Tudo Se Resolve Pela Violência?

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Tudo se resolve através da violência? A violência é um fenômeno por demais complexo e merece ser tratado com muito cuidado. Disseminada entre os mais diversos âmbitos e camadas sociais, ela aparece como um modos operandi de resolução, correção ou disciplinamento de conflitos. Seu agente causador provoca a dor física ou psicológica como forma de manter ou impor determinada conduta a outrem. Desse modo, é eminentemente um meio para se chegar a um fim. Pode ser considerada até uma vertente da própria política com suas variadas teias de poder e seus sujeitos. E nessa linha, até que ponto as instituições consideram legítimas as formas de violência e, afinal de contas, quem detém o papel principal neste teatro caótico? A família? O Estado (por meio da polícia)? A história mostra essa troca de experiências num complexo de definição e comportamento condicionado das pessoas gerou um fruto denominado violência que é visto por um viés benigno e necessário. Freud dizia em seu livro denominado “Mal Estar na Civilização” que a violência é parte natural do ser humano e que desde os primórdios, os problemas eram resolvidos através dela. Outro pensador visto e revisto pela teoria sociológica, principalmente no âmbito do direito, é o inglês Thomas Hobbes que proclamou no século XVI sua famosa frase “o homem é o lobo do homem”. A dominação do homem pelo próprio homem se dá através da violência como forma de não ser dominado, mas continuar com esses status de dominador, garantindo os privilégios do monarca. Atualmente os tempos são outros e o

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Texto escrito pelo Professor Fernando Vechi para o jornal local da cidade de Criciúma-SC

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Tudo se resolve através da violência?

A violência é um fenômeno por demais complexo e merece ser tratado com muito

cuidado. Disseminada entre os mais diversos âmbitos e camadas sociais, ela aparece como um

modos operandi de resolução, correção ou disciplinamento de conflitos. Seu agente causador

provoca a dor física ou psicológica como forma de manter ou impor determinada conduta a

outrem. Desse modo, é eminentemente um meio para se chegar a um fim. Pode ser

considerada até uma vertente da própria política com suas variadas teias de poder e seus

sujeitos. E nessa linha, até que ponto as instituições consideram legítimas as formas de

violência e, afinal de contas, quem detém o papel principal neste teatro caótico? A família? O

Estado (por meio da polícia)? A história mostra essa troca de experiências num complexo de

definição e comportamento condicionado das pessoas gerou um fruto denominado violência

que é visto por um viés benigno e necessário.

Freud dizia em seu livro denominado “Mal Estar na Civilização” que a violência é

parte natural do ser humano e que desde os primórdios, os problemas eram resolvidos através

dela. Outro pensador visto e revisto pela teoria sociológica, principalmente no âmbito do

direito, é o inglês Thomas Hobbes que proclamou no século XVI sua famosa frase “o homem

é o lobo do homem”. A dominação do homem pelo próprio homem se dá através da violência

como forma de não ser dominado, mas continuar com esses status de dominador, garantindo

os privilégios do monarca. Atualmente os tempos são outros e o contexto histórico mudou,

mas a violência continua sendo trazida à tona pelos mais variados personagens da sociedade.

A televisão pode ser ligada às 7h da manhã, na hora do café matinal, e em algum programa

jornalístico será encontrada notícias de alguma morte ultra-violenta em qualquer recanto do

Brasil. Perto do meio dia, é perceptível o trânsito caótico nas grandes cidades e a cena de

violência perpassando a todo momento, seja numa batida violenta entre veículos, seja nos

xingamentos constantes entre os motoristas por algum erro de conduta. Por fim, quando se

deita para dormir e relaxar, assiste-se a um filme que mostra as cenas da guerra do Vietnã e as

bombas jogadas sobre “Ho Chi Minh”, cidade vietnamita.

As pessoas foram condicionadas a se acostumarem com a violência. Ela é propagada

por todos: em páginas do Facebook, em botecos e botequins, nos estádios de futebol, inclusive

nas instituições estatais. Em pleno século XXI, a sociedade com todo seu aparato tecnológico

disponível no mercado, continua a manter esse fantasma a rondar o ambiente público e

privado. E a violência é um completo círculo vicioso, que não tem fim. Causa uma onda

devastadora onde passa, como se fosse a peste negra na Europa, ou a pedra no lago que

reverbera ondas por toda a superfície. Se a violência continuar a ser propagada como estamos

vendo diariamente, o saldo será sempre negativo. É preciso paz em todas as relações

interpessoais, verticais ou horizontais, familiares ou estatais. A frase “se queres paz, prepara-

te para guerra” não faz parte do Estado Democrático de Direito atual, mas sim de um Estado

expansionista e belicista como foi o romano há milênios atrás. As coisas estão muito sérias, e

o atual cenário político deve ser tratado com muito cuidado para não manter esse status quo

de que a violência é algo necessário a garantir o bem-estar das pessoas.