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TRABALHO, HISTÓRIA E CULTURA ALIMENTAR: o caso do quilombola de Guaíra-PR.

Edna Francisca Alves1 Roberto Leme Batista2

Resumo

O presente artigo objetiva apresentar os resultados finais de dois anos de estudos realizados durante a participação no Programa de Desenvolvimento Educacional – PDE 2010, que teve como tema Trabalho, História e Cultura Alimentar: o caso do quilombola de Guaíra-PR. O projeto foi desenvolvido com alunos de uma turma de 8ª série do Colégio Estadual de Iporã – Ensino Fundamental, Médio e Profissional. Teve como enfoque norteador as tradições quilombolas do Paraná. Sua principal contribuição consiste no oferecimento de subsídios teóricos e metodológicos que orientem a reflexão e a ação dos educandos, possibilitando informações que lhes permitam ampliar e disseminar o conhecimento sobre a história dos afros e a forma-ção das comunidades quilombolas, bem como a sua influência social e cultural na sociedade brasileira. A metodologia da pesquisa configurou-se como uma pesquisa quantitativa, centrada nos direitos garantidos aos afros descendentes e valorizando a diversidade cultural.

Palavras-chave: Cultura afra; quilombola; alimentação; tradição.

Abstract

This article presents the final results about two years of studies made during partici-pation in Educational Development Program – PDE 2010, which has with titled Work,

1 Professora aluna PDE História do Ensino Básico – Colégio Estadual de Iporã – Ensino Fundamental, Médio e

Profissional, Iporã-PR. Especialização em Metodologia do Ensino-Aprendizagem da História no Processo Educativo, pela Faculdade de Educação São Luiz – Jaboticabal-SP. Especialização em Pedagogia Escolar/ Supervisão Orientação e Administração pela FACINTER – Curitiba-PR. Integrante do Programa de Desenvolvimento Educacional do Estado do Paraná (PDE 2010). 2 Professor Orientador – Licenciatura em História pela Universidade Estadual de Maringá (1991) e Licenciatura

em Letras pela Fundação Faculdade de Filosofia Ciências e Letras de Jandaia do Sul (1988). É Mestre em Ciências Sociais pela Universidade Estadual Paulista Júlio de Mesquita Filho (2002). Doutor em Ciências Sociais pela UNESP – Campus de Marília-SP. É chefe do Departamento de História e professor assistente da Fundação Faculdade Estadual de Educação Ciências e Letras de Paranavaí/PR.

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History and Food Culture: the Quilombola’s case of Guaíra-PR. The project was de-veloped with students in 8th grade at Iporã State College Elementary School and Middle Professional. Had guiding approach to tradition of the Paraná’s Quilombolas. Its main contribution is to offer theoretical and methodological to guide the reflection and action of educators providing information to enable students to expand and dis-seminate knowledge about the Afro’s history and the formation of quilombolas com-munities, as well as social and cultural influence in Brazilian society. The research methodology was configured as a quantitative research focused on the rights guaran-teed to Afro descendants, valuing cultural diversity.

Keywords: Afro’s culture; quilombola; feed; tradition.

1 Introdução

A escolha por estudar e escrever sobre o tema Trabalho, História e Cultura

Alimentar: o caso do quilombola de Guaíra-PR foi mediada pela necessidade de

provocar o interesse dos educandos e oportunizar estudos sobre as questões da

história e cultura africana e afro-brasileira, dando ênfase aos hábitos alimentares e

conhecendo a história das comunidades remanescentes, seus costumes, modos de

vida, trabalho e tradição alimentar. Pretendeu, também, dar a conhecer os direitos

dados ao “remanescente”, contidos na Constituição brasileira de 1988, art. 68, que

“assegura o reconhecimento da propriedade definitiva às comunidades quilombolas”

(BRASIL, 2007a).

Antes de tratar da questão específica da alimentação, foram desenvolvidos

estudos sobre a dimensão concreta da vida dessas comunidades. Para isto, discutiu-

se a respeito da existência dos quilombos no Brasil, formados a partir do século XVI,

que demonstraram resistência sociopolítica e cultural, seguidas das questões que en-

volvem a titulação de terras das comunidades remanescentes de quilombos, de modo

a entender que a manutenção dos seus territórios é condição indispensável para a

efetivação de seus direitos, envolvendo a titulação de terras aos remanescentes. Esta

conquista foi um capítulo muito importante para os quilombolas, que culminou com o

direito à propriedade, graças à promulgação da Constituição da República Federativa

do Brasil em 5 de outubro de 1988, os quais puderam ser reconhecidos e, ainda, te-

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rem resguardados a posse e o título respectivo das terras que ocupam (BRASIL,

2007a).

Nesta luta pela preservação da Cultura Afro-Brasileira, observou-se a impor-

tância da Educação como uma forma de garantir a preservação da memória de um

povo, bem como a conservação de seu patrimônio cultural, hoje presente em vários

aspectos da cultura brasileira. Deste modo, abordou-se, nesta pesquisa, uma pers-

pectiva de educação escolar com foco na diversidade e na valorização da identidade

étnica como forma de fortalecimento da cultura e da causa quilombola.

Os quilombos que permanecem em grupos são os que desenvolveram resis-

tência na manutenção e reprodução de seus modos de vida, hábitos e costumes

alimentares. Trata-se, portanto, de uma questão persistente, tendo, na atualidade,

uma importante dimensão na luta dos afros descendentes para garantirem seus di-

reitos. Falar dos quilombos e dos quilombolas no cenário político atual é, portanto,

falar de uma luta política e, consequentemente, promover uma reflexão científica

deste processo de construção e garantia dos direitos. Os estudos e as pesquisas

também ajudam a definir melhor quem são os quilombolas, como vivem as suas or-

ganizações, suas reivindicações e conquistas.

O conceito de quilombo surgiu no Brasil colonial e tem atravessado a história,

designando os territórios onde se refugiavam os negros africanos (ARAUJO, 2008).

Este estudo mostra que as comunidades de quilombo se formaram por diversos pro-

cessos, entre eles as fugas com ocupação de terras livres e, geralmente, isoladas.

Mas muitos outros têm como origem heranças, doações, recebimentos de terras

como pagamento de serviços prestados ao Estado ou simples permanência nas ter-

ras que ocupavam e cultivavam no interior de grandes propriedades. Com base nas

pesquisas realizadas, foi possível definir que a maior característica do quilombo ain-

da é a resistência ao sistema escravocrata. A legislação reconhece, pela condição

de quilombolas organizados em grupos, não só suas conquistas como seus direitos,

costumes e tradições. Sendo assim, cabe aos descendentes dos habitantes do qui-

lombo a manutenção de sua organização e a exigência do cumprimento da lei, o seu

direito sobre a terra.

Diante do exposto, identificou-se, na luta pela preservação da Cultura Afro-

Brasileira, a importância da Educação, como uma forma de garantir a preservação

da memória de um povo diretamente relacionado à conservação de seu patrimônio

cultural. Um exemplo é a culinária, costume alimentar que os negros traziam em sua

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memória sobre os usos e os gostos de sua terra e que hoje é marcante em nosso

país e espera-se que ela seja transmitida para as gerações presentes e futuras.

Outro ponto a assinalar foi o estudo sobre Trabalho, história e cultura alimen-

tar: o caso do quilombola de Guaíra-PR, disponibilizado para os professores da rede

pública do Paraná por meio do site http://e-escola.pr.gov.br/ pelo curso denominado

Grupo de Trabalho em Rede (GTR). Esta divulgação constituiu-se numa atividade do

PDE e caracteriza-se pela interação a distância entre o Professor – PDE e os de-

mais professores da Rede Pública Estadual, a fim de ampliar o processo de Forma-

ção Continuada e contribuir efetivamente com a qualificação do ensino público, com

o objetivo de levar ao conhecimento de muitos professores temas atuais e fascinan-

tes como este.

Ficou evidenciado que trabalhar criticamente a história da cultura afro-

brasileira é fundamental para desenvolver nos alunos uma aprendizagem significati-

va com objetivos claros e uma consciência crítica para resgatar o sentido da história.

2 Fundamentação Teórica/ Revisão Bibliográfica

As Diretrizes Curriculares da Educação Básica do Estado do Paraná, orienta-

das pela promulgação da Lei 10.639/2003, que alterou a Lei de Diretrizes e Bases

da Educação 9394/1996, estabelecendo a obrigatoriedade do ensino de História e

Cultura Afro-Brasileira (BRASIL, 2003), têm como objetivos defender o direito dos

afros descendentes, combater a desigualdade social que atingem particularmente o

negro. Nesta perspectiva, essas Diretrizes priorizam o conhecimento sobre a forma-

ção de atitudes, postura, valores, bem como costumes alimentares trazidos pelos

negros de sua cultura de origem. Defendem, também, uma educação aos alunos de

forma que estes sintam orgulho de fazer parte de uma sociedade afra descendente.

E isso requer mudança nas atitudes e nos discursos, gestos, posturas, modos de

tratar as pessoas negras. A escola, por ser uma instituição social, é responsável pe-

la educação das crianças, adolescentes e jovens que nela se matriculam (PARANÁ,

2008).

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As Diretrizes Curriculares da Educação Básica (PARANÁ, 2008, p. 57) orien-

tam que:

A aprendizagem histórica se dá quando os professores e alunos in-vestigam as idéias históricas. Essas podem ser tanto idéias substan-tivas da História, tais como os conteúdos históricos (Revolução Fran-cesa, escravidão na América portuguesa, democracia, etc.) como as categorias estruturais ligadas à epistemologia da História (temporali-dade, explicações, evidência, empatia, significâncias narrativas histó-

ricas, etc.).

Portanto, faz-se necessário que os professores explorem o conhecimento so-

bre a história da cultura afro brasileira, de forma que, em suas práticas pedagógicas

no processo-ensino aprendizagem, desenvolvam um trabalho que oriente os alunos

quanto aos procedimentos e atitudes voltados no combate ao racismo e à discrimi-

nação das relações étnico/raciais com o objetivo de oferecer aos afros descendentes

conhecimentos e segurança para se orgulharem da sua origem africana. O racismo,

segundo o Artigo 5º da Constituição Brasileira, é crime inafiançável e isso se aplica a

todos os cidadãos e instituições, inclusive à escola (BRASIL, 2007a).

Combater o racismo e a desigualdade social e racial não é tarefa exclusiva da

escola, porém a discriminação, o racismo e a desigualdade social perpassam pela

escola. Para que esta instituição de ensino desempenhe um papel efetivo de demo-

cratização da produção e divulgação do conhecimento, é imprescindível que o edu-

cador obtenha um conhecimento científico que possa proporcionar este conhecimen-

to aos seus alunos. Portanto, não se discute a importância de trabalhar a História da

Cultura Afro-Brasileira, mas é preciso que se desenvolva no aluno uma aprendiza-

gem significativa, com objetivos claros e uma consciência crítica para resgatar o sen-

tido da história e, ao mesmo tempo, tomar conhecimento do processo que envolve a

construção da identidade dos afros descendentes no Brasil. Processo esse marcado

por uma sociedade que, para discriminar esse povo, não tem valorizado a sua cultu-

ra.

Neste processo complexo da história dos afros descendentes no Brasil, bus-

cou-se desenvolver o conhecimento dos alunos por meio de estudos, visitas e pes-

quisas sobre a tradição e a cultura alimentar das comunidades quilombolas rema-

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nescentes no município de Guaíra no Estado do Paraná, destacando-se o processo

de valorização dos saberes e sua cultura.

Ficou evidenciada uma marcante identidade alimentar dos quilombolas do Es-

tado do Paraná, bem como da comunidade quilombola da cidade de Guaíra-PR. Es-

ta comunidade chegou a ter 80 pessoas, hoje, esse número foi reduzido pela meta-

de e luta para preservar suas raízes e suas tradições. Conforme descreve3 Rodri-

gues:

Apesar de algumas dificuldades, que, muitas vezes, os distanciam de alguns costumes passados de gerações anteriores, a aldeia ainda conserva antigas crenças e hábitos. O candomblé, as festas juninas, as rodas e ladainhas de capoeira, assim como as danças, os remé-dios caseiros e as produções artesanais como a farinha de mandioca e de cachaça, que fazem parte desta rica cultura remanescente do povo africano

E para preservar essas tradições, essa comunidade ainda encontra

dificuldades para tirar o sustento da terra. As tecnologias aplicadas pelos produtores

rurais tiraram muitos empregos, e muitos dos quilombos precisaram sair para

trabalhar em outros estados. Aqueles que ainda continuam na comunidade

desenvolvem atividades num modelo primitivo, mas em trabalho de cooperativa.

Essas famílias cultivam uma boa diversidade de semente, sem auxílio de máquinas,

apenas com as forças dos braços. O cultivo principal é feijão, mandioca e hortifrutis.

Ameaçados pelos avanços dos interesses do capital na cidade e no campo, essas

comunidades sofrem com processos macroeconômicos do interesse do agronegócio

e de formas dominantes de produção cultural que ameaçam a continuidade de suas

práticas centenárias e da preservação e valorização dos seus grupos étnicos (relato

oral, do Senhor Adir Rodrigues dos Santos, do presidente da Comunidade

Quilombola Manoel Ciriaco dos Santos Guaíra-PR, em 03/05/2011).

Para preservar alguns costumes, destacamos aspectos da culinária dos

quilombolas, especificamente no que se refere a hábitos alimentares. A alimentação

3 SANTOS, Adir Rodrigues dos. Entrevista realizada na Comunidade Quilombola Manoel Ciriaco dos Santos

Guaíra-PR, em 03/05/2011.

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constitui-se numa necessidade primordial para o desenvolvimento do homem desde

o nascimento, por ser dela que retiramos os nutrientes necessários para o

funcionamento do organismo. Os alimentos estão presentes nas carnes, leites, nos

cereais e em uma imensa lista de vegetais que são apropriados pelo organismo

através da química orgânica. A conquista do alimento é uma necessidade primária

para o homem. Sendo o trabalho o meio pelo qual os homens apropriam-se dos

alimentos, isto se constitui numa questão ontológica, uma vez que os homens só

fazem história porque satisfazem suas necessidades primárias, entre as quais a

alimentação.

Para compreender as origens dos nossos hábitos alimentares, é preciso re-

correr ao passado, aos costumes indígenas e à colonização, às influências da es-

cravidão, às transformações da sociedade ao longo do processo de formação até

nossos dias. Em um longo e conflituoso processo histórico, os povos africanos pou-

co a pouco foram absorvendo os costumes do homem branco, assim como estes

foram aderindo a outros costumes da gastronomia africana (ARAÚJO, 2008). Os

africanos contribuíram com diversas espécies de alimentos, que foram incorporados

com surpreendente eficiência na culinária brasileira. Vieram da África, entre outros

alimentos, o coco, a banana, o café, a pimenta malagueta e o azeite de dendê. O

azeite de dendê acompanhou o negro como o arroz ao asiático e o doce ao árabe.

Grande parte dos pratos doces brasileiros teve influência da culinária africana. Con-

forme escreve Araújo (2008, p. 52):

[...] um saber rico em potencialidade e prática, mas é ao mesmo tempo um saber que, para ser resgatado, necessita ser vivenciado, compartilhado, e nestes atos de fazer se lado a lado, face a face, é que se propicia a confiança necessária para a visita à ancestralidade. É esse o processo que tenho vivido com os quilombolas, processo de valorização e construção do saberes, que nos revelam tais saberes. [...] que de muita boa vontade e desprendimento nos legaram toda a riqueza gastronômica dos afros descendentes do Paraná.

A culinária brasileira deriva em grande parte da cozinha africana, mesclada

com elementos da cozinha indígena e portuguesa. A feijoada, prato nacional do Bra-

sil, é basicamente a mistura de feijões pretos, carnes de porco e farofa. Começaram

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com o prato português que os escravos negros modificaram, os donos de escravos

davam as partes pobres do porco aos escravos, que as misturavam com feijão e fa-

rinha. Explica Socorro Araújo (2008, p. 122):

Prato típico brasileiro, em suas origens, construído das partes do porco dispensadas pelos senhores de escravos e destinado à ali-mentação dos negros, que juntavam orelhas, rabo, pés de porco com feijão e legumes. Após a escravidão, a feijoada deixou de ser comida de escravo e subiu às mesas das casas-grandes, acrescida de carne seca, carnes nobres, lingüiça, costela de porco salgada e defumada. Hoje em dia, a feijoada cantada, versificada, servida nos mais sofisti-cados restaurantes nacionais, festas populares, aniversários e even-tos especiais, é servida tendo como acompanhamento o arroz, a couve, a farofa e a laranja.

Essa alimentação, apesar de heranças da cultura alimentar dos negros, so-

freu modificações com as tecnologias utilizadas na manutenção desses alimentos,

os quais, com estas modificações entre elas químicas, causam até mesmo malefí-

cios ao organismo. Portanto, pretende-se mostrar que a alimentação, que tem ori-

gem nos hábitos alimentares, está entrelaçada com as tradições, conhecimentos,

regras e tecnologias dos quilombolas.

3 Estratégias Metodológicas

O Presente Projeto de Intervenção Pedagógica na Escola faz parte do Pro-

grama de Desenvolvimento Educacional (PDE), promovido pela Secretaria de Edu-

cação do Estado do Paraná SEED/PR, Turma 2010/2012. O referido projeto foi im-

plementado com os alunos da 8ª série “A” do Colégio Estadual de Iporã–PR.

Inicialmente, as atividades foram realizadas da seguinte forma: estudo e pes-

quisas sobre a realidade do trabalho, os costumes e tradições culturais dos rema-

nescentes quilombolas de Guaíra–PR. Após pesquisas, visitas à comunidade, estu-

do sobre o tema, elaborou-se uma Cartilha Educativa (ALVES, 2011). As atividades

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envolvendo os alunos foram as seguintes: 1) Apresentação do Projeto de Interven-

ção Pedagógica e entrega da Cartilha Educativa aos alunos; 2) Fundamentação teó-

rica; 3)Visita de estudo à Comunidade Manoel Ciriaco dos Santos em Guaíra–PR; 4)

Confecção de um caderno de receitas; 5) Comemoração do Dia da Consciência Ne-

gra; 6) Tradição e cultura alimentar.

A Cartilha “Trabalho, história e cultura alimentar: o caso do quilombola de

Guaíra–PR” foi utilizado como recurso didático, teve o intuito de provocar o interesse

dos educandos e oportunizar estudo sobre as questões da história e cultura africana

e afro-brasileira, dando ênfase aos hábitos alimentares e à história das comunidades

remanescentes, seus costumes, modos de vida, trabalho e tradição alimentar. Estu-

dou-se, também, sobre os direitos dados ao “remanescente”, contidos na Constitui-

ção Brasileira de 1988, cujo art.68 “assegura o reconhecimento da propriedade defi-

nitiva às comunidades quilombolas” (BRASIL, 2007a).

Estas atividades tiveram como enfoque norteador as tradições quilombolas

dos remanescentes do município de Guaíra do Estado Paraná. A principal contribui-

ção consistiu em oferecer subsídios teóricos e metodológicos para orientar a refle-

xão e a ação dos educandos, de modo a ampliar e disseminar o conhecimento sobre

a história dos afros e a formação das comunidades quilombolas, bem como a sua

influência social e cultural na sociedade brasileira. Ao conhecer o modo de vida e os

costumes, transforma-se a história em memória viva e é dada maior significação ao

conhecimento.

Os textos contidos na produção didática pedagógica que versou sobre a His-

tória e cultura alimentar: o caso do quilombola de Guaíra-PR foram os seguintes

Conceitos Histórico-Sociais das Comunidades Quilombolas no Brasil (BRASIL,

2007b); As Políticas Públicas e a Regulamentação das Comunidades Quilombolas

Brasileira (BRASIL, 2007b) ; As Comunidades Quilombolas como Patrimônio Cultural

e Imaterial do País (LARA, 2010); População Negra e Comunidades Quilombolas no

Estado do Paraná (GOMES, Jr., 2008); O Município de Guaíra no seu Contexto His-

tórico (Grupo de Trabalho Clóvis Moura, 2005 - 2010); Aula-Visita de estudo à Co-

munidade Manoel Ciriaco dos Santos (BARCA, 2004); A Influência Gastronômica

Africana no Brasil e Oficina Prática (ARAÚJO, 2008).

Os procedimentos metodológicos para a aplicação dos conteúdos contidos

neste material didático abrangeram as seguintes atividades: leituras indicadas, inter-

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pretação, questionamentos, caça-palavras, palavras cruzadas, história em quadri-

nhos, exibição de vídeo, uso de imagens, oficinas e visita de estudo.

Elaborou-se o material didático por meio de uma metodologia participativa e

com importantes instrumentos, como fontes escritas, iconográficas, cartográficas,

fílmicas e receitas alimentares, o que contribuiu para o conhecimento da História,

dos costumes e tradições, estimulando no aluno o desenvolvimento do raciocínio, da

criatividade e do pensamento crítico. Deste modo, também contribuiu para o conhe-

cimento dos direito humanos dos quilombolas.

4 Discussão e Resultados

Primeira etapa – Apresentação do Projeto de Intervenção Pedagógica e Entre-

ga da Cartilha Educativa aos alunos.

O Projeto de Intervenção Pedagógica foi inicialmente apresentado à direção,

equipe pedagógica, professores e funcionários. Posteriormente, aos alunos da 8ª

Série. Todos tomaram conhecimento do mesmo e foi feita a entrega da Cartilha

Educativa – História, trabalho e cultura alimentar: o caso quilombola de Guaíra-PR,

que foi elaborada pela Professora PDE e confeccionada uma para cada aluno. Neste

material, objetivou-se dar a conhecer as leis e a história dos quilombolas, suas lutas

pela preservação da Cultura Afro-Brasileira, ressaltando a importância da Educação,

como uma forma de garantir a preservação da memória de um povo, relacionada à

conservação de seu patrimônio cultural, encontrado, na atualidade, em vários aspec-

tos da cultura brasileira. Um exemplo é a culinária, costume alimentar que os negros

traziam em sua memória e que é marcante no país e, para preservá-la, faz-se ne-

cessário transmitir às gerações presentes e futuras.

E para compreender os conceitos sobre a formação de atitudes, postura, valo-

res, bem como costumes alimentares trazidos pelos negros de sua cultura de ori-

gem, foi necessário estudar o texto que tratava dos aspectos históricos da formação

dos remanescentes. As leituras iluminaram o entendimento de que a história da Cul-

tura Afro no Brasil tem se modificado por meio da educação e lutas pela preservação

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e costumes do povo afro, concordando-se com o que escreve Libâneo (2007, p. 96):

“A educação é uma realidade que se modifica enquanto fenômeno social e histórico

em face da dinâmica das relações sociais, econômicas, políticas e culturais”. Utiliza-

ram-se, ainda, os mais variados recursos didáticos, como imagens relacionadas com

o tema, extraídas do Portal dia a dia educação (2011a, 2011b) – vídeos sobre a

Comunidade Quilombolas de João Surá (2011), o que levou os alunos interagirem e

debaterem de forma crítica, alcançando, assim, o objetivo previsto no decorrer do

trabalho.

Segunda etapa – Fundamentação Teórica

Inicialmente, foi realizado um levantamento sobre o conhecimento prévio que

os alunos já possuíam em relação ao tema “Estudo de questões da história e cultura

africana e afro-brasileira”, dando ênfase aos hábitos alimentares dos quilombolas.

Em seguida, aconteceram estudos de textos referentes aos Conceitos Históri-

co-Social das Comunidades Quilombola no Brasil; Políticas Públicas e a Regulamen-

tação das Comunidades Quilombolas Brasileiras; As Comunidades Quilombolas co-

mo Patrimônio Cultural e Imaterial do País; População Negra e Comunidade Qui-

lombolas no Estado do Paraná; (produção de cartazes) com a proposta de trabalhar

com foco na diversidade e na valorização da identidade étnica como forma de forta-

lecimento da cultura africana e afro-brasileira (CARTILHA EDUCATIVA, 2011)

Foram usados diversos materiais e exibido o vídeo Dos grilhões ao quilombo

(TV ESCOLA, 2011), que teve como objetivo apresentar cenas e fatos que aconte-

ceram no passado com a sociedade negra, bem como a influência da cultura negra

no Brasil, costumes dos negros africanos que foram incorporados pelos brancos e a

formação de quilombos, descrevendo, assim, o sistema escravista brasileiro; e o ví-

deo A Comunidade Quilombolas de João Surá (2011) que teve como objetivo apre-

sentar as 90 Comunidades negras que vivem no Estado do Paraná, dentre as quais

36 já se encontram regularizadas com titulação de terras, sendo caracterizadas co-

mo Comunidades Quilombolas. A Comunidade de João Surá se encontra no municí-

pio de Adrianópolis e está localizada à beira do Rio Pardo no Vale do Ribeira, divisa

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entre os estados de São Paulo e Paraná, primeira Comunidade Quilombola a entrar

em processo de reconhecimento de terras no Paraná.

Figura 2 - Mapa – População Negra e Comunidade Quilombolas no Estado do Paraná

Fonte: ITCG4 (2010)

E, para compreender as questões que envolviam a titulação de terras das

comunidades remanescentes de quilombo na manutenção dos seus territórios e na

efetivação de direitos fundamentais, foi necessário estudar o direito à propriedade,

promulgado na Constituição da República Federativa do Brasil, aprovada em 5 de

outubro de 1988 (BRASIL, 2007a).

Posteriormente, para aprofundar esta questão foi importante questionar, ler,

refletir e avaliar o que consiste a sua volta e, a partir disso, levantaram-se as pers-

pectivas em relação à cultura africana e afro-brasileira, bem como à culinária. Assim,

foi possível verificar, por meio de debates e das respostas, que muitos sabem sobre

a culinária brasileira, que deriva em grande parte da cozinha africana, mesclada com

elementos da cozinha indígena e portuguesa e que se diversificou com a chegada

de outros povos que para cá emigraram a partir do século XIX.

4 - Instituto de Terras, Cartografia e Geociências – ITCG.

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Como recursos didáticos, foram apresentadas e discutidas imagens relacio-

nadas com o tema – vídeos, pesquisas no laboratório de informática, Mapas – Mun-

do, Brasil, Paraná e do Município de Guaíra-PR –, caça-palavras, história em qua-

drinhos. Nesta oficina, os alunos puderam aprofundar os conhecimentos, interagindo

e debatendo com os colegas sobre os temas apresentados, por meio de relatos, ob-

servou-se que os alunos alcançaram o objetivo proposto durante as aulas.

Terceira etapa – Visita de Estudo à Comunidade Manoel Ciriaco dos Santos em

Guaíra-PR.

Mapa – Localização Geográfica do Município de Guaíra-PR.

Figura 3 - Mapa da localização geográfica do município de Guaíra-PR

Fonte: Organizado por Jaime Luiz Lopes Pereira em 2012.

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Esta etapa envolveu uma preparação prévia, inicialmente, contatou-se com o

representante da Comunidade, Adir Rodrigues dos Santos, agendando uma visita e

contou-se também com uma parceria da Prefeitura Municipal de Iporã no transporte

dos alunos até a comunidade, e foi realizada uma reunião com os pais dos alunos

para obter autorização deles e preparar a viagem.

Ao chegarem à Comunidade Quilombola Manoel Ciriaco dos Santos da cida-

de de Guaíra-PR, os alunos foram muito bem recepcionados pelo representante da

Comunidade. O mesmo apresentou-se aos alunos, assim como cada membro da

comunidade. Houve vários questionamentos por parte dos alunos, como: organiza-

ção da comunidade, trabalho, costumes, modo de vida, cultura agrícola e tradições

alimentares, composição de gênero, em que os alunos obtiveram todas as respos-

tas. São palavras do Senhor Adir Rodrigues dos Santos:

A Comunidade Quilombola Manoel Ciriaco dos Santos foi reconheci-da em 2007 pela Fundação Zumbi dos Palmares. Essa comunidade de afro descendente saiu de Santo Antônio do Itambé do Serro (norte de Minas Gerais) foi para São Paulo, na cidade de Caiabú, no ano de 1956, em busca de liberdade e para fugir do sofrimento, depois vie-ram para o Paraná em 1964 e instalou-se no município de Guaíra-PR; na localidade de Maracaju dos Gaúchos. Manoel Ciriaco dos Santos veio com a família composta por doze filhos, mais de quaren-ta netos e vinte bisnetos, trabalhou nas lavouras de cana de açúcar e no garimpo e na lavoura de café. Com este trabalho, comprou uma pequena propriedade de terras férteis para o desenvolvimento da agricultura. Essa comunidade abriga 13 famílias com um total de70 pessoas num sítio de oito alqueires e meio. Essa comunidade ficou esquecida por mais de 40 anos pelos moradores e pela sociedade, hoje a comunidade tornou-se um ponto de estudo da cidade em bus-ca de conhecimento sobre a cultura de afro descendente.

Em 2007, o grupo foi reconhecido como remanescente de quilombo. Passou a

se denominar Comunidade Quilombola Manoel Ciriaco dos Santos em homenagem

ao senhor Manoel, “o patriarca do grupo”. A comunidade luta para resgatar e preser-

var suas tradições, mas enfrenta algumas dificuldades, o que muitas vezes os dis-

tanciam dos costumes passados de geração a geração. Continua o senhor Adir:

Apesar das dificuldades a comunidade ainda luta para preservar a sua cultura remanescente do povo africano, com seus hábitos ali-

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mentares: polenta com frango, canjica, bolo de fubá, tapioca, batata doce, mandioca, inhame, angu e cará; na religião: candomblé, e um-banda, as festas juninas, a capoeiras, danças, remédios caseiros e benzimentos. A atividade desenvolvida é agricultura familiar onde tem contrato com a Companhia Nacional de Abastecimento (CO-NAB) e com Programa de Aquisição de Alimentos (PAA) onde parte do que produz e entregue na comunidade indígena de Guaíra-PR. A comunidade utiliza de tecnologia para se comunicar com outras co-munidades quilombolas por meio de correio eletrônico e celulares. No dia 11/05/2007, a comunidade quilombola recebeu 230 livros do programa Arca das Letras para montar a biblioteca, os livros são de literatura e didáticos. Em abril de 2008, foi montado o Telecentro Ru-ral que significa portas de acesso gratuito à internet. São 06 compu-tadores interligados em rede por meio do programa Gesac (Governo eletrônico – Serviço de atendimento ao cidadão), do ministério das comunicações (unidade de inclusão digital ou telecentro). O progra-ma é avaliado em 70 mil reais, em parceria: ministério das telecomu-nicações, Banco do Brasil, Eletrosul, Eletrobrás, governo do estado e prefeitura municipal.

Posteriormente, visitaram a horta, a sala de informática, a sala de aula e a bi-

blioteca, sendo possível, ainda, conhecer e vivenciar todo trabalho teórico feito em

classe. Os membros da Comunidade fizeram apresentação de músicas com acom-

panhamento de instrumentos, como tambor, pandeiro, etc.

Figura 5 - Avanços tecnológicos na agricultura e na educação

na Comunidade Quilombola Manoel Ciriaco dos Santos de Guaíra-PR Fonte: Organizado pela autora do texto.

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Finalmente, foi realizada uma confraternização com alimentos típicos da co-

munidade quilombola. Estes alimentos foram levados pelos alunos, podendo perce-

ber em cada membro da comunidade a satisfação em nos receber. Os alunos pude-

ram aprofundar seus conhecimentos e constatar as condições de vida da comunida-

de. Para os alunos, foi uma experiência muito gratificante, visto que puderam cons-

tatar a realidade em que vive a comunidade, entender e valorizar a identidade étnica

dos afrodescendentes que ainda lutam pelos seus direitos.

Quarta etapa – Confecção de um Caderno de Receitas.

Nesta etapa, foram pesquisadas receitas para organizá-las em um caderno de

receitas. Sabedores de que a alimentação constitui-se em uma necessidade primor-

dial para o desenvolvimento do homem, já que é dela que o organismo retira os nu-

trientes necessários para seu funcionamento e sobrevivência do homem, este ca-

derno teve como objetivo apresentar a gastronomia originária dos povos africanos

que foi incorporada à culinária brasileira e é muito apreciada aqui, com o intuito de

levar ao conhecimento dos alunos alguns pratos típicos dos afros. Os alimentos es-

tão presentes nas carnes, leites, nos cereais e numa imensa lista de vegetais que

são apropriadas pelo organismo por meio da química orgânica. Para compreender

as origens dos nossos hábitos alimentares, é preciso recorrer ao passado, os povos

africanos contribuíram com diversas espécies de alimentos que têm surpreendente

eficiência na culinária brasileira e cuja influência provém da culinária africana.

Para o desenvolvimento desta oficina, os alunos realizaram uma pesquisa no

laboratório de informática e entrevistaram seus vizinhos e familiares sobre os hábitos

alimentares e receitas dos afrodescendentes. Os alunos selecionaram algumas re-

ceitas para confecção do caderno, como, por exemplo, o bolo estica, amarra marido,

vatapá, farofa, bolo de fubá, canjica, entre outros. A realização desta oficina infor-

mou aos alunos que muitos alimentos que se saboreiam são de origem africana e

que eles souberam criar pratos muito originais e saborosos, dando a eles nomes

muito graciosos.

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Quinta etapa – Comemoração do Dia da Consciência Negra

Após estudarem o tema Trabalho, história e cultura alimentar: o caso do qui-

lombola de Guaíra-PR, a atividade de preparação do Dia da Consciência Negra teve

a participação de toda a escola, apoio da equipe pedagógica e do diretor. As ativida-

des relacionadas a uma programação especial em alusão ao Dia da Consciência

Negra, comemorado no dia 18 de novembro de 2011, incluiu oficina de penteado

afro, apresentação de grupo de capoeira, culinária, desfile de moda e a presença da

Comunidade Quilombola Manoel Ciriaco, além de palestra sobre a cultura negra na

sociedade brasileira. Ao concluir, os alunos foram informados sobre a Lei Federal nº

10.639, de 9 de janeiro de 2003, que incluiu o dia 20 de novembro no calendário ofi-

cial como o Dia Nacional da Consciência Negra, e tornou obrigatório o ensino sobre

História e Cultura Afro-Brasileira nas escolas (BRASIL, 2003).

Na apresentação das atividades, o mais importante, nessa data, foi relembrar

a importância dos negros na formação da sociedade brasileira e sua influência nas

diversas formas de manifestações culturais nacionais. É uma data para a reflexão de

todos brasileiros. Todas as atividades levaram a uma reflexão sobre o período da

escravidão, das lutas, dos sofrimentos e das inúmeras injustiças contra os escravos.

Possibilitou ainda a compreensão de que foi à custa de muito sofrimento nas senza-

las, nos campos e nas cidades que os negros resistiram por meio de diversas formas

de revoltas e de fugas, que geraram a formação de quilombos em várias partes do

país. Assim, foi criado o Quilombo dos Palmares e o seu sonho de liberdade, que

teve como principal líder Zumbi, que morreu em 1695 (MOURA, 2011). “Nosso obje-

tivo é ensinar o educando e a comunidade sobre a importância dessa data e valori-

zar a cultura afro descendente”, disse uma Professora.

A visita da Comunidade Quilombola Manoel Ciriaco ao Colégio Estadual de

Iporã fez parte do fechamento da implementação do Projeto no Colégio. Isto fez a

comunidade escolar refletir que é impossível deixar de lado estes exemplos vivos da

história e cultura afro-brasileira. A Comunidade Quilombola Manoel Ciriaco, situada

em Maracajú dos Gaúchos no município de Guaíra-PR, realizou apresentações de

capoeira e samba, e deu mais sentido a todos os trabalhos realizados sobre cultura

afro-brasileira.

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Figura 6 - Grupo de capoeira da Comunidade Quilombola Manoel Ciriaco dos Santos de Guaíra

em uma apresentação no Colégio Estadual de Iporã. Fonte: Organizado pela autora.

Tivemos a participação do grupo de capoeira Chora Menino da cidade Iporã-

PR. Durante a apresentação, foram tocadas músicas que utilizavam instrumentos

como berimbau, pandeiro, caxixie, atabaque, sendo os mesmos apresentados aos

alunos. Na fala do grupo, foi enfatizada a importância do respeito à diversidade cul-

tural, da preservação da cultura afro brasileira e da prática de esportes. Alguns alu-

nos e professores foram convidados a entrar na roda de capoeira e experimentá-la

na prática.

A realização da oficina de penteado afro teve como objetivo promover a auto-

estima do afrodescendente, a aceitação do próprio cabelo crespo e o conhecimento

da estética como forma de afirmação do negro, seu poder, a autodeterminação e

ações afirmativas com mulheres negras das periferias e quilombolas, além do resga-

te da beleza intrínseca do negro. Esta atividade demonstrou ao educando as diver-

sas técnicas de trançar o cabelo, bem como formatos do rosto e significados de mo-

delos. Esta atividade foi desenvolvida pela própria comunidade escolar que, além da

aprendizagem, promoveu uma valorização da cultura afro brasileira.

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Figura 8 - Oficina desfile de moda da cultura afro

Fonte: Organizado pela autora

Durante as atividades apresentadas não podia faltar o cardápio da comemo-

ração do Dia da Consciência Negra, que foi a feijoada, servida a todos os alunos do

colégio nos três turnos. Nesta oficina, os alunos relataram que o projeto trouxe o re-

sultado esperado, ou seja, facilitou o processo de ensino e de aprendizagem, tendo

em vista que, além dos textos estudados, houve a parte prática, que proporcionou

aos educandos autonomia para produzir o seu próprio conhecimento, tornando-o

sujeito de sua aprendizagem, motivando o gosto pela pesquisa.

Sexta etapa – Tradição e Cultura Alimentar

A oficina de culinária desenvolvida com os alunos foi uma forma de transmitir

a tradição das comidas herdadas dos nossos antepassados e de transmissão de

hábitos alimentares, que ajudam a preservar a culinária afro-brasileira como patri-

mônio cultural, contribuindo como fonte de geração de renda para as comunidades.

Ao final, houve uma exposição dos pratos típicos da cultura afro, seguida de degus-

tação pelos alunos.

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Figura 11 - Oficina exposição com pratos típicos da cultura Afro

Fonte: Organizado pela autora.

Considerações Finais

O estudo sobre História e Cultura Alimentar: o caso do quilombola de Guaíra-

PR oportunizou aos alunos o desenvolvimento de atividades como leituras e refle-

xões, esclarecimento de dúvidas, defesa de suas ideias, elaboração de sínteses,

debates, visitas a comunidades quilombolas, estudando sobre os hábitos alimenta-

res e conhecendo a história das comunidades remanescentes, seus costumes, mo-

dos de vida, trabalho e tradição alimentar. Tomou-se conhecimento também dos di-

reitos dados ao “remanescente”, contidos na Constituição Brasileira de 1988, em

que seu art. 68 “assegura o reconhecimento da propriedade definitiva às comunida-

des quilombolas” (BRASIL, 2007a), bem como a contribuição histórica dos afros

descendentes. Além do estudo da África e dos africanos, foram destacados as lutas

dos negros no Brasil, a cultura negra brasileira, o papel do negro nas áreas social,

econômica e política, relatado pela História do Brasil.

A preocupação em torno desta temática constitui-se como uma questão de

fundamental importância para o fortalecimento de identidades étnicas. A inclusão

desta temática na Educação é uma forma de garantir a preservação da memória de

um povo, bem como à conservação de seu patrimônio cultural, encontrado em vários

aspectos da cultura brasileira na atualidade. Deste modo, abordou-se, nesta pesqui-

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sa, uma perspectiva de educação escolar com foco na diversidade e na valorização

da identidade étnica, entendida como forma de fortalecimento da cultura e da causa

quilombola.

Observou-se que, para os afros descendentes terem seus diretos garantidos

e exercidos como base ética, faz-se necessário ampliar o conhecimento sobre os

seus diretos estabelecidos em lei, dando ênfase à sua cultura e conhecendo a histó-

ria das comunidades remanescentes, seus costumes, modos de vida, trabalho e tra-

dição alimentar e, sobretudo, seus direitos instituídos por legislações amplas, como

a Constituição do Brasil, e específicas, como as que se inserem no espaço educaci-

onal escolar.

Deste modo, abordou-se, nesta pesquisa, uma perspectiva de educação es-

colar com foco na diversidade e na valorização da identidade étnica como forma de

fortalecimento da cultura e da causa quilombola.

Referências

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