Trabalho Pronto

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A indústria cultural busca no reconhecimento da massa reforço para o que divulga. Ideias que em sua maioria não partiram do povo, mas que ganham sua adesão de forma sutil, quase imperceptível. Um veículo como a televisão aberta, atualmente acessível a todas as classes sociais, leva simultaneamente a mesma informação a esses diferentes tipos de pessoas, que antes tão diferentes, acabam adquirindo a mesma identidade de consumo e até mesmo ideológica. Nesse pensar nitidamente monopolista, percebemos também um caráter excludente. Algumas pessoas o apoiam puramente por medo de não fazerem parte desse círculo, que não abre espaço para novas apreciações, à medida que promove a aparente ideia de que o sujeito é livre. “Você é livre para não pensar como eu: sua vida, seus bens, tudo você há de conservar, mas de hoje em diante você será um estrangeiro entre nós.” (TOCQUEVILLE, de A. Apud Id.Ibid. 1947, p.125) Como aponta Cristiano (2012, p.245), os dispositivos utilizados pela mídia, na realidade não produzem pensamentos, são apenas veículos transmissores de um pensamento que pertence a outras pessoas. Antes de generalizar o termo mídia, é necessário lembrar que por trás da mídia existem famílias proprietárias, funcionários, repórteres, entre outros, e que a grande falha está na produção de uma sociedade pobre, miserável, sem educação, sem leitura, sem saúde, sem perspectivas se continuar sem a formação de uma sociedade de fato. (CRISTIANO, 2012, p.245)

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trabalho de psicologia social

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A indústria cultural busca no reconhecimento da massa reforço para o que

divulga. Ideias que em sua maioria não partiram do povo, mas que ganham sua adesão

de forma sutil, quase imperceptível. Um veículo como a televisão aberta, atualmente

acessível a todas as classes sociais, leva simultaneamente a mesma informação a esses

diferentes tipos de pessoas, que antes tão diferentes, acabam adquirindo a mesma

identidade de consumo e até mesmo ideológica. Nesse pensar nitidamente monopolista,

percebemos também um caráter excludente. Algumas pessoas o apoiam puramente por

medo de não fazerem parte desse círculo, que não abre espaço para novas apreciações, à

medida que promove a aparente ideia de que o sujeito é livre. “Você é livre para não

pensar como eu: sua vida, seus bens, tudo você há de conservar, mas de hoje em diante

você será um estrangeiro entre nós.” (TOCQUEVILLE, de A. Apud Id.Ibid. 1947,

p.125)

Como aponta Cristiano (2012, p.245), os dispositivos utilizados pela mídia, na

realidade não produzem pensamentos, são apenas veículos transmissores de um

pensamento que pertence a outras pessoas.

Antes de generalizar o termo mídia, é necessário lembrar que por trás

da mídia existem famílias proprietárias, funcionários, repórteres, entre

outros, e que a grande falha está na produção de uma sociedade pobre,

miserável, sem educação, sem leitura, sem saúde, sem perspectivas se

continuar sem a formação de uma sociedade de fato. (CRISTIANO,

2012, p.245)

Atentando para essa influência e poder persuasivo dessa indústria cultural

capitalista, que tem promovido resultados surpreendentes aos que a promovem,

enriquecendo os detentores dos meios de produção através da espetacularização de seus

produtos, o governo tem se apropriado desse meio para difundir seus programas,

evidentemente utilizando-se de todos os artifícios para convencer o povo de que toda e

qualquer medida tomada será em seu benefício. “A propaganda constitui o único meio

de suscitar a adesão das massas; além disso, é mais econômica que a violência, a

corrupção e outras técnicas de governo desse gênero.” (MATTELART, Armand,

Michèle, 1999, p.37).

Há algum tempo, veículos de comunicação têm noticiado acerca da propagação

das políticas de internação compulsória no Brasil. A internação compulsória consiste em

afastar do convívio social pessoas viciadas, na maior parte moradores de rua,

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colocando-as em ambientes de recuperação. A internação se dá mediante ordem

judicial, tendo em vista que esses sujeitos não têm ninguém para responder por eles.

A proposta aparentemente soa muito benéfica, no entanto, alguns profissionais

da área social e da saúde admitem posições contrárias a essa medida, que segundo eles,

tem como única intenção uma “limpeza social”, tirando das ruas essas imagens

personificadas da miséria e involução nacional, o que seria extremamente prejudicial a

um país prestes a atrair o olhar mundial ao sediar a Copa do Mundo e as Olimpíadas.

Além do conhecido discurso de que essa medida é agressiva e viola o direito

humano de que o sujeito tem liberdade de decidir sobre o próprio corpo, existem muitas

outras questões por trás do que a mídia retrata. Os lugares para onde essas pessoas são

levadas atingem superlotação, mas mesmo assim o governo determina que “surjam”

vagas. O aumento dessa demanda é desproporcional a oferta de profissionais e

tratamento qualificados e as condições desses espaços são inapropriadas. Muitas vezes,

viciados são misturados com pessoas com transtornos mentais. Como resultado da

inviabilidade e ineficiência dessa proposta, temos que noventa por cento dos usuários

internados de forma compulsória reincidem nas drogas. Além disso, circulam, muito

discretamente, informações de que existiriam esquemas fraudulentos em torno dessa

proposta. Segundo essa nota, políticos favoráveis ao projeto de lei que respalda a

internação compulsória, estariam firmando acordos financeiros altíssimos com clínicas

terapêuticas que supostamente receberiam esses pacientes.

A internação compulsória aparece como algo que resolve

magicamente todos os problemas. Com a excessiva propaganda

governamental, corre o risco de virar uma prática corriqueira e,

portanto, banalizada. Como medida de impacto coletivo, essa política

tem se mostrado um fracasso. Os usuários são levados, isolados,

medicados e depois voltam para um espaço social conturbado, difícil e

limitador. (VERONA, 2013)

É claro que tais informações não são veiculadas na mídia e a forma como elas

chegam à sociedade é no mínimo preocupante do ponto de vista social e psicológico.

Percebe-se que sutilmente, o governo vai conquistando o apoio social para banir esses

viciados, excluindo-os e reforçando “o mito de que o usuário de drogas é perigoso,

perdido, irrecuperável ou um monstro” (VERONA, 2013)

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“Percebe-se que existe uma incompatibilidade entre o enfoque da

mídia e o consumo de drogas no Brasil, fato que pode influenciar as

crenças das pessoas sobre determinadas substâncias e as políticas

públicas sobre drogas no Brasil.” (FERNANDES, et al, 1999 e 2003,

p. 1752).

Acerca dessas questões formulamos a seguinte problematização e resolvemos

através de um pequeno recorte, pesquisar se essas supostas influências se aplicam a

nossa realidade mais próxima. Nossa pesquisa parte da seguinte indagação: De que

forma, reportagens veiculadas na televisão aberta impactam e estão relacionadas com a

formação de opinião dos sujeitos sobralenses de 20 a 30 anos sobre a internação

compulsória?

Abordando de forma aleatória esses sujeitos no centro da cidade de Sobral,

colhemos alguns dados importantes, através dos quais percebemos algumas questões.

Observamos que o conhecimento que a maioria dessas pessoas tem acerca da internação

compulsória se resume unicamente ao que é pautado pela mídia televisiva, atestando o

que havíamos suposto encontrar. No entanto, à medida que nos deparávamos com

pessoas que costumam recorrer a outros veículos de comunicação como internet ou

mídia impressa, por exemplo, percebíamos que estas detinham maior conhecimento e

até mesmo um olhar crítico sobre o assunto. Outro dado importante foi que pessoas com

grau de escolaridade do ensino médio abaixo pareciam mais vulneráveis ao que a mídia

expõe, ao passo que pessoas com ensino superior completo ou em curso, em sua

maioria, demonstravam insatisfação com as informações trazidas pela mídia, alegando

que as mesmas nunca chegam ao público tais como são, pois são produzidas de acordo

com padrões determinados, sofrendo diversas modificações antes de serem apresentadas

ao consumidor para que possam ganhar novos sentidos e relevâncias. Inferimos com

isso, que felizmente, a maior parte de nossas instituições universitárias ainda são lugares

de promoção de debates e reflexões acerca da sociedade em que vivemos, mas isso nos

induz também alguns questionamentos para os quais na verdade até já temos meias

respostas. Por que esse olhar crítico não é instigado durante toda a trajetória escolar, no

seio familiar, nas relações sociais como um todo, ultrapassando os limites do ambiente

acadêmico? Por que o que é aprendido por alguns, embora sejam uma minoria

intelectual, mas representam uma parte significativa da sociedade, não é colocado em

prática? Seria mais uma vez o poder manipulador de um governo sobre as massas?

Teme-se então que em pouco tempo até mesmo essa minoria pensante seja extinta!

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REFERÊNCIAS

CRISTIANO, M. A. S. Ações e Reflexões sobre mídia e Psicologia. Brasília, 2012.

Disponível em: http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0102-

71822012000100027&lang=pt Acesso em: 21 de Jul. 2013

FERNANDES, GUEBARA, LOURENÇO, OLIVEIRA, RONZANI, SCORALICK

Mídia e drogas: Análise documental da mídia escrita brasileira sobre o tema entre

1999 e 2003. Rio de Janeiro, 2009. Disponível em: http://www.scielo.br/scielo.php?

script=sci_arttext&pid=S1413-81232009000500016&lang=pt Acesso em: 21 de Jul.

2013

MATTELART, Armand e Michèle. História das teorias da comunicação. São Paulo.

Loyola. 2003.

TOCQUEVILLE, de A. De la Démocratie en Amérique. Paris. 1864. Vol.II.

VERONA, Humberto. A Banalização das Medidas Autoritárias. São Paulo, 2013.

Disponível em: http://site.cfp.org.br/humberto-verona-a-banalizacao-de-medidas-

autoritarias/ Acesso em: 21 de Jul. 2013