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FUNDAÇÃO UNIVERSIDADE FEDERAL DE RONDÔNIA NÚCLEO DE CIÊNCIAS HUMANAS DEPARTAMENTO DE ARQUEOLOGIA UMA ENGRENAGEM MORTA PRESENTE NA MEMÓRIA DOS VIVOS: uma perspectiva arqueológica da prisão da Ilha de Santo Antônio MONOGRAFIA DE GRADUAÇÃO José Júnior de Souza Pinho Porto Velho, 2019

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FUNDAÇÃO UNIVERSIDADE FEDERAL DE RONDÔNIA

NÚCLEO DE CIÊNCIAS HUMANAS

DEPARTAMENTO DE ARQUEOLOGIA

UMA ENGRENAGEM MORTA PRESENTE NA

MEMÓRIA DOS VIVOS: uma perspectiva

arqueológica da prisão da Ilha de Santo Antônio

MONOGRAFIA DE GRADUAÇÃO

José Júnior de Souza Pinho

Porto Velho, 2019

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UMA ENGRENAGEM MORTA PRESENTE NA

MEMÓRIA DOS VIVOS: uma perspectiva arqueológica da

prisão da Ilha de Santo Antônio

José Júnior de Souza Pinho

Monografia apresentada ao Departamento de Arqueologia da Fundação

Universidade Federal de Rondônia como requisito parcial para obtenção do

título de Bacharel em Arqueologia

Orientadora: Profa. Ma. Elisangela Regina de Oliveira

Porto Velho, Rondônia, Brasil

2019

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Dados Internacionais de Catalogação na Publicação

Fundação Universidade Federal de Rondônia

Gerada automaticamente mediante informações fornecidas pelo(a) autor(a)

Pinho, José Júnior de Souza.

Uma engrenagem morta presente na memória dos vivos: uma perspectivaarqueológica da prisão da Ilha de Santo Antônio / José Júnior de Souza Pinho.-- Porto Velho, RO, 2019.

89 f.

1.Arqueologia Histórica. 2.Ilha de Santo Antônio. 3.Presídio.4.Superartefato. 5.Engrenagens de controle. I. Oliveira, Elisangela Regina de.II. Título.

Orientador(a): Prof.ª Ma. Elisangela Regina de Oliveira

Trabalho de Conclusão de Curso (Graduação em Arqueologia) - FundaçãoUniversidade Federal de Rondônia

P654e

CDU 902.03(811.1)

_____________________________________________________________________________

_____________________________________________________________________________CRB 11/905Bibliotecário(a) Luã Silva Mendonça

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Dedico à minha esposa Francismar Valéria e a todos os professores do Brasil.

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AGRADECIMENTOS

Agradeço à minha esposa, pela sua luta ao meu lado e em todos os desafios desta

conquista, por tantas vezes que me deu força na hora que pensei em desistir.

Aos meus professores por todos os valores éticos e morais que repassaram à

minha pessoa, bem como o conhecimento técnico e científico.

Minha eterna gratidão a todos os juízes que confiaram esta responsabilidade e

que representam todos àqueles que acreditam na ressocialização.

Ao Ministério Público por todos os não que recebi, eles me fizerem uma pessoa

mais persistente e dedicada.

A todos os meus colegas de sala por sempre me incentivarem a não desistir.

A não só esta pesquisa, mais toda uma gratidão à minha falecida mãe, que neste

mundo não existe melhor pessoa.

Fica meu carinho ao Museu do Estado de Rondônia por me receber tão bem e

me auxiliar nesta pesquisa.

Meu carinho e agradecimento aos funcionários do Centro de Documentação do

Tribunal de Justiça, pela ajuda nesta pesquisa e pelo esforço na procura de gerar

conhecimento.

Minha admiração em especial para Carlos Zimpel e Valéria Silva, pela luta na

construção do curso de Arqueologia.

Meus agradecimentos a todos os professores do ensino médio que trabalharam

nos presídios e que proporcionaram o devido conhecimento para que hoje pudesse

chegar nesta etapa e representar o resultado de seu trabalho duro e espinhoso no sistema

prisional.

Mais do que agradecer aos magistrados que me incentivaram nesta luta é poder

dizer que foi possível mostrar que tem solução e que eles já sabem o caminho.

Aos juízes Acir Teixeira Grécia, Kerley Regina Ferreira de Arruda, Sandra

Aparecida Silvestre de Frias Torres, Sérgio William Domingues Teixeira e aos

desembargadores Daniel Ribeiro Lagos e Ivanira Feitosa Borges a minha gratidão e

respeito pela justiça e imparcialidade.

Por fim, venho relembrar que esta pesquisa só foi possível por um conjunto de

pessoas que acreditam na ciência e na mudança do ser humano através da educação.

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“Ninguém ignora tudo. Ninguém sabe tudo. Todos nós sabemos alguma coisa. Todos

nós ignoramos alguma coisa. Por isso aprendemos sempre”

(Paulo Freire)

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RESUMO

O presente trabalho aborda o estudo do sítio arqueológico Prisão da Ilha de

Santo Antônio, entendido como um superartefato. As informações com relação aos

trabalhos de campo neste sítio arqueológico foram obtidas nos relatórios de pesquisa do

“Projeto Arqueologia Preventiva nas Áreas de Intervenção do AHE Santo Antônio”,

cujos dados foram gerados através das intervenções da equipe de Arqueologia da

Scientia Consultoria Científica Ltda.

O objetivo desta pesquisa é compreender a construção e o funcionamento deste

superartefato enquanto uma das engrenagens de controle do sistema penal. Por sua vez,

isso permitirá discutir, de forma mais abrangente, o alcance das engrenagens de controle

social instituídas naquela época.

Neste sentido, será possível contribuir com o conhecimento da sociedade atual

sobre a história de Rondônia, bem como a valorização dos patrimônios arqueológicos

do estado.

Palavras-chave: Arqueologia Histórica; Ilha de Santo Antônio; Presídio; Superartefato;

Engrenagens de controle.

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ABSTRACT

This present work deals with the archaeological site called Prision of Santo

Antônio Island, understood as a superartifact. The information regarding the fieldwork

in this archaeological site was obtained in the research reports of the "Preventive

Archaeology Project in the Intervention Areas of AHE Santo Antônio", whose data

were generated through the interventions of the archaeology team of Scientia

Consultoria Científica Ltda.

The objective of this research is to understand the construction and operation of

this superartifact as one of the control gears of the penal system. This will allow the

discussion in a more comprehensive way, the reach of the social control gears instituted

at that time.

In this sense, it will be possible to contribute with the knowledge of the current

society about the history of Rondônia, as well the valorization of the archaeological

heritage of the state.

Key-words: Historical Archaeology; Santo Antônio Island; Prison; Superartifacts;

Control gears.

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LISTA DE FIGURAS

Figura 1 – Planta frontal e interna da Prisão Hospital San Michele, Roma, 1704 (SUN,

2008) ................................................................................................................................32

Figura 2 - Imagem “Castigo”. Pintura de Jean Baptiste Debret (1835). Fonte:

https://sites.google.com/site/porquehistoria/o-processo-de-escravidao. Acesso em: 24

jul. 2018 .......................................................................................................................... 35

Figura 3 - Lazareto da Ilha Grande, Rio de Janeiro, depois de transformado em prisão

militar (BARBOSA; RESENDE 2009 apud SANTOS, 2007, p. 1180) ........................ 37

Figura 4 - Corte do centro da Casa de Câmara de Ouro Preto/MG (GOUNELLA, 2013,

p. 39) ............................................................................................................................... 39

Figura 5 - Casa de Câmara e Cadeia da cidade de São Paulo. Foto de Militão Augusto

de Azevedo, 1862 (GOUNELLA, 2013, p. 72) .............................................................. 39

Figura 6 - Projeto de 1834 da Casa da Correção do Rio de Janeiro (JOHNSTON, 2000,

p. 62 apud VIANA, 2009, p. 157) .................................................................................. 41

Figura 7 - Fotografia da Casa de Detenção do Estado de São Paulo, construída pela

técnica pensilvânica. Fonte: https://noticias.uol.com.br/album/2017/10/01/25-anos-de-

massacre-do-carandiru.htm?mode=list. Acesso em: 18 out. 2018 ................................. 42

Figura 8 - Homem sendo carregado em um “pau de arara” durante uma parada militar

na década de 1970. Disponível em: https://www.museudeimagens.com.br/pau-de-arara-

ditadura-militar. Acesso em: 25 dez. 2018 ..................................................................... 44

Figura 9 - Centro clandestino de detenção “Casa Azul” na cidade de Marabá (PA).

Fonte: https://paulofontelesfilho.blogspot.com/2015/02/a-casa-azul-marabapa-foi-o-

principal.html. Acesso em: 03 jul. 2018 ......................................................................... 45

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Figura 10 - A Ilha das Pedras Brancas, localizada entre as cidades de Guaíba e Porto

Alegre/RS. Foto de Carlos Rodrigues (VARGAS, 2016, p. 14) .................................... 47

Figura 11 - Foto de presídio construído em ilha usado pela ditadura: o Instituto Penal

Cândido Mendes, RJ. Fonte: https://coloniadoisrios-

ilhagrande.blogspot.com/2010/03/presidio-ilha-grande-antes-e-depois.html. Acesso em:

03 fev. 2019 .................................................................................................................... 47

Figura 12 - Foto do Presídio da Ilha. Anchieta. Disponível em:

https://ubatubense.blogspot.com/2017/12/presidio-da-ilha-anchieta-pos-motim.html.

Acesso em: 12 nov. 2018 ................................................................................................ 48

Figura 13 - Foto presídio na Ilha das flores no Rio Grande do Sul. Disponível em:

https://aluiziopalmar.blogspot.com/2014/04/memorial-da-ilha-das-flores.html. Acesso

em: 12 fev. 2019 ............................................................................................................. 48

Figura 14 - Indivíduo preso na cadeia de Santo Antônio em foto de Danna Merrill de

1910. Acervo do Centro de Documentação do Estado (apud LIMA, 2015, p. 52). ....... 49

Figura 15 - Parede do interior de cela do Forte Príncipe da Beira (NASCIMENTO,

2013, p. 119) ................................................................................................................... 51

Figura 16 - Sítios arqueológicos nas proximidades da cachoeira de Santo Antônio.

Imagem: Google Earth (ZUSE, 2014, p. 96) .................................................................. 54

Figura 17 - Croqui do sítio Ilha de Santo Antônio (TIZUKA, 2012 apud ZUSE, 2014,

p. 97) ............................................................................................................................... 55

Figura 18 - Presídio Ilha de Santo Antônio em ruínas após anos de abandono

(MENEZES; GUSMÃO, 2005) ...................................................................................... 56

Figura 19 - Recorte do Jornal “Alto Madeira”, datado de 29 de março de 2001. Fonte:

Acervo MERO ................................................................................................................ 57

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Figura 20 - Boletim Escola – Escola de Polícia, Ano II, v. 6, Dezembro de 1978. Fonte:

Acervo MERO ................................................................................................................ 58

Figura 21 - Boletim Escola – Escola de Polícia, Ano II, v. 6, Dezembro de 1978. Fonte:

Acervo MERO ................................................................................................................ 58

Figura 22 - Habeas Corpus de 18/09/1976, página 10. Fonte: Centro de Documentação

Histórica do Tribunal de Justiça do Estado de Rondônia (CDH/TJRO) ........................ 59

Figura 23 - Habeas Corpus de 09/07/1974, página 9. Fonte: Centro de Documentação

Histórica do Tribunal de Justiça do Estado de Rondônia (CDH/TJRO) ........................ 60

Figura 24 - Material arqueológico da coleta de superfície realizada no interior da

cozinha do Presídio Santo Antônio. Foto: Pedro Venere, 2019 ..................................... 65

Figura 25 - Coleta da unidade 01 (nível 0-30 cm) aberta na área externa do Presídio

Santo Antônio. Foto: Pedro Venere, 2019 ...................................................................... 66

Figura 26 - Planta do Presídio Santo Antônio. Fonte: Centro de Documentação

Histórica do Tribunal de Justiça (CDH/TJRO) .............................................................. 67

Figura 27 - Rede de Esgoto e Rede Hidráulica do Presídio Santo Antônio (Scientia

Consultoria Científica, 2008) ......................................................................................... 68

Figura 28 - Panorama externo do Presídio Santo Antônio. Fonte: Centro de

Documentação Histórica do Tribunal de Justiça (CDH/TJRO) ..................................... 69

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LISTA DE TABELA

Tabela 1 - Quantitativo geral da coleção após contagem em laboratório ...................... 62

LISTA DE GRÁFICOS

Gráfico 1 - Variedade do material arqueológico coletado nas três intervenções .......... 64

Gráfico 2 - Variedade do material arqueológico na coleta de superfície - Presídio Santo

Antônio ........................................................................................................................... 64

Gráfico 3 - Porcentagem do material arqueológico de acordo com o tipo de coleta -

Presídio Santo Antônio ................................................................................................... 65

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SUMÁRIO

AGRADECIMENTOS ................................................................................................. 06

RESUMO ....................................................................................................................... 08

ABSTRACT .................................................................................................................. 09

LISTA DE FIGURAS ................................................................................................... 10

LISTA DE TABELA .................................................................................................... 13

LISTA DE GRÁFICOS ............................................................................................... 13

INTRODUÇÃO ............................................................................................................ 15

CAPÍTULO 1 - ARQUEOLOGIA HISTÓRICA ...................................................... 17

1.1 ARQUEOLOGIA HISTÓRICA: PRIMEIROS PASSOS COMO CIÊNCIA ..... 17

1.2 ARQUEOLOGIA HISTÓRICA NO BRASIL .................................................... 18

1.2.1 Período de Construção da Arqueologia Histórica no Brasil ...................... 18

1.2.2 Teorias e Suas Contribuições ...................................................................... 19

1.2.3 Período de Consolidação da Arqueologia Histórica no Brasil ................... 20

1.3 ARQUEOLOGIA HISTÓRICA NA REGIÃO NORTE DO BRASIL ............... 21

CAPÍTULO 2 - A CONSTRUÇÃO HISTÓRICA DAS ENGRENAGENS DO

SISTEMA PRISIONAL ............................................................................................... 27

2.1 SISTEMAS PRISIONAIS BRASILEIROS ........................................................ 34

2.1.2 Sistema prisional e sua arquitetura no período colonial ............................. 34

2.1.3 Engrenagem repressiva da ditadura militar ................................................ 42

CAPÍTULO 3 – SISTEMA PRISIONAL DE RONDÔNIA E SUAS

ENGRENAGENS ......................................................................................................... 49

3.1 VILA DE SANTO ANTÔNIO ............................................................................ 52

3.2 ILHA DE SANTO ANTÔNIO ............................................................................ 53

3.3 PRESÍDIO DA ILHA DE SANTO ANTÔNIO .................................................. 55

3.4 MINHAS MEMÓRIAS ....................................................................................... 61

CAPÍTULO 4 – O SUPERARTEFATO ..................................................................... 62

4. 1 MATERIAL ARQUEOLÓGICO DO PRESÍDIO DE SANTO ANTÔNIO ..... 62

4. 2 SUPERARTEFATO PRESÍDIO DE SANTO ANTÔNIO ................................ 66

CONSIDERAÇÕES FINAIS ....................................................................................... 70

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ....................................................................... 71

ANEXO

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INTRODUÇÃO

O presente trabalho aborda o estudo do sítio arqueológico Prisão Ilha de Santo

Antônio, entendido como um superartefato, conceito tal qual abordado por Najjar

(2011). As informações com relação aos trabalhos de campo neste sítio arqueológico

foram obtidas nos relatórios de pesquisa do “Projeto Arqueologia Preventiva nas áreas

de intervenção da UHE Santo Antônio”, cujos dados foram gerados através da

intervenção da equipe de Arqueologia da Scientia Consultoria Científica Ltda.

Devemos destacar de início que o objetivo desta pesquisa não é achar culpados

ou inocentes de crimes, nem opinar sobre qual sistema punitivo seria mais justo ao

indivíduo preso. O que se pretende aqui é esclarecer o período no qual o presídio foi

construído e funcionou, de que forma foi administrado no sentido de quais as

engrenagens que o movimentavam e seu aspecto simbólico para a história de Porto

Velho. Ressaltando que a expressão “engrenagem” aqui representa o órgão que

comanda o sistema prisional no mesmo conceito de Joffily (2008).

A pesquisa é justificada na medida em que podemos dizer que seus resultados

diversificam as linhas interpretativas da atual história de Rondônia, no sentido político e

social.

A monografia está dividida em 4 capítulos, de forma a contextualizar todo o

processo de desenvolvimento desta pesquisa e suas problemáticas. No capítulo 1

propomos uma breve introdução sobre a formação da Arqueologia Histórica no mundo e

sua chegada ao Brasil, com suas transformações no pensamento teórico e metodológico,

bem como sua interdisciplinaridade e desenvolvimento no campo científico.

No capítulo 2, a abordagem é em torno da construção histórica das engrenagens

do sistema prisional, apresentando um panorama histórico de como e porque as

engrenagens repressivas dominantes surgiram e de que forma elas atuaram. Ressaltamos

que, nesta pesquisa, o sistema militar repressivo, a igreja e o poder judiciário

(Defensoria, Ministério Público, juiz) são considerados engrenagens.

No capítulo 3 a proposta é contextualizar o Sistema Prisional de Rondônia e suas

engrenagens, analisando a forma de atuação e a trajetória histórica de prisões, aqui

entendidas como as seguintes estruturas: fortes, presídios, delegacias, casa de detenção e

prisões.

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No capítulo 4 é apresentada uma descrição quantitativa e qualitativa do material

arqueológico coletado na pesquisa de campo realizada no presídio da Ilha de Santo

Antônio, estado de Rondônia. Este material foi cedido para análise pela Scientia

Consultoria Científica Ltda.

Nas considerações finais é apresentada uma reflexão sobre as dificuldades de se

pesquisar um superartefato que já não existe mais, uma possível data de inauguração do

presídio, bem com o real motivo da construção desta edificação e sua importância

simbólica na sociedade rondoniense.

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CAPÍTULO 1 - ARQUEOLOGIA HISTÓRICA

1.1 Arqueologia Histórica: primeiros passos como ciência

Alguns autores definem a Arqueologia Histórica como um campo da ciência

arqueológica (FUNARI, 2002; SYMANSKI, 2009), possuindo diferentes enfoques nas

Américas, na Europa e na Ásia. Em cada continente o período a que se atribui o termo

“arqueologia histórica” é distinto (FUNARI, 2002).

Entender em sua proposta total, ou definir a Arqueologia Histórica, não é uma

empreitada simples, neste sentido a proposta de Orser Jr. parece a mais adequada a esta

pesquisa. Segundo Orser Jr. (2000), a Arqueologia Histórica como ciência

mundialmente conhecida tem início na década de 1960, apesar de já existir registros de

trabalhos neste sentido a partir da década de 1930. Na América do Norte a pesquisa

arqueológica é fatiada em dois períodos distintos:

En América del Norte, los arqueólogos efectúan un corte en dos grandes

períodos temporales: el prehistórico y el histórico. El primero, dominio de

arqueólogos prehistóricos, comienza con más antiguas ocupaciones del

continente, cerca de 10.000 a. C., y finaliza con la presencia de colonos

europeos. El segundo, campo de estudio de la arqueología histórica, se

extiende desde la llegada de los europeos hasta el presente. Puede decirse que

estos dos períodos existen en cualquier parte del Nuevo Mundo en la que los

europeos estuvieron presentes, dado que el continente americano fue habitado

solamente por pueblos nativos hasta que en época histórica otras poblaciones

comienzan a ocupar las mismas regiones (ORSER JR., 2000, p. 18).

Outra questão muito discutida, de inicio nos Estados Unidos, é a preferência de

pesquisas em Arqueologia Histórica, que inicialmente foi muito criticada por

arqueólogos, antropólogos e historiadores como algo que tinha estudo específico em

sítios históricos, deixando de lado povos nativos (ORSER JR., 2000). Entretanto,

segundo Funari (1996, p. 166) “a Arqueologia Histórica estuda, justamente, esta

interação entre dominantes e dominados, letrados e iletrados com diferentes contextos

culturais e cronológicos”.

Nesta vertente, é notável o potencial único da Arqueologia Histórica e seu

desenvolvimento no Brasil, bem como sua capacidade de responder perguntas de

interesse social e científico, através de suas fontes.

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1.2 Arqueologia Histórica no Brasil

1.2.1 Período de construção da Arqueologia Histórica no Brasil

Os primeiros estudos em Arqueologia Histórica no Brasil se iniciaram ao final

da década de 1930 na Bahia e no Paraná (LIMA, 1993). Tais estudos perduram até a

década de 1960, segundo Lima (1993, p. 226):

De fato, foi apenas no início dos anos 60 que a Arqueologia Histórica

emergiu formalmente reconhecida como um campo de pesquisa, através de

investigações conduzidas por arqueólogos pré-historiadores em sítios

históricos. A disciplina a esta época, fortalecida pelos dispositivos da recém-

criada lei n. 3.924, entrava em uma fase de grande dinamismo, com a

implementação de pesquisas por todo o país.

Neste período inicial, na década de 1960, os arqueólogos pré-historiadores

iniciaram uma série de trabalhos de Arqueologia histórica em reduções jesuíticas dos

séculos XVI, XVII e XVIII no Sul do Brasil e em sítios de contato do século XVI no

Nordeste, ficando de fora as regiões Norte, Centro Oeste e Sudeste (LIMA, 1993;

SYMANSKI, 2009).

Grande parte dos primeiros pesquisadores da década 1960 era oriunda do

PRONAPA (Programa Nacional de Pesquisas Arqueológicas). Este projeto, coordenado

pelo casal de arqueólogos do Smithsonian Institution, Betty Meggers e Clifford Evans,

identificou, caracterizou e mapeou no tempo e no espaço, algumas das principais

tradições arqueológicas do Brasil a partir da perspectiva teórico-metodológica histórico-

cultural (SYMANSKI, 2009).

Já na década de 1980, organizou-se um dos primeiros diálogos a respeito da

metodologia usada na Arqueologia Histórica no Brasil. Segundo Lima (1993, p. 227):

Em outubro de 1985, com os objetivos de reunir os profissionais atuantes na

área em todo o país, discutir conceitos, métodos, técnicas e apresentar

pesquisas em andamento, o então Núcleo de Arqueologia da Secretaria do

Patrimônio Histórico e Artístico Nacional/Fundação Nacional Pró-Memória

organizou o Seminário de Arqueologia Histórica, realizado no Paço Imperial,

no Rio de Janeiro.

Em termos de produtividade em trabalhos de Arqueologia Histórica, a

concepção teórica histórico-cultural foi bastante fecunda nos anos de 1960 e 1970, pois

neste período foram realizados importantes trabalhos comparativos, especialmente com

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cerâmicas de vilas espanholas e sítios missioneiros do Paraná e do Rio Grande do Sul

(SYMANSKI, 2009). A partir do fim da década de 1980 os trabalhos continuam sendo

ampliados e direcionados a pesquisas em sítios arqueológicos como engenhos, senzalas

e quilombos, que por sua vez contavam a história das minorias étnicas e de segmentos

subalternos, oprimidos, desfavorecidos, ou marginais, que não puderam registrar sua

própria história, que por muito tempo foram dispensadas ou esquecidas (LIMA, 1993).

Assim sendo, o alcance da arqueologia histórica em novos direcionamentos foi

ampliado, criando um elo com as minorias étnicas e segmentos subalternos, explorados,

desamparados, sem história ou memórias reconhecidas (LIMA, 1993; SYMANSKI,

2009). Segundo Lima (1993), o foco, antes direcionado a história oficial, agora se

preocupava em resgatar informações e práticas da vida habitual, sobre os quais não

havia interesse de se escrever.

Já na década de 1990, apesar da cerâmica permanecer uma das principais

categorias materiais abordadas, há uma crescente atenção dada a outras categorias

materiais, com ênfase especial às diversas categorias de louças (faiança, faiança fina e

porcelana), mas também artefatos de vidro e itens de metal (ARAUJO & CARVALHO,

1993; LIMA, 1993; MORALES, 2001; SYMANSKI, 2008). Todavia, mesmo com a

diversificação no interesse em diversos tipos de vestígios, existem outros materiais

como pedras, ossos, restos alimentares, entre outros menos frequentes, que ficaram de

certa forma esquecidos ou excluídos das pesquisas (LIMA, 1993).

Nesta vertente, esta pesquisa não pretende reinventar a arqueologia histórica ou

contar novas histórias de uma classe subalterna. O que se pretende é gerar informações

e contribuições, basicamente como proposto por Gomes (2013, p. 68):

Não imagino que a Arqueologia Histórica possa contradizer ou recontar todas

as histórias caladas, a cultura material também tem seu limite e nem penso

que preencher as lacunas da historiografia seja o objetivo desta disciplina ....

Por certo que investigar o passado através dos vestígios arqueológicos pode

fornecer informações inéditas e novos pontos de vista ....

1.2.2 Teorias e suas contribuições

A Arqueologia Histórica, através de seus pesquisadores em seu processo de

construção com mais de 50 anos de identidade, aderiu a vários modelos de teorias e

métodos, sendo que os mais usados são: histórico-culturalismo, processualismo e pós-

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processualismo. Cabe ressaltar que estes modelos estiveram presentes tanto na

Arqueologia Pré-Histórica, quanto na Arqueologia Histórica (SYMANSKI, 1996;

FUNARI, 2003; GHENO & MACHADO, 2013).

A escola histórico-cultural, adotada como modelo teórico e metodológico pelos

pesquisadores do PRONAPA, foi responsável pelo desenvolvimento de muitos

trabalhos em Arqueologia Histórica nas décadas de 1960-1970, resultando em trabalhos

comparativos entre cerâmicas de vilas espanholas e sítios missioneiros do Paraná, além

da caracterização da tradição ceramista Neobrasileira (SYMANSKI, 2009). Porém, com

o passar do tempo este modelo sofreu muitas críticas, abrindo espaço para outros

modelos teóricos.

O modelo Processual, que surgiu no contexto da Arqueologia antropológica

norte-americana na década de 1960 pelas mãos do pesquisador Lewis Binford, em um

movimento que se autodenominou New Archaeology, foi um claro desafio ao caráter

histórico da Arqueologia histórico-cultural. Outro modelo adotado bem sucedido é a

arqueologia pós-processual ou contextual, com dimensões políticas da disciplina e na

luta dos povos pelo seu próprio passado e por seus direitos (FUNARI, 2004/2005).

1.2.3 Período de consolidação da Arqueologia Histórica no Brasil

É possível afirmar que Arqueologia Histórica é uma disciplina ainda muito nova,

tendo se institucionalizado, nos Estados Unidos e no Brasil, entre as décadas de 1960 e

1990 (FUNARI, 2004/2005). Neste período, o desenvolvimento de muitas pesquisas

científicas no Brasil foi prejudicado pela instabilidade política e financeira. Nota-se que

a Arqueologia Histórica começa se estabilizar no fim da ditadura militar, porém, seu

desenvolvimento durante o regime militar pode ser considerado um grande avanço

(FUNARI, 2004/2005).

Entretanto, ditaduras militares, regimes avaliados pela maioria da comunidade

acadêmica como de estagnação e atraso nas Ciências Humanas, não foi um fato isolado

só no Brasil, a instabilidade política nos países da América do Sul até hoje causa atraso

no desenvolvimento científico em geral e também da Arqueologia Histórica (SOARES,

2014; BARETTA, 2014). Segundo Gheno e Machado (2013, p. 174-175):

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(...), a questão dos regimes militares como “sufocadores” da liberdade nas

pesquisas em Arqueologia não foi um fenômeno isolado e tipicamente

brasileiro, pois ocorreu em toda a América do Sul. A Arqueologia Histórica,

em especial, foi muito prejudicada, pois, o estudo da cultura material

histórica foi feito, por muito tempo, até a década de 1980, principalmente por

não arqueólogos, em geral arquitetos e historiadores da arte.

Mesmo com um aumento das pesquisas em Arqueologia Histórica na década de

1980 e sua estabilidade, em termos de pesquisa arqueológica ela ainda se resumia a uma

pequena parte do Brasil, na maioria nas regiões Sul e Nordeste. Apesar de, neste mesmo

período, terem sido realizados trabalhos na Amazônia sob a coordenação de Fernando

Marques, com resultados promissores tanto na parte teórica como metodológica

(COSTA, 2017). Cabe ressaltar que no Sudeste existe o registro de pesquisas neste

período realizadas por Maximino (1997). A estabilidade dos trabalhos em Arqueologia

Histórica no Brasil ficou definida a partir da década de 1980-1990, ainda que com certo

dualismo teórico crítico, como ressalta Symanski (2009, p. 18):

(...) há, atualmente, um marcante dualismo na arqueologia histórica brasileira.

Em um extremo, situa-se uma resistente tradição arqueográfica, cujos

trabalhos têm poucas pretensões de apresentar informações que sejam

relevantes em termos de processos sócio-culturais. No outro, está uma

vertente crítica cada vez mais popular, focalizada, sobretudo, na dimensão

política da subdisciplina, considerando seu potencial no empoderamento dos

grupos oprimidos, tidos como marginalizados pela historiografia. Segundo

esta vertente, uma das poucas vias de acesso à história desses grupos é

através da arqueologia, pelo fato dos mesmos terem deixado registros escritos

sobre si próprios somente em raras ocasiões.

1.3 Arqueologia Histórica na região Norte do Brasil

O Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq), em

parceria com o Museu Goeldi, sugeriu a criação de um projeto que expandisse a

arqueologia em boa parte do Brasil, bem como a criação de uma terminologia brasileira

para cerâmica e a divulgação da metodologia de campo, baseada na perspectiva

americana (NETO, 2014), foi criado assim o Programa Nacional de Pesquisas

Arqueológicas (PRONAPA).

Entre 1965 e 1970, através do Programa Nacional de Pesquisas Arqueológicas

(PRONAPA), nove Estados brasileiros, em diferentes regiões, foram beneficiados para

o desenvolvimento de um novo método de pesquisa arqueológica (NOELLI, 1999-

2000). A região Amazônica foi uma das beneficiadas, recebeu neste período, mesmo

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que direcionado à arqueologia pré-histórica, os primeiros contatos com a arqueologia

profissional. Segundo Neto (2014, p. 5-6) “Simões idealizou um programa de pesquisas

para a região amazônica - Programa Nacional Pesquisas Arqueológicas da Bacia

Amazônica - PRONAPABA, mas devido as suas muitas atividades este só aconteceu na

década de 1970 com a contribuição das equipes de Ondemar Dias, Eurico Miller e Celso

Perota”. Não só no Norte brasileiro, mas na Amazônia em geral, a maioria dos

arqueólogos tem preferência pela arqueologia pré-histórica, como ressalta Gomes

(2013, p. 54):

A partir de um levantamento em alguns centros, institutos e universidades

que têm departamento de arqueologia, ou desenvolvem pesquisas nesta área,

nos países que têm parte de seu território ocupado pela Floresta Amazônica

(ver Mapa 8), foi fácil perceber que a esmagadora maioria dos trabalhos tem

a que ver com o estudo dos povos que habitavam esta vasta região antes da

chegada dos europeus; no que toca à Arqueologia Histórica, os trabalhos

estão concentrados nos centros históricos de algumas capitais ou cidades

portuárias e nos estudos dos fortes ou igrejas antigas no litoral do Pacífico ou

no Mar do Caribe, com algumas exceções (Langebaek Rueda 2003, Martín,

Brooks e Lima 2012). Na região marcada pela floresta amazônica, mesmo

ocupando ela grande parte do território de alguns destes países, são raras as

investigações propostas.

Porém, cabe ressaltar que as pesquisas arqueológicas sistemáticas na Amazônia

já têm certa tradição desde o século XX (GOMES, 2013). Segundo Gomes (2013), o

sítio do Engenho do Murutucu, em Belém, pode ter sido um dos primeiros sítios

históricos pesquisados na Amazônia brasileira, ainda na década de 1980. Recentemente,

a pesquisa neste engenho foi retomada por Diogo Costa (2013), inclusive com o projeto

de um sítio escola direcionado a funcionários, estudantes e pesquisadores do Museu

Goeldi. O engenho do Murutucu também tem sido tema de dissertações de mestrado

(MARTINS, 2015).

Um dos pioneiros em pesquisas de arqueologia histórica na Amazônia é

Fernando Marques, que em sua tese de 2004 pesquisou os sítios históricos de engenhos

localizados no estuário amazônico, remanescentes dos séculos XVIII e XIX. Nos

engenhos Murutucu, Mocajuba, Jaguarari e Uriboca ele abordou o contexto ambiental,

as estruturas arquitetônicas e o material arqueológico. Em 2006 Marques trabalhou no

Sítio Histórico de Joanes, com parceria estabelecida entre o Instituto do Patrimônio

Histórico e Artístico Nacional (IPHAN), a Fundação Instituto para o Desenvolvimento

da Amazônia (FIDESA), o Museu Paraense Emílio Goeldi (MPEG) e o Museu do

Marajó (SCHAAN & MARQUES, 2012).

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Outro trabalho atual que podemos ressaltar é o de Lopes (2013), que fez

pesquisas arqueológicas tendo como foco a arqueologia da arquitetura, analisando

documentos do período colonial para análise na paisagem e a organização dos grupos

dominantes. Sua pesquisa produziu um livro com o título de “O melhor sítio da terra”

(LOPES, 2014).

A maioria dos trabalhos direcionados a Arqueologia Histórica na região

amazônica foram realizados no Pará, todos vinculados diretamente ao Museu Goeldi,

um grande incentivador destas práticas de pesquisas (ÂNGELO, 2013; GOMES, 2013).

Para Gomes (2013), a partir dos trabalhos de restauro e organização de alguns

ambientes no centro histórico de Belém, foi aberto espaço para o estudo de sítios

históricos e da ocupação europeia na região, aumentando o acervo da reserva técnica

dos museus do Estado do Pará e Museu Goeldi.

Outro estado do Norte que se destaca, e que pode ser considerado o segundo

maior em termos de pesquisas de arqueologia histórica, é o Amapá, cujos sítios

arqueológicos históricos de fortalezas portuguesas construídas no período colonial são

muito importantes (GOMES, 2013). Destaca-se a atuação do Núcleo de Pesquisas

Arqueológicas do IEPA, que funciona desde 2005 e abriga hoje uma importante coleção

científica que abarca elementos da longa história de ocupação humana nesta região da

Amazônia, seu acervo que é formado por peças oriundas de mais de 60 sítios

arqueológicos, alguns com mais de 7 mil anos de idade, atestando a longa história

indígena da região, e outros bem mais recentes, como os pesquisados por Albuquerque

(2007) em uma prospecção arqueológica realizada pela equipe do Laboratório de

Arqueologia da UFPE no entorno do Povoado de Mazagão Velho, que permitiu uma

avaliação preliminar da correspondência espacial entre o atual povoado e a antiga ‘Nova

Mazagão’, bem como o potencial de vestígios arqueológicos da área.

Um dos motivos para o aumento dos trabalhos em arqueologia histórica na

Amazônia é a chamada arqueologia de contrato ou arqueologia de salvamento, segundo

Caldarelli e Santos (1999/2000) “Atualmente, a exemplo do que ocorreu em outros

países, a pesquisa arqueológica levada a cabo no Brasil é predominantemente realizada

por contrato de prestação de serviços”. Esta modalidade é muito criticada por alguns

arqueólogos, normas e conceitos sobre a forma de atuação têm sido debatidas como

ressalta Monticelli (2000, p. 146):

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Um “Código de Conduta” específico para a arqueologia de contrato foi

discutido longamente no encontro Arqueologia Empresarial em Goiânia, em

2000, a partir de 18 itens iniciais elaborados e justificados, entre os anos de

1997 e 1999, por uma Comissão de Arqueologia de Contrato composta por

Solange Caldarelli (coord.), José Luiz Morais, Tereza Cristina Franco, João

Carlos Chmyz e Maria Lúcia Pardi.

Esta modalidade teve um elevado aumento nos últimos anos, onde grandes

empresas responsáveis por obras públicas e privadas terceirizaram empresas

especializadas em arqueologia para realizar trabalhos obrigatórios assegurados pela

Constituição Federal, que define que todo patrimônio arqueológico é um bem da União,

e tem a proteção do Poder Público. Neste sentido, a Lei Federal nº 3.924 de 1961,

garante que são proibidos e considerados crimes os casos de destruição e mutilação

desses bens. As pesquisas que possam causar intervenções realizadas em um sítio

arqueológico devem ser permitidas pelo IPHAN, por meio de pessoas qualificadas,

possuindo emissão de Portaria no Diário Oficial da União para formalização e

permissão.

Na região amazônica, na década 1980 e 1990, intervenções arqueológicas tanto

de iniciativa privada quanto pública, ocasionaram a ampliação das áreas de estudo em

arqueologia histórica, entretanto as pesquisas foram em grande maioria destinadas à

interpretação de elementos arquitetônicos-paisagísticos e fontes documentais (GOMES,

2013).

Estes foram os focos das pesquisas realizadas em Vila Bela da Santíssima

Trindade, estado do Mato Grosso, e no Forte Príncipe da Beira, em Rondônia. Em Vila

Bela o arqueólogo Paulo Zanettini (2006) pesquisou o uso de quintais nos

remanescentes de quilombos. Na gigante fortaleza de nome Forte Príncipe da Beira, que

seria uma das mais belas estruturas históricas do estado de Rondônia, Fernando Luiz

Tavares Marques, pesquisador do Museu Paraense Emílio Goeldi, realizou prospecções

e acompanhamento arqueológico dos serviços de limpeza e remoção de materiais

culturais e descartes através de trabalhos arqueográficos da área intramuros do Forte

entre 2006 e 2009.

Cabe esclarecer que, em alguns estados, trabalhos específicos na área de

Arqueologia Histórica são incipientes, até o presente momento esta pesquisa não

localizou publicações ou registro de intervenções arqueológicas específicas de

arqueologia histórica nos estados do Tocantins e Roraima. Estes estados, por sua vez,

são portadores de muitos sítios históricos que aguardam serem estudados. Esta

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dificuldade em identificar trabalhos em arqueologia histórica no norte brasileiro foi

apresentada por outro pesquisador, segundo Gomes (2013, p. 66):

Nesta busca por notícias de pesquisas em arqueologia histórica na Amazônia,

em uma frenética troca de e-mails com colegas, não obtive nenhuma

informação de estudos que estejam sendo levados adiante ou que em passado

possam ter ocorrido, no Estado de Roraima. O estado do Tocantins, mesmo

fazendo parte da região Norte, não tem características típicas da Amazônia e

por isso não busquei os trabalhos que lá estão sendo desenvolvidos.

O mesmo se aplica ao estado do Acre. No que refere à arqueologia histórica,

segundo Gomes (2013) “não se tem, até o momento, nenhum sítio histórico incluído no

Cadastro Nacional de Sítios Arqueológicos (CNSA) do IPHAN”. Entretanto, o próprio

Gomes (2013) ressalta que, em 2013, foi efetivado um salvamento emergencial de

materiais arqueológicos culturais aflorados em uma área urbana pela arqueóloga

Cristiane Martins, que pode ser considerado como os primeiros dados sobre um sítio

histórico do estado do Acre.

O estado do Amazonas, apesar de ter uma vasta historiografia do período

colonial, principalmente em sua capital Manaus, não é visto como vasto em pesquisa na

arqueologia histórica (GOMES, 2013). Contudo, podemos destacar os trabalhos do

Museu Paraense Emílio Goeldi, que a partir da década de 1980 trouxe novos olhares

sobre a história da Amazônia e vêm contribuindo para a preservação e valorização do

patrimônio histórico e cultural da região, com reflexões sobre o processo de

patrimonialização de bens arqueológicos na Amazônia (ÂNGELO, 2013).

Ressalta ainda Gomes (2013) que os trabalhos que foram realizados entre 2000 e

2002 pelos pesquisadores do estado do Amazonas, que efetuaram resgate arqueológico

em uma catedral e em sítios arqueológicos urbanos na área central da cidade, apesar de

não haver publicações até o momento, são trabalhos de relevância.

No estado de Rondônia, foco desta pesquisa, o cenário arqueológico é

pesquisado há pelo menos 40 anos. De 1980 até o ano 2000 os trabalhos eram quase

todos direcionados a sítios arqueológicos pré-históricos. Segundo Zimpel (2008, p. 35):

Todos os dados disponíveis para o Estado de Rondônia foram produzidos

pelo arqueólogo Eurico Theófilo Miller. Em mais de vinte anos de pesquisa,

percorrendo milhares de quilômetros, consegue estabelecer e organizar os

primeiros dados arqueológicos, situados na bacia do rio Madeira, no Pantanal

do Guaporé, no Rio Guaporé, na bacia do rio Jamari e Ji-Paraná. Dentro de

suas publicações (Miller, 1983,1987a, 1987b, 1992, 1999, Miller et al. 1992,

Miller e Caldarelli, 1987, Miller e Meggers, 2003) o pesquisador cria

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diversas fases líticas, uma tradição e uma subtradição cerâmica, além de

outras fases cerâmicas sem cronologia e tradição arqueológica definidas.

Mesmo com os projetos de Arqueologia preventiva ligados às obras das UHE

Jirau e Santo Antônio, que em sua grandeza alcançariam até sítios históricos que antes

não eram de interesse da maioria dos arqueólogos que realizaram pesquisas em

Rondônia, a expectativa do aumento de trabalhos de arqueologia histórica e futuras

publicações, não se realizou de imediato. Segundo Gomes (2013), pelo menos 15 sítios

históricos foram registrados, mas só o sítio Vila de Santo Antônio foi objeto de estudo

até o momento.

Contudo, a previsão é que isto seja alterado principalmente graças à implantação

do curso de graduação em Arqueologia na Universidade Federal de Rondônia (UNIR),

onde algumas monografias já foram defendidas com foco em temáticas da Arqueologia

Histórica (BERTOLO, 2014; NASCIMENTO, 2017). Nesse sentido ressalta Bertolo

(2014, p. 68):

Apesar de a produção de conhecimento não se igualar a práxis arqueológica,

vimos quão ampla ela vem se tornando. Depois de muitos anos de uma

atuação discreta da arqueologia, atualmente, principalmente por conta das

grandes obras de engenharia, foi formada dentro da universidade, uma massa

crítica que pensa arqueologia, e que tem tudo para desenvolvê-la no estado

nas próximas décadas.

Desta maneira, o estudo aqui proposto vem contribuir neste cenário, ampliando o

conhecimento sobre a História de Rondônia e também diversificando os objetos de

estudo da Arqueologia Histórica no estado ao pesquisar um presídio. Nessa vertente, no

próximo capítulo apresentaremos a historiografia do sistema prisional e suas

engrenagens, forma de atuação e de como este sistema chegou ao atual estado de

Rondônia. Por sua vez, será confrontado tanto o que a história escrita apresenta, quanto

dados de arquitetura e engenharia e as informações fornecidas pela arqueologia da

repressão e da resistência.

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CAPÍTULO 2 - A CONSTRUÇÃO HISTÓRICA DAS

ENGRENAGENS DO SISTEMA PRISIONAL

No título desta monografia a palavra engrenagem é compreendida como órgão

de controle de instituições penais, presídios, prisões, ou locais de interrogatórios.

Ressaltando que, além do poder militar repressivo, a igreja, o poder judiciário

(defensoria, Ministério Público, juiz) e a família são considerados engrenagens nesta

pesquisa.

O objetivo deste capítulo não é saber quando foi construído o primeiro presídio

ou penitenciária no Brasil, ou discutir as formas de socializar as pessoas que cometeram

um crime. Entretanto, é preciso conhecer o panorama de como e porque as engrenagens

repressivas dominantes atuaram. Esses locais o seu valor histórico e político que portam

sua materialidade os espaços sua relação física com os acontecimentos passados

gerando elementos necessários ao dar sentido ao acontecido. A forma de atuar de uma

engrenagem influencia muito na construção de prédios ou escolha de locais para sua

construção. Neste as informações podem trazer respostas a esta pesquisa.

Assim, é necessário entender as primeiras prisões, suas motivações e em que

tipo de lugar eram alojadas as pessoas que aguardavam sua sentença ou cumprimento de

suas penas. Cabe ressaltar que o estudo deste imenso artefato “presídios” não é só físico,

sua estrutura atravessou vários períodos importantes da história do Brasil com diferentes

engrenagens de controle prisional, testemunhou mudanças ao longo do tempo no atual

estado de Rondônia. Neste sentido, fazemos uso da proposta de Funari e Zarankin, na

qual:

O estudo de sua arquitetura e as transformações experimentadas por ela ao

longo do tempo, considerando a arquitetura como um tipo de comunicação

não verbal, é uma linha alternativa para analisar discursos ligados ao manejo

do poder, codificados em paredes (FUNARI & ZARANKIN, 2005, p. 135).

Em boa parte da história da humanidade a prisão tinha por objetivo a guarda de

escravos e de prisioneiros de guerra, ou ainda, a custódia de réus até seu julgamento

(SUN, 2008). As primeiras pessoas mantidas encarceradas em uma prisão, que se tem

notícia, foram mantidas em uma instituição penal conhecida como Hospício de San

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Michel, em Roma, que serviria de prisão até para "jovens incorrigíveis", e era batizada

de Casa de Correção (MACHADO et al., 2013; MAGNABOSCO, 1998). A prisão

neste período, segundo Teixeira (2008, p. 36) “Antes, curiosamente, era desprovida do

caráter de castigo”. O sistema era basicamente voltado à espera de uma decisão de culpa

ou inocência, e não só para crimes graves, mas para pagamento de dívidas pendentes.

O verdadeiro castigo, a pena, viria depois, basicamente por meio de castigos e da

morte. Na Grécia antiga era comum prender os devedores até que pagassem suas dívidas

e, neste caso, a prisão tinha como função simplesmente dificultar a fuga do devedor.

Eram, na verdade, tanto na Grécia quanto em Roma, experiências isoladas, diferentes da

imagem de prisão que se tem hoje em dia (TEIXEIRA, 2008, p. 36-37).

A prisão a qual o individuo fica recluso por um longo tempo teve inicio na

igreja, no período da Idade Média, que achou esta solução para punir

religiosos que descumpriam suas obrigações com a igreja e suas regras

celestiais, neste sentido com longos períodos de meditação, oração e

isolamento que assim pagariam suas sentenças (TEIXEIRA, 2008;

MACHADO, SOUZA & SOUZA, 2013).

Segundo Zomighani (2013, p. 39) “O termo prisão já era utilizado desde o

século XI, mas sua forma atual - como pena privativa de liberdade - surgiu somente no

século XVIII”.

Este modelo, construído pela Igreja com finalidade de arrependimento e

purificação, foi absorvido pelos europeus, que viram neste modelo uma forma mais

moderada de punição. Assim, para Zomighani (2013, p. 38) “A prisão moderna, produto

da revolução francesa, um movimento social liderado pela burguesia, é também um

produto das ideias filosóficas dos pensadores dos séculos XVIII e XIX”. Isto seria a

nova justiça em uma concepção mais “humana”, sem muito sofrimento. Segundo

Foucault (1987, p. 15) “Não tocar mais no corpo, ou o mínimo possível, e para atingir

nele algo que não é o corpo propriamente”. Entretanto, estes períodos e estas mudanças

podem ter ocorrido já no século XVI:

No século XVI, na Europa, apareceram as primeiras prisões seculares,

inspiradas nas prisões religiosas, destinadas a recolher mendigos,

vagabundos, prostitutas e jovens delinquentes, os quais se multiplicaram com

a crise do feudalismo e o crescimento das cidades. Várias delas foram

construídas com o fim de segregá-los por um certo período, durante o qual,

sob disciplina extremamente rígida, buscava-se regenerá-los, atribuindo-se

propósito reformador à pena.(TEIXEIRA, 2008, p. 37).

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O objetivo aqui não é entrar no mérito da data exata da adoção/criação do

sistema punitivo na Idade Média, mais sim caracterizar a forma de controle social dos

indivíduos presos e da sociedade daquele período.

É notadamente visto que a Igreja, uma das engrenagens de controle do indivíduo

privado de liberdade, e que compõe o sistema prisional e seus aglomerados de grandes

estruturas prediais, chamados de presídios, prisões, penitenciárias, cadeias, entre outros

teve sua contribuição na forma de punição e construção (SUN, 2008; TEIXEIRA,

2008). Apesar de na Grécia e em Roma já existir um controle do estado sobre os

prisioneiros, esse controle fica atrelado à aplicação da pena de morte, e sanções como

açoites, castigos corporais, mutilações, entre outras (SUN, 2008). O controle das prisões

e do corpo do indivíduo preso está muito ligado à Igreja, tanto nos modelos de punição,

como de controle do corpo através dos suplícios (TEIXEIRA, 2008; ZOMIGHANI,

2013; SUN, 2008), ressaltando que a Igreja aqui é descrita nesta pesquisa como

engrenagem.

A segunda engrenagem a se destacar neste processo é a burguesia, que por

motivos políticos e econômicos influenciou muito o modelo de prisões na Idade Média,

em especial os séculos XVII/XVIII/XIX (ZOMIGHANI, 2013; FOUCAULT, 1987).

No fim da Idade Média a burguesia não era a classe dominante, mas estava longe de ser

a classe dominada (BRESSER-PEREIRA, 2011).

A burguesia, como engrenagem, trilha uma linha de aprendizado e controle

social. Segundo Miglioli (2006, p. 14) “O Estado é o principal órgão de dominação

política de uma classe sobre outras. Para conquistar esse poder, a burguesia passou por

um longo processo deformação, de crescimento e de aprendizagem”. Este grupo

socioeconômico diferenciado possui atuações nas duas classes, a dominante e a

dominada. Sua formação é enfatizada no sentido de que:

Com a formação das monarquias absolutistas (apoiadas pela burguesia),

unificando territórios, mercados, leis, moedas, tributos etc., o poder político

se concentrou nos reis. Bastante enriquecida, uma parte da burguesia

começou a comprar terras, conquistar títulos de nobreza e, inclusive, a

assumir cargos nos governos. Apesar de continuar sendo uma classe

subordinada, a burguesia se fortaleceu, adquiriu maior experiência e começou

a vislumbrar a possibilidade de tomar o poder. Na Inglaterra, já no século 17,

teve importante influência nas revoluções de 1640 e 1660, das quais

resultaram a queda do poder do rei, o aumento da participação do parlamento

(em especial da chamada “Câmara dos Comuns”, separada da “Câmara dos

Lordes”) e a conquista de novos direitos, sem, contudo, profundas alterações.

Na Inglaterra, a burguesia, aliada da pequena nobreza (que se aburguesava),

depois dessa revolução agiu de modo lento e cauteloso, e isso continuou

assim até mesmo com o aparecimento (a partir da segunda metade do século

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19) dos empresários industriais, a fração mais dinâmica e ousada da

burguesia. Na França a história foi bem mais turbulenta. Inserida no chamado

“terceiro estado”, a burguesia começou a lutar diretamente pelo poder de

classe a partir da revolução de 1789 (que acabou com os direitos feudais),

antes mesmo de iniciar a industrialização do país, e continuou sua luta apesar

de todos os percalços posteriores: a instauração do império de Napoleão

Bonaparte, a restauração monárquica, o golpe de Luís Bonaparte etc.

(MIGLIOLI, 2006, p. 14-15).

A influência da burguesia foi tão profunda na construção do sistema de presídios

que, segundo Zomighani (2013, p.38), “A prisão moderna, produto da revolução

francesa, um movimento social liderado pela burguesia”. A burguesia não estava

preocupada com o ser humano e nem com a forma que ele era encarcerado. Ela estava

em um período de transição e exercia uma pressão para se definir o que era crime grave

e a forma de punição. Tinha como objetivo a diminuição de roubos e saques na área

rural e comercial, seu interesse era extremamente econômico (FOUCAULT, 1987).

A política sobre o sistema penal do século XVIII teve uma influencia direta da

burguesia. Sua presença política neste período é demonstrada por:

Historicamente, o processo pelo qual a burguesia se tornou, no decorrer do

século XVIII, a classe politicamente dominante, abrigou-se atrás da

instalação de um quadro jurídico explícito, codificado, formalmente

igualitário, e através da organização de um regime de tipo parlamentar e

representativo (FOUCAULT, 1987, p. 144-145).

Por sua vez, o capitalismo ligado à burguesia afetou muito uma parte de

trabalhadores que foi marginalizada. E segundo Bresser-Pereira (2011, p. 6) “A

emergência da burguesia industrial ao poder correspondeu o surgimento da classe

operária, que imediatamente assumiu o papel de classe dominada por excelência,

ficando marginalizados do novo sistema os trabalhadores rurais e camponeses”. Isso

gerou uma onda de crimes para os dois lados, a classe operária, pelas revoltas e

injustiças e a burguesia, pelo abuso do poder econômico, escravizando os trabalhadores

(FOUCAULT, 1987). Como a prisão passa ser controlada pela burguesia e seus

interesses, é para ela a parte indispensável da força estatal, o aprisionamento se torna o

principal meio punitivo, com o advento do sistema capitalista (LOLIS & SILVA, 2017).

As burguesias, junto ao capitalismo, nesta pesquisa são consideradas grandes

engrenagens colaboradoras para a construção do aglomerado de prédios conhecidos

como prisão, presídio, cadeias, entre outros, no objetivo simples de controlar pessoas

que não se enquadram nos seus interesses.

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A nova engrenagem que surge no sistema prisional se chama “justiça”. Na Idade

Medieval ou Média ainda não era claro os efeitos da “justiça” e seu real propósito:

Para o homem medieval o direito de punir era delegação divina sendo que a

pena tinha o fim de salvar a alma para a vida eterna. A privação da liberdade

viabilizada pela Igreja era uma oportunidade que o condenado tinha de

meditar sobre sua culpa e arrepender-se, não tinha caráter de pena. Os

conceitos de crime e pecado se confundiam e o criminoso era visto como

pecador, cuja salvação para a vida eterna dependia do castigo

(CHIAVERINI, 2009, p. 27).

A classe dominante, formada pela burguesia, Igreja, governo, ou coroa, diante

das transformações ocorridas no século XVI até o XVIII e uniformização da sanção

penal, que colocou a pena de prisão como a regra do sistema punitivo, agora se obriga a

organizar a pena de prisão (CHIAVERINI, 2009). Por sua vez, a justiça não mais

assume publicamente a parte da violência que está ligada a seu exercício, ela que antes

via o matar como justo e legal (FOUCAULT, 1987; CHIAVERINI, 2009). Começa no

século XVIII a nova estratégia de se fazer justiça segundo Foucault (1987, p. 15) “Se a

justiça ainda tiver que manipular e tocar o corpo dos justiçáveis, tal se fará à distância,

propriamente, segundo regras rígidas e visando a um objetivo bem mais ‘elevado’ ”.

A justiça passa a ser uma parte do controle e organização do sistema penal e suas

estruturas físicas. Segundo Chiaverini (2009, p. 12) “A administração da justiça é uma

fonte de renda e um instrumento de controle social, por isso jamais é desprezada pelo

poder constituído”. Os setores dominantes possuem um olhar próprio da lei e da ordem

na busca de vantagens (MARTINS, 2003). Zomighani (2013), afirma que neste período,

o discurso passa a ser inovador com “leis”, e com uma sociedade em harmonia, visando

uma punição que se baseia no tempo. Entretanto, o corpo jurídico como uma

engrenagem do sistema na sua essência e as questões da aplicação das leis levou a

discussões que se entrelaçam entre os séculos XVIII e XIX (BRASIL, 1989).

Tudo isto torna bem irregular o processo evolutivo que se desenvolveu na

virada do século XVIII ao XIX. A isto tudo acresce que, embora se tenha

alcançado o essencial da transmutação por volta de 1840, embora os

mecanismos punitivos tenham adotado novo tipo de funcionamento, o

processo assim mesmo está longe de ter chegado ao fim (FOUCAULT, 1987,

p. 18).

Com as mudanças na forma de se fazer a justiça, agora de forma mais

“humanitária”, a política na Europa e Estados Unidos é alterada e consequentemente

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surgem as prisões modernas com novos discursos e ideias direcionadas à proteção

(ZOMIGHANI, 2013). Entretanto, para Sun (2008, p. 38):

Neste novo modelo, a punição isolava-se atrás dos muros, momento em que

se dava fim aos suplícios públicos e, assim, início às torturas veladas.

Tratava-se da Prisão de Custódia, tendo como filosofia a segurança, prática

bastante comum em nossos dias.

Em termos de construção de prisões deste modelo para custodia e detenção,

Cordeiro (2005, p. 2) acredita que “Nos séculos XVII e XVIII surge grande número de

estabelecimentos de detenção, não obedecendo a nenhum princípio penitenciário,

normas de higiene e de moral”. Os prédios prisionais ainda não eram programados para

uma pena de longa duração, não tinham estrutura e assemelhavam com uma fortaleza,

na maioria só para evitar as fugas (CORDEIRO, 2005; SUN, 2008; ESTECA, 2017).

A primeira prisão com característica funcional foi um hospital em Roma,

comandado pela igreja, que se chamava San Michele (Figura 1), este passou a ser

reconhecido como protótipo de projeto em bloco celular, dispondo de celas com janelas

para o exterior (SUN, 2008).

Figura 1 - Planta frontal e interna da Prisão Hospital San Michele, Roma, 1704 (SUN, 2008).

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Somente na transição do século XVIII para o XIX a sociedade americana e

europeia, impulsionada pela Revolução Industrial, começa a discutir o sistema

penitenciário e as formas de reclusão dos criminosos, que passam a ser debatidas

intensamente (OLIVEIRA, 2007; TEIXEIRA, 2008; TRINDADE, 2011). Contudo,

neste período a prisão ainda é algo bem cruel, esse fato é bem exposto por Sun (2008,

p.43) “denominado posteriormente de Sistema da Filadélfia (pensilvânico, belga ou

celular), cuja característica mais marcante era o isolamento celular absoluto, com

passeio isolado do sentenciado em pátio circular, sem trabalho ou visitas, incentivando-

se a leitura da Bíblia”.

A prisão na Idade Moderna combina com decisivas transformações sociais. Elas

estabelecem alternativa para coibir a vagabundagem e disciplinar o trabalhador no

mundo industrial (CHIAVERINE, 2009). As penas físicas e as inúmeras penas de morte

foram eliminadas devido à preferência pelo interesse econômico em preservar a força de

trabalho necessária ao acréscimo do capitalismo (CHIAVERINE, 2009; LOLIS &

SILVA, 2017). Lolis e Silva (2017, p. 201) afirmam que “em outras palavras, com o

surgimento do sistema de produção capitalista, a prisão descobre suas funcionalidades

específicas na pena privativa de liberdade; sistema punitivo compatível com a nascente

ordem capitalista”.

A prisão passa a ser uma força indispensável das forças estatais, o preso se torna

a peça fundamental nomeio punitivo com o advento do sistema capitalista (LOLIS &

SILVA, 2017).

Neste sentido, é possível observar que o sistema prisional nasce na igreja, passa

por transformações impostas pela burguesia, sendo por fim absorvido pelo capitalismo

(ZOMIGHANI, 2012, LOLIS & SILVA, 2017). Ele se transforma, no decorrer da

história, em uma instituição essencialmente política, econômica e classista (LOLIS &

SILVA, 2017). É a partir da identificação das primeiras engrenagens ditatoriais do

sistema prisional que podemos verificar alguns dos maiores desafios e riscos em

analisar a estrutura física predial de uma prisão. Neste sentido, nos estudos de

Arqueologia Histórica é importante o caráter discursivo tanto dos vestígios materiais

como documentais, sendo as duas vertentes inseparáveis.

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2.1 Sistemas Prisionais Brasileiros

2.1.2 Sistema prisional e sua arquitetura no período colonial

Partindo da conceituação de Orser Jr. (2000, p. 11), segundo a qual “A natureza

multidisciplinar da arqueologia histórica significa que ele tem uma ampla gama de

fontes de informação”, pretendemos analisar as diversas fontes de informação

disponíveis sobre o presídio Ilha de Santo Antônio, construído no século XX, sendo

elas: artefatos, estruturas, arquitetura, documentos escritos, informações orais e imagens

pictóricas. Nesta proposta interdisciplinar, alguns fatores históricos da construção das

engrenagens que cercam esta edificação têm de ser analisados com extrema cautela.

Para estabelecer equilíbrio nas interpretações da Arqueologia Histórica, que segundo

Funari (1996, p. 166) “estuda, justamente, esta interação entre dominantes e dominados,

letrados e iletrados, com diferentes contextos culturais e cronológicos”.

O conceito atual de prisão é recente, datando do século XVII com a reforma do

Direito Penal e a consequente “humanização” das penas (DI SANTIS, ENGBRUCH,

D’ELIA, 2012). Todavia, o aprisionamento de indivíduos no Brasil começa antes

mesmo do Brasil ser uma nação, já com os primeiros escravos africanos que começaram

a ser aprisionados e importados em meados do século XVI, junto com uma parte dos

índios que era submetida à prisão e a escravidão no período colonial (MARQUESE,

2006). Junto com a escravidão e prisão em senzalas, vinham as torturas, tudo dentro da

lei que:

Em 10 de junho de 1835 foi sancionada pelo regente imperial uma nova lei

de repressão aos crimes cometidos por escravos. Em relação à legislação

existente a nova lei ampliava o número de delitos praticados por cativos, que

passariam a ser condenados com a pena capital, e encurtava os procedimentos

para o julgamento e execução de sentença. Apesar da recorrente indicação na

historiografia sobre a importância dessa lei na repressão de movimentos de

contestação escrava e na aplicação da pena de morte, o assunto tem recebido

ainda pouca atenção (PIROLA, 2012, p. 11).

Apenas em 15 de outubro de 1886 o Parlamento Brasileiro aprovou a criação de

uma lei que aboliu a aplicação da pena de açoites em escravos (Figura 2) (PIROLA,

2017). A engrenagem que comanda esta fase do sistema de prisões é o Império, que

representa o estado, a lei e o carrasco através do código Criminal do Império, que

estabelece a forma de aplicação da lei sobre os negros (PIROLA, 2017).

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Figura 2 - Imagem “Castigo”. Pintura de Jean Baptiste Debret (1835). Fonte:

https://sites.google.com/site/porquehistoria/o-processo-de-escravidao. Acesso em: 24 jul. 2018.

Outras prisões que fizeram parte do sistema de engrenagens punitivas do

Império, e que fazem parte da história brasileira, são as fortificações, fortes e casas

forte. Dentre essas edificações a mais antiga é o Forte São João, localizado na cidade de

Santos, litoral do estado de São Paulo, cuja arquitetura indica que foi construído em

meados do século XVI (MORI, 2003). Estas edificações foram objeto de diversos

estudos arqueológicos (ALBUQUERQUE, 2007, 2008; LIMA, 2008; DURAN &

RAMBELLI, 2015; SILVA, 2007; UESSLER, 2006). Segundo Uessler (2006, p. 43)

“As fortificações são consideradas como a arte ou efeito de organizar, por meio de

construções militares, a defesa, posse e/ou ataque a um determinado território”. Sua

localização pode ser em local fixo ou de forma temporária, isso dentro de uma logística

especifica (UESSLER, 2006). Entretanto, existem aspectos a serem levados em

consideração, pois a:

Fortificação é uma expressão genérica que nomeia: fortes, fortalezas, fortins,

baluartes, pontos fortes, redutos. Mas quando nos referimos a “Fortificações

Brasileiras” não estamos falando apenas das edificações e das suas condições

arquitetônicas, mas, suscitamos outros aspectos construtivos desse conceito: a

sua historicidade, as questões políticas, econômicas e as puramente militares

relacionadas à estratégia e à tática (IPHAN, 2014, p. 2).

As primeiras fortalezas, fortes e casas forte foram construídas no litoral

brasileiro entre os séculos XVI e XVIII com objetivo do aprofundamento das conquistas

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de novas terras “nunca antes” exploradas (SECOMANDI & PAUL, 2016). Uma boa

parte das informações relacionadas a estas edificações foi deteriorada com o tempo

(ALBUQUERQUE, 2008). Segundo o IPHAN (2014) “Muitas fortificações brasileiras

desapareceram, ao longo dos séculos, ou delas sobraram apenas às ruínas e os registros

históricos das batalhas ali travadas”. Albuquerque (2008, p. 40) acredita que

“Fortificações de diferentes dimensões e técnicas construtivas foram erigidas por

diferentes nacionalidades. Ao longo do tempo e dos combates, os vestígios destas

fortificações ou desmoronaram nas barrancas dos rios ou foram “engolidos” pela selva”.

Pesquisas realizadas por arqueólogos apontaram para o uso de fortificações

como prisões, seja na parte interna ou externa da edificação (BARTHEL, 2007; BAVA

DE CAMARGO, 2005-2006; LIMA, 2008; ROSA, 2008; SILVA, 2010; UESSLER,

2006).

Documentos apontam que, na Amazônia, o Real Forte Príncipe da Beira foi

usado como prisão, principalmente para prender escravos. Documentos de 1792 tratam

das constantes fugas e em particular daqueles aprisionados no dito Forte (ROSA, 2008,

p. 43-44).

Na região Nordeste o forte Orange ou Fortaleza de Santa Cruz, localizado no

litoral Norte de Pernambuco, na ilha de Itamaracá, se encontra atualmente em bom

estado de conservação. Segundo Barthel (2007, p. 35) o forte Orange “foi melhorado

entre 1637 e 1639. Em 1640, foram levados para lá os religiosos das ordens beneditina,

carmelita e franciscana, que ficaram presos e depois foram embarcados para fora do

país”.

No início das atividades, alguns fortes não tinham como prioridade a prisão, mas

logo passaram por transformações, como indicado abaixo:

Voltando ao aspecto bélico (...) as fortificações de Cananéia/Iguape não

tiveram uma vida muito longa: são planejadas no final da primeira década do

século XIX (o período de planejamento e execução se estende de 1819 a

1825) e, já em meados do mesmo século adquirem outras funções (prisão e

local de quarentena) (Bava de Camargo 2002, ver Corpus documental).

BAVA DE CAMARGO, 2005/2006, p. 284.

No sistema Imperial de engrenagens punitivas, as fortificações construídas na

ilha principal de Fernando de Noronha também se transformaram em prisões em dois

períodos ao longo de 200 anos, sendo o primeiro para prender militares e o segundo

para civis e políticos (PESSOA, 2014). Segundo Pereira (2015, p. 2) “De 1938 até 1987

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a ilha esteve sob administração militar, funcionando como presídio político da União e

como posto avançado de defesa durante a Segunda Guerra Mundial, quando chegou a

abrigar cerca de três mil militares”.

No sistema de fortificações de Salvador, na Bahia, em sua construção já era

previsto a implantação de prisões em seu perímetro (MOREAU, 2011).

Já no período republicano, o antigo Lazareto da Ilha Grande, na cidade do Rio

de Janeiro, foi convertido em prisão (Figura 3).

Figura 3 - Lazareto da Ilha Grande, Rio de Janeiro, depois de transformado em prisão militar

(BARBOSA; RESENDE 2009 apud SANTOS, 2007, p. 1180).

O atual sistema prisional no Brasil, bem como a participação das engrenagens

que o regem, teve o mesmo desenvolvimento daquele observado na França e nos

Estados Unidos, os quais começaram o seu projeto de reforma das prisões no final do

século XVIII (TRINDADE, 2009). Todavia, as mudanças já tinham começado, segundo

Esteca (2010, p. 27), com “a vinda da família real ao Brasil em 1808 permitiu que o país

transpusesse a condição de “presídio de degredados”, decretado pelas Ordenações do

Reino de Portugal, e iniciasse uma transformação rumo à sua autonomia legal e à

atualização do modelo punitivo”.

Para Esteca (2010, p. 19) “Entre os séculos XVIII e XIX, a Ciência da Prisão

enfatizou o espaço construído das edificações prisionais nas técnicas penitenciárias”,

onde o preso é quem deve se adequar a prisão. Neste período a engrenagem, antes

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imperial, de um único gestor, passou a ser integrada por várias engrenagens com

interesses específicos voltados às suas necessidades.

A transição de Império para República provocou mudanças fortes na forma das

engrenagens punitivas atuarem na década de 1890, como ressalta Machado (2015):

Após o fim do Império e a Proclamação da República, o modelo penal

progressivo foi o escolhido como base para o Código Penal de 1890,

elaborado logo após a Proclamação da República. O Código Penal de 1890

finalmente rompeu com os últimos resquícios das penas corporais e

promoveu a ruptura formal do Direito Penal com o período escravista, ao

instituir a isonomia na aplicação da legislação penal entre os brasileiros

(MACHADO, 2015 p. 397).

Até 1824 a lei portuguesa era baseada nas Ordenações Filipinas de 1603, que

punia com a pena de morte, o degredo, o açoite, a mutilação, a queimadura com ferro

quente, o confisco de bens e ainda com a humilhação pública do réu (MACHADO,

2015). Os prédios prisionais eram condizentes com as leis das Ordenações Filipinas.

Segundo Gounella (2013, p. 65) “No Brasil, os primeiros estabelecimentos

projetados e construídos para abrigar apenados foram as Casas de Câmara e Cadeia

(Figura 4), que acumulavam as funções de sede político-legislativo e estabelecimento

prisional, sendo fiscalizadas pelas Assembleias Provinciais”. Os funcionários destas

Casas de Câmara e Cadeia eram políticos, “vereadores”, juízes, escrivães e tesoureiros,

que eram eleitos entre os “homens bons” que residiam nas localidades onde se

estabelecia cada Casa de Câmara e Cadeia (GOUNELLA, 2013). As cadeias, por sua

vez, entre os séculos XVII e XVIII, eram construídas dentro do núcleo urbano, próximo

de praças (GONÇALVES, 2010). Nessas cadeias os presos não eram só criminosos

perigosos:

Até a Independência, as cadeias eram administradas pelas Câmaras dos

municípios. Na maior parte das vilas, elas eram instaladas em cômodos ou

casas alugadas, enquanto em vilas e cidades maiores ficavam no próprio

edifício da Câmara. Em caracterização resumida, as cadeias públicas

municipais eram depósitos de pessoas, sem segurança contra fugas nem

condições de higiene, e nelas eram recolhidos indivíduos de todo tipo, desde

pessoas livres condenadas, que respondiam a processo criminal ou em prisão

civil, até escravos ou negros suspeitos de serem escravos fugidos, e também

vadios, loucos, índios, prostitutas, bêbados etc. (KOERNER, 2006, p. 5).

O reconhecimento destes modelos como primeiras Casas de Câmara e Cadeia, e

devido a uma mudança importante na estrutura física, novas técnicas de construção,

trazidas de Portugal entre elas a que usava “gaiolas” na estrutura das edificações e

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janelas de arco batido, as quais foram trazidas para o Brasil e utilizadas na construção

dos edifícios (Figuras 4 e 5), e separação de homens e mulheres em celas

(GOUNELLA, 2013).

Figura 4 – Corte do centro da Casa de Câmara de Ouro Preto/MG (GOUNELLA, 2013, p. 68).

Figura 5 - Casa de Câmara e Cadeia da cidade de São Paulo. Foto de Militão Augusto de

Azevedo, de 1862 (GOUNELLA, 2013, p. 72).

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Para entender melhor a mudança no sistema prisional e na sua estrutura física,

política e jurídica, no período de transição do Império para República e o que provocou

mudanças fortes na forma das engrenagens punitivas, utilizaremos como exemplo a

construção da Casa de Câmara e Cadeia da cidade de São Paulo, o presídio de Fernando

de Noronha que foi comandado por duas engrenagens punitivas do sistema penal da

época (militar e civil 1854 e 1882) e a Casa de Correção do Rio de Janeiro, planejada na

década de 1830 e que só foi concluída em 1850.

O primeiro e mais complexo é o presídio de Fernando de Noronha, devido há

vários anos de domínio militar, e regras duras. Foi primeiramente militar e

posteriormente civil (SILVA, 2007; PESSOA, 2014). A primeira remessa de presos,

segundo Silva (2007, p.2), chegou na década de 1830. Após o Decreto federal n. 2.375,

de 5 de março de 1859, na segunda metade do século XIX os degredados e os

condenados a pena de prisão, se não tivessem lugar seguro para cumprimento de prisão,

deveriam ser enviados para Fernando de Noronha (PESSOA, 2014). Neste período, a

prisão era comandada pela Secretaria de Estado dos Negócios da Guerra, obedecendo ao

Código Criminal de 1830.

O presídio sofreu uma importante mudança após a visita de Antônio Herculano

de Souza Bandeira Filho, já sem influência imperial, que denunciou as condições

desumanas do presídio e a presença de menores e pessoas que já não eram mais presas e

que continuavam lá (SILVA, 2007). Segundo Pessoa (2014, p. 20) “Em 1873, a

Secretaria da Guerra informou que dos 1.414 prisioneiros, 557 eram provenientes da

província de Pernambuco”. Um número relativamente grande para a época, estes presos

eram principalmente das regiões Nordeste e Sudeste (SILVA, 2010).

O segundo exemplo é a Casa de Correção do Rio de Janeiro, cuja atividade se

manteve tanto durante a Monarquia quanto na República. Em 1834 foi organizado o

projeto da Casa de Correção da cidade do Rio de Janeiro, que foi definitivamente

inaugurada em 1850 (ESTECA, 2010). Visando cumprir o código penal de 1830, a

Casas de Correção no Rio de Janeiro, assim como a de São Paulo, já são construídas

com “modernidades”, com celas individuais e oficinas de trabalho e uma disposição

própria para a pena de prisão (ESTECA, 2010). A Casa de Correção do Rio de Janeiro,

em sua construção, foi uma cópia do modelo Panopticon (Figura 6).

O modelo panóptico pode ser entendido como a construção predial em que se

pode visualizar e controlar todos os integrantes por uma única pessoa, a qual não

necessariamente se sabia se estava ou não controlando. Este modelo foi desenvolvido

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por Benjamin Bentham, um jurista e filósofo inglês nascido no século XVIII

(GUANDALINI & TOMIZAWA 2013).

Figura 6 - Projeto de 1834 da Casa da Correção do Rio de Janeiro (JOHNSTON, 2000, p. 62

apud VIANA, 2009, p. 157).

Não só no Brasil, mas em todos os países da América Latina, as Casas de

Correção acompanharam os padrões arquitetônicos europeus. A casa de Correção do

Rio de Janeiro “só não se igualou ao modelo do Panopticon por um erro de construção”

(ESTECA, 2010). Esta ideia de seguimento de modelos Panopticon não durou muito.

Segundo Esteca (2010, p. 34) “Com a República e a edição do Código Republicano

(1890), a Arquitetura Penitenciária no Brasil passou a ser conformada na Ciência

Penitenciária pela técnica pensilvânica e pela ideologia positivista” (Figura 7).

Entre 1960 e 1970 surge um conjunto de normas e regras técnicas unificadas

para a construção de presídios, todavia, outros modelos começaram a surgir, mesmo que

de forma desorganizada, sem respeitar regras da legislação da época (ESTECA, 2010).

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Figura 7 – Fotografia da Casa de Detenção do Estado de São Paulo, construída pela técnica

pensilvânica. Fonte: https://noticias.uol.com.br/album/2017/10/01/25-anos-de-massacre-do-

carandiru.htm?mode=list. Acesso em: 18 out. 2018.

2.1.3 Engrenagem Repressiva da Ditadura Militar

A ditadura civil-militar brasileira caracterizou-se por um “poder torturador”,

cujas contrapartidas institucionais desmembraram-se entre os centros de

tortura e extermínio (sua esfera menos visível) e os presídios e a justiça

militar (sua face mais visível) (TELES, 2011, p. 161).

A Ditadura Militar, regime político comandado por membros das forças armadas

e que governou o país no período de 1964 a 1985, será aqui interpretado como uma das

engrenagens mais marcantes do regime repressivo prisional brasileiro, em razão de sua

forma de atuação. Para esta pesquisa este período é de fundamental importância, pois

este regime político pode ter atuado na prisão da Ilha de Santo Antônio como

engrenagem civil-militar. Destaca-se também que, durante a ditadura militar, havia uma

preferência por prisões que foram construídas em ilhas (BARETTA, 2014).

A engrenagem civil-militar de repressão tem um foco específico, que é o “preso

político”. Um preso político é um indivíduo encarcerado numa prisão pelas autoridades

de um país, podem ser parlamentares de partidos políticos, sindicalistas, ou até pessoas

que não aprovam o regime em vigor (FARIA, 2008). Todavia, há controvérsia neste

entendimento. Presos comuns e políticos foram colocados no convívio da prisão na Ilha

Grande durante a ditadura, os chamados “assaltantes de bancos” e presos políticos

dividiram celas em prisões, pois o regime militar usou a estratégia de não reconhecer a

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existência de presos políticos no Brasil, a ditadura também não reconhecia o caráter

político de sua prisão conforme a Lei de Segurança Nacional (LSN) de 1969 (FARIA,

2005). Pode ser ressaltado ainda, no sentido de reconhecimento de presos políticos e

suas atuações, que:

Bandidos, revolucionários e marginais não interagiram apenas no Brasil. Na

Rússia tzarista, na região da Geórgia, os revolucionários fizeram uma série de

expropriações sem o consentimento do partido e com a ajuda de “bandidos”

locais. Pancho Villa, um outro exemplo famoso de bandido herói, chegou ao

posto de general do exército revolucionário mexicano. Na China

revolucionária Mao sempre foi a favor da participação de “bandidos” e

contou com o apoio deles na Revolução Chinesa. Durante a guerra de

independência argelina, marginais e bandidos eram recrutados na cadeia.

Cuba contava com a presença de marginais e até de um plantador de maconha

entre os revolucionários. E, no Brasil, tentativas de “conversão” de presos ao

comunismo aconteceram bem antes de 1964 (FARIA, 2005, p. 7).

Em busca de melhorias e com muita rebeldia os presos de natureza política

fizeram muitas greves de fome até que sua condição de presos políticos fosse

reconhecida e lhes fosse destinado um presídio político (FARIA, 2005). Cabe ressaltar

que, nesta pesquisa, prisão onde é confinado o preso político pode ser entendida como

vários locais, não só presídios, como é proposto por Faria (2005):

Presos políticos e comuns não conviveram apenas na Ilha Grande. Logo após

o ato da prisão era comum os guerrilheiros serem levados para as

dependências do Departamento de Ordem Política e Social (DOPS), do

Exército, da Marinha ou da Aeronáutica. O Centro de Informações do

Exército (CIE) os levava tanto para o Destacamento de Operações de

Informações/Centro de Operações de Defesa Interna (DOI/CODI) – com sede

no quartel da Polícia do Exército (PE), da rua Barão de Mesquita, na Tijuca,

bairro carioca – quanto para os quartéis. O Centro de Informações da

Marinha (CENIMAR), localizado no prédio do Primeiro Distrito Naval, no

arsenal da Marinha, usava os cárceres existentes na Ilha das Cobras e/ou na

Ilha das Flores. E o Centro de Informações da Aeronáutica (CISA), cuja

prisão era a própria sede, a Base Aérea do Galeão. Quaisquer dessas

dependências, não importando se as do DOPS, do DOI/CODI, do CIE, do

CENIMAR ou do CISA, funcionavam como centros de tortura e era muito

comum a família do detento não ser informada de sua localização, pelo

menos enquanto durasse a fase de interrogatório, leia-se tortura. (...) os presos

enquadrados na Lei de Segurança Nacional de 1969, durante as investigações

policiais, poderiam ficar incomunicáveis por dez dias e presos trinta dias, sem

que fosse feita uma acusação formal, sendo possível prorrogar esse prazo por

mais trinta dias. Ora, se as famílias e os advogados não eram informados

imediatamente após a prisão, quando os presos políticos eram descobertos

nas cadeias tornava-se impossível determinar a quanto tempo eles estavam

sob a custódia do Estado (FARIA, 2005, p. 75).

Para Napolitano (2014, p. 10) “a subida dos militares ao poder mudaria para

sempre a história brasileira, além de ter fornecido um novo modelo de golpe e de regime

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político para vários países latino-americanos”. A engrenagem civil-militar em sua

estrutura surge em meio a um golpe apoiado pelo imperialismo norte-americano,

indústrias e pelos setores conservadores da alta hierarquia da Igreja Católica, bem como

a participação burguesa nacional e internacional (LARA & SILVA, 2015). A forma de

atuação nos presídios, delegacias e instituições próprias, por esta engrenagem e suas

sub-engrenagens tem como referência as técnicas de indução do sofrimento (TELES,

2011).

Teles (2011, p. 161) ressalta que “a tortura, empregada de modo sistemático

durante a ditadura brasileira, era essencial na engrenagem repressiva criada desde o

golpe de 1964 e foi parte vital dos procedimentos da justiça militar instituídos pela

legislação de exceção do período”. Todavia, este modelo é um retrocesso de direitos

humanos adquiridos em séculos, tendo em vista sua semelhança com o modelo das

Ordenações Filipinas de 1603, que tinha a pena de morte, o degredo, o açoite, a

mutilação, a queimadura com ferro quente, o confisco de bens e ainda a humilhação

pública do réu como meios de punição. Cabe ressaltar que foram criados métodos de

tortura exclusivos como o Pau-de-arara (Figura 8), que é uma tortura criada no Brasil na

qual o preso político era obrigado a sentar abraçando os joelhos e com os pés e as mãos

amarradas (BORGES & NORDER, 2008). Um cano era introduzido sob os joelhos.

O Brasil passou, entre 1964 e 1985, por uma série de acontecimentos políticos,

transformações econômicas e sociais ao mesmo tempo em que a violência do estado era

aflorada (NAPOLITANO, 2014).

Figura 8 - Homem sendo

carregado em um “pau de arara”

durante uma parada militar na

década de 1970. Disponível em:

https://www.museudeimagens.co

m.br/pau-de-arara-ditadura-

militar. Acesso em: 25 dez.

2018.

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A engrenagem militar repressiva funcionava em estado de guerra constante a

procura de inimigos, que por sua vez foram alvo de uma experiência prisional baseada

na tortura e morte (LEMOS 2016). Segundo Lemos (2016, p. 71) eram dois tipos de

centros “oficiais” de detenção, as delegacias, presídios, unidades do Exército, da

Aeronáutica e da Marinha e os centros clandestinos de detenção, como, por exemplo, a

Casa Azul em Marabá - PA (Figura 9) e a Casa da Morte em Petrópolis (RJ). Os centros

clandestinos não tinham características de prisão.

A Arqueologia como ciência ativa nas questões sociais e políticas se refere à

engrenagem e sub-engrenagens da ditadura militar sendo representada por uma área

conhecida como Arqueologia da Repressão e da Resistência (SOARES, 2014).

Segundo Soares (2014, p. 181) “No cenário local, a Arqueologia da Repressão e

da Resistência foi influenciada diretamente pelo trabalho exitoso e paradigmático de

profissionais argentinos, que criaram em 1984, logo após o fim da ditadura, um grupo

de Antropologia Forense”.

Figura 9 - Centro clandestino de detenção “Casa Azul” na cidade de Marabá (PA). Fonte:

https://paulofontelesfilho.blogspot.com/2015/02/a-casa-azul-marabapa-foi-o-principal.html.

Acesso em: 03 jul. 2018.

Em 1991 houve uma pesquisa não oficial na região do Araguaia, na qual

estavam envolvidos familiares e profissionais da Equipe Argentina de Antropologia

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Forense (EAAF) (SOARES, 2014). Em 1992, já com órgãos oficiais e uma equipe

composta por profissionais da Escola Nacional de Saúde Pública - FIOCRUZ e do

Museu Nacional da UFRJ que foi treinada pela EAAF, foram localizados 14 presos

políticos em um cemitério (SOARES, 2014).

Segundo Mechi e Justamand (2014, p. 110) “Os estudos arqueológicos têm

contribuído para os esforços que vêm se realizando em alguns países latino-americanos,

para resgatar as histórias ocultas, encobertas ou esquecidas e deliberadamente

distorcidas da vaga ditatorial que assolou diversos países do continente a partir da

segunda metade do século XX”. Neste momento atual a Arqueologia tem potencial para

contar a história dos excluídos através de suas pesquisas e área de atuação (MECHI &

JUSTAMAND, 2014). Entretanto, muitas provas foram extraviadas segundo Mechi e

Justamand, pois na “ditadura muitos dos documentos que poderiam esclarecer aspectos

do regime foram destruídos, prática que se seguiu após o término da ditadura. Ainda

hoje, pesquisadores enfrentam dificuldade para pesquisar, já que em muitas instituições

ainda é negado o acesso a documentos que são públicos” (2014, p. 111).

Cabe ressaltar que o objetivo do presente estudo, no que tange a engrenagem da

ditadura militar repressiva, é identificar o local da prisão e a forma de atuação da

engrenagem. A despeito dos locais, segundo e exposto:

A princípio, se acreditava na existência de aproximadamente 18 locais,

porém, iniciadas as pesquisas nos processos de indenização política e nos

prontuários dos presos políticos do DOPS/RS, como dado prévio, esse

número saltou para 40 locais. Esses lugares compreendem espaços que

serviram para detenção e tortura, como quartéis, presídios, escolas,

delegacias; um Centro Clandestino de Detenção e Tortura e também

hospitais, utilizados para atendimento médico dos presos (BARETTA, 2014,

p. 11).

A partir da identificação destes prédios, presídios, prisões, estruturas e locais é

possível construir a história mais consistente, com base na atuação da engrenagem

repressiva militar e a real ligação dos prédios e suas funções como estruturas

repressivas.

A Arqueologia pode resgatar informações sobre as memórias de um

acontecimento doloroso, para as gerações que vivenciaram esse momento e também

para aqueles que chegaram depois da destruição dos regimes autoritários, como forma

de conhecer o seu passado (BARETTA, 2014).

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Cabe lembrar que o Brasil instalou presos em diferentes ilhas, sempre com a

ideia de que isso os distanciava de suas origens, reduzindo comunicação e influência, e,

ainda, dificultava fugas (SÜSSEKIND; 2014). Nesta proposta a engrenagem punitiva,

opressora e repressiva militar usou diversas “ilhas presídios” como espaço de tortura,

cárcere e humilhações (figuras 10, 11, 12 e 13).

Figura 10 - A Ilha das Pedras Brancas, localizada entre as cidades de Guaíba e Porto Alegre/RS. Foto de

Carlos Rodrigues (VARGAS, 2016, p. 14).

Figura 11 - Foto de presídio construído em ilha usado pela ditadura: o Instituto Penal Cândido

Mendes, RJ. Fonte: https://coloniadoisrios-ilhagrande.blogspot.com/2010/03/presidio-ilha-

grande-antes-e-depois.html. Acesso em: 03 fev. 2019.

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Figura 12 - Foto do Presídio da Ilha Anchieta. Disponível em:

https://ubatubense.blogspot.com/2017/12/presidio-da-ilha-anchieta-pos-motim.html. Acesso

em: 12 nov. 2018.

Figura 13 - Foto presídio na Ilhadas flores no Rio Grande do Sul. Disponível em:

https://aluiziopalmar.blogspot.com/2014/04/memorial-da-ilha-das-flores.html. Acesso em: 12

fev. 2019.

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CAPÍTULO 3 - SISTEMA PRISIONAL DE RÔNDONIA E SUAS

ENGRENAGENS

A história da prisão rondoniense se inicia com a construção da Estrada de Ferro

Madeira-Mamoré. Conforme o historiador Abnael Machado de Lima (1997), “Santo

Antônio: a Fênix do Rio Madeira”, no vilarejo de Santo Antônio do Madeira, às

margens do rio Madeira e distante cerca de 7 km da cidade de Porto Velho, havia

diversos órgãos públicos, dentre eles uma pequena cadeia, onde moradores e

trabalhadores infratores eram detidos pela guarda territorial. Essa Cadeia Pública foi

fotografada pelo americano Danna B. Merrill, contratado em 1910 por Percival Farquar

para registrar a construção da Estrada de Ferro Madeira-Mamoré (figura 14) (LIMA,

2015, p. 51).

Figura 14 – Indivíduo preso na cadeia de Santo Antônio em foto de Danna Merrill de 1910.

Acervo do Centro de Documentação do Estado (apud LIMA, 2015, p. 52).

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Todavia, esta afirmativa pode não estar correta. A pesquisa citada considera

todos os lugares onde um indivíduo cumpria pena neste sentido, a primeira engrenagem

punitiva repressiva do sistema prisional do atual estado de Rondônia, ainda que de

forma improvisada, foi o Forte Príncipe da Beira, uma Fortaleza colonial localizada no

rio Guaporé, parte do Patrimônio Histórico Nacional, inscrito no livro de Tombo das

Belas Artes (Decreto-lei nº 25, de 30 de novembro de 1937). Segundo Nascimento

(2013, p. 114) é o “monumento mais antigo do estado de Rondônia”.

O forte foi construído no século XVIII pelos portugueses, servindo de proteção

para o oeste Amazônico (NASCIMENTO, 2013). Sua construção teve inicio no dia 20

de junho de 1776, por ordem da coroa de Portugal para substituição ao Fortim de

Conceição, que no ano de 1771 ficou destruído em razão de uma grande enchente do rio

Guaporé (NASCIMENTO, 2013). O Forte Príncipe da Beira foi usado com engrenagem

repressiva escravista punitiva do sistema imperial, como ressalta Rosa (2008, p. 43).

Boa parte da documentação do ano 1792, ao todo 210, relaciona as poucas

menções que faz sobre escravizados ao Forte Príncipe da Beira, que por sua

vez é relacionado a assuntos da Capital e da Vila de Cuiabá. Esses

documentos tratam das constantes fugas e em particular daqueles

aprisionados no dito Forte. Versam também sobre escravizados que se

achavam trabalhando em território espanhol para Dom Lázaro de La Ribera.

Segundo Nascimento (2013, p. 116) “Nas paredes da cela, o prisioneiro Pacheco

rabiscou suas garatujas em forma de poema, mas suas estrofes estão praticamente

ilegíveis pela erosão, umidade e falta de conservação no local” (figura 15).

Nascimento (2013) propõe algumas hipóteses acerca do grafismo de outro preso,

mas que carecem de comprovação ou amparo em bibliografia específica:

Em letras maiores, outro prisioneiro anônimo ou talvez, o próprio Pacheco,

relatou outro acontecimento singular, ocorrido em 18 de setembro de 1852,

às duas horas da tarde: um grande tremor de terra de duração ignorada se

abateu sobre o entorno do Real Forte Príncipe da Beira. Mas o que

aconteceu? Seria resultado de alguma falha geológica resultante das terras

peruanas ou chilenas? Pelo escritos grafados nas paredes da prisão, o

anônimo sujeito registrou apenas o abalo sentido. Certamente, sua condição

no cárcere não lhe proporcionava discernimento para entender o fenômeno e

grafar maiores explicações.

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Figura 15 - Parede do interior de cela do Forte Príncipe da Beira (Nascimento, 2013, p. 119).

Após uma resolução pondo ordem nas questões de fronteira de Portugal e

Espanha, o forte já não era tão importante, começando assim seu declínio, tendo sido

definitivamente abandonado em 1895 (NASCIMENTO, 2013).

Existe um lapso temporal entre 1792 a 1910 no qual esta pesquisa não alcançou

registros de presos ou prisões que poderiam descrever o sistema de engrenagens deste

lapso de mais de 108 anos.

A partir do século XX, o Território Federal de Rondônia apresenta novos

registros de presos e formas de prisão, sendo que agora o sistema substitui uma única

engrenagem para um conjunto de engrenagens que regem o sistema prisional.

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3.1 Vila de Santo Antônio

Esta pesquisa constatou um vácuo de informações no período de 1890 a 1901,

ou seja, não encontramos informações sobre o sistema de prisão ou sobre presos neste

lapso temporal.

Já no início do século XX surgem novas propostas sobre a forma de se pensar a

sociedade (HELAL & PIEDADE, 2010). Com o fim da monarquia e o crescimento

populacional do Território Federal de Rondônia, o sistema prisional apresenta novas

características, com novas engrenagens do sistema.

Segundo Martins (2013, p. 11) “Santo Antônio primeiro ponto de partida para a

construção da ferrovia, fica distante cerca de sete quilômetros de onde de fato foi

construído posteriormente”. Era, em 1881, uma pequena vila fantasma e abandonada a

própria sorte cercada por “selvagens”. Todavia, Santo Antônio do rio Madeira é o mais

antigo município incorporado ao território federal, com sua importância histórica na

construção da estrada de ferro e na história do ciclo da borracha do atual estado de

Rondônia (PALITOT, 2014).

Em sua localização geográfica, o município de Santo Antônio do rio Madeira,

em sua grande extensão, fazia fronteira com o município de Humaitá, no estado do

Amazonas, nas proximidades ou no igarapé Bate-Estacas e com o estado de Mato

Grosso por Vila Bela da Santíssima Trindade (PALITOT, 2014). Na sua importância

histórica:

Santo Antônio é mais antiga do que a cidade de Porto Velho. O lugar hoje é

apenas um bairro anexado a nossa capital de Rondônia, mas, no passado foi

importante região de concentração de toda borracha extraída dos Rios Beni,

Mamoré, Guaporé e claro o Rio Madeira. Antes mesmo de ser no século XIX

ponto de atracamento dos navios do tipo gaiola, foi também importante

missão jesuítica liderada pelo padre João Sampaio por volta do século XVIII.

Marechal Rondon foi um dos principais incentivadores para a criação daquele

que seria até então um dos mais distantes municípios do Mato Grosso se

usarmos como referencia a capital Cuiabá (PALITOT, 2014, p. 2).

Santo Antônio teve sua tranquilidade até os anos de 1905, após isso os

trabalhadores da estrada de ferro começaram a frequentar Santo Antônio com objetivo

de diversão, gerando aumento populacional e aumento de renda e crimes (PALITOT,

2014).

No que diz respeito a trabalhos arqueológicos, existem duas pesquisas com

ênfase em Arqueologia Histórica. A primeira foi desenvolvida diretamente na vila de

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Santo Antônio por Raimundo da Cruz Gomes, e resultou na sua dissertação de Mestrado

(GOMES 2013). Com foco na Arqueologia histórica, baseado no estudo da cultura

material, o autor conta a história da Vila de Santo Antônio, no alto Madeira,

confrontando a historiografia com os estudos quem têm sido desenvolvidos por alguns

arqueólogos em Rondônia e apresentando as análises do material arqueológico, como

vidros e louças, escavados no sítio arqueológico Vila de Santo Antônio.

A segunda pesquisa é de Eclésia Gonçalves do Nascimento (2017), que realizou

um estudo que aborda as louças da Coleção Vila de Santo Antônio (C.V.S.A.), material

proveniente de coletas assistemáticas realizadas por “terceiros”, ou amadores,

recuperados pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (IPHAN/RO) e

doados para a Universidade Federal de Rondônia (UNIR). Atualmente a coleção

encontra-se salvaguardada na Reserva Técnica do Departamento de Arqueologia

(DARQ) da Universidade Federal de Rondônia (UNIR).

3.2 Ilha de Santo Antônio

A Ilha de Santo Antônio, em sua localização geográfica era separada da margem

esquerda pela cachoeira de Santo Antônio e da margem direita por um pequeno braço

do rio Madeira, tendo sido transponível a pé em épocas de estiagem (ZUSE, 2014).

Distante 7 km da capital do estado de Rondônia, a cidade de Porto Velho, e era cercada

de águas de cor escura, com uma correnteza assustadora, que já matou muita gente que

se arriscou enfrentar a nado a travessia (MENEZES & GUSMÃO, 2005).

A Ilha de Santo Antônio recebeu várias intervenções arqueológicas do “Projeto

de Arqueologia Preventiva nas áreas de Interferência da UHE Santo Antônio/RO”

(SCIENTIA, 2008).

Nela foi identificado o sítio arqueológico denominado de Ilha de Santo Antônio

(figura 16), que estava localizado nas coordenadas UTM E395600/N9026400, em uma

planície de inundações, e cujo tamanho foi determinado em 300m x 320m. Esta foi uma

das cinco ilhas a apresentar materiais arqueológicos pré-coloniais e que foram

pesquisadas no escopo do projeto de arqueologia preventiva acima citado (ZUSE,

2014). Cabe ressaltar que até os anos 1990 a ilha foi ocupada por moradores após a

desativação do presídio.

Nos trabalhos arqueológicos iniciais realizados foi constatado que:

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No ano de 2008 ainda existiam na ilha moradias, roçados, plantações e

caminhos diversos utilizados pela população local que ia pescar na cachoeira

e realizar atividades de lazer. A vegetação era mesclada entre áreas de roçado

recente e capoeira, e ocorriam incêndios anualmente. As áreas de roça, onde

eram cultivados mamão, banana, e principalmente mandioca estavam na

porção oeste-sudoeste, junto a uma mancha de terra preta, que se diferenciava

dos sedimentos álicos e silto-argilosos nas demais áreas da ilha. Junto à

mancha de terra preta foi localizado o sítio arqueológico pré-colonial Ilha de

Santo Antônio (ZUSE, 2014, p. 96).

Figura 16 - Sítios arqueológicos nas proximidades da cachoeira de Santo Antônio. Imagem:

Google Earth (ZUSE, 2014, p. 96).

A Ilha de Santo Antônio é, na verdade, um grande sítio arqueológico (figura 17)

tanto por sua ocupação histórica como pré-colonial. Segundo Zuse (2014, p. 96),

referente à ocupação pré-colonial, “a cerâmica estava mais concentrada a noroeste onde

a camada de terra preta era mais espessa e o lítico na porção sudeste do sítio (área

central da ilha)”.

Existe outro sítio arqueológico próximo à ilha, denominado sítio do Brejo, está

localizado na margem direita do rio Madeira, em frente à Ilha de Santo Antônio, em

uma planície de inundação e com vegetação secundária, capoeira e árvores frutíferas

próximas a antigas moradias (ZUSE, 2014).

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Figura 17 - Croqui do sítio Ilha de Santo Antônio (TIZUKA, 2012 apud ZUSE, 2014, p. 97).

3.3 Presídio da Ilha de Santo Antônio

Devemos destacar que o objetivo desta pesquisa não é achar culpados ou

inocentes de crimes, nem opinar sobre qual sistema de engrenagens seria mais justo ao

indivíduo preso. O que se pretende aqui é esclarecer o período no qual o presídio foi

construído e funcionou, de que forma era feito, quando foi construído, quais as

engrenagens que o movimentavam e seu aspecto simbólico para a história de Porto

Velho.

O presídio da Ilha de Santo Antônio (figura 18) era, até antes da construção da

usina hidrelétrica de Santo Antônio, o mais famoso dos presídios da cidade de Porto

Velho, muito pelos mistérios de sua construção e funcionamento, que coincidiram com

o período em que a ditadura militar governou o país (MENEZES & GUSMÃO, 2005).

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Figura 18 – Presídio Ilha de Santo Antônio em ruínas após anos de abandono (MENEZES &

GUSMÃO, 2005).

A historiografia do presídio da Ilha de Santo Antônio não é muito conhecida. O

presídio, que passou por um processo de desativação na década de 1980 após, a

destruição das instalações em uma “rebelião”. O presídio é cercado de polêmicas, bem

como a escassez de documentação (MENEZES & GUSMÃO, 2005).

Em busca de uma data para a inauguração, esta pesquisa encontrou fontes com

diferentes datas, segundo Lima (2015, p. 52), “A história do sistema prisional

rondoniense é sistematizada com a construção do Presídio Ilha de Santo Antônio, em

meados da década de 1960”. Todavia, segundo Menezes & Gusmão (2005, p. 10) o

Presídio de Santo Antônio, sobre o qual não temos registros documentados sobre a data

de construção ou início de funcionamento, passa a ser referenciado nos processos

criminais da década de 1970, como o Presídio da Ilha de Santo Antônio (MENEZES &

GUSMÃO, 2015).

Porém, resultados mais conclusivos surgiram com nossa pesquisa no acervo do

Museu Palácio da Memória Rondoniense (MERO) e no acervo do Centro de

Documentação Histórica do Tribunal de Justiça do Estado de Rondônia (CDH/TJRO).

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No MERO as informações, de início, foram obtidas através de um recorte do

Jornal “Alto Madeira” (figura 19) onde o diretor estava sendo acusado de tortura no dito

presídio. Na reportagem o diretor afirma que ali não havia tortura e que o presídio teria

sido inaugurado em 1976 e em boas condições de uso.

Com esta data começamos uma triagem dos jornais da década de 1970 que estão

no acervo do museu.

Figura 19 – Recorte do Jornal “Alto Madeira” de 29 de março de 2001. Fonte: Acervo MERO.

Outro fator que contribuiu para fortalecer o período de construção/inauguração

do presídio na segunda metade da década de 1970 foi encontrado em documentos,

datados de 1975 e 1978, da Secretaria de Segurança Pública (SSP) / Escola de Polícia,

que se encontram no MERO. Tais documentos (figuras 20 e 21) descrevem parte das

ações das engrenagens que comandavam o sistema de segurança pública da época, de

julho de 1975 até 1978, e mencionam a recém-inauguração do presídio da ilha de Santo

Antônio. A partir desta documentação podemos afirmar que a inauguração do presídio

se deu entre os anos de1975 e 1977.

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Figura 20 – Boletim Escola – Escola de Polícia, Ano II, v. 6, Dezembro de 1978. Fonte: Acervo

MERO

Figura 21 – Boletim Escola – Escola de Polícia, Ano II, v. 6, Dezembro de 1978. Fonte: Acervo

MERO.

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No acervo do Centro de Documentação Histórica do Tribunal de Justiça do

Estado de Rondônia (CDH/TJRO), foi possível ter uma data aproximada de

inauguração, a parte de um Habeas Corpus (figura 22) onde um promotor ressalta as

condições da recém-inaugurada prisão. A partir deste documento foi possível iniciar e

analisar as formas de controle das engrenagens que o comandaram.

Figura 22 - Habeas Corpus de 18/09/1976, página 10. Fonte: Centro de Documentação

Histórica do Tribunal de Justiça do Estado de Rondônia (CDH/TJRO).

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O presídio da ilha de Santo Antonio não é o mais antigo presídio do atual estado

de Rondônia, a colônia agrícola Enio Pinheiro já funcionava em 1974, conforme

Habeas Corpus abaixo (figura 23):

Figura 23 - Habeas Corpus de 09/07/1974, página 9. Fonte: Centro de Documentação Histórica

do Tribunal de Justiça do Estado de Rondônia (CDH/TJRO).

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3.4 Minhas memórias

Em 1990 tinha apenas 13 anos de idade e foi neste dito ano que pude conhecer o

que sobrou do presídio de Santo Antonio. Meu padrasto foi quem me levou lá, com o

objetivo de me ensinar a pescar. Ele me disse: - Filho já sabe nadar? Respondi: - Sim!

Ele disse:- Vai conhecer hoje um lugar onde os peixes saltam para fora da água e se

você for esperto nem vai precisar usar linha. Eu meio que desacreditado indaguei: - E a

onde é este lugar? .Ele respondeu: - Lá na ilha do presídio, na Cachoeira de Santo

Antonio, todo ano a piracema atrai muito peixe bonito.

Chegando a tal ilha, perguntei a meu padrasto o que era aquela construção, ele

me disse que era um presídio onde se prendia muitos garimpeiros e fugitivos e que lá

tinha sido destruído em uma rebelião. O lugar era mesmo cheio de peixe e com muita

gente bebendo e pescando. Lá era um lugar cheio de pessoas que todos os anos vinham

junto com a piracema, era um espetáculo tanto na beleza da cachoeira quanto a beleza

dos peixes subindo o rio Madeira.

O lugar ajudava os moradores da vila de Santo Antonio a se manter, pois muitas

pessoas compravam o peixe na vila, isso ajudava os moradores na economia da vila e na

renda familiar. Pois havia moradores na ilha, pessoas que lá viviam por escolha própria.

O presídio era muito falado não só por sua localização, mais por ser um lugar

bem perigoso no período do inverno. Meu padrasto me falou que vários presos

morreram afogados fugindo do presídio, ele falou que quase todo ano morria um

desavisado que tentava atravessar da ilha para a margem no inverno. Uma vez, um

grupo de alunos morreu depois de uma visita a ilha no inverno, o barco virou.

O título desta monografia é uma forma de expressar que o presídio ainda está

presente na memória dos moradores de Porto Velho, mesmo sem a presença da

edificação, ele ainda faz parte da história dos moradores, e o mais interessante como

algo que era de certa forma boa presença, pois o local fazia parte do imaginário das

pessoas, lendas, histórias e polêmicas.

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CAPÍTULO 4 – O SUPERARTEFATO

4. 1 Material Arqueológico do Presídio de Santo Antônio

O material arqueológico do presídio da ilha de Santo Antônio descrito nesta

pesquisa foi cedido para análise para o Departamento de Arqueologia da Universidade

Federal de Rondônia pela Scientia Consultoria Científica Ltda., empresa responsável

pelo trabalho arqueológico na área de impacto da UHE Santo Antônio. A Scientia fez o

levantamento bibliográfico, de fontes orais, de fontes iconográficas, além da limpeza da

área de entorno e de toda a estrutura do presídio (SCIENTIA, 2008).

Durante os trabalhos de prospecção e de escavação arqueológica foram abertas

sondagens que evidenciaram estruturas de drenagens, bem como foram produzidas

pranchas detalhadas da arquitetura das estruturas. Ressaltamos que o relatório gerado

pela Scientia foi disponibilizado para esta pesquisa, sendo possível a reprodução de

imagens e tabelas referentes à descrição dos artefatos.

O relatório descreve que foram coletados ao todo 561 materiais arqueológicos.

Todavia, em análise realizada por nós, a recontagem constatou 566 peças (Tabela 1).

Este material foi obtido em três etapas, através de coleta de superfície que gerou 31

pontos georreferenciados por coordenadas UTM, coleta de superfície no interior do

presídio e coleta no nível 0-30 cm em uma unidade de escavação.

QUANTIFICAÇÃO DO MATERIAL HISTÓRICO

PRESÍDIO SANTO ANTÔNIO

Categoria Quantidade

Azulejos 04

Boquilhas (suporte de luz) 02

Cápsula de revolver 38 01

Cerâmica 27

Chave 01

Ferro elétrico de passar roupa 01

Fragmento da pia em pedras 01

Fragmento de manilha 01

Fragmento de panilhas 01

Lajota 01

Metal 02

Ossos 19

Pasta 01

Porcelana 41

Pregos 09

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59

Suportes de poste 02

Tampa de panela 01

Tijolo 01

Trempe (apoio de fogão) 01

Vidro 449

Total 566

Tabela 1 - Quantitativo geral da coleção após contagem em laboratório.

Para a descrição aqui apresentada do material arqueológico, ressaltamos que a

louça e a porcelana foram consideradas na mesma categoria e o azulejo como categoria

única. A maioria quantitativa de todo material coletado corresponde à categoria vidro

(Gráfico 1).

A coleta de superfície georreferenciada no entorno do presídio, em termos

quantitativos, representa a maior parte do material arqueológico. Em sua maioria este

material é vidro, muito fragmentado (Gráfico 2). Em termos de análise, seria difícil

identificar sua origem ou cronologia, uma vez que a ilha foi muito frequentada por

turistas, pescadores e pelos moradores da vila Santo Antônio, e da cidade de Porto

Velho em geral, após a desativação do presídio em uma rebelião dos apenados na

década de 1980 (MENEZES & GUSMÃO, 2015).

Para os objetivos desta pesquisa, o material identificado nas estruturas internas

do presídio, em contexto, foi mais relevante, pois permitiu acessar parte do cotidiano

daquela realidade. Dentre todos os vestígios históricos coletados na ilha, o material

coletado na cozinha (Figura 24), em razão do contexto in situ, foi selecionado nesta

pesquisa como amostra a ser descrita dos vestígios diretamente relacionados à

edificação. Este material corresponde a 2% do que foi coletado em todas as intervenções

(Gráfico 3).

Estes vestígios indicam que o presídio possuía uma cozinha e um refeitório

moderno dentro do prédio, neste sentido as refeições, tanto dos guardas como dos

presos, eram feitas lá mesmo, o que aponta uma proximidade entre os internos e os

guardas.

Fotografias dos materiais obtidos nas coletas de superfície no entorno do

presídio foram organizadas em uma prancha, que pode ser observada no Anexo 1 deste

trabalho.

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60

Gráfico 1 – Variedade do material arqueológico coletado nas três intervenções - Presídio Santo

Antônio.

Gráfico 2 – Variedade do material arqueológico na coleta de superfície - Presídio Santo

Antônio.

0

50

100

150

200

250

300

350

400

450

Azu

lejo

sB

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uilh

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pan

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Tijo

lo

Trem

pe

(ap

oio

de

fo

gão

)

Vid

ro

Descrição do Material Histórico - Presídio Santo Antônio

Total

050

100150200250300350400450

Coleta de Superfície

Total

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61

Gráfico 3 – Porcentagem do material arqueológico de acordo com o tipo de coleta - Presídio

Santo Antônio.

Figura 24 – Material arqueológico da coleta de superfície realizada no interior da cozinha do

Presídio Santo Antônio. Foto: Pedro Venere, 2019.

96%

2% 2%

Presídio Santo Antônio

Coleta de Superfície

Coleta do Interior do Presídio

Coleta Unidade 01: Nível 0 -30cm.

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62

Figura 25 – Coleta da unidade 01 (nível 0-30 cm) aberta na área externa do Presídio Santo

Antônio. Foto: Pedro Venere, 2019.

4. 2 Superartefato Presídio de Santo Antônio

O presídio da ilha de Santo Antônio é considerado, nesta pesquisa, um

superartefato, não apenas uma construção predial. Uma vez que sua importância está

atrelada a vários fatores da cultura material móvel fragmentada de bens de valores

históricos e simbolismos (NAJJAR, 2011). O superartefato em questão foi parte de uma

ideologia formada por uma engrenagem repressiva militar.

Apesar de o presídio possuir resquícios de cultura material móvel, conforme

apresentado no início deste capítulo, o foco desta pesquisa é o prédio e as suas

transformações no espaço geográfico ocupado e a sua influência e impacto na sociedade

da época.

Na planta do edifício (figura 26) é possível observar que o presídio é de médio

porte, com 18 camas e vaga para mais três indivíduos no chão de cada cela, somando 54

vagas quando com a capacidade máxima atingida.

Na sua base, conforme demonstra o perfil desenhado durante o trabalho de

campo da pesquisa arqueológica (figura 27), é possível ver que o presídio possuía rede

de esgoto e rede hidráulica bem estruturada.

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Figura 26 - Planta do Presídio Santo Antônio. Fonte: Centro de Documentação Histórica do

Tribunal de Justiça (CDH/TJRO).

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Figura 27 - Rede de Esgoto e Rede Hidráulica do Presídio Santo Antônio. Fonte: Scientia

Consultoria Científica, 2008.

É possível perceber, em quase todas as fotos, que o presídio não possuía muros

(figura 28) e que isso não está atrelado ao projeto de construção e sim a uma estratégia

da engrenagem de controle repressivo que governava o país na época. Outro fator

intrigante na configuração desta ser uma prisão sem muros, é que no verão o rio

Madeira seca a ponto de ser possível fugir pelas pedras e que, apesar de quase todas as

fugas terem sido registradas sim no verão, existe o contraponto de que foram descritas

muitas mortes por afogamento (Processo OF. n. 308/1° DP-SSP-79 e Processo n.

37/CAPEP-79).

No que diz respeito à construção do edifício, não obtivemos fontes que

permitissem afirmar quem o construiu, de que forma se deu a construção, nem o tempo

gasto. Pensando em uma hipótese, levando em conta que o presídio foi construído no

período da ditadura militar (1964-1985), a única engrenagem com potencial para tal

construção, em tão pouco tempo e sem ser notada ou chamar atenção, é o Exército, em

especial o 5° Batalhão de Engenharia e Combate (BEC).

O 5º BEC se instalou em 21 de fevereiro de 1966 em Porto Velho com o

objetivo de criar vilas, estradas e erradicar a ferrovia (MATIAS; 2003), neste sentido, o

batalhão foi responsável por muitas construções em pouco tempo, sendo possível que

ele tenha sido de fato, o construtor do dito presídio.

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65

Figura 28 - Panorama externo do presídio Santo Antônio. Fonte: Centro de Documentação

Histórica do Tribunal de Justiça (CDH/TJRO).

Não foram encontrados documentos que indiquem a atuação direta da ditadura

no presídio. A ausência de documentos, porém, deve ser considerada no contexto

político de apagar provas. O próprio incêndio que destruiu só a administração do

presídio já é indicativo disso (MENEZES & GUSMÃO, 2005). Todavia, presídios em

ilhas são o cartão de visita da engrenagem repressiva militar (ditadura) e os lugares que

tradicionalmente foram utilizados em sua atuação de combate aos opositores do regime

ditatorial, são entendidos como parte da paisagem e de transformações urbanas passíveis

de consideráveis mudanças e alterações ocorridas ao longo de anos (BARETTA, 2015).

A engrenagem militar, assim como todas as engrenagens de controle social,

procura convencer a sociedade que está lhe dando o melhor, como esclarece Baretta:

É importante salientar que desvendar esses “lugares praticados” ou “espaços”

da ação repressiva significa mostrar uma dinâmica silenciosa, bem

estruturada, com objetivo específico de atuação intensa dispersa pela cidade,

que muitas vezes, não era notada pelos seus habitantes. Esta característica de

se misturar à vida urbana, possivelmente contribuiu para a negação das ações

repressivas, para a cultura do esquecimento e do apagamento após o fim da

Ditadura (BARETTA, 2015, p. 169-170).

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66

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Não é possível dizer que o profissional da arqueologia é dono da verdade ou que

sua pesquisa é a mais correta e eficaz. Todavia, o arqueólogo pode trabalhar novas

propostas de leitura de um determinado artefato ou lugar, enriquecendo o contexto

histórico através de sua intervenção arqueológica.

Desenvolver uma pesquisa sobre um superartefato que já não existe mais não é

tarefa fácil. Porém, o potencial interpretativo no caso do presídio da Ilha de Santo

Antônio é muito grande, uma vez que interpretações e hipóteses podem surgir a partir

dos pressupostos tanto da Arqueologia da Paisagem, quanto da Arqueologia Histórica.

Ficou claro para esta pesquisa que o funcionamento do presídio começou no

primeiro semestre de 1976 e sua construção foi uma obra do governo militar. Apesar de

não haver documentos que comprovem sua datação exata, o governo militar foi

responsável por boa parte das construções neste período (MATIAS, 2003; TEIXEIRA;

FONSECA, 2001).

Em termo hipotético, o presídio de Santo Antônio pode ter sido o primeiro

presídio cuja construção foi pensada para inimigos políticos. Contudo, na prática não foi

o que não aconteceu, pois o regime entrou em declínio e assim o próprio presídio perdeu

o interesse dos militares.

Para o controle das engrenagens vamos mais além, o presídio era, para a

engrenagem repressiva militar, não só mais um presídio, mais sim um símbolo, algo que

pregava a solução e que influenciou muito a sociedade da época. Fato é que, quando o

regime entra em declínio, o presídio volta a ser lembrado como patrimônio e não mais a

famosa prisão de tantas mortes e mistérios.

Falar desta prisão sem apresentar a influência do mecanismo de controle social

que governou na época é negar fatos, toda construção carrega simbolismo, efeitos

históricos e paisagísticos.

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ANEXO 1

Fotos do material arqueológico

Coletas de superfície na área externa do presídio

Coleta de Superfície Material arqueológico do Presídio Santo Antônio. Foto: Pedro

Venere, 2019.

Coleta de Superfície Material arqueológico do Presídio Santo Antônio. Foto: Pedro

Venere, 2019.

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Coleta de Superfície Material arqueológico do Presídio Santo Antônio. Foto: Pedro

Venere, 2019.

Coleta de Superfície Material arqueológico do Presídio Santo Antônio. Foto: Pedro

Venere, 2019.

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Coleta de Superfície Material arqueológico do Presídio Santo Antônio. Foto: Pedro

Venere, 2019.

Coleta de Superfície Material arqueológico do Presídio Santo Antônio. Foto: Pedro

Venere, 2019.

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Coleta de Superfície Material arqueológico do Presídio Santo Antônio. Foto: Pedro

Venere, 2019.

Coleta de Superfície Material arqueológico do Presídio Santo Antônio. Foto: Pedro

Venere, 2019.

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Coleta de Superfície Material arqueológico do Presídio Santo Antônio. Foto: Pedro

Venere, 2019.

Coleta de Superfície Material arqueológico do Presídio Santo Antônio. Foto: Pedro

Venere, 2019.

Page 89: UMA ENGRENAGEM MORTA PRESENTE NA MEMÓRIA DOS … Zinho 2019.pdf · Aos juízes Acir Teixeira Grécia, Kerley Regina Ferreira de Arruda, Sandra Aparecida Silvestre de Frias Torres,

Coleta de Superfície Material arqueológico do Presídio Santo Antônio. Foto: Pedro

Venere, 2019.

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