Uma Interlocução
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Instituições de Longa Permanência para Idosos
Uma Interlocução
Para a Psicanálise, deter-se na letra, na palavra, é o básico.
A Gaia – residência de idosos nasceu inspirada na cosmogonia grega. No princípio era a desordem – o indeterminado, tudo e nada. Então, Gaia e Éter, separando-se constroem a diferença: terra e ar, nomeados, unem-se para procriar o Universo. Hesíodo, constrói a ordenação do mundo, organizando a cena aonde a vida passa a protagonizar-se em História.
É admirável que em se tratando de velhos, afinal é disso que se trata na História, sempre, sempre nos deparamos com o novo. Hoje sabemos que caso essa premissa – o novo – não se confirme, temos um diagnóstico: não houve trabalho!
Funciona assim, o trabalho: pegamos a palavra asilo e vamos ao dicionário, que é um bom lugar de trânsito, quando precisamos saber. No Larousse, encontramos:
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“Lugar onde se está em segurança – achar asilo em casa de amigos. Refúgio, abrigo. Estabelecimento ou instituição de caridade que abriga crianças desvalidas ou velhos desamparados. Direito de asilo - o que outrora se reconhecia aos criminosos que se refugiavam nas igrejas. Asilo político, o que alguns países garantem aos exilados ou banidos por motivos políticos”.
Então nós, a Gaia, nomeada pelo estado como Asilo, somos o lugar onde o velho está em segurança, em casa de amigos? Abrigamos velhos desamparados? Criminosos? Exilados políticos?
Sim, é isso! Estamos falando de gente num país recentemente envelhecido, da diversidade das "gentes" que a velhice não nivela.
Cada velho, apesar da idade, das marcas, dos efeitos; continua singular e múltiplo como qualquer um de nós.
Mas então, qual é a especificidade e então por que uma casa de velhos? E de velhos dependentes e demenciados?
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1º ponto: por que não no seio da família? Porque a família não quer ou não pode ou não quer e não pode. A Sociologia ajuda: nova configuração doméstica (separações, outros casamentos), novo ritmo de trabalho, nova relação com o tempo, laços esgarçados, mas sobretudo – ignorância: "meu pai não é mais o mesmo... é muito triste".
2º ponto: a casa não é mais a referência do encontro, e o nosso velho, desamparado pelo Tempo, está acuado em um exílio voluntário, refém das limitações, das demências, principalmente do medo mesmo que travestido em aceitação ou indiferença ou revolta. É muito triste, a velhice...
Como operar com isso?
Transmutando a ignorância em saber.
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Na Gaia, o velho depara-se com uma nova língua e um continente de pares. No geral, ele, cada um, é o único que não é tão velho. Esse pequeno detalhe já faz a diferença. Finalmente uma satisfação – a mágica da alquimia: cada um deles é o melhor de todos. E é com esse "ouro" que vamos operar: a ordem cosmogônica que fundou o mundo, organizando a cena:
Rotina - claras distinções entre público e privado- manhã (privado): banhos, limpeza da casa, rotinas domésticas, rádio
ligado, sol, barulho de panelas, baldes, vassouras, encontros espontâneo entre eles.
- tarde (público): após o almoço e a sesta, atividades. Batom, cabelos e unhas, visitas, formalidades. Coral, espaço lúdico, tapeçaria, novena, tarde cultural (leitura e interação).
- noite: estagiários de programas comunitários com dois objetivos: troca com jovens e planejamento/execução de atividades externas como visitas a museus e teatros "Programa Velho em Casa é Velho sem Asa". E intenção de instigar a comunidade que se ressente com a exposição e as limitações dos idosos.
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Lembrando: o fio condutor de todo o trabalho é o de transmutar ignorância em erudição. E nisso todos os agentes estão envolvidos: o próprio velho, a família, a Gaia (equipes operacional e técnica), equipe multidisciplinar e comunidade.
Como: produção científica e debate filosófico, treinamento das equipes operacional e técnica, interlocução constante com famílias e equipes multidisciplinares (médicos, nutricionistas, dentistas, cabeleireiros, manicures, pedicures, artistas e poucos, muito poucos, voluntários.
Tripé técnico: psicanálise, serviço social, fisioterapia.
Foco: para nós é essencial que o velho tenha um lugar e para isso é necessário que ele fale, como puder.
Coordenação Técnica: Nora D'Aquino Psicanálise - Gerontologia - Sociologia
3264-7324 - Curitba-PR