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TURBULÊNCIA NO ORIENTE MÉDIO – FANATISMO, FUNDAMENTALISMO E PRECONCEITO NA NOVA ORDEM MUNDIAL

GARCIA DE OLIVEIRA, Luciana. Pós-Graduanda em Política e Relações Internacionais pela Fundação Escola de Sociologia e Política de São Paulo (FESP), graduada em Direito pela Pontifícia Universidade Católica de Campinas (PUC-Campinas) e associada da Associação Nacional de Direitos Humanos – Pesquisa e Pós-Graduação (ANDHEP) da Universidade de São Paulo (USP) – email: [email protected].

Introdução:

Muito do que já foi discorrido acerca das causas do conflito palestino-israelense, são

relativamente poucos os que entendem tratar-se, simplesmente de uma disputa real de território e

não de uma guerra religiosa, cultural ou de tradições. Assim, torna-se pertinente enfatizar que a

decorrente crise no Oriente Médio não se relaciona diretamente aos valores do islã, como muitos

defendem. Ao contrário, diz respeito às disputas entre fanatismo e pragmatismo.

Segundo Amós Oz, em sua obra Contra o Fanatismo, o fanatismo é, “infelizmente, um

componente onipresente da natureza humana, um gene do mal, se quiserem chamá-lo dessa forma”

(OZ, 2002, p.15). Ao citar sobre o episódio de 11 de setembro, aponta uma série de reações ao

atentado nos Estados Unidos e em outros países do mundo, porém chama a atenção em relação as

respostas racistas que as suscitaram, é o caso da discriminação antiárabe e antimuçulmana presente

na sociedade, sobretudo a norte-americana.

Em sua obra A Linguagem do Império – Léxico da ideologia estadunidense, Domenico

Losurdo ao referir-se ao racismo, não obsta em mencionar grupos em que, hoje reivindicam o

chamado “poder branco” ou a “supremacia branca” nos Estados Unidos, que em sua maioria,

coincidentemente há presença de número considerável de judeus entre seus membros.

A islamofobia atual, é capaz, no entanto, ligar de maneira indissolúvel toda a comunidade

islâmica diretamente ao mercado da droga. O que atualmente nos são expostos em matérias

jornalísticas a fim de alertar as populações sobre o perigo dos indesejáveis hospedes nas grandes

cidades, como é o caso dos albaneses, sudaneses, bengaleses, tunisianos, argelinos, paquistaneses e

nigerianos, que com tanto fervor contribuem para o aumento do índice de violência (LOSURDO,

2010, p. 220).

Ao analisar sobre o fanatismo, em seus inúmeros aspectos, pode-se concluir que esse

sentimento está, com freqüência, relacionado ao fator de desespero profundo. Ao recorrer à

violência desenfreada, é constatado que o sujeito passa sistematicamente por derrotas e por

situações de humilhações. É presumido, no entanto, que a única solução para o islã fanático é

justamente o islã moderado, o que pode ser aplicado da mesma forma aos movimentos nacionalistas

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em qualquer lugar do mundo.

Por outro lado, o fanatismo, em sua essência, não permite a moderação anteriormente citada,

muito pelo contrário, reside na busca em forçar outras pessoas à mudarem. O fanático sempre esta

interessado nas outras pessoas, mais até do que nele próprio. Por isso é que, quando se depara com

alguém que trocou a lógica imposta por ele, acusa de traidor.

Com relação ao conflito israel-palestino, sob essa mesma análise e, por trata-se de um

conflito de caráter internacional, pode ser considerado mais fácil sua resolução, em comparação aos

conflitos internos, as guerras religiosas e as lutas de classe. Cabe ressaltar, no entanto, que o fato de

ser mais fácil não quer dizer que seja efetivamente fácil, já que há existência de fanáticos em ambos

os lados, e pior, insistindo ferozmente na idéia de transformar o conflito em uma guerra também

religiosa.

Para Amós Oz, a guerra israel-palestina, somente terá um fim quando toda a sociedade

compreender que: “Todo sistema social e político que transforma cada um de nós numa ilha darwiniana e todo o resto da humanidade num inimigo ou rival é uma monstruosidade. Mas, ao mesmo tempo, todo sistema social, político e ideológico que quer transformar cada um de nós em apenas uma molécula de terra firme também é uma monstruosidade. A condição de península é a própria condição humana. É o que somos e o que merecemos continuar sendo. Assim, num certo sentido, em toda casa, em toda família, em toda conexão humana, o que realmente temos é uma relação entre uma série de penínsulas. Precisamos lembrar disso, antes de tentar modelar-nos, obrigar-nos uns aos outros a mudar de posição e fazer a pessoa do lado adotar nosso modo de ser, quando ela realmente necessita contemplar o oceano por um momento”(OZ, 2002, p. 41).

O conflito entre Israel e Palestina não pode ser reduzido como uma luta do bem contra o

mal. Muito pelo contrário, trata-se de um choque entre duas reivindicações bastante convincentes e

humanas.

É bem verdade que os palestinos que permanecem na Palestina, o fazem devido ser a sua

terra natal, da mesma forma é a situação (hoje) dos israelenses que permanecem em Israel. Cabe

lembrar que, não existem nenhum outro país no mundo a que os judeus, como povo, poderia

identificar como seu lar. Da mesma forma com relação aos palestinos, que tentaram

involuntariamente viver em outros países árabes, e não tiveram o esperado sucesso.

Outro fator dificultador no conflito em questão, é o fato de que seus protagonistas serem

compostos por duas vítimas. Duas vítimas pelas quais num pormenorizado estudo pode ser auferido

um mesmo opressor, qual seja, a Europa. Continente responsável pela colonização dos países árabes

e ao mesmo tempo pela perseguição e assassinato em massa do povo judeu durante a segunda

grande guerra.

Mesmo assim, é muito comum na literatura árabe, retratar a figura do judeu, sobretudo o

judeu israelense, como uma extensão da Europa impiedosa, como fora no passado. O que não

corresponde à realidade, uma vez que a metade da população de Israel é composta por famílias que

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foram expulsas de países árabes islâmicos.

Ainda, diante do constante emprego da violência, não podemos deixar de mencionar sobre

a existência de campanhas pelas quais incitam a “aversão aos brancos”, que hoje se traduz no ódio

ao Ocidente incentivado por muitas lideranças árabes muçulmana de diversos países. Por outro

lado, esse mesmo Ocidente que em nome da constante luta contra o antissemitismo, passam por

cima da tragédia do povo árabe, em especial do povo palestino. Situações pelas quais voltam à

reconduzir as mistificações à um passado remoto de ideologia de guerra.

1. Fundamentalismo

O termo largamente utilizado para referir-se ao mundo árabe e islâmico atualmente, aparece

pela primeira vez (de maneira contraditória) no âmbito protestante norte-americano (ou anglo-

americano). Assim, para descrever de forma adequada o fenômeno, é necessário passar do singular

para o plural. A tendência em buscar o fundamentalismo somente fora do Ocidente é considerada

enganosa pelo autor de A Linguagem do Império, já que conceitualmente o fundamentalismo, por si

só, é caracterizado pela construção incondicional de uma identidade imóvel, que anula as demais

culturas existentes. Dessa forma, não há cultura livre do perigo do fundamentalismo.

Semelhante ao exposto, a influência do sionismo na fundação do Estado de Israel e sua

posterior expansão territorial (pertencente ao Oriente), é cada vez mais ameaçado pelo chamado

fundamentalismo islâmico. Nesse sentido, a identidade judaica tende a ser modificada e reafirmada.

Por outro lado, a crescente oposição judaica, daqueles contrários ao movimento sionista, resulta

assim no desprezo aos judeus assimilados.

Diante da globalização, a amplidão dos fundamentalismos tornaram-se crescentes. Por outro

lado, as manifestações existentes são reações fundamentalistas ao desconforto social e à imposição

de um “universalismo” altamente agressivo às diferenças culturais e nacionais.

Ao retornar à realidade do Oriente Médio, a legitimação do “norte-americanismo” em solo

israelense, só foi possível quando o Estado de Israel desfez sua ligação à Revolução de Outubro.

Anteriormente nos é revelado nas obras estudadas que nos Estados Unidos prevalecia um

antissemtismo bastante virulento.

2. Antissemitismo

Logo após a Revolução de Outubro de 1917, Henry Ford (magnata da indústria

automobilística), publica uma obra, empenhada em denunciar o complô judeu durante a Revolução

Bolchevique. “O Judeu Internacional”, tornou-se largamente conhecido nos Estados Unidos como

ponto de referência do antissemitismo internacional.

A obra aparece como iluminação fulgurante para o movimento chauvinista, revanchista e

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antissemita que cresce pavorosamente (LOSURDO, 2010, p. 122). O que mais tarde será utilizado

por hierarcas nazistas a fim de se reafirmar “a periculosidade do judaísmo” na Alemanha.

A oficial e histórica oposição maniqueísta entre os dois continentes (americano e europeu) é

bastante discutível ao estudar sobre o passado em ambos os continentes. Se por um lado, o racismo

antijudaico provocou a “solução final”, na América foi responsável pela deportação e dizimação

dos peles-vermelhas e na escravidão dos negros.

Nota-se, no entanto que devido ao passado violento, somos constantemente levados a calar

as críticas concernentes a política de Israel, por serem consideradas antissemitas. Atualmente pode

ser considerado por expressão antissemita qualquer manifestação contrária à expansão de inúmeras

colônias israelenses em território árabe. Mesmo caso se aplica com relação às recentes

manifestações contrárias a recente repressão à flotilha que levaria ajuda humanitária à Faixa de

Gaza.

Exatamente dessa mesma forma que, em 1963, Hannah Arendt foi acusada de

antissemitismo, ao publicar a obra Eichmann em Jerusalém. Os ataques polêmicos contra o

sionismo, aliado à comparação das políticas repressivas antiárabe com os procedimentos nazistas,

lhe renderam campanha internacional ao classificá-la de traidora do judaísmo. Dessa mesma forma,

essa mesma acusação foi atribuída ao judeu Karl Marx, na publicação da obra A questão Judaica,

pelo qual caracterizou o judeu como povo dado ao culto do dinheiro. Mesmo sendo notória a luta do

filósofo pela igualdade civil e política de judeus e cristãos no mundo.

Para evitar acusações injustas de antissemitismo, é urgente e necessário, no entanto

esclarecer a definição das categorias: judeufobia religiosa e antissemitismo racial. Pelo fato de a

religião judaica ser predominantemente de um determinado povo, pode ser facilmente confundido

com “raça”. Dessa mesma maneira, o conflito religioso confunde-se com o conflito social, o judeu

pode ser atacado pela sua religião, como ainda pela posição social que ocupa na atual divisão do

trabalho.

O predomínio do entrelaçamento do conflito religioso, político-social e ainda racial, denota

a complexidade do termo antissemita na presente conjuntura. Diante da confusão na definição do

termo, torna-se ainda mais perigoso qualquer distanciamento do governo de Tel Aviv ou qualquer

movimento em solidariedade ao povo submetido à ocupação militar. Assim, qualquer um desses

motivos bastaria para provocar uma acusação de antissemitismo, contra um povo que esta inserido

em um atual posto de imunidade à quaisquer crítica.

Para muitos estudiosos do tema, não há dúvidas de que o epicentro do antissemitismo foi

transferido da Europa para o Oriente Médio, tendo em vista os últimos acontecimentos. Para tanto, a

atual difusão do antissionismo, de certa forma, confirmaria isso.

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3. Antissionismo

Diversos estudos são capazes de comprovar que a constituição de um Estado Judeu fora da

Europa é de interesse tanto dos sionistas como também dos antissemitas.

Por intermédio do argumento sionista de que os judeus, em geral rejeitam a assimilação,

torna-se bastante evidente que, sem o atual Estado de Israel, seria bastante difícil imaginar solução

diversa para o então problema judeu.

Assim, da fundação do Estado Judeu, no entanto, emergiu outro problema. Agora há a

existência do problema árabe - palestino na região, propiciando por sua vez, oposição antissionista,

cada vez mais forte e radical.

Sionismo este, descrito como “um grande movimento” na obra Mein Kampf. Para Adolf

Hitler, o sionismo seria algo positivo, já que pôs fim a presença incômoda do judaísmo na Europa.

Na obra estudada, é apresentado um trecho do que seria uma propaganda do sionismo, enquanto

filosofia política autônoma permitida pelo Terceiro Reich: “Em 1933 foi encorajado o ensino da língua hebraica em todas as escolas judaicas. Em 1935 foram permitidos os uniformes para os grupos dos jovens sionistas, os únicos uniformes não nazistas permitidos na Alemanha. Quando, no final de 1935, as Leis de Nuremberg privaram os judeus alemãs de sua cidadania, tornou-se ilegal para os judeus içar a bandeira alemã, no entanto, as mesmas leis estipularam que o judeu alemão podia içar a bandeira sionista com a estrela de Davi (LOSURDO, 2010, p161).”

Nesse sentido, o sionismo passa a chocar com setores bastante amplos do mundo judeu, que

vêem com horror a política de pureza racial. Assim, logo depois da II Guerra Mundial, Hannah

Arendt condena em um dos muitos documentos publicados, os planos de transferência dos árabes da

Palestina, bem como as idéias de “separação em nome da preza” e de “superioridade racial”.

É a partir daí que, no final de 1948, Hannah Arendt juntamente com Albert Einstein chama à

mobilização popular contra o massacre de Deir Yassin, observando dessas forma as semelhanças do

governo de Israel com os partidos nacional-socialista e fascista.

O que pode ser comprovado ao nos depararmos com personalidades de dentro do

movimento sionista que, logo depois da tomada do poder pelos nazistas não hesitaram em afirmar

que não teriam nada contra a ideologia de Hitler, se não fosse pelo antissemitismo empregado.

Quando, finalmente os árabes são acusados por notórios israelenses de terem colaborado

com a Alemanha Nazista e por isso, terem herdado o antissemitismo (a fim de certa forma justificar

os muitos ataques contra suas aldeias), esquece-se de que eles foram uma das vítimas da politica

racial alemã. Sabe-se, no entanto, que muitos estudantes árabes na Alemanha sofreram inúmeras

humilhações por serem considerados “negros”, assim foram um dos primeiros grupos à perceber

toda a dureza da política de eugenia.

O que se delineia hoje, nos territórios palestinos é uma realidade cada vez mais semelhante à

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África do Sul do apartheid, sobretudo durante o mandato de Ariel Sharon. A aplicação de tal

modelo permite que Israel se mantenha como “Estado Judeu”, de modo à evitar a constante ameaça

representada pelo rápido crescimento demográfico dos palestinos.

Por outro lado nos é posto em dúvida o seguinte questionamento (também presente na obra):

A recusa (de alguns) a reconhecer Israel não é prova irrefutável da persistência do antissemitismo

entre os palestinos e no mundo islâmico? (LOSURDO, 2010, p.178).

Se por um lado, dirigentes iranianos e do Hamas são acusados de antissemitismo, por outro

deve-se acusar de racismo antiárabe os atuais representantes israelenses. Mais radical ainda, parece

ser a posição do presidente iraniano Ahmadinejad, pelo qual defende a idéia de que Israel deve

desaparecer, por considerá-lo como Estado “artificial” no Oriente Médio.

O que pode ser reparado hoje é que o processo de colonização dos territórios foi longe

demais. A única alternativa viável para tanto, seria a existência de um Estado integrado binacional,

de acordo com a proposta defendida por Edward W. Said. O que muito provavelmente pode ser

considerada como uma perspectiva utópica, já que tanto do lado palestino como o lado israelense,

afirma-se agora uma identidade nacional autônoma.

A solução para o presente conflito não será resolvido ao rotular o presidente iraniano de

antissemita. Nas palavras de Losurdo, as tentativas infeliz de chamar a atenção para as injustiças

impostas ao povo palestino, não ajuda na conservação da memória de uma tragédia histórica.

De maneira irônica, o Irã é considerado o país do Oriente Médio que hospeda o maior

número de judeus, depois de Israel. Além disso, denota-se que não há presunção de expulsão dos

judeus do Irã, conforme ao ocorrido com os palestinos em Israel.

4. Filoislamismo

Dentre as muitas tragédias que se abate ao povo árabe, é constatado pelo correspondente

internacional Klaus-Peter Klaiber (citado na obra A Linguagem do Império), que no Afeganistão os

talibãs são mortos em locais que muito se assemelham aos campos de concentração nazista, assim

também pode ser considerado a base de Guantánamo em Cuba e da mesma forma a Faixa de Gaza

na Palestina.

A situação no Iraque não é nem um pouco diferente. Na prisão de Abu Ghraib, o fato de as

vítimas serem consideradas como um ser inferior provoca situações de humilhações e torturas,

comprovadas em fotos que ganharam o mundo.

Pode ser constatado na atual conjuntura que há em torno de 2 mil cidadãos árabes mantidos

em cárceres sem acusação formal nos Estados Unidos. Além de outros milhares de árabes

muçulmanos que correm o risco de deportação.

É bem verdade que, por outro lado, as ondas de intolerância nos Estados Unidos atingiram

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também os judeus assimilados a mulatos. Estimulado, sobretudo pela tendência antissemita de que

havia no Ocidente um agente patogênico da Revolução Bolchevique.

Fora do Ocidente, instalados em territórios controlados, os árabes são configurados como

“animais selvagens” e como “personificação do mal”, o que aparentemente assemelha-se à mesma

configuração anterior à “Solução Final”. Um fenômeno análogo surge na história, seria uma espécie

de “outro antissemitismo”.

Contudo, o que intensifica o atual preconceito acerca da cultura árabe islâmica é a

constatação de que, enquanto oriental, tal cultura é afetada pelo tribalismo. Dessa forma, tornou-se

de uma maneira geral, incapaz de compreender a modernização do indivíduo, presente na

civilização Ocidental.

Diante da violência acometida no mundo árabe do Oriente Médio, as inúmeras

manifestações pacíficas de protestos, não tiveram nenhum resultado concreto, nem tampouco serviu

para chamar a atenção da mídia ocidental.

Sabe-se assim que a condição do povo palestino é peculiarmente trágica. São dominados por

uma ocupação militar, que já dura décadas, durante um período livre de uma guerra mundial, ao

contrário, num período de desenvolvimento do princípio da autodeterminação.

Assim, ao denunciar sobre o “perigo islâmico”, é necessário levarmos em consideração toda

a campanha lançada no Oriente sob uma ideologia “avessa aos brancos”.

É importante frisar, o questionamento acerca do Ocidente feita por Losurdo, enquanto

critérios essencialmente políticos:“E nos nossos dias? Façamos uma pergunta: por que além da Europa, dos Estados Unidos e do Canadá, fazem parte da “civilização ocidental” a Austrália e a Nova Zelândia, ao passo que estão excluídos o México ou o Brasil, que não se localizam na Ásia, mas no hemisfério Ocidental? Como explicar tais inclusões e exclusões?”(LOSURDO, 2010, p.257).

Podemos presumir assim, que diante da omissão das atrocidades cometidas no Oriente, a

ideologia oficial que permeia o Ocidente é a “negacionista”.

Diariamente nos deparamos com aqueles que, em nome da luta contra o antissemitismo, se

calam diante da tragédia árabe palestina. Atitudes pelas quais fora sumariamente denunciadas por

Arendt, pela qual, pouco mais tarde, condenou de forma veemente as injustiças cometidas contra os

palestinos.

5. Considerações finais

Por tudo isso, torna-se imprescindível a criação de dois estados, de acordo com as linhas

divisórias similares às de antes da guerra de 1967, com as devidas ressalvas aos lugares sagrados

como Jerusalém até então disputados entre ambos os lados.

Diante de uma região marcada por intensos conflitos, que se estendem durante décadas em

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intensas lutas, atentados, repressão e violações, torna-se urgente que ambos os lados (palestino e

israelense) adquiram a autonomia devida, para assim evitar que eventuais abusos de direitos

humanos sejam efetivamente julgados e devidamente punidos, de acordo com a legislação do

Direito Internacional vigente.

A Faixa de Gaza, pode ser considerada hoje como um dos maiores símbolos para a luta do

Direitos Humanos, quais sejam a autodeterminação, igualdade e a liberdade. A região (considerada

território palestino), no entanto, esta localizada dentro de território pertencente ao Estado de Israel,

situação hoje que justifica práticas dos check points policiais, imposta aos trabalhadores palestinos

empregados em Israel.

Além da Faixa de Gaza, atualmente, os demais territórios palestinos são compostos por

bantustões de terras, sem comunicabilidade entre si. Por isso torna-se urgente que a fronteira atual

possa regressar à chamada linha verde a fim que se possa amenizar o atual estado de animosidade

entre ambos os lados.

Por outro lado, a resolução nº 194, III da Organização das Nações Unidas referente ao

direito de retorno da população palestina deve ser definitivamente posta em prática, ao contrário, é

urgente que as famílias banidas de seus lares sejam imediatamente indenizadas. Geralmente esses

contingentes encontram-se hospedados em países vizinhos como é o caso da Síria, Líbano, Jordânia,

Egito, Irã e Iraque em acampamentos cedidos pelos governos desses Estados que as abrigaram em

status de refugiados.

Enquanto ainda houver a existência de todas as pendências mencionadas, o tão almejado

processo de paz será adiado mais uma vez, permanecendo assim, o estado de vulnerabilidade que o

Estado de Israel se encontra. Assim, enquanto o governo israelense não entender que a expansão de

assentamentos judaicos, sobretudo em território árabe (como é o caso de Jerusalém Oriental), é uma

política “suicida”, atitudes consideradas fanáticas, fundamentalistas, antissemitas (conforme

discorrido ao longo do trabalho) irão perdurar ainda durante muitos anos, ameaçando a vida da

sociedade civil em ambos os lados.

REFERÊNCIA BIBLIOGRÁFICA:

ARENDT, Hannah. Origens do Totalitarismo. São Paulo: Companhia das Letras, 2003.

ARENDT, Hannah. Eichmann em Jerusalém: Relatos sobre a banalidade do mal. São Paulo: Companhia das Letras, 1999.

FORD, Henry. O Judeu Internacional. Rio Grande do Sul: Editora Revisão, 1989.

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HITLER, Adolf. Mein Kampf. São Paulo: Centauro, 2005.

LOSURDO, Domenico. A Linguagem do Império – Léxico da ideologia estadunidense. São Paulo: Boitempo editorial, 2010.

MARX, Karl. A questão judaica. São Paulo: Centauro, 2002.

OZ, Amós. Contra a fanatismo. Rio de Janeiro: Ediouro, 2002.

Eixo temático nº 5: Direitos Humanos e minorias sociais.