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CAROLINE DA CUNHA SILVEIRA
UM ESTUDO SOBRE A MATEMÁTICA FINANCEIRA EM UMA ESCOLA PÚBLICA
DO MUNICIPIO DE CANOAS
CANOAS
2010
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CAROLINE DA CUNHA SILVEIRA
UM ESTUDO SOBRE A MATEMÁTICA FINANCEIRA EM UMA ESCOLA PÚBLICA
DO MUNICIPIO DE CANOAS
Trabalho de conclusão apresentado para o curso de matemática do Centro Universitário La Salle – Unilasalle, como exigência parcial para a obtenção do grau de Licenciado em Matemática.
Orientação: Prof. Me. Paulo Roberto Ribeiro Vargas
CANOAS
2010
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CAROLINE DA CUNHA SILVEIRA
UM ESTUDO SOBRE A MATEMÁTICA FINANCEIRA EM UMA ESCOLA PÚBLICA
DO MUNICIPIO DE CANOAS
Trabalho de conclusão aprovado como requisito parcial para a obtenção do grau de Licenciado em Matemática pelo Centro Universitário La Salle – Unilasalle.
Aprovado pelo avaliador em 29 de novembro de 2010.
AVALIADOR:
_______________________________________
Prof. Me. Paulo Roberto Ribeiro Vargas
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“Qualquer pessoa é uma ilha, no sentido muito concreto do
termo; a pessoa só pode construir uma ponte para
comunicar-se com outras ilhas se primeiramente se dispôs a
ser ela mesma e se lhe é permitido ser ela mesma”
(Carl Rogers, 1961, p. 32).
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RESUMO
O presente trabalho constitui-se de análise de livros didáticos e entrevistas realizada com alunos e professores do 1º ano do Ensino Médio da Escola Estadual Bento Gonçalves, situada no bairro Mathias Velho, na cidade de Canoas-RS. Foram analisados os conceitos matemáticos apresentados pelos livros didáticos e os métodos utilizados pelos professores para a elaboração das aulas sobre Matemática Financeira, a fim de se verificar, juntamente com os alunos, se a forma como o conteúdo estava sendo ensinado serve como ferramenta para tomada de decisões fora do ambiente escolar. As ferramentas teóricas que deram sustentação para a pesquisa foram a resolução de problemas e a aprendizagem significante, utilizadas para aplicação das praticas defendidas pelos PCNs e Enem, as quais reforçam a importância do ensino de Matemática com o objetivo de preparar para cidadania. Com a coleta de dados, interpretação e análise dos resultados percebi que é preciso que os professores e a escola estejam comprometidos em atribuir significados ao que é ensinado, dando prioridade a problemas e exercícios que fazem relação com a realidade do aluno e são vitais à sua sobrevivência. É preciso ensinar mais do que conhecimento teórico, é preciso contextualizar a Matemática Financeira trazendo para sala de aula problemas do dia-a-dia, contribuindo assim para formação de indivíduos conscientes de seu papel na sociedade e aptos a tomada de decisões.
Palavras-chave: Matemática Financeira. Resolução de problemas. Aprendizagem significante. Matemática Ensino Médio.
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LISTA DE FIGURAS
Figura 1 – Pergunta 1: Resposta dos alunos ................................................................. 34�
Figura 2 – Pergunta 2: Resposta dos alunos ................................................................. 35�
Figura 3 – Pergunta 3: Resposta dos alunos ................................................................. 36�
Figura 4 – Pergunta 4: Resposta dos alunos ................................................................. 38�
Figura 5 – Pergunta 5: Resposta dos alunos ................................................................. 40�
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LISTA DE TABELAS
Tabela 1 - Assuntos relacionados à Matemática Financeira nos livros pesquisados ..... 32�
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SUMÁRIO
1 INTRODUÇÃO .............................................................................................................. 8
2 FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA .................................................................................. 10
2.1 Resolução de problemas ....................................................................................... 11
2.2 Matemática Financeira .......................................................................................... 16
2.3 Aprendizagem Significante .................................................................................... 18
3 METODOLOGIA ......................................................................................................... 22
3.1 Objetivos da pesquisa ........................................................................................... 22
3.2 Alunos, professores e livros didáticos ................................................................... 26
3.2.1 Entrevistas com alunos ................................................................................ 29
3.2.2 Entrevistas com professores ....................................................................... 30
3.2.3 Análise dos livros didáticos ......................................................................... 31
4 ANÁLISE DE RESULTADOS ..................................................................................... 34
4.1 Alunos ................................................................................................................... 34
4.2 Professores ........................................................................................................... 41
4.3 Livros didáticos ...................................................................................................... 43
5 CONSIDERAÇÕES FINAIS ........................................................................................ 48
REFERÊNCIAS .............................................................................................................. 50
APÊNDICES .................................................................................................................. 52
APÊNDICE A - Entrevista alunos ................................................................................ 52
APÊNDICE B - Entrevista professores ........................................................................ 57
APÊNDICE C - Livros didáticos ................................................................................... 61
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1 INTRODUÇÃO
Durante os anos de estudo para conclusão do Ensino Fundamental e Médio,
sempre senti dificuldades em relacionar os conteúdos trabalhados em sala de aula com
os rumos que pretendia dar a minha vida profissional. Lembro-me de muitas vezes ter
sido a aluna inconveniente que questionava os professores e diminuía a importância
deste ou daquele conteúdo, acreditando que não seria importante para meu futuro e de
meus colegas.
A falta de contextualização me afastava da Matemática e por este motivo
procurei alternativas que me ajudassem a por em prática minha facilidade em trabalhar
com os números e cálculos. Comecei minha qualificação profissional com os cursos
técnicos de Contabilidade e Administração. O curso superior foi adiado, mas eu
vislumbrava meu futuro na graduação em Ciências Contábeis. Até que, por influência
de minhas irmãs, ambas professoras, acabei traçando um novo objetivo para minha
vida. Já que a licenciatura me parecia o melhor rumo, acabei optando pela Matemática
e, durante muito tempo tive medo de enfrentar os alunos diante de uma sala de aula,
medo este que só foi vencido com a conclusão dos estágios exigidos pela instituição.
Hoje, com minha curta experiência em sala de aula, com minhas primeiras
turmas de Ensino Fundamental e Médio, acabo encontrando alunos que repetem as
mesmas perguntas que eu fazia a meus professores, alunos que demonstram falta de
motivação para com as aulas e para solução de problemas matemáticos, por não
enxergarem nenhuma relação com suas vidas atuais, com a realidade de seus pais ou
mesmo com seus objetivos para o futuro.
Como ser professora para mim ainda é uma novidade e cultivo os medos e
inseguranças habituais do início da profissão, uso as bibliografias disponíveis na escola
em que leciono como material de pesquisa para elaboração dos planos de aula,
tentando sempre encontrar problemas que tragam a vida de meus alunos para a sala
de aula. Porém, justamente nestes livros, que deveriam ser meu porto seguro, encontro
apenas material defasado e pouco objetivo.
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Neste momento surgem as seguintes perguntas: Meus colegas têm as mesmas
dificuldades que eu? Meu mecanismo de pesquisa é apropriado? Todos os alunos
demonstram-se desmotivados a aprender nas aulas de Matemática?
Não seria a Matemática Financeira um dos caminhos para despertar o interesse
dos jovens, trazendo para sala de aula exemplos práticos que ajudassem o aluno a
fazer conexão entre os conteúdos e a sua realidade?
Para responder a estas perguntas, pretendo analisar os conceitos matemáticos
presentes nos livros didáticos e os métodos utilizados por meus colegas da Escola
Estadual Bento Gonçalves, situada na cidade de Canoas-RS no bairro Mathias Velho.
Pretendo questionar os professores sobre os critérios usados para a elaboração de
suas aulas, e entrevistar alguns de seus alunos a fim de identificar quais são suas
expectativas e se existe aplicação prática da Matemática ensinada durante o Ensino
Médio em suas futuras escolhas. Objetivo com isso mostrar que a Matemática não é
importante somente para o “passar de ano”, mas também para tentar melhorar a
qualidade de vida de uma sociedade.
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2 FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA
Antes de analisar as informações coletadas através de entrevista com alunos e
professores da Escola Bento Gonçalves, considero importante ampliar meu olhar para a
situação sócio-econômica dos moradores da região do Bairro Mathias Velho. É preciso
conhecer a realidade destas famílias, para que eu possa, com estas informações, traçar
um perfil dos alunos atendidos por esta instituição.
Seguem informações do estudo realizado por Santos (2009, p. 3):
As periferias das cidades, principalmente das regiões metropolitanas,
correspondem a um misto de pobreza e violência. A Grande Mathias é responsável por
25,8% da população da cidade de Canoas e possui 79.957 habitantes. Ser morador do
bairro já predica uma identidade totalizadora e unificada, construída pelas relações de
poder estabelecidas no processo de formação da cidade, que visualiza na violência seu
principal ponto de apoio.
Apesar do traçado das quadras, encontramos construções irregulares,
pavimentação incompleta, escoamento de esgoto a céu aberto, habitações úmidas e
sombrias onde os sinais de violência e pobreza se sobressaem. A respeito do marcador
educacional, duas observações fazem-se importantes. A região da Grande Mathias
possui uma rede significativa de escolas públicas que garantem a universalização do
acesso ao Ensino Fundamental. No entanto, no que se refere à progressão escolar, há
um funil entre a conclusão do Ensino Fundamental e o ingresso no Ensino Médio.
Apenas 1.129 pessoas possuem formação superior, o que corresponde a 1,43% dos
moradores do bairro. Em torno de 50%, estão localizados na região mais próxima ao
centro da cidade. Portanto, apenas um pequeno número de indivíduos possui melhores
condições de reagir à vulnerabilidade a que estão expostos no mercado de trabalho.
As características como disponibilidade de tempo e falta de alternativas de lazer,
principalmente aquelas que podem ser desenvolvidas nos espaços públicos, como as
esportivas (tanto em espaço quanto em serviço), auxiliam na sedimentação do universo
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da vulnerabilidade social ligada ao tráfico, à violência e às altas taxas de homicídios,
principalmente quando discutimos a cultura juvenil.
Com base na pesquisa realizada por Santos (2009), fica evidente a importância e
o papel da educação para a vida destes alunos. A realidade vivida na Escola Bento
Gonçalves vem nos confirmar estes dados, pois nos apresenta uma população
empobrecida e que por diversos fatores culturais acaba por escolher caminhos que
afastam os alunos da escola, tornando ainda mais baixa a escolaridade e as
expectativas de sucesso profissional.
Na sociedade em que vivemos, é preciso que o educador esteja com sua visão
focada no futuro e na formação de indivíduos preparados para o mercado de trabalho e
para a tomada de decisões. Com o objetivo de defender este ponto de vista, utilizarei
como fundamentação para esta pesquisa a resolução de problemas e a aprendizagem
significante defendida por Carl Rogers, por acreditar ser esta uma das ferramentas mais
indicadas para se trabalhar a Matemática Financeira em sala de aula.
2.1 RESOLUÇÃO DE PROBLEMAS
Escolho a resolução de problemas como alicerce para esta pesquisa por ser esta
a metodologia que aproxima alunos e professores e facilita o trabalho em sala de aula.
Ao utilizar-se, nos exercícios trabalhados em Matemática, de questões que ajudem o
educando a encontrar aplicação prática no seu dia a dia, é possível prepará-lo também
como cidadão.
Segundo os PCNs1 (1998, p. 43) de Ensino Médio, o conhecimento deve ter
significado próprio, de forma a organizar o aprendizado na busca de
interdisciplinaridade e contextualização. Esse documento traz uma visão do Ensino
Médio de caráter amplo, de forma que os aspectos e conteúdos tecnológicos
1 Os Parâmetros Curriculares Nacionais (PCN) são referências para o Ensino Fundamental e Médio de todo o país. O objetivo dos PCNs é garantir a todas as crianças e jovens brasileiros, mesmo em locais com condições sócio-econômicas desfavoráveis, o direito à usufruir do conjunto de conhecimentos reconhecidos como necessários para o exercício da cidadania.
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associados ao aprendizado científico e matemático sejam parte essencial da formação
cidadã de sentido universal e não somente de sentido profissionalizante, de um
significado amplo para a cidadania e também para a vida profissional. Trata-se de
promover aos alunos condições para desenvolver uma visão de mundo atualizada, o
que inclui uma compreensão mínima das técnicas e dos princípios científicos em que se
baseiam.
É necessário que toda comunidade esteja engajada em torno de um projeto
pedagógico que faça sentido em todas as áreas, promovendo competências e
habilidades que sirvam para julgamentos práticos, avaliando riscos e benefícios de
processos financeiros. Somente dessa maneira tornam-se significativos os benefícios
deste conhecimento, o que contribui para a cidadania e também para vida profissional
do aluno. Esse deve ter uma visão de mundo atualizada, e cabe ao professor conduzir
o conhecimento para dimensões variadas a fim de interdisciplinar o ensino.
Segundo PCNs de Matemática (1998, p. 50):
Na década de 70, já se propunha uma democratização do conhecimento científico, reconhecendo-se a importância da vivência científica não apenas para eventuais futuros cientistas, mas também para o cidadão comum, paralelamente a um crescimento da parcela da população atendida pela rede escolar. A tecnologia no aprendizado escolar deve constituir-se também em instrumento da cidadania, para a vida social e para o trabalho. (BRASIL, MEC, 1998, p. 50)
O objetivo de preparar para a cidadania inclui prover os alunos de condições
para desenvolver uma visão de mundo atualizada, que deve incluir compreensão
mínima das técnicas e dos princípios científicos das diversas áreas do conhecimento,
orientando a promoção de valores, como a sensibilidade e a solidariedade,
principalmente durante o Ensino Médio, onde se pode contar com maior nível de
maturidade.
O processo de ensino e aprendizagem de Matemática deve oferecer ao aluno
capacidade de:
• Selecionar estratégias de resolução de problemas;
• Interpretar e criticar resultados numa situação concreta;
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• Distinguir e utilizar raciocínios dedutivos e indutivos.
• Desenvolver a capacidade de utilizar a Matemática na interpretação e
intervenção no mundo real;
• Aplicar conhecimentos e métodos matemáticos em situações reais, em especial
em outras áreas do conhecimento;
A aprendizagem escolar, portanto, deve constituir-se também em instrumento da
cidadania, para a vida social e para o trabalho.
Uma importante ferramenta para vencer a barreira erguida entre conhecimento
matemático e a aprendizagem do aluno é a resolução de problemas. Com ela, o
professor consegue despertar no aluno o interesse e a curiosidade, relacionando
exemplos de seu dia-a-dia com o conteúdo de sala de aula. Para Smole e Diniz (2001,
p. 95), a resolução de problemas deve tratar de situações complexas e diversificadas,
dando ao aluno oportunidade para pensar, construir um plano de ação e argumentar
sobre aquilo que realizou.
Segundo Dante (1988, p. 85), a tarefa básica é transformar a linguagem usual
para uma linguagem matemática adequada, identificando quais operações ou
algoritmos são apropriados para resolver o problema. Se durante a vida escolar forem
dadas oportunidades ao aluno de envolver-se com diferentes situações-problema,
quando adulto ele agirá com inteligência e naturalidade ao ter que enfrentar seus
problemas da vida diária, sejam eles de ordem econômica, política ou social.
Nossos alunos, porém, nem sempre tem a compreensão do que vem a ser um
problema. Além disso, muitos têm dificuldade na análise do enunciado de exercícios e
acabam levando tais deficiências também para fora dos muros da escola.
Pode parecer estranho, mas conseguir chamar problemas de “problemas” é uma dificuldade para muita gente. A tendência usual é substituir a palavra por qualquer outra de menos impacto. É preciso tomar cuidado com essas evasivas que, afinal, fazem supor nossa própria dificuldade em lidar com situações problemáticas. Se a questão é ensinar os filhos a lidar com problemas, é importante não ter pudores em fazer uso apropriado do termo. (D’AQUINO, 2008, p. 100)
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Ensinar a resolver problemas é estimular o aluno a encontrar soluções para seus
dilemas, não importando se corriqueiros ou não. Segundo Pozo (1998, p. 9):
Ensinar os alunos a resolver problemas supõe dotá-los da capacidade de aprender a aprender, no sentido de habituá-los a encontrar por si mesmos, respostas às perguntas que os inquietam ou que precisam responder, ao invés de esperar uma resposta já elaborada por outros e transmitida pelo livro-texto ou pelo professor. (POZO, 1998, p. 9)
Vivemos uma escola em que nossos alunos estão acostumados a reproduzir
respostas prontas e os problemas trabalhados em sala de aula não representam
desafios e sim mera reprodução ou cópia. Não existe reflexão e muito menos análise. A
simples interpretação de um texto ou exercício tem sido um obstáculo a parte para todo
o ensino, mesmo sendo de vital importância para aprovação das provas de vestibular e
ENEM2.
Seguem informações sobre Matriz de Referência de Matemática3 e suas
Tecnologias para o Enem 2009 (página 7):
• Competência de área 1 - Construir significados para os números naturais,
inteiros, racionais e reais.
• Competência de área 2 - Utilizar o conhecimento geométrico para realizar a
leitura, a representação da realidade e agir sobre ela.
• Competência de área 3 - Construir noções de grandezas e medidas para a
compreensão da realidade e a solução de problemas do cotidiano.
• Competência de área 4 - Construir noções de variação de grandezas para a
compreensão da realidade e a solução de problemas do cotidiano.
2 O Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) é uma prova criada em 1998 pelo Ministério da Educação do Brasil que é utilizada como ferramenta para avaliar a qualidade geral do ensino médio no país.
3 As Matrizes de Referência são um documento onde estão descritas as orientações para a elaboração dos itens dos testes do SAEB (Criado em 1988, o Saeb é uma ação do Governo Brasileiro, desenvolvido pelo Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira, sendo um dos mais amplos esforços empreendidos em nosso País no sentido coletar dados sobre alunos, professores, diretores de escolas públicas e privadas em todo o Brasil). Elaborado através de consulta às propostas curriculares dos Estados brasileiros e seus professores das redes municipais, estaduais e privada na 4ª e 8ª série do Ensino Fundamental e na 3ª série do Ensino Médio, nas disciplinas de Língua Portuguesa e Matemática.
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• Competência de área 5 - Modelar e resolver problemas que envolvem variáveis
socioeconômicas ou técnico-científicas, usando representações algébricas.
• Competência de área 6 - Interpretar informações de natureza científica e social
obtidas da leitura de gráficos e tabelas, realizando previsão de tendência, extrapolação,
interpolação e interpretação.
• Competência de área 7 - Compreender o caráter aleatório e não-determinístico
dos fenômenos naturais e sociais e utilizar instrumentos adequados para medidas,
determinação de amostras e cálculos de probabilidade para interpretar informações de
variáveis apresentadas em uma distribuição estatística.
Ao deparar-se com um problema, a primeira alternativa do aluno é buscar um
exercício resolvido anteriormente para que possa ser aplicada a mesma solução,
substituindo-se apenas os valores envolvidos. Mas será que problemas parecidos
teriam uma única maneira de serem solucionados? Não haveria talvez, diferentes
maneiras de se elaborar sua solução usando caminhos diferentes e que levem ao
mesmo resultado? Ou mesmo, será que nosso aluno está realmente interessado neste
resultado ou apenas está respondendo ao questionamento do professor visando uma
nota ou conceito que o promova para a série seguinte?
Um problema se diferencia de um exercício na medida em que, neste último caso, dispomos e utilizamos mecanismos que nos levam, de forma imediata, à solução. Por isso, é possível que uma mesma situação represente um problema para uma pessoa enquanto para outra esse problema não existe, quer porque ela não se interesse pela situação, quer porque possua mecanismos para resolvê-la com um investimento mínimo de recursos cognitivos e pode reduzi-la a um simples exercício. (POZO, 1998, p. 9)
Como podemos classificar um aluno como desinteressado ou desmotivado se o
que apresentamos em sala de aula são apenas exercícios, e não problemas? Na
maioria dos casos o aluno limita-se a reproduzir sem avaliar e os poucos que se dizem
agraciados com a facilidade em resolver problemas que envolvam cálculos
matemáticos, o resolvem apenas por obrigação. A classificação de uma tarefa escolar
como exercício ou problema depende da experiência e dos conhecimentos prévios do
aluno que executa. Quando o educando encontra a solução de um problema pessoal ou
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escolar de maneira direta, ele passa a reproduzir esta solução rotineiramente e logo
servirá apenas para exercitar habilidades já adquiridas.
Muitas vezes a melhor solução para um problema escolar acaba mostrando-se pouco eficiente diante de um problema cotidiano aparentemente similar, tornando muito difícil a transferência do conhecimento de um âmbito para o outro. (POZO, 1998, p. 41).
Não se trata de reduzir os problemas escolares a tarefas cotidianas, mas para
que alunos encarem tarefas escolares como verdadeiros problemas é preciso que haja
interesse pelo assunto ou pelo menos identificação com o tema. Sem este elo, o aluno
não assume a responsabilidade na tomada de decisão sobre sua aprendizagem.
A matemática constitui um poderoso auxiliar para a solução de problemas de caráter científico. Da mesma forma, a complexidade do mundo atual faz com que esse tipo de conhecimento seja uma ferramenta muito útil para analisar certas tarefas como, por exemplo, pedir um empréstimo, analisar os resultados eleitorais, jogar na loteria ou tomar decisões no âmbito do consumo diário (POZO, 1998, p. 45).
A compreensão de problemas matemáticos pode ser influenciada por fatores
diversos, tanto matemáticos como não matemáticos e o conteúdo das tarefas deve ter
relação com os conhecimentos armazenados pelo aluno. Além disso, a forma e a
linguagem que as expressões assumem podem fazer com que haja uma variação na
tradução das tarefas, influindo decisivamente na forma de resolvê-las.
2.2 MATEMÁTICA FINANCEIRA
As pessoas normalmente não têm uma noção clara e significativa das taxas de
juros aplicadas pelas empresas e lojas em suas operações, tarifas estas que estão
presentes nas tarefas rotineiras, desde pequenas compras parceladas até o
financiamento da tão sonhada casa própria. Contextualizando estas situações da
realidade do aluno, podemos transformar assuntos do dia a dia em problemas para a
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sala de aula, relacionando a Matemática às reais necessidades práticas dos alunos.
Conteúdos como sucessão, progressão aritmética, progressão geométrica, juros
simples e composto podem colaborar para despertar no aluno o interesse para temas e
assuntos específicos, podendo assim colaborar para tornar o ensino mais agradável.
Na hora de tomada de decisões, conhecimento e informação se fazem necessários na vida de todas as pessoas. Dessa forma, é muito importante inserirmos os conceitos financeiros na vida dos jovens e crianças no ensino fundamental para que eles se sintam preparados para lidar com dinheiro, ou para que saibam o quanto estão pagando de juros como consumidores ou ainda para que possam planejar suas vidas, sabendo a influência da inflação, do valor do dinheiro no tempo e para que possam ter uma vida financeira mais estável, sem dividas e preocupações no final do mês. (LIMA; SÁ, 2010, p. 36).
Se pensarmos que a Matemática deve preparar para a vida, seria correto afirmar
que desde as séries iniciais poderiam ser trabalhados em sala de aula problemas
relacionados à situações financeiras e despesas do cotidiano do aluno, pois, se o
mundo globalizado em que vivemos move-se conforme o ritmo ditado pela economia,
temos como dever preparar os nossos futuros cidadãos para que consigam administrar
sua vida financeira com segurança. Ao falar de Matemática, estamos considerando
contextos onde esteja envolvido dinheiro, podendo, por exemplo, estar ligado a
consumo, trabalho, contas, operações bancárias entre outros assuntos. Infelizmente,
quando encontramos abordagens deste tipo em livros didáticos, é comum que os
exemplos citados sejam artificiais. Por exemplo, será que costumamos encontrar nos
financiamentos das lojas a cobrança feita através de juros simples?
A Matemática Financeira é, talvez, o conteúdo mais motivador do currículo do Ensino Médio e dos cursos de Educação de Jovens e Adultos. Por meio de seu estudo, o aluno pode ser preparado para enfrentar situações financeiras que ocorrem no seu dia-a-dia, como optar pela melhor forma de pagamento, à vista ou a prazo, seja de impostos ou de compras em geral. (LIMA; SÁ, 2010, p. 37).
No entanto, esse conteúdo tem sido abordado de modo superficial, baseado na
aplicação de fórmulas, como mostraremos através do estudo de livros didáticos. É
preciso avaliar se os professores estão preparados para ensinar esse conteúdo, se
estão discutindo sobre situações financeiras reais e desafiadoras. Mas o que deve ser
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ensinado de Matemática Financeira? O que se deseja é que o aluno seja capaz de
optar pela melhor forma de fazer seus pagamentos, efetuar compras à vista ou a prazo,
decidir sobre empréstimos ou aplicações financeiras. Certamente, isso não pode ser
alcançado por meio de um ensino baseado apenas na memorização e em fórmulas. É
preciso ampliar o olhar para outros conteúdos, comparar preços de mercado, ofertas de
lojas e a variação real da nossa moeda.
2.3 APRENDIZAGEM SIGNIFICANTE
Nesta etapa da pesquisa, trago para reflexão as propostas e ideias de Carl
Rogers e sua aprendizagem significante, que servirão como fundamentação para
análise dos livros didáticos e das entrevistas feitas com alunos e professores da Escola
Bento Gonçalves.
Para Rogers (1973) a aprendizagem acontece pela pessoa inteira, centrada no
aluno e na sua potencialidade para aprender, e não na mera acumulação de fatos, mas
numa modificação no comportamento e na orientação de suas futuras escolhas,
abordando a aprendizagem cognitiva, afetiva e psicomotora. Nesse enfoque, o objetivo
maior da educação seria a facilitação da aprendizagem, contando para isso com a ação
do professor facilitador, transmitindo conteúdo e dando assistência quando necessário,
visando auxiliar na formação de sua personalidade e reconhecendo suas motivações e
interesses.
O professor facilitador deve ter atitudes autênticas e verdadeiras, aceitando o
aluno como uma pessoa com seu próprio valor, colocando-se no lugar do estudante,
para que este se sinta compreendido ao invés de julgado. Isso significa confiar na
potencialidade do aluno para aprender, escolher direções, decidir sua própria ação.
Os princípios básicos da aprendizagem para Rogers são:
• Todo aluno tem potencialidade para aprender e a tendência a realizar essa
potencialidade;
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• A aprendizagem significativa ocorre quando o conteúdo da aprendizagem é
percebido como relevante para o aluno, a partir de seus próprios objetivos;
• A aprendizagem que envolve mudança na organização do ‘eu’ na percepção de
si mesmo é ameaçadora e tende a suscitar a resistências;
• Se a resistência do aluno à aprendizagem significativa é pequena, então ele
realiza sua potencialidade para aprender. Quanto menos necessidade de usar
defesas, mais prontamente organiza-se a representação. Os elementos
discrepantes podem ser admitidos e integrados na auto-imagem, a
aprendizagem ocorre e a personalidade se desenvolve;
• O aluno que realiza sua potencialidade para aprender torna-se aberto à
experiência e reciprocidade.
• A auto-avaliação é função da capacidade de cada um de valoração pessoal;
• A independência, a criatividade e a autoconfiança são todas facilitadas quando a
auto-avaliação e a autocrítica são básicas; a avaliação feita por outros é
secundária;
• A aprendizagem significativa é em sua maior parte adquirida através de atos;
• A aprendizagem é facilitada quando o aluno participa responsavelmente do
processo de aprendizagem.
Além disso, Rogers enumerou e definiu um conjunto de atitudes que considerou
facilitadoras do processo de comunicação entre alunos e professores:
• O aluno tem o desejo natural de aprender, e esta é uma tendência na qual se
pode confiar;
• A aprendizagem é significante porque provoca uma modificação no
comportamento do indivíduo, em suas atitudes e em sua personalidade. E,
quando o aluno percebe que o conteúdo é relevante para atingir certo objetivo,
ele aprende mais depressa;
• A aprendizagem que envolve mudança na organização do eu, na percepção de
si mesmo, pode ser ameaçadora aos valores que a pessoa já tem, daí a
resistência a este tipo de aprendizagem;
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• Um dos meios mais eficazes para uma boa aprendizagem é colocar o aluno em
confronto direto com problemas práticos;
• A aprendizagem é facilitada quando o aluno participa, vive cada uma de suas
escolhas, formula seu próprio problema;
• A aprendizagem que envolve a pessoa como um todo, não uma aprendizagem
apenas cognitiva, mas uma aprendizagem que envolve tanto o cognitivo como
afetiva da pessoa;
• A aprendizagem socialmente mais útil é aquela que o indivíduo tem que
aprender a aprender. Essa aprendizagem é a constante busca de conhecimento.
A aprendizagem não pode ser uma “tarefa”, uma operação sem sentido
deslocada do mundo real e cotidiano, é preciso perceber que as informações são
geradas na realidade e são vitais para a sobrevivência do indivíduo. Deve-se atribuir
significados, manipular os significantes e alterar novamente as percepções.
Neste trabalho, pretendo analisar os livros didáticos, buscando avaliar a
frequência com que são apresentados problemas que podem despertar o interesse dos
alunos, que possam ser utilizados para solução de situações de seu cotidiano. Através
das entrevistas objetivo elaborar demonstrativos que nos permitam analisar quais as
expectativas do aluno em relação ao conteúdo, e como é realizada a associação de
seus conhecimentos prévios com a Matemática apresentada no Ensino Médio da
Escola Bento Gonçalves.
O aluno deve sentir a sala de aula em si, trazer suas interpretações da realidade,
fazer o elo entre objetos e fenômenos da nossa sociedade. Uma aprendizagem
significante é indispensável para solução de situações problemáticas, podendo-se dizer
que só se aprende aquilo que é necessário para seus ideais e propósitos, para seu
crescimento como pessoa. É através da motivação pessoal por um determinado
conteúdo, por situações novas, presentes e futuras, que o aluno irá disciplinar-se, e
para isso é preciso acreditar que ele seja capaz de avaliar o que é significativo.
O modelo educativo proposto por Rogers, designado por “Aprendizagem Centrada
no Aluno”, tem como objetivo principal permitir ao educando uma participação ativa no
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processo de aprendizagem, ou processo de crescimento pessoal, acreditando que a
cooperação facilita o crescimento. Entendemos que o ato de aprender não depende da
inteligência ou das técnicas de estudo, mas sim de um ambiente que seja facilitador.
Se o processo de aprendizagem tem como base a aceitação e compreensão da
pessoa do aluno, o papel do professor deve o de ser estimular e manter a motivação
necessária para o desenvolvimento. É preciso que escola e professor estejam atentos
aos interesses dos alunos, incentivando pesquisas adequadas às suas necessidades.
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3 METODOLOGIA
3.1 OBJETIVOS DA PESQUISA
A importância dessa pesquisa baseia-se na análise do conteúdo e dos exercícios
sobre Matemática Financeira apresentados nos livros didáticos do Ensino Médio,
buscando ligação com questões práticas e procurando evidenciar os conteúdos e
linguagens matemáticas que servirão de base para futuras decisões a serem tomadas
quando estes jovens entrarem para o mercado de trabalho, ou mesmo em situações do
dia-a-dia.
Nesta pesquisa foram realizados os seguintes procedimentos:
• Realização de questionário junto aos alunos do 1º ano do Ensino Médio da
Escola Bento Gonçalves para verificar suas opiniões sobre o que aprendem em
Matemática e sobre as aplicações práticas destes conteúdos.
• Realização de questionário junto aos quatro professores de 1º ano do Ensino
Médio da Escola Bento Gonçalves para verificar como são planejadas as aulas, qual o
material didático usado como apoio, se os problemas trabalhados em sala de aula têm
ligação com a vida do aluno e em que momento está sendo ensinada a Matemática
Financeira.
• Análise dos livros didáticos oferecidos pela biblioteca da Escola Bento
Gonçalves, verificando se o material disponível para alunos e professores corresponde
às expectativas destes em relação ao conteúdo.
O ato de ouvir alunos e professores teve fundamental importância para a
pesquisa. Foram analisadas as respostas dos professores em a relação ao seu grau de
escolaridade e sobre a importância dada a questões do cotidiano do aluno no momento
da elaboração dos planos de aula, bem como o uso ou não do livro didático oferecido
pela escola como material de apoio para suas aulas.
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As entrevistas com os alunos tiveram como objetivos avaliar o nível de
compreensão destes em relação à Matemática Financeira e o grau de associação deste
conteúdo, visando à aplicação na tomada de decisão dentro da sociedade em que
estão inseridos.
Durante o curso superior, escutei de meus professores que a escola deve
preparar para vida e que é preciso haver contextualização para que haja aprendizagem.
Se a escola deve preparar o jovem para a vida adulta, cabe perguntar que tipo de
bagagem nossos alunos levam em consideração, por exemplo, nas situações citadas
abaixo:
• Na compra com pagamentos a longo prazo;
• Na compra de uma casa ou carro que costuma ser pago através de parcelas
durante muitos anos;
• Na avaliação dos contracheques de seus pais;
• Na eventual depreciação de um bem;
A Matemática deve ser apresentada para os alunos com questões práticas, com
exercícios que tragam para a sala de aula questões discutidas em casa pelos pais e
respondam perguntas sobre qual a melhor maneira de cuidar de suas finanças. Os
alunos criam pré-conceitos com relação à Matemática, pois não conseguem imaginar
aplicação prática para os conteúdos trabalhados em sala de aula.
Acredito que a Matemática seja um assunto no qual o professor pode propor
soluções de nível científico, de forma acessível e que pode despertar no aluno o gosto
pela descoberta, desenvolvendo habilidade de resolver problemas reais. O maior
atrativo para as aulas seria tentar contextualizar o conteúdo com a realidade dos alunos
e da comunidade em que a escola está inserida.
Todas estas ponderações são importantes antes da tomada de uma decisão e
infelizmente os algoritmos aprendidos na escola nem sempre nos preparam para
analisar e responder a estas perguntas do dia a dia. Imagino que a Matemática
financeira possa ser um dos elos entre o que se aprende na teoria e as reais
necessidades de nossos alunos.
24
Para um aluno, qual seria o sentido de estudar, aprender e ir à escola? Por que
os alunos teriam vontade ou não de ir à escola? Só nos interessamos em aprender algo
ou desejamos este conhecimento se ele puder ser utilizado em situações diversificadas,
não apenas dentro da sala de aula. Do que se gosta quando se gosta de Matemática?
Qual o sentido de estudar Matemática se não há aplicação de seus ensinamentos fora
da escola?
Mais uma vez vemos a necessidade de que o aluno veja como relevante o
conteúdo apresentado em sala de aula para seus próprios objetivos. Rogers (1973)
parte do pressuposto que o ensino é uma “atividade sem importância enormemente
supervalorizada”. Cada professor, por sua vez, deve desenvolver um estilo próprio para
facilitar a aprendizagem dos alunos, deixando de ser o centro do processo educativo
para ser um facilitador.
Muitos alunos comentam que não gostam de Matemática, que ela é difícil e que
não vêem aplicação prática para os conteúdos trabalhados em sala de aula, ou seja,
eles não têm interesse pelas atividades por acreditarem que os conteúdos trabalhados
não serão usados fora do ambiente escolar. Os mesmos crescem ouvindo familiares e
amigos falando sobre as dificuldades em se entender Matemática, logo não sentem
interesse pelas atividades dessa disciplina.
Exemplos como o apresentado acima são trabalhados em sala de aula, mas a
situação apresentada não é de interesse dos alunos. Por que não relacionar os
exercícios e aplicações de cálculos à situações do cotidiano? Por que não transformar
15,40 x 0,80 em uma compra com um desconto de 20%? Por que não mostrar que
50,50 x 1,10 pode ser o cálculo para pagamento da conta de um restaurante com o
acréscimo de 10% da gorjeta do garçom?
Trabalhar com números decimais é mais acessível para o aluno quando se faz
relação com nossa moeda. Associando este conteúdo com questões que os alunos
25
vivenciam diariamente, as conexões são realizadas de maneira mais rápida e passam a
fazer sentido. Para que o interesse pela matemática surja de maneira saudável, uma
alternativa interessante seria falar de dinheiro. Crescemos ouvindo de nossos pais que
um bom salário seria a solução de muitos problemas e a falta dele cria muitas
dificuldades. Como gastar e administrar seus rendimentos é fazer escolhas, precisamos
tentar ensinar aos nossos e futuros compradores a avaliarem suas opções antes de
qualquer escolha e que são responsáveis pelo destino de seus investimentos.
Muito embora tantas vezes pareça a coisa mais elementar do mundo, gastar dinheiro é uma arte refinada. De maneira comum, estamos habituados a refletir demoradamente sobre as grandes compras, aquisições que exigirão um aporte substancial de dinheiro. É o caso da compra de um imóvel, por exemplo. Para esses consumos, é frequente perdermos noites de sono, metidos em cálculos na ponta do lápis, fazendo e refazendo somas de parcelas e projeções de juros. (D’AQUINO, 2008, p. 100)
Apesar dos eventuais sustos e dificuldades, a estabilidade da moeda devolveu a
todos nós a possibilidade de planejar. Provavelmente nossos alunos só tenham ouvido
falar em inflação durante as histórias contadas por seus pais e avós que relembravam
os tempos difíceis onde os preços mudavam de um dia para o outro, os juros eram
assustadores e era impossível planejar compras ou pagamentos a longo prazo. Hoje,
planejar é possível e faz parte da realidade de jovens e adultos. Planejamos desde
projetos simples, organizamos planos de previdência ou poupanças e mesmo com o
plano Real4, é prática em nossa sociedade a compra por impulso, com pagamentos à
longo prazo, com o intuito de saciar imediatamente uma necessidade nem sempre
urgente. É para estes investimentos que nossos jovens devem estar preparados,
precisam aprender a confiar no nosso plano econômico e para isso é preciso estudar as
propostas oferecidas pelos financiamentos atuais. Este deveria ser um dos atrativos
para despertar o interesse do nosso aluno pela Matemática e mais especificamente
para Matemática Financeira. Como nossos futuros adultos conseguirão fazer uma
4 Plano Real foi o programa brasileiro de estabilização econômica. Iniciado oficialmente em 27 de fevereiro de 1994 que promoveu o fim da inflação elevada no Brasil, situação que já durava aproximadamente trinta anos. Até então, os pacotes econômicos eram marcados por medidas como congelamento de preços.
26
análise verdadeira de tais situações se não entendem como são feitos os cálculos de
parcelas e juros de construtoras, imobiliárias, financeiras ou bancos? Penso que a
função da Matemática Financeira é criar bases, para que na vida adulta, nossos alunos
tenham uma relação saudável e responsável com seu dinheiro e para isso é preciso
ensiná-los a avaliar as melhores opções de crédito para suas compras, desde uma ida
ao supermercado até a aquisição de um imóvel.
Imagino que o aluno participa do processo de ensino como indivíduo quando traz
para sala de aula questionamentos que visam responder as suas inquietações. Tais
dúvidas têm como objetivo sua inserção na sociedade como pessoa ativa, de forma a
levá-lo a conquista e aceitação dentro da sala de aula e fora dela. Somente com
educação nossos jovens terão condições de buscar esta aceitação e com isso
conquistar uma melhor qualidade de vida.
3.2 ALUNOS, PROFESSORES E LIVROS DIDÁTICOS
O presente projeto foi desenvolvido através da análise de livros didáticos e
entrevistas. A metodologia de pesquisa desenvolvida no projeto teve como base a
comparação dos dados obtidos com as entrevistas e comparativo com material
apresentado nos livros didáticos. A resolução de problema é uma metodologia indicada
pelos parâmetros curriculares como sendo necessária para que o aluno aprenda a
gerenciar os conceitos matemáticos e aplicá-los aos problemas do seu cotidiano, e a
partir de situações da vida real, motivá-lo a desenvolver o pensamento matemático.
A pesquisa foi realizada com alunos, professores e material didático oferecido
pela Escola Estadual de Ensino Médio Bento Gonçalves, localizada no bairro Mathias
Velho, na cidade de Canoas/RS. A escola atende os alunos da região e de outros
bairros da cidade e muitos alunos precisam usar o transporte público para frequentarem
as aulas. A comunidade é de classe baixa e vem de famílias em situação de
desemprego e vulnerabilidade (JORNAL MATHIENSE, setembro 2009). A escola
oferece merenda e material escolar para os alunos mais carentes e lida diariamente
27
com problemas relacionados ao uso de drogas, sendo alto o índice de alunos que
abandonam os estudos.
Segundo Santos (2009, p. 3), a baixa escolaridade dos moradores do bairro
Mathias Velho e questões sociais como pobreza e violência tornam pequeno o índice
de pessoas que possuem nível superior, levando muitas vezes a população a buscar
alternativas de trabalho ligadas ao tráfico, como recurso para fugir do desemprego.
A escola conta com dois prédios de alvenaria que abrigam 22 salas de aula,
biblioteca, refeitório, sala de informática, sala de vídeo, auditório, laboratório de
Matemática e ginásio poliesportivo.
Atualmente são atendidos 2026 alunos, 1156 somente no Ensino Médio que é
oferecido nos turnos da manhã, tarde e noite. A Matemática Financeira consta no
programa de ensino do 1º ano do Ensino Médio e deve ser apresentada aos alunos
durante o 3º trimestre. Nestas condições, hoje 558 alunos cursam esta série e as aulas
são regidas por quatro professores distribuídos entre os turnos.
O estudo desenvolvido proporcionou material empírico, que serviu como base
para análise do trabalho de pesquisa, que seguiu os seguintes passos:
a) Entrevista com alunos da Escola Bento Gonçalves realizada com o objetivo de
identificar o sentimento em relação à Matemática, quais as expectativas com
relação ao conteúdo que será trabalhado em Matemática Financeira e que tipo
que aplicação eles esperam levar para vida adulta. Objetivo, com estas
informações, entender onde os alunos enxergam a Matemática fora da escola. O
questionário aplicado aos alunos contava com cinco perguntas, reproduzidas a
seguir:
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b) Entrevista com professores de Ensino Médio da Escola Bento Gonçalves para
analisar a importância dada pelo profissional no momento da elaboração dos
planos de aula sobre Matemática Financeira, que tipo de material normalmente é
usado para estas aulas e qual o foco principal na hora de relacionar o conteúdo
com a vida cotidiana. O questionário aplicado aos professores contava com dez
perguntas:
c) Análise dos livros didáticos oferecidos pela Escola Bento Gonçalves,
realizando leitura e coleta de dados, com base nos exercícios e conteúdos
sobre Matemática Financeira. Avaliar como são apresentados os conteúdos
tomando nota das situações problema apresentadas.
29
3.2.1 Entrevistas com alunos
A entrevista com os alunos foi realizada entre os dias 18 e 20 de outubro de
2010. Foram ouvidos alunos dos quatro professores do 1º ano do Ensino Médio da
Escola Bento Gonçalves.
Alunos professor A:
O professor titular realizou a entrevista durante sua aula no período da manhã,
na turma 101. Foram entrevistados 15 alunos.
Podemos perceber pelas respostas dos alunos do professor A que a maioria
gosta de Matemática e um dos motivos mais citados foi a facilidade em entender esta
matéria.
Quando questionados sobre a aplicação prática da Matemática fora da escola,
um dos exemplos citados foi o uso desta para as provas de vestibular. Esta resposta
mostra que o aluno interpreta esta avaliação como algo fora da escola, quando na
verdade trata-se apenas de mais uma etapa de sua educação.
Os alunos usaram termos bem definidos para explicar seu entendimento sobre
Matemática Financeira e dois disseram estar aprendendo este conteúdo.
Alunos professor B:
O professor titular realizou a entrevista durante sua aula no período da noite, na
turma 114. Foram entrevistados 17 alunos.
Nesta turma temos um número equilibrado entre alunos que dizem gostar e os
que não gostam de Matemática e a maioria acha importante aprendê-la para a vida fora
da escola.
Nove alunos citaram de forma espontânea a Matemática Financeira e
porcentagem como assunto que despertam sua curiosidade e quando questionados
sobre o que imaginavam ser esta matéria, “lidar com dinheiro” foi o termo mais usado.
Para corresponder às expectativas dos alunos em relação à matemática
financeira, podemos citar a definição de Rogers (1973) que reforça a necessidade de
colocar o aluno em confronto direto com problemas práticos.
30
Alunos professor C:
A entrevista foi realizada por mim no dia 19 de outubro de 2010, durante aula da
professora de Física no período da tarde, na turma 109. Foram entrevistados 26 alunos.
A maioria da turma diz gostar de Matemática e considera importante aprendê-la
para o vestibular e concursos públicos. Demonstram interesse em aprender sobre
história da Matemática, Matemática Financeira e “matérias semelhantes à progressão
aritmética”. Imaginam a Matemática Financeira como o estudo do dinheiro e das
finanças de grandes empresas. Onze alunos disseram não ver aplicação prática da
Matemática Financeira fora da escola.
Mais uma vez, pode-se utilizar a aprendizagem significante como alicerce para
que o aluno faça a ligação entre a os conteúdos de Matemática apresentados em sala
de aula e seus objetivos, assim segundo Rogers (1973) ele aprende mais depressa.
Alunos professor D:
A entrevista foi realizada no dia 20 de outubro de 2010, pelo professor titular
durante sua aula no período da manhã, na turma 107. Foram entrevistados 25 alunos.
O número de alunos que gostam de Matemática se igualou ao número dos que
não gostam ou disseram gostar pouco, mas a maioria vê a necessidade deste
conhecimento para o dia-a-dia. Matemática Financeira e porcentagem foram os
assuntos de interesse citados pelos alunos e suas definições parecem bastante nítidas,
pois eles usaram expressões como “lidar com dinheiro”, “calcular impostos” e “gastos
do dia-a-dia” como exemplos de aplicação para este conteúdo.
3.2.2 Entrevistas com professores
A entrevista com os professores foi realizada entre os dias 18 e 21 de outubro de
2010. Foram ouvidos os quatro professores de 1º série do Ensino Médio da Escola
Bento Gonçalves.
Professor A:
31
Professor diz ensinar Matemática Financeira na 6º série do Ensino Fundamental
e 1º ano do Ensino Médio. Percebe-se que os alunos deste professor usaram termos
claros para definir o conteúdo, o que nos mostra que os conceitos básicos foram
compreendidos.
Professor B:
O professor respondeu que o conteúdo sobre Matemática Financeira é ensinado
no 3º ano do Ensino Médio e seus alunos citaram este conteúdo como sendo um dos
seus interesses dentro da Matemática. Tais afirmações estão em desacordo com o
plano de ensino da escola, que prevê que a Matemática Financeira seja ensinada no 1º
ano do Ensino Médio. Pode-se concluir que, se estes alunos mudarem de professor nos
próximos anos, provavelmente não terão sua curiosidade saciada.
Professor C:
Este foi o professor com maior nível de escolaridade, pois é mestre em
educação. O ensino da Matemática Financeira, segundo o professor, seria durante o 1º
ano do Ensino Médio e pela análise das respostas de seus alunos pode-se perceber
que ainda não foram introduzidos neste assunto.
Professor D:
Este foi o professor com menor tempo de experiência. O ensino da Matemática
financeira, segundo o professor, seria durante o 1º ano do Ensino Médio e, pela análise
das respostas de seus alunos pode-se perceber que eles já têm percepção do
conteúdo, imaginam do se trata e citam exemplos bem fundamentados de aplicações
práticas.
3.2.3 Análise dos livros didáticos
A biblioteca da escola é um dado importante a ser levado em consideração
quando se fala do material didático oferecido pela escola. Trata-se de uma sala na ala
lateral da escola, onde os livros são oferecidos a professores e alunos, são
emprestados para consulta local ou empréstimo mediante cadastro prévio. Os livros
32
estão expostos em estantes e separados por assuntos. O setor destinado à Matemática
conta com apenas uma estante que abriga livros do ensino fundamental e médio, sendo
apenas duas prateleiras destinadas ao Ensino Médio.
Ao fazer a seleção dos livros que seriam analisados para este projeto, descobri
que apenas 10 livros de Ensino Médio contavam com material para o ensino de
Matemática Financeira, sendo três obras caderno de exercícios. Tal número me parece
limitado e corresponde apenas a 10,42% do material oferecido (96 livros no total), o que
me leva a concluir que a Matemática Financeira não é contemplada por muitos autores
e editoras como conteúdo de Ensino Médio.
Nos livros analisados encontramos os seguintes assuntos relacionados à
Matemática Financeira:
ASSUNTO Livro A Livro B Livro C Livro D Livro E Livro F Livro G
Acréscimos Sucessivos X
Desconto X
Funções X
Frações Equivalentes X
Juros Compostos X X X X X
Juro Simples X X X X X X
Juros e Frações X X
Lucro e Prejuízo X X
Médias X
Porcentagem X X X X X X
Progressão Aritmética (PA) X
Progressão Geométrica (PG) X
Sequências X
Tabela 1: Assuntos relacionados à Matemática Financeira nos livros pesquisados
O número de páginas destinadas ao conteúdo sobre Matemática Financeira varia
de 6 a 31 páginas. As editoras representadas por estes livros são Ática São Paulo,
Base Curitiba, FTD São Paulo, IBEP São Paulo, Saraiva São Paulo e Scipione São
Paulo. Os autores ou colaboradores responsáveis pelas obras são Adílson Longen,
33
Benigno Barreto Filho, Cláudio Xavier da Silva, Jorge Daniel Silva, Kátia Stocco Smole,
Luiz Roberto Dante, Maria Ignez Diniz, Márcio Cintra Goulart, Orlando Donisete
Mabelini e Valter dos Santos Fernandes.
34
4 ANÁLISE DE RESULTADOS
4.1 ALUNOS
Após a análise das respostas dadas pelos alunos dos professores A, B, C e D
elaborei os seguintes gráficos que ilustram seus pontos de vista em relação ao
questionário:
Figura 1 – Pergunta 1: Resposta dos alunos
Percebe-se que existe uma empatia geral com relação à disciplina. Dos quatro
grupos de alunos entrevistados houve um equilíbrio nas respostas quando
questionados se gostavam de Matemática. Apenas os alunos do professor B tiveram
seus índices de aprovação e reprovação, com relação à matéria, equilibrados.
Podemos concluir que para estes alunos a Matemática demonstra ser atrativa, mas eles
reclamam que as aulas são “maçantes”.
35
Figura 2 – Pergunta 2: Resposta dos alunos
É possível afirmar que independente do professor, a Matemática apresentada a
estes adolescentes é vista com bons olhos e a ligação com seu dia-a-dia é feita com
facilidade.
36
Figura 3 – Pergunta 3: Resposta dos alunos
Os alunos citaram de maneira voluntária aquilo que gostariam de aprender em
Matemática. Apenas os alunos do professor B não citaram como interesse a
37
Matemática voltada para seu futuro profissional. Alguns repetiram os nomes dos
conteúdos que aprenderam no Ensino Médio, usando como justificativa o fato de terem
tido facilidade com o conteúdo. A Matemática Financeira foi citada por todas as turmas,
o que nos leva a acreditar que a denominação “financeira” faça com que haja a
contextualização deste conteúdo.
Mesmo com a grande variedade de assuntos citados como área de interesse,
fica claro, como podemos ver na citação abaixo, que a Matemática ainda está muito
ligada à aplicação de fórmulas e não à questões práticas.
38
Mesmo não ligando sua rotina com as fórmulas matemáticas apresentadas em
sala de aula, alguns têm facilidade com esta forma de trabalho e pedem mais exercícios
com o mesmo tipo de solução. Este tipo de trabalho não valoriza o esforço do aluno em
buscar a solução de um problema e será a mera reprodução daquilo que já foi
trabalhado em sala de aula.
Figura 4 – Pergunta 4: Resposta dos alunos
Todas as turmas, quando questionadas sobre o que seria Matemática
Financeira, fizeram associação com dinheiro. Os alunos ainda relacionaram este
conteúdo à rotina de grandes empresas, cálculo de juros e porcentagem.
É possível perceber que existe um distanciamento entre as definições. Mesmo
que consigam fazer a ligação do assunto com seu real significado, ainda citam como
exemplos a aplicação em “grandes empresas”, “bolsa de valores”, ou seja, algo fora de
sua realidade ou muito difícil, um assunto que estaria ligado a seu futuro profissional e
distante de sua vida de estudante.
39
40
Ainda podemos encontrar citações onde o aluno apenas repetiu o nome das
fórmulas aprendidas em sala de aula, juros simples e composto, porcentagem, mas os
exemplos eram sempre relacionados às rotinas empresariais, como as de contabilidade
e administração.
Figura 5 – Pergunta 5: Resposta dos alunos
Independente do sentimento em relação à Matemática, os alunos entendem que
ela é necessária para o exercício da cidadania. Usam exemplos para explicar o uso
deste conteúdo em sua rotina e alguns finalizam afirmando que “tudo é Matemática”.
41
Vemos que os alunos encontram matemática financeira em seu cotidiano e muita
informação fica perdida por não entenderem a Matemática presente nos exercícios.
4.2 PROFESSORES
Dentre os professores entrevistados o que mostrou maior nível escolar foi o
professor C, que é mestre em educação.
Quando questionados sobre a carga horária destinada à disciplina, todos
comentaram que durante este ano ela foi ampliada de três para quatro períodos
semanais, o que facilitou o planejamento das aulas, permitindo o trabalho com
determinados conteúdos por mais tempo. Houve ainda aqueles que acham o tempo
insuficiente para o objetivo da escola, que é preparar para a vida, como podemos ver
no comentário feito pelo professor D.
42
É possível observar que o livro didático é uma ferramenta importante usada para
elaboração das aulas mas é usado apenas para direcionar o conteúdo. Todos os
professores entrevistados disseram buscar outros materiais para usarem como
auxiliares na elaboração dos planos de aula.
O professor A deixa claro, como podemos observar em sua declaração, que
acha a abordagem inadequada.
Constatamos que há uma cisão entre o que se pretende e o que se faz, uma vez
que os alunos do professor D disseram não ver relação entre a Matemática estudada
na escola em questões do seu dia-a-dia.
43
O professor A usa Matemática Financeira como elo para cidadania, já
trabalhando este conteúdo durante o Ensino Fundamental, já o professor C trabalha
apenas no final do Ensino Médio, no 3º ano, estando em desacordo com o plano de
ensino da escola.
Refletindo sobre a influência que o dinheiro exerce sobre a humanidade,
podemos prever a necessidade de se conhecer a Matemática Financeira para o
exercício da cidadania. A forma como uma sociedade usa seu dinheiro pode variar e é
preciso que o educador esteja atento a sua forma de utilização, tentando educar com
visão de futuro.
4.3 LIVROS DIDÁTICOS
Ao analisar os livros didáticos de Matemática para o Ensino Médio levei em
consideração aqueles que, dentro dos assuntos abordados, traziam a Matemática
Financeira. Verifiquei se contemplavam questões do cotidiano do aluno e se abordavam
questões de cidadania.
É possível que o cálculo de porcentagem, juros simples e compostos sejam
superficiais a ponto de nossos alunos não conseguirem relacionar este conteúdo com a
44
vida fora da escola ou será que o problema está na forma com estas aulas são
elaboradas? Exemplo: Uma dívida de RS 750,00 foi paga 8 meses depois de contraída
e os juros pagos foram de R$ 60,00. Sabendo que o cálculo foi feito usando juros
simples, qual foi à taxa de juros?
Questões como esta são um exemplo do material apresentado pelos livros
encontrados na biblioteca da Escola Bento Gonçalves. Apresentarei alguns exemplos
que nos permitem verificar o tipo de abordagem dada à matemática financeira e se
essa traria contribuições à formação de cidadãos.
Percebe-se que a aplicação de fórmulas é considerada importante, como
podemos ver nos exemplos abaixo, no qual, aos olhos do aluno está sendo pedida
apenas a repetição mecânica de um exercício anterior. Não existe desafio, pois para ele
as incógnitas apresentadas não fazem parte da sua realidade.
As obras que melhor traduziam as necessidades do nosso aluno apresentavam
problemas no capítulo que se destinava à porcentagem. Nesta, podemos ver que há a
preocupação em usar exemplos do cotidiano da vida social e escolar. Infelizmente,
eram poucas as páginas destinadas a este assunto e o número de exercícios era
reduzido. Seguem exemplos de problemas sobre porcentagem encontrados:
45
Pode-se perceber que questões como número de funcionários de uma empresa,
desconto recebido pela compra de um produto, cálculo de salário e até mesmo a rotina
dentro da escola foram apresentados como desafio para fixação do conteúdo sobre
porcentagem.
Os problemas que traziam questões de aplicação prática, nos quais o aluno era
desafiado a encontrar uma solução usando uma fórmula ou algoritmo pré-estabelecido
apareceram em quantidades reduzidas. Questões com situações reais, que
apresentassem taxas possíveis, podem ser de grande auxilio na hora de transformar
um exercício em problema. Poucos exemplos que correspondiam a tais pré-requisitos
foram encontrados nos livros, como podemos observar abaixo.
46
47
Observamos uma abordagem muito semelhante entre os livros didáticos, nos
quais a Matemática Financeira não está direcionada ao cotidiano. Existem poucas
questões como a que ilustramos acima, que tratam de situações do cotidiano, como as
de conta de luz ou cheques. Algumas obras abordam o assunto timidamente,
apresentando um número reduzido de exercícios ou mesmo problemas que vêm
praticamente prontos, comprometendo as etapas e questionamentos por parte do
aluno. Assuntos como porcentagem, juros e dinheiro são contemplados. Já assuntos
como descontos, prestações, multas e impostos estão praticamente ausentes.
Constatamos que são poucos os conteúdos relacionados à Matemática Financeira
contemplados, e que o número de exercícios é insuficiente.
De uma forma geral, os livros didáticos não possuem a proposta dos documentos
oficiais, ou seja, da educação olhando para a formação do aluno como cidadão.
Acredito que sendo os livros didáticos direcionados à área de educação, estes
deveriam seguir o caminho direcionado a ela, o da cidadania. Portanto, eles não
deveriam ser elaborados com a intenção de apresentar somente conteúdos, fórmulas e
técnicas.
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5 CONSIDERAÇÕES FINAIS
Ao refletirmos sobre o trabalho realizado, percebemos no que acreditam os
docentes e alunos selecionados. Salientamos que, o objetivo desse estudo não foi
apontar falhas, mas refletir sobre o conteúdo e sobre a necessidade de repensar o
ensino da Matemática Financeira.
Destacamos que a escolha da metodologia se mostrou acertada após sua
aplicação. As entrevistas foram satisfatórias e possibilitaram o alcance dos objetivos.
Com estes dados, pudemos perceber que existem professores que trabalham a
Matemática voltada para aplicação em situações cotidianas do aluno, outros percebem
os alunos como seres sem sentimentos, demonstrando diferença entre o que
apresentam na teoria e na prática, esquecendo que a aprendizagem só é possível com
a contribuição por parte dos alunos. Portanto, “a aprendizagem significativa ocorre
quando o conteúdo da aprendizagem é percebido como relevante para o aluno, a partir
de seus próprios objetivos”. (Rogers, 1973, p. 281)
Com o levantamento teórico para fundamentar tal pesquisa, foi possível perceber
que os livros didáticos oferecidos pela biblioteca da Escola Bento Gonçalves não
possibilitam a interação entre as reais necessidades do educando dentro da sociedade
e o conteúdo matemático apresentado pelo plano de ensino.
Os PCNs e os especialistas afirmam a importância da resolução de problemas e
de se trazer para sala de aula situações do dia a dia. Porém, o professor que deseja
fazer uso deste tipo de material em suas aulas precisa buscar auxílio através de outros
recursos.
Analisando as respostas dos alunos, podemos perceber uma visão positiva em
relação à Matemática e constatar que os mesmos entendem o conceito de Matemática
Financeira e sua aplicação, mas ainda não fazem a relação entre seus conhecimentos
prévios, seu cotidiano e os conceitos estudados na escola. Assim, esse conteúdo é
associado à aplicação de fórmulas ou à rotina de grandes empresas. Falta oferecer ao
49
aluno a possibilidade de contribuir na busca de soluções matemáticas para resolução
de problemas e de suas necessidades.
É preciso que professores e escola estejam comprometidos em atribuir
significados ao que é ensinado, dando prioridade a problemas e exercícios que fazem
relação com a realidade do aluno e são vitais à sua sobrevivência em sociedade. Se
desejamos a aprendizagem significativa e alunos mais motivados, devemos investir no
ensino que privilegia esta relação. Os professores precisam criar mecanismos que
envolvam e não afastem os alunos da escola, conciliando conhecimentos práticos e
teóricos, contribuindo de forma positiva para um melhor entendimento dos conteúdos.
Acredito que, como educadores, devemos mostrar aos alunos a importância de
resolver problemas da vida cotidiana e como a Matemática pode contribuir nesta
resolução. Talvez assim, quando centrarmos nossos esforços em desenvolver o
raciocínio e não apenas a repetição de exercícios, estaremos realmente construindo
conhecimento.
Aprendi que, como futura educadora, preciso trazer o conhecimento cientifico
para a esfera prática e ensinar mais do que conhecimento teórico, ensinar na prática a
aplicação destes para solução de problemas do dia a dia. Acima de tudo, é preciso
estimular nos alunos a reflexão acerca da tomada de decisões, contribuindo para a
formação do indivíduo, e que este seja consciente de seu papel na sociedade e na vida,
uma pessoa apta à tomada de decisões e coerente dentro do quadro cultural no qual
está inserido.
50
REFERÊNCIAS
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DINIZ, Maria Ignez; SMOLE, Kátia C. S. Resolução de problemas e comunicação: Ler, escrever e resolver problemas. Porto Alegre, RS: Artmed, 2001.
FIEL, Mercedes Villar. Um olhar para o elo entre educação matemática e cidadania: A matemática financeira sob a perspectiva da etnomatemática. 2005. Dissertação (Mestrado profissional em ensino de Matemática). Pontifícia Universidade de São Paulo, São Paulo, SP, 2005.
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51
POZO, Juan Ignácio. A solução de problemas: aprender a resolver, resolver para aprender. Porto Alegre: Artmed, 1998.
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52
APÊNDICES
APÊNDICE A - ENTREVISTA ALUNOS
As entrevistas com os alunos foram realizada entre os dias 18 e 20 de outubro de 2010.
Respostas dos alunos professor A:
Entrevista feita dia 19 de outubro de 2010. O professor titular fez as entrevista
durante sua aula no período da manhã na turma 101. Foram entrevistados 15 alunos.
1)Você gosta de matemática? 8 sim, 4 um pouco e 3 não.
2)Você acha que a matemática é importante para vida fora da escola? Cite um
exemplo. 15 sim.
Exemplos citados pelos alunos:
• É importante para o dia-a-dia e para faculdade
• Ela faz parte da nossa vida. Para pagar uma conta você usa matemática.
• Se eu for fazer vestibular, vou precisar de matemática.
• É importante para muitas profissões e para calcular as contas que temos que pagar.
3)O que você gostaria de aprender em matemática?
• Não sabe exatamente 3
• Matemática financeira 2.
• Trigonometria 2
• Geometria
• Funções
• Matemática para o futuro profissional 3
• Não quer aprender nada 2
4)O que você imagina ser matemática financeira?
• Calcular juros 7
• Calcular porcentagem 1
53
• Estuda dinheiro 6
• Não imagina 1
• Matemática para grandes empresas 1
5)Você consegue imaginar aplicação prática para este conteúdo?
• Analise de compras a prazo ou a vista 9
• Para administração de empresas 3
Dois alunos citaram que estão aprendendo matemática financeira e gostariam de
saber mais sobre o assunto.
Respostas dos alunos professor B:
Entrevista feita dia 18 de outubro de 2010. O professor titular fez as entrevista
durante sua aula no período da noite na turma 114. Foram entrevistados 17 alunos.
1)Você gosta de matemática? 9 sim e 8 não.
2)Você acha que a matemática é importante para vida fora da escola? Cite um
exemplo. 15 sim e 2 não.
Exemplos citados pelos alunos:
a)Na área da computação é muito usada.
b)Calcular dinheiro, dividas e empréstimos.
c)Quero ser administrador de empresas e para isso vou precisar muito.
3)O que você gostaria de aprender em matemática?
• Não sabe 1
• Matemática financeira 4
• Porcentagem 5
• Não quer aprender nada 3
4)O que você imagina ser matemática financeira?
• Estuda dinheiro 10
• Não imagina 3
• Matemática para grandes empresas 2
5)Você consegue imaginar aplicação prática para este conteúdo?
• Não imagina 5
54
• Para o futuro emprego 1
• Para administração de empresas 2
Respostas dos alunos professor C:
Entrevista feita dia 19 de outubro de 2010. Entrevista feita por mim durante aula
da professora de física no período da tarde turma 109. Foram entrevistados 26 alunos.
1)Você gosta de matemática? 17 sim, 1 um pouco e 8 não.
2)Você acha que a matemática é importante para vida fora da escola? Cite um
exemplo. 25 sim e 2 um pouco.
Exemplos citados pelos alunos:
a)Acho que a matemática financeira é muito importante. Pretendo fazer administração e
usarei muito ela.
b)É uma matéria muito importante pois cai em vestibulares e concursos públicos.
c)Para uma pessoa que for fazer curso de administração de empresas será muito
importante.
d)Depende. Para estudar música você não precisa saber matemática.
3)O que você gostaria de aprender em matemática?
• Matérias semelhantes a PA 4
• História da matemática 1
• Conteúdo que caí no vestibular 3
• Matemática financeira 2
• Funções 2
• Não quer aprender nada 3
4)O que você imagina ser matemática financeira?
• Estuda dinheiro 8
• Porcentagem 4
• Juros 7
• Não imagina 3
• Matemática para grandes empresas 6
5)Você consegue imaginar aplicação prática para este conteúdo?
55
• Não imagina 11
• Para calcular os gastos do dia-a-dia 4
• Para o futuro emprego 3
• Para administração de empresas 5
Respostas dos alunos professor D:
Entrevista feita dia 20 de outubro de 2010. O professor titular fez as entrevista
durante sua aula no período da manhã na turma 107. Foram entrevistados 25 alunos.
1) Você gosta de matemática? 12 sim, 6 um pouco e 7 não.
2)Você acha que a matemática é importante para vida fora da escola? Cite um
exemplo. 23 sim e 2 não.
Exemplos citados pelos alunos:
a)Para mim não será importante por que não pretendo trabalhar.
b)Para me ajudar a administrar meu dinheiro.
c)É importante para quem quer estudar engenharia.
d)Tudo o que fazemos envolve matemática, desde o ciclo da vida as compras de
supermercado.
3)O que você gostaria de aprender em matemática?
• Não sabe 9
• Matemática financeira 1
• Conteúdo que caí no vestibular 2
• Porcentagem 3
• Calcular impostos 2
• Não quer aprender mais nada 5
4)O que você imagina ser matemática financeira?
• Juros 3
• Porcentagem 1
• Estuda dinheiro 9
• Não imagina 4
56
• Matemática para grandes empresas 11
5)Você consegue imaginar aplicação prática para este conteúdo?
• Não imagina 10
• Para calcular impostos 1
• Para calcular os gastos do dia-a-dia 3
• Para administração de empresas 4
57
APÊNDICE B - ENTREVISTA PROFESSORES
As entrevistas com os professores foram realizadas entre os dias 18 e 22 de
outubro de 2010.
Professor A:
Entrevista feita dia 18 de outubro de 2010. O questionário foi entregue para o
professor no inicio do turno da tarde que respondeu as perguntas e devolveu as suas
respostas no mesmo dia.
Professor B:
Entrevista feita dia 18 de outubro de 2010. O questionário foi entregue pela vice-
diretora do turno da noite ao professor. Já havia sido feito contato por telefone
explicando o motivo da entrevista. Professor entregou o questionário respondido no
final da noite para vice-diretora.
Professor C:
Entrevista feita dia 20 de outubro de 2010. O questionário foi entregue para o
professor no dia 18 de outubro de 2010 e este respondeu as perguntas e devolveu as
suas respostas dois dias depois.
Professor D:
Entrevista feita dia 20 de outubro de 2010. O questionário foi entregue para o
professor no dia 18 de outubro de 2010 e este respondeu as perguntas e devolveu as
suas respostas três dias depois.
Serão apresentadas as perguntas em ordem numérica e as respectivas
respostas de cada uma dos professores entrevistados.
1)A quanto tempo você é professor(a)?
58
Professor A: 10 anos
Professor B: 13 anos.
Professor C: 9 anos.
Professor C: 2 anos.
2)Qual sua formação acadêmica?
Professor A: Superior completo em Ciências com habilitação em matemática.
Professor B: Matemática licenciatura plena e pós-graduação em novas tecnologias de
ensino.
Professor C: Mestre em educação, licenciada em matemática e pedagogia.
Professor D: Matemática licenciatura plena
3)Atualmente, qual sua carga horária de trabalho? Quantas turmas? Quais as
séries?
Professor A: Ao todo são 31 horas de aula divididas em 4 turmas de 1º ano do ensino
médio e 3 turmas de 6º série do ensino fundamental.
Professor B: 32 horas, 7 turmas, todas de ensino médio.
Professor C: 38h com 8 turmas de 8º série, 1º e 2º do ensino médio.
Professor D: 38 h. 9 turmas, ensino fundamental 6º e 8º série e 1º, 2º e 3º ano do
ensino médio.
4) O que você pensa sobre a carga horária da disciplina em relação ao plano de
estudos previstos?
Professor A: A carga horária do ensino médio foi ampliada de 3 para 4 horas semanais
neste ano. Este aumento facilitou bastante. Agora é possível concluir a matéria prevista
no plano de ensino sem "tropeços”.
Professor B: Agora está bom, conseguimos resgatar um período, ficando assim com 4
períodos semanais.
Professor C: Até o ano passado eram 3 períodos no ensino médio e era bem apertado.
Agora que temos 4 períodos melhorou bastante.
59
Professor D: Insuficiente para preparar o aluno para a realidade fora da escola.
5)Existe algum conteúdo que deveria ser mais valorizado? Por quê?
Professor A: Acredito que os conteúdos deveriam ser reestruturados, pois não
trabalhamos só com alunos que prestarão vestibular, mas sim com outros que ficarão
só com o ensino médio e assim precisarão de outro tipo de preparo.
Professor B: Geometria, regra de três, porcentagem e matemática financeira, por serem
conteúdos de maior necessidade para o dia-a-dia.
Professor C: Estatística e matemática financeira, porque acredito serem mais aplicadas
no cotidiano dos alunos.
Professor D: Valorização gráfica na maioria dos conteúdos, pois os gráficos facilitam a
aprendizagem, fazendo assim uma análise mais comparativa.
6)Há algum que deveria ser incluído ou excluído? Por quê?
Professor A: Acredito que alguns conteúdos poderiam ser excluídos sim, mas isso é um
problema que deveria ser pesquisado e analisado com muito cuidado para que fosse
seguido por todas as escolas.
Professor B: Não, este ano incluímos Matemática financeira, no momento não recordo
de outros conteúdos que poderiam ser acrescentados.
Professor C: No ensino médio acredito que está bom. No ensino fundamental alguns
conteúdos que são vistos pela 5º ou 6º séria deveriam ser excluídos, como MMC, MDC,
inequações e resolução de sistemas. Os alunos são muito prematuros para estudar
isso.
Professor D: Acredito que não. A valorização deste ou daquele conteúdo está na
metodologia utilizada pelo professor.
7)Você adota algum livro didático para suas aulas?
Professor A: Para o 1º ano do ensino médio a escola adotou um livro didático que a
meu ver, possui uma linguagem muito difícil. Trabalho com material elaborado por mim,
mais resumido e com palavra mais claras.
60
Professor B: Sim, apenas para exercícios.
Professor C: Não. Utilizo vários livros para preparação das aulas.
Professor D: Sim, o livro fornecido pela escola.
8)Você costuma trazer situações da vida real para usar como exemplos em sala
de aula?
Professor A: Sempre. Os alunos precisam enxergar o sentido real do que estão
aprendendo.
Professor B: Algumas vezes, depende do conteúdo que está sendo abordado.
Professor C: Quando é possível sim. Infelizmente, depende do conteúdo e com alguns
fica difícil aplicar.
Professor D: Quase sempre.
9)O que você utiliza como recurso na preparação de suas aulas?
Professor A: Livros e internet.
Professor B: Livros didáticos, livros de cursinhos, questões do ENEM, questões de
vestibular e sites matemáticos.
Professor C: Geralmente pesquiso em vários livros didáticos e formulo resumos.
Professor D: Não respondeu.
10)Em que série você ensina matemática financeira?
Professor A: Ensino de maneira simples usando porcentagem na 6º séria e no 1º ano
do ensino médio ensinando as fórmulas.
Professor B: No 3º ano do ensino médio.
Professor C: No 1º ano do ensino médio.
Professor D: No 1º ano do ensino médio.
61
APÊNDICE C - LIVROS DIDÁTICOS
Livro A: Curso Completo Matemática para ensino médio
Autores: Valter dos Santos Fernandes, Jorge Daniel Silva e Orlando Donisete Mabelini.
Editora: IBEP, São Paulo-2005
Onde: Matemática Financeira esta presente no capítulo 5, nas páginas 106 a 114.
Assuntos relacionados:
• Porcentagem
• Lucro e prejuízo
• Juro Simples:
M=C + J, J= Cit e M= C (1+it) (C = Capital, i = taxa de juro, t = tempo)
Exemplos de problemas:
1)Um aparelho de DVD, cujo preço de custo era R$ 800,00, foi vendido por
R$980,00. De quanto por cento foi o lucro sobre o preço de custo?
2)Uma loja vende um objeto por R$ 36,00 com 20% de lucro sobre o preço de
compra. Por quantos reais foi comprado este objeto?
3)Comprando uma calça à vista, obtenho um desconto de R$9,00
correspondente a 20% do seu preço. Calcule o preço da calça.
4)Osvaldo aplicou R$ 2000,00 na caderneta de poupança durante um mês. O
rendimento da poupança nesse mês foi 1,5%. Calcule o juro e o montante dessa
aplicação.
5)Robson pediu emprestado uma certa quantia, durante um ano, a um banco, à
taxa de 30% aa. Sabendo que no final desse período ele pagou de juro R$600,00,
determine o capital emprestado por Robson.
6)As parcelas de um crediário vencem todo dia 10 de cada mês e são cobrados
multa de 5% por atraso mais juro de 2% am. Se as parcelas desse crediário são iguais
a R$ 30,80, calcule o valor ser pago por uma parcela do dia 10 do mês subsequente ao
seu vencimento.
Ao todo são apenas 15 exercícios.
62
Análise: Poucas páginas, apresenta porcentagem apenas para lembrar o conceito
mostrando poucos exemplos e exercícios em número reduzido. Falha ao não citar juro
composto.
Livro B: Matemática no ensino médio- 1ª série
Autor: Marcio Cintra Goulart
Editora: Scipione, São Paulo-2008 2ª edição
Onde: Matemática Financeira está presente no capitulo 6, páginas 251 a 259.
Assuntos relacionados:
• Porcentagem
• Juro Simples
J=Cit e M=C+Cit (C = capital, i = taxa de juro, t = tempo)
• Juro composto
M = C(1+i)�
Exemplos de problemas:
1)Uma loja esta oferecendo um desconto de 15% no preço de um
eletrodoméstico que era de R$ 520,00. Qual é o preço com o desconto?
2)Uma firma tem um título a receber. O título é no valor de R$ 6000,00 mas a
firma vai descontá-lo num banco, à taxa de 27% aa 45 dias antes do vencimento.
Quanto à firma vai receber neste ato?
3)Um capital de R$ 800,00 empregado durante 14 meses gerou R$ 201,60 de
juros. Qual a taxa dessa operação financeira?
4)Ao fazer um financiamento uma pessoa contraiu uma dívida de R$ 1000,00
pelo prazo de 10 meses, com taxa de juros de 2% am, calculados com capitalização
mensal. Calcule o montante que ela deverá restituir a financeira.
Ao todo são apenas 50 exercícios.
Análise: Poucas páginas, porcentagem com exemplos claros e exemplos detalhados.
Apresenta bom número de exercícios sobre juro simples e composto.
Livro C: Coleção Matemática
63
Autor: Luiz Roberto Dante
Editora: Ática, São Paulo-2005
Onde: Matemática Financeira esta presente no capitulo 7, páginas 249 a 261.
Assuntos relacionados:
• Porcentagem (Proporcionalidade e equivalência de frações)
• Juro simples
J=Cit, M = C(1+it) e M = C + J (C = capital, i = taxa de juro, t = tempo)
• Juro composto
M = C(1+i)� e J = M - C
• Juros e frações
Aplicação da fórmula juro transformada em uma equação do tipo j=Cit, equação do tipo
função linear com gráficos J=F(t)= valor.t
Exemplos de problemas:
1)O salário de um trabalhador era R$ 840,00 e passou a ser de R$ 966,00. Qual
foi a porcentagem de aumento?
2)A que taxa devemos aplicar o capital de R$ 4500,00 no sistema de juros
simples, para que, depois de quatro meses o montante seja de R$ 5040,00?
3)O capital de R$ 2000,00 aplicado a juros compostos, rendeu, após quatro
meses, juros de R$ 165,00. Qual foi a taxa de juros?
Ao todo são apenas 50 exercícios.
Análise: Poucas páginas, porcentagem com exemplos claros e exemplos detalhados.
Apresenta bom número de exercícios sobre juro simples e composto. Mostra exemplos
usando gráficos o que facilita o entendimento do aluno. Definição sobre resolução de
problemas merece ser destacada “Auxiliar na resolução de problemas de ordem
financeira como cálculo do valor de prestações, pagamento de impostos, rendimento de
poupanças e outros”.
Livro D: Matemática contexto e aplicações
Autor: Luiz Roberto Dante
Editora: Ática, São Paulo-2009 3ª edição
64
Onde: Matemática Financeira capitulo 3, páginas 196 a 208.
Assuntos relacionados:
• Números proporcionais/Frações equivalentes
• Porcentagem
• Juro simples
J=Cit, M = C(1+it) e M = C + J (C = capital, i = taxa de juro, t = tempo)
• Juro composto
M = C(1+i)� e J = M - C
• Juros e frações
Aplicação da fórmula juro transformada em uma equação do tipo j= Cit, equação do tipo
função linear com gráficos J=F(t)= valor.t
Exemplos de problemas:
1)Numa cultura de bactérias, o número delas aumenta à taxa de 20% por minuto.
Quanto crescerá esse número em 8 minutos?
2)Helen tem duas opções de pagamento na compra de um televisor:
a) 3x R$ 150,00 mensais
b) 7x R$ 65,00 mensais
1º pagamento no ato da compra. O dinheiro vale 2% am para Helen. Qual a melhor
opção de compra?
Resposta= 7 prestações.
Ao todo são apenas 50 exercícios + 11 de vestibular.
Análise: Poucas páginas, porcentagem com exemplos claros e exemplos detalhados.
Apresenta bom número de exercícios sobre juro simples e composto e ainda acrescenta
como desafio problemas de vestibular. Associa taxa de juros a taxa de crescimento
usando uma linguagem acessível e de fácil compreensão.
Livro E: Matemática Aula por Aula 3ª série
Autor: Benigno Barreto Filho e Cláudio Xavier da Silva
Editora: FTD, São Paulo-2003 1ª edição
Onde: estatística e Matemática Financeira capitulo 7, páginas 242 a 273.
65
Assuntos relacionados:
• Porcentagem
• Lucro
L = V – C (V = valor de venda e C = valor de custo)
• Desconto
D = Módulo C – V
• Acréscimos sucessivos
Pn = P0 (1+i)�
Exemplos de problemas:
1)O preço de custo de uma calculadora é de R$ 160,00 e foi vendida com
desconto de R$20,00 sobre esse preço de custo. Calcular:
a)Valor de venda
b)a taxa percentual de desconto em relação ao valor de custo
2)O leite B teve três aumentos sucessivos de 5% cada. Calcular o valor atual,
sabendo que o preço do litro antes dos reajustes era de R$0,60.
3)O governo autorizou três aumentos sucessivos no valor do litro da gasolina, de
8% cada. Calcule o preço atual do litro, sabendo que o valor anterior era R$0,56.
4)Um carro é vendido com desconto de 20% sobre o preço de tabela. Supondo
que houve lucro, qual a taxa de desconto sobre o valor de custo?
Ao todo são 50 exercícios
Análise: É o livro com maior número de páginas destinadas ao assunto. Os conteúdos
relacionados diferem das demais obras e a linguagem apresentada é clara e de fácil
entendimento. Não traz fórmulas de juro simples e composto. Importante salientar que o
exemplar está velho e já perdeu algumas páginas.
Livro F: Matemática Ensino Médio 3ª série
Autor: Kátia Stocco Smole e Maria Ignez Diniz
Editora: Saraiva, São Paulo-2005 5ª edição
Onde: Matemática Financeira capitulo 1, páginas 8 a 18.
Assuntos relacionados:
66
• Porcentagem
• Juro simples
J=Cit, M = C(1+it) e M = C + J (C = capital, i = taxa de juro, t = tempo)
• Juro composto
M = C(1+i)� e J = M – C
• Funções e Juros
Exemplos de problemas:
1)Qual a taxa mensal de juros simples que faz um capital de R$9.500,00 produzir
um montante de R$11.900,00 ao fim de 1 ano?
2)O preço a vista de um eletrodoméstico é R$350,00. Dando-se uma entrada de
R$80,00 financia-se o restante em 12 meses com juros simples de 4% ao mês. Qual
será o valor de cada prestação?
3)A importadora preço Baixo importou uma caixa de suco por R$100,00. Retirou
da caixa 4 garrafas e aumentou o preço da dúzia de garrafas em R410,00. Depois disso
colocou a venda caixa com o restante das garrafas pelos mesmos R$100,00.
Quantas garrafas havia inicialmente na caixa?
Ao todo são apenas 50 exercícios + 10 desafios e 15 de vestibular.
Análise: Poucas páginas, porcentagem com exemplos claros e exemplos detalhados.
Apresenta bom número de exercícios sobre juro simples e composto e ainda acrescenta
como desafio problemas de vestibular. Associa o conteúdo com funções mostrando que
taxa de juros pode ser mostrada como uma função e mostra gráficos para representá-
las.
Livro G: Coleção Matemática Uma atividade Humana
Autor: Adilson Longen
Editora: Base, Curitiba-2003 1ª edição
Onde: Matemática Financeira capitulo 1, páginas 14 a 20.
Assuntos relacionados:
• Médias
• Sequências
67
• Progressão Aritmética
• Progressão Geométrica
• Juro simples
J=Cit
• Juro composto
M = C(1+i)�
Exemplos de problemas:
1)Calcule o montante acumulado pela aplicação de um capital inicial de
R$20.000,00 aplicado durante 1 ano a juros compostos de 3% ao mês.
2)A taxa anual de 30%, certa quantia, em 8 meses, produziu, a juros simples, um
total de R43000,00.
a)Qual a taxa mensal dessa aplicação?
b)Qual foi o capital aplicado?
3)Um terreno vale hoje A reais, e esse valor fica 20% maior a cada ano que
passa.
a)Qual o seu valor daqui a n anos?
b)qual a valorização sofrida ao longo do enésimo ano expressa em reais?
c)Daqui a quantos anos aproximadamente o valor do terreno triplicará?
Ao todo são apenas 20 exercícios.
Análise: Praticamente uma página por assunto, poucos exemplos e exercícios.