TRABALHO E JUVENTUDES TRANS: BREVE RETRATO DO … · ARTE DE UMA DÉCADA (2006-2016) Silvana...

13
1 Seminário Internacional Fazendo Gênero 11 & 13 th Women’s Worlds Congress (Anais Eletrônicos), Florianópolis, 2017, ISSN 2179-510X TRABALHO E JUVENTUDES TRANS: BREVE RETRATO DO ESTADO DA ARTE DE UMA DÉCADA (2006-2016) Silvana Marinho 1 Guilherme Almeida 2 Resumo: O artigo apresenta alguns passos iniciais da construção de um Estado da Arte sobre o tema trabalho e juventudes trans, a partir das produções da pós-graduação brasileira stricto sensu (mestrado e/ou doutorado), com o objetivo de conhecer e apresentar as principais tendências dessa produção. Elegemos sistematizar os dados levantados na BDTD do IBICT, compreendendo um período de dez anos (2006 - 2016). Foi possível perceber que a conjugação dos temas trabalho e pessoas trans é bastante diminuta, porém não desprezível, e, a bibliografia brasileira que trate da articulação entre juventudes, identidade trans e trabalho é numericamente pouco expressiva. Palavras-chave: Trabalho. Gênero. Juventudes Trans. Estado da Arte. O presente estudo vincula-se à pesquisa de mestrado acadêmico no Programa de Pós- Graduação em Serviço Social (área de concentração Trabalho e Política Social) da Universidade do Estado do Rio de Janeiro - UERJ, cujo tema é a relação mundo do trabalho e jovens trans. Trata-se aqui de apresentar alguns passos iniciais da construção de um Estado da Arte sobre o tema juventudes trans e trabalho, a partir das produções da pós-graduação brasileira stricto sensu (mestrado e/ou doutorado), a fim de conhecer e apresentar as principais tendências dessa produção. Importante explicar, de início, que a escolha do uso do termo trans respalda-se na própria forma êmica com a qual o termo tem sido comumente utilizado no ativismo, no movimento social, na academia e também em campanhas e serviços de órgãos do poder público. Tal escolha, como um conceito guarda-chuva, auxilia a exprimir as diversas vivências no terreno das relações e dos sentimentos de pertencimento de gênero não normativo, ou seja, a experiência de jovens que vivenciam uma identidade ou expressão de gênero divergente das expectativas sociais atribuídas a eles/as em razão de sua genitália de nascimento, a exemplo das identidades travestis, mulheres e homens transexuais e pessoas transgêneras. Tendo em vista uma breve analítica do Estado da Arte a ser empenhada, este artigo se inicia com uma aproximação conceitual sobre a categoria trabalho, diversidade de gênero e juventudes no plural. O olhar para o levantamento do tema é o de reconhecer a classe social, a diversidade de gênero e a juventude como categorias de análise da vida social que se interseccionam nos corpos dos sujeitos fazendo com que experenciem realidades diferentes e desiguais de acordo com a classe 1 Mestranda do PPGSS/UERJ. Rio de Janeiro. Brasil 2 Professor Adjunto da FSS/UERJ. Rio de Janeiro. Brasil

Transcript of TRABALHO E JUVENTUDES TRANS: BREVE RETRATO DO … · ARTE DE UMA DÉCADA (2006-2016) Silvana...

Page 1: TRABALHO E JUVENTUDES TRANS: BREVE RETRATO DO … · ARTE DE UMA DÉCADA (2006-2016) Silvana Marinho1 Guilherme Almeida2 ... pois que, se configura como fonte de satisfação das

1

Seminário Internacional Fazendo Gênero 11 & 13th Women’s Worlds Congress (Anais Eletrônicos),

Florianópolis, 2017, ISSN 2179-510X

TRABALHO E JUVENTUDES TRANS: BREVE RETRATO DO ESTADO DA

ARTE DE UMA DÉCADA (2006-2016)

Silvana Marinho1

Guilherme Almeida2

Resumo: O artigo apresenta alguns passos iniciais da construção de um Estado da Arte sobre o

tema trabalho e juventudes trans, a partir das produções da pós-graduação brasileira stricto sensu

(mestrado e/ou doutorado), com o objetivo de conhecer e apresentar as principais tendências dessa

produção. Elegemos sistematizar os dados levantados na BDTD do IBICT, compreendendo um

período de dez anos (2006 - 2016). Foi possível perceber que a conjugação dos temas trabalho e

pessoas trans é bastante diminuta, porém não desprezível, e, a bibliografia brasileira que trate da

articulação entre juventudes, identidade trans e trabalho é numericamente pouco expressiva.

Palavras-chave: Trabalho. Gênero. Juventudes Trans. Estado da Arte.

O presente estudo vincula-se à pesquisa de mestrado acadêmico no Programa de Pós-

Graduação em Serviço Social (área de concentração Trabalho e Política Social) da Universidade do

Estado do Rio de Janeiro - UERJ, cujo tema é a relação mundo do trabalho e jovens trans. Trata-se

aqui de apresentar alguns passos iniciais da construção de um Estado da Arte sobre o tema

juventudes trans e trabalho, a partir das produções da pós-graduação brasileira stricto sensu

(mestrado e/ou doutorado), a fim de conhecer e apresentar as principais tendências dessa produção.

Importante explicar, de início, que a escolha do uso do termo trans respalda-se na própria

forma êmica com a qual o termo tem sido comumente utilizado no ativismo, no movimento social,

na academia e também em campanhas e serviços de órgãos do poder público. Tal escolha, como um

conceito guarda-chuva, auxilia a exprimir as diversas vivências no terreno das relações e dos

sentimentos de pertencimento de gênero não normativo, ou seja, a experiência de jovens que

vivenciam uma identidade ou expressão de gênero divergente das expectativas sociais atribuídas a

eles/as em razão de sua genitália de nascimento, a exemplo das identidades travestis, mulheres e

homens transexuais e pessoas transgêneras.

Tendo em vista uma breve analítica do Estado da Arte a ser empenhada, este artigo se inicia

com uma aproximação conceitual sobre a categoria trabalho, diversidade de gênero e juventudes no

plural. O olhar para o levantamento do tema é o de reconhecer a classe social, a diversidade de

gênero e a juventude como categorias de análise da vida social que se interseccionam nos corpos

dos sujeitos fazendo com que experenciem realidades diferentes e desiguais de acordo com a classe

1 Mestranda do PPGSS/UERJ. Rio de Janeiro. Brasil 2 Professor Adjunto da FSS/UERJ. Rio de Janeiro. Brasil

Page 2: TRABALHO E JUVENTUDES TRANS: BREVE RETRATO DO … · ARTE DE UMA DÉCADA (2006-2016) Silvana Marinho1 Guilherme Almeida2 ... pois que, se configura como fonte de satisfação das

2

Seminário Internacional Fazendo Gênero 11 & 13th Women’s Worlds Congress (Anais Eletrônicos),

Florianópolis, 2017, ISSN 2179-510X

social, a condição de trabalho, o gênero e a idade. Em seguida se dará a apresentação da

metodologia e dos resultados destes passos iniciais de um Estado da Arte sobre o tema.

Trabalho, diversidade de gênero e juventudes no plural: considerações iniciais

Considera-se aqui a categoria trabalho um conceito sociológico fundamental. Na ontologia

marxiana do ser social, trabalho é processo dialético e teleológico. A partir dos escritos de Marx, o

trabalho tem significância para a existência humana, pois que, se configura como fonte de satisfação

das necessidades materiais de sobrevivência, para o desenvolvimento da sociabilidade humana e

como possibilidade história (ANTUNES, 2013, p.7-10). No mundo de hoje novas determinações

sociais se impõem a esse trabalho concreto, como sua subsunção ao capitalismo, sob a

mundialização e financeirização do capital. Ao contrário das teses que advogam o fim do trabalho3,

a categoria trabalho possui centralidade na existência humana.

Na construção sociológica de juventude, ela tem sido tratada como uma categoria social e

analítica indeterminada, com concepções que ora coexistem e ora disputam (PAIS, 1990;

ABRAMO, 2005), quais sejam: a interpretação da juventude como momento de preparação para a

vida adulta convivendo e concorrendo com a compreensão da juventude como etapa problemática

da vida (PAIS, 1990; ABRAMO, 2005).

A compreensão deste artigo sobre juventude é a de que se trata de uma categoria histórica e

social, e, portanto, sociológica. Ao nos debruçarmos sobre juventude, estamos, na verdade, nos

debruçando sobre um conceito plural, com determinantes históricos, sociais e culturais, o que nos

permite considerar a existência de diferentes juventudes, permeadas e produzidas por diferentes

marcadores de diferenças sociais, como a classe social, o pertencimento de gênero, étnicorracial, de

orientação sexual, religião, inserção geográfica e territorial etc.

Acerca do assunto diversidade de gênero, é relevante discernir identidade sexual de

identidade de gênero. Embora gênero e sexualidade sejam dimensões da vida social que se

imbricam, não são a mesma coisa. Nessa mesma linha,

identidades (sexuais e de gênero) estão profundamente inter-relacionadas; nossa linguagem

e nossas práticas muito freqüentemente as confundem, tornando difícil pensá-las

distintivamente. No entanto, elas não são a mesma coisa (LOURO, 2003, p. 27).

As identidades de gênero se referem à maneira como os sujeitos se percebem e se

identificam no interior dos pertencimentos de gênero. Jaqueline de Jesus (2012, p. 14) nos diz que

3 No campo da Sociologia há vários teóricos críticos da chamada “sociedade do trabalho” que desenvolvem teses acerca

do fim ou da suposta crise dessa sociedade do trabalho no contexto das mudanças ocorridas no capitalismo a partir da

década de 1970. A respeito do assunto, consultar: ANTUNES (2005).

Page 3: TRABALHO E JUVENTUDES TRANS: BREVE RETRATO DO … · ARTE DE UMA DÉCADA (2006-2016) Silvana Marinho1 Guilherme Almeida2 ... pois que, se configura como fonte de satisfação das

3

Seminário Internacional Fazendo Gênero 11 & 13th Women’s Worlds Congress (Anais Eletrônicos),

Florianópolis, 2017, ISSN 2179-510X

identidade de gênero é “o gênero com o qual uma pessoa se identifica, que pode ou não concordar

com o gênero que lhe foi atribuído quando de seu nascimento”. Desse modo, diversidade de gênero

é o termo que permite abranger um leque identitário para além do binômio homem e mulher,

contemplando outras mulheridades e homenzidades, como pessoas travestis, transexuais,

transgêneras, não binárias e aquelas que “simplesmente seguem suas vidas no contrafluxo do

pertencimento de gênero que foi imposto a elas no momento em que nasceram, sem se

autoidentificarem a nenhuma destas categorias” (ALMEIDA, 2015, p.2).

As identidades sexuais conformam as maneiras como as pessoas vivem sua sexualidade. Diz

respeito à orientação sexual, que é o termo legítimo para designar a experiência de cada pessoa em

relação à atração afetivo-sexual por pessoas do mesmo gênero (homossexual), do gênero diferente

com o qual se identifica (heterossexual), por ambos os gêneros (bissexual), por nenhum dos gêneros

(assexual) e por todas as expressões de gênero (pansexual).

O campo da diversidade sexual e de gênero abarca, assim, as identidades LGBT (Lésbicas,

Gays, Bissexuais, Travestis e Transexuais). Nesse amplo campo, a identidade de gênero vem se

configurar como um elemento que reitera a distinção identitária entre travestis e transexuais, de um

lado, e gays, lésbicas e bissexuais, de outro (CARVALHO, 2011).

Diante do exposto, o estudo do tema trabalho e juventudes trans nos convida a pensar acerca

das (im)possibilidades de jovens trans serem trabalhador (a) e existir no mundo como um corpo que

subverte os padrões de gênero. Reclama, ainda, abordar a constituição de sujeito trans e de sujeito

trabalhador, em relação, incluindo-se nesta o ser jovem. Para o exercício dessas reflexões o método

materialista histórico dialético é fundamental, além da compreensão das relações de gênero como

estruturantes das relações sociais junto com a classe social, raça/etnia, geração, sexualidade, dando

atenção à necessidade de um olhar para todas essas interseções. A abordagem interseccional traduz

com estreiteza as opressões da classe trabalhadora da sociedade brasileira, conforme sua

heterogeneidade. Considerando, ainda, a imensa dimensão que os campos da diversidade de gênero

e da juventude nos desafiam a tatear, o tema exige um olhar crítico-dialético em articulação com as

leituras socioantropológicas, dada a importância sociológica que as vivências trans expressam.

Portanto, o desenvolvimento de um breve retrato do Estado da Arte do tema neste artigo,

parte desse olhar teórico-metodológico.

Trabalho e juventudes trans: passos iniciais da construção de um Estado da Arte (2006-2016)

Page 4: TRABALHO E JUVENTUDES TRANS: BREVE RETRATO DO … · ARTE DE UMA DÉCADA (2006-2016) Silvana Marinho1 Guilherme Almeida2 ... pois que, se configura como fonte de satisfação das

4

Seminário Internacional Fazendo Gênero 11 & 13th Women’s Worlds Congress (Anais Eletrônicos),

Florianópolis, 2017, ISSN 2179-510X

Um levantamento inicial foi realizado em bibliotecas virtuais de programas de pós-

graduação e na base de bancos de dados de teses e dissertações da CAPES (Coordenação de

Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior) e da BDTD – IBICT (Biblioteca Digital Brasileira

de Teses e Dissertações do Instituto Brasileiro de Informação em Ciência e Tecnologia). Para este

artigo, elegemos sistematizar apenas os dados levantados na BDTD do IBICT, compreendendo um

período de dez anos (entre 2006 e 2016), pelo padrão de metadados que o repositório oferece e pelo

fato de que a pesquisa em mais de uma base de dados reflete duplicidades de teses e dissertações.

O repositório da BDTD do IBICT oferece um padrão de buscas simples e avançadas e ainda

permite escolher um formato de busca dos descritores apenas no título e/ou no assunto dos

trabalhos, bem como encontra resultados com os descritores combinados ou separadamente. Trata-

se de uma rede de sistemas de informação que opera como agregador de dados: coleta os metadados

das teses e dissertações dos provedores (instituições), fornece serviços de informação sobre esses

metadados e os expõem. Participam do repositório BDTD-IBICT qualquer instituição brasileira de

ensino e pesquisa que tenha programa de pós-graduação stricto sensu. Atualmente o repositório

agrega 482.565 documentos (130.684 teses e 351 881 dissertações) de 105 instituições4.

Para o levantamento deste breve estudo do Estado da Arte, 14 descritores foram utilizados

por meio da combinação de palavras que pudessem ajudar na aproximação com o conteúdo da

temática juventudes trans e trabalho, a saber: 1) trabalho + gênero ; 2) trabalho + travestis +

transexuais; 3) trabalho + transexualidade + travestilidade; 4) trabalho + gênero + travestis +

transexuais; 5) trabalho + diversidade; 6) trabalho + discriminação de gênero; 7) mercado de

trabalho + LGBT + travestis + transexuais; 8) juventude + trabalho; 9) jovens + mercado de

trabalho; 10) jovens + trabalho + gênero; 11) trabalhadores jovens + gênero; 12) jovens LGBT +

trabalho; 13) jovens + travestis + transexuais + trabalho; 14) violência5 + travestis + transexuais.

A sistematização dos trabalhos identificados com alguma relação com a temática foi

realizada em planilhas de acordo com os campos: grau da pesquisa (mestrado/doutorado); ano de

conclusão; gênero dxs autorxs; área dos programas de pós-graduação; título dos trabalhos; palavras-

chave; resumo; abordagem teórica e metodológica. Aqueles que não tinham relação com a temática

foram contabilizados e descritos de acordo com um trabalho de classificação de assuntos

(MINAYO, 1993) de tal modo a congregar aspectos, signos e elementos em comum, pois assim,

4 Cf. site do IBICT, disponível em: http://bdtd.ibict.br. Acesso em janeiro/2017. 5 O uso do descritor “violência” deveu-se ao fato de ampliar o número de trabalhos encontrados, uma vez que o signo da

violação de direitos é muito marcante nos estudos sobre pessoas trans.

Page 5: TRABALHO E JUVENTUDES TRANS: BREVE RETRATO DO … · ARTE DE UMA DÉCADA (2006-2016) Silvana Marinho1 Guilherme Almeida2 ... pois que, se configura como fonte de satisfação das

5

Seminário Internacional Fazendo Gênero 11 & 13th Women’s Worlds Congress (Anais Eletrônicos),

Florianópolis, 2017, ISSN 2179-510X

também se tornaria possível conhecer o que falam as pesquisas que foram agrupadas pela

ferramenta do IBICT, mas que não tratam da discussão de interesse do levantamento.

Diante dessa identificação de trabalhos, os resultados serão apresentados de forma descritiva

e analítica em três partes. Num primeiro momento uma apresentação inicial com a informação sobre

o gênero dxs pesquisadorxs e as regiões e as instituições de ensino e pesquisa que estão produzindo

estudos aproximados com o tema. Num segundo momento, mostraremos as áreas dos programas de

pós-graduação nas quais os estudos se desenvolveram e um movimento temporal dessa produção.

Na terceira e última parte, será feita uma breve análise temática dos estudos, apresentando as

tendências do debate, a qual será dividida ainda em: estudos sobre diversidade de gênero e

identidades trans, estudos sobre trabalho e gênero, e estudos sobre juventudes trans e trabalho.

Apresentação inicial

Foram encontradas 1756 teses e dissertações, cuja triagem para a leitura dos resumos se deu

pelo título, o que significa dizer que aproximadamente a metade deste quantitativo teve seus

resumos lidos, evitando-se imprecisões. Por conseguinte, a partir de aproximadamente 878 resumos

lidos, 61 pesquisas foram selecionadas (34 dissertações e 27 teses) por indicarem alguma

aproximação com a temática das juventudes trans e trabalho, já que raros foram os trabalhos

encontrados que empenhassem tal articulação diretamente.

Fonte: Gráfico elaborado a partir dos dados da BDTD IBICT. Nov/2016.

Gráfico 2: Regiões das pesquisas

Fonte: Gráfico elaborado com os dados IBICT.

Nov/2016.

Gráfico 3: Instituições de ensino e pesquisa

Fonte: Gráfico elaborado com os dados IBICT.

Nov/2016.

Page 6: TRABALHO E JUVENTUDES TRANS: BREVE RETRATO DO … · ARTE DE UMA DÉCADA (2006-2016) Silvana Marinho1 Guilherme Almeida2 ... pois que, se configura como fonte de satisfação das

6

Seminário Internacional Fazendo Gênero 11 & 13th Women’s Worlds Congress (Anais Eletrônicos),

Florianópolis, 2017, ISSN 2179-510X

Quanto ao gênero dxs pesquisadorxs, podemos ver, com o gráfico 1, que a maioria é

constituída pelo gênero feminino, com 36 pesquisadoras (o que corresponde a 59%) em

contraposição a 25 pesquisadores. Portanto, a marca de gênero se expressa também no tema

juventudes trans e trabalho, que embora seja amplo, tem o mote da discussão das relações de

gênero. Com relação às instituições de ensino e pesquisa e as regiões do País onde a produção sobre

o tema ocorre, vemos, nos gráficos 2 e 3, uma grande concentração no Estado de São Paulo, sendo a

USP (Universidade de São Paulo) a instituição com maior número de trabalhos.

É possível observar, ainda, que PUC-SP (Pontifícia Universidade Católica de São Paulo),

UFSCAR (Universidade Federal de São Carlos/SP) e UNICAMP (Universidade Estadual de

Campinas/SP), com certa paridade, produziram trabalhos sobre o tema. Nota-se que, depois de São

Paulo, os estados do Rio Grande do Sul e Rio de Janeiro são os outros dois estados com maior

produção, com a UFRGS (Universidade Federal do Rio Grande do Sul) e a UERJ (Universidade do

Estado do Rio de Janeiro) em destaque nessas produções. Portanto, universidades federais e

estaduais vêm produzindo debates sobre o tema, ainda que timidamente.

Áreas dos programas de pós-graduação e movimento temporal da produção

No que diz respeito às áreas que vêm se debruçando sobre o tema, ou seja, que articulam

juventudes, gênero e trabalho, e, de alguma maneira tangenciam o debate, ressalta-se que,

priorizamos apresentar aqui as áreas de mestrado e doutorado dos programas de pós-graduação do

País, sem agrupá-las por grandes áreas ou subáreas do conhecimento.

Gráfico 4: As áreas dos

PPGs

Fonte: Gráfico elaborado com os dados BDTD IBICT. Nov/2016.

Page 7: TRABALHO E JUVENTUDES TRANS: BREVE RETRATO DO … · ARTE DE UMA DÉCADA (2006-2016) Silvana Marinho1 Guilherme Almeida2 ... pois que, se configura como fonte de satisfação das

7

Seminário Internacional Fazendo Gênero 11 & 13th Women’s Worlds Congress (Anais Eletrônicos),

Florianópolis, 2017, ISSN 2179-510X

Por essa forma, o gráfico 4 demonstra a predominância dos mestrados e doutorados em

Educação (13 pesquisas), seguida da Sociologia (9 pesquisas) e das Ciências Sociais (7 pesquisas).

Importante notar também que, teses e dissertações em Psicologia e Psicologia Social, somam juntas

7 trabalhos, na sequência das áreas predominantes na discussão do tema.

No que se refere ao movimento temporal das produções sobre o tema, as 61 pesquisas

selecionadas possuem uma produção oscilante ao longo dos dez anos pesquisados. Uma produção

de forma pulverizada em termos de temporalidade a partir de 2006, e, uma produção crescente a

partir de 2014, com uma concentração de trabalhos em 2015, como o gráfico 5 busca ilustrar:

Gráfico 5: Movimento temporal das produções sobre o tema

Fonte: Gráfico elaborado com os dados BDTD IBICT. Nov/2016.

As produções dão acenos para uma tendência de crescimento. Considerando que os dados

foram levantados de outubro a novembro de 2016, é possível que outras teses e dissertações

defendidas no ano de 2016 tenham sido indexadas apenas em 2017.

Breve análise temática dos estudos sobre diversidade de gênero e identidades trans

A partir desse flagrante de concentração de estudos nos anos de 2014, 2015 e 2016, a tabela

abaixo mostra que o maior número de teses e dissertações desses anos foi encontrado com os

descritores “Trabalho + gênero + travestis + transexuais”; “Trabalho + discriminação de gênero”;

“Mercado de trabalho + LGBT + travestis + transexuais” e “Violência + travestis + transexuais”.

Tabela 1: Os anos que acendem o debate trans

Usos da categoria identidade trans nas pesquisas de pós-graduação de 2014 a 2016

Anos

2014 5 pesquisas

Total: 23 pesquisas

2015 12 pesquisas

2016 6 pesquisas

Palavras-chave dos estudos levantados de 2014 a 2016 relacionados ao tema da diversidade de gênero

1

Etnografia. Redes do trabalho sexual. Travestis

2 Etnografia. Experiências travestis. Prostituição

3 Etnografia. Cidadanização de pessoas LGBT. Centros de Cidadania.

Page 8: TRABALHO E JUVENTUDES TRANS: BREVE RETRATO DO … · ARTE DE UMA DÉCADA (2006-2016) Silvana Marinho1 Guilherme Almeida2 ... pois que, se configura como fonte de satisfação das

8

Seminário Internacional Fazendo Gênero 11 & 13th Women’s Worlds Congress (Anais Eletrônicos),

Florianópolis, 2017, ISSN 2179-510X

Fonte: Tabela elaborada a partir dos descritores “trabalho + gênero” na BDTD-IBICT. Nov/2016.

A tabela 1 foi sistematizada de tal modo a ilustrar os usos da categoria identidade trans nas

pesquisas de mestrado e doutorado do País, evidenciando que o debate em torno do tema no

levantamento realizado arde mais nos anos recentes. Há muitos elementos interessantes para serem

analisados, mas dada a limitação analítica em artigos desta natureza, vale destacar alguns aspectos.

Os termos negritados no conjunto de palavras-chave mostram que há maior produção brasileira

sobre travestis do que transexuais. Isso se relaciona com o fato de que a identidade travesti é uma

identidade da América Latina. Conforme Jorge Leite Jr. (2008) aponta, travesti se constituiu como

um termo cultural de massa no Brasil para a pessoa que adota o gênero feminino. Nos países da

Europa e América do Norte, por exemplo, aquele/a que adota outro gênero é entendido/a como

transexual, termo que tem uma história mais recente no Brasil do que o termo travesti.

Outro aspecto a pontuar na tabela 1 é que se percebe que na discussão sobre trabalho e

pessoas trans, há expressiva associação ao signo da prostituição. Por um lado, revela uma

realidade, afinal no Dossiê da Rede Trans (Rede Nacional de Pessoas Trans do Brasil) “A Geografia

dos Corpos Trans”, se afirma que 90% das travestis e transexuais vivem na prostituição pelo

4 Travestilidades. Escola. Corpos-existências.

5 Gerações travestis. Corpo. Subjetividade. Geracionalidade.

6 Território. Territorialidade. Travesti/transexual. Prostituição.

7 Estado. Educação. Saúde. Violência. Travestis. Corpo.

8 Identidades de gênero não binárias. Legitimidade. Reconhecimento. Reivindicações. Direitos Humanos

9 Identidade de gênero trans. Contemporaneidade. Representações sociais. Educação. Formação.

10 Discriminação. Mercado de trabalho. Orientação sexual.

11 Igualdade e diferença. Politicas educacionais. Diversidade. Gênero. Homofobia. Racismo.

12 Visibilidade. Reconhecimento. Ativismo. Pessoas trans. Brasil

13 Travestis. Corpo. Mundo do trabalho. Crise do capital. Precarização. Prostituição. Transfobia.

14 Políticas públicas. Cidadania. Travestis. Mulheres transexuais. ONG.

15 Políticas LGBTs. Institucionalização. Cidadania LGBT.

16 Travesti. Performatividades. Escolaridade. Pedagogia da intolerância.

17 Direitos humanos. Educação. Cidadania. Brasil sem Homofobia. LGBT.

18 Tráfico de pessoas. Travestis. Transexuais. Exploração sexual. Mercado transnacional do sexo. Crise do

capital. Transfobia.

19 Etnografia. Estado. LGBT. Sujeitos de direitos. Brasil contemporâneo

20 Travestis. Transexuais. Nomeação. Prostituição. Produção acadêmica.

21 Adolescentes. Diversidade sexual e de gênero. Políticas públicas. Jovens. LGBT.

22 Gênero. Transexualidade. Transexuais. Travestis. Educação. Pedagogia.

23 Transgeneridade. Estudos transgêneros, travesti, transexual, crossdresser, identidade de gênero, expressão de

gênero. Normas de gênero. Transfobia. Transição. Passabilidade.

Page 9: TRABALHO E JUVENTUDES TRANS: BREVE RETRATO DO … · ARTE DE UMA DÉCADA (2006-2016) Silvana Marinho1 Guilherme Almeida2 ... pois que, se configura como fonte de satisfação das

9

Seminário Internacional Fazendo Gênero 11 & 13th Women’s Worlds Congress (Anais Eletrônicos),

Florianópolis, 2017, ISSN 2179-510X

preconceito que se apresenta no mercado de trabalho6. Dentre elas, as travestis estão em maior

proporção. Por outro lado, sabemos que a realidade não é unívoca e que travestis e transexuais

tecem outras trajetórias de vida e de trabalho que também precisam ser descortinadas.

Vale salientar que, estudos sobre pessoas travestis e transexuais não são do tempo presente,

já vêm ganhando espaço no campo acadêmico brasileiro nas Ciências Sociais, e também nas

Ciências Jurídicas, para além do terreno da Psicanálise, Psicologia e do campo biomédico que

historicamente trataram do tema7, contudo, chama a atenção na tabela em questão a presença do

termo trans emergindo no debate contemporâneo.

Para concluir, mas sem esgotar as análises da tabela, destacamos: a) nenhum desses

trabalhos tratou de homens trans em seus resumos e títulos; b) há uma recente discussão da

transfobia em alguns dos trabalhos; c) quando aparece o debate de cidadania, direitos e políticas, ele

está vinculado ao tema LGBT de forma mais ampliada, com pouca expressão no debate trans; d) os

estudos vinculam mais as identidades trans à questão escolar e do direito à educação do que do

direito ao trabalho; e) a expressiva maioria de trabalhos possui abordagem teórico-metodológica no

âmbito da etnografia, sendo raro o diálogo com a classe social e com o capitalismo como solo de

desigualdades e violações dos direitos de pessoas trans. Apenas dois dos 23 estudos situaram o

contexto da crise do capital no debate, por exemplo.

Breve análise temática dos estudos sobre gênero e trabalho

O uso da combinação desses dois descritores resultou em 165 pesquisas. A partir da leitura

dos resumos, palavras-chave, e até mesmo de alguns trabalhos na íntegra, apenas 4 se aproximavam

da abordagem teórico-metodológica que ancora o nosso estudo sobre juventudes trans e trabalho,

como a sociologia do trabalho e a perspectiva interseccional. Mas, nos resta saber o que dizem as

161 pesquisas sobre trabalho e gênero, conforme a tabela abaixo:

Tabela 2: Trabalho e gênero: tendências das pesquisas da pós-graduação stricto sensu brasileiras

Debate de Gênero: centralização na categoria mulher

6 Cf: http://redetransbrasil.org/uploads/7/9/8/9/79897862/redetransbrasil_dossier_1.pdf. Acesso em fevereiro de 2017. 7 A predominância do assunto transexualidade, por exemplo, nos domínios Psi é tributária da sua edificação pelo campo

biomédico que se deu ao longo do século XX sob o termo “transexualismo”, justamente pela semântica do sufixo

“ïsmo” estar atrelada à patologia, como era visto o “fenômeno transexual”, ou seja, como um “transtorno mental” em

referência a um “transtorno de identidade de gênero” pela incongruência entre sexo (biológico) e gênero (sociocultural),

uma contração definidora da identidade de homem e de mulher (CASTEL, 2001).

Page 10: TRABALHO E JUVENTUDES TRANS: BREVE RETRATO DO … · ARTE DE UMA DÉCADA (2006-2016) Silvana Marinho1 Guilherme Almeida2 ... pois que, se configura como fonte de satisfação das

10

Seminário Internacional Fazendo Gênero 11 & 13th Women’s Worlds Congress (Anais Eletrônicos),

Florianópolis, 2017, ISSN 2179-510X

Divisão sexual do trabalho e trabalho

doméstico;

Relações de gênero, desigualdades

entre homens e mulheres e

discriminação salarial;

Generificação das profissões;

Gênero, trabalho e educação

(discussão da escolarização das mulheres

em descompasso com ganhos salariais e

mulheres e o Ensino Superior)

Gênero e raça; discriminação salarial

por cor/raça/etnia e gênero;

consubstancialidade de classe, raça e

gênero;

Relações de gênero e trabalho

informal;

Saúde e precarização do

trabalho das mulheres;

Exploração capitalista sobre a

mulher;

Mulheres e o setor de

cosméticos;

Gênero e o setor de serviços;

Empreendedorismo e

cooperativismo;

Qualificação profissional;

Prostituição feminina; Mulheres

camponesas;

Trabalho, mulheres e

família;

Mulheres chefes de família,

Assistência Social e criança;

Papel da mulher no mercado

de trabalho; Gênero e

trabalho no setor público

Representações sociais de

gênero;

Mulheres na gestão;

Mulheres, política e

parlamento.

Fonte: Tabela elaborada a partir dos descritores “trabalho + gênero” na BDTD-IBICT. Nov/2016.

Agrupamos, na tabela 2, os elementos, aspectos e signos desses trabalhos em blocos de

assuntos e de acordo com a incidência com a qual apareciam. Diante desse universo de trabalhos,

foram ínfimos aqueles que discutiam gênero com enfoque na identidade masculina, aparecendo

apenas um sobre a profissão motoboy e outro sobre a profissão policial. A discussão de gênero

ainda está centrada na categoria mulher.

Destaca-se, assim, na tabela a seguir, a presença de apenas 4 pesquisas na contramão da

maioria, que ampliam o debate de gênero, comumente reduzido na categoria mulher e numa visão

binária. Elas demonstram olhares diferenciados, fundamentalmente por permitirem reflexões da

dialética da identidade de gênero como identidade de classe e do trabalho como dimensão de

constituição da identidade social de gênero:

Tabela 3: Trabalho e gênero: algumas pesquisas no contrafluxo do debate

Qt Grau / Ano Gênero

dxs autorxs

Área do PPG

Título

Palavras-chave

1 Doutorado

2006

Feminino

Educação

Tempos modernissimos nas

engrenagens do telemarketing

Trabalho, telermarketing,

gênero, espaço e tempo,

educação.

2 Doutorado

2007

Masculino

Ciências

Sociais

Foi com o trabalho que me tornei

homem: trabalho, gênero e geração

Identidade masculina, gênero,

geração, Sociologia do

Trabalho.

3 Mestrado

2011 Feminino

Ciências da

Comunicação

Estudo de recepção em

comunicação: as representações do

feminino no mundo do trabalho das

teleoperadoras

Mundo do trabalho, relações de

gênero, teleoperadoras,

comunicação, estudos de

recepção.

4 Doutorado

2016 Feminino

Sociologia

As caminhoneiras: uma carona nas

discussões de gênero, trabalho e

identidade

Identidade de gênero; relações

de gênero; divisão do trabalho;

caminhoneiras.

Fonte: Tabela elaborada a partir dos descritores “trabalho + gênero” na BDTD-IBICT. Nov/2016.

A primeira tese, da sociologia do trabalho, discute as múltiplas relações sociais expressas no

trabalho à distância (classe, de gênero, geracionais e étnicas) tocando, de forma inaugural, na

Page 11: TRABALHO E JUVENTUDES TRANS: BREVE RETRATO DO … · ARTE DE UMA DÉCADA (2006-2016) Silvana Marinho1 Guilherme Almeida2 ... pois que, se configura como fonte de satisfação das

11

Seminário Internacional Fazendo Gênero 11 & 13th Women’s Worlds Congress (Anais Eletrônicos),

Florianópolis, 2017, ISSN 2179-510X

absorção do público LGBT pelo telemarketing. A pesquisadora não discutiu tal assunto com

profundidade, posto que não era uma intenção do estudo, aparecendo como um flagrante da

pesquisa. Mas, ao abordar a divisão sexual do trabalho, estendeu o conceito para homossexuais e

transexuais empregadxs pelo setor, tratando ainda, da empregabilidade de jovens.

A segunda tese traz uma análise pela sociologia do trabalho articulada aos marcadores

geração e identidade de gênero. Seu diferencial analítico se dá pelo fato de discutir a constituição da

identidade de gênero masculina sob o recorte da inserção geracional no mundo do trabalho. Nota-se

que esse trabalho é desenvolvido por um pesquisador do gênero masculino. O terceiro trabalho,

apesar de tratar das representações do feminino da força de trabalho com foco nas mulheres, busca

olhá-las em sua multiplicidade, fazendo uma análise sociocultural das entrevistadas a partir de um

elenco de aspectos, incluindo-se a orientação sexual, embora utilizando o termo “opção sexual”,

numa clara demonstração de defasagem com o tema e os estudos em torno da sexualidade. O último

trabalho foi selecionado por debater a identidade de gênero no trabalho a partir da incorporação de

elementos de masculinidade e mantença de feminilidade de mulheres em profissões masculinas,

desenvolvendo a perspectiva da interseccionalidade e os conceitos de identidade, diferença e

diferenciação.

Breve análise temática dos estudos sobre juventudes trans e trabalho

Os estudos levantados sobre juventudes refletem ainda o que Pais (1990) já observara, isto é,

na tematização da juventude, as análises possuem uma corrente geracional, ao tematizar a juventude

como uma fase da vida, e outra corrente classista, ao tratá-la como produto das desigualdades de

classe social (PAIS, 1990). Foram poucas as pesquisas encontradas que não incorriam nesta pobre

dicotomização. A articulação juventudes trans e trabalho carece de estudos. Observou-se que o

grupo social jovens trans ainda é pouco estudado e que o tema das identidades trans e trabalho

aparece mais expressivamente com uma agenda de estudos que tem versado, por exemplo, a

respeito de culturas e sociabilidades trans; prostituição e trajetórias escolares; representações de

gênero; e abordagens no terreno socioantropológico sob estudos etnográficos para a análise das

vivências trans; Embora esses estudos apresentem contribuições científicas relevantes, fica ausente,

muitas vezes, uma dimensão de análise a partir da classe social. Já os estudos da sociologia do

trabalho têm tido lacunas ao abordar juventudes e classe trabalhadora sem intersecção com os

marcadores sociais.

Considerações finais

Page 12: TRABALHO E JUVENTUDES TRANS: BREVE RETRATO DO … · ARTE DE UMA DÉCADA (2006-2016) Silvana Marinho1 Guilherme Almeida2 ... pois que, se configura como fonte de satisfação das

12

Seminário Internacional Fazendo Gênero 11 & 13th Women’s Worlds Congress (Anais Eletrônicos),

Florianópolis, 2017, ISSN 2179-510X

A diversidade de gênero, apesar de não ser uma realidade nova, não estava posta no debate

dos estudos de gênero de décadas anteriores como tema teórico e politico. Trata-se de uma pauta

política e um campo de estudos que vem ganhando expressão mais recentemente, que vem

crescendo e se espraiando no campo acadêmico, configurando-se como um tema contemporâneo,

em sintonia com os processos de lutas da comunidade trans nas últimas décadas do século XXI. A

despeito da crescente visibilidade das identidades trans na cena política, na mídia, no debate das

políticas públicas e nos estudos acadêmicos, percebe-se que a conjugação dos temas trabalho e

população trans é bastante diminuta, porem não desprezível. A bibliografia brasileira que trate da

articulação entre juventudes, identidade trans e trabalho é ainda numericamente pouco expressiva.

Referências

ABRAMO, H. W. Condição Juvenil no Brasil contemporâneo. In: ABRAMO, H. W. e BRANCO,

P. P. M. (Orgs.). Retratos da Juventude Brasileira. Análises de uma pesquisa nacional. São

Paulo, Editora Perseu Abramo, 2005.

ALMEIDA, G. No contrafluxo: pessoas trans como personagens cotidianos. In: Conselho Regional

de Serviço Social de Minas Gerais (CRESS-MG). Boletim Conexões Gerais, n. 70, 1 sem/2015.

Disponível em: http://www.cress-mg.org.br/publicacoes/Home/Lei/48. Acesso em: abril/2017.

ANTUNES, R. O caracol e sua concha: ensaios sobre a nova morfologia do trabalho. São Paulo:

Boitempo, 2005.

______. A dialética do trabalho. 2ª ed. São Paulo: Expressão Popular, 2013.

CARVALHO, M. F. L. Que mulher é essa? Identidade, política e saúde no movimento de travestis

e transexuais. [Dissertação de Mestrado]. 147p. Rio de Janeiro: UERJ, IMS, 2011.

CASTEL, Pierre-Henri. Algumas reflexões para estabelecer a cronologia do “fenômeno

transexual”(1910-1995). Revista Brasileira de História, São Paulo, v. 21, n,41, 2001.

JESUS, J. G. de. Orientações sobre identidade de gênero: conceitos e termos. Guia técnico sobre

pessoas transexuais, travestis e demais transgêneros para formadores de opinião [Revisão de

conteúdo: Berenice Bento; Luiz Mott; Paula Sandrine]. Brasília: Autora, 2012.

LEITE JR., Jorge. Nossos corpos também mudam: sexo gênero e a invenção das categorias

“travesti” e “transexual” no discurso científico. [Tese de Doutorado]. São Paulo: PUC-SP,

Programa de Estudos Pós-Graduados em Ciências Sociais, 2008.

LOURO. G. A emergência do gênero. In: Gênero, sexualidade e educação: uma perspectiva pós-

estruturalista. 6ª edição. (p. 14-36). Petrópolis: Vozes, 2003.

MINAYO, M.C.S. O desafio do conhecimento: metodologia de pesquisa (qualitativa) em saúde.

Rio de Janeiro: Hucitec – Abrasco, 1993.

Page 13: TRABALHO E JUVENTUDES TRANS: BREVE RETRATO DO … · ARTE DE UMA DÉCADA (2006-2016) Silvana Marinho1 Guilherme Almeida2 ... pois que, se configura como fonte de satisfação das

13

Seminário Internacional Fazendo Gênero 11 & 13th Women’s Worlds Congress (Anais Eletrônicos),

Florianópolis, 2017, ISSN 2179-510X

PAIS, José Machado. A construção sociológica da juventude - alguns contributos. Análise Social,

Vol. 25, No. 105-106, (pp. 139-165), 1990.

Work and trans youth: brief portrait of the state of the art of a decade (2006-2016)

Astract: The article presents some initial steps of the construction of a State of Art about the theme

work and trans youth, based on Brazilian stricto sensu (master's and / or doctorate) graduate

programs, in order to know and present the main tendencies of that Production. We chose to

systematize the data collected in the BICT of the IBICT, comprising a period of ten years (2006-

2016). It was possible to perceive that the conjugation of the themes work and trans people is very

small, but not negligible, and the Brazilian bibliography dealing with the articulation between

youth, trans identity and work is numerically little expressive.

Keywords: Trans youth . Work. Gender. State of the art.