculao dos atos de fala (ou de outras
categorias relacionadas, como a modalidade de frase e a atitude) e descrevem os correlatos
prosdicos de perfis relacionados a elas. Contudo, nesses estudos, nota-se frequentemente
uma tendncia adoo de procedimentos laboratoriais sem que antes seja feito um trabalho
slido de base pragmtica que permita compreender com maior segurana o valor funcional
dos perfis prosdicos analisados. Naturalmente, essas dificuldades esto todas relacionadas aproblemas j mencionado, a saber, a escassez de corpora de fala espontnea e a pouca
praticidade no uso dos mesmos.
A criao dos chamados corpora de terceira gerao muda esse panorama. Por
permitirem o acesso contemporneo ao som de alta qualidade acstica, aos seus parmetros
acsticos e prosdicos e sua transcrio, esses corpora renem as condies mnimas e
necessrias para (a) contemplar a fala em suas peculiaridades, (b) avaliar em que medida as
teorias lingusticas j existentes conseguem explicar a estruturao da fala e (c) desenvolvernovas teorias, quando necessrio.
Nesse contexto, o grupo LABLITA prope uma metodologia inovadora para o estudo
de ilocues fundamentada na Language into Act Theory (L-AcT), que reconhece o papel
central desempenhado pela prosdia na veiculao das ilocues. A metodologia alia uma
fase emprica de pesquisa em corpora lingusticos de terceira gerao a uma fase experimental
voltada para a descrio prosdica. Todavia, apesar de seus expressivos mritos, a
1Diamesia um termo usado por Berruto (1993) para indicar a variao sociolingustica em funo do meio edo canal, de forma anloga variao diacrnica, diatpica, diastrtica e diafsica.
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metodologia LABLITA no considera de maneira apropriada a relao entre as categorias de
ilocuo e atitude, comprometendo o alcance e a qualidade de suas descries.
Tomando como ponto de partida o trabalho do LABLITA, essa tese prope uma nova
metodologia para o estudo de ilocues que permite discriminar as propriedades prosdicas
ilocucionrias das propriedades prosdicas atitudinais de um enunciado, possibilitando uma
descrio mais acurada da forma prosdica ilocucionria. Alm disso, esse trabalho valoriza a
anlise pragmtica das ilocues, levando a uma melhor compreenso da relao existente
entre uma ilocuo e o seu contexto de realizao (o que, em muitas abordagens, feito
somente com base na introspeco do pesquisador) e do prprio conceito de ilocuo. Por
esses motivos, o presente trabalho constitui um avano significativo para a compreenso da
ilocuo, que so um fenmeno lingustico central para a estruturao da fala.
1.2. Objetivos
Os objetivos gerais desta tese so:
Contribuir para o panorama lingustico, discutindo o conceito de ilocuo e
apresentando uma metodologia emprica para a identificao e descrio das
ilocues;
Contribuir para uma melhor compreenso de como se d a expresso prosdica dailocuo e da atitude.
Para alcanar o primeiro objetivo geral, propem-se os objetivos especficos:
a. Analisar criticamente a metodologia LABLITA para o estudo de ilocues, apontando
seus mritos e suas limitaes;
b. Apresentar uma nova metodologia para a identificao e descrio de ilocues;
c. Discutir a importncia da caracterizao pragmtica de uma ilocuo do ponto de vista
terico e metodolgico.
Para alcanar o segundo objetivo geral, tem-se os objetivos especficos de:
a. Descrever a ilocuo de Ordem em quatro das suas possveis atitudes (atitude de
Referncia, Cortesia, Irritao e Urgncia) em PB e em Italiano
b. Comparar a ilocuo de Ordem e suas atitudes em PB e em Italiano.
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1.3. Histrico da pesquisa
Essa pesquisa surge como uma tentativa de aplicao da metodologia LABLITA para a
descrio da forma prosdica de um grupo de ilocues do PB, com dados extrados do C-
ORAL-BRASIL. O trabalho de Rocha (2013), elaborado como preparao para essa tese,
reflete essa fase da pesquisa.
Durante esse processo, notamos que a formulao original da metodologia no dava
conta de um problema terico importante: distinguir as caractersticas prosdicas
ilocucionrias das caractersticas prosdicas atitudinais em um enunciado. Todavia, a nosso
ver, a atitude constitui uma dimenso de enorme importncia para a dimenso ilocucionria (e
no algo secundrio), de modo que, sem estudar ilocuo e atitude juntos, no possvel
construir uma metodologia que d conta do estudo da ilocuo.A partir dessas observaes, a presente pesquisa foi se dirigindo para (a) mostrar como
a manifestao concreta de forma prosdica ilocucionria em um enunciado influenciada
pela atitude com a qual a ilocuo realizada e (b) colocar em discusso, a partir de uma
viso fundamentada em uma anlise pragmtica das ilocues, uma srie de questes tericas
importantes sobre a natureza dos atos de fala (em particular, a definio pragmtica de uma
ilocuo e a sua relao com o contexto em que realizada). A partir dessas reflexes,
desenvolvemos uma nova proposta metodolgica para o estudo de ilocues que buscaaproveitar da melhor maneira possvel a interferncia da expresso atitudinal na realizao
concreta de uma forma prosdica ilocucionria. Nesse sentido, a nossa proposta supera as
anteriores por basear-se na anlise no somente dos enunciados prototpicos de uma ilocuo,
mas sim em qualquer enunciado, independentemente da atitude com a qual ele realizado,
fornecendo meios para discriminar as propriedades prosdicas ilocucionrias das propriedades
prosdicas atitudinais.
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2. OS ATOS DE FALA NA TRADIO LINGUSTICA
A teoria que fundamenta a metodologia aqui proposta a Language into Act Theory
(CRESTI, 2000), ou L-AcT de base emprica e constitui um desenvolvimento da proposta
de Austin (1962). Apesar de aceitar algumas contribuies do quadro desenvolvido por
Searle, segue um caminho muito diferente daquele de matriz lgica preconizado pelo mesmo.
Tambm se diferencia de autores que adaptaram a Teoria dos Atos de Fala anlise da
conversao e a outros ramos da lingustica. Para evidenciar as diferenas da L-AcT com
relao s vises mais tradicionais, proveitoso repercorrer a histria do estudo dos atos de
fala.
2.1.
Thomas ReidAustin (1962) quem tenta, primeiramente, sistematizar e desenvolver a ideia de que todo
enunciado possui uma natureza acional e, por esse motivo, tido como o criador da Teoria
dos Atos de Fala. Todavia, j em meados do sculo XIX e incio do sculo XX, muito antes
do filsofo oxoniense ministrar o ciclo de palestras no qual exporia as suas ideias, o filsofo
escocs Thomas Reid (1710-1796) desenvolve, de forma independente, a ideia de que os
enunciados (ou pelo menos alguns deles) correspondem a aes.
Segundo Schuhmann e Smith (SCHUHMANN; SMITH, 1990), em uma tentativa decompreender a estrutura da mente humana, Reid volta suas atenes linguagem e percebe a
existncia daquilo que chama de atos sociais e de atos solitrios. Os atos solitrios so
operaes da mente de um indivduo que, para existir, prescindem da interao com outro
indivduo. Fazem parte dessa categoria operaes como a viso, a audio, o desejo e a
compreenso. Os atos sociais, por outro lado, dependem da dimenso comunicativa e devem
ser direcionados a outra pessoa que no o falante. Nesse grupo, encontram-se perguntas,
recusas, ofertas, ordens, ameaas e splicas, dentre outros. Reid nota que uma ordem no
um simples desejo do falante comunicado ao interlocutor, da mesma forma que uma promessa
no simplesmente a expresso de uma inteno do falante que poderia ou no ser expressa.
Apesar desses importantes insights, Reid no exaustivo nem na enumerao dos atos
sociais, nem em sua descrio e, por esses motivos, no se pode considerar que funda uma
teoria sobre a natureza acional da linguagem.
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2.2. Austin
Austin considerado o criador da Teoria dos Atos de Fala pelo pioneirismo em propor que
no alguns, mas sim todos os enunciados proferidos por um falante constituem aes
endereadas ao seu interlocutor; por analisar a forma com que o falante veicula cada ato de
fala; por oferecer uma primeira classificao dos atos de fala.
A discusso proposta por ele tem como ponto de partida um debate prprio da filosofia
da linguagem de seu tempo: o de que somente as sentenas verificveis (ou seja, sentenas
sobre as quais podemos afirmar sua verdade ou falsidade) seriam sentenas com sentido. As
demais, no verificveis, seriam sentenas sem sentido (meaningless). Essa constitui uma
radicalizao de uma posio colocada, pela primeira vez, por Aristteles, em De
Interpretatione, segundo a qual a lgica lida com as afirmaes, verdadeiras ou falsas,enquanto outros usos da linguagem que no podem ser avaliados nesses termos so objeto da
retrica e da potica.
A partir desse debate, Austin inicia seu percurso argumentativo propondo uma diviso
provisria entre enunciados constatativos e performativos. Os primeiros so aqueles que
exprimem juzos sobre o mundo e so verificveis, podendo ser considerados verdadeiros ou
falsos. Os performativos so enunciados que no exprimem julgamentos, mas que realizam
aes quando so realizados.
(1) Prometo que no vou mais atrasar-me
(2) Peo que voc venha noite
(3) Eu batizo esse navioRainha Elizabeth
De fato, quando um falante profere um enunciado como (1), no est fazendo uma
declarao a respeito de uma promessa; est prometendo algo no exato momento em queexecuta a sentena. Nesse caso, no se pode falar de verdade ou falsidade da promessa, mas
simplesmente que uma promessa foi realizada. O mesmo vale para os enunciados (2) e (3),
ambos performativos, que veiculam aes de pedido e de batismo, bem como para todos os
enunciados performativos.
Todavia, para que um enunciado contendo um verbo performativo seja de fato um
enunciado performativo, preciso que o verbo esteja na primeira pessoa do singular do
presente do indicativo. Efetivamente, comparando os trs exemplos mostrados anteriormente
a (4), (5) e (6), percebe-se que somente os trs primeiros so enunciados performativos:
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(4) Joana prometeu que me emprestaria o livro.
(5) Pedir um favor nem sempre uma tarefa fcil.
(6) Batizamos a criana com o nome da me de Ariadne.
Austin mostra que a realizao de uma ao por meio de um enunciado performativo
est sujeita a condies de felicidade as quais devem ser cumpridas integralmente:
(A.1) Deve existir um procedimento convencionalmente aceito queapresente um determinado efeito convencional e que inclua o
proferimento de certas palavras, por certas pessoas, em certascircunstncias; e alm disso que
(A.2) as pessoas e circunstncias particulares, em cada caso, devemser adequadas ao procedimento especfico invocado.
(B.1) O procedimento tem de ser executado, por todos osparticipantes, de modo correto e
(B.2) completo.(.1) Nos casos em que, como ocorre com frequncia, o
procedimento visa s pessoas com seus pensamentos esentimentos, ou visa instaurao de uma condutacorrespondente por parte de alguns dos participantes, entoaquele que participa do procedimento, e o invoca deve de fatoter tais pensamentos ou sentimentos, e os participantes devemter a inteno de se conduzirem de maneira adequada, e, almdisso,
(.2) devem realmente conduzir-se dessa maneira subsequentemente.(AUSTIN, 1962, p. 31)
O objetivo de Austin, no curso de suas palestras, o de mostrar que a diviso entre
enunciados constatativos e performativos infundada e que, em ltima instncia, todos os
enunciados realizam aes. Um forte indcio para isso seria o fato de os enunciados
constatativos podem ser expressos de maneira performativa. Um tpico constatativos como O
cu est azul pode ser reconduzido forma Eu declaro que o cu est azul, com o
performativo declarar. Dessa forma, existiriam enunciados performativos explcitos, com a
presena de um verbo performativo, e enunciados performativos implcitos, nos quais o
performativo no aparece. Todos aqueles enunciados anteriormente chamados de
constatativos seriam, na realidade, performativos implcitos, assim como os enunciados no
constatativos sem um verbo performativo.
O autor reconhece que muitos enunciados realizados na comunicao cotidiana
encontram-se na forma implcita. Alm disso, algumas aes realizadas na fala so feitas, por
definio, sem um verbo performativo (como a ao de ameaa, em que, para realiz-la, nose diz Eu te ameao). Na viso de Austin, isso ocorre porque os performativos no so
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primitivos lingusticos e parecem ter sido criados justamente para que o falante possa
expressar de maneira sistemtica o tipo de ao empreendida ao se proferir um enunciado. Em
outras palavras, os performativos serviriam para se referir s aes lingusticas, no para
realiza-las. Um mesmo enunciado como Eu o farei, que no possui um verbo performativo,
poderia ser interpretado como uma promessa ou como uma ameaa. Inserindo o performativo
prometo (Eu prometo faz-lo), a sentena deixa de ser ambgua e ser inequivocamente
interpretada como uma promessa.
Outro ponto fundamental do trabalho de Austin, determinante em toda a teoria dos
atos de fala desenvolvida posteriormente, a anlise da estrutura de um ato de fala. Segundo
o autor, todo ato de fala constitui-se de trs atos realizados simultaneamente produo do
enunciado: a locuo, a ilocuo e a perlocuo. A locuo o material fontico doenunciado, estruturado segundo regras gramaticais e dotado de referncia. A ilocuo a ao
que se cumpre ao se proferir um enunciado (assero, ameaa, pedido, ordem, etc.) e de
natureza convencionalizada (como a locuo), uma vez que cada lngua possui mecanismos
distintos para realizar as aes. A perlocuo o resultado de uma ao e, por definio, no
convencionalizada, uma vez que o mesmo ato ilocucionrio pode dar origem a consequncias
diversas em contextos diferentes.
2.3. Searle
Ao lado de Austin, John Searle (SEARLE, 1969; 1979) a principal referncia no estudo dos
atos de fala. As contribuies do filsofo americano se versam sobre vrios aspectos
concernentes os atos de fala, dentre os quais: i. a formalizao da estrutura lgica dos atos de
fala; ii. a classificao dos atos de fala; iii. o estudo dos ndices indicadores de fora
ilocucionria (IFIDs, do ingls Illocutionary Force Indicator Devices), ou seja, dos
mecanismos lingusticos que exprimem a fora ilocucionria de uma sentena.
Baseando-se no chamado princpio de expressabilidade (tudo o que se pode querer
dizer pode ser dito), o autor postula uma correspondncia entre cada tipo ilocucionrio e um
verbo performativo (SEARLE, 1969). Cada realizao de um ato de fala expressaria a frmula
F(p), em que F um predicado performativo ep uma proposio.
Searle identifica um conjunto de doze fatores que, em sua viso, produzem diferenas
entre os tipos ilocucionrios e que, consequentemente, devem fundamentar uma classificao
dos atos de fala. Trs desses fatores seriam usados para definir as classes ilocucionrias,
enquanto os demais explicariam as diferenas entre os tipos ilocucionrios de uma mesma
classe. Os parmetros usados para diferenciar as classes ilocucionrias so o propsito
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ilocucionrio, a direo de ajuste entre palavras-mundoe o estado psicolgico expresso.1F2A
partir de variaes desses parmetros, Searle identifica as classes de assertivos (atos de
compromisso do falante com relao verdade da proposio), diretivos (tentativas de
comprometer o interlocutor com uma linha de ao futura), compromissivos(atos em que o
falante se compromete com uma linha de ao futura), expressivos(expresses de um estado
de esprito ao interlocutor) e declaraes(atos que criam correspondncia entre o contedo
proposicional e o mundo).
A classe dos diretivos, por exemplo, teria o propsito ilocucionrio de fazer com que o
interlocutor realize uma ao. A direo de ajuste seria mundo-para-palavras (ou seja, o
mundo deve se conformar s palavras), uma vez que o interlocutor deve se portar segundo o
contedo proposicional do ato de fala. O estado psicolgico expresso pelos diretivos seria odesejo. Por outro lado, os assertivos teriam o propsito ilocucionrio de propor uma
representao de algum elemento do mundo. A direo de ajuste nos assertivos seria
palavras-para-mundo (ou seja, as palavras devem se conformar ao mundo). O estado
psicolgico expresso pelas ilocues dessa classe seria a crena.
Na viso de Searle, cada classe ilocucionria seria expressa por uma especificao da
frmula geral dos atos de fala F(p). Na frmula de cada classe, a varivel F corresponderia
configurao de propsito ilocucionrio, direo de ajustes entre palavras-mundo e estadopsicolgico expressoassociada a ela.
A partir do exame de sentenas que veiculam as diferentes ilocues existentes no
Ingls, Searle identifica uma estrutura profunda comum a todas as realizaes de uma classe
ilocucionria. A estrutura profunda de uma classe seria a contraparte sinttica de sua frmula
lgica. A classe dos assertivos, por exemplo, seria realizada por meio de enunciados que
expressam a estrutura I verbo (that) + S, observvel em sentenas como I state that it is
raining (Eu enuncio que est chovendo) e I predictthat he will come(Eu prevejo que elevir). J os diretivos possuiriam a estrutura I verbo you+ you Fut Verbo Vol (SN) (Adv),
como em I order you to leave (Eu ordeno-lhe que saia) e I command you to stand at
attention(Eu mando-o ficar em posio de sentido) (SEARLE, 1979b).2F3
2A ilocuo de ordem (da classe dos diretivos), por exemplo, tem o propsito ilocucionrio de fazer com que ointerlocutor realize uma ao. Uma descrio (uma ilocuo da classe dos assertivos) tem o propsito de proporuma representao de algum elemento do mundo. A direo de ajuste de uma ordem a de que o mundo deve se
conformar s palavras, uma vez que o interlocutor deve se portar segundo o contedo proposicional do ato defala. J em uma descrio, as palavras devem se conformar ao mundo. O estado psicolgico de uma ordem o dedesejo, enquanto o de uma descrio o de crena.3Tradues extradas de SEARLE, J.Expresso e significado. So Paulo: Martins Fontes, 1995.
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Todo o trabalho de classificao empreendido pelo autor constitui em uma tentativa de
superar dois problemas que o prprio Searle aponta na proposta original de Austin. O
primeiro deles seria o de que Austin faz uma classificao no propriamente das ilocues do
Ingls, mas sim de um inventrio de verbos ilocucionrios, supondo que dois verbos distintos
representem necessariamente duas aes diferentes. O segundo problema seria a ausncia de
princpios rigorosos para a classificao dos atos de fala, provocando heterogeneidade em
algumas categorias e sobreposies entre outras.
A despeito do grande esforo de Searle em propor uma categorizao ilocucionria
rigorosa, fundamentada em critrios lgico-sintticos, uma anlise das classes ilocucionrias
identificadas pelo autor revela que as suas definies no se baseiam exclusivamente no nvel
pragmtico da comunicao, mas tambm no nvel semntico. Esse o caso da classe dosassertivos (atos em que o falante assume um compromisso de verdade com relao ao
contedo locutivo de seu enunciado), cuja definio coincide com o conceito clssico de
modalidade epistmica,3F
4 a qual pertence ao nvel semnticodo enunciado. O problema de
uma definio como essa que uma classe ilocucionria caracterizada em funo da relao
entre o falante e o contedo proposicional de seu enunciado (nvel semntico), e no a partir
do tipo de ao que o falante realiza sobre o interlocutor (nvel pragmtico).
Alm disso, o exame dos fatores usados por Searle para diferenciar as ilocuesmostra que o autor no faz uma distino apropriada entre o os nveis pragmtico e scio-
interacional da comunicao, o que interfere na identificao dos tipos ilocucionrios de uma
lngua. Segundo Searle, um dos fatores que produzem nuances dentro de uma mesma classe
ilocucionria afora ou vigor com que o propsito ilocucionrio apresentado. Esse fator
distinguiria, por exemplo, as ilocues diretivas realizadas pelas sentenas Eu sugiroirmos
ao cinema e Insisto em irmos ao cinema (SEARLE, 1979b). Todavia, a nosso ver, ao
postular a diferena entre tipos ilocucionrios com base na fora ou vigor com a qual opropsito ilocucionrio apresentado, Searle deixa entender que no faz uma distino
apropriada entre o conceito de ilocuo (a ao realizada pelo falante sobre o interlocutor) e a
atitude com a qual a ilocuo realizada.
Ainda com relao classificao proposta pro Searle, Kissine (2013) nota uma
inconsistncia na identificao dos estados psicolgicos expressos por cada classe
ilocucionria. Para Searle, o estado psicolgico pode ser identificado a partir do Paradoxo de
4De acordo com Mello et al.(2009), a modalidade epistmica expressa o grau de comprometimento do falante verdade da proposio contida no enunciado. Na tradio lgica, a modalidade epistmica se refere expressoda possibilidade ou necessidade da proposio em relao a um estado de coisas.
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Moore: assim como no possvel se afirmar algo deixando claro que no se acredita no que
est sendo afirmado, o estado psicolgico das afirmaes seria o de crena; assim como no
possvel prometer algo deixando claro que no se tem a inteno de faz-lo, o estado
psicolgico das promessas a inteno; etc. Todavia, Kissine sustenta que os estados
psicolgicos dos atos de fala institucionalizados no podem ser encontrados da mesma forma.
Um juiz pode, por exemplo, condenar um acusado mesmo acreditando na sua inocncia.
Observadas essas ressalvas classificao de Searle, voltemos exposio de seu
quadro terico. Uma das grandes questes enfrentadas pelo autor o problema dos chamados
atos de fala indiretos. Esse conceito se refere aos enunciados utilizados para realizar uma
ilocuo diferente daquela indicada de maneira explcita ou ambgua pelos indicadores de
fora ilocucionria (IFIs). Isso ocorreria, por exemplo, quando um indivduo faz uma perguntacomo Voc consegue me passar o sal? com o objetivo de realizar um pedido ao seu
interlocutor. Para Searle, a fora ilocucionria primria dessa ao seria a de um pedido e a
fora ilocucionria secundria, a de uma pergunta. Casos como esse so chamados pelo autor
de atos de fala indiretos convencionalizados, uma vez que a estrutura sinttica da pergunta
convencionalmente utilizada para se fazer um pedido. Alm desses, existiriam tambm os
atos de fala indiretos no convencionalizados. Nesses casos, no h um nvel de
convencionalizao entre as estruturas sintticas. Um exemplo seria uma assero como euestou muito cansado, interpretada como um pedido.
Uma das questes a que Searle se prope a responder a de como o interlocutor
consegue compreender o ato de fala primrio de um enunciado a partir de um ato secundrio,
uma vez que no h ligao explcita entre eles. Tanto nos indiretos convencionalizados
quanto nos no convencionalizados, isso ocorreria, em primeiro lugar, por processos
inferenciais (GRICE, 1975), os quais levariam o interlocutor a perceber que o ato de fala
realizado pelo falante no deve ser interpretado de forma literal. No exemplo Voc consegueme passar o sal?, o interlocutor perceberia que no faz sentido uma pergunta acerca das suas
capacidades de passar o sal e, assim, compreenderia que a sentena veicula um ato de fala
primrio diferente do ato de pergunta. Alm disso, nos atos convencionalizados, Searle afirma
que h um alto nvel de convencionalizao entre alguns tipos de sentenas utilizados para
exprimir um ato secundrio e os seus respectivos atos primrios: muitas das sentenas
normalmente utilizadas para realizar o ato primrio de um pedido, por exemplo, fazem
meno condio preparatria do ato de fala de pedido, qual seja a possibilidade do
interlocutor de realizar o que lhe pedido. Assim, esse seria um indcio da fora ilocucionria
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primria de um ato de fala indireto. Pelo mesmo motivo, tambm funcionariam como pedidos
indiretos as sentenas Voc temtroco para 10 reais? e Voc poderiafazer um pouco mais
de silncio agora?. Searle tambm observa que as sentenas que expressam atos de falas
indiretos convencionalizados so realizadas com a prosdia do ato de fala primrio e no com
a do secundrio. Assim, a pergunta Voc consegue me passar o sal? seria prosodicamente
realizada como um pedido nos casos em que efetivamente um pedido. Todavia, assim como
observaes a respeito da prosdia da fala fogem ao mbito de anlise do autor, essa hiptese
no aprofundada.
A respeito dos Atos de fala indiretos, Borge (2013) afirma que, de um modo geral, os
esforos dos diversos autores, incluindo Searle, se concentram em compreender como os
falantes utilizam os atos de fala indiretos. Por outro lado, a teoria dos atos de fala no explicaporqueos falantes escolhem to frequentemente os atos de fala indiretos no lugar dos atos
diretos, o que acaba por enfraquecer o prprio conceito de ato de fala.
2.4. Alston
Alston (1972) faz uso do conceito de ato de fala para compreender o problema da
significao. A anlise dos atos de fala mostra "comoo fato de uma expresso lingustica ter a
significao que tem uma funo do que os usurios da linguagem fazem com essaexpresso" (ALSTON, 1972, p. 68). Segundo o autor, duas palavras so sinnimas se mantm
o ato ilocucionrio em duas sentenas distintas, como em 'Voc est sempre procrastinando' e
'Voc est sempre adiando as coisas'.
Alston define a locuo como a frase proferida pelo falante em sua enunciao,
enquanto a perlocuo seria o resultado da locuo. A ilocuo algo que est entre a locuo
e a perlocuo. No corresponde locuo, pois uma mesma frase, como Quer fazer o favor
de abrir a porta?, pode ser pronunciada com objetivos diferentes (fazer algum abrir a porta,
dar um exemplo ou mesmo testar a prpria voz). A ilocuo tambm se difere da perlocuo,
pois o ato de pronunciar a mesma frase pode gerar consequncias distintas, como irritar o
ouvinte ou distrair quem estava lendo. Em todos esses casos, no deixa de ser verdade que
algum realizou um pedido. interessante notar como, no quadro proposto por Alston, no h
uma relao direta entre os nveis ilocucionrio e perlocucionrio.
Para Alston, a ilocuo determinada pela contribuio de cada palavra dentro da
frase. Assim, as frases Por favor, passe o sal para Por favor, passe o acar exprimem
pedidos diferentes, enquanto a frase Isto sal no exprime um pedido. Todavia, o autor no
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especifica a forma com que as palavras identificam os atos de fala e no parece acreditar que
haja uma relao sistemtica entre ndices (sejam eles gramaticais, lexicais, etc.) e ilocues.
2.5.
Bach e HarnishOutra famosa classificao dos atos de fala aquela empreendida por Bach e Harnish (1979).
Nela, a noo de estado mental desempenha um papel importante. Para os autores, um
enunciado expressa um estado mental se (a) ele produzido com a inteno de que o
interlocutor acredite que ele expresse esse estado mental e se (b) o interlocutor reconhece essa
inteno. O estado mental com o qual o falante realiza um enunciado tomado como um
princpio classificatrio dos atos de fala. Por meio deles, possvel identificar quatro classes
de atos de fala comunicativos: constatatives, directives, comissivese acknoledgements.O estado mental dos constatives o de fazer com que o interlocutor acredite que a
proposio do enunciado seja verdade ou o de expressar que o falante acredita que a
proposio seja verdadeira. O estado mental dos directives o de expressar o desejo de que o
interlocutor faa com que a proposio se torne verdade. Os commissives expressam a
inteno de que o falante torne a proposio verdadeira. Os acknowledgements expressam
sentimentos para com o interlocutor. Cada uma das classes divide-se em subclasses que
expressam variaes do estado mental geral da classe.Aos atos de fala comunicativos, os atos de fala institucionalizados, ou seja, atos que
so bem sucedidos se proferidos por uma pessoa adequada em uma situao adequada. H
duas classes de atos institucionalizados: effectives e verdictives. Os effectivesso enunciados
que produzem ou alteram o estatuto institucional de algo. Os verdictivesso julgamentos que
possuem valor oficial na instituio em que so produzidos.
As principais diferenas com relao classificao de Searle so: i. a diviso dos atos
institucionalizados em duas classes, enquanto em Searle aparecem indistintamente como
declaraes; ii. o fato de que os constativesde Bach e Harnish possuem algo a mais que os
assertivos de Searle: exprimem a vontade que o interlocutor acredite que o contedo
proposicional do ato de fala seja verdadeiro.
Alm disso, Bach e Harnish se diferem de Austin por considerarem que os enunciados
com verbos performativos realizam contemporaneamente duas aes. Uma delas a ao
expressa de forma explcita pelo performativo (no caso de um ato de fala direto) e a outra a
ao de fazer uma afirmao. Eles argumentam a favor dessa hiptese dizendo que h um
dispositivo lingustico para explicitar as duas foras ilocucionrias: construes como Leave;
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and thats na order (Saia; e isso uma ordem) ou I will come/ and thats a promise (Eu
virei; e isso uma promessa).
Segundo os autores, a interpretao de todo ato de fala (e no somente dos atos
indiretos) feita com base em processos inferncias a partir de informaes lingusticas e
contextuais. Assim, Bach e Harnish elaboram um esquema de interpretao dos atos de fala
que seria acionado em toda comunicao verbal. Tal esquema fortemente influenciado pelo
modelo de Grice (1975).
2.6. Sbis
A reflexo de Sbis (1989) baseia-se em uma viso da comunicao como um processo
intersubjetivo, no qual os atos lingusticos tm o papel de fazer alteraes no contexto. Nessaviso, o contexto visto como o conjunto das caractersticas fsicas e psicolgicas de uma
situao comunicativa. A autora elabora uma classificao dos atos de fala com base nos
efeitos que os mesmos causam no contexto. Para Sbis, o ato ilocucionrio produz efeitos de
trs tipos no contexto:
a) efeitos de recepo: a compreenso do seu significado e da sua fora por parte de um
ouvinte;b) efeitos no-naturais: as mudanas que se inserem no curso natural dos eventos em
funo da realizao do ato de fala;
c) solicitaes de resposta: os comportamentos exigidos do interlocutor a partir da
realizao de um ato de fala.