Trecho do livro "A grande família"
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Transcript of Trecho do livro "A grande família"
Eu não sou chegado a drama. Eu queria ser galã, mas com
essa cara que eu tenho, com esse nariz desse tamanho, como
é que eu conseguiria ser galã, é ou não é? Toda vez que eu
fosse beijar, eu cheirava a mulher primeiro.
Rogério Cardoso
(o seu Flor da Grande Família)
Entrevista ao programa Altas Horas,
de Serginho Groisman
o fim?
LINEU Vamos começar a chamada: Nenê, Tuco, Lurdinha,
Paulão, Floriano, Agostinho, Bebel, couve, repolho,
paio e… ué? (ESPETA O GARFO EM ALGO ESTRANHO.)
O que é isso aqui? Deixa ver.
NENÊ Isso aí é shimeji. É que eu resolvi dar um toque de
nouvelle cuisine para o nosso cozido tradicional.
BEBEL Um cozido a menos para a família Silva.
AGOSTINHO E Carrara!
TUCO Calma aí, Bebel. Não fala desse jeito. Me bateu até
uma melancolia. Vou pegar outra cerveja.
PAULÃO Também me bateu foi uma “diagonel” aqui. Não tá
dando pra ficar parado “estético” num lugar. Acho
que eu vou na casinha.
Paulão sai.
o fim?
A família Silva e agregados estão em volta da mesa, diante do famoso cozido da dona Nenê. Lineu bate com seu garfo no copo, para atrair a atenção de todos.
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BEBEL Vocês não vão começar com esse negócio de
contagem regressiva, né? Porque daí eu choro!
FLORIANO Sete… seis… cinco… quatro… três…
BEBEL Para, Floriano!
NENÊ Semana que vem vai começar a reforma da casa, e
nós vamos ter o nosso próprio restaurante, não é,
Lineu? E vai se chamar “A Grande Família”!
BEBEL E a família Carrara vai morar na Barra da Tijuca!
O primeiro mundo. A Miami brasileira!
FLORIANO No nosso prédio tem até piscina.
BEBEL Área molhada, criança!
Paulão volta.
PAULÃO Já fiz. (ABRAÇA LURDINHA.) E Lurdinha vai morar
comigo no novo cafofo do Paulão, que agora tem
ar-condicionado, “figobar” e teto todo “espalhado”
pra gente se ver namorando.
TUCO Tá parecendo mais um motel.
LURDINHA Deus me salve, Senhor!
NENÊ Gente, eu tive uma ideia: aos domingos, nós vamos
fechar o restaurante, eu vou fazer um almoço e nós
vamos continuar almoçando aqui, todos juntos,
para sempre.
TUCO Excelente ideia.
Todos, comovidos, aplaudem. O telefone começa a tocar.
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Trim
Trim
Trim NENÊ Atende, Lineu.
LINEU Vai, Bebel, vai.
BEBEL Vai lá, Agostinho.
AGOSTINHO (A FLORIANO) Atende lá, meu filho.
FLORIANO (A PAULÃO) Atende lá, ô.
PAULÃO Atende, Lurdinha.
LURDINHA Tuco, atende lá, por favor.
NENÊ Vai, meu filho.
Tuco vai atender.
TUCO Alô?
Tuco se espanta.
TUCO É a Globo! Ela quer falar com a gente. Parece que eles
querem fazer um seriado, e querem se inspirar na
nossa família!
Essa foi a primeira cena do último episódio de A Grande Família, o
seriado mais longevo e mais querido da televisão brasileira. No final
do episódio, vemos nossos heróis diante da TV, ansiosos para ver a
si mesmos num programa da Globo. Florianinho vaticina: “A gente
vai ser campeão de audiência!” Bebel completa: “E de convivência!”
E foram mesmo, durante catorze temporadas – de 2001 até 2014
– num total de 489 episódios que, juntos, somam 250 horas. A par-
cela mais jovem dos fãs de Lineu, Nenê e Agostinho nasceu quando
o seriado já estava no ar e cresceu acompanhando as aventuras e
desventuras daquele “doce e animado lar”. Exibida às quintas-feiras
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depois da novela das nove, A Grande Família era um fato da vida, tão
confiável quanto as fases da Lua ou a mudança das estações.
Por que parou? Porque é melhor se despedir no auge. É bom dei-
xar saudades.
A alma deste almanaque é a saudade. Uma saudade agridoce,
triste e alegre, que iremos levar pela vida, nós que fizemos e vocês
que assistiram.
HÁ lUGAr PArA ToDoS NA GrANDE fAmÍliA.