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Trabalho de Conclusão de Curso UM ESTUDO COMPARATIVO SOBRE A RELAÇÃO DA POBREZA, PROGRAMA BOLSA FAMÍLIA E DESEMPENHO ESCOLAR NO IFMS CAMPUS COXIM Ricardo Santos Porto 1 RESUMO O Ensino Técnico e Tecnológico nasceu dentro do Brasil quase que junto com o início das atividades que necessitavam de uma mão de obra mais qualificada e cresceu a ponto de ser uma das maiores redes federais de educação, proporcionando com sua expansão o atingimento de regiões e municípios antes esquecidos. O presente trabalho tem como ponto principal o estudo comparativo dentro do Campus do Instituto Federal de Ciência e Tecnologia de Mato Grosso do Sul de Coxim, a respeito dos alunos participantes do Programa Bolsa Família e seu desempenho acadêmico, baseado no sistema de avaliação do IFMS, a fim de verificar se esses beneficiários possuem rendimento satisfatório e se o PBF é um fator preponderante na sua manutenção dentro da instituição, vislumbra também analisar se dentro do rol de discentes, há dificuldades maiores apresentadas pelos alunos oriundos de classes menos favorecidas e se essas dificuldades se acentuam ou se diminuem ao longo do tempo que os discentes passam dentro do estabelecimento de ensino. O estudo visa também relatar quais os pontos a serem melhor observados a partir de um olhar mais crítico e também humanizador a respeito da relação da pobreza com os processos de ensino-aprendizagem dentro do Ensino Técnico e Tecnológico Integrado. Dentro dessa pesquisa qualitativa foram analisados números de reprovações de estudantes durante a sua permanência na instituição, e relacionando esses números com a participação ou não no PBF. Palavras-chave: Bolsa Família. Rendimento. Ensino Técnico e Tecnológico. . 1. Introdução O círculo vicioso da pobreza e exclusão social afeta diretamente a questão da democracia e de cidadania dos brasileiros que se encontram nessa nefasta situação ao longo da história brasileira que, embora, tenha se modificado, não ocorreu na proporção ou velocidade necessária para que se pudesse erradicá-la dentro desse período de tempo. A pobreza e seus desdobramentos afetam de forma contundente os mais frágeis, e a eles relega poucas condições de mudança em sua condição, inclusive, os deixando sem voz e quase que invisíveis perante o Estado e parte da população brasileira, alguns deles muitas vezes não possuem documentos e assim praticamente não existem à luz da égide estatal. Apesar de sermos todos iguais em direitos e deveres, pelo menos é o que é preconizado na 1 Ricardo Santos Porto é Professor do IFMS Campus Coxim, Mestrando em Estudos de Linguagem da UFMS/PPGMEL e membro do Grupo de Pesquisa Literatura Brasileira e Representações: Desdobramentos.

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Trabalho de Conclusão de Curso

UM ESTUDO COMPARATIVO SOBRE A RELAÇÃO DA POBREZA, PROGRAMA

BOLSA FAMÍLIA E DESEMPENHO ESCOLAR NO IFMS CAMPUS COXIM

Ricardo Santos Porto1

RESUMO

O Ensino Técnico e Tecnológico nasceu dentro do Brasil quase que junto com o início das

atividades que necessitavam de uma mão de obra mais qualificada e cresceu a ponto de ser

uma das maiores redes federais de educação, proporcionando com sua expansão o

atingimento de regiões e municípios antes esquecidos. O presente trabalho tem como ponto

principal o estudo comparativo dentro do Campus do Instituto Federal de Ciência e

Tecnologia de Mato Grosso do Sul de Coxim, a respeito dos alunos participantes do

Programa Bolsa Família e seu desempenho acadêmico, baseado no sistema de avaliação do

IFMS, a fim de verificar se esses beneficiários possuem rendimento satisfatório e se o PBF é

um fator preponderante na sua manutenção dentro da instituição, vislumbra também analisar

se dentro do rol de discentes, há dificuldades maiores apresentadas pelos alunos oriundos de

classes menos favorecidas e se essas dificuldades se acentuam ou se diminuem ao longo do

tempo que os discentes passam dentro do estabelecimento de ensino. O estudo visa também

relatar quais os pontos a serem melhor observados a partir de um olhar mais crítico e também

humanizador a respeito da relação da pobreza com os processos de ensino-aprendizagem

dentro do Ensino Técnico e Tecnológico Integrado. Dentro dessa pesquisa qualitativa foram

analisados números de reprovações de estudantes durante a sua permanência na instituição, e

relacionando esses números com a participação ou não no PBF.

Palavras-chave: Bolsa Família. Rendimento. Ensino Técnico e Tecnológico.

.

1. Introdução

O círculo vicioso da pobreza e exclusão social afeta diretamente a questão da

democracia e de cidadania dos brasileiros que se encontram nessa nefasta situação ao longo

da história brasileira que, embora, tenha se modificado, não ocorreu na proporção ou

velocidade necessária para que se pudesse erradicá-la dentro desse período de tempo.

A pobreza e seus desdobramentos afetam de forma contundente os mais frágeis, e a

eles relega poucas condições de mudança em sua condição, inclusive, os deixando sem voz e

quase que invisíveis perante o Estado e parte da população brasileira, alguns deles muitas

vezes não possuem documentos e assim praticamente não existem à luz da égide estatal.

Apesar de sermos todos iguais em direitos e deveres, pelo menos é o que é preconizado na 1 Ricardo Santos Porto é Professor do IFMS Campus Coxim, Mestrando em Estudos de Linguagem da

UFMS/PPGMEL e membro do Grupo de Pesquisa Literatura Brasileira e Representações: Desdobramentos.

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Constituição Federal de 1988, sabemos que essa igualdade está presente apenas nas páginas

das leis, pois, a máquina estatal sabidamente serve aos interesses dos mais abastados, que a

ela alimentam.

Como visto e alardeado nas propagandas estatais ou discursos com poucas bases

teóricas, vimos que alguns membros das novas gerações têm optado por focar e depositar na

educação uma forma de subverter a condição histórica a eles imputada, já que a falta de

instrução leva a pobreza e a pobreza leva a falta de instrução e também à exclusão política,

social e econômica, que é a perda total da cidadania do indivíduo.

A educação certamente é um fator que pode levar à emancipação do cidadão e

proporcionar novos horizontes que propiciem a concretização da democracia e cidadania,

pois a real democracia é medida pela efetivação dos direitos e deveres na vida social de cada

um. Outro ponto que a educação tem papel preponderante, e atua de forma contundente é a

questão econômica das pessoas, pois com maior grau de instrução pode-se ocupar cargos que

remunerem melhor e que favoreçam mudanças também sociais e políticas.

Partindo desse pressuposto de utilização da educação como ferramenta que assegure

novas perspectivas aos membros das classes menos favorecidas, o presente estudo procurará

entender e demonstrar o papel da educação e comparar o rendimento escolar de alunos do

Ensino Médio Técnico e Tecnológico Integrado do Instituto Federal de Ciência e Tecnologia

do Campus de Coxim que são recebedores do Programa Bolsa Família com os demais

discentes do referido campus que não participam do maior Programa de Transferência de

renda da história do país.

O Programa Bolsa Família, menos frequentemente conhecido pela sigla

PBF, é um programa de transferência mensal de renda que surgiu, no final

de 2003, a partir da unificação de uma série de programas preexistentes,

fortemente inspirado pelo programa de renda mínima vinculado à educação,

o Bolsa Escola. O Bolsa Família deve atender a famílias cuja renda familiar

per capita seja inferior a R$ 60 mensais e famílias de gestantes, nutrizes e

crianças e adolescentes de até 15 anos cuja renda per capita seja inferior a

R$ 120 (valores de outubro de 2006). Foi criado por medida provisória,

posteriormente convertida em lei. A seleção dos beneficiários é, em geral,

realizada pelos órgãos municipais de assistência social, ficando a gerência

do programa a cargo do MDS e as operações de pagamento sob

responsabilidade da Caixa Econômica Federal. O recebimento das

transferências é condicionado a contrapartidas comportamentais nas áreas de

educação e saúde, de acordo com a composição das famílias beneficiárias.

(MADEIROS, Marcelo p.10, 2007)

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Procuraremos também entender quais efeitos da pobreza nas questões de ensino

aprendizagem são mais afetados e qual o papel de uma educação de qualidade nas

perspectivas futuras desses alunos que serão egressos da instituição de ensino. Serão

estudadas as taxas de evasão no Campus de Coxim entre participantes ou não do PBF e o

rendimento escolar com base nos resultados obtidos através do sistema de avaliação da

entidade.

2. A POBREZA E OS PROGRAMAS DE TRANSFERÊNCIA DE RENDA

Para o especialista em educação Carlos Roberto Jamil Cury (2002, p.179),

essa desigualdade, hoje medida por vários instrumentos de análise (como o

índice de desenvolvimento humano IDH), faz com que haja problemas na

escola – que não são da escola. Por isso, não é desprezível o impacto desta

situação fática sobre o conjunto do sistema educacional em matéria de

acesso, permanência e sucesso. É de se perguntar se é possível

desconsiderar a desigualdade socioeconômica como uma geradora remota

das dificuldades próximas que afetam o desempenho intraescolar dos

alunos.

Vemos dessa forma que a pobreza tem total relação com os baixos rendimentos

encontrados em diversas instituições de ensino, e também nos altos índices de evasão escolar,

que em muitos casos se dão pela necessidade de trabalho ou falta de condições de

permanência ou deslocamento até o estabelecimento de ensino. A má distribuição de renda

que é verificada dentro da sociedade brasileira afeta de forma significativa o desempenho

escolar, pois discentes que tem uma estrutura familiar comprometida ou que habita em

condições desfavoráveis

Outra constatação, ao longo das décadas, é que as famílias que se encontram

em circunstâncias de pobreza e extrema pobreza têm apresentado maiores

dificuldades para que suas crianças, adolescentes e jovens tenham acesso à

escola e nela permaneçam até a conclusão da educação básica. Isto ocorre,

muitas vezes, em razão da inserção, de modo precoce, no mercado de

trabalho formal ou informal, bem como da incompreensão da família sobre a

importância da educação e da escolarização. O insucesso na trajetória

escolar pode acarretar também menor acesso a direitos básicos, acabando

por reproduzir o ciclo de pobreza da geração anterior. A educação exerce,

certamente, papel fundamental no rompimento deste ciclo à medida que

consegue assegurar aos sujeitos de direitos uma educação de qualidade

social com aprendizagens significativas. Para a conquista desta qualidade

socialmente referenciada, a assiduidade nas atividades escolares é condição

fundamental. (CRAVEIRO e XIMENES, p. 112, 2013).

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A pobreza é um fenômeno estudado por muitos cientistas políticos, sociais, sociólogos

e seu combate é extremamente complexo diante de uma sociedade cada dia mais

individualista e que busca privilegiar os que possuem maior poder político, social e

econômico, deixando literalmente à margem uma gama enorme de cidadãos que são

historicamente explorados em detrimento da acumulação de capital de outrem e que devido à

sua condição marginal vivem em condições muito aquém aos requisitos básicos de

sobrevivência, muitas vezes em condições de extrema pobreza.

A conceituação de pobreza é categorizada como “juízo de valor” quando se

trata de uma visão subjetiva, abstrata, do indivíduo, acerca do que deveria

ser um grau suficiente de satisfação de necessidades, ou do que deveria ser

um nível de privação normalmente suportável. O indivíduo expressa

sentimentos e receitas, de caráter basicamente normativo, do que deveriam

ser os padrões contemporâneos da sociedade quanto à pobreza. Não leva em

conta uma situação social concreta, objetivamente identificável,

caracterizada pela falta de recursos. Desse modo, tal enfoque não esconde

sua fragilidade, embora seja bastante óbvio que mesmo uma conceituação

objetiva da pobreza não se furta a algum juízo de valor. (CRESPO, 2002)

Conceituar a pobreza, impera que sejam feitas análises menos simplistas do que

muitos acabam por realizar, onde a pobreza é apenas a falta de determinado item em

comparação com outros membros da sociedade abordada. A pobreza na verdade não se limita

à privação apenas de bens materiais ou itens que melhorem a relação com outros membros da

sociedade, ela é um fenômeno muito maior, que enseja a população mundial desde tempos

mais remotos onde sempre houve um explorador que impunha às pessoas classes e divisões.

No Brasil, ao analisarmos nossa estratificação social, vemos que a pobreza é

carregada historicamente por certas parcelas da população desde o descobrimento e a

posterior imigração em nosso território. Os negros, os índios, os mestiços e as mulheres

sempre tiveram seus direitos cerceados, e em sua maioria, fazem parte da parcela que serve

como mão de obra que era inicialmente escrava, mas que se tornou barata e com a sua falta

de especialização, devido à falta de educação formal, tem servido aos interesses dos mais

abastados e assim esse círculo que se tornou vicioso tem ajudado a perpetuar a pobreza

nessas camadas populacionais.

A pobreza então, não está apenas relacionada às questões estritamente econômicas,

ela atua em diversas esferas sociais, que levam cidadãos a serem vistos pelo poder público e

por setores da sociedade como pessoas desprovidas de inteligência ou com capacidades

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menores, por não terem um grau de educação exigida, ou por não saberem ler ou escrever, em

outras oportunidades são taxados como vagabundos, indolentes por se evadirem da escola ou

por retornarem à ela no período mais tardio, fora dos padrões estabelecidos.

2.1 PROGRAMAS DE TRANSFERÊNCIA DE RENDA E SUA RELAÇÃO COM A

PERMANÊNCIA E AUMENTO DOS ÍNDICES DE DESEMPENHO ESCOLAR

O PBF é um programa federal de transferência de renda instituído pela Lei

no 10.836, de 9 de janeiro de 2004. Foi regulamentado pelo Decreto no

5.209 de 2004. O PBF prevê condicionalidades, ou seja, ao se tornar

beneficiária do programa, a família assume compromissos nas áreas de

saúde e de educação, tais como: acompanhamento pré-natal,

acompanhamento nutricional e frequência escolar em estabelecimento

público de ensino.

Está estruturado em três eixos principais de atuação: i) diminuição imediata

da pobreza, por meio da transferência direta de renda às

famílias; ii) reforço do direito de acesso das famílias aos serviços básicos

nas áreas de saúde, educação e assistência social, contribuindo para que as

famílias rompam com o ciclo da pobreza entre gerações; iii) integração com

outras ações e programas do governo (nas três esferas) e da sociedade,

apoiando as famílias a superarem a situação de vulnerabilidade e pobreza.

(Craveiro, Ximenes, p.109, 2013)

Como explicitado, o PBF é o maior programa de transferência de renda da história do

Brasil e, sim, tem contribuído com a melhoria, ainda que pequena, das condições de milhares

de famílias que são beneficiários do programa.

O PBF nasceu a mais de 10 anos como parte de uma estratégia governamental de

enfrentamento da pobreza e da pobreza extrema que que sempre foi um fator que esteve

presente dentro da sociedade brasileira desde o descobrimento. O caráter inclusivo do Bolsa

Família, pode propiciar a milhares de brasileiros, condições de lutar contra as mazelas que

durante anos e séculos foram deixados de lado nas administrações anteriores.

Durante mais de uma década de duração podemos verificar através de dados e

estatísticas que os objetivos iniciais do programa foram não só alcançados, como superados

em diversos indicadores e pudemos verificar que a pobreza teve uma redução em nosso

território e a estratégia federal de atrelar o recebimento e manutenção dos beneficiários à

requisitos educacionais, teve reflexo muito positivo nos índices de retenção e êxito escolares,

sem contar outros indicadores relacionados à saúde das crianças, como a caderneta de

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vacinação, peso entre outros, que influenciaram decisivamente para algumas melhorias no

ensino, principalmente nas escolas públicas.

Os resultados positivos na educação foram além. Como mostra o capítulo de

Craveiro e Ximenes, os alunos acompanhados pelo Bolsa Família não se

limitaram a melhorar seu desempenho ou a se igualar à média nacional em

termos de evasão ou aprovação. Ao longo dos últimos anos, as taxas de

abandono escolar no ensino fundamental e médio foram menores entre os

alunos beneficiários que entre os demais alunos da rede pública. As taxas de

aprovação, que melhoram gradativamente para os alunos do ensino

fundamental, passaram, no ensino médio, a ser mais favoráveis aos alunos

do Bolsa Família que à média nacional do ensino público. Pela primeira vez,

os mais pobres se saem melhor que os demais em indicadores relativos à

educação. (CAMPELO, 2013, p. 17)

Outro fator importante foi o de quebra de paradigmas, pois, anteriormente se via o

PBF como um instrumento da manutenção da pobreza e de que muitos se utilizavam dele

para não trabalhar, o que sem dúvida não procede de forma alguma, já que o que é recebido

não poderia manter uma casa sem que os seus integrantes tivessem outras formas de renda. O

que se observa é que essas famílias em sua maioria estão na informalidade, o que devido à

falta de qualificação, os relega à condições e a trabalhos insalubres e mal remunerados e que

mesmo com o Bolsa Família, faz com que muitas crianças acabem por evadir a escola para

poder contribuir com a renda da família.

Também foi muito difundida a crença de que as famílias beneficiárias

passariam a ter mais filhos, lançando mão de um comportamento

oportunista para ter acesso a um maior volume de recursos. No entanto, as

evidências empíricas vão em sentido contrário. De acordo com o capítulo de

Alves e Cavenaghi, neste livro, o PBF não tem provocado aumento da taxa

de fecundidade entre as mulheres beneficiárias. A tendência de declínio da

fecundidade da população brasileira continua em todas as faixas de renda, e

a redução recente tem sido maior justamente entre os mais pobres. O ritmo

de queda também foi maior nos estados menos desenvolvidos e naqueles

com maior presença percentual de domicílios que recebem o Bolsa Família.

Ainda, como descreve o capítulo de Jannuzzi e Pinto, recuperando

resultados da II Avaliação de Impacto do Programa, as mulheres

beneficiárias ampliaram o uso de métodos contraceptivos. Esta é mais uma

das contribuições do programa para o reforço da autonomia entre as

mulheres e do exercício de seus direitos – neste caso, os direitos

reprodutivos. (CAMPELO, 2013, p. 17)

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3. BREVE HISTÓRICO DO ENSINO TÉCNICO E PROFISSIONAL NO BRASIL

A educação profissional e tecnológica possui mais de 100 anos de criação e ao longo

de todos esses anos vem promovendo a capacitação profissional em conjunto com a formação

cidadã de milhares de brasileiros.

A formação do trabalhador no Brasil começou a ser feita desde os tempos

mais remotos da colonização, tendo como os primeiros aprendizes de ofícios

os índios e os escravos, e “habituou-se o povo de nossa terra a ver aquela

forma de ensino como destinada somente a elementos das mais baixas

categorias sociais”. (FONSECA, 1961, p. 68).

O ensino Técnico passou por várias fases e transformações em sua fórmula, passando

pelas minas de ouro e a formação de aprendizes, mas foi em 1906 que houve uma

consolidação do ensino técnico-industrial em solo brasileiro com o projeto de promoção do

ensino prático industrial, agrícola e comercial que foi mantido pela União e pelos Estados,

projeto esse, que previa a criação de campos e oficinas escolares que habilitaram jovens ao

manuseio de instrumentos de trabalho.

Além dessa iniciativa houve maior dotação orçamentária e a criação de escolas

técnicas estaduais. Em 1909, o então presidente Nilo Peçanha cria as primeiras escolas

técnicas federais, e com isso, dá início à Rede Federal de Educação Técnica e Profissional,

com as Escolas de Aprendizes e Artífices. O ensino profissional continuou crescendo, até que

no governo de Juscelino, pela primeira vez contemplou-se um investimento para as questões

educacionais no orçamento do governo federal e a educação profissional visava então, uma

formação de profissionais voltados para as metas de crescimento do país.

Com a transformação das escolas federais em autarquias, as mesmas ganham

independência e autonomia didática e de gestão. Em 1994, a Lei 8.948 de oito de dezembro,

transforma as Escolas Técnicas Federais gradativamente, em Centros Federais de Educação

CEFET’s. Com a Lei d Diretrizes e Bases – LDB de 1996, que pela primeira vez dispõe sobre

o ensino profissional em um capítulo separado da educação básica, além de contemplar

dentro do sistema de educação profissional, o sistema de certificação profissional, que

permite o reconhecimento de competências adquiridas fora do sistema escolar.

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A primeira fase da expansão da rede técnica teve início durante o governo Lula em

2007, que previa no plano a construção de 150 novas unidades em todos os estados da

federação, que praticamente dobrou o número de escolas e de vagas disponíveis.

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Como podemos observar a rede federal de educação tecnológica, teve um aumento

substancial em suas unidades chegando em 2014 a 562 campi atendendo 512 municípios,

dando oportunidades de ensino, pesquisa e extensão a cidades que outrora não dispunham de

escolas com uma estrutura organizacional e corpo docente qualificado para que regiões

pudessem ser desenvolvidas com base na educação e ciência.

3.1 O INSTITUTO FEDERAL EM MATO GROSSO DO SUL

O Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia de Mato Grosso do Sul

(IFMS) parte do programa de expansão da Rede Federal de Educação Profissional,

Científica e Tecnológica, do Ministério da Educação (MEC), é uma instituição de

educação superior, básica e profissional, especializada na oferta de educação

profissional e tecnológica nas diferentes modalidades de ensino, com forte inserção na

área de pesquisa aplicada e extensão. O IFMS possui natureza jurídica de autarquia,

detentora de autonomia administrativa, patrimonial, financeira, didático-pedagógica e

disciplinar, tendo como órgão executivo a reitoria, sediada em Campo Grande, capital de

Mato Grosso do Sul.

A instituição possui ainda campi localizados nos municípios de Aquidauana, Campo

Grande, Corumbá, Coxim, Dourados, Jardim, Naviraí, Nova Andradina, Ponta Porã e Três

Lagoas.

4. QUESTÕES DE EVASÃO, DESEMPENHO ESCOLAR NO CAMPUS COXIM E A

RELAÇÃO COM O PROGRAMA BOLSA FAMÍLIA

A pesquisa desenvolvida dentro do Campus do IFMS de Coxim, objetivou analisar os

números de evasão e desempenho escolar dentro do Campus Coxim do IFMS e teve acesso a

diversos números que foram analisados e compilados de forma que pudéssemos averiguar se

os resultados obtidos condiziam com os resultados que o PBF mostrou após mais de 10 anos

de existência, no que se refere principalmente à evasão dos discentes e seu desempenho

acadêmico.

Procurou-se analisar a relação entre os alunos que são beneficiários do programa e dos

que não são participantes para que se expusesse se dentro do campus m análise o PBF é

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preponderante para que mais alunos permaneçam estudando e que seu desempenho também

seja relativamente melhor.

O IFMS campus Coxim teve em 2016 apenas 14 beneficiários do PBF como seus

discentes, o que já vislumbramos como um número relativamente baixo, se analisarmos que o

campus possui em média 600 alunos, entre os cursos técnicos integrados, cursos superiores,

PROEJA, e educação à distância. Esse baixo número de alunos beneficiários, mostra que

muitos alunos que poderiam se beneficiar de uma educação pautada no ensino, pesquisa e

extensão não estão dentro da instituição, que hoje conta com professores mestres, doutores,

especialistas.

Após pesquisas e entrevistas, foi verificado que algumas pessoas não colocam seus

filhos no Instituto Federal por crerem que eles não terão condições de acompanhar as aulas

do IF ou que o ensino é muito difícil para os egressos de escolas públicas, crença essa que se

tem combatido ao fazer palestras em escolas e também ao ofertar mais vagas para alunos da

região, sendo que a partir de 2017, em vez de 80 vagas para o Ensino Médio, serão ofertadas

160 vagas e também com o primeiro curso de Engenharia de Pesca do Centro Oeste, imbuído

aí de uma visão de desenvolvimento da região em questão.

Dentro do Campus do IFMS de Coxim, até o presente momento, com as pesquisas

conduzidas para que este trabalho pudesse ser realizado, não ficou evidenciado que os alunos

beneficiários do PBF, tenham uma maior evasão, por conta de terem tido uma base menos

favorecida do que os estudantes oriundos de instituições privadas, o que pode-se perceber é

que há um número alto de evasão, em alguns casos chegando a 50% de algumas salas que já

estão nos semestres finais, devido ao nível não só do ensino aplicado nas escolas federais,

mas de deficiências que são verificadas nos alunos ingressantes.

A evasão é um problema que é bastante discutido dentro do campus, pois muitos

alunos após principalmente o primeiro semestre acabam por evadir-se da instituição,

majoritariamente devido a uma carência de conhecimentos básicos que muitos discentes ao

adentrar na instituição possuem, contudo ferramentas como o Nivelamento proposto em

Matemática e Língua Portuguesa – aulas complementares às que são oferecidas no turno de

estudo, aos estudantes que na primeira semana fazem um teste para verificação de conteúdos

e ficam abaixo da médias do Ensino Fundamental - vem tentando corrigir e assim diminuir as

taxas de evasão escolar por motivos de baixo rendimento.

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Há também o esquema de atendimento aos estudantes em seu contra turno, para que

os alunos que sintam dificuldades em determinadas disciplinas possam ter um atendimento

mais personalizado onde o professor possa entender melhor em quais aspectos os discentes

precisam de maior atenção. Esse atendimento ocorre em diversos horários, como nas horas de

escritório de professores universitários.

Outra iniciativa que tem sido relevante na tentativa de baixar os números de evasão é

o Auxílio Permanência, que é uma ajuda de custo para que os alunos possam mensalmente

custear alguns materiais escolares e quaisquer outros itens que necessitem, apesar do valor de

R$ 100.00 não ser de grande monta, nota-se que o mesmo é mais um estímulo para os

estudantes menos favorecidos permanecerem dentro da instituição

Ao analisarmos os números de disciplinas que apresentam reprovações de alunos que

são beneficiários do PBF, verificamos que os primeiros semestres realmente possuem uma

taxa não só de evasão maior, talvez isso se dê pela maior dificuldade com os conteúdos, não

apenas de núcleo comum, mas também as de cunho técnico que são inseridas e em alguns

casos utilizam-se de conceitos matemáticos que não estão ainda bem consolidados.

Nos quatro primeiros semestres a taxa de disciplinas reprovadas fica em torno de 2.7

disciplinas por alunos, que ressalta a carência de requisitos básicos, contudo, vemos que após

esses semestres os alunos, não só fecham essas lacunas, como apresentam desempenho

muitas vezes superior aos não recebedores do PBF, tanto que nos três últimos semestres o

número médio de reprovações cai drasticamente para 1.8 disciplinas reprovadas por aluno.

Fato este que demonstra que tais discentes são tão capazes quanto alunos advindos de escolas

particulares ou que fazem cursos particulares antes da entrada ao IF, apenas precisam de uma

maior atenção e precisariam de um ensino básico, mais elaborado e que proporcionasse a

aquisição de conhecimentos que realmente são necessários para o prosseguimento da vida

estudantil e profissional

Já os discentes que não são beneficiários do PBF, possuem em média uma taxa de

reprovação menor em relação aos beneficiários, contudo não apresentam uma queda tão

grande no número de reprovações ao longo do curso, mantendo o número mesmo durante os

semestres finais ficando com uma média de reprovações geral de 1.4 disciplinas por discente,

número bastante similar no final do curso os alunos que chegaram com maior déficit de

conteúdos à instituição.

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5. CONSIDERAÇÕES FINAIS

O Programa Bolsa família se tornou o maior programa de transferência de renda da

história do país e seus desdobramentos ainda são iniciais de analisarmos que o mesmo está

em execução a apenas pouco mais de 10 anos, contudo apenas do pouco tempo e de ser uma

medida paliativa se não estiver atrelada a diversos esforços governamentais para a

erradicação da pobreza no Brasil, o programa tem se mostrado de grande valia para a parcela

mais pobre da população brasileira, proporcionado aceso a gêneros alimentícios, materiais de

higiene, vestuário e materiais escolares que antes não seria possível adquirir, sem a ajuda

governamental.

O PBF, tem atuado de forma decisiva na manutenção de milhares de crianças

brasileiras nas escolas, pois com a ajuda monetária muitos pais puderam deixar os filhos nas

escolas, em vez de tê-los ao seu lado no trabalho, o que devido a famílias numerosas

acontecia muito frequentemente. Não apenas a manutenção das crianças na escola o PBF, a

alimentação propicia que haja um aprendizado mais significativo, pois sabe-se que a fome

também é uma forma de dificultar ainda mais a aprendizagem e assim perpetuar as condições

hegemônicas da pobreza imperante no Brasil.

O ensino técnico e tecnológico no Brasil, surge como uma forma de suprir a falta de

mão de obra qualificada dentro da população e tem uma expansão contínua, mas que apenas a

partir de 2007 com o governo Lula, dá um salto para o futuro, mais que dobrando o número

de Institutos Federais, levando ensino de qualidade a regiões e cidades, que em outras

administrações jamais tinham sido contempladas com uma estrutura e aparelhamento, que

havia apenas nos grandes centros, o IF’s hoje apresentam prédios, salas de aula e laboratórios

em alguns casos superiores a muitas universidades públicas, o que certamente, contribui para

um ensino que privilegie o estudantes e sua transformação, não apenas em profissionais

gabaritados, mas em pessoas mais conscientes de seus direitos e deveres e principalmente

cientes de suas capacidades e que não estão mais relegadas a segundo plano, que podem

ascender, dentro de uma estrutura que está montada para o atendimento do aluno.

Os números que foram analisados dentro das turmas do campus Coxim, reforçam que

as nossas crianças independente de não poderem ter tido uma educação de base adequada

estão aptos a obter esses requisitos, se forem expostos a uma educação mais inclusiva e que

esteja alinhada às técnicas mais modernas e de apoio pedagógico, psicológico e que tenha um

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corpo docente qualificado e comprometido com a educação pública de qualidade e que é

possível sim, transformar realidades de alunos carentes em um futuro promissor.

6. REFERÊNCIAS

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