U Pensar antes de comprar é uma das formas de reduzir os ... · TUDO - BELO HORIZONTE, 10 A 7 DE...

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Miriam Gomes Chalfin REPÓRTER Você já parou para pensar quanto produz de lixo por dia? A resposta é 1,1 quilo em média. Multi- plique esse número pela população do Brasil, que é de quase 194 milhões de habitantes. A conta chega fácil aos 213 milhões de quilos de resíduos gerados diariamente no país. As- sustador, principalmente considerando-se que o consumo inconsciente é o grande vilão dessa história. A explicação é simples: quanto mais se consome, mais lixo se pro- duz. “Quando se pensa em resíduos, o principal ponto é reduzir a geração. Muito lixo poderia ser evitado na hora da compra“, atesta o engenheiro ambiental Henrique Ferreira Ribei- ro, da Ambiência Soluções Sustentáveis. Para isso, bastam ati- tudes simples, como não comprar por impulso, evitar produtos que geram muitos resíduos (como os que vêm em embala- gem de isopor e plástico), priorizar artigos duráveis e evitar os descartáveis, aproveitar ao máximo cada item e doar o que você não usa mais. Aliás, foi pensando nisso que Henrique criou no Face- book, no início deste ano, o grupo Desmaterialize- -se, que conta com 7,5 mil participantes. “É um gru- po fechado em que pesso- as doam algum material de que não precisam mais, evitando que ele se trans- forme em resíduo. É uma forma de dar vida nova aos objetos que não têm mais utilidade para você, de dar destino adequado para o que viraria lixo. Assim, o ciclo da sustentabilidade gira”, explica o engenhei- ro ambiental. E tem gente procurando e oferecendo de tudo: bonés, celula- res, malas, brinquedos, livros, apostilas, rádios, eletrodomésticos, mó- veis, roupas, bijuterias e até filhotes de gato e porquinho-da-índia. É na tecla do consumo consciente que o Insti- tuto Akatu bate incansa- velmente. “As pessoas precisam entender que qualquer ato de consumo impacta o meio ambiente, a economia e a sociedade. Por isso, devem procurar reduzir os impactos nega- tivos e melhorar os positi- vos”, defende o assessor de conteúdo técnico do Akatu, Estanislau Maria. A lição começa em saber que o ato de compra é a primeira etapa do proces- so de consumo, que vai terminar exatamente no descarte. Antes de partir para a ação, a pessoa pre- cisa planejar (por quê, o quê, de quem e como com- prar), saber como usar (aproveitar ao máximo, reduzindo o desperdício) e como descartar. Se o consumidor pensar em tudo isso e enca- rar o produto como resíduo, e não como lixo, vai, por exemplo, evitar a retirada de mais recursos da natureza. “Segundo a ONU, para colocar 1 quilo de bife na mesa, são gastos 15 mil litros de água na cadeia produtiva, desde a criação do bezerro, passando pelo abate, a limpeza e o trans- mais: por falta de planeja- mento na hora da compra, um terço dos alimentos perecíveis vai direto para o lixo. Ou seja, de cada U Pensar antes de comprar é uma das formas de reduzir os resíduos Consumo consciente SECO Embalagens de produtos de limpeza, latas de bebidas em alumínio, latas de alimentos em aço, papel, garrafas pet, embalagens de vidro, dentre outras embalagens ÚMIDO Restos de comida, resíduos de banheiro, fraldas descartáveis REJEITO Resíduos sólidos que, depois de esgotadas todas as possibilidades de tratamento e recuperação por processos tecnológicos disponíveis e economicamente viáveis, não apresentem outra possibilidade que não a disposição final ambientalmente adequada U TIPOS DE RESÍDUOS Confira as diferenças Fontes: Ministério do Meio Ambiente, IBGE, Abrelpe e Instituto Akatu SHUTTERSTOCK TUDO - BELO HORIZONTE, 1 0 A 7 DE JUNHO DE 2013 7 ESPECIAL três laranjas, uma é jogada fora; de cada três litros de leite, um é desperdiçado. E essa conta vale para qualquer item perecível adquirido.

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Miriam Gomes ChalfinREPÓRTER

Você já parou para pensar quanto produz de lixo por dia? A resposta é 1,1 quilo em média. Multi-plique esse número pela população do Brasil, que é de quase 194 milhões de habitantes. A conta chega fácil aos 213 milhões de quilos de resíduos gerados diariamente no país. As-sustador, principalmente considerando-se que o consumo inconsciente é o grande vilão dessa história. A explicação é simples: quanto mais se consome, mais lixo se pro-duz. “Quando se pensa em resíduos, o principal ponto é reduzir a geração. Muito lixo poderia ser evitado na hora da compra“, atesta o engenheiro ambiental Henrique Ferreira Ribei-ro, da Ambiência Soluções Sustentáveis.

Para isso, bastam ati-tudes simples, como não comprar por impulso, evitar produtos que geram muitos resíduos (como os que vêm em embala-gem de isopor e plástico), priorizar artigos duráveis e evitar os descartáveis, aproveitar ao máximo cada item e doar o que você não usa mais. Aliás, foi pensando nisso que Henrique criou no Face-book, no início deste ano,

o grupo Desmaterialize--se, que conta com 7,5 mil participantes. “É um gru-po fechado em que pesso-as doam algum material de que não precisam mais, evitando que ele se trans-forme em resíduo. É uma forma de dar vida nova aos objetos que não têm mais utilidade para você, de dar destino adequado para o que viraria lixo. Assim, o ciclo da sustentabilidade gira”, explica o engenhei-ro ambiental. E tem gente procurando e oferecendo de tudo: bonés, celula-res, malas, brinquedos, livros, apostilas, rádios, eletrodomésticos, mó-veis, roupas, bijuterias e até filhotes de gato e porquinho-da-índia.

É na tecla do consumo consciente que o Insti-tuto Akatu bate incansa-velmente. “As pessoas precisam entender que qualquer ato de consumo impacta o meio ambiente, a economia e a sociedade. Por isso, devem procurar reduzir os impactos nega-tivos e melhorar os positi-vos”, defende o assessor de conteúdo técnico do Akatu, Estanislau Maria. A lição começa em saber que o ato de compra é a primeira etapa do proces-so de consumo, que vai terminar exatamente no descarte. Antes de partir para a ação, a pessoa pre-cisa planejar (por quê, o

quê, de quem e como com-prar), saber como usar (aproveitar ao máximo, reduzindo o desperdício) e como descartar. Se o consumidor pensar em tudo isso e enca-rar o produto como resíduo, e não como lixo, vai, por exemplo, evitar a retirada de mais recursos da natureza. “Segundo a ONU, para colocar 1 quilo de bife na mesa, são gastos 15 mil litros de água na cadeia produtiva, desde a criação do bezerro, passando pelo abate, a limpeza e o trans-

mais: por falta de planeja-mento na hora da compra, um terço dos alimentos perecíveis vai direto para o lixo. Ou seja, de cada

U Pensar antes de comprar é uma das formas de reduzir os resíduos

Consumo consciente

SECO

Embalagens de produtos de limpeza, latas de bebidas em alumínio, latas de alimentos em aço, papel, garrafas pet, embalagens de vidro, dentre outras embalagens

ÚMIDO Restos de comida, resíduos de banheiro, fraldas descartáveis

REJEITO Resíduos sólidos que, depois de esgotadas todas as possibilidades

de tratamento e recuperação por processos tecnológicos disponíveis e economicamente viáveis, não apresentem outra possibilidade que não a disposição fi nal ambientalmente adequada

U TIPOS DE RESÍDUOSConfi ra as diferenças

Fontes: Ministério do Meio Ambiente, IBGE, Abrelpe e Instituto Akatu

SHUTTERSTOCK

TUDO - BELO HORIZONTE, 10 A 7 DE JUNHO DE 2013 7ESPECIAL

três laranjas, uma é jogada fora; de cada três litros de leite, um é desperdiçado.

E essa conta vale para qualquer item perecível adquirido.

ALEX SANDRO
Instituto
ALEX SANDRO
Akatu

TUDO - BELO HORIZONTE, 10 A 7 DE JUNHO DE 20138 ESPECIAL

Morro do Elefante Morro do Pires Serra da Calçada Serra do Souza

APOIO:

Venha participar deste momento histórico para a nossa cidade.

Assinatura dos Decretosde Monumentos Naturais.Nova Lima cada vez mais verde.

Aproveitar cada grama de alimento é obrigatório na casa da professora Ca-mila Alterthum, 36 anos. “Cascas e restos de folhas vão para a composteira e viram adubo”, exemplifi-ca. Outra atitude é separar os resíduos. Os recicláveis são limpos, guardados e levados para coleta seleti-va. Assim, acaba sobrando pouco lixo mesmo, como papel higiênico e fralda descartável. Aliás, ela usa também fralda de pano para reduzir a produção de lixo úmido. “Caixas e papéis de presentes tam-bém são guardados para aproveitamento posterior. E quando compro alguma coisa, olho se a embalagem é reciclável ou opto pelo produto a granel. São pe-quenas mudanças no dia a dia que ajudam a deman-dar menos recursos da na-tureza e acabam gerando menos lixo”, diz.

O coordenador da ONG Primo – Primatas da Mon-tanha, Gustavo Passos, 43 anos, também reaproveita restos de comida para produzir adubo. Além da composteira, ele usa o minhocário. “Misturo resíduo de cozinha com um pouco de material orgânico, como serragem, e minhocas california-nas, que se reproduzem rapidamente. A produção de adubo depende da

quantidade de resíduos.” Gustavo garante que é um consumidor consciente, mas sem radicalismo, e que usa somente sacolas retornáveis.

Estanislau Maria, do Akatu, acrescenta outras atitudes à lista: migrar do real para o virtual (baixar CD pela internet em vez de comprar), usar mais o compartilhado (alugar roupas de festas, por exem-plo), combater a obsoles-

cência programada e por design (reclamar quando um produto estraga logo após o vencimento da ga-rantia e não adquirir um novo telefone ou carro só por que o modelo mudou) e combinar a compra com-partilhada de feira (rodízio entre vizinhos). “Trata-se de nova mentalidade, novo jeito de investir dinheiro em outras coisas, como ficar mais tempo com a família”, ressalta. Foi exa-tamente para se libertar do consumismo e priorizar aquilo que realmente é importante – e, portanto, não está à venda – que o norte-americano Dave Bruno lançou, em 2008, o The 100 Thing Challenge

Ele se desfez de tudo que era inútil e ficava amon-toado na casa, sem uso, e passou a viver apenas com o essencial. Mudou sua forma de pensar e agir.

Pequenas mudanças para ajudar a natureza

Planeje suas compras: a impulsividade é inimiga do consumo consciente. Planeje antecipadamente e, dessa forma, compre menos e melhor

Avalie os impactos de seu consumo: leve em consideração o meio ambiente e a sociedade em suas escolhas de consumo

Consuma apenas o necessário: reflita sobre suas reais necessidades e procure viver com menos

Reutil ize produtos e embalagens: não compre outra vez o que você pode consertar, transformar e reutilizar

Separe seu lixo: recicle e contribua para a economia de recursos naturais, a redução da degradação ambiental e a geração de empregos

U 5 DICAS PARA SER

SUSTENTÁVEL

Fontes: Ministério do Meio Ambiente, IBGE, Abrelpe e Instituto Akatu

PEDRO VILELA

J Gustavo Passos aproveita restos de comida para produzir adubo

REDUZIR: Signifi ca consumir menos produtos,

preferindo aqueles que tenham

menor potencial de gerar resíduos

e maior durabilidade

COMO: Adquira sempre produtos

mais duráveis e menos descar-

táveis

Procure produtos que

utilizem menos embalagens (inclu-

sive para presentes)

Compre o sufi ciente para o

consumo, evitando desperdício de

produtos e alimentos

Evite comprar legumes,

frios e carnes em bandejas

de isopor, pois esse material

não é reciclável

Rejeite sacos plásticos,

sempre que possível

Aproveite tudo o que puder

dos alimentos, inclusive talos,

cascas e folhas, economizando

também nas quantidades

Coloque no prato só o que

realmente for comer

Reforme e conserve

objetos, ao invés de

substituí-los por outros

Imprima somente o neces-

sário

REUTILIZAR: É um processo de aproveitamen-

to dos resíduos sólidos sem sua

transformação biológica, física ou

físico-química

COMO:Utilize a frente e o verso

do papel para escrever

Reaproveite vidros de geleia,

maionese, massa de tomate,

requeijão e outros

Utilize cartuchos de impresso-

ra recarregáveis

Doe restos de materiais (reta-

lhos de tecidos, botões, miçangas)

para ofi cinas de arte e artesanato

(ou faça você mesmo)

Reutilize sacos plásticos

e caixas

Reaproveite envelopes

Doe a quem precisa os

objetos e as roupas que não são

mais necessários

Identifi que em seu bairro/

cidade quais instituições costumam

recolher materiais para reutilização

RECICLAR: Transformar resíduos sólidos, al-

terando suas propriedades físicas,

fi sico-químicas ou biológicas, em

insumos ou novos produtos

VANTAGENS DA RECICLAGEM:Diminui a exploração de

recursos naturais

Reduz o consumo de energia

Diminui a poluição do solo, da

água e do ar

Prolonga a vida útil dos

aterros sanitários

Diminui os custos da pro-

dução, com o aproveitamento de

materiais recicláveis

Nas indústrias: diminui o des-

perdício e os gastos com limpeza

urbana; potencializa o fortaleci-

mento de organizações comuni-

tárias; gera trabalho e renda pela

comercialização dos recicláveis

No Brasil, 13% dos resíduos

sólidos urbanos passam pelos

processos de reciclagem

Ouriço-cacheiro. Símbolo da Mata do Jambreiro.

Foto

: Rob

erto

Mur

ta.

Preservar e proteger os lares de milhares de espécies é contribuir para um futuro melhor.

A Vale mantém atualmente importantes reservas ambientais em Minas Gerais. Isso, porque sabemos que a fauna e a flora não são apenas paisagens do nosso Estado, mas riquezas importantes para nós e para as próximas gerações. Além de nos encher de orgulho, cuidar desses patrimônios reafirma o nosso compromisso com o futuro do planeta.

Preservação ambiental. Se é importante para Minas, é importante para a Vale.5 de Junho. Dia Mundial do Meio Ambiente.

U LIXO X SUSTENTABILIDADE

Produção de lixo no Brasil

Sudeste 1,2 quilo

Norte 0,9 quilo

Centro-Oeste 1,12 quilo

Nordeste 0,98 quilo

Sul 0,98 quilo

OS 3 R’S O Princípio dos 3R’s – Reduzir, Reutilizar e Reciclar – é um conjunto de atitudes relacionadas aos hábitos de consumo que ajudam a poupar os recursos naturais, gerar menos resíduos e minimizar seu impacto sobre o meio ambiente, além de promover a geração de trabalho e renda

Cada habitante

gera, em média, 1,1 quilo de resíduos

por dia

Quantidade de resíduos produzida no Brasil por

habitante/dia

TUDO - BELO HORIZONTE, 10 A 7 DE JUNHO DE 2013 9ESPECIAL

Samarco. Nós somos feitos daquilo em que acreditamos.

www.samarco.com0800 031 2303

Somos feitos de vida e responsabilidade, de sorrisos e sustentabilidade. Somos feitos de conscientização, de pesquisa, de efi ciência no tratamento e no uso de recursos naturais, de investimentos em soluções inovadoras com respeito às pessoas e ao meio ambiente. Nós somos a Samarco.

5 de junho. Dia Mundial do Meio Ambiente.

Acesse o Relatório Anual de Sustentabilidade 2012, em nosso site, e saiba o que mais valorizamos.

Aqui no Brasil, ainda falta muito para se frear a velocidade da produção de lixo. “O ponto fundamental hoje é a educação ambien-tal. Ela pode promover a mudança de comporta-mento do consumidor, tanto na compra como na geração, e fazer com que os governos melhorem a reciclagem. É uma questão de paciência, verdadeiro trabalho de formiguinha”, afirma o presidente do Instituto Brasileiro para o Desenvolvimento Sus-tentável (IBDS), Ricardo Vieira. Segundo ele, a geração de resíduos, nos últimos três anos, cresceu 8% com o aumento do po-der de consumo da classe média. E o consumidor single de grandes capitais tende a comprar alimentos fracionados, embalados, gerando mais resíduos do que uma família.

A grande quantidade

de resíduos gera passivos social e sanitário, prin-cipalmente para os cata-dores, e ambiental, com a contaminação do solo e da água, por exemplo. O Brasil tem hoje 600 mil ca-tadores, quase 3 mil lixões (2 mil deles com crianças trabalhando) e apenas 800 municípios – menos que o estado de Minas Gerais – com alguma experiência com coleta seletiva.

O gerente de projeto da Secretaria de Recur-

sos Hídricos e Ambiente Urbano do Ministério do Meio Ambiente, Ronaldo Hipólito, afirma que o Brasil perde R$ 8 bilhões por ano ao não reciclar materiais. A latinha de alu-mínio, por exemplo, pode ser fabricada a partir do próprio produto, sem que se extraia bauxita do solo. Além disso, a reciclagem diminui o tamanho dos aterros e aumenta a vida útil deles.

Para conscientizar as pessoas, o ministério lançou, este ano, uma cartilha sobre resíduos e reciclagem. “Há 10 anos, ninguém falava sobre esse tema e hoje ele está em todo lugar”, afirma. Vale lembrar que a Política Nacional de Resíduos Só-lidos, regulamentada em dezembro de 2010, passa a valer em 2014. Até lá, todos os lixões terão que ser er-radicados.

Geração de resíduos cresceu 8%

“Há 10 anos, ninguém falava sobre esse tema

e hoje ele está em todo lugar”

Ronaldo Hipólito

JULIANA FLISTER/AGÊNCIA I7

J Camila Alterthum:“Cascas e restos de folhas viram adubo”

TUDO - BELO HORIZONTE, 10 A 7 DE JUNHO DE 201310 ESPECIAL