Uma Dificuldade No Caminho Da Psicanálise

8/18/2019 Uma Dificuldade No Caminho Da Psicanálise

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Uma dificuldade no caminho da Psicanálise (1917)

Sigmund Freud

(Extracto da tradução rasileira)

!"#s essa introdução$ "ro"onho%me a descre&er como o

narcisismo uni&ersal dos homens$ o seu amor%"r#"rio$ sofreu

at' o "resente trs se&eros gol"es "or "arte das "esuisas

cient*ficas+

(a) ,as "rimeiras de suas "esuisas$ o homem acreditou$ de

in*cio$ ue o seu domic*lio$ a -erra$ era o centro estacionário

do uni&erso$ com o sol$ a lua e os "lanetas girando ao seu

redor+ Seguia$ assim$ ingenuamente$ os ditames$ das

"erce"ç.es dos seus sentidos$ "ois não sentia mo&imento na

-erra$ e$ todas as &e/es ue conseguia uma &isão sem

ostáculos$ encontra&a%se no centro de um c*rculo ue

aarca&a o mundo exterior+ ! "osição central da -erra$ de

mais a mais$ era "ara ele um sinal do "a"el dominante

desem"enhado "or ela no uni&erso e "arecia%lhe a0ustar%se

muito em sua "ro"ensão a considerar%se o senhor do

mundo+

! destruição dessa ilusão narcisista associa%se$ em nossas

mentes$ com o nome e a ora de 2o"'rnico$ no s'culo 345+

6uito antes dessa '"oca$ "or'm$ 0á os "itag#ricos ha&iam

lançado d&idas sore a"osição "ri&ilegiada da -erra$ e$ no

s'culo 555 a+2+$ !ristarco de Samos ha&ia declarado ue a


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-erra era muito menor ue o sol e mo&ia%se ao redor deste

cor"o celeste+ 6esmo a grande descoerta de 2o"'rnico$

"ortanto$ 0á fora feita antes dele+ 8uando essa descoerta

atingiu um reconhecimento geral$ o amor%"r#"rio da

humanidade sofreu o seu "rimeiro gol"e$ o gol"e

cosmol#gico+

() ,o curso do desen&ol&imento da ci&ili/ação$ o homem

aduiriu uma "osição dominante sore as outras criaturas do

reino animal+ ,ão satisfeito com essa su"remacia$ contudo$

começou a colocar um aismo entre a sua nature/a e a dos

animais+ ,ega&a%lhes a "osse de uma ra/ão e atriuiu a si

"r#"rio uma alma imortal$ alegando uma ascendncia di&ina

ue lhe "ermitia rom"er o laço de comunidade entre ele e o

reino animal+ 2uriosamente$ esse as"ecto de arrogncia '

ainda estranho s crianças$ tal como o ' "ara o homem

"rimiti&o+ : conseuncia de uma eta"a "osterior$ mas

"retensiosa$ de desen&ol&imento+ ,o n*&el do totemismo

"rimiti&o$ o homem não tinha re"ugnncia de atriuir sua

ascendncia a um ancestral animal+ ,os mitos$ ue contm

res*duos dessa antiga atitude mental$ os deuses assumem

formas de animais$ e na arte de '"ocas "rime&as são

re"resentados com caeças de animais+ Uma criança não &

diferença entre a sua "r#"ria nature/a e a dos animais+ ,ão

se es"anta com animais ue "ensam e ue falam nos contos

de fadas; transfere uma emoção de medo$ ue sente do seu

"ai humano$ "ara um cão ou um ca&alo$ sem "retender com

isso ualuer de"reciação do "ai+ S# uando se torna adulta '

ue os animais se tomam tão estranhos a ela$ ue usa os seusnomes "ara a&iltar seres humanos+


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-odos saemos ue$ há "ouco mais de meio s'culo$ as

"esuisas de 2harles


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externo$ muitos dos uais antag#nicos e incom"at*&eis+ Para

um funcionamento adeuado$ ' necessário ue a mais

ele&ada dessas instncias tenha conhecimento de tudo o ue

está acontecendo$ e ue sua &ontade "enetre em tudo$ de

modo ue "ossa exercer sua influncia+ E$ com efeito$ o ego

sente%se seguro uanto integridade e fidedignidade das

informaç.es ue recee$ em como uanto aertura dos

canais atra&'s dos uais im".e suas

ordens+

Em determinadas doenças ? incluindo as "r#"rias neuroses

ue estu%dam em "articular ?$ as coisas são diferentes+ >

ego sente%se a"reensi&o; reela%se contra os limites de "oder

em sua "r#"ria casa$ a mente+ >s "ensamentos emergem de

sito$ sem ue se saia de onde &m$ nem se "ossa fa/er

algo "ara afastá%los+ Esses estranhos h#s"edes "arecem at'

ser mais "oderosos do ue os "ensamentos ue estão so o

comando do ego+ @esistem a todas as medidas de coação

utili/adas "ela &ontade$ não se deixam mo&er "ela refutação

l#gica e não são afetados "elas afirmaç.es contradit#rias da

realidade+ >u então os im"ulsos surgem$ "arecendo com ue

os de um estranho$ de modo ue o ego os re0eita; mas$ ainda

assim$ os teme e toma "recauç.es contra eles+ A ego di/ "ara

consigoB C5sto ' uma doença$ uma in&asão estrangeira+C

!umenta sua &igilncia$ mas não "ode com"reender "or ue

se sente tão estranhamente "aralisado+

E em &erdade ue a "siuiatria nega ue tais coisas

signifiuem a intrusão$ na mente$ de maus es"*ritos &indos

de fora; "ara al'm disso$ no entanto$ s# consegue di/er comindiferençaB C


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inferioridade constitucionalDC ! "sicanálise "rocura ex"licar

esses distrios misteriosos; em"enha%se em cuidadosas e

laoriosas in&estigaç.es$ delineia hi"#teses e construç.es

cient*ficas$ at' ue$ finalmente$ "ossa falar assim ao egoB

C,ada &indo de fora "enetrou em &oc; uma "arte da

ati&idade da sua "r#"ria mente foi tirada do seu

conhecimento e do comando da sua &ontade+ 5sso$ tam'm$ '

"orue &oc está tão enfrauecido em sua defesa; &oc está

utili/ando uma "arte da sua força "ara comater a outra "arte

e ' im"oss*&el concentrar a totalidade da sua força como

&oc o faria contra um inimigo externo+ E nem mesmo ' a

"arte "ior ou menos im"ortante das suas forças mentais ue

se tomou$ desse modo$ antag#nica e inde"endente de &oc+ !

cul"a$ sou forçado a di/er$ está em &oc mesmo+ 4oc

su"erestimou sua força uando achou ue "odia tratar seus

instintos sexuais da maneira ue uisesse egnorar

asolutamente as intenç.es desses instintos+ > resultado '

ue se reelaram e assumiram suas "r#"rias &ias oscuras$

"ara esca"ar a essa su"ressão; estaeleceram seus direitos de

uma forma ue &oc não "ode a"ro&ar+ > modo "elo ual

conseguiram isso e os caminhos ue tomaram não chegaram

ao seu conhecimento+ -udo o ue &oc sae ' a conseuncia

do traalho deles ? o sintoma ue &oc ex"erimenta como

sofrimento+ !ssim$ &oc não o reconhece como um

deri&ati&o dos seus "r#"rios instintos re0eitados e não sae

ue ' uma satisfação sustituti&a "ara eles+

C-odo o "rocesso$ no entanto$ s# se toma "oss*&el "ela

circunstncia nica de ue &oc está eui&ocado tam'm emum outro "onto im"ortante+ Sente%se seguro de ue está


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informado de tudo o ue se "assa em sua mente$ se tem

ualuer im"ortncia$ "orue nesse caso$ cr &oc$ sua

conscincia dá%lhe not*cia disso+ E se &oc não tem

informação de algo ue ocorre em sua mente$ "resume$

confiante$ ue tal coisa não existe+ ,a &erdade$ &oc chega a

considerar o ue ' mental como idntico ao ue '

consciente ? isto '$ auilo ue ' conhecido "or &oc ?$

a"esar da mais #&ia e&idncia de ue muito mais coisas

de&em acontecer em sua mente$ do ue auelas ue chegam

sua conscincia+ 4amos$ deixe ue lhe ensinem algo sore

esse "rolemaD > ue está em sua mente não coincide com

auilo de ue &oc está consciente; o ue acontece realmente

e auilo ue &oc sae$ são duas coisas distintas+

,ormalmente$ admito$ a inteligncia ue alcança a sua

conscincia ' suficiente "ara as suas necessidades; e &oc

"ode nutrir a ilusão de ue fica saendo de todas as coisas

im"ortantes+ Em alguns casos$ "or'm$ como no de um

conflito instintual como o ue descre&i$ a função da sua

inteligncia falha e sua &ontade$ então$ não se estende "ara

mais al'm do seu conhecimento+ Em todo caso$ contudo$ a

informação ue alcança sua conscincia ' incom"leta e

muitas &e/es não ' de minha confiança+ 2om freuncia$tam'm$ acontece ue &oc s# ot'm informação dos

e&entos uando eles acaaram e uando &oc nada mais

"ode fa/er "ara modificá%los+ 6esmo se &oc não está

doente$ uem "oderá di/er tudo o ue está agitando sua

mente$ coisas ue &oc não sae ou das uais tem falsas

informaç.esG 4oc se com"orta como um go&ernanteasoluto$ ue se contenta com as informaç.es fornecidas


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"los seus altos funcionários e 0amais se mistura com o "o&o

"ara ou&ir a sua &o/+ 4olte seus olhos "ara dentro$ contem"le

suas "r#"rias "rofunde/as$ a"renda "rimeiro a conhecer%seD

Então$ com"reenderá "or ue está destinado a ficar doente e$

tal&e/$ e&ite adoecer no futuro+C

: assim ue a "sicanálise tem "rocurado educar o ego+ Essas

duas descoertas ? a de ue a &ida dos nossos instintos

sexuais não "ode ser inteiramente domada$ e a de ue os

"rocessos mentais são$ em si$ inconscientes$ e s# atingem o

ego e se sumetem ao seu controle "or meio de "erce"ç.es

incom"letas e de "ouca confiança ?$ essas duas descoertas

eui&alem$ contudo$ afirmação de ue o ego não ' o senhor

da sua "r#"ria casa+ Huntas$ re"resentam o terceiro gol"e no

amor%"r#"rio do homem$ o ue "osso chamar de gol"e

"sicol#gico+ ,ão ' de es"antar$ então$ ue o ego não &e0a

com ons olhos a "sicanálise e se recuse ostinadamente a

acreditar nela+

Pro&a&elmente muito "oucas "essoas "odem ter

com"reendido o significado$ "ara a cincia e "ara a &ida$ do

reconhecimento dos "rocessos mentais inconscientes+ ,ão

foi$ no entanto$ a "sicanálise$ a"ressemo%nos a acrescentar$

ue deu esse "rimeiro "asso+ Iá fil#sofos famosos ue

"odem ser citado como "recursores ? acima de todos$ o

grande "ensador Scho"enhauer$ cu0a C4ontadeC inconsciente

eui&ale aos instintos mentais da "sicanálise+ Foi esse mesmo

"ensador$ ademais$ ue em "ala&ras de inesuec*&el im"acto$

ad&ertiu a humanidade uanto im"ortncia$ ainda tão

suestimada "ela es"'cie humana$ da sua nsia sexual+ ! "sicanálise tem a"enas a &antagem de não ha&er afirmado


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essas duas "ro"ostas tão "enosas "ara o narcisismo ? a

im"ortncia "s*uica da sexualidade e a inconscincia da

&ida mental ? sore uma ase abstrato$ mas demonstrou%as

em uest.es ue tocam "essoalmente cada indi&*duo e o

forçam a assumir alguma atitude em relação a esses

"rolemas+ : somente "or esse moti&o$ no entanto$ ue atrai

sore si a a&ersão e as resistncias ue ainda se detm$ com

"a&or$ diante do nome do grande fil#sofo+

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