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Museu de Topografia prof. Laureano Ibrahim Chaffe Departamento de Geodésia - UFRGS
CAVALEIROS TEMPLÁRIOS
Texto original: Wikipédia, la enciclopedia libre.
Setembro/2013
Ampliação e ilustrações: Iran Carlos Stalliviere Corrêa-IG/UFRGS
Selo dos cavaleiros templários com dois membros da ordem montados
em um só cavalo, símbolo de sua pobreza.
A Ordem dos Pobres Cavaleiros de Cristo e do Templo de
Salomão (em latim, Pauperes Commilitones Christi Templique
Salomonici), também chamada a Ordem do Templo (Ordre du Temple
em francês) e cujos membros são comumente conhecidos como
cavaleiros templários (templiers em francês), foi uma das mais
famosas ordens cristãs da Idade Média. Manteve-se ativa durante
quase dois séculos. Foi fundada em 1118 ou 1119 por nove cavaleiros
franceses liderados por Hugo de Payens a partir da Primeira Cruzada.
Seu propósito original era proteger a vida dos cristãos que
peregrinavam a Jerusalém. A ordem foi reconhecida pelo patriarca
latino de Jerusalém Garmond de Picquigny, que impôs como regra a
dos canônicos agostinianos do Santo Sepulcro.
Garmond de Picquigny Hugo de Payens
Aprovada oficialmente pela Igreja católica em 1129, durante o
Concílio de Troyes (celebrado na catedral da mesma cidade), a
Ordem do Templo cresceu rapidamente em tamanho e poder. Os
cavaleiros templários usavam como distintivo um manto branco com
uma cruz vermelha desenhada nele. Militarmente, seus membros se
encontravam entre as unidades mais bem treinadas que participaram
das Cruzadas. Os membros não combatentes da ordem gerenciavam
uma complexa estrutura econômica dentro do mundo cristão. Criaram,
inclusive, novas técnicas financeiras que constituía uma forma primitiva
de um moderno banco atual. A ordem, além disso, edificou uma série
de fortificações por todo o mar Mediterrâneo e a Terra Santa.
O êxito dos templários se encontra estreitamente vinculado as
Cruzadas. A perda da Terra Santa ocasionou a perda dos apoios da
ordem. Além disso, os rumores gerados em torno da secreta cerimônia
de iniciação dos templários criaram uma grande desconfiança. Felipe
IV da França, consideravelmente endividado com a ordem, começou a
pressionar o papa Clemente V com o objetivo de que este tomasse
medidas contra seus integrantes. Em 1307, um grande número de
templários foi preso, induzidos a confessar sob tortura, e
posteriormente foram queimados na fogueira. Em 1312, Clemente V
cedeu às pressões de Felipe IV e dissolveu a ordem. Sua brusca
erradicação deu lugar a especulações e lendas que têm mantido vivo o
nome dos cavaleiros templários até nossos dias.
Felipe IV da França Papa Clemente V
Antecedentes
A cruz patada vermelha.
Após o controle das invasões muçulmanas e vikings, seja por via
militar, ou por assentamento, iniciou-se na Europa ocidental uma etapa
expansiva. Produziu-se um aumento da produção agrária intimamente
relacionado com o crescimento da população. Assim mesmo o comércio
experimentou um novo renascer.
A autoridade religiosa, matriz comum nessa região e única visível
nos séculos anteriores, conseguira introduzir, no conturbado mundo
medieval, ideias como a paz de Deus ou a trégua de Deus, que
dirigiam o ideal da cavalaria para a defesa dos fracos. Entretanto, não
recusavam o uso da força para a defesa da Igreja. “Já o pontífice João
VIII, no final do século IX, havia declarado que aqueles que
morressem no campo de batalha lutando contra os infiéis teriam seus
pecados perdoados. E mais, se equiparariam aos mártires mortos pela
fé”.
Existia pois um enraizado e exacerbado sentimento religioso que
se manifestava nas peregrinações aos lugares santos, comuns na
época. Roma, como lugar tradicional de peregrinação, foi
paulatinamente substituída, a princípios do século XI, por Santiago de
Compostela e Jerusalém. Estes novos destinos não estavam isentos
de perigos e obstáculos, como assaltantes ou altos tributos para os
senhores locais, porém o sentimento religioso, unido à esperança de
encontrar aventuras e fabulosas riquezas no Oriente, seduziu a muitos
peregrinos, que ao voltar a suas casas relatavam suas aventuras e
penúrias.
Manuscrito em pergaminho selado com nove voltas de fio de seda e lacre vermelho.
É visível o lema: "Sigillum Militum Xpisti" ("selo dos soldados de Cristo").
O pontífice Urbano II, com o intuito de assegurar sua posição à
frente da Igreja, continuou com as reformas de seu predecessor,
Gregório VII. A petição de ajuda realizada pelos bizantinos, junto com
a caída de Jerusalém em mãos turcas, propiciou que no Concílio de
Clermont (em novembro de 1095) Urbano II expusesse, ante uma
grande audiência, os perigos que ameaçavam os cristãos ocidentais e
aos vexames a que se viam submetidos os peregrinos que viajavam a
Jerusalém. A expedição militar proposta por Urbano II pretendia
também resgatar esta cidade das mãos dos muçulmanos.
Papa Urbano II Papa Gregório VII
As recompensas espirituais prometidas, somadas a ânsia de
riquezas, fizeram que príncipes e senhores respondessem prontamente
ao chamamento do pontífice. A Europa cristã se moveu com um
propósito comum sob o grito de “Deus o quer” ("Deus vult"), frase que
encabeçou o discurso do Concílio de Clermont, no qual Urbano II
convocou a Primeira Cruzada.
Tal expedição militar culminou com a conquista de Jerusalém em
1099 e com a formação de territórios latinos na zona: os condados de
Edesa e Trípoli, o principado de Antioquia e o reino de Jerusalém,
onde Balduino I não teve inconveniente em assumir, já em 1100, o
título de rei.
Coroação de Balduino I (da Histoire d'Outremer, século XIII).
História
Fundação e primeiros tempos
Balduino I de Jerusalém cede o Templo de Salomão a Hugo de Payens
e a Godofredo de Saint-Omer.
Apenas criado o reino de Jerusalém e eleito Balduino I como seu
segundo rei, depois da morte de seu irmão Godofredo de Bouillón,
alguns dos cavaleiros que participaram na Primeira Cruzada decidiram
ficar para defender os Lugares Santos e aos peregrinos cristãos que
viajavam a Terra Santa. Balduino I necessitava organizar o reino e
não podia dedicar muitos recursos à proteção dos caminhos, já que não
contava com efetivos suficientes para fazê-lo. Devido a isso, e ao fato
de que Hugo de Payens fosse parente do conde de Champanhe (e
provavelmente parente distante do mesmo Balduino), levou o rei a
conceder àqueles cavaleiros um lugar aonde pudesse repousar e
manter seus equipamentos, assim como a outorgar-lhes direitos e
privilégios, entre os quais um alojamento em seu próprio palácio, que
não era se não a mesquita de Al-Aqsa, localizado, no interior do que
uma vez tinha sido o local do Templo de Salomão. E, quando
Balduino abandonou a mesquita e seus arredores como palácio para
fixar o trono na Torre de David, todas as instalações passaram, na
verdade, aos templários, que desta maneira adquiriram não só seu
quartel general, se não seu nome.
Além disso, o rei Balduino se ocupou de escrever cartas aos reis
e príncipes mais importantes da Europa, que prestaram ajuda a recente
ordem, que havia sido bem recebida não só pelo poder político, se não
também pelo eclesiástico, já que forra o patriarca de Jerusalém a
primeira autoridade da Igreja que a aprovou canonicamente. Nove anos
depois da criação da ordem em Jerusalém, em 1129 se reuniu o
chamado Concílio de Troyes, que se encarregaria de redigir a regra
para a recém criada Ordem dos Pobres Cavaleiros de Cristo.
Godofredo de Bouillón
O concílio foi encabeçado pelo enviado papal D'Albano, e este foi
assistido pelos bispos de Charters, Reims, Paris, Sens, Soissons,
Troyes, Orleans, Auxerre e demais casas eclesiásticas da França. Houve
também vários abades, como Santo Estevão Harding, mentor de São
Bernardo, o mesmo São Bernardo de Claraval e laicos como os condes
de Champanhe e de Nevers. Hugo de Payens expos perante a
assembleia as necessidades da ordem, que foram decididas, artigo por
artigo, até os mínimos detalhes, desde a forma de jejuar até a de
pentear o cabelo, passando pelos ritos, orações e inclusive armamento.
Santo Estevão Harding
Por tanto, a regra mais antiga de que se tem noticia é a que foi
redigida nesse concilio. Escrita quase seguramente em latim, estava
baseada, até certo ponto, nos hábitos e usos anteriores ao concilio. As
modificações principais vieram do fato de que até aquele momento os
templários estavam vivendo sob a Regra de Santo Agostinho, que no
concílio foi substituído pela Regra Cisterciense (a de São Benito,
porém modificada) e que professava São Bernardo.
A regra primitiva constava de uma ata oficial do concílio e de um
regulamento de 75 artigos, entre estes figuram alguns como:
Artigo X: Do comer carne na semana. Na semana, se não for o dia
de Páscoa, de Natal, da Ressurreição, da festa de Nossa
Senhora, ou de Todos os Santos, basta come-la três vezes, ou dias,
porque o costume de comê-la é entendido como corrupção dos corpos.
Se terça-feira for dia de jejum, na quarta-feira poderá ser consumida
com abundância. No domingo, aos cavaleiros, assim como aos
capelães, dê-lhes sem dúvida duas refeições, em honra da santa
Ressurreição; os demais serventes se contentem com um e deem
graças a Deus.
Uma vez redigida, as regras foram entregues ao patriarca latino de
Jerusalém Estevão de la Ferté, também chamado Estevão de
Charters, embora alguns autores estimassem que o editor pudesse ser
sim o seu antecessor, Garmond de Picquigny, quem a modificou
eliminando 12 artigos e introduzindo 24 novos, entre os quais se
encontrava a referência a que os cavaleiros somente vestissem o
manto branco e os sargentos um manto preto.
Patriarca Latino de Jerusalém
Após receber a regra básica, cinco dos nove integrantes da ordem
viajaram, sob o comando de Hugo de Payens, pela França primeiro, e
pelo resto da Europa depois, com o objetivo de recolher doações e
alistar cavaleiros em suas fileiras. Dirigiram-se inicialmente aos lugares
de onde vieram, com a certeza de que seriam aceitos e que teriam
assegurados grandes donativos. Nesse período conseguiram recrutar,
em pouco tempo, cerca de trezentos cavaleiros, sem contar escudeiros,
homens de armas e pajens.
Foi importante para a ordem a ajuda que na Europa lhes concedeu
o abade São Bernardo de Claraval, que, por seu parentesco e sua
proximidade com vários dos nove primeiros cavaleiros, se esforçou de
sobremaneira em divulga-la através de sua alta influência na Europa,
sobre tudo na Corte Papal. São Bernardo era sobrinho de André de
Montbard, quinto grão mestre da ordem, e primo, por parte de mãe,
de Hugo de Payens. Era também um crente convencido e homem de
grande caráter, de uma inteligência e uma independência admiradas
em muitas partes da França e na própria Santa Sé. Reformador da
Regra Beneditina, seus discursos com Pedro Abelardo, brilhante
mestre da época, foram muito conhecidos.
São Bernardo de Claraval André de Montbard
Desta maneira, era de se esperar que São Bernardo aconselhara
aos membros da ordem, uma regra rígida e que os fizera aplicá-la de
corpo e alma. Participou em sua redação em 1129, no Concilio de
Troyes, durante o qual introduziu numerosas emendas ao texto básico
que havia sido redigido pelo patriarca de Jerusalém Estevam de la
Ferté. Posteriormente ajudou novamente a Hugo de Payens na
redação de uma série de cartas nas quais defendia a Ordem do Templo
como o verdadeiro ideal da cavalaria e convidada as massas a unir-se a
ela.
Os privilégios da ordem foram confirmados pelas bulas Omne
Datum Optimum (1139), Milites Templi (1144) e Militia Dei
(1145). Nelas, de maneira resumida, se dava aos cavaleiros templários
uma autonomia formal e o real respeito dos bispos e os deixavam
unicamente subordinados a autoridade papal. Assim mesmo, eram
excluídos da jurisdição civil e eclesiástica, era permitido terem seus
próprios capelães e sacerdotes pertencentes à ordem e lhes foi
outorgado o poder de coletar bens e dinheiro de várias formas (por
exemplo, tinham direito de arrecadar esmolas — isto é, os donativos
que eram recolhidos nas igrejas — uma vez ao ano). Também, estas
bulas papais, lhes davam direito sobre as conquistas na Terra Santa e
lhes concediam atribuições para construir fortalezas e igrejas próprias,
o que lhes deu grande independência e poder.
Em 1167 (ou em 1187, segundo alguns estudiosos) se redigiram
os estatutos hierárquicos da ordem, uma espécie de regulamento
que detalhava artigos da regra e desdobrava aspetos necessários que
não haviam sido levados em conta pela regra primitiva (como a
hierarquia da ordem, a relação detalhada do vestuário, da vida no
convento, militar e religiosa ou deveres e privilégios dos irmãos
templários, por exemplo). Consta de mais de 600 artigos, divididos em
seções.
Durante sua permanência inicial em Jerusalém, se dedicaram
unicamente a escoltar os peregrinos que se dirigiam aos Lugares
Santos, e, já que pelo seu escasso número (nove) de membros, não
permitia que realizassem atuações de maior magnitude, se instalaram
no desfiladeiro de Athlit, de onde protegiam os passantes em torno de
Cesárea. Devemos levar em conta que eram apenas nove cavaleiros,
porém, seguindo os costumes da época, não se sabe exatamente
quantas pessoas faziam parte da ordem em principio, já que todos os
cavaleiros tinham um séquito menor ou maior. Imagina-se que por
cada cavaleiro havia que contar três ou quatro pessoas a mais, pelo
que estaríamos falando de umas trinta a cinquenta pessoas entre
cavaleiros, peões, escudeiros, serviçais, etc.
Porém, seu número aumentou de maneira significativa ao ser
aprovada a regra, e esse foi o inicio da grande expansão dos pauvres
chevaliers du temple. Até 1170, uns cinquenta anos depois de sua
fundação, os cavaleiros da Ordem do Templo se espalhavam por terras
das atuais nações da França, Alemanha, Reino Unido, Espanha e
Portugal. Esta expansão territorial contribuiu ao enorme aumento de
sua riqueza, como a qual não havia outra em todos os reinos da
Europa.
Os templários tiveram uma destacada participação na Segunda
Cruzada, durante a qual protegeram o rei Luis VII da França logo
depois das derrotas que este sofreu dos turcos. Três grandes mestres
caíram presos em combate num período de 30 anos: Bertrand de
Blanchefort (1157), Eudes de Saint-Amand e Gerard de Ridefort
(1187).
Luis VII Bertrand de Blanchefort Brasão de Gerard de Ridefort
O princípio do fim
Mas as derrotas ante Saladino, sultão do Egito, os fizeram
retroceder. Assim, na batalha dos Chifres de Hattin, que teve lugar
em 4 de julho de 1187 na Terra Santa, ao oeste do mar da Galileia, no
desfiladeiro conhecido como Chifres de Hattin (Qurun-hattun), o
exercito cruzado, formado principalmente por contingentes templários e
hospitalários sob o comendo de Guy de Lusignan, rei de Jerusalém, e
de Reinaldo de Châtillon, se enfrentaram com as tropas de
Saladino. Este lhes infligiu uma grande derrota, na qual caiu
prisioneiro o grande mestre dos templários Gerard de Ridefort e
morreram muitos templários e hospitalários. Saladino tomou posse de
Jerusalém e terminou de um golpe com o reino que havia sido fundado
por Godofredo de Bouillón. Embora, a pressão da Terceira Cruzada e
as articulações de Ricardo I da Inglaterra (chamado Coração de Leão)
lograram um acordo com Saladino para converter Jerusalém em uma
espécie de cidade livre para a peregrinação.
Saladino Guy de Lusignan Godofredo de Bouillón
Batalha dos Chifres de Hattin, Rei Ricardo I
em 1187, momento decisivo das Cruzadas
Depois do desastre de Chifres de Hattin, as coisas foram de
mal a pior e, em 1244, Jerusalém caiu definitivamente, a qual havia
sido recuperada 16 anos antes pelo imperador Frederico II por meio
de pacto com o sultão Al-Kamil. Os templários se viram obrigados a
mudar seus quartéis para São João de Acre, junto à outra das grandes
ordens monástico-militares: os hospitalários e os teutônicos.
As cruzadas posteriores (isto é, a Quarta, a Quinta e a Sexta), nas
quais evidentemente se alistaram os templários, não tiveram
repercussões práticas na Terra Santa ou foram episódios insanos (como
a tomada de Bizâncio na Quarta Cruzada).
Frederico II Frederico II e Al-Kamil
Em 1248, Luis IX da França (depois conhecido como São Luis)
decide convocar a Sétima Cruzada, a qual liderou, porém o objetivo
desta não era a Terra Santa, mas sim o Egito. O erro tático do rei e as
pestes sofridas pelos exércitos cruzados conduziram a derrota de
Mansura e a um desastre posterior no qual o próprio Luis IX caio
prisioneiro. Foram os templários, tidos em alta estima por seus
inimigos, quem negociou a paz e emprestaram, ao monarca, a fabulosa
soma correspondente a seu resgate.
Luis IX da França
Em 1291 ocorreu a Caída de Acre, com os últimos templários
lutando junto de seu mestre, Guillaume de Beaujeu, o que constituiu
no fim da presença cruzada na Terra Santa, porém não o fim da ordem,
que mudou seu quartel general para Chipre, ilha de sua propriedade
comprada de Ricardo Coração de Leão, porém tiveram que devolve-
la ao rei inglês devido à rebelião dos habitantes.
Esta convivência de templários e soberanos em Chipre (da família
Lusignan) foi incômoda a tal ponto que a ordem participou da revolta
palaciana que destronou Henrique II de Chipre para entronizar seu
irmão Amalarico II. Este permitiu a sobrevivência da ordem na ilha
por vários anos depois de sua dissolução no restante da cristandade
(1310).
Henrique II de Chipre
Expulsão da Terra Santa
Os templários tentaram reconquistar pontos estratégicos para sua
nova investida no Oriente Médio, a partir de Chipre, sendo a única das
três grandes ordens de cavalheiros que tentou o feito, pois tanto os
hospitalários como os cavaleiros teutônicos dirigiram seus interesses a
diferentes lugares. A ilha de Arwad, perdida em setembro de 1302, foi
a última posessão dos templários na Terra Santa. Os chefes da
guarnição morreram (Barthélemy de Quincy e Hugo de Ampurias) ou
foram capturados (frei Dalmau de Rocabertí).
Este esforço se revelaria inútil, não tanto pela falta de meios ou de
vontade como pelo fato de que a mentalidade havia mudado e a
nenhum poder da Europa lhes interessava a conquista dos Lugares
Santos, com o que os templários se encontraram sozinhos.
História por territórios
Em Aragão
A ordem começou sua implantação na zona oriental da Península
Ibérica na década de 1130. Em 1131, o conde de Barcelona Ramón
Berenguer III pede sua entrada na ordem, e em 1134, o testamento
de Alfonso I de Aragão cede seu reino aos templários, junto a outras
ordens, como os hospitalários ou a do Santo Sepulcro. Este testamento
seria revogado, e os nobres aragoneses, descontentes, entregaram a
coroa a Ramiro II, embora tenham feitas numerosas concessões,
tanto de terras como de direitos comerciais as ordens, para que
renunciassem a mesma. Este rei buscava a união com Barcelona da
qual nasceria a Coroa de Aragão.
Ramón Berenguer III Alfonso I de Aragão Ramiro II de Aragão
Ramón Berenguer IV, conde de Barcelona e príncipe de Aragão
pronto chegaria a um acordo com os templários para que os mesmos
colaborassem na Reconquista de Gerona, em 1143, pela qual
receberam os castelos de Monzón, Mongay, Chalamera, Barberá,
Remolins e Corbins, junto com a Ordem militar de Belchite de Lope
Sanz, favorecendo-lhes com doações de terras, assim como com
direitos sobre as conquistas (um quinto das terras conquistadas, o
dizimo eclesiástico, entre outras). Também, segundo estas condições,
qualquer paz ou trégua teria que ser consentida pelos templários, e não
somente pelo rei.
Ramón Berenguer IV
Como em toda Europa, numerosas famílias que não podiam dar a
seu filho mais velho, um título de nobreza, buscavam cargos
eclesiásticos, militares, cortesãos ou em ordens religiosas,
enriquecendo assim a ordem.
Em 1148, pela colaboração nas conquistas ao sul, ao Patrimônio
da Casa de Aragão, os templários receberam terras em Tortosa e em
Lérida (onde ficaram em Gardeny e Corbins).
Depois da derrota de Muret, com a suposta perda do império
transpirineuco aragonês, os templários se converteram em guardiões
do herdeiro da coroa, no castelo de Monzón. Este, Jaime I o
Conquistador, contaria com apoio templário em suas campanhas em
Mallorca (onde receberiam um terço da cidade, assim como outras
concessões), e em Valência (onde de novo receberiam um terço da
cidade).
Jaime I de Aragão Pedro II de Aragão
Os templários se mantiveram fieis ao rei Pedro III de Aragão,
permanecendo a seu lado durante a excomunhão que sofreu devido sua
luta contra os angevinos da França, na Itália.
Finalmente os Templários se estabeleceram em Aragão graças a
absorção da Ordem do Santo Redentor, de Teruel, em 1196, que por
sua vez se havia beneficiado da dissolução da Ordem de Monte
Gaudio em 1188, fundada em Alfambra.
Em Castela e Leão
Os templários ajudaram o repovoamento de zonas conquistadas
pelos cristãos, criando assentamentos nos quais edificavam ermitas sob
a invocação de mártires cristãos, como é o caso de Hervás, população
do Senhorio de Béjar.
Dada a invasão dos Almohades, os templários lutaram no
exército cristão, vencendo junto aos exércitos de Alfonso VIII de
Castela, Sancho VII de Navarra e Pedro II de Aragão na batalha de
Las Navas de Tolosa (1212).
Alfonso VIII de Castela Sancho VII de Navarra
Em 1265, colaboraram na conquista de Murcia, que havia se
levantado em armas, recebendo em recompensa Jerez de los
Caballeros, Fregenal de la Sierra, e o castelo de Murcia e Caravaca.
Em Portugal
O castelo de Soure em Portugal O Castelo de Longroiva em Portugal
Os templários entram em Portugal nos tempos da condessa
Teresa de Leão, da qual recebem o castelo de Soure em 1127, em
troca da colaboração na Reconquista. Em 1145 recebem o castelo de
Longroiva por sua ajuda a Alfonso Henriques na tomada de
Santarém. Em 1147 recebem o castelo de Cera, próximo de Tomar,
que se converteria em sua sede regional. Os templários foram uma
ordem bem assentada em Portugal.
Condessa Teresa de Leão Rei Alfonso Henrique de Portugal
Coma a bula papal ordenando a dissolução, os reis portugueses
mudaram o nome da ordem em Portuga, para Ordem de Cristo,
embora com diferenças substanciais da Ordem do Templo original,
especialmente no que dizia respeito à regra, votos e forma de eleição
dos dirigentes.
Na Inglaterra, Escócia e Irlanda
Na Inglaterra, país muito unido à França, dado que na época o
rei inglês era na ocasião (entre outros títulos) Duque da Normandia e
senhor de numerosos feudos franceses, a Ordem se fez presente muito
rápido.
Embora sua presença não atingisse a extensão que possuía na
França, a mesma foi de vital importância, não só territorialmente, se
não politicamente. Na verdade, o rei Ricardo Coração de Leão
(Ricardo I da Inglaterra) foi um benfeitor da Ordem e um magnata
dela, tanto que sua escolta pessoal era composta por templários e que
em sua morte, o mesmo fora vestido com o hábito dos templários.
Tanto é assim, que os historiadores chegaram à conclusão de que
qualquer topônimo inglês, escocês ou irlandês que comece ou acabe em
"Temple" é, finalmente, uma antiga posessão dos templários.
Na Polônia
Os templários não estiveram ativos na Polônia até o século XIII,
quando o príncipe Henryk Brodaty cedeu propriedades aos templários
nas terras de Oławy (Oleśnica Mała) e Lietzen (Leśnica). Mais tarde
Władysław Odoniec lhes daria Myślibórz, Wielka Wieś, Chwarszczany
e Wałcz. O príncipe polaco Przemysł II lhes entregaria Czaplinek. A
Ordem chegaria a ter na Polônia pelo menos doze komandorie, que
segundo alguns historiadores poderia ter sido cinquenta. Apesar de sua
distância da Terra Santa e do Mediterrâneo, que era o centro da
Ordem, chegaram a ter entre cento e cinquenta e duzentos cavaleiros
na Polônia, de procedência majoritariamente germânica. O número de
cavaleiros polacos é difícil de ser estimado. Com a dissolução da
Ordem, a maioria deles passaram a Ordem dos Cavaleiros
Hospitalários ou a dos Cavaleiros Teutônicos.
Príncipe Henryk Brodaty Wladyslaw Odoniec Príncipe Przemysl II
Na Hungria
A presença dos templários na Hungria, assim como na maior
parte da Europa Oriental, foi devido à ânsia colonizadora dos monarcas
daquela região. Os cavaleiros do Templo nunca tiveram grandes
propriedades em solo húngaro, pois ali as ordens Teutônica e do
Hospital foram as mais favorecidas. Porém, contaram com o mínimo
de duas casas na Hungria central, uma em Esztergom e outra em
Egyházasfalu, além de um castelo em Léka. Na Croácia (na época,
parte do reino húngaro) tiveram várias fortalezas, como as de Vrana e
de Kliss, e foi esta a região aonde exerceram mais influência. Os
registros sobre a extinção da ordem sob o reinado de Carlos I da
Hungria são muito escassas, pelo que resulta difícil reconstruir o que
sucedeu. Depois da dissolução da ordem, as propriedades desta
passaram as mãos dos cavaleiros hospitalários, que também herdaram
o título de ispán de Dubica, ostentado até então pelo mestre
templário.
Rei Carlos I da Hungria
O fim da ordem
Ilustração de um manuscrito medieval no qual se acusa
os templários de sodomia.
O último grão mestre, Jacques de Molay, se negou a aceitar o
projeto de fusão das ordens militares sob um único rei solteiro ou viúvo
(Projeto Rex Bellator, dirigido pelo grão sábio Ramón Llull), apesar da
pressão papal. Em 6 de junho de 1306 foi chamado a Poitiers pelo papa
Clemente V para um último intento, cujo fracasso, selou o destino da
ordem. Felipe IV da França, ante as dividas que havia adquirido seu
país, entre outras coisas, pelo empréstimo que seu avô Luis IX
solicitou para pagar seu resgate, após ser capturado na Sétima
Cruzada, e seu desejo de um Estado forte, com o rei concentrando todo
o poder (que, entre outros obstáculos, devia superar o poder da Igreja
e as diversas ordens religiosas como a dos templários), convenceu (ou
melhor, intimidou) a Clemente V, fortemente ligado à França, de
instaurar um processo contra os templários acusando-os de sacrilégio a
cruz, heresia, sodomia e adoração a ídolos pagãos (foram acusados de
cuspirem sobre a cruz, renegar a Cristo através da prática de ritos
heréticos, de adorar a Baphomet e de ter contato homossexual, entre
outras coisas).
Neste trabalho contou com a inestimável ajuda de Guillermo de
Nogaret, chanceler do reino, famoso na história por haver sido o
estrategista do incidente de Anagni, no qual Giacomo Sciarra
Colonna havia esbofeteado o papa Bonifacio VIII, com o que o Sumo
Pontífice morreu de humilhação ao cabo de um mês; do Inquisidor
Geral da França, Guillermo Imberto, mais conhecido como Guillermo
de París; e de Eguerrand de Marigny, o qual ao final se apoderara do
tesouro da ordem e o administrará em nome do rei, até ser transferido
à ordem dos Hospitalários.
Jacques de Molay Guillermo de Nogaret Papa Bonifácio VIII
Giacomo Sciarra Colonna Eguerrand de Marigny
Parra isso se serviram das acusações de um tal Esquieu de
Floyran, espião das ordens tanto da Coroa da França como da Coroa
de Aragão.
Parece que Esquieu foi a Jaime II de Aragão com a história de
que um prisioneiro templário, com quem havia compartilhado uma cela,
havia lhe confessado os pecados da ordem. Jaime II não acreditou
nele e o dispensou "com pouca atenção"..., assim Esquieu se foi à
França para contar a história a Guillermo de Nogaret, que não tinha
mais vontade que a do Rei, e que, acreditando ou não acreditando no
mesmo, não perdeu a oportunidade de usá-lo como pedestal para
montar o dispositivo que, finalmente, levou a dissolução da ordem.
Rei Jaime II de Aragão
Felipe enviou correspondência a todos os lugares de seu reino
com ordens estritas de não ser abertas até um dia determinado, o
anterior a sexta-feira 13 de outubro de 1307, no que se poderia dizer
que fora uma operação conjunta simultânea em toda a França. Nesses
manuscritos se ordenava a detenção de todos os templários e a
requisição de seus bens.
Desta maneira, na França, Jacques de Molay, último grão mestre
da ordem, e cento e quarenta templários foram encarcerados e em
seguida submetidos a torturas, método pelo qual conseguiram que a
maioria dos acusados se declarassem culpados das acusações,
inventados ou não. Certo é que alguns efetuaram similares confissões
sem o uso da tortura, porém o fizeram por medo a ela; a ameaça fora
suficiente. Tal era o caso do grão mestre, Jacques de Molay, que logo
admitiu haver mentido para salvar a vida.
Além disso, esta mesma carta papal de 1308 chegou a vários
reinos europeus, incluindo o Reino da Hungria, onde o recém-coroado
Carlos I da Hungria, tinha outros problemas maiores, pois uma série
de altos nobres não reconhecia seu reinado e estava em constante
guerra contra eles. Em 1314 no concílio de Zagrab, o rei húngaro e o
alto clero decidiram finalmente a dissolução da província templária
húngara. Posteriormente se procedeu com o confisco de suas
propriedades na Hungria e na região de Eslavonia (localizada dentro do
reino húngaro nessa época), as quais passaram as mãos do rei
diretamente. Carlos I as deu posteriormente aos nobres e em sua
maioria à ordem Hospitalaria, assunto que se concretizou na década de
1340, pois o rei deixou expresso em um de seus documentos que
entregava momentaneamente as propriedades templárias (a um nobre)
enquanto se esclarecia a situação e o destino da ordem.
Levada a cabo sem a autorização do papa, o qual tinha as ordens
militares sob sua jurisdição imediata, esta investigação era
radicalmente corrupta em quanto a sua finalidade e a seus
procedimentos, pois os templários haviam de ser julgados com
respeito ao Direito canônico e não pela justiça ordinária. Esta
intervenção do poder temporal na esfera de pessoas que estavam
aforadas e submetidas por ele à jurisdição papal, não só originou de
Clemente V um enérgico protesto, se não que o Pontífice anulou o
julgamento integralmente e suspendeu os poderes dos bispos e seus
inquisidores. Não obstante, a acusação havia sido admitida e
permaneceria como a base irrevogável de todos os processo
subsequentes.
Felipe o Belo tirou vantagem do "desmascaramento", e se fez
outorgar pela Universidade de Paris o título de «campeão e defensor
da fé», e, nos Estados Gerais convocados em Tours soube por a
opinião pública contra os supostos crimes dos templários. Mais ainda,
conseguiu que se confirmassem, em frente ao papa, as confissões de
setenta e dois templários acusados, que haviam sido expressamente
eleitos e treinados de antemão. Em vista desta investigação realizada
em Poitiers (junho de 1308), o papa, que até então havia permanecido
cético, finalmente se mostrou interessado e abriu uma nova comissão,
cujo processo ele mesmo dirigiu. Reservou a causa da Ordem a
comissão papal, deixando o julgamento dos indivíduos em mãos das
comissões diocesanas, a qual devolveu seus poderes.
A comissão papal designada ao exame da causa da ordem havia
assumido seus deveres e reuniu a documentação que haveria de ser
submetida ao papa e ao concílio, convocado para decidir sobre o
destino final da ordem. A culpa das pessoas isoladas, que se avaliada
segundo o estabelecido, não envolvia a culpabilidade da ordem. Embora
a defesa da ordem fosse efetuada deficientemente, não se pode provar
que esta, como corpo, professava alguma doutrina herética ou que uma
regra secreta, distinta da regra oficial, fosse praticada. Em
consequência, no Concílio Geral de Viena, no Delfinado, em 16 de
outubro de 1311, a maioria fora favorável a manutenção da ordem,
porém o papa, indeciso e assediado pela coroa da França
principalmente, adotou uma solução salomônica: decretou a dissolução,
não a condenação, e não por sentença penal, se não por um decreto
apostólico (bula Vox clamantis de 22 de março de 1312).
O papa reservou, para seu próprio arbítrio, a causa do grão mestre
e de seus três primeiros dignitários. Eles haviam confessado sua culpa
e só faltava reconcilia-los com a Igreja uma vez que houvessem
atestado seu arrependimento com a solenidade acostumada. Para dar
mais publicidade a esta solenidade, defronte da catedral de Notre Dame
de Paris, foi erigida uma plataforma para a leitura da sentença, porém
no momento supremo, Molay recuperou sua corajem e proclamou a
inocência dos templários e a falsidade de suas próprias confissões. Em
reparação por este deplorável instante de debilidade, se declarou
disposto ao sacrifício de sua vida e foi aprisionado imediatamente como
herético reincidente, junto a outro dignatário que escolheu compartir
seu destino, e foi queimado junto a Geoffroy de Charnay atados a
uma estaca em frente às portas de Notre Dame na Île de France no dia
da Candelária (18 de março) de 1314.
Templários condenados à fogueira pela Inquisição
Nos outros países europeus, as acusações não foram tão severas,
e seus membros foram absolvidos, porém, a raiz da dissolução da
ordem, os templários foram dispersos. Seus bens foram repartidos
entre os diversos estados e a ordem dos Hospitalários: na Península
Ibérica passaram para a coroa de Aragão, a Castela no centro e norte,
a Portugal no oeste e aos Hospitalários. Tanto em Aragão como em
Castela surgiram várias ordens militares, como a ordem dos Frates de
Cáceres, Santiago, Montesa, Calatrava ou Álcantara, as que se
concedeu a custódia dos bens requisitados. Em Portugal, o rei D. Dinis
os restitui em 1317 como "Militia Christi" ou Cavaleiros de Cristo,
assegurando assim os pertences (por exemplo, o castelo de Tomar) da
ordem neste país. Na Polônia, os Hospitalários receberam a totalidade
das possessões dos Templários.
Rei D. Dinis de Portugal
Atualmente se encontram nos arquivos do vaticano o
pergaminho de Chinon, que contem a absolvição do papa Clemente
V aos Templários. Este documento tem uma grande importância
histórica, pois demonstra a vacilação do papa. Nunca foi oficial e
aparece com data anterior as Bulas Vox in excelso, Ad providam e
Considerantes, onde se procedeu a dissolução da Ordem e a
distribuição de seus bens. Assim, segundo o texto da Vox in excelso:
"Nos suprimimos (...) a Ordem dos templários, e sua regra, hábito e
nome, mediante um decreto inviolável e perpetuo, e proibimos
inteiramente que qualquer um de Nos entre na Ordem ou receba ou
use seu hábito ou pense em comportar-se como um templário. Se
alguém atuar neste sentido, incorra automaticamente em
excomunhão". Em concreto, o Manuscrito de Chinon está datado de
agosto de 1308. Nesta mesma data (agosto de 1308), o papa emite a
bula Facians Misericordiam, onde confirma a devolução da jurisdição
aos inquisidores e emite o documento de acusação aos templários, com
87 artigos de acusação. Assim também, emite a bula Regnans in
coelis, pela qual convoca o Concilio de Viena. Por tanto, estas duas
bulas, que se foram promulgadas oficialmente, tinham validade desde o
ponto de vista canônico, enquanto que o documento de Chinon é um
mero "borrador" de grande importância histórica, porém escassa
importância jurídica.
Processos contra os Templários
Na quinta-feira, 25 de outubro de 2007, os responsáveis do
Arquivo do Vaticano publicaram o documento Processos contra
Templários, que recopia o Pergaminho de Chinon, ou as atas da
exclusão da Ordem do Templo, do Vaticano, precisamente o ano em
que se comemorava o 700º aniversário do inicio da perseguição contra
a Ordem.
O ato teve lugar na Sala Vecchia do Sínodo, no Vaticano, com a
presença de Raffaele Farina, arquivista bibliotecário da Santa Igreja
Romana; Sergio Pagano, prefeito do Arquivo Secreto do Vaticano;
Bárbara Frale, descobridora do pergaminho e oficial do arquivo;
Marco Maiorino, oficial do arquivo; Franco Cardini, medievalista, e
Valério Massimo Manfredi, arqueólogo e escritor.
Raffaele Farina Sergio Pagano
Os documentos que serviram ao Tribunal papal para decidir a
sorte dos templários se encontram no Arquivo Secreto do Vaticano, e
estavam perdidos desde o século XVI, depois que um arquivista os
guardou em um local errado. Em 2001, a investigadora italiana
Bárbara Frale os encontrou e seu estudo mostrou que o Papa
Clemente V não queria, em principio, condenar os templários, embora
finalmente, cedendo as pressões do rei da França, Felipe IV,
terminaria aprovando.
O "Pergaminho de Chinon", um dos documentos do volume
Processos contra Templários apresentado pelo Vaticano, corrige a
lenda negra sobre a Ordem e mostra que todas as acusações foram
injurias que fez o Papa Clemente V para benefício próprio. Apesar dele,
o "Pergaminho de Chinon" ser anterior a data das bulas papais de
dissolução dos templários, na verdade, isso foi como uma expressão da
consciência pessoal do Papa. Em troca, a postura oficial da Igreja é a
da dissolução da Ordem. De fato, o documento de Chinon data de
agosto de 1308. Nesse mesmo mês de agosto de 1308, o Papa
promulga a bula Facians Misericordiam, pela qual se devolvia os
inquisidores de sua jurisdição. Na segunda sessão do Concilio de Viena,
em 3 de abril de 1312, se aprovou a Bula Vox in Excelso, emitida pelo
próprio Papa Clemente V em 22 de março de 1312, confirmada pela
Bula Ad Providam de 2 de maio de 1312. Em ambas se declara a
dissolução definitiva da Ordem.
Processos contra Templários estabelecem que:
1. O Papa Clemente V não estava convencido da culpabilidade da
Ordem do Templo.
2. A Ordem do Templo, seu Grande Mestre Jacques de Molay e o
resto dos templários presos, muitos deles condenados
posteriormente, foram absolvidos pelo Santo Padre logo de serem
condenados ou queimados vivos.
3. A Ordem nunca foi condenada, se não dissolvida, fixando a pena
de excomunhão a quem quisesse reorganiza-la.
4. O Papa Clemente V não acreditava nas acusações de heresia e por
ele permitia aos templários condenados receber os Sacramentos,
apesar do qual, foram condenados na forma em que a jurisdição
canônica estabelecia para os hereges relapsos (aqueles que depois
de confessar, recuavam atrás de suas confissões).
5. Clemente V negou as acusações de traição, heresia e sodomia com
as que o Rei da França acusou aos templários, não obstante,
convocou o Concilio de Viena para confirmar ditas acusações.
6. O processo e martírio dos templários foi um “sacrifício” para evitar
um cisma na Igreja Católica, que não compartilhava, em sua
grande parte, as acusações do Rei da França, e muito
especialmente da Igreja francesa.
7. As acusações foram falsas e as confissões conseguidas sob
tortura.
A vista dos documentos históricos cabe resumir que, ainda que o
Papa Clemente V tentara em seu foro interno evitar a condenação dos
templários, sua debilidade frente a Felipe IV da França fez com que
continuasse com o processo de dissolução da Ordem. Este processo de
dissolução acabou em 1312. Apresentamos nesse ponto o que a bula
Ad Providam, que não foi no dia de hoje, revogada, diz a respeito:
"... Faz pouco, Nos, suprimimos definitivamente e perpetuamente a
Ordem dos Cavaleiros do Templo de Jerusalém devido a causa dos
abomináveis, mesmo impronunciáveis, atos de seu Mestre, irmãos e
outras pessoas da Ordem em todas as partes do mundo... Com a
aprovação do sacro concilio, Nos, abolimos a constituição da Ordem,
seu hábito e nome, não sem amargura no coração. Nos, fizemos isto
não mediante sentença definitiva, pois isto seria ilegal em
conformidade com as inquisições e processos seguidos, se não
mediante ordem ou provisão apostólica."
Fragmento da bula Ad Providam
Economia da Ordem
Cem anos mais tarde de sua fundação oficial, até 1220, era a
maior organização do Ocidente, em todos os sentidos (desde militar até
econômico), com mais de 9.000 parcelas dispersas por toda a Europa,
uns 30.000 cavaleiros e sargentos (mais os servos, escudeiros,
artesãos, camponeses, etc.), mais de 50 castelos e fortalezas na
Europa e Oriente Próximo, uma frota própria ancorada em portos
próprios no Mediterrâneo (Marselha) e em La Rochelle (na costa
atlântica da França).
Todo este poder econômico se articulava em torno de duas
instituições características dos templários: a parcela e a bancária.
O banco
Um dos aspectos em que a ordem se destacou, de uma maneira
extremamente rápida e marcante, foi a hora de afiançar todo um
sistema socioeconômico sem precedentes na história. A dura tarefa de
ter uma frente em ultramar os fez prover-se de uma incrível frota, uma
rede de comércio fixa e estabelecida, assim como de um bom número
de possessões na Europa, para manter em pé um fluxo de dinheiro
constante que permitiria subsistir ao exército defensor na Terra Santa.
Na hora de dar donativos, as pessoas o faziam de bom grado; uns
interessados em ganhar o céu; outros, pelo fato de se dar bem com a
Ordem. Desta maneira a mesma recebia posses, bens imóvel, parcelas,
terras, títulos, direitos, porcentagens em bens, e inclusive povoados e
vilas inteiras com os direitos e deveres que sobre elas caiam. Muitos
nobres europeus confiaram neles como guardiães de suas riquezas e
inclusive muitos templários foram usados como tesoureiros reais, como
no caso do reino de França, que dispunha de tesoureiros templários
que tinham a obrigação de participarem das reuniões do palácio nas
quais se discutiria o uso do tesouro.
Para manter um fluxo constante de dinheiro, a Ordem tinha que
ter garantias de que o capital não fosse usurpado ou roubado nas
longas viagens. Com este fim se estabeleceu, na França, uma série de
redes de comércio dispersas por praticamente toda a região francesa e
que não se distanciavam, umas das outras de mais que um dia de
viaje. Com esta ideia se assegurava de que os comerciantes dormiriam
sempre em baixo de um teto e assim poder garantir sempre a
segurança de seus caminhos.
Não só souberam criar todo um sistema de mercado, se não que
se converteram nos primeiros banqueiros desde a caída de Roma. E o
fizeram sabendo da escassez de moedas nas viagens pela Europa.
Ofereciam em seus tratos juros muito menores que os oferecidos pelos
mercadores judeus. Assim, criaram livros de contas, a contabilidade
moderna, as notas e inclusive a primeira letra de câmbio. Nesta
época pesava muito a ideia de transportar dinheiro em metal pelos
caminhos, e a Ordem dispunha de documentos com crédito para
poder trocar uma quantidade, anteriormente entregue em qualquer
outro posto da Ordem. Só precisava de assinatura ou, quando aplicável,
o selo.
A “encomenda”
A encomenda era um bem imóvel, territorial, localizado em
determinado lugar, que se formava graças a doações e compras
posteriores, e que era comandada por um Preceptor. Assim, a partir
de um moinho (por exemplo) os templários compravam o bosque
adjacente, logo umas terras para plantio, depois adquiriam os direitos
sobre um povoado, etc., e com tudo isso formavam uma encomenda,
a maneira de um feudo clássico. Também podiam formar-se
encomendas reunindo, sob um único preceptor, várias doações mais
ou menos dispersas. Temos notícia de encomendas rurais (Mason
Dieu, na Inglaterra, por exemplo) e urbanas (o "Vieux Temple",
recinto murado em plena capital francesa).
Aos pouco, sua rede de encomendas derivou para uma série de
redes de comércio a grande escala, desde a Inglaterra até Jerusalém,
que ajudada por uma potente frota de barcos no Mediterrâneo,
conseguiu fazer concorrência aos mercadores italianos (sobre tudo, de
Genova e Veneza). As pessoas confiavam na Ordem, sabiam que seus
donativos e seus negócios estavam assegurados e por ele não deixaram
nunca de ter clientela. Chegaram até o ponto de fazerem empréstimos
aos reis da França e Inglaterra.
Comerciantes de relíquias
Os templários tiveram um de seus mais lucrativos negócios na
comercialização de relíquias. Os templários distribuíam o óleo do
milagre de Saidnaya, um santuário a 30 km de Damasco a cuja
Virgem se atribuía o milagre de exudar um líquido oleoso. Os
templários o engarrafavam em pequenos frascos e o distribuíam no
Ocidente. Parece também que comercializavam numerosos fragmentos
do Lignum Crucis, a Santa Cruz na qual se dizia que havia estado
crucificado Jesus Cristo e que diziam ter sido encontrada por eles.
Embora, suas operações econômicas sempre tiveram como meta
dotar a Ordem de fundos suficientes como para manter, na Terra
Santa, um exército em pé de guerra constante. E por isso o lema da
Ordem:
Non nobis, Domine, non nobis,
sed Nomini Tuo da gloriam
Não a nós, Senhor, não a nós
se não a Teu Nome de Glória.
Templários na atualidade
Cavaleiro templário talhado no tronco de uma árvore em
Priaranza del Bierzo (Leão).
Devido ao mistério com que foi rodeada a história da Ordem do
Templo, após a sua dissolução foram aparecendo autoproclamados
sucessores da mesma.
A princípios de 1981, a Santa Sé tomou o trabalho de confeccionar
uma lista de organizações que se declaravam sucessoras dos
templários e encontrou mais de quatrocentas.
Certo de que a imensa maioria delas não é se não grupos de
aproveitadores com outros fins, com práticas que bordejam o limite do
lícito, e, algumas outras, com um claro comportamento sectário (como
a famosa seita Ordem do Templo Solar).
Algumas associações desta lista, entretanto, dedicam seu trabalho
a fins altruístas (os Cavaleiros da Aliança Templária, por exemplo) ou a
fins menos práticos, porém inócuos (a Ordem dos Cavaleiros do Templo
e da Virgem Maria e sua dedicação a alquimia) ou algumas
"Irmandades ou Maestrazgos", que em definitivo não são de linhagem
templário, se não mais de projetos pessoais.
Algumas correntes maçônicas também dizem descender dos
templários, como o Rito Maçônico Templário e a Estrita Observação
Templária do Barão d'Hund, e alguns ritos maçônicos tem graus
relacionados com os templários. Na verdade, Andrew Mitchell
Ramsay, considerado o pai da maçonaria escocesa, como a
conhecemos hoje em dia, em seu "Discurso" afirmaria sem
circunlóquios que os cruzados haviam fundado a maçonaria na Terra
Santa, e que dita maçonaria não era se não a Ordem do Templo.
Assim, a famosa Capela de Rosslyn seria atribuída aos templários,
dando inicio as lendas nas quais se diz que esconderam em sua
ornamentação as chaves de seu suposto saber e do lugar de seu
tesouro.
Capela de Rosslyn - Escócia
Porém nenhuma das organizações existentes hoje em dia podem
provar sua efetiva e legal descendência da Ordem fundada por Hugo
de Payens e seus Pobres Cavaleiros de Cristo.
Para terminar, foi o imortal Dante em sua magna obra La Divina
Comédia, no «Livro do Paraíso», Capítulo XXX, versos 127-129, quem
deu a última notícia real dos Templários:
"Como al que quiere hablar y no halla acento me llevó Beatriz y dijo:
Mira de estolas blancas este gran convento"
Templários notáveis
Os nove fundadores
1. Hugo de Payens
2. Godofredo de Saint-Omer
3. Godofredo de Bisol
4. Payen de Montdidier
5. André de Montbard
6. Arcimbaldo de Saint-Amand
7. Hugo Rigaud
8. Gondemaro
9. Arnoldo
Grandes mestres da ordem
Jacques de Molay, o último grande mestre da ordem.
1. Hugo de Payens (1118-1136)
2. Robert de Craon (1136-1146)
3. Evrard des Barrès (1147-1151)
4. Bernard de Tremelay (1151-1153)
5. André de Montbard (1154-1156)
6. Bertrand de Blanchefort (1156-1169)
7. Philippe de Milly (1169-1171)
8. Eudes de Saint-Amand (1171-1179)
9. Arnaud de Torroja (1180-1184)
10. Gérard de Ridefort (1185-1189)
11. Robert de Sablé (1191-1193)
12. Gilbert Hérail (1193-1200)
13. Phillipe de Plaissis (1201-1208)
14. Guillaume de Chartres (1209-1219)
15. Pedro de Montaigú (1219-1230)
16. Armand de Périgord (1232-1244)
17. Richard de Bures (1245-1247)
18. Guillaume de Sonnac (1247-1250)
19. Renaud de Vichiers (1250-1256)
20. Thomas Bérard (1256-1273)
21. Guillaume de Beaujeu (1273-1291)
22. Thibaud Gaudin (1291-1292)
23. Jacques de Molay (1292-1314)
Templários na literatura
Na novela El Señor de Bembibre, de Enrique Gil e Carrasco,
recorre-se a história, usos e costumes dos templários.
Um dos personagens do livro O pêndulo de Foucault, de Umberto
Eco, chamado Casaubon, prepara sua tese de doutorado sobre os
templários.
Iacobus de Matilde Asensi.
A trilogia O cavaleiro templário de Jan Guillou, cujo protagonista é
Arn Magnusson.
A Irmandade do Santo Sudário de Julia Navarro.
A sombra do templário de Núria Masot.
1305: Corvos e Espadas de Mark Schindler.
O Último Templário de Edward Burman.
A salvação dos Templários de Raymond Khoury
A Catedral de César Mallorquí.
O Templário de Paul Doherty.
O fim dos templários de Andreas Beck
A Ordem do Templo de Raymond Khoury (2006)
O cavaleiro do templo de José Luis Corral (2006)
Também se fala dos templários nas novelas O código Da Vinci de
Dan Brown, O enigma sagrado e A lápide templária, do novelista
Nicholas Wilcox (pseudônimo do escritor espanhol Juan Eslava Galán).
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