Trabalho duro, discurso flexível

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Especialização Profissional Integrada à Educação Básica na Modalidade de Educação de Jovens e Adultos – PROEJA Trabalho duro, discurso flexível (BERNARDO, M. H.) Rafael Correia Lima Vanderlei Maziero de Andrade 2016

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Especialização Profissional Integrada à Educação Básica na Modalidade de Educação de Jovens e Adultos – PROEJATrabalho duro, discurso flexível(BERNARDO, M. H.)

Rafael Correia Lima Vanderlei Maziero de Andrade

2016

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Capítulo 6Equipes de trabalho: Busca da ‘visão compartilhada’ e estímulo à competição

•AS CONCEPÇÕES DE EQUIPE NA LITERATURA DE GESTÃO EMPRESARIAL

•O TRABALHO EM GRUPO NAS MONTADORAS•A MULTIFUNCIONALIDADE•COMPANHEIRISMO VERSUS COMPETIÇÃO

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AS CONCEPÇÕES DE EQUIPE NA LITERATURA DE GESTÃO EMPRESARIAL• Termos: equipe e time, família-empresa, empresa que aprende.• Todos precisam saber fazer tudo “a produção não pode parar”.• São interdependentes• O coach (técnico)• Estoque: setores administrativos e de vendas do que os de produção.• As equipes de processo (...) não precisam de chefes, elas precisam de

técnicos (coachs).• A demanda da venda• O conceito de equipe é entendido completamente diferente. • “Às reuniões de grupo ou círculos de controle de qualidade”.• Não necessitam de chefia

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Concepções de agrupamentos de trabalhadores (TANSKANEN; BUHANIST; KOSTAMA, 1998, p.611)

•Equipes autoadministradas;•Equipes compostas por trabalhadores multifuncionais;•Equipes funcionais que também inclui habilidades

complementares;•Grupos que servem apenas como unidades de medida;•Grupos temporários para resolver problemas;•Equipes com um espírito próprio.

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• O funcionário faz o que tem mais afinidades/habilidades.• Segundo Linhart (2000) os diferentes tipos de coletivos são artificiais, com

regras impostas (para que foi contratado).• Flexibilidade (LINHART, 2000)• Solidão dos indivíduos (o ban-ban-ban dentro da organização)• Não te ensinar tudo, porque eu preciso ser melhor (relação superficial).• A moderna ética do trabalho• “O trabalho de equipe é a prática de grupo da surperficialidade degradante”.• “O espírito competitivo entre grupos e entre trabalhadores”.• “Ambiente darwiniano” (WACQUANT, 1996).• “São rivais ou até mesmo inimigos potenciais antes de serem companheiros

de equipe”.• “Darwinismo social” um processo de seleção/exclusão (BOLTANSKI;

CHIAPELLO, 1999).• “Adaptar-se ou a desaparecer”.• “Aos interesses diretos do Capital”.

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Taylor e a administração

científica

Fordismo

Sistema japonês de produção

"Grupo enriquecido"

• Ênfase nas tarefas;• Ênfase na estrutura organizacional;• Ênfase nas pessoas;• Ênfase na tecnologia;• Ênfase no ambiente;• Ênfase nas competências e na

competividade.• Ênfase na produtividade;• Fábricas grandes e centralizadas;• Produtos de fácil fabricação;• Funcionários com uma única

função;• Funcionários ganham bem para

produzir mais.

• Aperfeiçoamento do taylorismo-fordismo

• Tempo e métodos•Setor de planejamento;•postos de trabalho individuais.

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O TRABALHO EM GRUPO NAS MONTADORAS(O trabalho do toyotismo na era moderna)

ASSAN TAMARUFAMÍLIA

-EMPRES

AGrupo de trabalhadores multifuncionais Os trabalhadores não parecem assimilar a ideia de família-empresa (cooperação).

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PONTOS POSITIVOS

• Empregador;• Reduz custos;• Participação dos

lucros;• Competição p/

elaboração de propostas de melhorias.

PONTOS NEGATIVOS

• Trabalhador;• LER (lesões);• Ameaças de

punição e desemprego;

• Companheirismo;• Metas;• Hora-extra;• Competição.

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• Se não trabalhar no sistema de cooperação a empresa manda embora (desemprego).

• Companheirismo existe no sentido de avisar para não ser punido (proteção).... Às vezes o meu processo é mais fácil que o do meu companheiro do lado. A gente vai tentar dividir entre nós dois os nossos processos, para poder não ficar pesado nem para mim nem tanto para ele. Então eu acho que a questão mais é de companheirismo e isso acontece muito lá (ASSAN).

• Metas: precisa fazer hora-extra para atingi-la.• Metas de produção dizem respeito a toda a fábrica, aquelas relativas à

qualidade são setoriais.• Participação dos lucros: induz um colega a controlar o outro.• Avisar o colega em caso de erros (aspectos positivos / negativos), ou seja, se

o trabalhador não é do controle de qualidade, é um vigilante.• Hora-extra: Se você for embora, você vai complicar o seu grupo. Aí eles vão

conseguir colocar o pessoal contra você. (Pô, se eu me ferrei ontem foi por sua causa). Então normalmente tem esse tipo de pressão, que eu acho que pode ser considerado psicológico.

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EXEMPLO DE CÉLULA DE MONTAGEM

OE TL

Trabalhador

Trabalhador

Trabalhador

Trabalhador

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Na prática, o Técnico de linha e o operador especializado não trabalham.

• Técnico de linha.Assan• Operador especializado;• Não existe rodízio;• Exclusivamente por pessoas que ocupam cargos

de chefia.Tamaru

O “especializado”:•É visto como um superior hierárquico;•É visto como um colega que não cumpre com suas obrigações;•Não atende aos pedidos de substituição.

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A distribuição dos trabalhadores em células tem um pressuposto social [...].

Célula Equipe Grupo de Trabalho

Grupo enriqueci

do

Se uma engrenagem trabalhar mais devagar ou parar, ela vai parar todas as outras.

Tamaru e Assan incluem de fato ‘grupos de trabalho’ porém a noção é genérica, precisa reforçar ideia de família-empresa e na prática estabelecer metas coletivas de produção e de qualidade.

Células:Em uma mesma célula, pode haver, por exemplo, uma pessoa colocando a porta esquerda, outra colocando a porta direita, uma terceira encaixando o para-choque e assim por diante. Nessas circunstâncias, até a interação espontânea por meio de conversas informais é muito difícil. (Descreve Fabiano – dirigente sindical da Assan)

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TAMARU•São realizadas reuniões breves, diariamente em cada

setor, na qual o chefe fornece orientações e aponta erros cometidos.

ASSAN•Não existem reuniões regulares, mas são realizadas

sempre que alguma chefia avalie tal necessidade. (motivos: falhas na produção) nos horários de descanso dos trabalhadores (refeição).

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A MULTIFUNCIONALIDADE• Multifuncional não faz parte do vocabulário dos trabalhadores da Tamaru. A Assan

emprega melhor esse conceito.• Crítica dos trabalhadores: (...) funções diferentes, segundo eles, diferenciam as

pessoas.• Denominação do mesmo cargo, funções diferentes, mesmos salários.• (Na prática servia para rebaixar os salários).

OPERADOR MULTIFUNCIONALPintores multifuncionais

Funileiros multifuncionais

• Essa questão da multifuncionalidade é cobrada. Por exemplo, no caso do pintor especializado. (...) Ele faz a parte de para-choque do carro, mas tem que saber polir, lixar, inspecionar.

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FORMAÇÃO DOS EMPREGADOSTodos os entrevistados com mais de um ano de trabalho afirmavam conhecer diversos “processos”,

mesmo em setores onde não há a política de treinamento multifuncional.

Tamaru• Não tem formaçãoAssan

• De uma a três processos• Porém diz que dá treinamento, mas, Daniel aprende olhando e exerce a função sem o treinamento

específico.• Os “revoltados”, demonstram certo orgulho ao relatarem o número de postos de trabalho em que

sabem atuar.• Não há formação contínua, devido à necessidade de retirar o trabalhador das suas atividades.• Falta de investimento em capacitação profissional.• A formação ocorre por curiosidade, sem retirar os trabalhadores das suas atividades.• A Assan era uma empresa, pelo menos no começo, que valorizava muito o trabalho da gente.• Há alguns anos, a gente praticamente era obrigado a conhecer vários processos.

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COMPANHEIRISMO VERSUS COMPETIÇÃO• Esse contraste entre a ideia de equipe e a competição tem o objetivo de que os trabalhadores

mantenham relações superficiais entre si [...].• As empresas estimulam a competição• Premiação: (simbólica, na Tamaru e, em dinheiro, na Assan).• O “companheirismo” como competição• Um mesmo trabalhador que havia falado com certo orgulho da cooperação entre

companheiros de trabalho, também afirma que a competição é forte entre eles.• Assan é mais competição do que companheirismo• Tamaru é competitiva, e ainda entre a demissão (Passar o rodo no outro).

Competição, e ambição de cargo.• Os relatos dos trabalhadores entrevistados incluem casos de disputa e de algumas

deslealdades.• Na Assan existem os “pelegos” e os “revoltados”.• Pelegos: adotam a filosofia da empresa.• Revoltados: Investem na organização.

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Tais proposições mostram uma sofisticação das formas como as empresas buscam exercer o poder sobre os trabalhadores, uma vez que não focalizam

mais apenas seus corpos, mas, também, suas mentes.

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Referências Bibliográficas•BERNARDO, Marcia Hespanhol. Trabalho duro,

discurso flexível: uma análise das contradições do toyotismo a partir da vivência de trabalhadores. São Paulo: Expressão popular, 2009.