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Uma an á lise intertextual da telenovela brasileira - Para í so Tropical Amoroso, Patrícia Autora - Amoroso. Rodelli, Patricia. Brasileña, periodista, alumna del curso stricto-sensu de Comunicación y Cultura em La Universidad Paulista – UNIP de São Paulo - Brasil. Docente en La Universidad Paulista de São Paulo – UNIP/SP. [email protected]. Montuori, Carla Co-autora - Montuori. Carla. Brasileña, magíster em Comunicación y Cultura (UNIP/SP- Brasil). Doctoranda em Ciencias Políticas por la PUC-SP, Brasil. Docente en La Universidad Paulista UNIP/SP, UNIFAI/SP. [email protected]. Resumen El universo intertextuales es el boceto de un rico y constante proceso en mutación. La televisión como un medio de comunicación de la masa, ha sido explorado por la arte de las tenovelas a partir del uso de instigantes experimentaciones intertextuales. Para tomar la cuestión del intertextualidad en la televisión, este trabajo há elegido el estudio de la telenovela de “las ocho”, lhamada “Paraíso Tropical”, de Gilberto Braga y de Ricardo Linhares que fue exhibida en la Rede Globo de Televisión. Para delimitar el objeto, hemos seleccionado los personages Bebel (Pitanga de Camila) y Olavo (Wagner Moura). La ficción muestra características sentido fuertes em las relaciones de sexo, poder y dinero mantiene El sentido dramatúrgico al complementarse en relaciones intertextuales dignas de observación. Palabras claves: intertextualidad, paratextualidad, telenovela. Resumo O universo intertextual esboça um rico e constante processo em mutação. A TV como um meio de comunicação de massa tem sido explorada pelo meio artístico das novelas com instigantes experimentações intertextuais. Para retratar a questão da intertextualidade na televisão, este trabalho adotou como estudo a novela das oito, “Paraíso Tropical”, de Gilberto Braga e Ricardo Linhares, veiculada pela Rede Globo de Televisão. Para delimitar o objeto, o recorte escolhido foi o casal de personagens Bebel (Camila Pitanga) e Olavo (Wagner Moura). A trama ficcional apresenta uma forte característica nas relações de sexo, poder e dinheiro e conserva o sentido dramatúrgico ao complementar-se em ricas relações intertextuais. Palvras chave: intertextualidade, paratextualidade, telenovela. Abstract The intertextual universe shows a rich and constant process in change. The TV, as a media of mass, has been explored for the artistic way of the soap opera with instigantes intertextuais experimentations. To portray this question of the intertextualidade on the television, this work adopted as study, “Tropical Paradise”, of Gilbert Braga and Ricardo Linhares, propagated by Rede Globo of Television. To delimit the object, was selected the couple Bebel (Camila Pitanga) and Olavo (Wagner Moura). The tram presents a strong features of sex, power and money and preserve the dramaturgic sense to the complement of the richest intertextuais relations. Key words: Intertextual; paratextual; soap opera 17 AÑO 13, N º 17, 2 do SEMESTRE 2008

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Uma análise intertextual da telenovelabrasileira -“Paraíso Tropical”

Amoroso, Patrícia

Autora - Amoroso. Rodelli, Patricia. Brasileña, periodista, alumna del curso stricto-sensu de Comunicación y Cultura em La Universidad Paulista –UNIP de São Paulo - Brasil. Docente en La Universidad Paulista de São Paulo – UNIP/SP.

[email protected].

Montuori, Carla

Co-autora - Montuori. Carla. Brasileña, magíster em Comunicación y Cultura (UNIP/SP- Brasil). Doctoranda em Ciencias Políticas por la PUC-SP,Brasil. Docente en La Universidad Paulista UNIP/SP, UNIFAI/SP.

[email protected].

ResumenEl universo intertextuales es el boceto de un rico y constante proceso en mutación. La televisión como un mediode comunicación de la masa, ha sido explorado por la arte de las tenovelas a partir del uso de instigantesexperimentaciones intertextuales. Para tomar la cuestión del intertextualidad en la televisión, este trabajo háelegido el estudio de la telenovela de “las ocho”, lhamada “Paraíso Tropical”, de Gilberto Braga y de RicardoLinhares que fue exhibida en la Rede Globo de Televisión. Para delimitar el objeto, hemos seleccionado lospersonages Bebel (Pitanga de Camila) y Olavo (Wagner Moura). La ficción muestra características sentido fuertesem las relaciones de sexo, poder y dinero mantiene El sentido dramatúrgico al complementarse en relacionesintertextuales dignas de observación.

Palabras claves: intertextualidad, paratextualidad, telenovela.

ResumoO universo intertextual esboça um rico e constante processo em mutação. A TV como um meio de comunicaçãode massa tem sido explorada pelo meio artístico das novelas com instigantes experimentações intertextuais. Pararetratar a questão da intertextualidade na televisão, este trabalho adotou como estudo a novela das oito, “ParaísoTropical”, de Gilberto Braga e Ricardo Linhares, veiculada pela Rede Globo de Televisão. Para delimitar o objeto,o recorte escolhido foi o casal de personagens Bebel (Camila Pitanga) e Olavo (Wagner Moura). A trama ficcionalapresenta uma forte característica nas relações de sexo, poder e dinheiro e conserva o sentido dramatúrgico aocomplementar-se em ricas relações intertextuais.

Palvras chave: intertextualidade, paratextualidade, telenovela.

AbstractThe intertextual universe shows a rich and constant process in change. The TV, as a media of mass, has beenexplored for the artistic way of the  soap opera with instigantes intertextuais experimentations. To portray thisquestion of the intertextualidade on the television, this work adopted as study, “Tropical Paradise”, of Gilbert Bragaand Ricardo Linhares, propagated by Rede Globo of Television. To delimit the object, was selected the coupleBebel (Camila Pitanga) and Olavo (Wagner Moura). The  tram presents a strong features of sex, power and moneyand preserve the dramaturgic sense to the complement of the richest intertextuais relations.

Key words: Intertextual; paratextual; soap opera

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1. A Intertextualidade na TV

O primeiro conceito de intertextualidade foi expostopelo pensador russo Mikhail Bakhtin, no começo doséculo XX, ao reconhecer o romance moderno comodialógico, estruturado por um tipo de texto onde ointercâmbio existente entre autores e obras seentrecruza na construção de uma nova narrativa.Entretanto, o termo intertextualidade foi introduzidosomente 1974, por Julia Kristeva, ao fazer umareleitura da obra de Bakhtin e reforçar o princípio deconexão existente entre um texto e todos os outros jáproduzidos, formando, assim, o clássico conceito deque todo texto se constrói como um mosaico decitações e é absorção e transformação de um outrotexto. (cf. KRISTEVA, 1974:64).

Com os avanços nos estudos sobre o tema, aintertextualidade ganhou outro sentido. Foi inseridoao conceito de intertextualidade um universohistórico-social e cultural muito amplo e complexo,oqual, conforme elucida Dominique Mangueneau(1998:87): “envia tanto a uma propriedade constitutivade todo texto, como ao conjunto das relaçõesexplícitas ou implícitas que um texto mantém comoutros texto”. Para os meios de comunicação, oconceito de Mangueneau é oportuno, já que aintertextualidade se reafirma na dinâmica daapropriação, onde um texto é deglutido, alterado,acoplado, mas também rearranjado para outrosformatos, textos, sons e imagens.

Trata de entendermos a intertextualidade, conforme aconceitou Laurente Jenny, a partir da transformação eda assimilação de vários textos presentes em umdado contexto e momento histórico, sempre nareferência de um texto a outro, sem a perda de seusentido (cf. JENNY, 1979:262). Para elucidar aquestão, basta constatar como a mídia televisivarelaciona-se com diferentes “tipos textuais”. Acapacidade que a televisão possui em se inter-relacionar possibilita a composição de textosnarrativos, que dialogam com a literatura, com oscontos, com a publicidade e, sobretudo, com ocinema, conforme informa Anna Maria Balogh:

A televisão se caracteriza pela suaextraordinária capacidade de absorção deoutras linguagens, gêneros e textos, bem comopor sua enorme veracidade ao fazê-lo, postoque permanece praticamente o dia todo e todosos dias do ano no ar. (BALOGH, 2002:36)

A explicação para tal fenômeno está gênese daprópria mídia, que, conforme esclarece Balogh, surgiucomo um apanhado de conquistas prévias no campo

da literatura, das artes plásticas, dorádio, do folhetim, do cinema (cf.BALOGH, 2002:24). Nessa dinâmicaintertextual, a telenovela brasileira éa que, de certa forma, melhor respiraessa metamorfose de textosnarrativos em suas tramas. A novelaé parte do produto televisivo, e suaestrutura é passível de absorveroutros textos em suas mais diversasrelações intertextuais. Cabe ressaltarque o grande know-how da mídiatelevisiva brasileira sempre foi àficção, o que torna a telenovela umdos produtos de maior destaque dosveículos de comunicação. A RedeGlobo, emissora líder de audiência,tem como produto principal do seuhorário nobre a novela das oito(meia). O sucesso da audiência, quejá perdura há décadas, está na formacomo as novelas são construídas,incorporando conteúdos dasnarrativas tradicionais, dadramaturgia, do cinema, semesquecer, entretanto, da perfeitaambigüidade traçada com o real.

Em função desse cenário, pararetratar a questão daintertextualidade na televisão, estetrabalho adotou como estudo anovela das oito, “Paraiso Tropical”, deGilberto Braga e Ricardo Linhares,veiculada pela Rede Globo deTelevisão. Para delimitar o objeto, orecorte escolhido foi o casal depersonagens Bebel (Camila Pitanga)e Olavo (Wagner Moura), não poracaso, mas por ter ficado emvigoroso destaque durante trêsmeses3 e, assim, fortalecendo-secomo um dos maiores sucessos natrama novelística das oito da Globo.

As situações estilo “gata” e “rato”protagonizadas por Bebel (aprostituta) e Olavo (o empresário)ajudaram a novela firmar-se acimados 40 pontos de Ibope4, graças àforça dos personagens, que seguemuma narrativa muito similar aoromance fílmico americano, “UmaLinda Mulher”, protagonizados porJulia Robert e Richard Gere. A

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questão suscitada por essa pesquisagira em torno da intertextualidade danarrativa dos personagens, da obrafílmica para televisual.

Para realização do artigo recorremosà semiótica francesa de A.J.Greimas,que permite uma análise estrutural dotexto por meio do percurso narrativoe discursivo dos personagens.

2. Descrição do Objeto

Para recontarmos e resumirmos ahistória do casal na trama, nossoobjeto de estudo, relatamos:

Rio de Janeiro.Copacabana, 2007. Porintermédio do cafetãoJader (Chico Diaz), oexecutivo Olavo (WagnerMoura) passa a contratara prostituta Bebel (CamilaPitanga) em seusmomentos de lazer,divertimento enecessidade masculina.

Na trama, o executivo temo perfil de mau caráter,crápula, vilão e, aomesmo tempo, empassagens rápidas, omocinho.

A prostituta é a golpista, vilã esonhadora em poder deixar a vida do“calçadão” e, assim, tornar-semadame. Tudo o que mais deseja écasar-se com um “bacana” e investena fala marcante do seu desejo: “Eugosto é de cueca maneira”.

O executivo e a prostituta mantêmuma relação movida a humor eatração, mas com seu lado de paixãolegítima – como as de qualquer duplade galã e mocinha.

Até encontrar a jovem, o executivoera incapaz de ter relacionamentosduradouros com as mulheres. MasBebel, a quem chama de

“vagabunda”, conseguiu conquistá-lo. Ao dizer queiria embora com um “partidão” alemão, que oexecutivo satirizou em apelidá-lo como “chucrute”,Olavo logo propôs a ela ser um cliente “fixo”. Aprostituta despacha o alemão, desfaz acordos com ocafetão Jader e se gaba às colegas que agoraarrumou um “bacana” fixo, deixando a vida do dia-a-dia no calçadão de Copacabana.

Bebel, a prostituta, naturalmente configura umapersonagem que veio de uma chamada classe socialbaixa, de formação escolar precária, reforçando opapel de perólas como “catiguria”, em vez de“categoria”, e “penhar”, em vez de “penhoar”, além douso e do abuso dos extravagantes modelos devestimentas em seus microcomprimentos emaxidecotes, desfilando e exibindo o seu melhorrebolado, exalando sensualidade em sua melhor

forma física (da atriz).

Na trama, o executivo sustenta a prostitutae cobre-a de mimos e presentes.Aparentemente mantêm umrelacionamento de namorados, aindaescondidos da sociedade de seusconhecidos, seus pares, suas amizades(do executivo). Na verdade, estáapaixonado por ela, mas não o reconhece.

Tenta satisfazer o desejo da prostituta, atéas suas mais fúteis vontades, como levá-lapara jantar em um restaurante público,lugar de “bacana”, presenteando-a comobjetos de simples consumo. Em outracena, acompanhou-a até uma loja de grife,no shopping, cujos produtos são da linhade cama, mesa e banho, para reparar opreconceito sofrido pela prostituta, há

alguns dias, por ter entrado sozinha na loja para fazercompras e não ter obtido o prazer de levar asmercadorias, por estar portando o cheque doexecutivo, e não dinheiro.

Esta dupla desempenha o papel de vilões nas cenas.As armações do executivo sempre revertem contraele, mas ele não desiste e segue a sua determinaçãoem destruir o primo Daniel (Fábio Assunção), e,assim, alcançar o cargo de presidência da empresado tio Antenor (Tony Ramos), que tanto almeja. Naseqüência, a prostituta mantém-se firme nas aulas deportuguês e de boas maneiras, na estratégia derealizar o seu maior desejo: conquistar pra valer oexecutivo e casar-se com um “bacana” de “cuecamaneira”.

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... naturalmenteconfigura uma

personagem queveio de uma

chamada classesocial baixa, de

formação escolarprecária, reforçandoo papel de perólas

como “catiguria”, ...

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3. O “desejo” na Narrativa

O essencial de todos os modelos narrativos éque eles giram em torno das ações dospersonagens. As ações executadas pelospersonagens para atingir os seus objetivosconstituem o cerne da narrativa. Para que umpersonagem execute uma série de ações énecessário que ele tenha um querer (ser rico,conquistar uma mulher, desbravar o Oeste, serfamoso etc.). Assim, podemos dizer que omóvel da narrativa é o desejo que leva opersonagem a ser o sujeito de uma série deações no sentido de conseguir o(s) objetivos(s)do seu desejo. (BALOGH, 2002:61)

Os personagens que ilustram o tema desta análise seinserem pelo seu forte querer, e suas ações seinserem deste modo, nos modelos clássicos dasnarrativas. No caso do executivo Olavo (WagnerMoura), as ações se dirigem pelo desejo conquistar apresidência da empresa do tio Antenor (Tony Ramos).Nesse desejo se incluem elementos da cultura,altamente valorizados, como o amor, dinheiro, fama,poder, etc. (cf. BALOGH, 2002). A prostituta Bebel(Camila Pitanga), por sua vez, cujo desejo é casar-secom um homem rico, bem-sucedido, cobiça amor,dinheiro e reconhecimento social. Supomos, então,que a constituição da relação Sujeito-Objeto (S-O)ocorre da seguinte maneira:

Sujeito Objeto

Executivo Olavo Poder - Presidência da Empresa

Prostituta Bebel Casamento - Amor e dinheiro

Essa constituição determina um conjunto de estadose transformações na relação sujeito do desejo àobjeto do desejo, conjunto esse que deve preencheralgumas exigências para se modelar em umPrograma Narrativo - PN. “Todo programa narrativoprojeta na história o seu programa narrativo contrário- anti-PN” , (BALOGH, 2002:62).

Voltaremos à trama. Enquanto o protagonista (S) - oexecutivo Olavo (Wagner Moura), age na trama embusca de aliados e adota como estratégia aaproximação da filha de um dos acionistas daempresa, com a qual já teve uma relação amorosa.Como antagonista, anti-sujeito (AS), surge o cafetãoJader (Chico Diaz). No momento em que o executivoestá com a filha do acionista, o cafetão Jader estarácom a prostituta Bebel. Em decorrência, Bebel estará,assim, em disjunção como seu objeto do desejo (ASY O), que é o amor e dinheiro que o executivorepresenta para ela. A disjunção se acentua pela

possível luta do sujeito e doantagonista pela posse do objeto dodesejo, lugar agora ocupado pelaprópria Bebel (S & AS Y O). Issoocorre porque o executivo busca aconquista do poder e usa a filha doacionista como tal conquista, e aprostitua, por meio dos contatos docafetão Jader, (AS), ainda queenciumada, volta novamente aocalçadão de Copacabana natentativa de encontrar outropretendente “bacana”, capaz deencarnar o seu objeto de desejo.

Essa narrativa oferece-nos, comoressalta Balogh (2002:62), “asinúmeras possibilidades demultiplicar tanto o sujeito e anti-sujeito, como os seus programasnarrativos e os seus objetos dedesejo, também chamados na teoriasemiótica de objetos-valor (Oõ)”.

É preciso observar que os elementosculturais e socialmente valorizadosdisseminam-se pela trama narrativa eatuam como meios de classificação eidentificação. São citações como um“bom” carro, jóias, relógios,vestimentas de marca, sapatos“finos”, cabelos lisos, bolsas LuisVuiton, canetas Mont Blanc, queapontam para objetos de valor (Oõ) ede modismo.

Esses objetos são magnificados pelacobiça dos personagens e passam aser os mobilizadores emultiplicadores de suas ações, o quealonga a trama novelística.

4. Do cinema para a TV

Julgamos que, nos processos deintertextualidade particularmentepresentes na televisão, o cinemacontribui de forma significativa.Nessa direção, parece-nos que ofilme Uma linda Mulher oferece umforte componente para a recriaçãointertextual da temática da novelaParaíso Tropical.

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Vejamos a sinopse5(anexo 1) : Ummagnata perdido, Edward (RichardGere), pede ajuda a uma prostitutaVivian (Julia Roberts) que “trabalha”no Hollywood Boulevard e acabacontratando-a por uma semana.Nesse período ela se transforma emuma elegante jovem para poderacompanhá-lo em seuscompromissos sociais, mas os doiscomeçam a se envolver. A relaçãopatrão/empregado se transforma emrelação entre homem e mulher, pois oempresário acaba se apaixonandopela prostituta.

Na trama da novela das oito, a idéiacentral parece retratada no cinema,em que a relação semodifica pela açãotransformadora do objetode busca.

Há outros elementosindiciadores que auxiliamna apreensão dapassagem do filme para anovela. Referimos-nos àcena do filme na qual omilionário (Richard Gere)leva a prostituta Vivian(Julia Roberts) a uma lojade griffe e a fazexperimentar novasroupas, presenteando-acom elas. Observa-seaqui, de certa forma, amudança de comportamento de umamulher aparentemente simples, semstatus e sem cultura, porém de umanotável beleza, que, ao vestir-se comroupas finas, pode realizar os seusdesejos e ascender a outro nívelsocial, a despeito dos preconceitosque a cercam.

Na novela das oito, o executivo Olavo(Wagner Moura), em cenasemelhante à descrita acima, leva aprostituta Bebel (Camila Pitanga) auma loja, num shopping, e apresenteia satisfazendo todas assuas vontades e anseios deconsumo. As vestimentas são ummeio, uma ação, que impelem a

passagem da garota de programa para madame.

Notemos o conjunto de aproximações do papelrepresentado por Julia Roberts e por Camila Pitangacomo prostitutas (anexo 1 e anexo 4). Uma delas é abeleza exuberante das atrizes, forma física, vozmeiga denotando amabilidade, cabelos crespos,maquiagem pesada, adereços chamativos,vestimentas semelhantes, em cores vivas,microcomprimentos e decotes para ressaltar asilhueta de ambas. Quando transformadas em“madames”, usam roupas elegantes, comprimentolongo nos vestidos, maquiagem leve, jóias, sapatosde salto fino, leveza no andar e no falar e até chapéu,para complementar o glamour social e cultural.

As séries de ações transformadoras, no filme e nanovela, incluem as cenas em que ao magnata leva a

prostituta, produzida com roupas finas, de“marcas”, para seus encontros denegócios, exibindo beleza, sensualidade eclasse, e Bebel, elegante, usando roupasfinas, de “marca”, nas festas da altasociedade. Na Novela, a protagonista foiconvidada pelo casal que lhe dá aulas deetiqueta. Vale lembrar que é o executivoquem custeia as aulas de boas maneiras.Tanto no filme, quanto na novela háevidências das passagens de um estadopara outro, de forma clara, divertida eromântica repetindo a trama do desejomítico da prostituta que busca um“bacana” para tirá-la da rua.

O filme mostra que o mito do amor superaqualquer preconceito, destrói qualquerobstáculo e apaga o “negro” passado.Pode-se dizer que é um conto de fadas

romântico e engraçado, aquele em que o amor falamais alto do que os preconceitos. É esse conto defadas que, ao oferecer a satisfação dos desejos,sustenta a trama de Paraíso Tropical.

Ao lado dessas aproximações marca-se umadiferença entre a narrativa fílmica e a narrativanovelística. No filme, o amor é o objeto de desejo deambos. Ele não é vilão e tampouco ela é aprotagonista. Assemelham-se mais ao príncipe e àmocinha dos contos de fada. O filme, ao retratar aforça do amor, contrapõe-se a alguns tabus sociais econduz ao final feliz. Ao passo que, na novela, apesarde que o amor como objeto de desejo de ambosesteja presente em boa parte da trama, ele ésuperado pelo desejo de poder e dinheiro. Assim, noque diz respeito aos personagens Bebel/Olavo, as

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ações narrativas não conduzem ao final feliz.

Contudo, a proposta de intertextualidade se mantém,já que de acordo com Balogh (cf. 2002), pode ocorreruma metamorfose de obras já existentes. O quesignifica uma recriação daquelas obras, funcionandocomo complementares, como um novo olhar que sedireciona para um outro fim.

A televisão fragmenta sentidos e os reorganiza emblocos, que são micronarrativas desenvolvidas emetapas seqüenciais e contínuas, como é o caso dastelenovelas, dispondo de um modo de narrar comcomeço, meio e fim. Isto pode ser creditado comoparte da voracidade da própria televisão (cf.BALOGH, 2002).

5. A trilha sonora como indicador na narrativa

Na trilha sonora, é preciso assinalar que cadapersonagem tem a sua característica ressaltada pelacanção que o acompanha nas encenações. Ela é umelemento que traz uma prévia aos espectadores, aofuncionar como um apontador, que anuncia asimagens que aparecerão e os seus respectivospersonagens. Eis a função da canção na estrutura datrama novelística.

A canção de Caetano Veloso, com a letra “NãoEnche” 6 (anexo 2), que surge na trama das relaçõesdo casal Olavo e Bebel é um forte indicador datessitura cênica em que aparecem os doispersonagens. À entrada da trilha sonora, oespectador já sabe que verá na telinha o casal.Funciona como um indicativo, uma referência, umamarca, se assim podemos definir, da entrada em cenado personagem Bebel, individualmente, ou ainda dasfortes cenas de sexo do casal, avisando e impelindo oespectador a recorrer em seus registros de memória,uma vez que a canção sempre se repete naantecipação desses momentos.

Em uma breve leitura, verificamos que a cançãoclama por “perua, piranha, vagaba, vampira”, termosque denunciam o lugar no Programa Narrativo quecaracteriza a figura da prostituta. Além disso, aexpressão “pirata, malandra!” reforça o mesmoPrograma, ao indicar o desejo de Bebel orientadopara uma do homem “bacana” e para beneficiar-se dasituação. A frase “minha energia é que mantém vocêsuspensa no ar”, pode ser associada ao envolvimentocom Olavo, cliente fixo, que dá à prostituta o direito decomprar o que desejar e também o de se transformarem uma mulher de classe, por meio das aulas de

etiqueta proporcionadas por ele.

A trilha sonora identifica opersonagem. Afinal Bebel é umamulher linda, muito atraente e semcaráter. Ambiciosa e individualista,suas atitudes acompanham a letra damúsica de Caetano Veloso. Aintertextualidade de“Não Enche” émarcada pelas passagens que sereferem implicitamente à prostituta,que só deseja levar vantagem eenlouquece um homem que tem opoder de transformá-la. No entanto,no decorrer da letra, surge o explícitodesejo de libertação, desejo este quenão entra em junção de causalidadena trama da novela.

Acentuamos também a função damúsica que é a vinheta de aberturada novela “Sábado emCopacabana”7(anexo 3), na voz deMaria Bethânia, na trama danarrativa.

A novela Paraíso Tropical éambientada no bairro deCopacabana, no Rio de Janeiro,Brasil É aí que se passa a históriaurbana e atual. Como está indiciadona letra da música, Copacabana selocaliza na zona sul da cidade, temuma bela praia, em formato de meialua, apelidada de Pincesinha do Mar,devido aos seus tempos áureos, nasdécadas de 1930, 1940 e 1950.Bairro de boemia, glamour e riqueza,Copacabana deu origem a muitasmúsicas, livros, pinturas e fotografias,tornando-se uma bela referênciaturísitca da cidade.

A maioria dos personagens da novelasão pessoas que vivem emCopacabana. Aí há, ainda, umagrande concentração decomerciantes, turistas e transeuntes,e atrai também mendigos, menoresabandonados e pedintes. Além disso,Copacabana é um bairro de vidanoturna fervilhante, o que acaba poratrair um grande número de bares,boates GLS e também muitasprostitutas. Todas essas

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caracteríristicas são anotadas natrama de Paraíso Tropical.

As cenas da novela, em sua maioria,são ambientadas no bairro, o que nosleva a apontar uma relação entre ostextos da música e a trama danovela. No entanto, essa relação nãose sustenta apenas na exaltação quese depreende da música cantada porMaria Betânia, pois a ela secontrapóe o turismo sexual, a antigabeleza do século passado, a pobrezae a prostituição, que funcionam comoo sinal negativo da exaltação.Podemos identificar esse ladonegativo que é avesso da exaltaçãoe, assim, contido nela, nasconturbadas relaçõesvividas na trama e noglamour decadenterepresentado pelospersonagens de classemédia e média-alta dobairro.

6. Do cotidiano para aTV

“A novela, no entanto,como é praxe em suaestrutura, mescla a ficçãointertextual e a realidade”,afirma BALOGH(2002:34).

A prostituição, construída através dapersonagem Bebel (Camila Pitanga),remete a situações das garotas deprograma da realidade brasileira. Éclaro que essa construção se dá deforma ficcional. É por isso mesmo,por se apresentar de forma ficcional,que permite uma abertura de onde seantevê a verdade, e é por issotambém que se apresenta como umachave mestra na trama novelística,incluindo o tema no debate público.

“O caráter brasileiro parece ser maisafeito à gozação, à malícia, ao humordentro do seu cotidiano, caráter esseque pede também uma novela comum jeito maroto diverso do dramalhão

tradicional”, pensa BALOGH (2002:170). Nestetrabalho, observamos que, ainda, que a novela tragaà tona a questão da prostituição, os apelos ao humorsão freqüentes, sobretudo nas falas de Bebel, que,como já apontamos , diz “penhar” em vez de“penhoar” e se auto-intitula uma mulher de “catiguria”,em vez de categoria.

Verificamos também que a TV aproveita os textos desucesso momentâneo, desdobrando-os em sátira nosprogramas humorísticos, como o faz em Cassseta &Planeta (Rede Globo), e a criação da “BebelGenérica”, com textos de humor que complementama referência da personagem global e da realidadevivenciada pelas mulheres prostitutas. Tudo setransforma, desse modo, em realidade cotidiana.

A prostituta, a despeito de constituir-se emestereótipo, pois é facilmente reconhecidanas ruas pelos seus trajes, trejeitos,comportamentos e até linguagem, carregatambém inúmeras facetas. Essas facetassão ora aceitas, ora rejeitadas nacomplexidade das relações sociais,ressalta o estudioso Goffman (cf. 1978).

A complexidade permite um movimento deafirmação, o que significa inclusão, ou denegação, o que resulta em exclusão. Éesse movimento que oferece aos autoresda narrativa novelística a possibilidade defabricar o roteiro da ficcção. Trata-se detextos sobrepostos e que constroem arede intertextual. Na abertura dessa redehá lugar para a participação do público:este pode aceitar ou rejeitar a construçãoresultante. O público participa também,perguntando: Quem sou eu? Quem é o

Outro?A felicidade existe para todos?

Decifrar a dinâmica dessas relações implica suporque o indivíduo pode “passar para o outro lado”,“cruzar fronteiras”, ”estar na fronteira”, ou ao menosconhecer, participar, vivenciar o que é oferecido pelooutro, segundo entendimento de Tomaz Tadeu Silva(cf. 2000).

De certa forma, o espectador da novela acaba porvivenciar a experiência do outro, ainda que seja naficção, e as complexas relações constitutivas datrama também podem impeli-lo a refletir sobreidentidade e diferença.

Como sugere Silva:

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A complexidadepermite um

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significainclusão, ou denegação, o que

resulta emexclusão.

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A identidade é simplesmente aquilo que se é:“sou brasileiro”, “sou negro”, assim concebidaparece ser uma positividade (“aquilo que sou”)uma característica independente, um “fato”autônomo. Nessa perspectiva, a identidade sótem como referência a si própria: ela é auto-contida e auto-suficiente. A diferença éconcebida com uma entidade independente.Apenas, neste caso, em oposição à identidade,a diferença é aquilo que o outro é:”ela éitaliana”, “ela é branca”.Da mesma forma que aidentidade, a diferença é, nesta perspectiva,concebida como auto-referenciada, como algoque remete a si própria. A diferença, tal como aidentidade, simplesmente existe.” (SILVA,2000:74)

Na mesma direção, Stuart Hall, afirma:

As identidades são construídas por meio dadiferença e não fora dela. Isso implica oreconhecimento radicalmente perturbador deque é apenas por meio da relação com o Outro,da relação com aquilo que não é, precisamenteaquilo que falta, com aquilo que tem sidochamado de seu exterior constitutivo, que osignificado ´positivo´ de qualquer termo – e,assim, sua ´identidade´- pode ser construído”.(STUART HALL, 2002:111)

No tocante ao aspecto ficcional, a novelanaturalmente se enriquece das diversificações dostemas do cotidiano, de suas peculiaridades eexpressa seus desafios para entrar na guerra doibope televisivo.

7. Paratextualidade

Denominam-se “paratextos” as epígrafes, as notasmarginais, os subtítulos, as ilustrações, os prefácios eoutros sinais acessórios que integram a obra literária.Esses elementos têm suscitado os interesses dospesquisadores principalmente os que se debruçamsobre a crítica genética. (GENETT, 1982:9 apudSANTOS: 2).

Supomos que podemos incluir no conceito deparatexto as entrevistas8 ( anexo 5 e 6) que osautores concedem, nas quais falam sobre os seuspersonagens. Nessas entrevistas, os atores revelamum pouco do que pensam e como interpretam osvilões que roubam a cena em “Paraíso Tropical.”

Julgamos que esse procedimento pode contribuirpara o entendimento da realização da novela. Ouseja, talvez seja relevante conhecer o que de fato ospróprios autores pensam sobre os personagem que

estão interpretando na narrativaficcional e que pode ou nãoinfluenciar suas respectivasinterpretações.

Corrobora esta proposta, aafirmação: “o grande know-how daTV brasileira sempre foi a ficção, edentro da ficção o formato novela é oque mereceu maior destaque. Há,portanto, uma paratextualidade muitomais rica em relação à novela eparticularmente em relação à noveladas oito (e meia)”(BALOGH,2002:45).

Numa breve análise da fala do atorWagner Moura, notamos que ele nãovê o personagem como galã, umavez que diz que é “triste e feio”, ouseja, representa o papel de quemsempre deseja o mal ao outro, dequem sempre quer se “dar bem”, dequem é capcioso, que não admiteperder, tornando-se, assim, amargo,melancólico. O ator remete essatristeza às atitudes do personagem,que o deixam “feio”, não no sentidode beleza, mas no sentido derepresentação do ser “mau”, nanarrativa. Por outro lado, o Olavo,junto com a Bebel, é capaz demostrar o outro lado do ser humano,o lado do antônimo de tristeza e defeiúra, o lado que não dá parasustentar por muito tempo uma“máscara”, uma vez que a emoção émais forte do que a razão. É comesses artifícios da “arte do amor” queo espectador venera, chora, torce ese emociona, uma vez que mexemcom os sentimentos das pessoas.

Notamos também um traço dehumildade do ator, no sentido dedividir os méritos do ibope com aCamila Pitanga, e não se vangloriardo personagem como único e sim do“casamento perfeito”, a ponto de, naentrevista, suspirar, ao falar do“mulherão” que é a atriz. Os atoresoptaram por apimentar, nasgravações, a relação de um sexoforte com certo romantismo,camuflado, mas existente na

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narrativa ficcional, o que talvezexplique o sucesso da trama.

Em seu palpite final, o ator torce paraque fiquem juntos, como todo finalfeliz que as narrativas ficcionaisnovelísticas prometem aoespectador, na possibilidade detransmitir o acreditar que o amor émais forte e ultrapassa quaisquerobstáculos, bem ou mal.

Partimos, então, para uma breveanálise da fala da atriz CamilaPitanga. A atriz caracteriza avestimenta da personagem como umescândalo, uma vez que a inspiraçãodas roupas da Bebel pode ter vindotambém das drags, dostravestis. Ela asseguraque esse tipo devestimenta causa certoalvoroço no sexomasculino, sugerindo odesejo de agradar o “seuhomem”.

Afirma ainda que não separece nada com apersonagem, étotalmente discreta, gostade estilistas famosos eadota o estilo clássico.

Para a atriz, a Bebel usaa roupa como um meio desedução, não só na figurade prostituta, mastambém na representação demulheres de forte personalidade e deatitude, conforme pesquisa, referidapela atriz, no livro Meninas do Brasil,da Mari Stockler, no qual émencionado que a vestimenta podeatiçar a imaginação feminina.

Antes de encarar a exuberanteprostituta, na trama de GilbertoBraga, Camila Pitanga conviveu comas meninas da ONG e ganhou delasuma homenagem: a grife Daspu,criada pela Davida, que lançou a suanova coleção, tendo a Bebel comomusa inspiradora.

Definitivamente a convivência que teve antes deinterpretar a personagem trouxe um aprendizado dadura realidade da vida de uma prostituta,naturalmente não com o glamour retratado pelapersonagem Bebel, pondera a atriz em entrevista.

Essas breves indicações, que entendemos comoparatextualidade, podem também complementar ouapontar os vários juízos que o espectador venha aformar sobre os personagem na trama. Como sesupõe que as entrevistas são acompanhadas poraqueles que assistem à novela, sobretudo seconsideramos a sua divulgação nos mais diversosmeios, não é inadequado sugerir que aparatextualidade contribui para a convicção sobre ostemas tratados na obra e sua conseqüente aceitação.

8. Considerações Finais

As noções de intertextualidade queorientam este trabalho permitiram-nosidentificar a relação da canção de CaetanoVeloso, “Não Enche”, com a trama docasal Olavo e Bebel da novela ParaísoTropical, apresentada na Rede Globo, nohorário das oito. A intertextualidademusical é identificável em relação àpersonagem Bebel, que está presente emdiversas seqüências da novela em que amúsica “Não Enche” é tocada, ou seja,observamos os elementos de paródia edeboche, pois nessas seqüencias épossível notar a linguagem, as técnicas eos clichês, enfim, os traços da estéticautilizados para construir a personagemBebel. O público conhecedor desses

elementos é capaz de identificar as referências.

Supomos, assim, que o espectador, baseado em seupróprio repertório, constrói e reordena as relaçõesentre os textos. O significado resulta das associaçõesparamusicais como imagens, sensações, palavras,cenas, etc. A música “Não enche” caracteriza-secomo um discurso associativo, pois a cançãoapresenta-se de forma polifônica, em que elementoscom significações próprias são sobrepostos demaneira a criar um sentido em relação aos fatosvividos por Bebel no decorrer da narrativa.

Os textos servem-nos como chaves-mestras queabrem para a ambigüidade intertextual. Assim, aconstrução intertextual da personagem mostra-adotada de humanidade e, através de uma série deações transformadoras, aponta para a questão do

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Essas brevesindicações, que

entendemos comoparatextualidade,podem também

complementar ouapontar os vários

juízos que oespectador venha a

formar sobre ospersonagem na trama.

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estigma social, propiciando ao espectadoruma certa visão da diversidade e oferendo-lheum patamar para a reformulação de suasconvicções.

O diferencial da trama de Paraíso Tropicalconsiste em trazer emergir personagens quefogem a classificação tradicional de mocinhoou vilão. A dubiedade enriquece a trama. Ocasal protagonista da narrativa, Olavo e Bebel,exemplifica esse diferencial. Os seus desviosde caráter dos personagens aquecem opúblico, que está pronto a perdoá-los por umacausa nobre, o amor.

A trama é construída pelas relações de sexo,poder e dinheiro, que perpassam toda anarrativa e se enriquecem pelas remissõesintertextuais que procuramos indicar aqui.

A intertextualidade configura-se, para nóscomo uma teia de aranha que, ao tecerproduz sentidos, criando, “roubando”,reordenando e construindo novos textos.

É deste modo que pode oferecer-se comoabertura para a inovação e para o diálogocom o espectador.

Notas1. Fonte: Jornal Folha de S.Paulo. Caderno Ilustrada - Entrevista com o ator Wagner Moura. 10/06/07, p.E.2. Fonte: Revista Veja. Televisão – Meu bem, meu mal. Ed.2013, ano 40, n.24.20/06/07, p.130.3. http://adorocinema.cidadeinternet.com.br/filmes/linda-mulher/linda-mulher.asp, 26/06/07. 4. Veja a Letra canção: NÃO ENCHE – Caetano Veloso – Fonte: http://caetano-veloso.musicas.mus.br/letras/44751/, Acessado em 26/06/07.5. Veja a Letra da Canção: SÁBADO EM COPACABANA – Maria Bethânia - Composição: (Carlos Guinle/ Dorival Caymmi). Fonte: http://maria-

bethania.musicas.mus.br/letras/164720/, Acessado em 26/06/076. Entrevista com o ator Wagner Moura (30 anos, casado, um filho), Fonte: Jornal Folha de São Paulo. Caderno Ilustrada – Camila Pitanga e eu forçamos a

paixão.10/06/2007,p.E4.7. Entrevista com a atriz Camila Pitanga (29 anos, casada, sem filhos), Fonte: Jornal Folha de São Paulo.Caderno Cotidiano – Bebel se inspira em drags e travestis, diz

atriz sobre seu personagem na novela. 16/06/2007, p.C8.

9. Referências BibliográficasBALOGH, Anna Maria. O discurso Ficcional na TV: Sedução e Sonho em Doses Homeopáticas. São Paulo: Editora da Universidadede São Paulo, 2002.

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HALL, Stuart. A identidade cultural na pós-modernidade. Tradução Tomaz Tadeu da Silva, Guaracira Lopes Louro, 7.ed., Rio deJaneiro: DP&A, 2002.

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Jornais, revistas e sitesJORNAL Folha de São Paulo. Caderno Ilustrada – Camila Pitanga e eu forçamos a paixão.10/06/2007, p.E4.

__________. Caderno Cotidiano – Bebel se inspira em drags e travestis, diz atriz sobre seu personagem na novela. 16/06/2007,p.C8.

__________.Caderno Ilustrada – Camila versus Bebel.01/7/2007, p.E2.

JORNAL O Estado de São Paulo. Caderno Tv&lazer. Capa: O rei de Copa. 03/06/2007. p.4.

JORNAL da Tarde. Caderno Sua vida Estilo – A bebel vai ficar fina? . 08/06/2007. p.13A.

REVISTA Veja. Meu bem Meu Mal Ed.2013, ano 40, n.24. 20 de junho/07. p.130

ADORO Cinema. http://adorocinema.cidadeinternet.com.br/filmes/linda-mulher/linda-mulher.asp, Acessado em 26 de junho de2007.

SANTOS, Medeiros, Neide. Literatura Infantil Brasileira: ecos da pós-modernidade.http://periodicos.ufpb.br/ojs2/index.php/ies/article/viewFile/47/45, Acessado em 28 de junho de 2007.

Material AudiovisualParaíso Tropical. Rede Globo. Novela das oito, 2007. Roteiro: Gilberto Braga e Ricardo Linhares. Elenco: Glória Pires, TonnyRamos, Camila Pitanga, Wagner Moura, Chico Diaz, Fabio Assunção.

Pretty Woman. Filme Romance. Roteiro J.F. Lawton. Direção: Garry Marshall. Produção: Arnon Milchan e Steven Reuther.Distribuição: Buena Vista Pictures, 1990.

Fotos – Adoro Cinema. http://adorocinema.cidadeinternet.com.br/filmes/linda-mulher/linda-mulher.asp, Acessado em 26 de junho de2007.

Letra música “Não Enche” - Fonte: http://caetano-veloso.musicas.mus.br/letras/44751/, Acessado em 26 de junho de 2007.

Musa Inspiradora Bebel. Fonte: http://musainspiradorabebel.uol.com.br/paraísotropical/musabebel, Acessado em 10/06/07.

“Sábado em Copacabana” - Fonte: http://maria-bethania.musicas.mus.br/letras/164720/, Acessado em 26 de junho de 2007.

AnexosAnexo 1. Fotos das cenas do filme Uma linda Mulher.

Fonte: http://adorocinema.cidadeinternet.com.br/filmes/linda-mulher/linda-mulher.asp,Acessado 26/06/07.

Anexo - 2. Letra canção: NÃO ENCHE – Caetano VelosoFonte: http://caetano-veloso.musicas.mus.br/letras/44751/, Acessado em 26/06/07

Anexo 3 – Letra da Canção SÁBADO EM COPACABANA – Maria Bethânia. Composição: (Carlos Guinle/ Dorival Caymmi) Fonte: http://maria-bethania.musicas.mus.br/letras/164720/, Acessado em 26/06/07

Anexo 4 – Fotos dos personagens Bebel (Camila Pitanga) e Olavo (Wagner Moura) – Novela ParaísoTropicalFonte:: http://musainspiradorabebel.uol.com.br/paraísotropical/musabebel, Acessado em 10/06/07.Fonte: Jornal da Tarde. Caderno Sua vida Estilo – A bebel vai ficar fina? . 08/06/2007. p.13A.

Anexo 5 - Entrevista com o ator Wagner Moura (30 anos, casado, um filho):Fonte: Jornal Folha de São Paulo. Caderno Ilustrada – Camila Pitanga e eu forçamos a paixão.10/06/2007,p.E4.

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Anexo 6 - Entrevista com a atriz Camila Pitanga (29 anos, casada, sem filhos)

Fonte: Jornal Folha de São Paulo.Caderno Cotidiano – Bebel se inspira em drags e travestis, diz atriz sobre seupersonagem na novela. 16/06/2007, p.C8.

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