Tribunal de Contas · 2013-01-18 · Anexo X (continuação) - Saldos orçamentais 2025-2038........
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Tribunal de Contas
Relatrio
N. 17/2012 FS/SRATC
Auditoria ao Municpio da Lagoa Dvida pblica e encargos plurianuais
Data de aprovao 18/12/2012 Processo n. 12/104.03
Tribunal de Contas
Auditoria ao Municpio da Lagoa
Dvida pblica e encargos plurianuais (12/104.03)
-2-
ndice
Siglas e abreviaturas ............................................................................................................... 4
Glossrio ............................................................................................................................... 5
Sumrio ................................................................................................................................. 6
Parte I
Introduo
1. Fundamento, mbito, objetivos e metodologia .............................................................................. 8
2. Condicionantes e limitaes .......................................................................................................... 9
3. Contraditrio ................................................................................................................................ 10
4. Identificao dos responsveis ..................................................................................................... 11
Parte II
Observaes de auditoria
5. Pressupostos metodolgicos ........................................................................................................ 12
6. Dinmica da dvida face execuo oramental no perodo 2009-2011 ..................................... 13
7. Emprstimos de curto prazo geradores de dvida fundada ........................................................... 16
7.1. Factos apurados .............................................................................................................. 16
7.2. Sujeio a fiscalizao prvia ......................................................................................... 17
7.3. Concluso. Eventual responsabilidade financeira sancionatria .................................. 18
8. Dvida e encargos plurianuais originados no sector empresarial local ........................................ 20
8.1. EML Empresa Municipal de Urbanizao, Requalificao Urbana e Ambiental e
Habitao Social, E.M. ................................................................................................... 20
8.2. Portas da Lagoa Sociedade de Desenvolvimento de Lagoa, S.A. ................................ 25
8.3. EIRSU Empresa Intermunicipal de Recolha de Resduos Slidos Urbanos da Ilha de
So Miguel, E.I.M. .......................................................................................................... 30
9. Emprstimos contrados atravs de entidades privadas ............................................................... 33
10. Dvida municipal consolidada ...................................................................................................... 36
10.1. Em 31-12-2011 ................................................................................................................ 38
10.2. Em 31-05-2012 ................................................................................................................ 40
11. Sustentabilidade das finanas municipais e equidade intergeracional ......................................... 42
11.1. Encargos futuros da dvida financeira lquida consolidada ........................................... 43
11.2. Sustentabilidade das finanas municipais ...................................................................... 44
11.3. Equidade intergeracional ............................................................................................... 47
11.4. Capacidade de autofinanciamento .................................................................................. 48
11.5. Concluso........................................................................................................................ 49
12. Grau de acatamento das recomendaes formuladas pelo Tribunal de Contas ........................... 51
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Auditoria ao Municpio da Lagoa
Dvida pblica e encargos plurianuais (12/104.03)
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Parte III
Concluses e recomendaes
13. Principais concluses ................................................................................................................... 54
14. Eventuais infraes financeiras e irregularidades ........................................................................ 57
14.1. Eventual infrao financeira........................................................................................... 57
14.2. Irregularidades ............................................................................................................... 59
15. Recomendaes............................................................................................................................ 60
16. Deciso ......................................................................................................................................... 61
Conta de emolumentos .................................................................................................................... 63
Ficha tcnica ................................................................................................................................... 64
Anexo I - Metodologia .................................................................................................................... 65
Anexo II - Pressupostos adotados na elaborao das projees financeiras ................................... 67
Anexo III - Mapas de execuo oramental 2009-2011 ............................................................... 75
Anexo IV - Evoluo da receita e da despesa 2009-2011 ............................................................ 78
Anexo V - Reduo da despesa 2009-2011 ................................................................................. 79
Anexo VI - Demonstraes de resultados das entidades participadas 2009-2011 ....................... 80
Anexo VII - Balanos das entidades participadas 2009-2011 ...................................................... 81
Anexo VII (continuao) - Balanos das entidades participadas 2009-2011 ............................... 82
Anexo VIII - Dvida municipal consolidada ................................................................................... 83
Anexo IX - Dvida lquida a fornecedores e outros credores .......................................................... 84
Anexo X - Saldos oramentais 2009-2024 ................................................................................... 85
Anexo X (continuao) - Saldos oramentais 2025-2038 ............................................................ 86
Anexo X (continuao) - Grfico Saldos oramentais 2012-2038 ............................................ 87
Anexo XI - Saldos primrios vs. Servio da dvida ........................................................................ 88
Anexo XII - Contraditrio............................................................................................................... 89
ndice de quadros ............................................................................................................................ 95
ndice de grficos ............................................................................................................................ 95
Legislao citada ............................................................................................................................. 96
ndice do processo........................................................................................................................... 97
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Siglas e abreviaturas
ADSE Direo-Geral de Proteo Social aos Trabalhadores em Funes Pblicas
AMISM Associao de Municpios da Ilha de So Miguel
ARAAL Regime de Cooperao Tcnica e Financeira entre a Administrao Regional e a Ad-
ministrao Local
BANIF Banco Internacional do Funchal, S.A.
BCP Banco Comercial Portugus, S.A.
cfr. conferir
CGD Caixa Geral de Depsitos, S.A.
DGAL Direo Geral das Autarquias Locais
DGO Direo Geral do Oramento
EIRSU Empresa Intermunicipal de Recolha de Resduos Slidos Urbanos, E.I.M.
EML Empresa Municipal de Urbanizao, Requalificao Urbana e Ambiental e Habitao
Social de Lagoa, E.M.
FEDER Fundo Europeu de Desenvolvimento Regional
fls. folhas
LAL Lei das Autarquias Locais
LEO Lei de Enquadramento Oramental
LFL Lei das Finanas Locais
LOPTC Lei de Organizao e Processo do Tribunal de Contas
OE Oramento do Estado
p. pgina
pp. pginas
POCAL Plano Oficial de Contabilidade das Autarquias Locais
PROCONVERGNCIA Programa Operacional dos Aores para a Convergncia
RJSEL Regime Jurdico do Sector Empresarial Local
SMAS Servios Municipalizados de gua e Saneamento de Ponta Delgada
Advertncia
Salvo indicao em contrrio, a referncia a normas legais e regulamentares reporta-se redao indicada em anexo ao presente relatrio.
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Glossrio
A
Ativos financeiros (despesa) Operaes financeiras quer com a aquisio de ttulos de crdito, incluindo obri-
gaes, aes, quotas e outras formas de participao, quer com a concesso de emprstimos e adiantamentos ou subsdios reembolsveis.
Ativos financeiros (receita) Receitas provenientes da venda e amortizao de ttulos de crdito, designada-
mente obrigaes e aes ou outras formas de participao, assim como as resultantes de reembolso de em-prstimos ou subsdios concedidos.
D
Despesa corrente primria Despesa corrente excluindo a rubrica de Juros e outros encargos.
Despesa efetiva Soma dos agrupamentos da classificao econmica de despesa, com excluso dos Ativos financeiros e Passivos financeiros.
Dvida financeira lquida consolidada Somatrio das operaes que relevaram para efeitos de apuramento
da dvida financeira consolidada deduzido dos emprstimos integralmente suportados por verbas provenientes do oramento da Regio Autnoma dos Aores, ao abrigo de contratos ARAAL.
Despesa primria Despesa efetiva excluindo a rubrica de Juros e outros encargos.
P
Passivos financeiros (despesa) Operaes financeiras, englobando as de tesouraria e as de mdio e longo
prazos, que envolvam pagamentos decorrentes quer da amortizao de emprstimos, titulados ou no, quer da regularizao de adiantamentos ou de subsdios reembolsveis.
Passivos financeiros (receita) Receitas provenientes da emisso de obrigaes e de emprstimos contrados
a curto e a mdio e longo prazos.
Permetro de consolidao Corresponde identificao concreta das entidades e das operaes a incluir no
apuramento da dvida municipal consolidada.
R
Receita efetiva Toda a receita, com excluso dos Ativos financeiros, Passivos financeiros e Saldos da gerncia
anterior1.
S
Saldo global Diferena entre a receita efetiva e a despesa efetiva.
Saldo oramental Diferena entre receitas e despesas2.
Saldo primrio Diferena entre a receita efetiva e a despesa primria.
1 No trinio 2009-2011, adicionaram-se os Saldos da gerncia anterior receita efetiva de cada um daqueles
exerccios, uma vez que tais verbas tambm tinham sido utilizadas no reforo de dotaes oramentais da
despesa. Tendo em considerao os objetivos subjacentes s projees efetuadas (cfr. ponto 10. infra), tal
procedimento apenas foi adotado relativamente ao exerccio de 2012. 2 Uma vez que as receitas e despesas foram consideradas numa base de compromisso ou de especializao
econmica, para se obter o saldo oramental final na tica de caixa deduziram-se as Receitas por cobrar e
adicionaram-se os Compromissos por pagar, ambos com referncia ao final de cada um dos exerccios (sali-
ente-se que as Receitas por cobrar no incio de cada exerccio foram acrescidas s importncias das receitas
liquidadas no decurso dos mesmos).
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Sumrio
Apresentao
O presente relatrio resulta de uma auditoria financeira orientada para o apuramento do valor
da dvida global e dos encargos plurianuais do Municpio da Lagoa, pretendendo-se aferir os
seus efeitos ao nvel da sustentabilidade das finanas municipais e da equidade inter-
geracional.
Para alm da dvida direta do Municpio, foram considerados os compromissos resultantes de
contratos, protocolos e demais instrumentos celebrados com as empresas municipais e outras
entidades pblicas ou privadas, dos quais resultem encargos em anos futuros, estejam ou no
refletidos nas respetivas demonstraes financeiras.
O mbito da ao no inclui o exame do tratamento contabilstico conferido a estas operaes.
Foi ainda avaliado o grau de acatamento das recomendaes diretamente relacionadas com os
objetivos da auditoria, formuladas pelo Tribunal de Contas em anteriores aes de controlo.
Principais concluses
Os quatro contratos de emprstimo de curto prazo celebrados desde 2009, apesar
de serem geradores de dvida pblica fundada, foram executados sem terem sido
submetidos a fiscalizao prvia do Tribunal de Contas.
data de 31-12-2011, a dvida consolidada do Municpio da Lagoa ascendia a
24 567 296,76, dos quais 13 401 553,38 (54,6%) correspondiam a dvida
financeira indireta contrada pelas participadas EML, E.M., e Portas da Lagoa,
S.A., e por entidades privadas.
A dvida financeira diretamente contrada pelo Municpio, no montante de
9 547 481,20, incorporava emprstimos cujos encargos so integralmente su-
portados por verbas provenientes do oramento da Regio Autnoma dos Ao-
res, ao abrigo de diversos contratos ARAAL, operaes que na referida data evi-
denciavam um capital em dvida de 2 040 709,05 (8,3% da dvida consolida-
da).
Com referncia a 31-05-2012, os encargos futuros da dvida financeira lquida
consolidada ascendiam a 36 389 776,12, dos quais 22 519 271,52 eram refe-
rentes ao capital em dvida, correspondendo os restantes 13 870 504,60 a juros
e outros encargos vincendos.
Os saldos primrios previsionais sugerem a sustentabilidade das finanas muni-
cipais no perodo 2012 a 2038, embora o atual nvel de endividamento comporte
elevados riscos para a respetiva estabilidade futura.
Inobservncia do princpio da equidade intergeracional na tica do endividamen-
to municipal, dada a previsvel incapacidade financeira do Municpio para fazer
face ao servio da dvida no perodo 2013 a 2019.
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Quanto capacidade de autofinanciamento, a obteno de saldos previsionais
negativos no perodo de 2013 a 2018, reflete a ausncia de meios para financiar
a execuo de novos investimentos nesse perodo.
As recomendaes formuladas no Relatrio n. 19/2010-FS/SRATC, de
30-09-2010 (Auditoria aplicao do POCAL), relacionadas com a adequada
relevao, nos documentos previsionais, das responsabilidades contratuais pluri-
anuais assumidas e com o respetivo registo contabilstico nas correspondentes
contas de controlo oramental, no foram integralmente acolhidas.
Principais recomendaes
Os contratos de emprstimo de curto prazo que sejam geradores de dvida pbli-
ca fundada por a respetiva amortizao ocorrer em exerccio subsequente ao da
contratao devem ser submetidos a fiscalizao prvia do Tribunal de Contas
antes da produo de efeitos financeiros.
Observncia estrita do regime legal do endividamento municipal, devendo a
Cmara Municipal abster-se de praticar atos que envolvam a assuno, direta ou
indireta, de encargos com o servio da dvida de emprstimos formalmente con-
trados por entidades privadas e adotando medidas no sentido de sanar de forma
consistente e definitiva as situaes existentes.
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PARTE I
INTRODUO
1. Fundamento, mbito, objetivos e metodologia
A auditoria foi realizada em execuo do plano de fiscalizao da Seco Regional dos Ao-
res do Tribunal de Contas para 20123.
De acordo com o Plano Global de Auditoria4, os principais objetivos da ao consistiram na
determinao da dvida e dos encargos plurianuais do Municpio da Lagoa, bem como do res-
petivo escalonamento temporal, de modo a avaliar o correspondente impacto na sustentabili-
dade das finanas municipais e na equidade intergeracional.
Neste sentido, procedeu-se anlise das contas individuais do Municpio5 e das entidades que
integram o respetivo sector empresarial, reportadas a 31-12-2011, assim como dos correspon-
dentes balancetes analticos, com referncia a 31-05-2012, tendo em vista determinar a ex-
presso da dvida municipal nas referidas datas.
Simultaneamente, foram analisados todos os contratos, protocolos e demais instrumentos ce-
lebrados com as empresas municipais ou com quaisquer outras entidades pblicas ou privadas
que tivessem por objeto transferncias, bem como a concesso de apoios ou subsdios de ca-
rcter plurianual, de modo a apurar as responsabilidades adicionais do Municpio, ou seja, os
compromissos que no se encontravam refletidos na correspondente dvida direta por ainda
no preencherem os pressupostos para serem considerados como tal6.
3 Aprovado por Resoluo do Plenrio Geral do Tribunal de Contas, em sesso de 14-12-2011, publicada no
Dirio da Repblica, 2. srie, n. 244, de 22-12-2011, p. 49851, e no Jornal Oficial da Regio Autnoma dos
Aores, II srie, n. 244, de 22-12-2011, p. 8506. 4 CD\1.1.- PGA. 5 A partir do exerccio de 2010 o Municpio da Lagoa passou a apresentar demonstraes financeiras consoli-
dadas, certificadas pelo auditor externo. As contas consolidadas foram elaboradas considerando duas ticas
distintas quanto definio do permetro de consolidao: uma, que resulta da adoo dos princpios estatu-
dos pela Orientao n. 1/2010, anexa Portaria n. 474/2010, de 15 de junho, publicada no Dirio da Rep-
blica, 2. Srie, n. 126, de 1 de julho de 2010, pp. 35867 a 35871, segundo os quais, para este efeito, prevale-
ce o conceito de controlo, definido como o poder de gerir as polticas financeiras e operacionais de uma
outra entidade a fim de beneficiar das suas atividades (cfr. alnea a) do ponto 3 da mencionada orienta-
o); a outra, que subjaz ao n. 1 do artigo 46. da LFL, adota o critrio da deteno direta da totalidade do
capital das participadas para assim definir o conjunto das entidades que so englobadas na consolidao
(CD\1.3.- Prestao de contas\Municpio\2011\Contas consolidadas_Portaria 474-2010).
A tica da Orientao n. 1/2010 permite que as demonstraes financeiras evidenciem, de forma verdadeira
e apropriada, a posio financeira, os resultados e a execuo oramental do grupo municipal, assumindo, por
conseguinte, uma relevncia acrescida no mbito do processo de prestao de contas do Municpio.
De salientar que os princpios constantes da referida Orientao n. 1/2010 esto conforme as normas inter-
nacionais de contabilidade pblica (International Public Sector Accounting Standards IPSAS n. 6 De-
monstraes financeiras consolidadas e contabilizao de entidades controladas). 6 Nomeadamente nos casos em que apesar de j ter ocorrido um ato de vinculao externa do municpio peran-
te terceiros, por exemplo atravs da assinatura de um contrato, a outra parte ainda no cumpriu as prestaes
a que se vinculou.
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Determinada a expresso da dvida e dos encargos plurianuais, efetuaram-se projees para a
evoluo das finanas municipais, abrangendo um horizonte temporal coincidente com a ma-
turidade dos emprstimos contrados, com o intuito de se aferir a capacidade do Municpio
dispor, de forma continuada, dos recursos financeiros necessrios ao pontual cumprimento
dos compromissos assumidos, assegurando uma distribuio equilibrada, pelos anos vindou-
ros, dos custos e benefcios associados.
A anlise efetuada incorpora a reduo das transferncias para os municpios relativas parti-
cipao nos impostos do Estado operada pela Lei do OE para 2012, assim como o efeito das
redues salariais aplicveis aos trabalhadores da Administrao Pblica.
Para efeitos de determinao da dvida e dos encargos plurianuais, a ao teve por referncia
principal a data de 31-12-2011, considerando-se, ainda, as responsabilidades de carcter plu-
rianual posteriormente assumidas at 31-05-2012, estritamente relacionadas com a contrata-
o de novos financiamentos a mdio e longo prazos ou com a atribuio de transferncias,
apoios e subsdios.
Por seu turno, a apreciao da sustentabilidade financeira do Municpio e do cumprimento do
princpio da equidade intergeracional na execuo oramental teve por suporte a elaborao
de projees, perspetivando a evoluo das finanas municipais at 2038, ano coincidente
com o ltimo exerccio relativamente ao qual existiam responsabilidades assumidas.
Finalmente, efetuou-se o follow-up das recomendaes formuladas em anteriores aes de
controlo levadas a efeito pelo Tribunal de Contas relacionadas com os objetivos da auditoria.
A metodologia e os pressupostos adotados na realizao das projees constam, respetiva-
mente, dos Anexos I e II.
Os papis de trabalho em formato eletrnico constam de ficheiros gravados em CD, que foi
includo no processo, a fls. 2., com o contedo descrito no ndice do processo. Ao longo do
Relatrio, a remisso para esses documentos feita mediante a indicao do caminho do fi-
cheiro e, se for o caso, das pginas onde se encontra o documento.
2. Condicionantes e limitaes
O Municpio da Lagoa ainda no conseguiu proceder integrao consistente dos respetivos
sistemas contabilsticos oramental e patrimonial.
Com efeito, nas operaes de fim de exerccio continuavam a no ser adotados os procedi-
mentos adequados em matria de encerramento das contas da contabilidade oramental7, de-
signadamente, a regularizao da conta 027 Compromissos atravs da transferncia para a
conta 05 Compromissos Exerccios futuros de todos os compromissos que no tenham
originado a constituio de uma obrigao contabilstica, suportada em faturao emitida por
terceiros.
7 Cfr. ponto 2.6.1. do POCAL.
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Consequentemente, os compromissos por pagar8 constantes do mapa de controlo oramental
da despesa9 incluam verbas relativas a obrigaes ainda no constitudas, razo pela qual a
respetiva expresso era superior ao montante das dvidas a terceiros reconhecidas no balano,
decorrentes da execuo oramental10.
Do exposto resultou a necessidade de ajustar, em conformidade, os elementos histricos refe-
rentes execuo oramental da despesa, de modo a incutir coerncia informao propor-
cionada por ambos os sistemas contabilsticos e a evitar distores nas projees efetuadas.
3. Contraditrio
Para efeitos de contraditrio, em conformidade com o disposto no artigo 13. da LOPTC, o
relato foi remetido entidade auditada.
Para o mesmo efeito, mas em relao matria relatada no ponto 7., foi tambm remetido a
Joo Antnio Ferreira Ponte, na qualidade de Presidente da Cmara Municipal da Lagoa.
O Municpio apresentou uma resposta, assinada pelo Presidente da Cmara Municipal, que se
pronunciou sobre os factos descritos no relato, informando, ainda, que o contraditrio
institucional dever ser igualmente considerado como contraditrio pessoal11.
As alegaes apresentadas foram tidas em conta na elaborao do Relatrio.
Nos termos do disposto na parte final do n. 4 do artigo 13. da LOPTC, a resposta integral-
mente transcrita no Anexo XII ao presente Relatrio12.
8 Que podem ser definidos como a assuno, face a terceiros, da responsabilidade de realizar determina-
da despesa, desde que seja certa porque j foi reconhecida pelo devedor e no se encontra condicionada
ocorrncia de qualquer acontecimento futuro , e, quer se encontre vencida porque j expirou o prazo de
pagamento , quer se encontre vincenda porque o prazo de pagamento ainda no expirou, utilizando o
conceito de Encargos Assumidos e no Pagos constante da Circular Srie A n. 1364, de 11 de Maro de
2011, da DGO, disponvel em www.dgo.pt/instrucoes/Paginas/Intrucoes.aspx.
No mbito da Lei n. 8/2012, de 21 de fevereiro, estes encargos correspondem ao conceito de Contas a pa-
gar, definidas como o subconjunto dos passivos certos, lquidos e exigveis (alnea d) do artigo 3.). 9 Ponto 7.3.1. do POCAL. 10 Relativamente ao Municpio, as divergncias apuradas em cada um dos exerccios do trinio 2009-2011 fo-
ram na ordem dos 3,254 milhes, 2,658 milhes e 1,631 milhes, respetivamente. 11 Ofcios remetidos por correio eletrnico, ambos de 19-11-2012. 12 A resposta encontra-se de fls. 75 a 79 do processo e no CD\1.9-Contraditrio.
http://www.dgo.pt/instrucoes/Paginas/Intrucoes.aspx
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4. Identificao dos responsveis
O executivo camarrio responsvel pela gerncia de 2011 teve a seguinte constituio:
Quadro I: Relao nominal dos responsveis
Responsvel Cargo Perodo de
responsabilidade Residncia
Joo Antnio Ferreira Ponte Presidente
01-01-2011 a
31-12-2011
Estrada Regional n. 1 1., 40
Bloco 2 1. Dt.
9560 501 Lagoa
Durval Carlos Almeida Faria Vereador a Tempo
Inteiro
Rua Eng. Jaime Sousa Lima ao Fischer, 33
9560 119 Lagoa
Fernando Jorge Ventura Moniz Vereador Rua Eduardo Faria e Maia, 14 - Rosrio
9560 Lagoa
Rui Manuel Maciel Costa O. Ramos Vereador
Rua Coronel ngelo Albergaria Pacheco, 8
1. Esq.
9560 Lagoa
Marco Paulo da Silva Teixeira Vereador Rua Dr. Filomeno da Cmara, 22
9560 Lagoa
Jos Fernando Medeiros Costa Vereador Rua da Calada, 33 A Ribeira Seca
9680 Vila Franca do Campo
Carlos Augusto B. Rodrigues Furtado Vereador Rua do Estaleiro, 21
9560 Lagoa
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PARTE II
OBSERVAES DE AUDITORIA
5. Pressupostos metodolgicos
Como oportunamente se referiu, constituem objetivos da presente ao apurar o valor conso-
lidado da dvida e dos encargos plurianuais do Municpio da Lagoa, reportados s datas de
31-12-2011 e 31-05-2012, bem como apreciar os respetivos efeitos na sustentabilidade das
finanas municipais e na equidade intergeracional, com base nas projees elaboradas para o
perodo 2012-2038, de acordo com os pressupostos enunciados no Anexo II.
Na abordagem efetuada foram consideradas as responsabilidades financeiras do Municpio,
presentes e futuras, incluindo as provenientes do respetivo sector empresarial, assim como de
quaisquer outras entidades, pblicas ou privadas, decorrentes de contratos, acordos, protoco-
los ou quaisquer outros instrumentos celebrados, tendo por objeto a concesso de apoios ou
subsdios com carcter plurianual.
Saliente-se, ainda, que as operaes foram classificadas atendendo sua realidade eco-
nmica e substncia e no apenas respetiva forma13.
Tal significa que sero considerados os emprstimos de longo prazo contrados pelas entida-
des com participao municipal, direta ou indireta, como o caso de emprstimos contratados
pela EML, E.M., e pela Portas da Lagoa, S.A., na medida em que os correspondentes encargos
sejam suportados pelo Municpio da Lagoa.
Com idntico fundamento, integram a dvida financeira do Municpio os emprstimos de m-
dio e longo prazos contrados por entidades privadas quando os respetivos encargos sejam su-
portados por verbas provenientes do oramento municipal.
Por fim, consideraram-se os contratos de locao financeira, quer contratados diretamente pe-
lo Municpio, quer pela empresa municipal EML, E.M., bem como a operao de consolida-
o de dvidas a fornecedores concretizada no mbito da Linha de Crdito Aores Empresas
II.
13 Cfr. pontos 7., 8.1., 8.2. e 9., infra, bem como Anexo II Pressupostos adotados na elaborao das proje-
es financeiras, na parte relativa s despesas com Passivos financeiros e juros e outros encargos.
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6. Dinmica da dvida face execuo oramental no perodo 2009-2011
Tendo por base a informao histrica relativa ao trinio 2009-2011, efetuou-se uma anlise
sucinta gesto oramental daquele perodo, pretendendo-se aferir o respetivo impacto na d-
vida municipal.
Para o efeito, atribuiu-se particular nfase ao saldo oramental primrio, em virtude deste in-
dicador ser determinante para a dinmica da dvida valores sistematicamente negativos tra-
duzem nveis crescentes de endividamento14.
Do Anexo III consta a informao de suporte referida anlise.
Em 2011, o desempenho da execuo oramental traduziu-se na obteno de um excedente
primrio na ordem dos 8,0%, facto que consubstanciou uma inverso da tendncia registada
nos dois exerccios anteriores, caracterizados pela ocorrncia de significativos dfices prim-
rios, -16,1% e -11,9%, respetivamente em 2009 e 201015, consequncia da realizao de n-
veis de despesa incompatveis com as receitas geradas naqueles exerccios16.
Grfico I: Saldos oramentais 2009-2011
O comportamento evidenciado pela
despesa denota um esforo no senti-
do de promover a sua progressiva
adequao ao nvel das receitas ge-
radas pelo Municpio, condio in-
dispensvel para se alcanar um de-
sempenho oramental sustentvel a
prazo.
14 Em tais circunstncias, o equilbrio e a sustentabilidade das finanas municipais dependero no s da di-
menso daqueles dfices mas, igualmente, da capacidade futura para a gerao de excedentes oramentais
compatveis com aquelas necessidades de financiamento. 15 Se atendermos ao saldo global, isto , considerando o impacto dos encargos da dvida ao nvel da despesa, os
dfices registados em 2009 e 2010 atingem valores ainda mais expressivos: -18,7% e -13,2%, respetivamen-
te. Por seu turno, o superavit de 2011 reduz-se para 6,5%. 16 Trata-se aqui das receitas efetivas, acrescidas das Receitas por cobrar no incio do ano, pois no mbito da
presente anlise as receitas e as despesas foram consideradas independentemente do exerccio em que ocor-
ria, respetivamente, a correspondente cobrana ou pagamento (cfr. Anexo II Pressupostos adotados na ela-
borao das projees financeiras).
-5,00
0,00
5,00
10,00
15,00
2009 2010 2011
12,6411,23
13,5115,00
12,71 12,62
-2,36-1,48
0,88
-2,04-1,33
1,07
Unidade: milhes
Receita efectiva Despesa efectiva Saldo global Saldo primrio
Tribunal de Contas
Auditoria ao Municpio da Lagoa
Dvida pblica e encargos plurianuais (12/104.03)
-14-
A reduo do nvel global da despesa foi essencialmente motivada pela diminuio do
investimento17, que no perodo em apreo registou um decrscimo acumulado de 5,158 mi-
lhes (-69,5%), passando a representar apenas 16,1% da despesa processada em 2011 (Anexo
V).
No mesmo perodo, a despesa corrente tambm contribuiu positivamente para o esforo
de ajustamento, verificando-se uma reduo, em termos acumulados, na ordem dos 0,845
milhes (-12,6%).
Perante a extenso destas redues, e consequente diminuio da margem de manobra para
restringir ainda mais a despesa, colocam-se reservas relativamente capacidade do Muni-
cpio para enfrentar os condicionalismos decorrentes de um eventual reforo de medidas
e objetivos de estabilidade oramental que se traduzam no decrscimo das transferncias
provenientes do OE.
Veja-se que no final de 2011 prevaleceram na estrutura da despesa municipal as rubricas que
tradicionalmente revelam maior rigidez no que concerne respetiva reduo despesas com
pessoal e com a aquisio de bens e servios (Anexo IV)18.
No trinio em anlise as necessidades adicionais de financiamento foram supridas no s
atravs do crdito de fornecedores e de outros credores mas, igualmente, pelo recurso sistemtico a emprstimos bancrios de curto prazo, conforme se depreende do grfico e
quadro seguintes.
17 Assumindo que as verbas processadas atravs do agrupamento econmico 07.00.00 - Aquisio de bens de
capital refletem, de forma apropriada, o nvel de investimento concretizado em cada um dos exerccios em
anlise, a sua confrontao com as despesas totais realizadas no mesmo perodo faculta uma medida da res-
petiva relevncia no contexto da execuo oramental, como a seguir se evidencia:
Trata-se, aqui, do investimento diretamente promovido pelo Municpio, excluindo-se, por conseguinte, o que
foi executado pelas participadas EML, E.M., e Portas da Lagoa, S.A., mas financeiramente suportado pelo
Municpio. 18 Na anlise da estrutura da despesa relativa a 2011 no relevou a rubrica de classificao econmica 08.00.00
- Transferncias de capital, em virtude de a mesma incorporar transaes no recorrentes, na importncia
total de 3 800 344,54 (89,0% das verbas despendidas atravs desta rubrica), relativas a transferncias pro-
cessadas para a EML, E.M., com o intuito de financiar a execuo da obra de construo das caves do Parque
Tecnolgico, realizada atravs da Portas da Lagoa, S.A. De salientar que este projeto integralmente supor-
tado por verbas provenientes do oramento da Regio Autnoma dos Aores, no mbito de um contrato
ARAAL celebrado com o Municpio, razo pela qual a referida importncia foi igualmente registada em
2011 ao nvel das receitas de capital.
2009 2010 2011
47,6% 36,7% 16,1%
Aquisio de bens de capital : Despesas totais
Tribunal de Contas
Auditoria ao Municpio da Lagoa
Dvida pblica e encargos plurianuais (12/104.03)
-15-
Grfico II: Financiamento dos oramentos municipais
2009-2011
A reduo dos nveis da despesa
permitiu atenuar a expresso das
dvidas a fornecedores e outros
credores, sobretudo em 2011.
No final deste exerccio tais dvidas
financiavam 4,2% da despesa regis-
tada no decurso do mesmo, a qual
incorporava os encargos assumidos
e no pagos transitados de exerccios
anteriores19.
O decrscimo das dvidas de natureza no financeira provenientes da execuo oramental
resultou, igualmente, do recurso a endividamento bancrio de curto prazo.
Quadro II: Financiamentos de curto prazo
Com efeito, pelo menos desde 2009 que o Municpio tem vindo a adotar uma estratgia
de substituio de emprstimos de curto prazo por outros de idntica maturidade (roll
over), conseguindo, por esta via, aumentar o prazo da operao inicial e obter os recursos adi-
cionais necessrios ao financiamento da execuo oramental.
Assim, em julho de 2009 foi contrado um financiamento de curto prazo de 590 000,00,
amortizado em abril do ano seguinte.
Em junho de 2010 foi realizada nova operao de idntico montante e maturidade, liquidada
em abril de 2011, mediante a contrao de outro emprstimo de curto prazo, desta vez no
montante de 400 000,00.
Acrescente-se que este ltimo financiamento foi regularizado em maro de 2012, com o pro-
duto de um novo emprstimo contratualizado em condies idnticas de montante e prazo.
O recurso sistemtico a estas operaes indiciador de uma persistente insuficincia de meios
para fazer face ao regular e pontual cumprimento das obrigaes assumidas, situao que ten-
der a converter-se num problema de solvncia, de natureza estrutural, caso no sejam adota-
das novas medidas de consolidao oramental.
19 Tal como decorre do estatudo pela alnea g) do ponto 2.3.4.2. do POCAL, a despesa registada em determi-
nado exerccio inclui no s a que realizada no decurso do mesmo, mas, igualmente, a que transita de anos
anteriores e que ainda no foi regularizada.
-4,00
-2,00
0,00
2,00
4,00
2009 2010 2011
-2,36
-1,48
0,88
-0,20-0,20 -0,22-0,02
-0,26 -1,05
2,752,04
0,59
Unidade: milhes
Saldo globalReceitas por cobrar
1 000 Euros
2009 590,00 0,00 590,00
2010 590,00 590,00 590,00
2011 400,00 590,00 400,00
Anos Contratado LiquidadoPosio a 31
de dezembro
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Dvida pblica e encargos plurianuais (12/104.03)
-16-
Em contraditrio, o Presidente da Cmara Municipal alega que o recurso a emprstimos
bancrios de curto prazo visou a reduo da dvida que [o Municpio] tem perante os seus
fornecedores e credores, j que esta poltica uma das prioridades deste executivo.
Face ao exposto, conclui-se que o recurso sucessivo a estas operaes de crdito bancrio de
curto prazo no tem justificao em necessidades pontuais de tesouraria, mas antes pretende
colmatar dfices de execuo oramental, o que se afasta da finalidade legal dos emprstimos
de curto prazo20.
A anlise dos contratos de emprstimo de curto prazo, na tica da sujeio a fiscalizao pr-
via do Tribunal de Contas, objeto de tratamento autnomo no ponto seguinte.
7. Emprstimos de curto prazo geradores de dvida fundada
7.1. Factos apurados
a) Em 15-07-2009 o Municpio celebrou com o Banco Santander Totta, SA, um contrato de emprstimo:
i) O emprstimo foi no montante de 590 000,00 (clusula 2., n. 1), pelo prazo de 12 meses a contar da assinatura do contrato, sendo o capital mutuado amor-
tizado numa nica prestao no final do contrato (clusula 3.)21;
ii) O capital mutuado foi integralmente utilizado em 15-07-200922;
iii) Em 15-04-2010 ocorreu a amortizao da totalidade do capital23.
b) Em 10-05-2010 o Municpio celebrou com o Banco Comercial Portugus, SA, um contrato de abertura de crdito em conta corrente:
i) A abertura de crdito tinha um montante mximo de 590 000,00 (condio 1.1.), pelo prazo de 365 dias, vencendo-se em 10-05-2011 (condio 3.1.)24;
ii) O capital mutuado foi integralmente utilizado em 01-06-201025;
iii) Em 18-03-2011 ocorreu uma amortizao parcial do capital, no montante de 400 000,0026, tendo o remanescente ( 190 000,00) sido amortizado em
20-04-201127.
20 Nos termos do disposto no n. 3 do artigo 38. da LFL, [o]s emprstimos a curto prazo so contrados ape-
nas para ocorrer a dificuldades de tesouraria. Verifica-se, no entanto, que, recorrentemente, os emprsti-
mos de curto prazo contrados tm sido amortizados com o produto de novos emprstimos de igual maturida-
de e no com recurso s receitas oramentais que visavam antecipar. 21 CD\1.4.-Dvida financeira direta\Curto prazo\2009\Contrato. Em 24-07-2009 foi celebrado um aditamento
ao contrato que altera a clusula 4., n. 2, passando os juros a ser liquidados e pagos mensalmente, em vez de
trimestralmente, como estava inicialmente convencionado (CD\1.4.-Dvida financeira direta\Curto pra-
zo\2009\Aditamento_contrato). 22 CD\1.4.-Dvida financeira direta\Curto prazo\2009\Utilizao. 23 CD\1.4.-Dvida financeira direta\Curto prazo\2009\Liquidao. 24 CD\1.4.-Dvida financeira direta\Curto prazo\2010\Contrato. 25 CD\1.4.-Dvida financeira direta\Curto prazo\2010\Utilizao. 26 CD\1.4.-Dvida financeira direta\Curto prazo\2010\Liquidao parcial. 27 CD\1.4.-Dvida financeira direta\Curto prazo\2010\Liquidao restante.
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Dvida pblica e encargos plurianuais (12/104.03)
-17-
c) Em 15-03-2011 o Municpio celebrou com a CGD um contrato de emprstimo, na modalidade de abertura de crdito em regime de conta corrente:
i) A abertura de crdito tinha um montante mximo de 400 000,00 (clusula 2.), com o prazo de at 12 meses (clusula 4.), sendo possvel realizar reembol-
sos a todo o tempo (clusula 8.2.) 28;
ii) O capital mutuado foi integralmente utilizado em 20-04-201129; iii) Em 20-03-2012 ocorreu a amortizao da totalidade do capital30.
d) Em 20-02-2012 o Municpio celebrou novamente com a CGD um contrato de emprs-timo, na modalidade de abertura de crdito em regime de conta corrente:
i) A abertura de crdito tinha um montante mximo de 400 000,00 (clusula 2.), com o prazo de at 12 meses (clusula 4.), sendo possvel realizar reembol-
sos a todo o tempo (clusula 8.2.) 31;
ii) O capital mutuado foi integralmente utilizado em 20-03-201232;
iii) At 10-09-2012 venceram-se e foram pagas seis prestaes de juros, no mon-tante total de 13 638,1633;
iv) O contrato foi submetido a fiscalizao prvia do Tribunal de Contas em 11-09-2012 (processo n. 069/2012). Entretanto, o Servio desistiu do pedido,
pelo que o processo foi devolvido em 24 de outubro de 2012.
Em suma: Quadro III: Contratos de emprstimo de curto prazo
Unid.: Euro
Banco Capital mutuado Data
Contrato Utilizao Amortizao
Banco Santander Totta, SA 590 000,00 15-07-2009 15-07-2009 15-04-2010
Banco Comercial Portugus, SA 590 000,00 10-05-2010 01-06-2010 18-03-2011 (400 000,00)
20-04-2011(190 000,00)
Caixa Geral de Depsitos, SA 400 000,00 15-03-2011 20-04-2011 20-03-2012
Caixa Geral de Depsitos, SA 400 000,00 20-02-2012 20-03-2012
7.2. Sujeio a fiscalizao prvia
Nos termos do disposto na alnea a) do n. 1 do artigo 46., conjugado com a alnea c) do n. 1
do artigo 2. da LOPTC, esto sujeitos fiscalizao prvia do Tribunal de Contas todos
os atos de que resulte o aumento da dvida pblica fundada das autarquias locais.
28 CD\1.4.-Dvida financeira direta\Curto prazo\2011\Contrato. 29 CD\1.4.-Dvida financeira direta\Curto prazo\2011\Utilizao. 30 CD\1.4.-Dvida financeira direta\Curto prazo\2011\Liquidao. 31 CD\1.4.-Dvida financeira direta\Curto prazo\2012\Contrato. 32 CD\1.4.-Dvida financeira direta\Curto prazo\2012\Utilizao. 33 CD\1.4.-Dvida financeira direta\Curto prazo\2012\Conta corrente_19-09-2012.
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-18-
Dvida pblica fundada a contrada para ser totalmente amortizada num exerccio or-
amental subsequente ao exerccio no qual foi gerada34.
Do exposto resulta que para efeitos de sujeio a fiscalizao prvia do Tribunal de Contas
releva o exerccio oramental em que os emprstimos de curto prazo so amortizados. Se a
respetiva amortizao ocorrer no exerccio subsequente quele em que foram utilizados, inte-
gram a dvida pblica fundada e, por conseguinte, esto sujeitos a fiscalizao prvia.
Os quatro contratos de emprstimo de curto prazo identificados no ponto anterior so gerado-
res de dvida pblica fundada pois, em todos os casos, a dvida foi contrada para ser amorti-
zada no exerccio subsequente, de acordo com as condies contratuais logo partida con-
vencionadas.
Deste modo, as operaes descritas concorreram para o aumento da dvida pblica fundada do
Municpio, razo pela qual os correspondentes contratos estariam sujeitos a fiscalizao
prvia do Tribunal de Contas, nos termos do disposto na alnea a) do n. 1 do artigo 46.,
conjugado com a alnea c) do n. 1 do artigo 2. da LOPTC.
7.3. Concluso. Eventual responsabilidade financeira sancionatria
Nos termos do n. 1 do artigo 45. da LOPTC os contratos sujeitos a fiscalizao prvia po-
dem produzir todos os seus efeitos antes do visto, excepto quanto aos pagamentos a que
derem causa.
No entanto, os contratos de emprstimo de curto prazo celebrados em 15-07-2009,
10-05-2010 e 15-03-2011 produziram todos os seus efeitos, designadamente, utilizao do
emprstimo, pagamento dos juros e amortizao, sem que tenham sido submetidos a fiscaliza-
o prvia do Tribunal de Contas.
Por seu turno, o contrato de emprstimo de curto prazo celebrado em 20-02-2012 foi submeti-
do a fiscalizao prvia em 11-09-2012.
Este contrato j se encontrava parcialmente executado quando foi submetido a fiscalizao
prvia, pois o montante mutuado ( 400 000,00) j tinha sido integralmente utilizado e acha-
vam-se liquidadas seis prestaes de juros, no montante total de 13 638,16. Portanto, relati-
vamente a este contrato tambm se produziram efeitos financeiros antes do visto.
No mbito do contraditrio, o Presidente da Cmara Municipal justifica o sucedido com a
m interpretao da Lei por parte dos servios camarrios que entenderam e, por conse-
quncia, informaram que, sendo os mesmos [emprstimos] de curto prazo, no seriam alvo de
visto prvio pelo Tribunal de Contas.
Conforme se referiu, os quatro contratos de emprstimo de curto prazo esto sujeitos a fiscali-
zao prvia do Tribunal de Contas, nos termos do disposto na alnea a) do n. 1 do artigo
34 Alnea b) do artigo 3. do Regime geral de emisso e gesto da dvida pblica, aprovado pela Lei n. 7/98, de
3 de Fevereiro, alterado pelo artigo 81. da Lei n. 87-B/98, de 31 de dezembro. dvida pblica fundada
contrape-se a dvida pblica flutuante, que a dvida contrada para ser totalmente amortizada at ao
termo do exerccio oramental em que foi gerada (alnea a) do artigo 3. do mesmo diploma).
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46., conjugado com a alnea c) do n. 1 do artigo 2. da LOPTC, por serem geradores de dvi-
da pblica fundada.
Nos termos da alnea h) do n. 1 do artigo 65. da LOPTC, a execuo de contratos que no
tenham sido submetidos fiscalizao prvia quando a isso estavam legalmente sujeitos
suscetvel de gerar responsabilidade financeira sancionatria.
A realizao vrias vezes do mesmo tipo de infrao, nas condies em que ocorreu, permite
consider-la como uma nica infrao continuada35.
responsvel o Presidente da Cmara Municipal da Lagoa, Joo Antnio Ferreira Ponte, r-
go a quem compete remeter os processos para fiscalizao prvia do Tribunal de Contas, nos
termos do disposto no n. 4 do artigo 81. da LOPTC e na alnea l) do n. 1 do artigo 68. da
LAL.
35 Cfr., n. 2 do artigo 30. do Cdigo Penal, aplicvel enquanto regime subsidirio do direito sancionatrio,
nos termos do qual, [c]onstitui um s crime continuado a realizao plrima do mesmo tipo de crime ou de
vrios tipos de crime que fundamentalmente protejam o mesmo bem jurdico, executada por forma essenci-
almente homognea e no quadro da solicitao de uma mesma situao exterior que diminua consideravel-
mente a culpa do agente.
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8. Dvida e encargos plurianuais originados no sector empresarial local
O Municpio da Lagoa deti-
nha participaes diretas em
duas entidades constitu-
das nos termos do direito
pblico e, indiretamente,
numa sociedade annima.
Neste ponto, a anlise efetuada teve por objetivo verificar se alguma destas entidades poderia
ser considerada sustentvel e, como tal, excluda para efeitos de determinao das responsabi-
lidades do Municpio, ou se, pelo contrrio, no preenchia este pressuposto, apurando-se em
conformidade os compromissos adicionais da resultantes para a Autarquia.
Assim, o permetro de consolidao foi definido em funo da capacidade de autossustentao
econmica e financeira revelada pelas entidades participadas, sem prejuzo de abranger,
igualmente, todas as operaes das quais resultem encargos para o Municpio, independente-
mente da entidade que as promoveu preencher, ou no, o requisito definido para efeitos de
consolidao.
A anlise sucinta da situao econmica e financeira destas entidades teve por base as de-
monstraes de resultados e os balanos referentes aos exerccios de 2009, 2010 e 2011 (Ane-
xos VI e VII).
8.1. EML Empresa Municipal de Urbanizao, Requalificao Urbana e Ambiental e Habitao Social, E.M.
A) Constituio e atividade operacional
A EML, E.M., foi constituda por escritura de 21-07- 2005, tendo por objeto estatutrio a ex-
plorao de atividades de interesse geral, designadamente o desenvolvimento, construo,
gesto e explorao do Tecnoparque da Lagoa e das reas de desenvolvimento urbano e de
construo prioritrias, a requalificao urbana e ambiental, a construo e gesto de habita-
o social, a construo de vias municipais e a gesto de concesses36.
Para a execuo do Tecnoparque foi criada uma sociedade annima, a Portas da Lagoa, S.A.,
com a participao da EML, E.M., e de parceiros privados37.
A nvel operacional, a atividade desenvolvida pela empresa em 2011 abrangeu as seguintes
reas de interveno:
36 Para uma sntese dos dados relativos constituio da EML, EM, cfr. ponto 14.1. do Relatrio n. 23/2007
FS/SRATC, de 13/11/2007 (Auditoria s Participaes Sociais das Autarquias Locais), disponvel em
www.tcontas.pt/pt/actos/rel_auditoria/2007/audit-sratc-rel023-2007-fs.pdf. 37 Ponto 8.2., infra.
Portas da Lagoa Sociedade de
Desenvolvimento de Lagoa, S.A.
49,00%
33,33% EIRSU - Empresa Intermunicipal de Recolha de Residuos Slidos e Urbanos da Ilha de So
M iguel, E.I.M .
EM L Empresa M unicipal de Urbanizao,
Requalificao Urbana e Ambiental e Habitao
Social de Lagoa, E.M .
100,00%
Lagoa
http://www.tcontas.pt/pt/actos/rel_auditoria/2007/audit-sratc-rel023-2007-fs.pdf
Tribunal de Contas
Auditoria ao Municpio da Lagoa
Dvida pblica e encargos plurianuais (12/104.03)
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Quadro IV: Atividade operacional da EML, E.M.
B) Anlise da sustentabilidade
Os elementos histricos relativos ao trinio 2009-2011evidenciam que os nveis de faturao
registados38 foram pouco significativos quando confrontados com os correspondentes gastos
operacionais.
Tendo por referncia o exerccio de 2011, verifica-se que a faturao registada, no montante
de 279 557,72, apenas cobriu 50,9% dos encargos incorridos com o pessoal39, principal
componente da estrutura de gastos da empresa.
A explorao do complexo municipal de piscinas ( 123 166,55) e as rendas de habitao so-
cial associadas gesto do parque habitacional do Municpio ( 115 135,61) 40 foram as ver-
38 Conta 72 Prestaes de servios, que no caso em apreo corresponde ao volume de negcios atingido em
2011. 39 Em 2011, ascendeu a 33 o nmero mdio de trabalhadores ao servio da empresa incluindo um membro do
Conselho de Administrao dos quais 12 eram contratados no regime de prestao de servios ( Profis-
sionais Independentes em horrio completo, tal como referido no Anexo s Demonstraes Financeiras do
ano de 2011 nota 29). 40 Embora a este nvel se tenha igualmente constado um aumento de 31,0% dos clientes de cobrana duvidosa.
Desporto e gesto das zonas balneares
Limpeza, manuteno e melhoria das zonas balneares, explora-
o do complexo municipal de piscinas, que integra a piscina
coberta Aquafit.
Educao e formao
Gesto das seguintes estruturas: Biblioteca Municipal Toms
Borba Vieira; Centro de Atividades de Tempos Livres; Centro
de Educao e Formao Ambiental da Lagoa (integrando um
servio educativo, biblioteca e polo de informtica); cinco po-
los de informtica, dos quais trs funcionam em simultneo
como postos de atendimento do Municpio; implementao de
diversos projetos em articulao com o servio de ao social
(AGIR Animaes de Geraes e Intervenes Recreativas,
(In)Vestir (em) quem precisa e Escola +).
Habitao e ao social
Gesto do parque habitacional do Municpio, constitudo, atu-
almente, por 174 habitaes.
No domnio da ao social destaca-se a disponibilizao de
consultas mdicas gratuitas a muncipes das cinco freguesias
do concelho e a implementao de planos de preveno e tra-
tamento de dependncias.
Promoo turstica Gesto do posto de turismo e da empreitada de construo da
Pousada da Juventude, cuja explorao ser assegurada pela
empresa.
Manuteno de estruturas e equipamentos
Execuo de trabalhos de manuteno nas habitaes que inte-
gram o parque habitacional do Municpio, zonas balneares,
Aquafit, polidesportivos e parque escolar.
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Auditoria ao Municpio da Lagoa
Dvida pblica e encargos plurianuais (12/104.03)
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tentes de atividade que mais contriburam para a faturao obtida, representando, em conjun-
to, 85,1% do volume de negcios gerado no referido exerccio.
Grfico III: Faturao vs. Gastos com pessoal e FSE
2009-2011
O histrico da empresa revela uma ex-
plorao estruturalmente deficitria.
Assim, na estrutura de rendimentos da EML, E.M., assumiram particular relevncia os Subs-
dios explorao atribudos pelo Municpio.
Grfico IV: Estrutura de rendimentos EML, E.M.
2009-2011
No perodo em anlise a obteno de
resultados lquidos positivos s foi
possvel mediante a manuteno de
elevados nveis de subsidiao da
empresa.
Todavia, em 2011, o subsdio atribudo explorao no obviou a que o resultado de explora-
o operacional acrescido dos encargos financeiros se apresentasse negativo, - 13 895,82.
Assim, o cumprimento da regra do equilbrio de contas41 requeria que o Municpio tivesse
transferido o mencionado montante para a empresa municipal at ao final do ms seguinte
data do encerramento das contas, procedimento que no tinha sido adotado at data dos tra-
balhos de campo.
Nessa altura o Presidente da Cmara Municipal foi alertado para a inobservncia da citada
norma do RJSEL e para as consequncias da decorrentes quanto capacidade de endivida-
mento do Municpio.
41 Cfr. artigo 31., n.os 1 a 4, e artigo 32., n. 1, ambos do RJSEL.
0,0
350,0
700,0
2009 2010 2011
239,4287,0 280,0
429,2
523,5549,5575,2
589,7528,5
Unidade: 1 000
Facturao Gastos com pessoal FSE
0,0
600,0
1 200,0
2009 2010 2011
239,4287,0 280,0
760,9
1030,1 997,1
113,321,9 0,0
Prestaes de serviosSubsdios explorao
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Dvida pblica e encargos plurianuais (12/104.03)
-23-
Em 30-08-2012 concretizou-se, ainda que extemporaneamente, a transferncia do montante
em causa para a EML, E.M.42.
No final de 2011, a EML, E.M., dispunha de uma estrutura financeira equilibrada, pois o Mu-
nicpio tem vindo a disponibilizar os recursos adequados s respetivas necessidades de finan-
ciamento.
Grfico V: Estrutura financeira EML, E.M. 2011
A estabilidade da estrutura fi-
nanceira da EML, E.M. pressu-
pe a manuteno de adequados
nveis de subsidiao das suas
atividades.
Do exposto resulta que a EML, E.M., no possui capacidade de autossustentao econ-
mica e financeira, integrando, por conseguinte, o permetro de consolidao definido pa-
ra efeitos da presente auditoria.
C) Contribuio para a dvida municipal consolidada e encargos plurianuais
Conforme ficou demonstrado, os recursos gerados pela EML, E.M., so manifestamente insu-
ficientes para assegurar no s a cobertura dos gastos operacionais e do servio da dvida,
como tambm para fazer face a novos investimentos.
Nestes termos, relevam para o apuramento dos encargos futuros do Municpio as verbas
que se prev transferir para a empresa a ttulo de subsdios explorao e para investimentos,
conforme se encontra explicitado no Anexo II43.
Por outro lado, integram a dvida municipal consolidada as operaes relativas a:
Emprstimos bancrios;
Locao financeira.
As dvidas de natureza no financeira registadas no passivo corrente44 foram excludas, pois
eram inferiores ao somatrio dos ativos correntes45 com os meios financeiros lquidos.
42 Comprovativos da transferncia em CD\1.8.-Outros elementos\Entidades participadas\Equilbrio de con-
tas\EML, E.M. 43 Cfr. Anexo II Pressupostos adotados na elaborao das projees financeiras Despesas Transfern-
cias e subsdios. 44 Passivo que ser liquidado num perodo at doze meses aps a data do balano. 45 Ativo que ser realizado num perodo at doze meses aps a data do balano.
1 789,0539,3%
337,357,4%
2 427,9153,3%
Unidade: 1 000
Capital prprio Passivo corrente Passivo no corrente
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Dvida pblica e encargos plurianuais (12/104.03)
-24-
O endividamento bancrio da EML, E.M., integra dois emprstimos de longo prazo46:
O primeiro, contrado em 13-07-2009 junto da CGD, destinou-se a financiar a re-
qualificao urbanstica da Baixa dAreia, na Vila de gua de Pau, no montante de
847 000,00;
O segundo, contrado em 09-09-2009 junto do BCP, destinou-se a financiar a cons-
truo da Pousada da Juventude e do Ncleo Museolgico Ferreira da Silva; no
montante inicial de 1 130 000,00; a operao foi reforada em 350 000,00, em
20-06-2011, fixando-se o seu montante global em 1 480 000,0047.
Ambas as operaes tm um prazo de diferimento at 201348 e atingiro a respetiva maturida-
de em 2034.
Com referncia a 31-12-2011, a dvida financeira decorrente das operaes descritas as-
cendia a 2 309 700,00.
A utilizao, em janeiro de 2012, de uma tranche adicional de 12 000,00 do emprstimo
contratualizado na CGD elevou para 2 321 700,00 a dvida financeira associada aos em-
prstimos de longo prazo, com referncia a 31-05-2012.
Os encargos com o servio da dvida sero suportados pelo Municpio, que transferir pa-
ra a EML, E.M., os correspondentes meios financeiros, em conformidade com o contrato-
-programa celebrado em 10-03-2009, no montante previsto de 7 266 951,00 entre 2013 e
2033, verbas que ficaram contratualmente consignadas para o efeito.
No mbito das referidas operaes de crdito, a Cmara Municipal da Lagoa obrigou-se a
apresentar cartas de conforto s instituies de crdito.
Relativamente carta de conforto remetida CGD, a Cmara Municipal compromete-se a no
diminuir nem onerar a sua participao na empresa municipal, a cumprir as obrigaes emer-
gentes do mencionado contrato-programa e a tudo fazer para que esta sua participada possa
cumprir com pontualidade o servio da dvida do emprstimo contrado perante a referida ins-
tituio financeira49.
No que respeita designada carta de compromisso perante o BCP, o Presidente da Cmara
informou desconhecer a sua existncia, apesar de prevista no contrato50.
Quanto locao financeira, esto em causa seis contratos51 celebrados pela EML, E.M., cuja
posio, relativamente a 31-12-2011 e 31-05-2012, evidenciava capitais em dvida nos
montantes de 132 303,08 e de 125 921,93, respetivamente.
46 Ambos os contratos de emprstimo foram submetidos a fiscalizao prvia do Tribunal de Contas, tendo si-
do declarados isentos de visto (processos n.os 093 e 125/2009). 47 CD\1.5.-Dvida financeira indireta\Entidades participadas\EML, E.M.\Contratos\Emprstimos. 48 Perodo em que no h lugar a amortizaes de capital, vencendo-se apenas juros e outros encargos (at
agosto e setembro, respetivamente nos emprstimos contrados na CGD e no BCP). 49 CD\1.6.-Outras responsabilidades\Cartas de conforto\CGD-EML, S.A.- 847 000,00. 50 Ponto 12.2. da clusula 12. do contrato celebrado em 09-09-2009, mantido na alterao posteriormente for-
malizada em 20-06-2011, destinada a incorporar o reforo de 380 000,00 do capital mutuado (CD\1.5.-
Dvida financeira indireta\Entidades participadas\EML, E.M.\Contratos\Emprstimos\Emprstimo de
1 130 000,00_BCP e Reforo emprstimo de 350 000,00_BCP). 51 Sendo dois contratos de locao financeira imobiliria celebrados com a Caixa Leasing e Factoring, S.A. e
outros quatro de locao financeira mobiliria dois formalizados com a referida instituio e os restantes
com o BCP.
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8.2. Portas da Lagoa Sociedade de Desenvolvimento de Lagoa, S.A.
A) Constituio e estrutura acionista
A Portas da Lagoa, S.A., foi constituda em 16-04-2007, na sequncia de um procedimento
concursal promovido pela EML, E.M., para a seleo dos parceiros privados, tendo em vista a
criao de uma empresa de capitais maioritariamente privados para o desenvolvimento, im-
plementao, construo, gesto e explorao do Tecnoparque da Lagoa e das reas de desen-
volvimento urbano e de construo prioritrias no concelho52.
Com referncia data da realizao dos trabalhos de campo junho de 2012 esta participa-
da apresentava a seguinte estrutura acionista:
Quadro V: Estrutura acionista da Portas da Lagoa, S.A.
B) Atividade operacional
A nvel operacional, a atividade da empresa centrou-se, essencialmente, no desenvolvimento
do projeto do Tecnoparque, investimento que se encontrava praticamente concludo data da
realizao dos trabalhos de campo junho de 2012.
Este projeto concretizou-se atravs de duas empreitadas: construo das infraestruturas do lo-
teamento Tecnoparque da Lagoa, iniciada em outubro de 2009 e concluda no incio de 2012;
Parque Tecnolgico de So Miguel Construo das Caves dos lotes L23, L24, L25, L27 e
Parque Subterrneo Lagoa, iniciada em novembro de 2010 e concluda em outubro de 2011.
Ainda, em 2011, a Portas da Lagoa, S.A., promoveu a execuo da empreitada de substitui-
o do pavimento sinttico do Campo Municipal Mestre Jos da Costa Leste, gua de Pau. O
contrato foi adjudicado por ajuste direto a um dos seus scios (Marques, S.A.), tendo o respe-
tivo custo final ascendido a 364 501,00. A despesa foi financiada com recurso ao emprsti-
mo de longo prazo em curso53.
52 Do seu vasto objeto social constam as seguintes atividades: construo, gesto e explorao de reas, equi-
pamentos e infraestruturas de desenvolvimento urbano e de construo prioritria no Concelho da Lagoa, no
mbito das quais poder promover a compra e venda e arrendamento de bens imobilirios, explorao de es-
tabelecimentos hoteleiros com e sem restaurante, explorao de parques de campismo e de outros locais de
alojamento de curta durao, gesto de atividades culturais e recreativas, gesto de salas de espetculos e ati-
vidades conexas, gesto de parques de diverso e outras atividades de espetculos e de gesto de instalaes
desportivas. 53 A deciso de executar a obra atravs da Portas da Lagoa, S.A., foi justificada, designadamente, por estarem
previstos trabalhos a menos na empreitada [do Tecnoparque] e () o valor correspondente do financia-
Euro
Montante % EML, E.M . 49.000,00 49,00 Irmos Cavaco, S.A. 12.750,00 12,75 Somague - Edior, Engenharia, S.A. 12.750,00 12,75 Engenheiro Lus Gomes, S.A. 12.750,00 12,75
Marques, S.A. 12.750,00 12,75 Total 100.000,00 100,00
Entidades Participao no capital social:
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Nenhum destes contratos de empreitada foi submetido a fiscalizao prvia do Tribunal de
Contas, aspeto que ser analisado em ao a realizar.
C) Anlise da sustentabilidade
Na fase de construo do Tecnoparque, os encargos de estrutura e financeiros tm vindo a ser
capitalizados e integrados no custo do empreendimento, em contrapartida da conta Trabalhos
para a prpria empresa, nica rubrica da respetiva estrutura de rendimentos.
Alis, desde a respetiva constituio que a empresa tem vindo a desenvolver atividades de na-
tureza exclusivamente administrativa, relacionadas com a gesto dos processos de empreitada
acima descritos e com a obteno do financiamento para a respetiva execuo, no gerando
qualquer rendimento.
Grfico VI: Rendimentos e gastos Portas da Lagoa, S.A.
Os resultados foram determina-
dos pelas polticas contabilsticas
adotadas na fase de construo
do Tecnoparque, perodo durante
o qual os encargos de estrutura
e financeiros foram capitaliza-
dos e integrados no custo do
Tecnoparque, em contrapartida
de Trabalhos para a prpria
empresa.
A natureza das atividades desenvolvidas pela Portas da Lagoa, S.A., encontra-se, igualmente,
refletida na respetiva estrutura de gastos.
Na realidade, os Juros e gastos similares tm assumido um peso relevante na explorao.
No que concerne aos Gastos com pessoal, o significativo acrscimo registado foi essencial-
mente motivado pelo pagamento de senhas de presena aos membros dos rgos sociais54,
porquanto, no trinio em apreo, no se registaram alteraes no pessoal contratado um tra-
balhador, cujo contrato cessou a 03-02-2012, no tendo sido renovado.
mento pode[r] ser afecto para a concretizao de obras de carcter imprescindvel, como seja a substituio do piso sinttico do Campo Municipal (cfr. ata n. 14 /2011 da reunio ordinria da Cmara Municipal,
realizada a 06-07-2011 CD\1.8.-Outros elementos\Atas da Cmara\2011\Acta 14-2011 de 06.07.2011). 54 Em 2011, a importncia referente s senhas de presena processadas a ttulo de remunerao aos rgos so-
ciais, 18 114,64, excedeu os encargos com as remuneraes do pessoal, 17 934,02.
0,0
250,0
500,0
2009 2010 2011
244,5206,4
363,7
244,5206,4
402,2
Unidade: 1 000
Rendimentos Gastos
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Dvida pblica e encargos plurianuais (12/104.03)
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Grfico VII: Estrutura dos gastos Portas da Lagoa, S.A.
Os juros e demais encargos as-
sociados ao financiamento con-
tratado constituem os princi-
pais gastos de explorao55
62,6% em 2009, 70,8% em 2010
e 70,9% em 2011.
No obstante a capitalizao dos encargos de estrutura e de financiamento durante a fase de
execuo dos investimentos, as contas relativas ao exerccio de 2011 revelam que a empresa
registou um prejuzo de explorao de - 38 437,10.
Nos termos dos n.os 2 e 4 do artigo 31. do RJSEL, o cumprimento da regra do equilbrio de
contas requeria a transferncia, em 2012, at ao final do ms seguinte data do encerramento
das contas, de uma verba no montante de 18 834,1856, destinada cobertura do referido pre-
juzo, a qual, data dos trabalhos de campo, ainda no se tinha concretizado.
Tambm neste caso, semelhana do que aconteceu em relao EML, EM, o Presidente da
Cmara Municipal foi alertado para as implicaes que o incumprimento da referida regra te-
ria ao nvel dos limites de endividamento municipal.
Em 05-09-2012 a parte pblica efetuou a transferncia do referido montante para a Portas da
Lagoa, S.A.57. No existem evidncias de que os acionistas privados tenham adotado idntico
procedimento, no sentido de realizarem as transferncias financeiras necessrias cobertura
do mencionado prejuzo, na proporo das respetivas participaes sociais.
No que concerne respetiva estrutura de capitais, no final de 2011 a empresa evidenciava um
elevado grau de endividamento, em consequncia da estratgia de financiamento adotada para
a construo do parque tecnolgico e da reduzida expresso do capital social inicial.
55 Para este efeito consideraram-se apenas os gastos de explorao desembolsveis, excluindo-se, por conse-
guinte, os Gastos de depreciao e amortizao ( 414,96 em 2009, 1 603,29 em 2010 e 7 678,43 em
2011). 56 Correspondente proporo da participao indiretamente detida pelo Municpio no capital social da empre-
sa (49%, atravs da EML, E.M.). 57 Documentos comprovativos em CD\1.8.-Outros elementos\Entidades participadas\Equilbrio de con-
tas\Portas da Lagoa, S.A.
0,0
175,0
350,0
2009 2010 2011
25,140,2 44,2
65,6
7,430,0
0,4
11,235,0
153,0 146,1
285,3
Unidade: 1 000
Gastos com o pessoal FSE
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Grfico VIII: Estrutura financeira Portas da Lagoa, S.A.
2011
A estrutura financeira da Portas
da Lagoa, S.A., era constituda
em 99,6% por capitais alheios.
Face ao exposto, conclui-se que a Portas da Lagoa, S.A. no possui capacidade de autos-
sustentao econmica nem financeira, razo pela qual integra o permetro de consoli-
dao definido no mbito da presente auditoria.
D) Contribuio para a dvida municipal consolidada e encargos plurianuais
Em virtude das atividades desenvolvidas pela Portas da Lagoa, S.A., no proporcionarem a
obteno de rendimentos, os meios financeiros necessrios cobertura dos respetivos gastos
operacionais e do servio da dvida, bem como realizao de investimentos58, tm-lhe sido
facultados pelo Municpio, atravs da EML, E.M., registando-se igualmente o recurso a endi-
vidamento bancrio.
Perante a comprovada ausncia de sustentabilidade econmica e financeira da Portas da La-
goa, S.A., integram a dvida municipal consolidada as importncias relativas a:
Emprstimos bancrios;
Dvidas de natureza no financeira, a liquidar at ao final de 2012, deduzidas dos ati-
vos com idntica maturidade e dos meios financeiros lquidos.
No que concerne a emprstimos bancrios est em causa uma nica operao o financia-
mento de longo prazo contrado pela empresa, at ao montante de 15 850 000,00, destinado
a financiar a realizao dos projetos para que foi criada.
Os encargos com o servio da dvida so suportados pelo Municpio da Lagoa.
58 Em 30-11-2010, o Municpio incumbiu a EML, E.M., de promover, atravs da sua participada Portas da La-
goa, S.A., a construo das caves do Parque Tecnolgico (reviso operada ao contrato-programa celebrado
em 09-06-2008), projeto com um custo inicialmente estimado em 4 498 882,32, mas que de acordo com as
estimativas disponveis data dos trabalhos de campo dever ascender a 5 396 502,88.
Este investimento foi integralmente financiado por verbas provenientes do oramento da Regio Autnoma
dos Aores, ao abrigo de um contrato ARAAL celebrado com o Municpio em 28-07-2010 (CD\1.8.-Outros
elementos\Contratos ARAAL\28-07-2010_Construo caves Parque Tecnolgico). Assim, as importncias
recebidas pelo Municpio no quadro deste contrato foram sendo transferidas para a EML, E.M., que por sua
vez as disponibilizou Portas da Lagoa, S.A.
61,560,45%
10 444,0076,12%
3 214,0523,43%
Unidade: 1 000
Capital prprio Passivo no corrente Passivo corrente
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Com efeito, no mbito do contrato de emprstimo, a Portas da Lagoa, S.A., consignou ao
cumprimento do servio da dvida o valor das rendas devidas pela EML, E.M., a ttulo de re-
tribuio pela cedncia da explorao do Tecnoparque, pelo prazo de 26 anos a contar da data
da respetiva entrega59. O valor das rendas ser, por seu turno, previamente disponibilizado
EML, E.M., pelo Municpio da Lagoa, ao abrigo do contrato-programa celebrado a
09-06-2008, no montante estimado de 33 115 916,00 para o perodo 2012-203760.
Para garantia do emprstimo, a Cmara Municipal da Lagoa apresentou ao banco financiador
(BANIF) uma carta de conforto, manifestando a sua concordncia com as condies da ope-
rao e comprometendo-se a tudo fazer para que a EML, E.M., disponha sempre dos meios
financeiros que lhe permitam, com pontualidade, fazer face s obrigaes assumidas perante a
Portas da Lagoa, S.A., a fim de que esta possa, por sua vez, cumprir perante o banco as obri-
gaes emergentes do referido contrato de financiamento61.
Com referncia a 31-12-2011 j tinha sido utilizada a importncia de 10 444 000,00,
At 31-05-2012 foram registadas mais trs utilizaes de capital62, perfazendo 1 905 000,00,
razo pela qual a posio da dvida na referida data ascendia a 12 349 000,00.
A operao, com um perodo de diferimento que termina em 22-04-201363, atinge a respetiva
maturidade em 2038, sendo os recursos necessrios satisfao do servio da dvida transfe-
ridos pelo Municpio, atravs da EML, E.M., nos termos anteriormente expostos.
Para alm da cobertura das despesas de investimento, este emprstimo tem vindo a ser apli-
cado no financiamento do prprio servio da dvida e da atividade corrente da empresa,
tal como pode ser comprovado pela anlise das demonstraes dos fluxos de caixa refe-
rentes ao trinio 2009-201164.
Em 2012, o financiamento da empresa continuar a ser essencialmente assegurado mediante o
recurso ao referido emprstimo, face perspetivada incapacidade do Municpio para disponi-
bilizar atravs da EML, E.M., os meios financeiros previstos no contrato-programa65 celebrado
com esta participada, em 09-06-2008.
59 CD\1.6.-Outras responsabilidades\Contrato promessa de cesso de explorao. 60 CD\1.6.-Outras responsabilidades\Contratos programa\EML, pp. 8 a 13. 61 CD\1.6.-Outras responsabilidades\Cartas de conforto\BANIF Portas da Lagoa, S.A.- 15 850 000,00. 62 De 855 000,00, 800 000,00 e 250 000,00, respetivamente em 30-01-2012, 15-02-2012 e 20-04-2012.
No quadro seguinte apresentam-se as utilizaes do emprstimo em cada um dos exerccios, desde a respeti-
va contratao (22-10-2008), at 31-05-2012:
63 Data em que se inicia a amortizao do capital mutuado. 64 CD\1.3.-Prestao de contas\Entidades participadas\Portas da Lagoa, S.A.\2010 [p. 8]\2011 [p. 13]. 65 De acordo com o n. 2 da clusula terceira, em 2012 previa-se a transferncia de uma verba no montante de
1 284 352,00, a qual, todavia, foi inscrita no plano de atividades municipal, mas para ser concretizada em
2013 (CD\1.6.-Outras responsabilidades\Contratos programa [pp. 8 a 13]).
2008 2009 2010 2011 31-05-2012 Total
2.500,0 1.354,5 2.406,5 4.183,0 1.905,0 12.349,0
Posio do emprstimo de longo prazo contrado pela Portas da Lagoa, S.A. ( 1 000)
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Na realidade, os instrumentos de gesto previsional referentes ao exerccio de 2012 contem-
plam a mobilizao de uma verba adicional do emprstimo, estimada em 2 143 526,0066,
dos quais, com referncia a 31-05-2012, j tinham sido utilizados 1 905 000,00.
Ainda com incidncia no apuramento da dvida municipal consolidada, reportada a
31-12-2011, foi considerada uma verba de 1 409 866,32, correspondente aos passivos de
outra natureza a liquidar num perodo at 12 meses da data do balano, na parte que excedia o
somatrio dos ativos de idntica maturidade com os meios financeiros lquidos.
Relativamente aos encargos futuros do Municpio no foram apuradas responsabilidades
para alm das decorrentes do emprstimo em curso. Com efeito, no se prev que a empresa
realize novos investimentos, admitindo-se, por outro lado, que as transferncias a processar ao
abrigo do contrato promessa de cesso da explorao do Tecnoparque, celebrado com a EML,
E.M., permitiro assegurar o equilbrio anual de contas.
8.3. EIRSU Empresa Intermunicipal de Recolha de Resduos Slidos Urbanos da Ilha de So Miguel, E.I.M.
A) Constituio e atividade operacional
A EIRSU, E.I.M., foi constituda a 18-07-2010, com um capital de 150 000,00, equitativa-
mente repartido pelos municpios da Ribeira Grande, Lagoa e Vila Franca do Campo67.
Apesar de possuir um objeto social mais amplo68, a atividade desenvolvida pela empresa con-
siste, atualmente, na gesto da operao de recolha e transporte de resduos slidos urbanos na
rea geogrfica daqueles trs concelhos, adjudicada a um consrcio constitudo pelas empre-
sas RECOLTE Recolha, Tratamento e Eliminao de Resduos, S.A., e G.S.C. Compaia
General de Servcios y Construccin, S.A.69.
B) Anlise da sustentabilidade
Em 2011, primeiro exerccio completo de atividade70, a empresa obteve um excedente de ex-
plorao na ordem dos 38,5 milhares, aps um ano de arranque em que a operao pratica-
mente atingiu o equilbrio prejuzo de 2,0 milhares.
66 Montante destinado cobertura das seguintes despesas: i) funcionamento 60 252,00; ii) investimento
1 468 079,00; iii) financiamento 615 186,00, dos quais 581 990,00 referente a juros e os restantes
33 196,00 a impostos e taxas (CD\Empresas municipais\Portas Lagoa\Plano e oramento 2012). 67 Cada qual detendo uma participao correspondente a 33,33% do respetivo capital estatutrio. 68 O desenvolvimento de sistemas de abastecimento de guas, de sistemas de drenagem e tratamento de guas
residuais urbanas, de sistemas de limpeza pblica e de recolha e transporte de resduos slidos, de desenvol-
vimento e inovao empresarial e de requalificao ambiental. 69 Na sequncia de um concurso pblico internacional lanado para o efeito pela MUSAMI Operaes Muni-
cipais, E.I.M., em 2009. Esta empresa intermunicipal, detida pela Associao de Municpios da Ilha de So
Miguel, celebrou o correspondente contrato de prestao de servios com o consrcio vencedor, a
17-12-2009, tendo posteriormente cedido a respetiva posio contratual EIRSU, E.I.M. 70 Apesar do incio da operao ter ocorrido em Fevereiro de 2010, apenas a 27-09-2010 que a MUSAMI,
E.I.M., cedeu a respetiva posio contratual, momento a partir do qual a gesto da operao passou efetiva-
mente para a EIRSU, E.I.M.
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Dvida pblica e encargos plurianuais (12/104.03)
-31-
A estrutura de rendimentos da EIRSU, E.I.M., corresponde repartio, pelos trs munic-
pios, dos encargos suportados com a prestao do servio de recolha e transporte de resduos
slidos urbanos assegurado pelo consrcio contratado para o efeito, em funo das quantida-
des recolhidas nas respetivas reas geogrficas.
Por seu turno, a estrutura de gastos operacionais era determinada pelas importncias fatura-
das pelo referido consrcio em resultado da prestao daqueles servios.
De salientar que a EIRSU, E.I.M., no dispunha de pessoal contratado, sendo a gesto corrente
da empresa assegurada por um diretor-geral em regime de acumulao de funes, no remu-
nerado.
Ao nvel da respetiva estrutura de capitais, constata-se que o financiamento da empresa era
maioritariamente assegurado por fundos alheios.
Grfico IX: Rendimentos vs. Gastos EIRSU, E.I.M.
A EIRSU, E.I.M., tem evidencia-
do um desempenho econmico
globalmente positivo.
Grfico X: Estrutura financeira EIRSU, E.I.M. 2011
A atividade da EIRSU, E.I.M.,
era essencialmente financiada
pelo crdito de fornecedores e
outros credores, no se tendo
registado o recurso a endivida-
mento bancrio.
0,0
500,0
1.000,0
2010 2011
309,8
983,0
311,8
944,5
Unidade: 1 000
Rendimentos Gastos
182,921,2%
677,878,8%
Unidade: 1 000
Capital prprio Passivo corrente
Tribunal de Contas
Auditoria ao Municpio da Lagoa
Dvida pblica e encargos plurianuais (12/104.03)
-32-
Os significativos atrasos registados por parte dos municpios na regularizao dos valores fa-
turados tm gerado problemas de tesouraria empresa, que assim se v obrigada a protelar a
regularizao das suas dvidas perante o consrcio que presta os servios contratados71.
No obstante as dificuldades de tesouraria com que a empresa se tem confrontado, admitiu-se
que as mesmas sero ultrapassadas mediante a negociao de planos de recuperao dos mon-
tantes em dvida, em conformidade com as expetativas vertidas pelo Conselho de Administra-
o da EIRSU, E.I.M. no relatrio apresentado no mbito do processo de prestao de contas
relativo ao exerccio de 201172.
Assim, em relao aos exerccios futuros pressups-se que a empresa continuar a revelar
capacidade de autossustentao econmica e financeira e, consequentemente, a apresentar
contas equilibradas, no se antevendo, por isso, a necessidade de se transferirem recursos adi-
cionais destinados a tal fim73.
C) Contribuio para a dvida municipal consolidada e encargos plurianuais
Uma vez que a EIRSU, E.I.M., revela possuir sustentabilidade econmica e financeira, no
integrou o permetro de consolidao definido para efeitos da presente anlise.
71 Com referncia a 31-12-2011, as dvidas dos trs municpios, na importncia de 763 491,69, correspondi-
am a 77,7% da faturao emitida pela empresa em 2011. Desagregando o referido montante por cada um dos
municpios em causa, obtiveram-se os seguintes resultados:
Procedeu-se, igualmente, ao clculo do prazo mdio de recebimentos, apurando-se os seguintes valores:
Por outro lado, no final de 2011, as dvidas da EIRSU, E.I.M. ao consrcio liderado pela RECOLTE, S.A. as-
cendiam a 620 054,85. Admitindo que a importncia de 936 132,04 registada na conta 621 Subcontra-
tos correspondia faturao emitida pelo consrcio no referido exerccio, obtm-se um prazo mdio de pa-
gamentos na ordem dos 242 dias. 72 CD\1.3.-Prestao de contas\Entidades participadas\EIRSU, E.I.M.\Relatrio e contas 2011. 73 Questo distinta a que se relaciona com o pagamento dos servios de recolha e transporte de resduos sli-
dos, que continuar a processar-se atravs de uma rubrica do agrupamento econmico 02 Aquisio de bens
e servios, tendo as correspondentes verbas sido consideradas para efeitos de elaborao das projees.
Euro
Designao Ribeira Grande Lagoa Vila Franca do Campo Total
Faturado 525.089,03 214.255,25 243.667,99 983.012,27
Em dvida 503.538,84 100.777,29 159.175,56 763.491,69
Dvida : Faturado 95,9% 47,0% 65,3% 77,7%
Ribeira Grande Lagoa Vila Franca do Campo
350 172 238
Prazo mdio de recebimentos (dias) = Clientes : Vendas x 365
Tribunal de Contas
Auditoria ao Municpio da Lagoa
Dvida pblica e encargos plurianuais (12/104.03)
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9. Emprstimos contrados atravs de entidades privadas
Sucederam situaes em que o Municpio assumiu os encargos com o servio da dvida de
emprstimos formalmente contrados por entidades privadas.
Assim74:
O Clube Operrio Desportivo contraiu, em 18-08-2005, um emprstimo de mdio prazo, no montante de 500 000,00, destinado execuo de obras de beneficiao no
Complexo Desportivo da Lagoa, propriedade do Municpio, operao que se vence em
2015. Em 31-12-2011 o capital em dvida ascendia a 211 892,00.
A Fbrica da Igreja Paroquial do Rosrio contraiu, em 08-11-2010, um emprstimo de longo prazo, no montante de 190 000,00, destinado aquisio de um imvel pa-
ra apoio ao pastoral, operao que se vence em 2030. Em 31-12-2011 o capital em
dvida ascendia a 183 454,60.
A Fbrica da Igreja Paroquial da Freguesia de gua de Pau contraiu, em 26-05-2011, um emprstimo de mdio prazo, no montante de 125 000,00, destinado
aquisio de um imvel para apoio ao pastoral, operao que se vence em 2021.
Em 31-12-2011 o capital em dvida ascendia a 120 203,70.
Os encargos decorrentes destes trs emprstimos so suportados por verbas provenien-
tes do oramento municipal.
Por isso, consideraram-se os referidos emprstimos no mbito da dvida financeira do Muni-
cpio.
Para alm deste aspeto, cabe acrescentar o seguinte:
Os emprstimos foram obtidos porque o Municpio assumiu a responsabilidade pelo paga-
mento dos respetivos encargos. Inclusivamente, no que concerne s operaes contratualiza-
das pelo Clube Operrio Desportivo e pela Fbrica da Igreja Paroquial do Rosrio, a Cmara
Municipal da Lagoa apresentou ao banco financiador cartas de conforto, manifestando a sua
concordncia com as condies negociadas e obrigando-se, perante o banco, a proceder dire-
tamente ao pagamento das amortizaes e juros emergentes dos referidos contratos75.
Daqui decorre que a celebrao dos contratos de emprstimo, o destino a dar ao capital mutu-
ado e o servio da dvida, so da responsabilidade e dependem da vontade do