Trinta e Seis Situacoes Dramaticas

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  • TRINTA E SEIS SITUAES DRAMTICAS

    Georges Polti

    INTRODUO Gozzi afirmou que podem existir somente trinta e seis situaes trgicas. Schiller dedicou-se a encontrar mais, porm no foi capaz de localizar sequer tantas ocorrncias quanto Gozzi. Apenas trinta e seis situaes! Acho tentadora tal afirmao sem estar acompanhada de nenhuma explicao seja de Gozzi, Goethe ou Schiller; e ela apresenta um problema sem soluo. Pois, me lembro que ele, criador de uma lei extremamente limitada com base em um nmero restrito, era dono de uma das mais incrveis imaginaes. Este mesmo Gozzi, autor de Turandot e Roi Cerf, duas obras quase inigualveis, uma sobre a situao do Enigma, a outra sobre as fases da metempsicose; ele foi o criador de um sistema dramtico, e o esprito Arabesco por ele difundido nos proporcionou as obras de Hoffmann, Jean-Paul Richter e Poe. A exuberncia veneziana poderia ter me deixado em dvida, pois depois de ter chegado ao nmero 36, ele silenciou. Mas Schiller, rgido e ardente seguidor de Kant, prncipe dos estticos, mestre do verdadeiro drama histrico por sua vez, antes de aceitar essa regra, no fez o maior esforo para aceit-la (e as dores de um Schiller!) concedendo-lhe a autoridade adicional do seu poderoso criticismo e sua rica memria? E Goethe, seu opositor em tudo menos no intenso gosto pelo abstrato Goethe que por toda sua vida parece ter considerado o assunto, acrescenta seu testemunho anos depois da morte de Schiller, anos depois das suas fecundas conversas, na mesma poca em estava terminando Fausto, a suprema combinao de elementos contrastantes. Na Frana, Grard de Nerval reuniu e apresentou um breve apanhado de toda a produo dramtica em um artigo sobre Jane Grey de Soumet, no LArtiste infelizmente escrito em estilo to afetado! Tendo anteriormente desejado saber o nmero exato de possveis aes para o teatro, ele afirma ter encontrado vinte e quatro. Sua base, porm, no nem um pouco satisfatria. Preso na desgastada classificao dos sete pecados capitais, ele sentiu-se obrigado, no fim, a eliminar duas delas, gula e preguia, e quase eliminou uma terceira, luxria (essa estaria em Don Juan, talvez). No est clara qual a forma de trgica energia seria proporcionada pela avareza, e a divergncia entre orgulho (possivelmente o esprito da tirania) e ira no promete muito para o contexto de drama, e as manifestaes dessa ltima podem ser facilmente confundidas com as da inveja. Alm disso, assassinato ou homicdio, que ele indica como fator para obter vrias situaes novas, unindo-as umas com a outras, no podem ser aceitos como tal, pois no passam de acidente comum a todas, possivelmente dentro de todas, e uma das produzidas com maior freqncia em todas elas. E, finalmente, o nico texto mencionado por Nerval Rivalidade entre Rainha e Sdito corresponde, como veremos, apenas subclasse de uma s, e no de todas as vinte e quatro, das Trinta e Seis Situaes de Gozzi. Desde Nerval, ningum tratou os segredos da inveno da maneira genuinamente tcnica de Gozzi, mas importante mencionar a celebrada teoria de Sarcey da scne--faire, teoria geral, porm mal compreendida por uma poca que abomina o didatismo, isto , detesta qualquer reflexo sobre a arte; algumas anotaes de

  • Dumas, publicadas contra sua vontade, se minhas memrias da juventude estiverem corretas, no Temps alguns anos atrs e que apresentaram aquela dupla trama de Corneille e Racine, uma herona disputada por dois heris e um heri disputado por duas heronas e, por fim, alguns trabalhos espordicos de Valin sobre composio. E isso absolutamente tudo. Em resumo, redescobri as trinta e seis situaes, como Gozzi certamente as tinha e como o leitor vai v-las nas pginas a seguir, conforme ele indicou; trinta e seis categorias que precisei formular para distribu-las adequadamente atravs dos inmeros dramas esperando classificao. Apresso-me em dizer que no h nada de mstico ou cabalstico sobre este nmero especfico, poder-se-ia talvez escolher um nmero um pouco acima ou abaixo, porm este eu considero o mais preciso. Agora, a este fato declarado de que existem nada mais que trinta e seis situaes dramticas *, est anexado um corolrio singular, a descoberta de que na vida existem somente trinta e seis emoes.

    * Substitu a palavra trgica, usada na citao, por dramtica. Quem est familiarizado com Goethe um dos clssicos alemes sabe que para ele os dois termos so sinnimos.

    O mximo de trinta e seis emoes e nelas temos todo o sabor da existncia; nelas temos o subir e descer que preenchem a histria humana como mars; que so, na realidade, a verdadeira substncia da histria visto que ela a substncia da prpria humanidade nas sombras das florestas africanas como Unter den Linden, ou sob as luzes dos bulevares; como era na poca da luta braal dos homens contra as feras selvagens das florestas e montanhas, e ser certamente no mais infinito e distante futuro, pois com essas trinta e seis emoes nada mais que colorimos, no, compreendemos o mecanismo csmico e por elas as nossas teogonias e metafsicas so e sempre sero construdas; nosso querido e charmoso alm; - trinta e seis situaes, trinta e seis emoes, nada mais. Portanto, compreende-se que do ponto de vista do incessante mesclar dessas trinta e sair emoes, uma raa ou nao atinge o incio da sua definitiva auto conscientizao; de fato, os gregos comearam suas cidades lanando as fundaes de um teatro. igualmente natural que somente as maiores e mais completas civilizaes tenham desenvolvido a sua prpria concepo particular do drama, e que uma destas novas concepes deveriam ser reveladas a cada nova evoluo da sociedade da qual surge a leve, porm constante, expectativa da nossa prpria poca esperando pela manifestao dos seus prprios ideais dramticos diante dos cenotfios de uma arte h muito tempo, aparentemente por razes comerciais, quase inexistente. Enfim, depois de ter agrupado todos esses pontos de vista dramticos, veremos, como em um panorama, a grande procisso da nossa raa em vrias roupagens caractersticas: reis hindus nas suas carruagens, galantes chineses tocando seus mandolins, heris helnicos nus, cavaleiros legendrios, aventureiros de capa e espada, princesas de cachos dourados, ninfas brilhando em suas pedras preciosas, jovens tmidas com olhar baixo, cortesos famosos, castas virgens atenienses, sacerdotes confessores, fofoqueiros, gurus expondo idias religiosas, demnios chifrudos disfarados, Tartaglias sibilantes, Graciosos falantes, palhaos shakesperianos, bufes de Vitor Hugo, magistrados, ascetas budistas imveis, vtimas em seus mantos brancos, mrtires com aurolas brilhantes, Ulisses engenhosos,

  • Rakchasas medrosos, mensageiros dispersando torrentes calamitosas aos ventos celestes, jovens de corao puro, loucos manchados de sangue sim, aqui se rene a nossa humanidade, aqui ela se move atravs de seus perodos de enorme intensidade porm sempre apresentando uma das facetas do prisma de Gozzi. Estas trinta e seis facetas, que me comprometi a recuperar, devem ser obviamente simples e claras e sem carter forado; ficaremos convencidos depois de t-las visto repetidamente, de modo decididamente distinto, em todas as pocas e todos os gneros. O leitor ir ver, na minha breve exposio, apenas mil e duzentos exemplos, dos quais cerca de mil foram extrados do palco; mas neste nmero inclu a obras mais distintas e mais famosas, das quais quase todas as outras so apenas um mosaico. Aqui estaro relatados os principais dramas da China, ndia, Judia e, logicamente, do teatro grego. Porm, invs de ficarmos confinados s trinta e duas tragdias clssicas, usaremos as obras do helenismo que, infelizmente para o pblico indolente de hoje, ainda esto sepultadas no latim; obras de cujas grandes linhas podero ser reconstrudas centenas de obras de arte e todas nos oferecendo, das sombras s quais foram relegadas, o frescor da beleza desconhecida. Deixando de lado, por enquanto, toda considerao detalhada sobre os Mistrios persas e medievais que dependem quase exclusivamente de duas ou trs situaes, que aguardam um estudo especial, daremos uma olhada depois dos Jeux e Miracles dos sculos XIII e XIV nos autores espanhis, nos clssicos franceses, italianos, alemes do renascimento romntico, e na nossa literatura dramtica moderna. E parece-me que teremos finalmente provado esta teoria das Trinta e Seis Situaes quando as tivermos colocado em contato com a produo dramtica dos ltimos trinta anos. Dos exemplos citados, duzentos foram extrados de outros gneros literrios anlogos aos dramticos: romance, epopia, histria e da realidade. Pois esta investigao deve ser conduzida dentro da natureza humana, isto , da poltica, dos tribunais de justia e da vida diria. Entre tais pesquisas, este estudo parecer se apenas uma introduo para um fluxo inesgotvel e maravilhoso o Fluxo da Existncia no qual se encontram momentaneamente, na sua unidade primordial, a histria, a poesia mstica, escritos moralistas (e amorais), humor, psicologia, lei, epopia, romance, fbula, mito, provrbio e profecia. Aqui poderemos, com nossa teoria, fazer algumas perguntas que nos so de primria importncia. Quais so as situaes dramticas negligenciadas por nossa poca to fiel em repetir as poucas mais familiares? Por outro lado, quais so as mais empregadas atualmente? Quais so as mais negligenciadas, e quais as mais usadas em cada poca, gnero, escola, autor? Quais as razes por essas preferncias? As mesmas perguntas podem ser feitas em relao das classes e subclasses das situaes Tal exame, que requer somente pacincia, ir primeiro mostrar a lista de combinaes (situaes e suas classes e subclasses) atualmente ignoradas e que sero exploradas na arte contempornea. Enquanto isso, poderemos casualmente encontrar, escondido dentro de uma ou outra das trinta e seis situaes, um nico caso algum sem analogia com nenhuma das outras trinta e cinco, produto de uma forte inspirao. E determinando exatamente a posio deste caso entre as subclasses da situao qual ele pertence, teremos condies de formar, em cada uma das outras trinta e cinco, uma subclasse correspondente a ele; assim sero criadas outras trinta e cinco tramas totalmente novas. Quando forem desenvolvidas conforme o gosto desta ou daquela escola ou perodo, estas proporcionaro uma srie de trinta e cinco imitaes

  • originais, trinta e cinco novos cenrios, certamente de carter mais imprevisvel que a maioria dos nossos dramas que, inspirados em livros ou realidades, quando vistos luz dos antigos escritos nos seriam revelados apenas em seus reflexos se no tivssemos a orientao da preciosa linha que desaparecera com Gozzi. Porm, agora que temos a linha, vamos desenrol-la.

  • PRIMEIRA SITUAO

    SPLICA

    (Os elementos dinmicos tecnicamente necessrios so: - um Perseguidor, um Suplicante e o Poder, cuja deciso duvidosa). Entre os exemplos aqui oferecidos, encontraremos trs de classes ligeiramente diferentes. No primeiro, o poder cuja deciso aguardada, um personagem isolado que est deliberando; ele se submeter, por prudncia ou preocupao por aqueles que ama, s ameaas do perseguidor, ou por generosidade, ao apelo do perseguido? No segundo, por meio de uma contrao anloga que abrevia um silogismo* para um entimema*, este poder no decidido apenas um atributo do prprio perseguidor, - uma arma em sua mo; ser a raiva ou a piedade a determinar o seu curso? No terceiro grupo, ao contrrio, o elemento suplicante est dividido entre duas pessoas, o Perseguido e o Intercessor, aumentando para quatro o nmero dos personagens principais. Esses trs grupos (A, B, C) podem ser divididos da seguinte maneira: A (1) Fugitivos implorando ao Poder por Ajuda contra os Inimigos Exemplos completos: Os Suplicantes de squilo e As Herclides de Eurpides; Minos de Sfocles. Casos em que os fugitivos so culpados: "Ocles e Chryses de Sfocles; As Eumnides de squilo. Um exemplo parcial: Ato II de "King John de Shakespeare. Exemplos de famlia: cenas dos protetorados coloniais. (2) Assistncia Implorada para o cumprimento de um dever piedoso que foi proibido. Exemplos completos: Os Eleusianos de squilo e Os Suplicantes de Eurpides. Um exemplo histrico: o funeral de Molire. Exemplo familiar: uma famlia dividida entre crenas religiosas, na qual um filho para cultuar conforme sua conscincia apela ao pai ou me com quem divide a crena. (3) - Apelos por um refgio no qual morrer - Exemplo completo: dipo at. Colonus. Exemplo parcial: a morte de Zineb, na obra Mangeront-ils? de Hugo. B (1) Hospitalidade implorada pelo Nufrago Exemplo completo: Nausicaa e Os Feacianos de Sfocles. Exemplo parcial: Ato I de Troianos de Berlioz. (2) Caridade implorada por aqueles expulsos por seu prprio povo, a quem eles desgraaram. Exemplos: Danae de squilo e Danae de Eurpides; Alope Auge e Cretenses de Eurpides. Exemplos de famlia: grande parte das quinze ou vinte mil aventuras que todos os anos aparecem na Assistncia Criana. Exemplo especial de uma criana recebida em um lar: o incio de Le Rve de Zola. (3) Expiao: Busca por Perdo, Cura ou Libertao. Exemplos: Filoctetes de Sfocles; Misianos de squilo; Tlefo de Eurpides; Les Champairol (Raisse, 1884). Exemplo histrico: a penitncia de Barbarossa. Exemplos de famlia: pedidos de perdo, confisso de catlicos etc. (4) Entrega de um Corpo ou uma Relquia, que foram Solicitados: - Os Frgios de squilo. Exemplos histricos: embaixada dos Cruzados junto aos muulmanos. Exemplos de famlia; a demanda dos restos mortais de um grande

  • homem sepultado em terra estrangeira; do corpo de uma pessoa executada, ou de um parente falecido em um hospital. Deve-se notar que os Frgios e o Vigsimo Quarto livro da Ilada, que inspirou a pea, so uma transio para a Dcima Segunda Situao (Uma Recusa Superada). C (1) Splica do Poderoso em favor dos Entes Queridos do Suplicante Exemplo completo: Ester. Exemplo parcial: Margareth no final de Fausto. Exemplo histrico: Franklin na corte de Luiz XVI. Exemplo correspondente tambm ao item A (3): Propompes de squilo. (2) Splica a um Parente em favor de um outro Parente Exemplo: Eurisace de Sfocles. (3) Splica para o amante da Me, em favor dela LEnfant de lAmour (Bataille, 1911). Est claro que no teatro moderno a Primeira Situao foi muito pouco usada. Com exceo das subdivises C (1) anloga ao culto potico da Virgem e dos Santos e C (3), no h outro exemplo puro, sem dvida porque os antigos modelos desapareceram ou tornaram-se desconhecidos e, mais especialmente, porque Shakespeare, Lope e Corneille, no tendo transformado nem elaborado este tema com as complexidades externas exigidas por nosso gosto moderno, seus sucessores consideraram a Primeira Situao como um assunto muito pobre e simples para esta poca. Como se uma idia fosse necessariamente mais simples que a outra! como se as outras que desde ento levaram ao palco suas inmeras ramificaes no tivesse no incio mostrado a mesma vigorosa simplicidade! No entanto, atualmente preferimos a complexidade que, a meu ver, explica a preferncia dada somente ao grupo C, no qual uma quarta figura (em essncia, infelizmente, algum um tanto parasita ou montona), o Intercessor, facilmente acrescentada trindade composta por Perseguidor, Suplicante e Poder. De quanta coisa esta trindade capaz! O Perseguidor um ou muitos, de modo voluntrio ou inconsciente, cheio de cobia ou vingativo, alastrando a rede sutil da diplomacia ou mostrando-se sob a extraordinria pompa dos maiores poderes da poca; o Suplicante ingnuo ou eloqente, virtuoso ou culpado; humilde ou imponente; e o Poder, neutro ou parcial em relao a um ou outro lado, talvez inferior em fora ao Perseguidor e cercado por parentes temendo o perigo, talvez iludido por uma aparncia de justia e retido, talvez obrigado a sacrificar um ideal elevado; s vezes de uma lgica severa, outras vezes emocionalmente instvel ou at subjugado por uma converso a la Dostoievski e, como um relmpago final, abandona os erros que julgava verdadeiros, se no a verdade que ele acreditava estar errada! Em nenhum lugar, certamente, as vicissitudes do poder, seja ele arbitrrio, tirnico ou imposto as supersties que podem acompanhar a dvida e a indeciso - de um lado as sbitas mudanas na opinio popular, por outro a ansiedade com a qual elas so aguardadas, - desespero e conseqentes blasfmias, - esperana que resta at o ltimo suspiro, a cega brutalidade do destino, - em nenhum lugar elas se tornam to condensadas e arremessadas com tanta fora como nesta Primeira Situao, hoje em dia ignoradas.

  • A apaixonada simpatia que a Frana nutre pela Polnia, renascida nos ltimos cinquenta anos; a mesma simpatia que em vrias ocasies histricas ela manifestou pela Esccia e Irlanda, poderia aqui encontrar uma trgica expresso; o grito de humanidade com o qual um nico sacerdote no massacre de Fourmies, levou para a Igreja uma frao da Frana revolucionria; o culto aos mortos, o primeiro, ltimo, a mais primitiva e indestrutvel forma de sentimento religioso; a agonia que nos aguarda, arrastando-se para a escurido como um animal consumido; o profundo desejo humilhado de quem um assassino tirou tudo o que lhe era querido, aquela splica deplorvel, de joelhos, que dissolveu em lgrimas o rancor selvagem de Aquiles e o fez esquecer seu voto; esto todos nesta Primeira Situao, todas estas intensas emoes, e mais outras; na realidade, em nenhum outro lugar elas podero ser encontradas de maneira to completa, - e o nosso moderno mundo de arte a esqueceu! * Silogismo: deduo formal tal que, postas duas proposies, se tira uma terceira; um raciocnio, concluso. Ex.: toda virtude louvvel; bondade uma virtude, portanto bondade louvvel. * Entimema: argumento que consiste de apenas duas proposies, uma antecedente e a sua conseqncia; um silogismo incompleto. Ex.: somos dependentes, portanto devemos ser humildes.

  • SEGUNDA SITUAO

    SALVAO

    (Elementos: um Infeliz, um Ameaador, um Salvador)

    De certo modo, esta o contrrio da Primeira Situao; aqui, o infeliz apela para um poder no determinado, no caso um protetor inesperado que, por sua prpria vontade, surge repentinamente para resgatar o aflito e desesperado. A Aparecimento de um Salvador para o Condenado: - as obras Andrmeda de Sfocles, Eurpides e Corneille; Le Jeu de Saint Nicolas (Jean Bodel). Exemplos parciais: o primeiro ato de Lohengrin; o terceiro ato de Tancredo de Voltaire, o papel do generoso patrono em Boislaurier (Richard, 1884). O ltimo exemplo e o seguinte mostram especialmente a honra dos infelizes ameaados: Daniel e Susanna, e vrias aventuras da cavalaria. Uma pardia: Don Quixote. Exemplo de famlia: assistncia jurdica. A concluso de Barba Azul (aqui entra o elemento parentesco onde a irm defendida pelos irmos, e aumenta a compaixo da maneira mais simples, no entanto esquecida por nossas atuais peas teatrais). B (1) Filhos reconduzem Pai ou Me ao Trono: - Egeu e Peleu de Sfocles; Antope de Eurpides. Os casos em que os filhos haviam sido abandonados anteriormente so: Athamas I e Tiro de Sfocles (O gosto do futuro autor de dipo e Colonus por histrias em que o filho faz o papel de salvador e provedor de justia, forma um contraste suficientemente amargo com o destino que aguardava o prprio poeta na sua velhice). (2) Resgate realizado por Amigos ou Estranhos agradecidos por Benefcios ou Hospitalidade: - Eneu, Iolas e Fineu de Sfocles. Um exemplo parcial: a segunda parte de Alceste de Eurpides. Exemplo em comdia: Fantasio de Musset. Exemplo em que a proteo aceita pelo anfitrio que concedeu asilo: Dictis de Eurpides. Observando estas subdivises, vemos o que os nossos autores poderiam ter extrado da Segunda Situao. Para ns, ela deveria exercer no mnimo alguma atrao, pois dois mil anos atrs a humanidade mais uma vez ouviu a histria do Salvador, e desde ento ama, sofre e chora por ela. Esta situao tambm a base da Cavalaria, o herosmo original e individual da Idade Mdia; e, no sentido nacional, a Revoluo Francesa. Apesar de tudo, com exceo do burlesco de Cervantes e da luz resplandecente da armadura de prata de Lohengrin, at hoje essa arte dificilmente empregada.

  • TERCEIRA SITUAO

    CRIME MOVIDO POR VINGANA

    (Elementos: um Vingador e um Criminoso)

    Vingana uma alegria divina, diz o rabe; e isso parece realmente ter sido frequentemente para o Deus de Israel. Os dois poemas de Homero terminam com uma intoxicante vingana, como tambm na caracterstica lenda oriental dos pandavas; embora para os povos espanhis e latinos o espetculo mais exultante ainda o de um indivduo capaz de aplicar uma justia legtima, embora ilegal. Tanta coisa para provar que, mesmo vinte sculos de Cristandade, depois de cinco sculos de filosofia socrtica, no foram suficientes para remover a Vingana do seu pedestal de honra, e substitu-la pelo Perdo. E o prprio Perdo, embora sincero, - o que alm da sutil quintessncia da vingana na Terra e, ao mesmo tempo, o clamor para um tipo de indenizao dos Cus? A (1) O Vingador de Pai ou Me ou Ancestral Assassinados: - O Cantor, drama annimo chins; A Tnica Apresentada (da cortes Tchangkoue-pin); Os Argivos e Os Epgonos de squilo; Aleto e Erigone de Sfocles; Os Dois Foscari de Byron; tila de Werner; O Crime da Maison-Alfort (Coedes. 1881); Le Maquignon (Josz e Dumur, 1903). Nos ltimos trs casos e tambm no seguinte, a vingana executada por uma filha, e no por um filho. Exemplo da fico: Colomba de Mrime. Exemplo de famlia: a maior parte das vendettas. Le Prtre (Buet, 1881) apresenta especialmente o dilema psicolgico entre perdo e vingana. Exemplo do vingador de um pai levado ao suicdio: LOr (Peter e Danceny, 1908). (2) O Vingador de um Filho ou Descendente Assassinado: - Nauflius de Sfocles; uma parte de Santa Helena (Mme. Sverine, 1902); o final de Hecuba de Eurpides. Exemplo pico: Ulisses persegue Netuno por ter cegado Polifemo. (3) Vingana por um Filho Desonrado: El Mejor Alcaide el Rey de Lope de Veja; O Alcaide de Zalamea de Calderon. Exemplo histrico: a morte de Lucrcia. (4) Vingana por Esposa ou Marido Assassinado: - Pompe de Corneille; LIdiot (de Lorde, 1903). Exemplo contemporneo: os julgamentos de Mme. Veuve Barrme. (5) Vingana pela Desonra, ou Tentativa de Desonrar, de uma Esposa: - Os Ixions de squilo, Sfocles e Eurpides; Os Perroebides de squilo; Les Revolts (Cain e Adenis, 1908), Exemplo histrico: o sacerdote de Efraim. Casos semelhantes em que a esposa foi apenas insultada: Venisamhra de Bhatta Narayana; Os Filhos de Pandou de Rajasekhara. Exemplo de famlias: numerosos duelos. (6) Vingana por Amante Assassinada: - Amor Aps a Morte de Caleron; Amhra (Grangeneuve, 19882); Simon o Abandonado (Jonathan, 1882). (7) Vingana por um Amigo Assassinado ou Ferido: - As Nereidas de squilo. Exemplo contemporneo: Ravachol. Caso em que a vingana praticada sobre a amante do vingador: La Casserole (Mtnier, 1889).

  • (8) Vingana por uma Irm Seduzida: - Clavijo de Goethe; Les Bouchers (Icres, 1888); La Casquette au Pre Bugeaud (Marot, 1886). Exemplos da fico: La Kermesse Rouge na coleo Eekhoud e o final de Disciple de Bourget. B (1) Vingana por Dano ou Espoliao Intencional: - "A Tempestade" de Shakespeare. Exemplo contemporneo: Bismarck na retirada em Varzin. (2) Vingana por ter sido Roubado durante Ausncia: - Les Joueurs dOsselets e Penlope de squilo; A Festa dos Aqueus de Sfocles. (3) Vingana por Tentativa de Homicdio: - A Ira de Te-oun-go de Kouan-han-king. Caso semelhante envolvendo, ao mesmo tempo, a salvao de erro judicial, de um ente amado: La Cellule N 7 (Zaccone, 1881). (4) Retaliao por uma Falsa Acusao: - Phrixus de Sfocles e Eurpides; Monte Cristo de Dumas; La Declasse (Delahaye, 1883); Roger-la-Honte (Mary, 1881). (5) Vingana por Violao: Tereus de Sfocles; A Cortes de Corinto (Carr e Bilhaud, 1908); Os Cenci de Shelley (parricida como punio por incesto). (6) Vingana pelo Roubo das Prprias Posses: - O Mercador de Veneza e parcialmente Guilherme Tell. (7) Retaliao sobre todo um Sexo por ter sido enganado por algum deste mesmo sexo: - Jack o Extirpador (Bertrand e Clairian, 1889); as heronas fatais da peas tpicas do Segundo Imprio, LEtrangre etc. Um caso tambm pertencente classe A: o motivo (improvvel) de corrupo em Possd, por Lemounier. Aqui encontramos pela primeira vez aquele personagem de face contorcida, pea chave de todo o drama sombrio e misterioso, - o vilo. Quanto ao incio da Terceira Situao, podemos evocar, em qualquer estgio, este vilo e seus profundos esquemas que muitas vezes nos fazem sorrir. Don Salluste em Ruy-Blas, Iago em Otelo, Guanhumara em Burgraves, Homodei em Angelo, Maom na tragdia de mesmo nome, Leontina em Heraclius, Maxime em La Tragedie de Valentinien, Emire em Siros, Ulisses em Palamedes. C Perseguio Profissional de Criminosos: - (complemento do que ser encontrado na Quinta Situao, Classe A): - Sherlock Holmes (Conan Doyle); Vidocq (Bergerat, 1910); Nick Carter (Busson e Livet, 1910). Embora esta situao tenha sido usada com freqncia hoje em dia, h muitos casos antigos aguardando seu rejuvenescimento, muitas lacunas ainda precisam ser preenchidas. De fato, entre os laos que podem unir vingador e vtima, foram omitidos alguns graus entre relaes, assim como a maioria das ligaes sociais e de negcios. A lista dos erros que poderiam provocar vingana est longe de ser exaurida, e podemos ter certeza disso ao enumerar os tipos de possveis agresses contra pessoas ou propriedades, as diferentes opinies das partes opostas, as vrias maneiras como um insulto pode surtir efeitos, e quantos e quais tipos de relaes podem existir entre Vingador e Criminoso. E tais assuntos concernem apenas s premissas da ao. A isso podemos acrescentar todas as voltas e compreenso da situao, lentas ou instantneas, diretas ou tortuosas, desesperadas ou seguras que uma punio pode

  • ser aplicada, os mil recursos que ela oferece, os pontos que ela poder mirar no seu curso mortal, os obstculos que o destino ou o acusado podem apresentar. A seguir, podem-se introduzir vrias figuras secundrias, cada uma em busca de seus prprios objetivos, como na vida, entrecruzando umas com as outras e cruzando o drama e estimo bastante o leitor, para no prolongar o assunto.

  • QUARTA SITUAO

    VINGANA DE PARENTE CONTRA PARENTE

    (Elementos: Parente Vingador; Parente Culpado; Recordao da Vtima, um Parente de Ambos)

    Aumentando o horror da Situao XXVII (Descoberta da Desonra dos Parentes) com o impetuoso vigor da situao III, criamos esta ao confinada vida familiar, transformando-a em inferno pior que o calabouo de O Poo e o Pndulo de Poe. O horror tal que os espectadores terrificados no se atrevem a intervir; parecem testemunhar, distncia, a silhueta de uma cena demonaca em uma casa em chamas. E parece que nem os nossos dramaturgos se atrevem a modificar a tragdia grega, - como esta se apresenta em trinta sculos de pavor. Para ns fcil determinar do alto da nossa plataforma usando a palavra de Gozzi as infinitas variaes possveis a este tema, multiplicando as combinaes que acabamos de encontrar na Terceira Situao por aquelas que a Vigsima Stima ir nos proporcionar. Outros germes de fertilidade sero encontrados, por sua vez, nas circunstncias determinadas pela ao do vingador. Elas podem ser: um desejo instintivo do vingador (o motivo mais simples); o desejo da vtima moribunda ou o esprito do falecido aparecendo misteriosamente para os vivos; uma promessa imprudente; um profissional em servio (por exemplo, quando o vingador um magistrado etc.); a necessidade de salvar outros parentes ou um ente querido (assim Talien vingou os Dantonistas) ou mesmo conterrneos; desconhecimento do parentesco existente entre Vingador e Criminoso. H ainda o caso em que o Vingador ataca sem ter reconhecido o Criminoso (em um quarto escuro, acredito); o caso em que o ato da vingana apenas o resultado de um erro, descobre-se que o suposto culpado inocente, e seu pseudo-executor percebe que , ento, um abjeto criminoso. A (1) Morte do Pai Vingada sobre a Me: - As Choephores de squilo; Electra de Sfocles, Eurpides, Attilius, Q. Cicero, Pradon, Longepierre, Crbillon, Chnier e a pera de Guillard; Orestes de Voltaire e Alfieri; Epgones de Sfocles; Eriphyles de Sfocles e Voltaire; e finalmente Hamlet na qual reconhecemos claramente o mtodo com que o poeta rejuvenesce o assunto, - por meio de uma mudana quase antitica de personagens e ambiente. (2) Uma Me Vingada sobre um Pai: - Zoe Chien-Chien (Matthey, 1881) onde o parricdio contrabalanado por uma paixo incestuosa e cometido pela filha, no pelo filho. B - Morte de um Irmo Vingada Sobre um Filho: (mas sem premeditao, caindo quase dentro da situao Imprudncia): - Atalanta de squilo e Meleager de Sfocles. C Morte de um Pai, Vingada sobre um Marido: Rosamunde (Rucellai). D Morte de um Marido, Vingada sobre o Pai: Orbecche de Giraldi. Assim, das vinte e duas obras, dezoito esto na mesma classe, dezessete na mesma subclasse, treze abordam o mesmo assunto - e tambm quatro classes e uma subclasse. Por enquanto, vamos nos divertir contando algumas que foram esquecidas.

  • A morte de um pai vingada sobre o irmo do vingador. Sobre sua irm. Sobre sua amante (ou no caso de um vingador feminino, sobre seu amante, pois cada caso tem sua duplicata, de acordo com o sexo do vingador). Sobre sua esposa. Sobre seu filho. Sobre seu tio paterno. Sobre seu tio materno. Sobre seu av materno ou paterno; sua av materna ou paterna. Sobre meio-irmo ou meio-irm. Sobre uma pessoa ligada por casamento (cunhado, cunhada etc.) ou um primo ou prima. Essas inmeras variantes podem, logicamente, ser sucessivamente repetidas para cada caso: - a vingana de um irmo, uma irm, marido, filho, av, e assim por diante. A vingana pode ser cometida de vrias maneiras, no apenas sobre o prprio criminoso, como tambm sobre um ente que lhe querido (Media e Atreu atacaram Jaso e Tiestes atravs de seus filhos), e at objetos inanimados podem tomar o lugar das vtimas.

  • QUINTA SITUAO

    PERSEGUIO

    (Elementos: Castigo e Fugitivo)

    Assim como a Segunda Situao era o oposto da Primeira, esta situao de Perseguio representa uma transio para o passivo da Terceira e Quarta e na realidade, o lado passivo de todas aquelas em que o perigo persegue um personagem. No entanto, h uma diferena: na Perseguio, o elemento vingador est em segundo lugar, ou talvez nem isso; pode estar, na realidade, bastante invisvel e abstrato. Nosso interesse detm-se somente no fugitivo; algumas vezes inocente, sempre passvel de perdo pelo erro se houver algum que parece ter sido inevitvel, predestinado; no fazemos perguntas nem o culpamos, o que seria vo, mas sofremos com compaixo as conseqncias junto com o nosso heri que, seja ele quem for ou tenha sido, agora um companheiro em perigo. Lembremo-nos da verdade que Goethe jogou diante da hipocrisia; que cada um de ns tem internamente a potencialidade para todos os crimes, impossvel imaginar algum que no possamos cometer diante de determinadas circunstncias. Nesta Situao, sentimo-nos, por assim dizer, cmplices da pior das matanas. O que pode ser explicado pela idia de que, ao longo das nossas vrias linhas de hereditariedade, pode haver muitos desses crimes, e a nossa atual virtude significaria simplesmente uma imunidade s tendncias criminosas adquiridas pela experincia dos nossos ancestrais. Se for este o caso, hereditariedade e ambiente, longe de serem fatalidades opressivas, tornam-se os embries da sabedoria que, quando estiver madura, ir triunfar. assim que o gnio (no o da neurose, mas da menos comum maestria da neurose) surge especialmente em famlias que lhe transmitiram a larga experincia da loucura. Assim, atravs do drama podemos adquirir a nossa experincia de erro e catstrofe de maneira menos custosa; por meio dele evocamos vividamente inmeras memrias que esto adormecidas no nosso sangue, e podemos nos livrar delas por meio da repetio e acostumar nossas almas sombrias s suas prprias reflexes. Como a msica, ele ir, no fim, refinar nossas maneiras e nos conferir o poder do autocontrole, base de toda virtude. Nada tem mais efeito moral que a imoralidade na literatura. A sensao de isolamento que caracteriza a Situao V proporciona uma unidade especial ao, e um campo claro para a observao psicolgica que no deve ser atenuada pela diversidade de cenas e eventos. A Fugitivos da Justia Perseguidos por Formao de Crimes Polticos etc.: Louis Perez da Galcia e Devoo Cruz de Calderon; o incio do Milagre medieval Robert-le-Diable; Os Brigadistas de Schiller; Raffles (Hornung, 1907); Exemplos histricos: a interdio dos Conventionnels; Duquesa de Berry. Exemplos da fico: Rocambole de Gaboriau; Arsne Lupin (Leblanc). Exemplos de famlia: notcias policiais. Exemplo em comdia: Compre le Renard (Polti, 1905). B Perseguido por um Erro de Amor: injustamente, Indigne (Barbier, 1884); de maneira mais justa, Don Juan de Molire e Festin de Pierre de Corneille (sem falar das vrias obras de Tirso de Molina, Tellez, Villiers, Sadwell, Goldoni, Grabbe, Zorilla, Dumas pai); muito justamente, Ajax de Locris de Sfocles. Exemplos de famlia vo desde casamentos forados de sedutores a priso por flertes de calada.

  • C Heri Lutando Contra um Poder: - Prometeu Libertado de squilo; Lacoonte de Sfocles; o papel de Porus em Alexandre de Racine Metastasio; Nicomede de Corneille; Goetz von Berlichingen e parte de "Egmont de Goethe; Cato de Metastasio; Aldelghis e parte de Conde de Carmagnola de Manzoni; a morte de Heitor em Troilus e Cressida Shakespeare; Nana-Sahib (Richepin 1883); Edith (Bois, 1885); a tetralogia Nibelungos; Um Inimigo do Povo (Ibsen); Le Roi sans Couronne (de Bouhlier, 1909).

    D Um Pseudo-louco Lutando contra um Alienista semelhante a Iago: - La Vicomtesse Alice (Second, 1882).

  • SEXTA SITUAO

    DESASTRE

    (Elementos: um Poder Vencido; um Inimigo Vitorioso ou um Mensageiro)

    Medo, catstrofe, o inesperado, grande invertida de papis; o poder destitudo, os fracos exaltados. Aqui est a limitao recorrente nos livros da Bblia, aqui o eco imortal da queda de Tria diante da qual ainda empalidecemos com um pressentimento.

    A (1) Derrota Sofrida: - Os Mirmidons e Os Persas de squilo; Os Pastores de Sfocles. Exemplo da fico: A Catstrofe de Zola; A Histria composta por repeties desta histria.

    (2) Terra Natal Destruda: - Os Xoanons de Sfocles; Sardanapalus de Byron (este tambm corresponde Classe B e, no final, lembra a Quinta Situao). Exemplos da Histria: Polnia; as Grandes Invases. De romances: A Guerra dos Mundos (Wells).

    (3) A Queda de Humanidade: - o Mistrio de Ado (Sculo XII).

    (4) Uma Catstrofe Natural: - Terre dEpouvante (de Lorde e Morel, 1907).

    B Um Monarca Destitudo: - (contrrio da Oitava): - Henry VI e Ricardo II de Shakespeare. Exemplos histricos: Charles I, Lus XVI, Napoleo etc.; e substituindo os reis por outras autoridades, Colombo, de Lesseps e todos os ministros cados em desgraa. Exemplo da fico: o final de Tartarin, LArgent, Cesar Birotteau.

    C (1) Ingratido Sofrida: (de todos os golpes da desgraa, este talvez o mais doloroso): - Arquelau (exceto no final quando a ao revertida) de Eurpides; Timon de Atenas, Rei Lear e o incio de Coriolano de Shakespeare; Marino Faliero de Byron; parte do Conde de Carmagnola de Manzoni. A dispensa de Bismarck pelo jovem Imperador Guilherme. Os mrtires, os vrios exemplos de devoo e sacrifcios no reconhecidos por quem deles se beneficiou, a mais gloriosa morte brilha diante deste fundo sombrio; Scrates e a Paixo so os exemplos mais conhecidos. Le Reformateur (Rod, 1906).

    (2) Sofrimento por um Castigo ou Inimigo Injusto: (corresponde de certo modo a Erros Judiciais): - Teucer de Sfocles; Salaminae de squilo.

    (3) Um Ultraje Sofrido: - o primeiro ato de O Cid; o primeiro ato de Lucrcia Borgia. O ponto de honra oferece material melhor que esses dois simples episdios. Podemos conceber um Voltaire mais sensvel que, devido s perseguies que sofreu, ficou reduzido impotncia e ao ponto de morrer em desespero.

    D (1) - Abandono por um Amante ou Marido: - "Fausto"; "Ariane" de Corneille; o incio de "Media"; "Maternite" (Brieux, 1903).

    (2) Pais perdendo seus Filhos: - Le Petit Pouce.

  • Se as classes B, C e D que se referem ao destino de indivduos, no foram to desenvolvidas como deveriam ser, o que dizer do caso de desastres sociais, como na Classe A? Shakespeare no foi suficientemente longe neste caminho majestoso. Somente entre os gregos uma obra do gnero apresentou de um s golpe essa concepo sublime, fatalista e potica de eventos humanos, da qual Herdoto um dia iria fazer Histria.

  • STIMA SITUAO

    VTIMA DE CRUELDADE OU DESGRAA

    (Elementos: um Infeliz; um Mestre ou Desgraa)

    No h limite para a tristeza infinita. Por baixo do que parece ser a parte mais profunda do azar, pode surgir outra situao ainda mais amedrontadora. Esta Stima Situao um feroz e deliberado retalhar do corao, - do pessimismo por excelncia.

    A Inocente torna-se Vtima de uma Intriga Ambiciosa: - Princesa Maleine (Maeterlinck); A Filha Natural de Goethe; Les Deux Jumeaux de Hugo.

    B Inocente Espoliado por Quem Deveria Proteg-lo: - Os Hospedes e o incio de Joueurs DOsselets de squilo (no primeiro vibrar do grande arco nas mos do Pedinte desconhecido, como suspiramos de esperana!); Les Corbeaux de Becque; O Rei de Roma (Pouvillon); LAiglon (Rostand); La Croisade des Enfantelets Francs (Ernault).

    C (1) Poderosos Desapropriados e Humilhados: - O incio de Peleus de Sfocles e Eurpides; de Prometeu Acorrendado; de J. Laerte em seu jardim. Exemplo de comdia: Le Jeu de la Feuille (Adam de la Halle).

    (2) Um Favorito ou ntimo V-se Esquecido: - En Dtresse (Fevre, 1890).

    D Infelizes Despojados de Sua nica Esperana: - O Cego de Maeterlinck; Beethoven (Fouchois, 1909); Rembrandt (Dumur e Josz).

    E ainda faltam muitos casos! Os judeus no cativeiro, escravido na Amrica, os horrores dos de Guerra dos Cem Anos, guetos invadidos, cenas de uma reproduo da vida no crcere ou Inquisio, a atrao do Inferno de Dante, de Prises de Pelico, a emocionante amargura de Gautama, do Eclesiastes, de Schopenhauer!

  • OITAVA SITUAO

    REVOLTA

    (Elementos: Tirano e Conspirador)

    Conforme j observado, esta situao de certo modo o contrrio de Classe B da Situao VI.

    A intriga, to apreciada pelo pblico nos ltimos trs sculos, claramente abastecida pela natureza do assunto que vamos considerar. Porm, por uma estranha razo, ela foi, ao contrrio, sempre tratada com a mais irrestrita candura e simplicidade. Uma ou duas vicissitudes, algumas surpresas facilmente previsveis e uma ampla uniformidade de todos os personagens da pea, E temos as condies que so quase invariavelmente incorporadas a esta ao to propcia, no entanto, a dvidas, equvocos e ao lusco-fusco cuja vaga incerteza prepara a aurora da revolta e da liberdade.

    A (1) Uma Conspirao, sobretudo de um s Indivduo: - A Conspirao de Fiesco, de Schiller; Cinna, de Corneille; de certo modo Catilina de Voltaire (esta tragdia pertence mais obra Ambio da Terceira Situao); Thermidor; A Conspirao do General Malet (Aug de Lassus, 1889); Le Grand Soir (Kampf); Le Roi sans Royaume (Decourcelle, 1909); Lorenzaccio (Musset).

    (2) Uma Conspirao de Muitos: - A Conspirao dos Pazzi de Alfieri; Le Roman dune Conspiration (de Fournier e Carr, com base na histria de Ranc); Madame Margot (Moreau e Clairville, 1909); e na comdia, Chantecler (Rostand, 1910) com sua pardia Rosse, tant e plus (Mustire, 1910).

    B (1) - Revolta de Um Indivduo que Influencia e Envolve Outros: - Egmont de Goethe; Jacques Bonhomme (Maujan, 1886); La Mission de Jeanne d'Arc Dallier, 1888. Exemplo da fico: Salamb. Da histria: Slon simulando loucura.

    (2) Revolta de Muitos: Fontovejune de Lope de Veja; Guilherme Tell de Schiller; Germinal de Zola; Os Tecelos da Silsia de Hauptmann (proibida em 1893 com aprovao de um Parlamento logo depois dissolvido); O Outono de Paul Adam e Gabriel Mourey (proibida em 1893 com a aprovao de outro Parlamento um pouco antes da sua dissoluo); LArme dans la Ville (Jules Romain, 1911); Quatorze de Julho (Roland, 1902). Da fico: uma parte da Fortunes des Rougon de Zola. Da histria: a tomada da Bastilha e vrios tumultos no mesmo perodo.

    Este tipo de ao, sobretudo nas peas modernas, gerou bons dramas vigorosos na Espanha, Inglaterra, Itlia e Alemanha; de carter forte e autoritrio nos dois primeiros pases, e com entusiasmo juvenil nos dois ltimos. Quase certamente a Frana, de todos os pases, parece ser o que mais entende e expressa tais emoes.

    Mas... Thermidor foi proibida por medo de ofender os amigos (aparentemente centenrios) de Maximiliano; Le Pater por medo de desagradar os comunistas; Germinal de Zola e LAutomne de Adam e Mourey (duas obras apresentadas em cores bastante diversas cujos ttulos so suficientes para indicar) foram bloqueadas por medo das objees de alguns conservadores; Other Peoples Money de Hennique, por medo de chocar certos financistas que foram desde ento colocados atrs das grades; "Lohengrin" (embora o assunto seja relacionado aos celtas) foi

  • proibido por muito tempo "por medo" de irritar meia dzia de literatos chauvinistas franceses; um nmero infinito de outras peas teatrais por medo de aborrecer a Alemanha (ou nossos diplomatas de salo que falem disso)... E outras por medo de provocar o Sulto!

    Apesar de tudo, possvel encontrar um nico exemplo no qual a produo dramtica tenha abordado uma calamidade nacional como temem os nossos censores? O pretexto to falso quanto os que exigem a excluso do teatro qualquer representao franca e verdadeira do amor. Uma lei que proba a entrada de crianas deveria ser suficiente para satisfazer a moderao neste quesito; embora haja pouca necessidade, pois raramente aparecem adultos acompanhados de crianas.

    Nossa burguesia sentimental aparentemente mantm a opinio do sculo XVIII de que mais perigoso ouvir tais coisas em pblico do que l-las em privado. Pois a nossa arte dramtica que, deve-se notar, permaneceu, apesar do seu declnio, um dos mais extraordinrios meios de propagar o pensamento francs em toda a Europa foi aos poucos sendo impedida de abordar teologia, poltica, sociologia, crimes e criminosos com exceo (e por que tal exceo?) do adultrio, do qual o nosso teatro, para seu grande azar, vive atualmente no mnimo dois em cada trs dias.

    Os antigos diziam que um homem escravizado perde metade da sua alma. Um dramaturgo um homem.

  • NONA SITUAO

    TAREFA OUSADA

    (Um Lder Destemido; um Objetivo; um Adversrio)

    O Conflito que forma o enquadramento de todas as situaes dramticas est claramente definido na Nona, sem disfarces. Um plano inteligente, uma tentativa arrojada, sangue frio e vitria!

    A Preparativos para a Guerra: - (Nesta classe, conforme tratado anteriormente, a ao termina antes do fim deixando-o ao sabor da a imaginao, na perspectiva de uma previso animadora). Exemplos: - Nemia de squilo; O Conselho dos Argivos de Sfocles. Exemplos histricos: o chamado para as Cruzadas; os voluntrios de 1892.

    B (1) Guerra: Henrique V de Shakespeare.

    (2) Um Combate: - Glacus Pontius Memnon. Fineus e Os Forcides de squilo.

    C (1) Transporte de Determinada Pessoa ou Objeto: - Prometeu de squilo; As Mulheres Laconianas de Sfocles. Da fico: o roubo do Vu da Deusa em Salamb. Exemplo pico: o segundo hino de Homero (para Hermes).

    (2) Recaptura de um Objeto Desejado: - A Vitria de Arjuna de Cantchana Atcharya; Parsifal de Wagner; a retomada do Vu da Deusa.

    D (1) Expedies Audaciosas: - Descoberta do Novo Mundo de Lope; Prometeu Libertado de squilo; Teseus de Eurpides; Sinon de Sfocles; Rhesus atribudo a Eurpides. Exemplos de romance: as aventuras dos heris dos contos de fadas; os Trabalhos de Hrcules; a maioria das histrias de Jlio Verne.

    (2) Aventura Empreendida para Conseguir uma Mulher Amada: - Enomaus de Sfocles e Eurpides. Da fico: Os Trabalhadores do Mar". Para salvar a honra de um amante: La Petite Caporale (Darlay e de Gorsse, 1909).

    A Nona Situao resume, assim, a poesia da guerra, do roubo, da surpresa, da chance desesperada, - a poesia do aventureiro perspicaz, do homem alm da limitao das civilizaes artificiais, do Homem na acepo original do termo. No entanto, raramente encontramos uma nica obra francesa nesta classe!

    Para no cansar o leitor, deixo de enumerar nessas classes to pouco abordadas, muitas tramas e complicaes que elas poderiam envolver. Mtodos de rastrear a caa humana bandido ou heri, - foras conspirando para seu desastre, condies que o tornam vtima de seus mestres, maneiras em que uma revolta pode surgir, alternativas de batalha em uma aventura ousada, certamente poderiam parecer mais complexas hoje que antigamente; alm disso, partes emprestadas de outras situaes podem ser facilmente implantadas nesses temas. Mesmo que queiramos manter os temas citados dentro da sua severidade arcaica, quanto coisa ainda poder ser extrada! Para citar apenas um exemplo, de quantas maneiras poderia uma Expedio Audaciosa ser alterada modificando os motivos ou objetivos da aventura, a natureza dos obstculos, as qualidades do heri e as estruturas prvias dos trs elementos indispensveis do

  • drama! Viagens Audaciosas foram muito pouco abordadas. E quantas classes existem ainda intocadas!

  • DCIMA SITUAO

    ABDUO

    (O Abdutor; o Abduzido; o Guardio)

    Agora, o Grande Romance Burgus! No foi esta expresso que Molire usou para encerrar suas comdias quando ele julgou ter chegado o momento de mandar para casa sua audincia satisfeita? Algumas vezes ele substituiu a caixa do tesouro por uma menina, como em Tartufo ou criou uma troca de uma pela outra, como em O Avarento.

    Em ABDUO encontramos uma das situaes apoiadas na Rivalidade e na qual o Cime aparece embora sem as magnficas cores da Vigsima Quarta.

    Nas duas classes seguintes (B e C) podemos observar a interferncia das situaes Adultrio e Recuperao de um Ente Amado Perdido. O mesmo uso bastante possvel em quase todas as outras situaes. Eu gostaria de assinalar para quem estiver interessado em uma anlise mais detalhada, que amor no necessariamente o motivo da Abduo (na Classe D sero encontradas amizade, f etc.) nem a razo dos obstculos levantados pelo guardio.

    A Abduo de uma Mulher contra sua Vontade: - Ortia de squilo e Sfocles; Europa e Os Carianos" de squilo. Com Fogo e Espada (com base em Sienkiewicz, 1904). Comdia: Le Jeu de Robin e Marion (Adam de la Halle). Histrico e legendrio: as sabinas; Cassandra. Parece-me existir matria trgica nos casos extremamente erticos, de violao premeditada precedida por paixo insana e seu consequente estado de super excitao, seguido pelo assassinato da vtima ultrajada, por arrependimento diante do lindo cadver, pelo trabalho repugnante de desmembrar ou esconder o corpo; e depois toda uma vida de desgosto e erros sucessivos que conduzem descoberta do criminoso.

    B Abduo de uma Mulher com seu Consentimento: - A Abduo de Helena de Sfocles e a comdia de mesmo nome, mas no sobre o mesmo assunto, de Lope. Diversas outra comdias e romances.

    C (1) Recaptura da Mulher sem Matar o Abdutor: - Helena de Eurpides; Malati e Madhava de Bhavabhuti (o poeta da voz divina). Resgate de uma irm: Ifignia em Tauris.

    (2) - O Mesmo Caso, matando o Raptor: - Mahaviracharita por Bhavabhuti; "Hanouman" (obra em sinergia); "Anarghara-ghava" (annimo); "A Mensagem de Angada" por Soubhata; "Abhirama Mani" por Soundara Misra; "Hermione" por Sfocles.

    D (1) - Resgate de um Amigo Capturado: - Ricardo Corao de Leo de Sedane e Gretry. Vrias fugas histricas e fictcias.

    (2) De um Filho: "L'Homme de Proie" (Lefevre e Laporte, 1908).

    (3) De uma Alma Presa por Engano: - Barlaam e Josaphat, Milagre do sculo XIV. Os atos dos Apstolos, missionrios etc.

  • DCIMA PRIMEIRA SITUAO

    O ENIGMA

    (Interrogador, Aquele que Busca e Problema)

    Esta situao possui interesse teatral por excelncia visto que o espectador, tendo sua curiosidade despertada pelo problema, torna-se facilmente absorvido e acredita estar ele mesmo resolvendo a questo. Combate entre a inteligncia e vontades opostas, a Dcima Primeira Situao pode ser adequadamente simbolizada por um ponto de interrogao.

    A Busca por uma Pessoa que est em Perigo de Morte: - Polidus de Sfocles e Eurpides. Caso sem esse perigo, onde a busca por um objeto e no por uma pessoa: A Carta Roubada de Poe.

    B (1) Uma Charada para ser Resolvida envolvendo Perigo de Morte: - A Esfinge de squilo. Exemplo da fico (sem o perigo): O Escaravelho de Ouro de Poe.

    (2) O mesmo Caso onde o Enigma proposto por uma Mulher Cobiada: - Exemplo parcial: o incio de Pricles de Shakespeare. Exemplo da fico: O Companheiro de Viagem de Andersen. Exemplo pico (mas sem o perigo): Salomo e a Rainha de Sab. Exemplo parcial: os cofres de Portia, em O Mercador de Veneza.

    O tipo de contexto antes da posse do objeto desejado, vagamente traado neste episdio, especialmente atraente nos seus sugestivos anlogos. Mas, quantas estruturas, prontas nos seduzir, encontraremos nas perplexidades da busca do amor, quando elas forem elevadas ao seu terceiro poder pela introduo do terrvel, como no exemplo puro e completo que temos em Turandot do incomparvel Gozzi; uma obra apaixonadamente admirvel, traduzida, produzida e tornada famosa por Schiller, na Alemanha; obra que durante um sculo foi considerada um clssico no mundo inteiro, embora seja pouco conhecida na Frana.

    O efeito da B (2) reforado e aumentado em casos onde o heri submetido a:

    C (1) Tentaes apresentadas com o objetivo de descobrir um Nome.

    (2) Tentaes apresentadas com o objetivo de descobrir o Sexo: - As Mulheres Srias de Sfocles e Eurpides.

    (3) Testes para Verificar as Condies Mentais: Ulisses Furens de Sfocles; Os Palamedes de squilo e Eurpides (de acordo com os temas atribudos a esses trabalhos extraviados). Exame de criminosos por psiquiatras.

  • DCIMA SEGUNDA SITUAO

    OBTENDO

    (Um Solicitante e um Adversrio que Recusa, ou um rbitro e Partes Opostas)

    Aqui entram diplomacia e eloqncia. Um fim deve ser alcanado, um objeto deve ser ganho. Quais interesses no devem ser colocados em risco, quais argumentos ou influncias importantes devem ser removidos, quais intermedirios ou disfarces devem ser usados para transformar raiva em benevolncia, rancor em renncia; colocar o Espoliador no lugar do Despojado? Quantas minas devero ser desarmadas, quantas sabotagens descobertas! quais revoltas inesperadas de indivduos submissos! Este contexto dialtico que surge entre razo e paixo, s vezes sutil e persuasivo, s vezes forte e violento, fornece uma boa situao, to natural quanto original.

    A Esforos para Obter um Objeto por meio de Ardil ou Fora: Filoctetes de squilo, Sfocles e Eurpides; o protesto do povo de Tebas em dipo em Colonus; O Anel do Ministro de Vishakadatta.

    B Esforo Somente por Meio da Eloqncia Persuasiva: - A Ilha Deserta de Metastasio; a atitude do pai em Le Fils Naturel (Dumas) qual o Ardil adicionado em seguida; Cena 2 do Ato V de Coriolano de Shakespeare.

    C Eloqncia com um rbitro: O Julgamento das Armas de squilo; Helena Reclamada de Sfocles.

    Um dos casos no utilizados no teatro, apesar da sua freqncia, a Tentao j introduzida como parte da situao anterior. Aqui o adversrio irritado o Desafiante; o solicitante, agora o Tentador, empreendeu uma negociao pouco comum de obter um objeto, e nada pode persuadir o dono a entreg-lo; em conseqncia, o objetivo deve ser confundi-lo, seduzi-lo ou causar-lhe espanto. O eterno papel da mulher em relao ao homem! e quantas coisas dentro do projeto de ser um homem! Esta situao no lembra a atitude hiertica do Cristianismo em relao ao Sat, como Flaubert iluminou com milhares de luzes cintilantes na sua Tentaes de Santo Anto?

  • DCIMA TERCEIRA SITUAO

    INIMIZADE ENTRE PARENTES

    (Elementos: um Parente Mau; um Parente Odiado, ou dio Recproco entre Parentes)

    Anttese* que representava, para Hugo, o princpio gerador da arte, - dramtica, em especial, - e que naturalmente resulta da idia do Conflito base do drama, oferece um dos esquemas mais simtricos nestas emoes contrastantes. dio por quem deveria ser amado do qual a Vigsima Nona parte importante, Amor por quem deveria ser odiado. Tais confluncias despertam, obviamente, uma ao tempestuosa.

    fcil prever as seguintes leis:

    1 Quanto mais prximos forem os laos que unem os parentes inimigos, mais selvagem e perigosa ser a manifestao do dio entre eles.

    2 Se o dio mtuo, ele ser mais bem caracterizado nesta Situao do que seria se ele pertencesse somente a uma das partes, neste caso um dos parentes torna-se Tirano e o outro, Vtima. O conjunto resulta nas Situaes V, VII, VIII, XXX etc.

    3 A grande dificuldade ser encontrar e representar, de maneira convincente, um elemento de discrdia suficientemente poderoso para quebrar o mais possante lao humano.

    A - dio entre Irmos: - (1) Um irmo Odiado por Vrios (o dio no maligno): As Hlides de squilo (motivo, inveja); Os Trabalhos de Jac de Lope de Veja (motivo: cime de filhos). Odiado por um irmo, apenas: As Fencias de Eurpides e Sneca; Polinices Alfieri (motivo: avareza tirnica); Caim de Byron (motivo: cime religioso); Une Famille au Temps de Luther por Delavigne (motivo: dissidncia religiosa); Le Duel (Lavedan, 1905).

    (2) dio Recproco: - Os Sete Contra Tebas por squilo, e Les Frres Ennemis por Racine (motivo: cobia pelo poder); uma personagem admirvel adicionada a esta lenda de Tebas: a Me, dividida entre dois filhos; Tiestes II de Sfocles; Tiestes de Sneca; Pelopides de Voltaire; Atreus e Tiestes de Crbillon (motivo: cobia pelo poder, o papel importante o do investigador prfido).

    (3) dio entre Parentes por Interesse Prprio: - La Maison dArgile (Fabre, 1907). Exemplo da fico: Mon Frre (Mercereau).

    B dio entre Pai e Filho: - (1) Do Filho para o Pai: Trs Castigos em Um por Calderon. Exemplo histrico: Lus XI e Carlos VII. Uma parte de La Terre de Zola e de Le Maitre por Jean Jullien.

    (2) dio Mtuo: A Vida um Sonho de Caldern. Exemplo histrico: Jerome e Vitor Bonaparte (reduo do dio para simples desacordo). Acho esta proposta uma das melhores, embora no seja muito considerada por nossos escritores.

    (3) dio da Filha para o Pai: - Os Cenci" de Shelley (parricdio como meio para escapar de incesto).

  • C dio do Av para o Neto: Ciro de Metastasio; a histria de Amulius no incio de Tito Lvio (motivo: avareza tirnica). dio do tio para o sobrinho: A Morte de Cansa por Crichna Cavi. Um dos aspectos de Hamlet.

    D dio do Sogro para o Genro: - Agis e Saul de Alfieri (motivo: avareza tirnica). Exemplo histrico: Cezar e Pompeu. dio entre dois cunhados, ex-rivais: La Mer (Jean Jullien, 1891) o nico drama moderno, digo de passagem, no qual algum tem sua emoo aumentada depois da morte do personagem principal. A este respeito, ela est conforme a vida, quando podemos sentir choque ou alarme, ou gritar de medo, mas tambm podemos no chorar nem ficar inteiramente tristes a no ser depois, quando toda esperana se foi para sempre.

    E dio da Sogra pela Nora: - Rodogune de Corneille (motivo avareza tirnica)

    F Infanticdio: - Conte de Nol (Linant, 1899). Uma parte de Power of Darkness.

    No vou repetir a lista de graus de parentesco para os quais esta situao poder ser aplicada. No caso de dio entre irms, um oferece mesmo depois de Le Carnaval des Enfants (de Bouhlier) uma excelente oportunidade para o estudo de inimizade feminina, to duradoura e to cruel; dio entre me e filha, entre irmo e irm so tambm interessantes. O mesmo pode-se dizer do oposto de cada classe que forneceu os nossos exemplos. Ser que no existe um bom estudo dramtico do intenso assunto, - at hoje to vulgar por ter sido tratado por mos vulgares, - a antipatia entre me e marido de uma jovem? Este no representa, de um lado, o conflito natural entre o ideal, a infncia e a pureza e de outro, a ilusria, porm irresistvel, seduo da Vida vigorosa e frtil?

    O motivo do dio, mudando um pouco, pode variar do eterno amor ao poder expressado em quase todos os exemplos existentes e o que invariavelmente apresentado nas atitudes foradas do neoclassicismo.

    Os personagens relacionados aos pais comuns, divididos na afeio por ambos os adversrios nessas lutas, foram ligeiramente modificados a partir do dia em que squilo tirou a majestosa Jocasta da tumba na qual a tradio a havia colocado. Os papis de dois pais inimigos tambm poder ser revivido. E no encontro ningum alm de Beaumont e Fletcher que puderam retratar de maneira vigorosa os instigadores dessa luta to mpia; personagens cuja infmia suficiente para merecer ateno, apesar de tudo.

    s inimizades entre parentes, tambm esto conectadas as inimizades entre amigos. Esta proposta ser vista na prxima situao.

    * Anttese: oposio ou contraste de palavras ou idias salientadas pelas posies de palavras contrastantes, como quando colocadas no incio ou no fim de uma sentena; ou ento em posies correspondentes em duas ou mais sentenas. (Medidas, no homens. O esbanjador rouba seu herdeiro; o miservel rouba a si mesmo.). Aqui a referncia logicamente a idias.

    * Neoclassicismo: que designa ou pertence ao renascimento do gosto e estilo clssicos na arte.

  • DCIMA QUARTA SITUAO

    RIVALIDADE ENTRE PARENTES

    (O Parente Preferido; o Parente Rejeitado; o Objeto)

    primeira vista, esta situao atrai dez vezes mais que as anteriores. Amor e Cime no aumentam o seu efeito? Aqui o charme da Amada brilha entre o sangue das batalhas empreendidas por causa dela. Quantas admirveis hesitaes, quantas perplexidades ela demonstra; quanto medo de declarar a preferncia que poder desencadear um dio implacvel!

    Sim, a Amada, o Objeto para usar o nome filosfico empregado no sculo XVII aqui ser adicionado lista de personagens. Mas... o Pai ou Me Comuns, mesmo que no desapaream, devero perder grande parte da sua importncia; os Instigadores iro perder o brilho e desaparecer no esplendor central do Objeto verdadeiro. No h dvidas de que as cenas de amor iro agradar por seu contraste com a violncia da pea; mas o purista dramtico poder erguer as sobrancelhas e considerar talvez tais interldios de pombinhos como insignificncia medocre, quando colocada na rubra moldura do fratricdio.

    Alm disso, na mente dos psiclogos a idia que a Rivalidade em tal luta significa apenas um pretexto, a mscara do dio mais sombrio, mais antigo, uma antipatia fisiolgica derivada, digamos, dos pais. Dois irmos, dois parentes prximos no se matam por causa de uma mulher, a no ser que haja predisposio. Agora, se quisermos reduzir o motivo para um mero pretexto, o Objeto imediatamente perde o brilho, diminui em importncia, e nos vemos de volta para a Dcima Terceira Situao.

    Ento a Dcima Quarta fica limitada a apenas uma classe, uma simples derivada da anterior? No; felizmente ela possui alguns embries de selvageria que permite seu desenvolvimento em diversas direes. Atravs delas a situao poder tender para Adultrio Envolvendo Homicdio. Adultrio Ameaado e, especialmente, Crimes de amor (incestos etc.). Sua forma e seu valor podem ser verificados ao liberar estas novas tendncias.

    A (1) Rivalidade Maldosa de um Irmo: - Britanicus; Les Maucrix por Delpit (aqui o Pai ou Me Comuns cedem lugar para um par e ex-rivais que se tornam quase Instigaores); Boislaurier (Richard, 1884). Da fico: Pedro e Joo de Maupassant. Caso em que a rivalidade sem dio: 1812 (Nigond, 1910).

    (2) Rivalidade Maldosa entre Dois Irmos: - Agatocle, Don Pdre, Adelaide du Guesclin e Amlie, todas de Voltaire que sonhava esculpir seu prprio reino a partir da subclasse de uma nica situao.

    (3) Rivalidade entre Dois Irmos, com Adultrio de um deles: - Peleas e Mlisande de Maeterlinck.

    (4) Rivalidade entre Irms: - La Souris (Pailleron, 1887); LEnchantement (Battaille, 1900); Le Demon du Foyer (G. Sand). De tia e sobrinha: Le Risque (Coolus, 1909).

    B (1) - Rivalidade entre Pai e Filho por causa de uma Mulher Solteira: Antgona de Metastasio; Les Fossiles (F. de Curel); La Massire (Lemaitre, 1905);

  • La Dette (Trarieux, 1909); Papa (de Flers e de Caillavet, 1911); Mtitridate de Racine onde a rivalidade tripa, entre pai e cada um os filhos e entre dois filhos. Exemplo parcial: o incio de Pre Prodigue de Dumas.

    (2) Rivalidade entre Pai e filho por causa de uma Mulher Casada: Le Vieil Homme (Porto-Riche, 1911).

    (3) Caso semelhante aos dois anteriores, mas no qual o Objeto j a Esposa do Pai: (Este vai alm do adultrio, e tende a resultar em incesto, mas a pureza da paixo preserva, para efeito dramtico, uma sutil distino entre esta subclasse e a Situao XXVI): "Fnix" de Eurpides (aqui uma concubina o objeto da rivalidade); Don Carlos de Schiller; Felipe II de Schiller.

    (4) Rivalidade entre Me e Filha: - LAutre Danger (Donnay, 1902).

    C Rivalidade entre Primos: (que na realidade cai na classe seguinte): - "Os Dois Nobres Parentes" de Beaumont e Fletcher.

    D Rivalidade entre Amigos: Os dois Cavalheiros de Verona de Shakespeare; Amar sem Saber Quem de Lope de Veja; Damon de Lessing; O Corao tem Suas Razes (de Flers e de Caillavet, 1902); Une Femme Passa (Coolus, 1910).

  • DCIMA QUINTA SITUAO

    ADULTRIO ENVOLVENDO HOMICDIO

    Elementos: Dois adlteros; Marido ou Mulher Trada)

    Em minha opinio, seria esta a nica forma realmente atraente para apresentar um adultrio; ou no ser a simples invaso de uma casa, menos herica, em que o Objeto do roubo um cmplice e a porta da casa, j aberta por traio, no precisa nem sequer um empurro para abrir? Seno, esta traio se torna no mnimo lgica e duradoura j que uma loucura genuna e sincera, suficientemente apaixonada para preferir o assassinato em vez de usar a dissimulao a fim de constituir uma base para partilhar o amor.

    A (1) Assassinato de um Marido por ou para um Amante: - Agamenon de squilo, Sneca e Alfieri; Vittoria Corombona" de Webster; Pierre Pascal; Les Emigrants (Hirstch, 1909); LImpasse (Fread Amy, 1909); Partage de Midi (Paul Claudel) Amour (Leon Hennique, 1890); o incio de Powers of Darkness. Exemplo histrico, oferecendo orgulho e humilhao como um motivo para o crime; a lenda de Gyges e Candaules. Da fico: a primeira parte de Thrse Raquin.

    (2) Assassinato de um Amante confiante: - Sanso e Dalila (pera de Saint-Sans, 1890).

    B - Assassinato de uma Esposa por causa de uma Amante e por Interesse Prprio: - Otvia de Sneca e Alfieri; La Lute pour la Vie por Daudet (em que a cupidez domina o adultrio); O Cisma da Inglaterra por Calderon; Zobeide por Gozzi. Exemplo narrativo: Barba Azul. Histrico: assassinato de Galeswinthe.

    Dicas para variar e modificar esta situao: - o marido ou mulher trada podem ser mais ou menos poderosos, de carter mais ou menos simptico que o assassino. A cegueira da vtima em questo pode ser mais ou menos total nos vrios momentos da ao; se ela pode ser em parte ou totalmente eliminada, ser por acaso, por algum ato imprudente dos culpados, por um aviso etc.

    Podem ter existido laos de afeio ou gratido entre vtima e intruso; laos bastante reais para um ou outro. Eles podem ser parentes, estar unidos por trabalho ou deveres em comum. A vtima, esteja ela sendo perseguida de maneira aberta ou secreta, ser, sem dvida objeto de um antigo rancor, tanto da parte do consorte como do intruso; a origem deste rancor pode estar em uma das imaginveis ofensas que podem ferir um homem nas sua afeies, amores, ideais etc., ou na sua honra de famlia, de nome, realizao; nos seus interesses (dinheiro, bens, poder, liberdade); em qualquer uma das manifestaes externas da vida.

    Dos dois adlteros, um poder ser apenas o instrumento apaixonado, resignado, inconsciente ou involuntrio do outro e, mais tarde, quando o fim for atingido, ele poder ser rejeitado. O golpe pode ser desferido por somente um dos dois traidores. Ou pode ser que nenhum deles queira manchar suas mos com o crime que ser cometido por um novo personagem, talvez sem querer ou por amor a um dos dois Adlteros que usou e direcionou esta paixo, ou permitiu que ele se dirigisse sua prpria maneira para o fim desejado e criminoso.

  • Em vrios graus e de acordo com os meios empregados e obstculos apresentados, outros personagens sero vtimas secundrias e cmplices do ato sinistro. O prprio ato pode ser abordado conforme a escolha do autor entre as inmeras circunstncias previstas pela Lei, com os diversos detalhes sugeridos pelas aes nos tribunais de justia.

    Caso se queira uma ao mais complicada, entrelaar (como fez Hennique) a rivalidade de Parentes, um amor proibido (ver Chrysippe de Eurpides), uma inteno ambiciosa e uma conspirao.

  • DCIMA SEXTA SITUAO

    LOUCURA

    (Elementos: Louco e Vtima)

    A origem de certas atitudes humanas est oculta em terrvel mistrio, mistrio em que os antigos acreditavam perceber o sorriso cruel de um deus no qual cientistas, e tambm filsofos chineses, crem reconhecer os desejos ampliados e hereditrios de um ancestral. Para a Razo, um despertar assustador quando ela descobre que seu destino est rodeado por cadveres ou desonras que o Outro, o desconhecido, espalhou a seu bel prazer. Como nossos parentes devem lamentar e tremer diante desta calamidade, maior que a morte; quanto terror e suspense devem surgir nas suas mentes! E as vtimas cujos lamentos se perdem no mutismo dos cus; os entes queridos perseguidos por rancor irracional que eles no conseguem compreender! Quantas variaes do inconsciente apresentam-se aqui: loucura, possesso, divina cegueira, hipnose, intoxicao, esquecimento!

    A (1) Parente Assassinado na Loucura: - Athamas e As Tecels de Rede de squilo; Hercules Furens por Eurpides e Sneca; on por Eurpides.

    (2) Amante Assassinado na Loucura: La Fille Eliza por Edmond de Goncourt; La Tentation de Vivre (Louis Ernault). Um amante a ponto de matar sua amante na loucura: Exemplo da fico: La Bte Humaine. Exemplos de famlia: Jack o Extirpador; o Espanhol de Montmartre etc.

    (3) Assassinar ou Ferir uma Pessoa no Odiada: "Monsieur Bute" (Biollay, 1890). Destruio de uma obra: "Hedda-Gabler".

    B Desgraa Atrada para Si Prprio Atravs da Loucura: Trcios de squilo; Ajax de Sfocles; at certo ponto Saul (Gide).

    C Perda de Entes Amados Causada por Loucura: - Sakuntala por Kalidasa (forma: amnsia) a poo mgica de Hagen, em Wagner.

    D Loucura Despertada por Medo de Insanidade Hereditria: - LEtau (Andr Sardou, 1909).

    O caso da A (3) transferido para o passado e tratado de acordo com um processo tipo toma-l-d-c, uma das mais engraadas comdias do sculo XIX, LAffaire de la Rue Lourcine por Labiche.

    Inmeros exemplos desta Dcima Sexta Situao enchem as pginas inquietantes de revistas de psiquiatria. Doenas mentais e vrios tipos de manias proporcionam efeitos poderosos e dramticos que ainda no foram explorados. Eles fornecem indubitavelmente apenas pontos de partida para a Situao cuja real aplicao acontece no momento em que o heri conduzido razo o que significa, ao sofrimento. Porm, se estas trs fases a etiologia do delrio, seu acesso e o retorno s condies normais forem tratadas com igual vigor, o resultado ser uma obra admirvel!

    O primeiro dos trs estgios, que fornece a explicao da insanidade, foi invariavelmente atribudo ao divino (pelos gregos), Ao demonaco (pela Igreja) e,

  • atualmente, hereditariedade e estados patolgicos. A hipnose criou recentemente uma outra proposta: o hipnotizador um substituto, - lamentvel, verdade, - do divino ou do demnio. O alcoolismo nos fornece uma proposta igualmente desconhecida para a Grcia. O que hoje mais comum e mais terrvel, a descoberta de um importante segredo ou um ato criminoso cometido sob a influncia do lcool?

    necessrio dizer que todos os laos, interesses e desejos humanos podem ser representados atravessados e iluminados pela luz da demncia?

    De resto, esta situao de Loucura est longe de ter sido negligenciada no nosso teatro. Shakespeare em seus dramas mais ntimos usou a loucura nos papis principais. Lady Macbeth sonmbula e morre acometida por histeria, seu marido vtima de alucinaes; o mesmo pode ser dito de Hamlet que sofre de depresso profunda; tambm de Timon; Otelo epiltico e Rei Lear completamente insano. por isso que o grande William um modelo to perigoso (Goethe no o lia mais de uma vez por ano). Ele representou, at certo ponto, o mesmo papel de Michelangelo, exagerando as fontes da ao ao limite mximo da realidade, alm do qual seus discpulos caem na mera pretenso ridcula.

    Por outro lado, se excluirmos o pretexto de estudar a prpria insanidade, que Ajax forneceu de Astidamus para nio, e de nio para o Imperador Augusto, no encontro nada Shakespeariano no drama da antiguidade exceto em Orestes. Todos os outros personagens esto em pleno gozo das suas faculdades mentais e nem por isso no deixam de ser trgicos. dipo, na falta de anormalidade na constituio psicolgica do heri, mostra eventos externos de carter extraordinrio (um recurso desde ento largamente usado pelos Romnticos a partir de 1830). Mas o resto dos antigos tipos dramticos evoluram de acordo com paixes normais e sob condies objetivas relativamente comuns.

  • DCIMA STIMA SITUAO

    IMPRUDNCIA FATAL

    (O imprudente; a Vtima e o Objeto Perdido)

    Aos quais s vezes se adiciona O Conselheiro, uma pessoa sbia que se ope imprudncia, ao Instigador mau, egosta ou insensato, e o conjunto usual de Testemunhas, Vtimas e Instrumentos secundrios etc.

    A (1) Imprudncia como Causa dos Prprios Desgostos: - Eumele de Sfocles; Phaeton de Eurpides (aqui o Conselheiro est misturado ao personagem Instrumental que, sob um juramento feito sem pensar, v-se na Situao XXIII, A (2) obrigado a sacrificar um parente para manter o voto; O Mestre de Obras de Ibsen. Da comdia: LIndiscret (SEE, 1903).

    (2) Imprudncia como Causa da Prpria Desonra: - La Banque de lUnivers (Grenet-Dancourt, 1886). Da fico: LArgent de Zola. Histrico: Ferdinand de Lesseps.

    B (1) Curiosidade como Causa da Prpria Desgraa: - Semele de squilo. Exemplos histricos (que do origem obra Sacrifcios ao Ideal da Vigsima Situao): a morte de muitos acadmicos e cientistas.

    (2) Perda da Posse de um Ente Querido, Atravs da Curiosidade: - Psique (emprestada do conto que La Fontaine extraiu de Apuleius, o devedor de Lucius de Patras e dramatizado por Corneille, Molire e Quinault); Esclarmonde (Massenet, 1889). Exemplo lendrio: Orfeu trazendo Eurdice de volta. Esta proposta tende para as Situaes XXXII e XXXIII, Cime por Engano e Erro Judicial.

    C (1) Curiosidade como Causa da Morte ou Desgraa de Outros: Pandora de Goethe e Voltaire; O Pato Selvagem de Ibsen. Exemplo lendrio: Eva.

    (2) Imprudncia como Causa da Morte de um Parente: La Mre Meurtriere de son Enfant (um Milagre de Notre Dame, do Sculo XIV); On ne Badine pas avec lAmour (de Musset); Rene Mauperin pelos Goucourts. Exemplo de famlia: erros ao cuidar de doentes. Louise Leclerq de Verlaine. A causa de desgraa de outro: Produtos Estragados (Brieux, 1905).

    (3) Imprudncia com Causa da Morte de um Amante: - Sanso de Voltaire; La Belle aux Cheveux dOr (Arnould, 1882).

    (4) Credulidade como Causa da Morte de Parentes: - Pelias de Sfocles e Peliades de Eurpides. Da fico: credulidade como causa de desgraa de conterrneos: Port-Tarascon. Se colocarmos em cada uma das subclasses anteriores, o equivalente aos casos apresentados em um exemplo em apenas uma classe, temos os seguintes assuntos: - por Imprudncia (significando imprudncia pura e simples, no ligada a curiosidade ou credulidade) para causar a desgraa de outros; perder a posse de um ente querido (amante, esposa ou marido, amigo, benfeitor, protegido etc); causar a morte de um parente (pode-se escolher qualquer grau de parentesco); causar a morte de um ente querido. Por Curiosidade (no associada a imprudncia ou credulidade) causar a desonra de um parente (os vrios tipos de desonra so suficientemente numerosos e afetam probidade, coragem, modstia, lealdade). Causar

  • tais desonras por pura Credulidade (no associada a imprudncia ou curiosidade). Um exame da Dcima Segunda Situao nos dar uma idia bsica do modo como Ruse pode ter sido usado para obter esta credulidade. A Credulidade pode tambm ser causa da prpria desgraa, da perda de posses, da desgraa de outros ou da morte de um ente querido.

    Agora passemos s causas que podem precipitar to rapidamente como curiosidade, credulidade ou pura imprudncia uma catstrofe generalizada. Estas causas so: - no respeitar a proibio ou uma lei previamente estabelecida por uma divindade; o efeito mortal do ato sobre quem cometeu a infrao (efeito advindo de causas mecnicas, biolgicas, judiciais, marciais etc.); as consequncias mortais do ato sobre filhos ou entes queridos do infrator; um pecado previamente cometido de maneira consciente ou no, e que est prestes a se revelado e punido.

    Alm da curiosidade e credulidade, a imprudncia pode ser determinada por outros motivos; em As Trachinias, por exemplo, o cime. O mesmo papel pode ser atribudo a cada uma das paixes, emoes, desejos, necessidades, gostos, debilidade humana; sono, fome, atividade muscular, voracidade, luxria, futilidade, puerilidade. Quanto ao desastre final, ele pode assumir vrios aspectos j que poder cair sobre o bem estar fsico, moral ou social, seja destruindo a felicidade, honra, propriedade ou poder.

    Nesta situao, o Instigador, - que apesar de tudo no essencial, - pode ter direito a figurar at como protagonista; como no caso de Media, em Pelias. Este , talvez, o aspecto mais favorvel pelo qual o vilo pode ser apresentado; imagine, por exemplo, Iago tornando-se o principal personagem de uma pea (como Sat do mundo!) A dificuldade vai ser achar um motivo suficiente para ele; ambio (parcialmente o caso em Ricardo III) nem sempre convincente devido ao seu meio a priori de agir; cime e vingana parecem sentimentalismo bobo para este figura demonaca; misantropia muito filosfica e honrada; interesse prprio (o caso de Pelias) mais apropriado. Mas inveja a inveja que diante da solicitude amistosa torna-se mais intensa a inveja considerada nas suas sombrias tentativas mesquinhas, na vergonha da derrota, na sua covardia e terminando, finalmente, em crime, aqui ela me parece o motivo ideal

  • DCIMA OITAVA SITUAO

    CRIMES INVOLUNTRIOS POR AMOR

    (O Amante; o Amado; o Revelador)

    Esta situao e a seguinte destacam-se como os perfis mais fantsticos e improvveis no nosso horizonte dramtico. Mesmo assim, elas so bastante admissveis e no mnimo to freqentes hoje em dia como eram nos tempos hericos, atravs do adultrio e da prostituio que nunca floresceram to bem como atualmente. o simples revelar do que menos freqente. Embora muitos de ns tenhamos visto certos casamentos, aparentemente normais, planejados e arrumados, como j foram, por pais ou amigos da famlia, embora os pais tenham, desfeito, evitado, feito obstinada oposio aparentemente sem nenhuma razo, porm certos da consanginidade entre os amantes. Tais revelaes ainda acontecem, porm sem a sua antiga e impressionante exibio graas aos costumes do hoje e nossa conduta prudente. A sua reputao de fabulosa monstruosidade est associada nossa Dcima Oitava Situao pela inigualvel celebridade do tema dipo tratado por Sfocles com estilo quase romntico, e que seus imitadores carregaram com arabescos imaginrios cada vez mais quimricos e extraordinrios.

    Esta situao e a seguinte como de certo modo todas as trinta e seis podem ser representadas sob dois enfoques escolha do autor. Na primeira, um erro fatal revelado simultaneamente para o espectador e o personagem, somente depois de tal erro ser irreparvel, como na Classe A; e aqui o estado mental lembra muito bem a Dcima Sexta. Na segunda, o espectador, sabendo a verdade, v o personagem dirigir-se inconscientemente para o crime como em um tipo sinistro de cegueira ilusria, como nas Classes B, C e D.

    A (1) Algum Descobre que se Casou com a Prpria Me: - dipo de squilo, Sfocles, Sneca, Anguillara, Corneille, Voltaire, sem mencionar as obras de Aqueu, Filocles, Melitus, Xenocles, Nicomachus, Carcinus, Digenes, Theodecte, Julio Cesar, nem de Jean Prvost, Nicolas de Sainte-Marthe, Lamothe, Ducis, J. Chenier etc. A maior glria de Sfocles consiste em nos maravilharmos com o fato de que nenhuma das inmeras imitaes, nem a famosa lenda de abandono no Citeron, nem o antigo e conhecido mito da Esfinge, nem a diferena de idades do par casado, - nada disso fez da sua obra algo ilgico ou no convincente.

    (2) Algum Descobre que a Amante sua Irm: - Torrismond de Tasso; A Noiva de Messina de Schiller. Este caso, mais freqente, no convence no decorrer do drama quando combinado com a Dcima Nona Situao. Exemplo da fico: O Filho Natural de Sue.

    B (1) Algum Descobre que se Casou com a Prpria Irm: O Casamento de Andr (Lemaire e de Rouvre, 1882). Sendo esta uma comdia, o erro descoberto a tempo de ser remediado e a pea tem final feliz. Abufar por Ducis tambm cai na classificao anterior.

    (2) O Mesmo Caso, mas o Crime foi Vilmente Tramado por uma Terceira Pessoa: - "Heraclius" (apesar da sua genialidade, ela nos proporciona mais uma sensao de pesadelo do que uma terrvel realidade).

  • (3) - Chegar quase a Ponto de Assumir a Irm como Amante: - Fantasmas de Ibsen. A me, testemunha conhecedora do caso, hesita em revelar o perigo com medo de submeter o filho a um choque fatal.

    C Quase Violar uma Filha, por Desconhecimento: - Exemplo Parcial: Les Dames aux Domino Rose (Bouvier, 1882).

    D (1) Quase Cometer um Adultrio por Desconhecimento: - (os nicos casos que encontrei nos dramas): - "Le Roi Cerf" e "L'Amour des Trois Oranges" ambos de Gozzi.

    (2) Adultrio Cometido sem Saber: - provavelmente Alcmene de squilo; Le Bon Roi Dagobert (Rivoire, 1908). Da fico: o final de O Tit por Jean-Paul Richter.

    As diversas modificaes de incesto e outros amores proibidos que sero encontrados na Situao XXVI, podero ser adaptadas na mesma maneira dos casos aqui classificados.

    Vimos os exemplos de adultrio acima ser cometidos por causa de um erro da parte da esposa; o mesmo pode acontecer atravs de um erro da parte do marido. Tal erro pode ser cometido especialmente por parte daquele que solteiro; existe algo mais comum do que descobrir um tanto tardiamente , por exemplo, na vida prazerosa, que a amante casada?

    Desconhecimento do sexo da pessoa amada o ponto de virada de "Mademoiselle de Maupin"; em primeiro lugar, existe um erro (comdia) sobre o qual se constroem as lutas obsessivas de uma alma (tragicomdia) e, quando a verdade revelada, o resultado um breve final trgico.

  • DCIMA NONA SITUAO

    UM PARENTE ASSASSINADO POR NO TER SIDO RECONHECIDO

    (o Assassino; a Vtima No Reconhecida)

    A Dcima Oitava Situao atinge seu mais alto grau de emoo depois da realizao do ato, (certamente porque todos os envolvidos sobrevivem e o horror est, sobretudo, nas consequncias). A Dcima Nona, ao contrrio, na qual uma vtima dever morrer e onde o interesse aumenta por causa da premeditao cega, torna-se mais pattica na preparao do crime do que no resultado. Tal fato permite um final feliz sem a necessidade de recorrer a um processo cmico de erro, como na Dcima Oitava. O simples fato de um personagem reconhecer o outro j suficiente, - do qual a nossa Situao XIX , com efeito, uma decorrncia.

    A (1) Chegar a Ponto de Assassinar uma Filha por Desconhecimento, Ordem de uma Divindade ou Orculo: Demofon de Metastasio; o desconhecimento do parentesco deriva de uma troca de bebs; da interpretao errnea das palavras de um orculo; a jovem personagem, em determinada altura de ao, acredita ser irm do seu noivo. Esta associao de trs ou quatros enganos (parentesco desconhecido, a viso especial da situao que estamos estudando, um suposto perigo de incesto, como na B2 da anterior, e finalmente uma ambigidade de palavras mal direcionadas, como na maioria das comedias) suficiente para formar a chamada ao eletrizante, caracterstica das intrigas retomadas pelo Segundo Imprio e sob cujas intricadas confuses nossos cronistas cresciam com entusiasmo pueril.

    (2) Por Necessidade Poltica: - Les Gubres e Les Lois de Minos de Voltaire.

    (3) Por Rivalidade no Amor: - La Petitie Mionne (Richebourg, 1890).

    (4) Por dio do Amante da Filha No Reconhecida: Le Roi sAmuse (na qual a descoberta vem depois do homicdio).

    B (1) Quase Matar um Filho sem Saber: - Telefus de squilo e Sfocles (com incesto como alternativa para este crime); Cresfontes de Eurpides; Meropes de Maffei, Voltaire e Alfieri; Creusa de Sfocles; on de Eurpides. Em Olimpada de Metastasio, este assunto complica-se com uma Rivalidade entre Amigos. Um Filho Assassinado por No ter Sido Reconhecido Exemplo parcial: o terceiro ato de Lucrcia Borgia; 24 de Fevereiro de Wagner.

    (2) - O Mesmo Caso de B (1) Reforado por Instigaes Maquiavlicas: "Euriale" de Sfocles; "Egeus" de Eurpides.

    (3) o Mesmo Caso de B (2) Acrescentado do dio de um Parente: (o de um av pelo neto): - Ciro de Metastasio.

    C Quase Assassinar um Irmo sem Saber: (1) Irmos que Matam por Ira: Alexanders de Sfocles e Eurpides.

    (2) Uma Irm Matando por Dever Profissional: - As Sacerdotisas de squilo; Ifignia em Tauris de Eurpides e Goethe e a projetada por Racine.

  • D Assassinato de uma Me por No Reconhecimento: Semiramis de Voltaire; exemplo parcial: o final de lucrcia Borgia.

    E Um Pai Assassinado por Desconhecimento, Atravs de Conselho Maquiavlico: (ver XVII): Pelias de Sfocles e Peliades de Eurpides; Mahomet de Voltaire (em que o heri est tambm a ponto de casar-se com a sua irm por desconhecer o parentesco). O Simples Assassinato de um Pai No Reconhecido: - Exemplo lendrio: Laius. Do romance: A Lenda de Saint Julien o Hospitalrio. O Mesmo Caso Reduzido de Homicdio para Simples Insulto: - Le Pain d Autrui (inspirado em Turgenieff de Ephraim e Schutz, 1890). Quase Matar o Pai sem Saber: - Israel (Bernstein, 1908).

    F (1) Um Av Assassinado por Desconhecimento, por Vingana e Atravs de Instigao: - Les Burgraves (Hugo).

    (2) Homicdio Involuntrio: Polidectes de squilo.

    (3) Sogro Assassinado Involuntariamente: - Anfitrion de Sfocles.

    G (1) Homicdio Involuntrio de uma Mulher Amada: Procris de Sfocles. Exemplo pico: Tancredo e Clorinda em Jerusalm Libertada. Exemplo lendrio (com alterao do sexo da pessoa amada): Hiacinto.

    (2) Quase Matar um Amante por No o Ter Reconhecido: - O Monstro Azul de Gozzi.

    (3) Fracasso no Resgate de um filho No Reconhecido: - Saint Alexis (Milagre de Notre Dame do sculo XIV); La Voix du Sang (Rachilde).

    notvel a preferncia de Hugo (e conseqentemente dos seus imitadores) por esta situao um tanto rara. Cada um dos dez dramas do velho romancista o contm. Dois deles, Hernani e Torquemada, so de certo modo acessrios da Dcima Stima (Imprudncia), tambm fatal para o heri; em quatro (Marion Delorme, Angelo, La Esmeralda e Ruy Blas) o caso de ferimento involuntrio de um ente querido abastece toda a ao e proporciona os melhores episdios; em outros quatro (Le Roi sAmuse, Marie Tudor, Lucrcia Borgia e Les Burgraves") ele empregado no final. Parece que para Hugo o drama consiste em causar, direta ou indiretamente, a morte de um ente amado; e na obra em que ele acumulou o maior nmero de efeitos teatrais - Lucrcia Borgia vemos a mesma situao retornando nada menos que cinco vezes. Perto da primeira parte do Ato I, Gennaro permite que sua me no reconhecida seja insultada; na segunda parte, ele mesmo a insulta sem saber que ela sua me; no Ato II ela ordena a morte, garantida, do filho que no reconhece; em seguida ela descobre que no tem outro recurso a no ser mat-lo ela mesma e novamente insultada por ele; finalmente, no Ato III ela o envenena e, ainda no sabendo, ela insultada, ameaada e assassinada por ele.

    Deve-se notar que Shakespeare nunca empregou um dos exemplos citados na Dcima Nona Situao, algo totalmente acidental que no influiu no seu intenso estudo da vontade.

  • VIGSIMA SITUAO

    AUTO-SACRIFCIO POR UM IDEAL

    (O Heri; o Ideal; o Credor ou a Pessoa ou Objeto Sacrificado)

    Os quatro temas de Imolao dos quais este primeiro, nos trazem trs cortejos: - Deuses (XX e XXIII), Parentes (XXI e XXIII) e Desejos (XXII). O campo do conflito no mais o mundo visvel, mas a Alma.

    Destes quatro temas, nenhum mais nobre que este da Vigsima Situao, - tudo por um ideal! Seja qual for o ideal, poltico ou religioso, tenha ele o nome de Honra ou Devoo, no importa. Ele exige sacrifcios de todo tipo, de interesses, de paixo, da prpria via, - no entanto, ser muito melhor se for curtido com o mais sutil, porm o mais sublime, egosmo.

    A (1) Sacrifcio da Vida em Benefcio do Prprio Mundo: Regulus de Pradon e Metastasio; o final de Hernani (Cartago e Don Ruy Gomez so os Credores). No surpresa que um grande nmero de exemplos no apaream todos de uma vez? Esta fatalidade, a obra da prpria vtima, na qual a vitria ganha sobre o Self, - no vale a pena iluminar o palco com as suas chamas sacrificais? No entanto, no preciso escolher um heri quase inteiramente perfeito como Regulus.

    (2) Vida Sacrificada em Nome do Sucesso do Prprio Povo: - As Mulheres que Esperam; Protesilas de Eurpides; Temstocles de Metastasio. Exemplos parciais: Ifignia em Aulis por Eurpides e Racine. Exemplos histricos: Codrus; Curtius; Latour dAuvergne. Pela Felicidade do Prprio Povo: - O Cristo Sofredor de S. Gregrio Nazianzen.

    (3) Vida Sacrificada por Devoo Filial: - As Mulheres Fencias de squilo; Antgona de Sfocles e Eurpides, Alamanni e Alfieri.

    ((4) Vida Sacrificada em Nome da Prpria F: - O Milagre de S. Incio da Antioquia) Sculo XIV); Vive le Roi (Han Rymer, 1911); Cesar Birotteau (Fabre, inspirado em Balzac, 1911); O Prncipe Devoto por Calderon; Lutero por Werner. Exemplos de famlia: todos os mrtires, por crena religiosa ou pela cincia. Na fico: LOeuvre de Zola. Em nome do Rei: - LEnfant du Temple (de Pohles).

    B (1) Amor e Vida Sacrificados em Nome da F: - Polieucte. Na fico: O Evangelista (sacrifcio da famlia e do futuro em nome de prpria f).

    (2) Amor e Vida Sacrificados por uma Causa: - Os Filhos de Jahel (Mme. Armand, 1886).

    (3) Amor Sacrificado por Interesses de Estado: - o tema favorito de Corneille, como em Othon, Sertorius, Sophonisbe, Pulcherie, Tito e Berenice. A esses se somam Berenice de Racine e Sophonisbe de Trissino, Alfieri e Mairet; Aquiles em Scyro e Dido de Metastasio; Troyons (a melhor tragdia do seu sculo) de Berlioz; A Imperatriz (Mendes). O Credor nesta subclasse permanece abstrato e facilmente confundido com o Ideal e o Heri; as Pessoas Sacrificadas, ao contrrio, tornam-se visveis e so: Plautine, Viriate, Syphax e Massinisse, Berenice, Deidamie. Na comdia: S. A. R. (Chancel, 1908).

  • C Sacrifcio do Bem Estar pelo Dever: - Ressurreio de Tolstoi; LApprentie (Geffroy, 1908).

    D Ideal da Honra Sacrificado pelo Ideal da F: - Dois importantes exemplos que por razes secundrias no obtiveram sucesso (pois o ouvido pblico foi incapaz de perceber o alto timbre da harmonia na escala do sentimento): Teodoro de Corneille e A Virgem Mrtir de Massinger. Exemplo parcial: o bom ermito Abro em Hroswitha.

  • VIGSIMA PRIMEIRA SITUAO

    AUTO-SACRIFCIO EM NOME DE PARENTES

    (O Heri; o Parente; o Credor ou a Pessoa ou Objeto Sacrificado)

    A (1) Vida Sacrificada em nome de um Parente ou Ente Querido: Alceste de Sfocles, Eurpides, Buchanan, Hardy, Racine (projetado), Coypel, Saint-Foix, Dorat, Gluck, H. Lucas, Vauzelles etc.

    (2) Vida Sacrificada pela Felicidade de um Parente ou um Ente Amado: - O Ancio de Richepin. Duas obras simtricas so Smilis (Aicard, 1884) em que o marido se sacrifica, e O Divrcio de Sarah Moore (Rozier, Paton e Dumas filho) em que a esposa se sacrifica. Exemplos da fico e anlogos a esses dois dramas so Grandes Expectativas de Dickens e A Alegria de Viver de Zola. Exemplos comuns: trabalhadores em atividades de risco.

    B (1) Ambio Sacrificada pela Felicidade de Pai ou Me: - Les Frres Zemganno de Edmond Goncourt. O final oposto ao de LOeuvre.

    (2) Ambio Sacrificada pela Vida de Pai ou Me: - Madame de Maintenon (Coppe, 1881).

    C (1) Amor Sacrificado em nome da Vida de Pai ou Me: - Diana de Augier; Martyre (Dennery, 1886).

    (2) Pela Felicidade do Prprio Filho/a: - Le Reveil (Hervieu, 1905); La Fugitive (Picard, 1911). Pela Felicidade de um Ente Amado: Cirano de Bergerac de Rostand; Le Droit