Um “Negócio” chamado Educação · Assim que me formei, em Ciências Contábeis, meu espírito...

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1 Um “Negócio” chamado Educação.

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Um “Negócio” chamado Educação.

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Sumário O início de um sonho .......................... 3 A primeira grande decepção ............... 5

Iniciando a carreira docente ................ 7 Descobrindo a Gestão Acadêmica .... 10 Conhecendo os bastidores, a hora da verdade 13

Ensino de qualidade a preço baixo e resultado positivo, realidade ou engodo? ........................ 16 Qual é a saída para se ofertar um ensino de qualidade para as diversas classes sociais? ............... 19 “Pato não anda com Urubu” ............. 24

Sobre o Autor: .................................. 29

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O início de um sonho

Bem, sou do tempo em que o ensino de qualidade era

oferecido pelo Estado, muitas vezes as escolas particulares

eram procuradas por alunos que não progrediam no ensino

público, seja por desempenho ou por indisciplina, havia até um

termo usado naquela época, que definia a atuação de algumas

escolas particulares, “PPP” (Papai Pagou Passou).

Naquele tempo o acesso ao Ensino Superior era muito

difícil, tinha até vestibular de verdade, com mais de um

candidato por vaga e tudo. Assim sendo, ter um diploma de

Curso Superior era privilégio de poucos e custava muito caro.

Sendo eu um dos oito filhos de um operário (sete

biológicos e um adotivo) somente consegui ingressar na

faculdade pela minha teimosia (herança de meu pai, diga-se de

passagem).

Digo teimosia, pois, o sucesso no vestibular se deu em

virtude da qualidade do ensino público da época, o custeio das

mensalidades só foi possível graças ao Crédito Educativo

(programa oferecido pelo Governo Federal) e a continuidade foi

graças à perseverança de um jovem que trabalhava de domingo

a domingo e tinha aulas de segunda a sábado.

Assim que me formei, em Ciências Contábeis, meu

espírito empreendedor falou mais alto e eu e mais dois colegas

resolvemos montar um Escritório Contábil. Dois de nós ainda

com registro provisório no Conselho Regional de Contabilidade -

CRC (pois o diploma demorava muito para ser expedido) e o

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terceiro, como já tinha o CRC como técnico, com registro

definitivo, iniciamos o processo de abertura da empresa.

As dificuldades começaram imediatamente, primeiro

porque na ocasião a cidade, ainda pequena, tinha uma espécie

de “Cartel” onde os “Sete Grandes” sufocavam os iniciantes,

pois se cobrássemos o mesmo preço deles os clientes não iriam

arriscar confiar suas contas a iniciantes se poderiam, pelo

mesmo preço, ter os serviços dos “Grandes Escritórios”. E, se

cobrássemos menos, os Grandes nos denunciavam ao

Conselho por aviltamento de honorários.

Isso na verdade era apenas um problema comercial que,

fatalmente, aprenderíamos a resolver com um pouco de

experiência de mercado.

Diante dessa situação optamos pela busca do diferencial,

ou seja, já que tínhamos que competir com os grandes

deveríamos ter ferramentas que nos tornassem diferentes e que

fizessem com que fossemos atrativos aos olhos dos clientes.

Optamos, então, pela inovação tecnológica, em uma era

em que a Contabilidade era feita manualmente, fomos um dos

primeiros a implantar a informatização nos processos contábeis

em escritórios da cidade.

Isso fez com que prestássemos serviços, inclusive para

alguns escritórios mais antigos, e conquistássemos a confiança

dos profissionais da contabilidade mais experientes e dos

clientes.

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A primeira grande decepção

Não sei se por coincidência ou por forças ocultas, logo

nos primeiros meses de atividade recebemos a visita de uma

fiscal do Instituto Nacional do Seguro Social - INSS, para

fiscalizar nosso escritório. Confesso que atendemos a ilustre

Agente Fiscal de Rendas com muita cordialidade e demos a ela

toda a atenção possível.

O que, embora tendo sido muito bem recebido pela

referida autoridade, não evitou o nosso primeiro Auto de

Infração e Imposição de Multa. Acontece que, pela maneira mais

dolorosa, descobrimos que entre o Mundo Acadêmico e o

Mundo Empresarial (para não dizer Mundo Real) existe um

abismo e que muitas coisas não se aprendem nos bancos das

faculdades.

Bem, juntando o meu lado empreendedor e a

perseverança, já mencionados, certamente eu não jogaria a

toalha por tão pouco. Continuei buscando aprendizado, desta

vez com o Pai de um colega do tempo de Ginásio (termo

utilizado na época para o período compreendido entre o sexto e

o nono ano do Ensino Fundamental de hoje), que era, e ainda é,

proprietário de um escritório Contábil, que embora não fizesse

parte do G7 (Grupos dos Sete Grandes opressores) tinha uma

ótima reputação junto à comunidade e principalmente ao fisco.

Até hoje sou muito grato ao meu amigo Sr. Leonardo

Machado pela ajuda, incondicional, que me deu no início da

minha carreira. A partir daí, procurava sempre participar de

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cursos, palestras, seminários, etc., principalmente os oferecidos

pelo meu Conselho de Classe.

Um pouco mais maduro e com certa experiência

profissional, busquei então minha primeira Pós-Graduação, uma

Especialização em Direito Tributário, o que me faria ter um

diferencial em relação à maioria dos concorrentes, uma vez que

muitos escritórios de contabilidade (inclusive nos dias de hoje)

atuavam como “Despachantes Tributários”, ou seja, se limitavam

a apurar e preencher guias para recolhimento dos tributos.

Atribuo à esta especialização a condição de diferencial,

pois a partir desse momento passei a oferecer aos meus

clientes serviços de consultoria e acessória nas questões

tributárias, tanto nas questões corretivas como nas preventivas,

ou seja, no planejamento tributário.

Isso, com certeza, fazia uma grande diferença entre os

serviços prestados pelo meu escritório e os escritórios

tradicionais, pois dava ao meu cliente a oportunidade de buscar

a melhor forma de tributação, sem custo adicional.

Este foi o meu primeiro contato com Mestres e Doutores,

outra desilusão, mas confesso que neste caso a culpa foi minha,

pois eu imaginava que um Mestre ou Doutor em uma

determinada área sabia tudo sobre tal assunto. O que

definitivamente não é verdade, os Mestre e Doutores são

pessoas comuns que, no entanto, possuem embasamento

teórico o suficiente para interpretar e, via de regra, solucionar

algumas questões com maior facilidade.

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Iniciando a carreira docente

Coincidentemente, nesse período reencontrei um colega

de faculdade que, quando eu me formei em Contábeis, havia se

formado em Economia e fazíamos parte da comissão de

formatura. Ele me disse que depois da Economia havia feito

Contábeis, que tinha um escritório e também lecionava

Contabilidade, mas que estava passando por algumas

dificuldades (as mesmas que eu enfrentei no início da minha

carreira).

Como eu tinha uma sala vaga em meu escritório e por

conhecer bem as dificuldades ofereci a ele ajuda e ele poderia

me ajudar de alguma forma. Obviamente ele aceitou e

começamos a parceria. Não demorou muito tempo para que eu

me lembrasse da distância entre a teoria e a prática.

Acontece que, depois de tudo que eu havia passado

comecei a tratar meus funcionários de forma muito didática,

explicando a eles o porquê das coisas, as causas e

conseqüências de suas ações, para eles e para os clientes, e

assim por diante. Isso fez com que meus funcionários

estivessem mais preparados que o meu colega, Economista,

Contador e Professor de Contabilidade.

Foi então que eu pensei: não posso ficar parado, vendo

que os professores são teóricos e que estão formando

“profissionais” teóricos, preciso contribuir de alguma forma.

Fui a um colégio da cidade que oferecia o curso Técnico

em Contabilidade e me oferecei para lecionar, para minha

surpresa fui contratado de imediato. Comecei a lecionar, mas

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uma coisa me incomodou. Minha disciplina acontecia uma vez

por semana e ao longo do bimestre eu tinha que aplicar 03 (três)

provas. Ou seja, em dois meses eu tinha oito encontros (se não

tivéssemos nenhum feriado) e em três deles eu aplicaria prova,

se considerarmos que é pedagogicamente correto após a

aplicação da prova uma correção dela juntamente com os

alunos, para que estes possam entender onde erraram, quase

não sobrava tempo para se trabalhar os conteúdos.

Resolvi então questionar a coordenação do curso, a

coordenadora, muito mais jovem do que eu, talvez tenha ficado

constrangida em me responder de forma direta, me disse que

também já havia questionado a Direção, mas o método havia

sido mantido. Perguntei a ela se eu poderia falar com o Diretor e

assim o fiz, expus a ele meus argumentos e ele, muito

objetivamente, me disse: os pais querem assim.

Diante disso pensei, não estou aqui pelos pais ou pelo

Diretor, estou aqui porque pretendo contribuir para a formação

profissional destes jovens. Ao final do semestre arrumei uma

desculpa e me desliguei do colégio.

Mas ainda me sentia muito incomodado em não poder

fazer algo que mudasse, ainda que modestamente, o cenário da

educação. Ao concluir minha Pós-Graduação decidi ingressar na

docência do ensino superior, enviei alguns currículos e não

muito tempo depois fui chamado para uma entrevista.

Tive o prazer de conhecer um Coordenador de Curso,

que para mim é uma referência até hoje, que pensava como eu,

em relação à educação. Comecei então minha carreira de

docente do ensino superior, sempre preocupado com a

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preparação das aulas, sempre buscando levar aos alunos o que

acontecia no dia-a-dia da minha empresa, compartilhando com

eles problemas e soluções relacionados aos conteúdos da

disciplina que eu lecionava (Planejamento Tributário).

Ao final daquele ano fui o professor homenageado da

turma, o que meu deu muita satisfação e me fez pensar que eu

era um bom professor. No início do ano seguinte, aquele

Coordenador, estava trabalhando em outra Instituição, em um

outro município, e me convidou a lecionar Contabilidade para

uma turma de Administração.

A proposta era lecionar a disciplina com um enfoque

diferente, uma vez que a mesma disciplina seria ministrada por

um Professor Mestre em Contabilidade, na turma de Ciências

Contábeis. Trabalhei ao longo do ano com várias estratégias de

ensino, inclusive algumas lúdicas, o que fez com que os alunos

gostassem da disciplina, o que não é muito comum no curso de

Administração, mas uma vez me achei um bom professor.

Ao final do ano resolvi me afastar da Instituição, pois no

início do ano seguinte iniciaria meu Mestrado, embora o meu

Coordenador tenha me pedido para continuar, eu lhe disse que

não gostaria de comprometer o meu trabalho feito até ali, pois

sabia que o Mestrado iria exigir uma dedicação muito grande e

eu tinha as aulas na minha cidade e ainda atuava no mercado

como contador.

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Descobrindo a Gestão Acadêmica

A decisão de ingressar em um Programa de Mestrado

Acadêmico se deu pelo meu interesse em progredir na carreira

acadêmica, uma vez que a exigência por tal titulação começava

a se mostrar latente.

No Mestrado, além do aprofundamento técnico na minha

área de atuação profissional (a Contabilidade), tive a

oportunidade de aprender um pouco mais sobre a atuação

acadêmica, em particular a de docente.

Um dos créditos obrigatórios era a disciplina de Didática

do Ensino da Contabilidade, onde a troca de experiência entre

os alunos (muitos já lecionando) e o docente da disciplina, muito

agregou à minha formação como docente.

Algum tempo depois, quando já havia concluído os

créditos do Mestrado e estava preparando minha dissertação, fui

a um evento sobre educação e encontrei o Diretor daquela

faculdade onde eu lecionei Contabilidade para a turma de

Administração, e a filha dele tinha sido minha aluna.

Ele me abordou e me perguntou sobre o Mestrado, eu lhe

disse que estava finalizando, que faltava apenas a dissertação e

ele então me convidou para assumir a Coordenação do Curso

de Ciências Contábeis em uma faculdade do Grupo, no interior

de São Paulo.

Fiquei muito feliz com o convite e, principalmente, pelo

reconhecimento do meu trabalho e aceitei. Ai veio a minha

segunda grande decepção, não pela função ou pela Instituição,

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mas porque naquele momento descobri que eu não era um bom

professor!

Eu explico, quando eu mencionei que me achava um bom

professor porque me preocupava em preparar as aulas, em

compartilhar experiências, em levar estratégias que

conquistassem o interesse dos alunos, na verdade eu estava

sendo um professor bem intencionado, ético e honesto para

comigo, para com a Instituição e para com os alunos e a

sociedade.

Mas quando assumi a Coordenação, e só quando assumi

a Coordenação do Curso, descobri que existia uma coisa

chamada PPC – Projeto Pedagógico do Curso e que o PPC

deve ser o “Norte” de todas as disciplinas, pois nele

encontramos todas as Diretrizes Institucionais, profissionais e de

perfil do egresso.

O contato com o PPC, consequentemente, me levou a

conhecer outros instrumentos fundamentais para a gestão

acadêmica, como o Projeto Pedagógico Institucional (PPI) e o

Plano de Desenvolvimento Institucional (PDI), este último

representa o Planejamento Estratégico das Instituições de

Ensino Superior.

Estes três instrumentos da gestão acadêmica

representam as diretrizes educacionais, administrativas e de

investimentos das Instituições de Ensino Superior. Sendo assim,

o planejamento das aulas, efetuado pelo docente, jamais pode

ignorar tais informações e diretrizes.

Ou seja, por mais que eu me esforçasse, minha disciplina

não estava conectada com as diretrizes do curso e, sendo

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assim, eu não desenvolveria em meus alunos as habilidades e

competências previstas no PPC e sim as idealizadas por mim, o

que não quer dizer que o aluno não tenha tido ganhos, mas

acho muita pretensão de qualquer docente achar que seus

ideais estão acima dos da Instituição.

Na coordenação de curso procurei fazer um trabalho de

conscientização dos docentes no sentido de que o PPC seria

sempre o nosso Norte e que tudo o que pudéssemos fazer além

seria um diferencial. Claro que tive resistência, num primeiro

momento, pois os docentes encontravam-se em uma “zona de

conforto”, ou seja, praticavam a lei do mínimo esforço,

ministrando apenas e tão somente os conteúdos que julgavam

importantes (do seu próprio ponte de vista), mas com pequenos

ajustes consegui montar um time de docentes muito

comprometidos com o PPC e com a Instituição.

Passando a participarem de reuniões de colegiado para

discussão, atualização e melhoria do PPC, criação de

programas extra-curriculares com os alunos (visitas técnicas,

atividades lúdicas, esportivas, etc.)

Dessa forma, os docentes passavam inclusive a se

preocuparem com as questões de orçamento e resultado

financeiro do curso.

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Conhecendo os bastidores, a hora da verdade

Mais uma vez o trabalho sério e comprometido me abriu

portas e uma nova oportunidade surgiu, o Grupo começava a

crescer e adquirir outras Unidades. Em uma dessas aquisições

eu fui o primeiro Diretor de Campus contratado, pois até então

os Diretores eram os próprios Mantenedores.

Começava então uma nova fase, uma experiência

riquíssima vivida na companhia de alguns companheiros que até

hoje são meus parceiros na luta pela educação séria e ética.

O momento do mercado era muito interessante, algumas

instituições crescendo de maneira exponencial, transformando-

se em Companhia de Capital aberto, Governança Corporativa,

ações na Bolsa de Valores, etc. Começava a era do “Negócio

Educação”.

Ironia do destino, lembram-se daquele abismo entre o

mundo acadêmico e o mundo dos negócios, pois bem, ela agora

começava a aparecer também para os acadêmicos. Muitas das

Instituições de Ensino Superior - IES eram, ou ainda são,

geridas por Educadores, que muitas vezes não entendem nada

de gestão, e/ou por Gestores que não sabem nada de

educação.

Embora alguns desses Gestores fossem mais arrojados e

corajosos, a ponto de irem a público e dizer que “vender

educação é como que vender sanduíche”(fonte: revista Exame,

edição de 24/07/2007), na verdade não é bem assim. O negócio

educação é um negócio como outro qualquer, que precisa de

resultado econômico/financeiro sim, mas a diferença é que

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quando você vende um sanduíche que dá prejuízo, você

substitui por outro, ou simplesmente deixa de vendê-lo.

Na educação a coisa é diferente, primeiro porque existem

órgãos reguladores e depois porque o maior e principal

indicador de qualidade do “produto educação” é o mercado e

esse indicador é de longo prazo.

Algumas instituições estão gerindo seus negócios com

uma visão de curto prazo, reduzindo custos, a qualquer custo,

em detrimento da qualidade e isso não se sustenta à longo

prazo.

Quando me deparei com esta situação comecei a perder

o encanto, pois meus valores e princípios sobre a educação

começavam a perder força diante de algumas ações que eu

tinha que tomar por dever de ofício.

Muitas vezes ações ou propostas de ações que seriam

muito interessantes para o processo Ensino/Aprendizgem,

dentro dos cursos, eram barrados pelo Orçamento, por simples

falta de previsão orçamentária ou pela falta da visão da relação

Custo X Benefício, analisando-se apenas o Custo da Operação.

Da mesma forma, algumas decisões sobre o quadro

docente, seja na redução, aumento ou adequação, muitas vezes

eram analisadas muito mais do ponto de vista

econômico/financeiros do que do ponto de vista

acadêmico/profissional.

Os discentes, que deveriam ser vistos como “pedra bruta”

a ser lapidada, ou como “insumos” num processo onde o

produto final seria um profissional qualificado (seja em qual área

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for), eram tratados como clientes, mas o pior, muitas vezes

como aquele cliente que “sempre tem razão”.

Ora o papel das IES não é “agradar o cliente”, é o de

oferecer a ele o que de mais precioso se pode dar a um cliente o

conhecimento e dar ainda condições dele (cliente) dar

trabalhabilidade a esse conhecimento.

Felizmente não era só eu que pensava assim e em um

curto espaço de tempo eu e mais dois grandes amigos

deixamos nossos cargos e decidimos continuar trabalhando

para a educação, mas de outras formas.

Retornei então para minha cidade e montei um pequeno

negócio para oferecer cursos, capacitações e outros eventos

voltados à educação continuada, mas com uma proposta de

excelência.

Neste período recebei alguns convites para Coordenação

e até mesmo para a Direção de algumas instituições locais,

pelas quais tenho o maior respeito, mas resolvi não aceitar, pois

sabia que não seria diferente do que eu vivera até ali na

educação superior.

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Ensino de qualidade a preço baixo e resultado positivo, realidade ou engodo?

Eis que surge o “Salvador da Pátria”, um Grupo com uma

proposta pedagógica diferenciada, um método de ensino próprio

e que talvez pudesse ser a IES dos meus sonhos em minha

cidade. Cidadão de sorte que sou, fui convidado a participar de

um processo seletivo para Coordenador Acadêmico da Unidade

local.

Participei do processo, com mais seis ou sete candidatos

e fui contratado, um mês depois fui à matriz participar de um

processo de integração e voltei promovido a Coordenador

Acadêmico de um pólo de quatro municípios. As coisas

caminhavam, de vento em popa, reforcei o time de

Coordenadores e de Docentes convidando pessoas do meu

relacionamento e com os mesmos valores educacionais.

Mas ninguém está imune ao efeito “Negócio Educação” e

de repente o mercado é surpreendido por uma das maiores

transações do ramo educacional no país. Do ponto de vista

mercadológico isso é fantástico. No entanto, quando um Grupo

grande adquire outro Grupo tão grande quanto, algumas coisas

devem ser levadas em consideração.

Existem os valores, as missões, os objetivos e,

fundamentalmente, a cultura de cada uma das Instituições

envolvidas. Algum tempo se passou sem que tivéssemos uma

visão clara do novo cenário, até que um dia a Alta Direção

resolveu promover um evento acadêmico de dimensão nacional

e reuniu todos os coordenadores acadêmicos e coordenadores

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de curso para a apresentação do novo modelo acadêmico

corporativo.

A primeira reunião aconteceu entre a Direção Acadêmica

Corporativa e os Coordenadores Acadêmicos e nos foi

apresentada uma proposta de utilização das melhores práticas

das duas Instituições, que na verdade passavam a compor uma

única IES.

Confesso que fui reticente num primeiro momento, mas

não só sai da reunião convencido como fui um entusiasta do

processo, motivando meus coordenadores de curso, docentes,

colaboradores e discentes.

Acontece que, mais uma vez, descobri que entre a Teoria

e a Prática existe um longo caminho. Toda a proposta

apresentada era muito eficiente, no papel, pois na prática, as

tais boas práticas não existiam e deveriam ser testadas e,

portanto, não poderíamos afirmar que se tratavam das

melhores práticas.

Ou seja, na verdade estávamos caminhando para a

redução de custos, a qualquer custo, e fatalmente em

detrimento da qualidade de um modelo eficiente, já testado e

aprovado, puro engodo.

Por crer que os meus ideais não podem e não devem

estar acima dos ideais institucionais, obviamente me desliguei

da IES, pela qual continuo tendo o maior respeito.

Agora, acho que vale uma reflexão, o site do Terra, no dia

21 de junho de 2010, publicou notícia que o valor da

mensalidade média das faculdades particulares caiu 31% nos

últimos 10 anos, sem considerar a inflação do período, e que o

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número de IES passou de 905 para 2.016. (Fonte: http://noticias.terra.com.br/educacao/noticias/0,,OI4510785-EI8266,00.html)

Vamos ser francos, qualidade presume investimento e

investimento traz resultado de médio e longo prazo, quem busca

resultado de curto prazo não prioriza investimento e sem

investimento não atingirá qualidade, portanto, seria no mínimo

razoável que os Dirigentes e Gestores da Educação se

posicionassem de forma clara:

Se forem vender educação, entreguem educação, agora

se forem entregar sanduíches assumam que estão vendendo

sanduíches.

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Qual é a saída para se ofertar um ensino de qualidade para as diversas classes sociais?

Se eu resolvesse vender automóveis e minha opção

fosse vender automóveis de qualidade poderia vender desde

modelos populares, que hoje vem com ar condicionado, direção

hidráulica, trio elétrico, além de um bom prazo de garantia, até

uma Ferrari, que dispensa comentários.

Qual seria então a minha opção? Isso dependeria de

muitas variáveis, ou seja, meu público alvo, o investimento

desejado, o retorno desejado sobre o investimento e assim por

diante.

Com a Educação não é diferente, preciso definir meus

objetivos de negócio para depois decidir qual o modelo de

educação que devo ofertar. Mas notem, ao fazer minha opção

devo ser transparente no momento da oferta, dizendo ao meu

“consumidor” exatamente que tipo de “produto” ele está

adquirindo.

Isso se deve por muitos motivos: respeito ao consumidor,

ética, responsabilidade social, mas principalmente por se tratar

da Educação.

Se considerarmos que a Educação transcende o ensino e

que, desde sempre, o melhor modelo de educação é o do

exemplo e que muitas IES tem em suas Missões o ensino

responsável, focado no projeto de vida dos alunos, etc.

podemos presumir que um ensino de qualidade começa com a

relação honesta entre a IES e os alunos.

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Pensando que o conceito de qualidade é subjetivo e que,

em se tratando de qualidade de serviços prestados, estaria

relacionado ao grau de satisfação do cliente no atendimento de

suas expectativas, poderíamos dizer que um ensino de

qualidade é aquele que atende às expectativas dos clientes.

Parece simples, não? Pois não é tão simples assim. Se

nos perguntarmos quem são os clientes das IES, poderemos ter

algumas surpresas se pensarmos apenas nos alunos.

Pois, em se tratando de ensino superior e considerando

que os Coordenadores são gestores e fornecedores, podemos

ter como clientes internos: os alunos, os professores, os

colaboradores e a Direção da IES. Mas não podemos nos

esquecer que também temos os clientes externos: o MEC

(Ministério da Educação, órgão regulador da educação superior

no País), o mercado de trabalho (principal indicador de

qualidade do meu ponto de vista), os órgãos de classe (OAB,

CRC, CRM, CREA, etc.) e a sociedade como um todo.

É preciso então que as IES analisem minuciosamente

este cenário e definam exatamente qual ou quais desses

clientes ela pretende satisfazer, qual o investimento necessário

para se atingir este objetivo, qual o retorno desejado sobre tal

investimento, para depois definir o “Preço de Venda” de seu

produto e o público alvo a ser atingido.

Da mesma forma que existem consumidores dispostos a

adquirir um carro popular e outros querem uma Ferrari, existem

alunos que estão à procura da excelência, enquanto outros

procuram uma formação que lhes permita ingressar ou progredir

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na carreira profissional e até aqueles que buscam apenas um

diploma de curso superior.

Vale ressaltar que hoje o consumidor está mais exigente

e mesmo aquele que deseja adquirir um automóvel popular

escolhe o que tem mais opcionais e que oferece a melhor

relação Custo X Benefício.

Entramos enfim na questão da Gestão, pois para se

decidir sobre tais variáveis é fundamental um Planejamento

Estratégico. Voltamos ao velho problema do Mundo Acadêmico

e do Mundo Empresarial.

Hoje encontramos diversas formas de constituições de

Pessoas Jurídicas atuando na educação. Temos as Instituições

Públicas (incluindo Autarquias) Federais, Estaduais, e

Municipais; temos Sociedades Anônimas (de Capital aberto e/ou

fechado), Sociedades Limitadas, Fundações e Associações.

Nesse Universo Jurídico encontramos muitos gestores

que são oriundos do meio acadêmico e que chegaram à gestão

por conseqüência de suas atuações à frente de instituições,

como mantenedores, e que não tem experiência no que tange a

gestão empresarial.

Algumas IES, para tentar solucionar este desvio

funcional, resolveram transferir estas pessoas para um

Conselho de Administração e profissionalizar a gestão da

empresa buscando, e contratando, no mercado grandes

gestores, os chamados CEO (Chief Executive Officer).

Esses ilustres CEO realmente conhecem muito sobre

Gestão, Planejamento Estratégico, BSC (balanced Scorecard),

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etc. Acontece que muitos deles não entendem nada de

Educação e estão tratando-a como um produto de prateleira.

Isso vem gerando alguns problemas na relação de

consumo entre as IES, os discentes, os docentes e até alguns

órgãos representativos de categoria como os sindicatos.

Mas tudo isso faz parte de um processo de evolução do

ensino superior do Brasil, que, diga-se de passagem, desde a

minha época de estudante até hoje muito evoluiu. Prova disso é

o número de pessoas que hoje tem acesso ao ensino superior

em nosso país.

Com este trabalho, não pretendo criticar um ou outro

modelo, nem tampouco tenho a pretensão de dar uma “receita

de bolo” para a melhor forma de gerir ou ofertar ensino superior

de qualidade. Minha proposta é a de provocar o leitor a uma

reflexão sobre o Negócio Educação.

Para isso devemos, de uma vez por todas, assumir que a

Educação é um negócio sim, e como tal deve ter resultados

econômico/financeiros positivos, a fim de garantir sua

perenidade.

Outra premissa básica é a que as grandes empresas, que

oferecem grandes produtos e obtêm grandes resultados,

possuem uma política séria de relacionamento com seus

clientes e com a sociedade.

Não podemos nos esquecer que a qualidade

(reconhecida pelos clientes) nos dá uma sustentabilidade de

longo prazo e os resultados financeiros nos fazem permanecer

vivos a curto prazo. Portanto, somente uma boa gestão

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empresarial poderá fazer com que tenhamos sucesso nesse

negócio chamado educação.

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“Pato não anda com Urubu” Um dia ouvi de um chefe uma frase que nunca mais me esqueci:

“pato não anda com urubu”. Sendo ele um médico veterinário,

acredito que sabia muito bem o que estava falando.

De lá pra cá muitas vezes me lembrei da tal frase quando

vivenciava ou simplesmente observava algumas situações em

que pessoas com valores similares se aproximavam e as de

valores diferentes se afastavam.

Não importa quem era pato ou quem era urubu, isso não faz a

menor diferença, o que importa é que sempre os patos

procuravam os patos e os urubus procuravam os urubus.

Se procurarmos definições sobre as duas aves acharemos

várias, encontrei estas que achei interessantes:

Urubus: Os urubus alimentam-se, principalmente, de carne de animais mortos. Porém, quando não encontram carniça (carne de animal morto), costumam caçar pequenos roedores, sapos e lagartos. As fêmeas costumam construir os ninhos no chão ou em arbustos secos e espinhosos, costumam voar alto, em círculos, para procurar o alimento. Para tanto, utilizam as correntes de ar quente, podem ser encontrados principalmente no continente americano, não possuem siringe (órgão vocal das aves), logo não podem cantar. Portanto, ao invés de cantar eles crocitam, uma fêmea costuma botar dois ovos de cada vez e como alimentam-se de carne em estado de putrefação, são extremamente importantes para o equilíbrio ecológico, pois evitam a disseminação de doenças, é uma ave de hábitos diurnos

Fonte: adaptado de http://www.suapesquisa.com/mundoanimal/urubu.htm

Patos: Origem, o tradicional pato branco, que encontramos nas quintas da Europa, tem origem na China continental, sendo conhecido como Pato de Pequim. Alimento de

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qualidade, na quinta, o pato é utilizado para a produção de carne e ovos. A carne de pato é muito apreciada, e a sua grande procura para fins culinários levou a que este animal fosse criado em cativeiro, por todo o mundo. Uma pata põe cerca de 100 ovos por ano, estes ovos também encontram muitos interessados, já que há quem os procure em detrimento dos ovos de galinha, que são menores. Hábitos, o pato, tal como o ganso, vive em regime de semi-liberdade, comendo tudo o que encontrar desde caracóis, até rações e ervas. Se na exploração houver um lago, ou passar um rio, os patos vão até lá, onde passam o dia alternando banhos com períodos de descanso ao sol. Reprodução, as patas chocam entre 6 e 10 ovos que vão eclodir 30 dias depois do início do choco. São mães excelentes, passando o tempo a contar e juntar os filhos. Longevidade, um pato pode viver cerca de 15 anos e pode pesar mais de 6 kg.

Fonte: adaptado de http://bicharada.net/animais/animais.php?aid=128

Analisando tais características fica fácil entender por que eles

não andam juntos, mas também fica claro que cada um tem sua

importância no contexto da biodiversidade.

O movimento no mundo acadêmico parece caminhar para a

confirmação da hipótese de que pato não anda mesmo com

urubu, ou seja, as IES que resistirem e continuarem apostando

na qualidade e na seriedade de seus projetos pedagógicos, na

valorização e qualificação constante dos docentes, ainda que

com resultados financeiros não tão expressivos (mas

consistentes à longo prazo), certamente formarão profissionais

qualificados, que terão uma boa aceitação pelo mercado e que

terão condições de, por meio da educação continuada, atingirem

posições de prestígio no mundo empresarial, seja como

empregado, profissional liberal ou como empregador.

A este fenômeno dou o nome de “Trabalhabilidade”, que

segundo o Prof. Peleias “é um neologismo e significa que as

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competências e habilidades do individuo deverão capacitá-lo a

obter trabalho nos ambientes em que atua”. Fonte: PELEIAS,

Ivan Ricardo. Quer ser um empreendedor de sucesso? Ou quer

viver sem patrão? Peça ajuda a um Contador. Boletim IOB:

temática contábil, São Paulo, n. 14, abr. 2006.

Já as IES que apostarem na “economia de escala” e utilização

das “melhores práticas”, redução de custos, a qualquer custo,

otimização dos resultados de curto prazo, continuarão

entregando ao mercado pessoas com um diploma de curso

superior, sem nenhum preparo. Mais do que isso, continuarão a

insistir na divulgação de campanhas sobre o alto grau de

empregabilidade de seus alunos (mesmo sabendo que os

alunos já estavam empregados quando ingressaram na IES e

que muitas vezes não atuam na área e sequer tiveram qualquer

tipo de evolução profissional ao longo do período do curso

superior).

Mais uma vez quero deixar claro que não faz a menor diferença

quem é pato ou quem é urubu, haja vista que cada um tem o

seu papel no cenário em que estão inseridos, o importante é que

tenham um posicionamento claro de qual lado estão.

Talvez estejamos caminhando para um cenário educacional

onde algumas pequenas lagoas serão povoadas por pequenos

“patos” e o céu será cortado pelo vôo de grandes “urubus”.

Se realmente isso se concretizar, espero que cada um cumpra o

seu papel.

Sendo assim, por acreditar que existe espaço tanto para um modelo quanto para outro, seria muita pretensão tentar desenhar um “modelo de gestão” para o negócio educação. No entanto, não posso me furtar a deixar minha contribuição, no

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sentido de refletirmos sobre algumas premissas básicas desse negócio. A primeira, e talvez a mais importante, é que a educação deva ser tratada como um negócio (salvo as situações em que realmente, e só nesses casos, trate-se de entidade de educação sem fins lucrativos); A segunda é que, em sendo um negócio, os gestores devam ser profissionais da gestão, mas que tenham um mínimo de conhecimento sobre a educação; A terceira é que, assim como em todo e qualquer negócio, a empresa nasce para dar resultados, ou seja, ter lucros. E, sendo assim, deve-se aplicar as regras de negócios, no que tangem o Orçamento Empresarial, sem que isso traga prejuízos à qualidade do produto final (a EDUCAÇÃO); A quarta é que os gestores acadêmicos, Coordenadores Acadêmicos, Coordenadores de Cursos, Diretores Acadêmicos e afins, devem participar ativamente da elaboração do Orçamento Empresarial, dando suporte ao departamento financeiro nas tomadas de decisão, principalmente nos casos de contenções de verbas; A quinta é que, assim como nas áreas administrativas, as questões acadêmicas devem ser delegadas a profissionais habilitados para tal, garantido-se assim a qualidade dos Projetos Pedagógicos; A sexta é que a definição da Missão, Visão e Objetivos Institucionais, devem ser feitas pela “Alta Direção” da Instituição e nortear o Planejamento Estratégico, ou Plano de Desenvolvimento Institucional- PDI. A sétima é que com base no PDI se estabeleça que faixa de público que se pretende atingir e, a partir daí, buscar uma formação de preço de venda compatível com o público alvo. A oitava, ainda com base no PDI, deve-se estabelecer o “mix” de produtos, ou seja, quais os cursos de graduação, pós-graduação, extensão universitária, etc. se pretende oferecer, para que, se possível, se crie centros de excelência nas áreas do saber em que se vai atuar; A nona, com auxílio do Departamento de Recursos Humanos, estabelecer um criterioso Plano de Carreira para todos os colaboradores e em especial para os docentes, com o objetivo de motivar a fidelização dos bons professores e remunerar justamente estes profissionais;

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Décima e última, criar indicadores de desempenho (financeiros e não financeiros) para avaliar, qualitativa e quantitativamente, nesta ordem de prioridade, os colaboradores e estabelecer um critério de premiação em função dos bons desempenhos. Sinceramente, acredito que essas dez premissas possam ser um primeiro passo para se estabelecer um modelo de gestão onde se busque extrair de uma IES os melhores resultados, tantos os Acadêmicos como os Econômicos/Financeiros. É Fato que a cultura empresarial deverá ser trabalhada de modo que todos os colaboradores da IES conheçam e pratiquem tais premissas, e é desejável ainda que elas sejam públicas e divulgadas amplamente para toda a sociedade.

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Sobre o Autor:

Paulo Roberto Galvão é Contador, Especialista em Direito

Tributário e Mestre em Ciências Contábeis, empresário da

educação, com experiência na docência do ensino superior,

coordenação de cursos, coordenação acadêmica e direção de

campus.