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UM ESTUDO PRELIMINAR SOBRE OS MOVIMENTOS DE
INSTITUCIONALIZAÇÃO DA MATEMÁTICA APLICADA NO BRASIL
Marta Figueredo dos Anjos1
RESUMO
Este trabalho visa apresentar um esboço de um estudo histórico de alguns momentos
que marcaram o processo de institucionalização da Matemática Aplicada no Brasil. Para
esse propósito, discutiremos os elementos que emergiram dos confrontos dos
documentos que constituímos para a referida pesquisa, tal movimento de análise foi
inspirado nos pressupostos teóricos metodológicos dos preceitos da nova historiografia,
especialmente apresentadas nos escritos de Bloch (2001), Burke (2002) E Le Goff
(1998), dentre outros. Diante disso, por meio da apresentação de acontecimentos
sociopolíticos do século XX, os quais compõem um cenário preliminar da formação da
área da Matemática Aplicada no Brasil, lançamos-nos a discutir alguns momentos,
frutos desses acontecimentos, que podem ser considerados como propulsores da
institucionalização da Matemática Aplicada.
INTRODUÇÃO
Este trabalho visa apresentar uma discussão preliminar diante alguns resultados
oriundos de uma investigação pertencente ao projeto de doutorado da autora. O referido
projeto objetiva apresentar um estudo histórico sobre a Sociedade de Matemática
1 Aluna de doutorado do programa de Pós-graduação em Educação Matemática (PGEM-UNESP/Rio
Claro), sob Orientação do Prof. Sergio Roberto Nobre.
Aplicada e Computacional (SBMAC) e, por meio desse estudo, apresentar alguns
elementos constituintes da institucionalização2 da Matemática Aplicada Brasileira.
Esse projeto vincula-se a um projeto maior, sob a coordenação do professor
Sergio Nobre, o qual é destinado a apresentar uma investigação sobre as instituições
brasileiras vinculadas a Matemática. Desse empreendimento podemos citar trabalhos
como Carvalho (2014) e Santos (2016) que nos ajudam a compreender como
instituições como o ITA e a SBM se estabeleceram na comunidade científica brasileira.
Nesse sentido, o estudo histórico sobre a sociedade Brasileira de Matemática
Aplicada e Computacional (SBMAC) é apresenta como um importante passo para a
compreensão sobre os movimentos de organização política da comunidade de
matemáticos aplicados brasileiros. Assim, lançamo-nos a observar e analisar alguns
acontecimentos que pode nos levar a compor algumas relações que determinaram a
organização política e científica da comunidade de matemáticos aplicados do Brasil.
Para tal propósito, iniciamos por observar que as crescentes demandas
tecnológicas nos século XIX e XX e as mudanças conceituais decorrente da
Modernização da Matemática, ocorridas inicialmente nos países da Europa e dos
Estados Unidos contribuíram, conforme Gray (2008), para a Matemática Aplicada se
tornar um campo de pesquisa autônomo e valorizado, estimulando, assim, o processo de
institucionalização da área.
O Brasil, por sua vez, só a partir da década de 1930 devido aos incentivos
financeiros oriundos da política de desenvolvimento do país é que passaram a existir
possibilidades de implantação de pesquisa em um formato mais autônomo. Esse
momento da política brasileira instaurou, em meio a muitos conflitos3 e forte repressão,
mudanças estruturais, oriundas de política nacionalista empenhada no processo de
2 Estamos concebendo a Institucionalização a partir das considerações de Toledo (2008, p.27) que afirma:
“A institucionalização de um campo científico diz respeito ao estudo dos seus processos de constituição e
autonomização, aliado ao entendimento de como historicamente eles se formalizaram se incorporaram ao
conjunto das ciências, tendo em vista suas práticas, seus instrumentos e seus arcabouços teóricos e
metodológicos”.
3 A era Getulio Vargas, como é conhecido o período de 15 anos que Getulio Vargas esteve no poder é um
período controverso. Apesar dos registros de avanço em alguns setores da sociedade brasileira esse
momento também registra um aumento de autoritarismo e repressão.
industrialização do Brasil. Tal fato teve fortes e significativas consequências para a
ainda insipiente pesquisa, na recém-criada universidade brasileira.
Nesse contexto, pesquisas voltadas as ciências aplicadas, especialmente a
Matemática Aplicada tem um novo incentivo, pois passou a ser vista como
possibilidade colaborativa ao projeto de desenvolvimento do país. Especialmente
motivado pelos incentivos e necessidades da indústria do petróleo, a partir de meados da
década de 40.
Além disso, as demandas oriundas de fins militares e as consequentes
motivações da corrida tecnológica promovidas pela Guerra Fria e o prestigio da Física
Nuclear, justificam a necessidade do governo brasileiro de investir em conhecimento
especializado. Um fruto representativo dessas motivações é a criação do Instituto
Tecnológico de Aeronáutica (ITA) em 1950. Em meio a esse cenário, outras iniciativas
como a criação da Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC) fundada
em 1948, a criação pelo governo federal de organizações como o Conselho Nacional de
Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq, 1951) e a Coordenação de
Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes, 1953) são representativos desses
anseios.
Entretanto, só a partir da década de 60, com a consolidação da pós-graduação no
Brasil, nos moldes instituídos do Parecer 977/65 do conselho federal de educação, que
teve o objeto a conceituação da pós-graduação. Conforme Santos (2003, p. 628):
Os primeiros passos da pós-graduação no Brasil foram dados no início da década
de 1930, na proposta do Estatuto das Universidades Brasileiras, onde Francisco
Campos propunha a implantação de uma pós-graduação nos moldes europeus.
Tal modelo foi implementado tanto no curso de Direito da Universidade do Rio
de Janeiro quanto na Faculdade Nacional de Filosofia e na Universidade de São
Paulo. Na década de 1940 foi pela primeira vez utilizado formalmente o termo
“pós-graduação” no Artigo 71 do Estatuto da Universidade do Brasil. Na década
de 1950 começaram a ser firmados acordos entre Estados Unidos e Brasil que
implicavam uma série de convênios entre escolas e universidades norte-
americanas e brasileiras por meio do intercâmbio de estudantes, pesquisadores e
professores. O grande impulso para os cursos de pós-graduação do Brasil só se
deu na década de 1960. Já no início da década houve uma iniciativa importante
na Universidade do Brasil na área de Ciências Físicas e Biológicas (seguindo o
modelo das graduate schools norteamericanas), resultado de um convênio com a
Fundação Ford, e outra na mesma universidade, na área de Engenharia, com a
criação da Comissão Coordenadora dos Programas de Pós-Graduação em
Engenharia (COPPE).
As demandas relacionadas à pesquisa vão se concretizar de forma mais
substancial, predominantemente, em instituições ligadas às engenharias. Vale ressaltar,
também, que nessa mesma década, sob os moldes do modelo norte-americano ocorreu a
implantação do mestrado em Matemática da Universidade de Brasília e o doutorado do
Instituto de Matemática Pura e Aplicada (IMPA), assim como os cursos de pós-
graduação no ITA4 e na UnB.
O país vivia a euforia do desenvolvimentismo iniciado no fim da era Vargas e
aprofundado na segunda metade dos anos 1950, no governo de Juscelino Kubitschek.
Sob o slogan “Cinquenta anos em cinco”, e apostava-se na industrialização para
substituição de importações como a chave para o desenvolvimento econômico.
Entretanto, o cenário de fragilidade do sistema democrático brasileiro gerou uma
crise política, a qual produziu condições da implantação do regime militar que veio a
vigorar de 1962 a 1985, deixando na história do Brasil profundas marcas. Não podendo
ser diferente, as instituições de ensino superior e a produção de pesquisa foram
fortemente afetadas. Um período de fortes contradições, especialmente no que tange a
história da Matemática aplicada.
Conforme Ferreira e Bittar (2008), o regime militar tem uma prática que defende
fortemente uma visão tecnocrática da educação e repudia o conceito de universidade
abrangente. Embora sob as reges do governo militar, em 1968 o Ministério da Educação
promoveu a reforma do sistema universitário e a pós-graduação foi oficializada no
Brasil nos moldes que já eram praticados pela COPPE, dado o sucesso do
empreendimento.
Nesse momento, um elemento de significativa importância para a consolidação
da pesquisa em Matemática Aplicada no Brasil é a chegada dos computadores no país,
visto que ele é no contexto da pesquisa, particularmente, em pesquisas relacionadas a
Matemática Aplicada, um elemento revolucionário nos métodos de pesquisa. O sucesso
dos modernos métodos matemáticos e programas de computador possibilitaram a
criação da matemática computacional, ciência computacional, e engenharia
4 Conforme Carvalho (2014), embora o Instituto Tecnológico da Aeronáutica (ITA) já funcionasse em
meados da década de 40, nas instalações da UFRJ a criação do ITA data de 1950. Tem um modelo
estrutural administrativa organizada por departamentos diferente do modelo de cátedra, adotado nas
universidades no Brasil.
computacional, que usam computações de alto desempenho para a simulação de certos
fenômenos e soluções para problemas nas ciências e engenharia.
Conforme De Lourdes Cardi e Barreto (2012) foi no recém-criado Centro de
Processamento de Dados da PUC-RJ, que foi instalado o primeiro computador do
Brasil, bem como da América Latina, em Universidades. Esse equipamento teve o
mérito de mostrar aos estudantes, entre outras coisas, novas técnicas de cálculos
científicos para aplicação em várias áreas de engenharia e pesquisa.
Em meio a esse contexto se consolidou inúmeros movimentos de organização da
comunidade de matemáticos aplicados que, determinou a institucionalização da
Matemática Aplicada.
Assim, em um exercício investigativo sobre esses movimentos laçamos-nos a
discutir alguns momentos, acontecimentos que compõe o cenário que estamos
investigando. Para isso, é necessário esclarecer que a visão historiográfica defendida
nesse projeto nos direciona na busca por ferramentas metodológicas que evidenciem e
oportunizem a discussão das relações sociais e políticas que envolvem e compõem o
nosso objeto de pesquisa. Para isso, tomamos como ponto de partida as orientações de
historiadores como Burke (2002) que observa que a atividade histórica carrega
intrinsecamente a característica de uma ação interpretativa e que, por isso, está ancorado
em ideologias e interesses de diferentes grupos sociais. Para ele a preocupação do
historiador deve ser o simbólico e suas interpretações. “Símbolos, conscientes ou não,
podem ser encontrados em todos os lugares, da arte à vida cotidiana” (BURKE, 2002,
p.10).
Para constituição dos documentos realizamos entrevistas 5 e coletamos
documentos escritos (Atas, relatórios, cartas e documentários). Assim, tecemos as
reflexões por meio do diálogo entre os documentos. Faz se necessário afirmar que
compreendemos que, como afirma Le Goff (2008), o documento não é inocente, não
decorre apenas da escolha do historiador, ele próprio parcialmente determinado por sua
época e seu meio, o documento é produzido conscientemente pela sociedade do passado
tanto para impor uma imagem do passado, quanto para dizer a “verdade”.
5 Os entrevistados foram definidos a partir de uma teia de informações, tanto oriundas dos documentos
escritos, bem como a partir de indicações dos primeiros entrevistados, já as entrevistas foram realizadas
de forma semi estruturada e seguindo as orientações encontradas em Freitas (2006).
ALGUNS MOMENTOS CONSTITUTIVOS DO MOVIMENTO DE
INSTITUCIONALIZAÇÃO DA MATEMÁTICA APLICADA NO BRASIL
Nas décadas de 60 e 70, há muitos movimentos de organização e
desenvolvimento da Matemática Aplicada no Brasil, frutos, de uma forma geral, do
contexto socioeconômico, apresentado anteriormente. Em meio a esse contexto, trazer a
foco fatos e momentos podem nos ajudar a compreender o processo de
institucionalização da matemática aplicada no Brasil.
De início, observamos que um momento importante que sinaliza a organização
da comunidade de matemáticos brasileiros é a criação de uma comissão de Matemática
Aplicada na Sociedade Brasileira de Matemática. Sobre isso, Santos (2016, p.93) relata:
Em junho de 1970, foi aprovada a proposta de se convidar os
professores Carlos J. P. de Lucena (PUC), Guilherme La penha
(COPPE, Rio), Ivan de Queiroz Barros (USP, Campinas) e Carlos A.
B. Dantas (USP) para integrarem a Comissão de Matemática Aplicada
da SBM. Somente em agosto de 1970, foi dada posse, por
unanimidade, a Comissão de Matemática Aplicada da Sociedade
composta pelos professores: Ivan de Q. Barros (USP, Campinas),
Carlos Alberto B. Dantas (USP), Carlos J. P. de Lucena (PUC, Rio) e
Guilherme La Penha (COPPE, Rio). Esta comissão poderia assessorar
organismos como CNPq, CAPES, FAPESP etc.; sua principal função
seria de organizar as atividades de Matemática Aplicada da SBM, de
acordo com os Estatutos 20 e 27 da Sociedade .
Esse momento nos indica que a comunidade de matemáticos aplicados
brasileiros estava se fortalecendo e se organizando. Tal momento pode ser melhor
compreendido se observarmos que este é fruto de investimentos por parte do governo
brasileiro, por meio, principalmente de convênios firmados entre o governo do Brasil e
o governo dos Estados Unidos da América, ocorridos essencialmente no final da década
de 60 e ao longo da década de 70 (TRIVIZOLI, 2011).
Em meio a esse cenário, dado o aumento de professores pesquisadores em
Matemática Aplicada, decorrentes de volta de professores que participaram de
convênios com o governo dos Estados Unidos e o desejo desses novos pesquisadores
por mais espaço para suas pesquisas, muitos desses passaram a se organizarem e
promover movimentos de fortalecimento da Matemática Aplicada no Brasil.
Um momento que compõe esses movimentos de mobilizações em prol da
organização da comunidade brasileira de matemáticos aplicados é a contratação pelo
IMECC- UNICAMP de professores com formação em engenharia e que desenvolviam
pesquisas em áreas da Matemática Aplicada, durante os anos de 1972 a 1980,
possibilitando a implantação de ambiente interdisciplinar, dentro do departamento de
Matemática da UNICAMP.
Esse foi um momento muito importante na mudança de perspectiva da
Matemática Aplicada no Brasil. A contratação de professores pesquisadores na área de
Matemática Aplicada para o Departamento de Matemática, em particular na
UNICAMP, como apresentado anteriormente, é um importante passo para na formação
de uma organização política que culminou, no final da década de setenta com a criação
de Departamentos de Matemática Aplicada na Universidade de São Paulo (USP) em
1971 e na Universidade de Campinas (Unicamp), em 1973, que irão alocar cursos de
graduação em Matemática Aplicada.
Em meio a esses acontecimentos, na oportunidade da reunião conjunta da SBPC
e da Sociedade Brasileira de Simulação realizada no campus da USP (São Paulo), em
julho de 1977, realizou-se uma mesa redonda que, segundo Odelar Linhares (1988),
definiu um importante passo em prol da concretização do desejo da comunidade
acadêmica pela criação de uma sociedade que representasse os pesquisadores da área da
Matemática Aplicada e Computacional.
Um grupo de professores e pesquisadores da USP e UNICAMP organizou o
simpósio intitulado A Matemática Computacional e sua Influencia no
Desenvolvimento Cientifico e Tecnológico do Brasil, no âmbito do qual se
promoveu Mesa Redonda Sobre a oportunidade da criação de Sociedade
Brasileira de matemática computacional. Coordenada pelo professor Odelar
Leite Linhares (ICMSC-USP) e Tamio Shmizu (escola politécnica-USP).
Participaram ativamente das discussões, entre outros José Vitório Zago (IMECC-
UNICAMP), Maximiliam Emil Hehl (ICMSC-USP) e J.S.C Martini (da escola
politécnica-USP). De concreto resultou, apenas, que a criação de semelhante
sociedade era ansiosamente desejada e mais que necessária (LINHARES, 1988,
p. IV).
Em janeiro de 1978, seis meses após a realização da referida mesa redonda,
outro momento que nos indica movimentos de organização é a realização da 1ª Escola
de Matemática Aplicada realizada no Laboratório de Cálculo (LAC), vinculado ao
Centro Brasileiro de Pesquisas Físicas (CBPF) o qual, posteriormente, passou a ser
denominado por Laboratório Nacional de Computação Científica (LNCC),
desmembrado do CBPF. Sobre a relação dessa instituição e a SBMAC, o professor
Raupp, em depoimento para comemoração dos 30 anos do LNCC, observa:
Aquele grupo [LAC] assumiu o pioneirismo de importantes trabalhos da área,
tanto na parte teórica quanto na de aplicações. O núcleo se solidificou, inclusive
externamente, adquirindo prestígio em campos de estudos ainda recentes no
Brasil – comenta Raupp, que conclui- As atividades foram decisivas para a
criação de sociedades científicas, como é o caso da Sociedade Brasileira de
Matemática Aplicada e Computacional (SBMAC). Foram momentos importantes
e decisivos para o LNCC ter papel reconhecido e atuante dentro da política
nacional de Ciência e Tecnologia (LNCC, 2010).
Tal momento foi descrito da seguinte forma pelo professor Moura6, um dos
organizadores da referida Escola.
O LAC já tinha organizado o que foi a primeira escola de Matemática Aplicada,
um evento importante porque começou a definir caminhos de pesquisa, de
orientação de estudo. Nós tivemos muitos alunos de diferentes estados do Brasil,
diferentes universidades. [...] Nessa primeira escola de Matemática Aplicada os
estudos foram concentrados em métodos numéricos; mecânica dos fluidos. Nós
promovemos, por exemplo, um curso de análise funcional, que eu ministrei,
tivemos também um curso de métodos numéricos, ministrado por Raupp e um
outro curso, introdução a mecânica do continuo ministrado pelo professor Raul
Feijó). Além desses tivemos um curso oferecido pelo professor Luiz Adalto de
equações diferenciais parciais, esse era um curso mais puro, não tinha muitas
aplicações (Informação verbal)
De fato, a referida Escola ocorreu no período de 04/01 a 4/02 de 1978 e foi
organizada pelos professores Carlos A. de Moura (CBPF); Marco A. Raupp (CBPF) e
Pedro Nowasad (IMPA) e contou com o patrocínio da SBM e do CBPF. Durante esse
mês de estudos, foram oferecidos três cursos básicos: Análise Numérica e Equações
Diferencias (Marco A. Raupp - CBPF), Análise Funcional e Aplicações (Carlos A. de
Moura - CBPF), e Introdução a Mecânica do Contínuo (Raul A. Feijó - CBPF). Nessa
mesma oportunidade foram oferecidos minicursos e workshops. Os minicursos foram:
Mecânica e Inequações Variacionais (Claude Do-ENSM-Nantes e Ècole
Polytechnique-Paris);
Aspectos Computacionais em Magnetohidrodinâmica (Octavio
Betancourt (Courant Institute – New York);
6 Entrevista concedida a nós 09.09. 2015.
Operadores Positivos e Otimização, Aplicações a Energia Nuclear (Pedro
Nowasad- IMPA);
Dinâmica das Tubulações (Luís Bevilacqua - Promon, Engenharia);
Tópicos em Equações Diferenciais Parciais (Luis Adauto Medeiros -
UFRJ).
Os workshops foram:
Inequações Variacionais, coordenado por Claude Do-ENSM-Nantes e
Ècole Polytechnique-Paris;
Mecânica do Contínuo e Elementos Finitos, coordenado por Edgardo
Taraco (CBPF);
Otimização, coordenado por Hilton Machado (UnB).
Simulação de Plasmas, coordenado por Octavio Betancourt (Courant
Institute – New York).
O CBPF publicou os livros referentes aos cursos básicos ocorridos na 1ª Escola
de Matemática Aplicada. Segue a imagem da capa dos três livros.
Figura 1- Livros dos cursos básicos da 1ª Escola de Matemática Aplicada
FONTE: Biblioteca do LNCC, 2016.
Essas publicações foram um marco para as pesquisas em Matemática Aplicada
no Brasil, pois colaboram para a construção de caminhos para a produção cientifica em
Matemática Aplicada no Brasil. Conforme Santos (2016) ao apresentar o noticiário da
sociedade brasileira de matemática de Maio de 1978, a 1ª Escola de Matemática
Aplicada teve a participação de 76 engenheiros, físicos, matemáticos e analistas de
sistemas de 32 diferentes universidades e centros de pesquisa do País e 8 pesquisadores
do exterior.
Por fim, podemos observar que esses momentos são indicativos de movimentos
de organização da comunidade de matemáticos aplicados brasileiros e culmina com a
fundação da Sociedade de Matemática Aplicada e computacional (SBMAC). Essa
sociedade nasceu em meio a esses movimentos e obteve concretude no Primeiro
Simpósio Nacional de Cálculo Numérico que ocorreu em 1º de novembro de 1978,
durante o Primeiro Simpósio Nacional de Cálculo Numérico, realizado nas
dependências do Instituto de Ciências Exatas da Universidade Federal de Minas Gerais,
em Belo Horizonte - MG. Esse simpósio foi organizado pelo professor Newton Ribeiro
dos Santos (UFMG) e Leônidas da Conceição Barroso (UFMG), com a colaboração do
professor Odelar Linhares (UFCar/USP), tal fato foi descrito da seguinte forma pela
Professora Eliana Xavier7, filha do professor Odelar.
7 Entrevista concedida a nós em 15.06.2015.
Eu me lembro do meu pai se comunicando com o pessoal de Belo Horizonte,
escrevendo cartas e tal, porque eles achavam que precisava ter uma entidade que
representasse o pessoal da Matemática Aplicada e que a SBM não nos
representava. Então eles trocaram diversas cartas com o pessoal de Belo
Horizonte, com o professor Leônidas, com o Newton, sobre a intenção de criar
uma sociedade de matemática aplicada. Então eles pensaram em fazer, primeiro,
um congresso, lá em Belo Horizonte. E foi até chamado de Primeiro Congresso
Cálculo Numérico. (informação verbal)
Esse primeiro simpósio de cálculo numérico congregou muitos jovens, muito
desses recém-doutores e que tinham cursado o doutorado por meio de intercâmbio, em
países como Estados Unidos, que já tinham uma tradição em Matemática Aplicada, o
que motivou a mobilização desses pesquisadores por mais espaços na comunidade
cientifica brasileira.
Odelar Linhares (1988) ressaltou que durante a assembleia de fundação da
desejada sociedade, no ano seguinte a essa mesa redonda citada anteriormente, na
ocasião do 1º simpósio de Cálculo Numérico, por sugestão do Professor Marco Antônio
Raupp (CBPF), decide-se, por unanimidade, nomear a referida sociedade por Sociedade
Brasileira de Matemática Aplicada e Computacional (SBMAC), pois, assim,
congregaria mais pesquisadores.
Por fim, observamos que os movimentos que compõem a história da
institucionalização da matemática aplicada no Brasil são compostos por inúmeros
acontecimentos, momentos que nos ajudam a compreender as relações de forças que
estabeleceram o processo de institucionalização da Matemática Aplicada no Brasil.
Portanto, neste trabalho trazemos a foco alguns desses acontecimentos que
podem nos ajudar a compreender alguns desses movimentos da história da
institucionalização da Matemática Aplicada Brasileira.
CONSIDERAÇOES FINAIS
Por meio das apreciações dos documentos e da constituição do cenário que os
acontecimentos analisados emergiram nossos estudos trazem a tona elementos
importantes a cerca do processo de institucionalização da comunidade de matemáticos
aplicados brasileiros. Visto que ao apresentar alguns momentos históricos e seus
personagens, traz à tona as articulações que deflagraram a estruturação científica e
política da comunidade de matemáticos aplicados brasileiros.
Inicialmente, destacamos que os momentos apresentados e discutidos reinteiram
a forte relação entre o contexto sócio econômico e a atividade em Matemática Aplicada
no Brasil, assumindo como determinante para fortalecimento da área de pesquisa em
matemática aplicada o surgimento de empresas como a PETROBRÁS. Além disso,
esse estudo também enfatiza a importância da compreensão do caráter
interdisciplinar/multidisciplinar da Matemática Aplicada para sua consolidação nos
meios acadêmicos Brasileiros.
Vale ressaltar que esse movimento de institucionalização da matemática aplicada
brasileira, objeto de estudo nesse artigo, não é um movimento isolado, mas como
Toledo (2008) e Santos (2016) destacam pertencem a movimento mundial, oriundo de
uma nova forma conceber a matemática difundida a partir do século XX, que gerou
inúmeras formas de manifestações em prol das institucionalizações de diferentes áreas,
dentre essas formas podemos citar a fundação de sociedades, que representam, entre
outras coisas, um movimento destinado a ampliar a representabilidade política de uma
área.
Por fim, ressaltamos que o estudo histórico de um evento histórico está envolto
de relações que compõem uma teia de outros eventos, os quais podem nos ajudar a
ampliar os significados acerca do fato histórico estudado, por isso, esses momentos
apresentados aqui, não podem ser vistos de forma isolada, mas como representantes e
provocadores de outros acontecimentos que compõem uma história da Matemática
Aplicada no Brasil.
REFERÊNCIAS
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SANTOS, Cássio Miranda. TRADIÇÕES E CONTRADIÇÕES DA PÓS-
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SANTOS, Viviane de Oliveira. Uma história da Sociedade Brasileira de Matemática
durante o período de 1969 a 1989: criação e desenvolvimento. Tese - (doutorado) -
Programa de Pós-Graduação em Educação Matemática, UNESP, Rio Claro, 2016.
TRIVIZOLI, Lucieli Maria. Sociedade de Matemática de São Paulo: Um estudo
histórico institucional. Dissertação de Mestrado (Mestre em Educação Matemática) -
Programa de Pós-Graduação em Educação Matemática, UNESP, Rio Claro, 2008.
TRIVIZOLI, Lucieli Maria. Intercâmbios acadêmicos matemáticos entre EUA e
Brasil: uma globalização do saber. Tese - (doutorado) - Programa de Pós-Graduação
em Educação Matemática, UNESP, Rio Claro, 2011.
Entrevistas
MOURA. Carlos Antônio. Entrevista concedida a Marta Figueredo dos Anjos. 09 set.
2015. [Duração de aproximadamente uma hora].
XAVIER. Eliana Linhares. Entrevista concedida a Marta Figueredo dos Anjos. São José
dos Campos, 15 jun. 2015. [Duração de aproximadamente uma hora].