Uma Experiência Prática da Utilização da Ferramenta Moodle para Comunidades

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Uma Experiência Prática da Utilização da Ferramenta Moodle para Comunidades Virtuais na ENSP - Fiocruz Autores: Ana Paula Bernardo Mendonça Ana Cristina da Matta Furniel Rosane Mendes da Silva Máximo Introdução Com o crescimento da rede global de computadores no início da década de 1990, a Internet surge como um novo meio de comunicação possibilitando que todos sejam emissores e receptores de informação. Os recursos proporcionados por esse meio substituiu as formas de interação humana territorialmente limitada. O avanço e popularização do acesso a Internet permitiu a comunicação rápida e instantânea entre pessoas que, de outra forma, geograficamente distante, dificilmente teriam tal oportunidade. Através de ferramentas como correio eletrônico, salas de bate-papo e programas de mensagens instantâneas, permitiu-se que indivíduos participassem de discussões formando redes sociais de interesse, o que Rheingold (1996:20) definiu como comunidades virtuais. As comunidades virtuais se apresentam como um espaço para a interatividade - forma livre de expressão de comunicação horizontal - possibilitando ao sujeito estar presente agindo tanto como emissor quanto receptor de informação. Para Rheingold, o surgimento de um novo suporte tecnológico para a sociabilidade e a criação de novos canais de participação do cidadão. Na sociedade atual, enfatiza-se a cultura do compartilhamento e a formação de memória organizacional, principalmente visando captar, reter e disseminar conhecimento tácito nas organizações (Teixeira, 2002). Com este princípio, busca-se a alteração da idéia de “Quem detém o conhecimento, tem o poder” para “Quem troca o conhecimento, detém o poder”. Para Beijerse (1999), este princípio é representado pelo estímulo à cooperação entre os membros. O compartilhamento de conhecimento pode
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    19-Oct-2014
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Texto produzido para o Primer Congreso Internacional de Educación en Línea y Cultura Libre "Moodlemoot/moodlesalud 09" em Buenos Aires, Argentina, que aconteceu na primeira quinzena de agosto de 2009.

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Uma Experiência Prática da Utilização da Ferramenta Moodle para Comunidades

Virtuais na ENSP - Fiocruz

Autores: Ana Paula Bernardo Mendonça

Ana Cristina da Matta Furniel

Rosane Mendes da Silva Máximo

Introdução

Com o crescimento da rede global de computadores no início da década de 1990, a

Internet surge como um novo meio de comunicação possibilitando que todos sejam

emissores e receptores de informação. Os recursos proporcionados por esse meio

substituiu as formas de interação humana territorialmente limitada.

O avanço e popularização do acesso a Internet permitiu a comunicação rápida e

instantânea entre pessoas que, de outra forma, geograficamente distante, dificilmente

teriam tal oportunidade.

Através de ferramentas como correio eletrônico, salas de bate-papo e programas de

mensagens instantâneas, permitiu-se que indivíduos participassem de discussões

formando redes sociais de interesse, o que Rheingold (1996:20) definiu como

comunidades virtuais.

As comunidades virtuais se apresentam como um espaço para a interatividade - forma

livre de expressão de comunicação horizontal - possibilitando ao sujeito estar presente

agindo tanto como emissor quanto receptor de informação. Para Rheingold, o

surgimento de um novo suporte tecnológico para a sociabilidade e a criação de novos

canais de participação do cidadão.

Na sociedade atual, enfatiza-se a cultura do compartilhamento e a formação de

memória organizacional, principalmente visando captar, reter e disseminar

conhecimento tácito nas organizações (Teixeira, 2002). Com este princípio, busca-se a

alteração da idéia de “Quem detém o conhecimento, tem o poder” para “Quem troca o

conhecimento, detém o poder”. Para Beijerse (1999), este princípio é representado pelo

estímulo à cooperação entre os membros. O compartilhamento de conhecimento pode

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determinar a capacidade dessas organizações, sob a ótica da administração pública,

compartilharem experiências, melhores práticas, gerarem conhecimento e resolverem

seus problemas para atender as necessidades dos cidadãos (Reis, 2005).

Na área da saúde, as comunidades virtuais são de relevância estratégica. Ampliam a

capacidade argumentativa no processo de negociação, interlocução e disseminação do

conhecimento em saúde, sejam para os gestores de saúde, gestores de informações e/ou

cidadãos. Podem ainda favorecer a troca de experiências entre profissionais médicos,

entre médicos e estudantes de medicina e entre estes últimos, proporcionando uma

melhor qualidade em sua atuação.

Este projeto contou com o levantamento de ferramentas de software-livre disponíveis e

do estudo de casos de sucesso como os da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária

- Embrapa, do Serviço Federal de Processamento de Dados - Serpro e Petróleo

Brasileiro - Petrobras e da Comunidade de usuários do Moodle

(http://www.moodle.org).

Origem das Comunidades Virtuais ENSP-FIOCRUZ

Um dos grandes problemas enfrentados pela maioria das instituições atualmente é não

ter a dimensão real do próprio conhecimento, e conseqüentemente também não

encontram maneiras eficientes de gerir este conhecimento.

A internet trouxe desafios, avanços e problemas para o cotidiano do trabalho das

empresas. Um exemplo disso é o uso crescente de mensagens eletrônicas. Hoje, a troca

de emails é usada para enviar notícias, escrever relatórios, avisar sobre reuniões, enfim,

para uma gama enorme de finalidades.

Se por um lado, esse fenômeno trouxe facilidades para os profissionais, principalmente

a possibilidade de trocar informações sem precisar se locomover. Por outro, alguns

problemas começam a aparecer, um deles é o tráfego de mensagens na rede interna,

causando congestionamentos na rede e falta de espaço para armazenamento. Isso, sem

falar no problema de perda de informação e redundância.

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As comunidades virtuais podem e devem ser entendidas como uma excelente alternativa

para a gestão do conhecimento de uma empresa. Os conteúdos que circulam entre

grupos pelo correio eletrônico passam a fazer parte de uma base de conhecimento

estruturada por diferentes temas e ferramentas.

Este conhecimento organizado passa a ser compartilhado por grupos de profissionais ou

por todos os membros de uma instituição, dependendo dos objetivos a serem alcançados

por essa comunidade e do nível das discussões.

Segundo Jayme Teixeira Filho, podemos falar em seis benefícios básicos de uma

comunidade virtual:

· Reduz os custos de comunicação entre os membros da organização;

· Aumenta a produtividade na solução de problemas;

· Favorece a criação de memória organizacional;

· Favorece o processo de inovação de produtos e processos;

· Facilita a cooperação entre os membros da organização;

· Facilita o compartilhamento de conhecimentos.

Pode-se afirmar que a cultura do compartilhamento é um dos princípios mais

importantes para a gestão do conhecimento, e sob este aspecto, as comunidades virtuais

de prática aparecem como seu principal instrumento.

Em janeiro de 2006, foi iniciado o projeto de desenvolvimento das Comunidades

Virtuais ENSP-FIOCRUZ com o intuito de oferecer aos pesquisadores, professores,

profissionais e estudantes de saúde pública, localizados geograficamente distante, um

ambiente virtual para comunicação e troca de experiências para o início ou

continuação dos trabalhos iniciados em encontros presenciais. Começamos a implantar

um projeto piloto com três comunidades e atualmente, contamos com dez comunidades

em funcionamento:

· Gestão do Conhecimento

· Rede de Práticas em Monitoramento e Avaliação com vistas à melhoria do

Programa de DST/AIDS

· Tecnologias Educacionais em Saúde

· Informação e Informática em Saúde

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· Gestão da Informação em Saúde

· Hacia el plan de comunicación de EUROsociAL Salud

· Curso Nacional de Qualificação de Gestores do SUS

· ACRE (Acervo Colaborativo de Recursos Educacionais)

· Moodle na educação em saúde

· Sistemas de Gestão Acadêmica e padrões de troca de dados para estruturação de

um sistema de informações da Educação em Saúde

·Fig1. Tela inicia da Comunidade Rede de Práticas em Monitoramento e

Avaliação com vistas à melhoria do Programa de DST/AIDS

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· Fig2. Tela inicia da Comunidade Curso Nacional de Qualificação de Gestores do SUS

Metodologia

Após ter identificado profissionais na instituição com necessidade de um ambiente com

as características de uma Comunidade Virtual, entrevistou-se os potenciais participantes

com o objetivo de compreender como se organizavam para trocar informações e que

tipo de ferramenta ou meio eletrônico utilizavam. A partir desses dados foi identificado

as ferramentas necessárias para promover a comunicação e interação entre os

participantes da comunidade.

A opção pela utilização de uma ferramenta de ensino a distância LMS (Learning

Management System) de código livre (Open Source), chamada Moodle se justifica

principalmente pela quantidade de recursos para comunicação e interação disponíveis,

como Chat, Messenger e Wiki; pela facilidade de configuração, adaptação e utilização

do sistema; custo baixo para a implantação e disponibilização; facilidade de operação e

edição de conteúdo por usuários leigos. A maior parte das áreas de texto (fontes,

recursos, fóruns, notícias) podem ser editados usando um editor html WYSIWYG

incorporado, permitindo que os conteúdos possam ser facilmente adaptados e

disponibilizados aos participantes; possuir tradução integral das interfaces para a língua

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portuguesa; possuir uma grande comunidade de desenvolvedores ativa, suporte e

atualização gratuitos através desta comunidade via internet.

Resultados

Atualmente, as Comunidades Virtuais ENSP-FIOCRUZ possuem 994 participantes

cadastrados, distribuídos em 10 comunidades temáticas. A primeira criada foi a do

Plano diretor da pós-graduação da ENSP com objetivo utilizar a comunidade virtual

para facilitar e potencializar o debate entre os membros da Comissão e os docentes da

ENSP, assim como a construção colaborativa do Plano Diretor da pós-graduação. A

segunda comunidade criada foi a de Informação e Informática em Saúde, cujo objetivo

seria proporcionar a troca de experiência para ampliar a capacidade de acesso,

tratamento, análise e utilização das Informações em Saúde, promover discussões que

venham contribuir para a construção de uma inteligência nacional no campo da

informação em saúde. Comunidade que serve também de apoio ao curso de

Especialização em Informática em Saúde. A terceira comunidade criada foi a Rede de

Práticas em Monitoramento e Avaliação em DST/HIV/Aids que tem como objetivo

fortalecer o desenvolvimento e implementação do Plano Nacional de Monitoramento e

Avaliação mediante a troca de conhecimentos e experiências com vistas a melhoria do

programa. A comunidade mais ativa em 2009 é a do Curso Nacional de Qualificação de

Gestores do SUS, um espaço de formulação de documentos e sugestões que

contemplem a complexidade e diversidade das ações da formulação de um Curso em

Rede com a participação dos diversos estados brasileiros e, também, de

acompanhamento, troca e publicidade das informações entre os parceiros envolvidos no

Projeto, visando apontar alternativas criativas para os diferentes aspectos da execução

do Curso.

Para as 10 comunidades criadas, observou-se que a comunidade com participação ativa

do moderador incentivou a participação dos membros nos fóruns e atividades propostas.

Enquanto na comunidade em que o moderador atuou somente como provedor de

conteúdo, membros só atuavam como observadores.

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Dos quase mil participantes cadastrados, menos de 100 solicitaram suporte devido à

dificuldade de inscrição na comunidade, 63 participantes solicitaram suporte quanto a

utilização do sistema.

Discussão e Conclusão

Observa-se com esse estudo que o fator principal para o sucesso e a permanência ativa

de uma comunidade virtual vai além da facilidade na utilização dos recursos disponíveis

pela ferramenta. A participação ativa do moderador fomentando discussões, delimitando

propósitos específicos, desenvolvendo argumento, explorando idéias é essencial como

estímulo à participação dos membros.

As comunidades podem facilitar o processo de transferência de conhecimento, segundo

alguns autores somente 20% do conhecimento organizacional é utilizados pelas

empresas (Teixeira, 2002). Embora o sucesso das comunidades virtuais dependa de

investimentos em tecnologia e dedicação de um mediador, o principal elemento

continua sendo a mudança cultural. Esta mudança será realizada aos poucos e a medida

que os membros da instituição se sintam pertencendo ao ambiente e percebendo os

benefícios que podem ter ao utilizar as diversas ferramentas disponíveis.

Acreditamos que no caso da ENSP, o investimento em práticas de compartilhamento e

transferência de conhecimento está em sua fase incipiente, mesmo considerando-se as

trocas espontâneas entre seus profissionais, a definição de uma política de gestão do

conhecimento, com objetivos, propostas e avaliação de resultados se faz necessária para

que de fato, se possa discutir um modelo de gestão organizacional baseado em

competências e que esteja de acordo com a missão institucional, garantindo assim o

cumprimento das metas e a efetividade dos projetos.

Este modelo referencial pode ser utilizado em diferentes áreas da saúde tanto para

Comunidades Virtuais de Prática, quanto para Comunidades Virtuais de Aprendizagem

como uma ferramenta coletiva de compartilhamento e construção de conhecimento.

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Referências

CASTELLS, M. A galáxia da internet: Reflexões sobre a internet, os negócios e a

sociedade. Rio de janeiro(2003).

RHEINGOLD, H. A comunidade Virtual. Lisboa: Gradiva: 1996, p.13-56.

Reis, MEA. Portal corporativo como ferramenta de gestão do conhecimento. Rio de

Janeiro. ENSP/FIOCRUZ. 2005.

TEIXEIRA Filho, Jaime. Comunidades virtuais: como as comunidades de práticas na

Internet estão mudando os negócios. Rio de Janeiro: SENAC, 2002.