Um estudo com alunos de HCA sobre a utilização da Web

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A leitura e a interpretação da informação da Web: um estudo com alunos da disciplina de História da Cultura e das Artes Francisco Moreira Marinho Dissertação de Mestrado em Ciências da Educação Área de Especialização em Supervisão Pedagógica na Educação em História e Ciências Sociais 2011

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Apresentação sumária de um estudo realizado com alunos de HCA do 11º ano sobre a utilização da Web.

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A leitura e a interpretação da informação da Web: um estudo com alunos da disciplina de História da Cultura e das Artes

Francisco Moreira Marinho

Dissertação de Mestrado em Ciências da Educação

Área de Especialização em Supervisão Pedagógica na Educação em História e Ciências Sociais

2011

Estudo

Questão de investigação

Que tipo de informação histórica é privilegiada pelos alunos usando a Web na

resolução de tarefas de natureza explicativa, interpretativa e de fruição estética?

• Turma do 11º ano do C.C.H. de Artes Visuais • Disciplina de História da Cultura e das Artes • Amostra: 17 alunos

• Site - http://pt.wikipedia.org/wiki

• Instrumentos

• Ficha sobre a Literacia informática dos sujeitos da amostra • Questionário «Construindo com Eiffel» • Questionário «Pintando com Gauguin» • Questionário «Esculpindo com Rodin»

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Revisão da literatura

A educação histórica na sociedade da informação

• Sociedade da informação [Lia Oliveira...]

• As TICs e a aprendizagem [Adelina Silva...]

• Seleção de sites educativos [Ana A. Carvalho; José M. Moran...]

• A educação histórica na sociedade da informação [Isabel Barca...]

Ensinar História e Cultura das Artes: o que se ensina e o que se aprende

• A cultura visual [Maria do Céu; Isabel Lopes; Dimitry Leontiev; Isabel Calado...]

• Ver e compreender a arte na atualidade [Dimitry Leontiev; Fernando Hernández, Calaf & al…]

• Evolução do ensino artístico no currículo do Ensino Secundário [Alfredo Betâmio; Rómulo de

Carvalho…]

• História da Cultura e das Artes. Documentos orientadores [Legislação específica...]

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Questionário «Construindo com Eiffel»

Consulte o site que lhe foi sugerido sobre Gustave Eiffel, http://pt.wikipedia.org/wiki/Gustave_Eiffel. No caso de achar que este não tem informação suficiente, pode pesquisar noutro sobre o mesmo artista (não se esqueça de referenciá-lo). Em seguida, responda às seguintes questões:

1. Quais foram os aspetos da VIDA de Gustave Eiffel que considerou mais relevantes para a compreensão da sua obra? Fundamente a sua resposta.

2. Considera que a obra de Gustave Eiffel reflete o CONTEXTO DA ÉPOCA em que este viveu? Porquê?

3. Caraterize a OBRA de Gustave Eiffel.

4. Das obras apresentadas, selecione aquela de que GOSTOU MAIS e aquela de que GOSTOU MENOS. Fundamente a sua escolha.

5. No(s) site(s) consultado(s), identifique as principais dificuldades encontradas na obtenção da informação necessária para responder às perguntas formuladas.

a) Navegação /consulta do(s) site(s); b) Compreensão do tipo de linguagem (conceitos, estrutura,

organização, etc.); c) Escolha da informação mais relevante; d) Sintetizar a informação recolhida; e)

Domínio de línguas estrangeiras; f) Outra. Indique qual?

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Categoria – A vida do artista

Categorias Descritores (adapt.)

FOR Formação Referências à formação académica, viagens e encontros que tenham influenciado a obra

FAM Família Referências às condições económico-financeiras, sociais e culturais da família que permitiram a construção da personalidade do artista

PRO Profissão Referências a factos, situações, contratos, encomendas de obra que tenham influenciado o artista

INO Inovação Referências a elementos, técnicas e processos inovadores da criação artística

VAG Vagos Enunciados que apresentam um discurso pouco claro, difuso, vago, ou que não correspondem ao que foi pedido

NR Não

responde

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Categoria – O contexto histórico

Categorias Descritores (adapt.)

CON Contexto Referências a situações, datas, acontecimentos…

ECO Economia Referências a matérias-primas, processos produtivos, laborais e outros fenómenos desta natureza

CUL Cultura Referências a crenças, correntes de pensamento, doutrinas ou ideologias

EST Estilo Todos os enunciados que refiram os elementos caraterizadores do estilo (materiais, cores, espaço, técnicas…)

VAG Vagos Enunciados que apresentam um discurso pouco claro, vago, ou que não correspondam ao que foi pedido

NR Não

responde

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Categoria – As caraterísticas da Obra

Categorias Descritores (adapt.)

MAT Materiais Referências às matérias-primas predominantes, apresentando, ou não, exemplos de obras

INO Inovação Referências a elementos, técnicas inovadoras que tenham surgido na obra, apresentando ou não exemplos de obras

CUL Cultural Referências a crenças, correntes de pensamento, doutrinas… e/ou que respondam aos desafios de uma nova situação económica, social, espacial, apresentando, ou não, exemplos de obras

EST Estilo Referências a elementos definidores do estilo que caraterize a obra (cores, espaço, técnicas…), apresentando, ou não, exemplos de obras

VAG Vagos Enunciados que apresentam um discurso pouco claro, vago, ou que não correspondem ao que foi pedido

NR Não

responde

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Categoria – A apreciação estética das obras (Leontiev, 2000, adaptação)

Categorias Descritores (adapt.)

EXP Expressão Expressão de sentimentos, emoções vivenciadas; Impacto da obra no sujeito; Distância (ou não) entre aquilo que é sentido e o que é partilhado

NAR Narração Descrição da obra, o seu processo de criação, e ou da contemplação da mesma; Focalização fragmentada ou meramente enumerativa; ‘história’ que o sujeito cria a partir de elementos por si considerados como relevantes, e ou suficientes

ANA Análise Reflexões sobre aspetos específicos da obra, e ou focalizando algumas das suas dimensões formais, estilo, escola…

INT Interpretativa Relações entre as ideias, crenças, sentimentos e emoções, e o quotidiano pessoal, profissional ou social do artista; Interpretação de conceitos, metáforas e símbolos presentes na obra.

CON Contextual Enquadramento da obra no seu contexto cultural, histórico, profissional e artístico, explicitando os modos como a historicidade (pessoal, grupal, social) determinaram a obra

VAG Vagos Enunciados que apresentam um discurso pouco claro, vago, ou que não correspondem ao que foi pedido

NR Não responde

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Análise e Discussão dos Resultados – A vida do artista

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Análise e Discussão dos Resultados – A vida do artista

A informação disponibilizada pelo site dava mais ênfase a um ou outro aspeto da vida

pessoal e profissional do artista

O site indicado foi a única fonte utilizada por (quase) todos os alunos, tendo no

entanto, sido focalizados mais uns que outros aspetos

Nas respostas produzidas começa a ser percetível a influência de certas conceções /

juízos de valor sobre o que é uma obra de arte e o que é ser artista

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Análise e Discussão dos Resultados – O contexto histórico

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Análise e Discussão dos Resultados – O contexto histórico

Sobressai o nº de registos sobre situações, datas ou acontecimentos que permitem fazer

a contextualização das respetivas obras

Referências aos processos produtivos, laborais e económicos (Eiffel)

Eiffel olhado mais como um engenheiro ligado à construção de obras públicas, onde o

ferro assume um lugar de destaque, e menos como um artista na conceção tradicional

(senso comum) da definição

As categorias cultura (CUL) e estilo (EST) quase não têm expressão (Eiffel)

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Análise e Discussão dos Resultados – As caraterísticas da Obra

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Análise e Discussão dos Resultados – As caraterísticas da Obra

Subjaz a presença de algumas ideias tácitas por parte dos alunos, nomeadamente no

que concerne à ideia ou conceito de artista (Eiffel)

Diminuta valorização de técnicas inovadoras exceto com Gauguin onde é valorizada a

presença de novos temas, cores e técnicas de pintar (ex: sintetismo)

O facto de os três artistas serem contemporâneos de um período marcado por

profundas convulsões políticas, económicas, sociais, culturais, ideológicas e técnicas

(Revolução Industrial), não esteve visível na caraterização das respetivas obras, exceto

com Eiffel

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Análise e Discussão dos Resultados – A apreciação estética das obras

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GostaramMais

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Análise e Discussão dos Resultados – A apreciação estética das obras

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Ocorreu um ‘diálogo’ que fez despertar nos alunos estímulos e sentimentos, ideias e emoções, a reconstituição estética, técnica e história sob as quais a obra foi concebida e concretizada

Quanto à distribuição das ocorrências pelas restantes categorias, verifica-se um maior número de enunciados produzidos relativos às obras mais apreciadas.

É visível uma maior dificuldade na construção de enunciados analíticos, interpretativos… quanto às obras não eleitas, que pode derivar de um menor diálogo com a obra e o seu autor

A categoria expressão (EXP) (sentimentos, as emoções) destaca-se largamente das demais categorias, tanto no que respeita às obras mais apreciadas como para as obras menos apreciadas

Análise e Discussão dos Resultados – A apreciação estética das obras (cont.)

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A apreciação estética é sustentada com argumentos sobre as dimensões formais, estilo ou escola (ANA), o que por sua vez permitiu a presença de enunciados interpretativos (INT)

Em Gauguin e em Rodin, o diálogo do fruidor com as suas obras é um pouco mais profundo, tentando os alunos com os seus enunciados desmontar a «gramática» da linguagem artística utilizada pelos artistas nas suas obras

Essa linguagem artística em Eiffel é apresentada como sendo possuidora de um vocabulário não tão rico

Não raras vezes, o aluno detém-se na interpretação de conceitos, metáforas e símbolos presentes na obra

Conclusões (1)

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A vida do artista e a compreensão da Obra:

Os alunos percecionaram com clareza certos aspetos da vida dos artistas considerados relevantes para a compreensão das respetivas obras (contexto socioeconómico e cultural, à sua formação e experiência, aos círculos culturais em que se moveram, os clientes, das suas obras, amigos), apresentando uma argumentação explicativa coerente e plausível (variável).

Todas as categorias foram cobertas pelos raciocínios produzidos, embora com uma distribuição de ocorrências muito desigual.

No caso da inovação (INO), verificámos que os alunos a referiram preferencialmente em Eiffel (engenharia/arquitetura) e em Rodin, (escultura), dado que as caraterísticas materiais das obras lhes permitem uma maior evidência.

O aspeto familiar (FAM) surge como não muito marcante para a compreensão das obras.

Conclusões (2)

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Contextualização histórica do artista e a compreensão da obra:

Os enunciados produzidos cobriram todas as categorias por nós utilizadas, embora com uma distribuição algo desigual.

Os alunos souberam mobilizar conhecimentos do contexto histórico adquiridos noutras situações de aprendizagem, não se limitando à informação disponibilizada no site consultado.

O facto de a educação artística destes alunos ainda não estar suficientemente consolidada, pode enformar a tendência de convocar conhecimentos históricos e biográficos sobre Eiffel (Revolução Industrial), esquecendo a sua natureza artística e estética.

Em geral, os alunos compreenderam as obras artísticas como testemunho do seu tempo histórico, evidenciando o desenvolvimento de uma das competências gerais expressas no programa da disciplina de História da Cultura e das Artes.

Conclusões (3)

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Caraterização da Obra:

A capacidade de selecionar e organizar a informação disponibilizada e transformá-la em conhecimento mobilizável, evidencia-se na generalidade do conjunto de enunciados produzidos pelos alunos nesta dimensão.

De muitos enunciados produzidos emerge a questão da ‘natureza’ das respetivas obras em estudo, continuando a obra de Eiffel a ser vista predominantemente pelo lado dos materiais (MAT) empregues, e não tanto pelo estilo (EST) que a carateriza.

Apreciação estética das obras dos artistas :

Os enunciados produzidos expressam os sentimentos e emoções vivenciadas, descrevem o impacto exercido pela obra no sujeito fruidor, e apresentam julgamentos alicerçados numa organização discursiva coerente e com uma consistência interna.

Conclusões (4)

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Nos enunciados produzidos sobressai, de uma forma geral, uma boa capacidade de leitura e análise das obras escolhidas, de interpretação da sua composição formal, do tema desenvolvido e dos significados patentes.

Sobressai também que para essa leitura da obra de arte, os alunos foram capazes de proceder a um estudo efetivo da obra, procurando informação sobre o artista, o enquadramento da mesma no respetivo contexto histórico, social e cultural em que foi produzida, situando-a no tempo e no espaço.

Destaca-se também a capacidade evidenciada de apreensão da linguagem própria de cada artista, realçando determinados aspetos estéticos, os significados encontrados ou sentidos sugeridos pela obra.

Reflexões finais (1)

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Os alunos conseguem produzir enunciados coerentes e sustentados não se ficando pelo movimento de ‘copy & past’, quando confrontados com questões que impliquem a produção de um discurso argumentativo e explicativo.

A Web assume-se como uma ferramenta de um potencial enorme no que respeita à possibilidade de fruição estética de muitas obras, às quais, de outra forma, não teríamos acesso, independentemente da distância a que se encontram.

A Web pode assumir-se como uma ferramenta de trabalho preciosa na sala de aula de História da cultura e das Artes, possibilitando o desenvolvimento de muitas das competências expressas no respetivo programa.

Os alunos apontaram a «escolha da informação mais relevante» e «sintetizar a informação recolhida» como as principais dificuldades encontradas para responder às perguntas colocadas.

Reflexões finais (2)

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A compreensão da arte, suas linguagens e processos de criação pode ser despoletada com a implementação de situações de aprendizagem que estimulem o desenvolvimento do pensamento crítico, reflexivo e de fruição estética.