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As crianças e as suas necessidades alimentares

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As crianças e as suas necessidades alimentares

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Introdução:O tipo de alimentação que está a ser dado às crianças levou já a que

estas sejam vítimas de doenças que antes eram exclusivas dos adultos. Felizmente existem os refeitórios nas escolas, mas mesmo esta benesse acaba na passagem para o 5º ano, altura em que os pequenos jovens passam para um menu constituído por pizzas, Coca-Cola e gomas. O que se está a passar é "profundamente doentio".

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As crianças portuguesas comem hoje pior do que

comiam há três décadas atrás?

Antes as carência alimentares eram muito mais generalizadas, existia uma situação de subnutrição, havia o raquitismo. Hoje isto já não se verifica e portanto, nesse sentido, as coisas melhoraram. Mas comparando, por exemplo, numa mesma classe, podemos dizer que a classe média come hoje pior do que comia antes. Seguramente que sim. E se a óptica for a questão da qualidade da comida, então seguramente, e de um modo geral, está-se a comer pior agora. É quase mesmo uma doença civilizacional. À medida que a sociedade tem vindo a progredir, a alimentação saudável tem-se vindo a perder.

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O que comemos é o espelho do modo como vivemos?

Antes a população portuguesa era predominantemente rural. Agora está cada vez mais concentrada nas grandes cidades. Esta mudança contribuiu muito para o facto de a chamada "alimentação mediterrânica", que é a alimentação baseada em legumes, hortaliças, frutas, óleos vegetais, poucas gorduras animais e peixe, e que é uma alimentação saudável, ter vindo a desaparecer da dieta dos portugueses, principalmente crianças. Depois o modo de vida das pessoas também se modificou: há menos trabalho físico, menos exercício físico. As crianças, tal como os seus pais, passam grande parte do seu tempo presas entre quatro paredes. E as próprias mães deixaram de ter tempo para fazer comida caseira. Começaram a recorrer cada vez mais a alimentos pré-preparados, muito ricos em gorduras animais. As pessoas finalmente enriqueceram um bocadinho, deram-se estes luxos que antes não tinham. Mas esta alimentação é pior do aquela que existia antes. Neste momento estamos talvez no pico dos erros da alimentação. Nas cantinas das escolas a comida nem sempre é a melhor, a maior parte das vezes tudo depende das agencias.

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Já com efeitos mais que visíveis, por exemplo no que respeita à obesidade entre as crianças.

Se para um adulto uma alimentação inadequada é grave, para uma criança, que é um ser em formação, ainda é pior. Deixa sequelas em todos os aspectos. No desenvolvimento e no rendimento escolar, por um lado. Há cada vez mais crianças irritáveis e hiperactivas e existem suspeitas que isso possa também estar relacionado com a alimentação, com o consumo excessivo de aditivos, colorantes, corantes. E depois, por outro lado, temos doenças crónicas que já começam a marcar a infância. Como a hipertensão ou a chamada "diabetes dois" que hoje se pode encontrar em crianças com dois, três anos, e que era considerada uma doença exclusiva do adulto.

Está relacionada com a dieta alimentar?

A diabetes 2 está ligada a excesso de peso e falta de exercício. Aliás, trata-se com emagrecimento, alimentação saudável e exercício físico. A sua presença em crianças tão pequenas é quase uma consequência directa da obesidade infantil. Em Portugal temos 30 por cento de crianças obesas. E atenção que esta percentagem não inclui os gordinhos. São mesmo só os obesos, quer dizer, aqueles que têm 20 por cento de peso a mais.

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- O problema é que a comida que lhes faz mal parece ser aquela de que as crianças gostam mesmo.

- A escolha das crianças é muito influenciada pela publicidade. São um grupo muito vulnerável, muito alcançável pela publicidade na televisão, nas revistas e por aí fora. Infelizmente existem todas essas campanhas com ofertas de brinquedos nas batatas fritas, nas cadeias de "fast food". E as crianças o que querem na verdade é esse tipo de alimentos, o que faz com que as mães tenham um duplo problema: para mudar as coisas, não só têm de arranjar tempo para cozinhar, como depois têm que estar a batalhar à mesa para convencer os filhos a comer. E uma mãe cansada, depois de um horário de trabalho, desiste mais facilmente. Por outro lado, trata-se de lutar também contra outro tipo de problema, que é o das ideias feitas. Em Portugal, consequência da pobreza anterior, ainda é considerado uma boa alimentação aquela que tenha muita carne e muito peixe. Quando se vai a um restaurante, muitas vezes o que se vê é os pais a dizer aos filhos para primeiro comerem a carne, depois, se ainda tiverem fome, irem às batatas e, claro está, os legumes ficam para o fim. Quem é que obriga os filhos a comer as folhas de alface que estão no prato?

- Comem pelo menos sopa.

- A sopa só está garantida para os bebés pequeninos. Mal começam a fazer a alimentação familiar, normalmente lá se vai a sopa. Ou comem na escola, ou não comem de todo. E na escola só até ao 4º ano, quando fazem obrigatoriamente as refeições no refeitório, porque depois começam a comprar a sua própria ementa. Em vez de irem ao refeitório, para pouparem tempo, porque normalmente ali existem bichas, e também porque vai ao encontro das preferências deles, vão antes ao bar - ou seja, em vez de comerem a ementa da escola, que normalmente é feita por dietistas e equilibrada, compram uma fatia de pizza, bebem uma coca-cola, depois ainda comem algumas gomas para rematar. É assim que os nossos adolescentes comem: na escola, ficam-se pelo bar, e quando chegam a casa, a mãe, que vem a correr, compra uma pizza ou outra refeição já feita.

- Disse que a alimentação nos refeitórios é equilibrada, mas depois há os bares com uma ampla oferta quase só de produtos salgados e doces. Por um lado faz-se, por outro desfaz-se?

- Nas escolas pública, no geral, a composição das refeições é equilibrada. Mas essa preocupação choca de facto com o que é oferecido nos bares. E não só. No ano passado estive num congresso onde foi apresentado um estudo da Faculdade de Motricidade Humana feito em escolas onde estava a ser feita uma sensibilização com vista a mudanças alimentares. E havia escolas que estavam neste programa, mas depois tinham máquinas de distribuição de alimentos, aquelas com moedas, com tudo do pior. Ora essas escolas recusaram-se a tirar as máquinas, porque diziam que era por essa via que também ganhavam dinheiro. Não faz sentido que uma escola tenha um programa de reeducação alimentar e depois tenha essas máquinas ou o acesso livre ao bar. Podia-se talvez ter um maior controlo sobre o que as crianças comem, tornando, por exemplo, o almoço obrigatório e deixando os bares para o lanche. E os pais também se deviam interessar mais. Muitos nem perguntam aos filhos o que é que comem durante o dia.

- Os pais continuam sem tempo, os alimentos saudáveis são mais caros. Como se pode mudar de hábitos, se a base do problema permanece?

- Ensinando, alertando e sensibilizando, de modo que a longo prazo haja mudanças de atitude. Até nisso as crianças são mais sensíveis. Rapidamente aprendem o que faz bem e o que não faz e muitas vezes chamam a atenção dos pais para isso. É um dos aspectos positivos das campanhas nas escolas. E não se deve desistir nunca de ir tentando introduzir novos alimentos à criança. Não é obrigá-las a comer grandes pratadas de uma coisa de que não gostam ou de tornar as refeições em campos de batalha, mas sim de lhes dar a experimentar uma, duas ou três colheres. Alguma vez se hão-de habituar, porque as criança são seres de hábitos e a gente tem que lhes incutir hábitos saudáveis. E isto tudo tem de começar muito cedo.

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- Pela amamentação?

- Que é algo que se tem de promover muito mais. É errado começar a dar sopa e fruta aos quatro meses e depois as papas. O ideal seria amamentar a criança em regime exclusivo até aos seis, sete meses de idade. Quando se dá alimentos muito calóricos a uma criança pequena, ela aumenta de peso muito rapidamente, o que não é bom. Nós formamos adipósitos, que é o tecido gordo, até aos dois anos. Se deixamos a criança engordar rapidamente, ela ficará sempre em desvantagem, porque passa a ter muito tecido adiposo. E terá sempre problemas para manter o peso. Durante toda a vida.

- O que é que faz mais falta?

- Uma criança não precisa de comer carne ou peixe todos os dias. Porque há proteínas em quase tudo o que ela ingere: no leite, nas papas. De um modo geral, as crianças têm um excesso de proteínas. Faz falta é o resto. A água, por exemplo. Água e não os sumos de pacote, que são péssimos, ou os refrigerantes. É outro problema de saúde pública: as crianças não bebem água suficiente. Os adolescentes então são uma desgraça. Faz falta também voltar às hortaliças, à fruta, às leguminosas, que são riquíssimas em minerais, vitaminas, têm fibra e a fibra faz com que não se absorva tanta gordura. E isso é até uma forma de manter o nossos intestinos a funcionar. É outro problema actual da infância, a obstipação crónica, às vezes gravíssima. Há crianças que desde quase os dois anos estão dependentes de laxantes. E isso previne-se com mais fibras, com os flocos de pequeno-almoço.

- Todos os flocos são bons?

- São bons aqueles que são menos processados, como os flocos de aveia, e que geralmente, e mais uma vez, são aqueles que as crianças não querem, porque na televisão os que aparecem são os outros açucarados, achocolatados. Nas minhas consultas, e também em casa, adoptei uma mistura: dois terços dos "bons" com um terço dos outros. Os miúdos começam por refilar, mas depois gostam.

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A situação em Portugal é pior que noutros países europeus?

Em termos de tendência, estamos alinhados com os outros. Mas passámos a estar em segundo lugar no que respeita à obesidade infantil. Só a Itália está pior. O que se passa é que nos países do Norte estes pecados foram cometidos mais cedo e agora entraram já na fase da sua resolução. Por cá existe já uma maior consciência, porque os resultados estão à vista, os pais começam a ter os filhos doentes, mas tem que insistir muito mais na sensibilização. Sai mais caro ao Estado corrigir do que prevenir. Há jovens com 20 anos com mais de 100 quilos que têm de colocar uma banda gástrica. E há outros que dispararam para anorexias, depois de serem obrigados a dietas na adolescência. Temos de um lado os que estão a morrer por não se alimentarem e do outro aqueles em que parece que não há nada que os possa conter. Isto é profundamente doentio e reflecte todo um modo de vida.

Há excesso do que faz mal e pouco do que faz bem?

Açúcar a mais, sal a mais, alimentos calóricos a mais e depois as nossas crianças começam a ficar com doenças que antes eram exclusivas dos adultos. Com sequelas para toda a vida. Têm sido estas as nossas prendas para eles. E não se trata só da alimentação, como também do que a acompanha - a falta de exercício físico. Bastam coisas simples para melhorar o estado actual: desistir do elevador, estacionar o carro longe de casa, passear meia hora com os filhos depois da escola e antes de se chegar a casa. O que é bom não só para a saúde física, como para criar um espaço de conversa.

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Alimentação Infantil Uma alimentação infantil equilibrada deve obedecer a regras básicas. Nas crianças muito pequenas, é importante que o aleitamento materno se prolongue até aos 6 meses, pelo menos. A criança deve ingerir sopa de legumes ao almoço e jantar impreterivelmente, comer peixe ou pescado pelo menos uma vez por dia (e de vez em quando peixes gordos, cerca de 2 vezes por semana), 3 peças de fruta, cerca de meio litro de leite ou substitutos e aproximadamente cinco refeições por dia com intervalos de 3 horas e meia. A partir de um ano de idade e até aos dois anos, é importante que faça 4 a 5 refeições por dia que cubram todas as suas necessidades nutritivas. Depois do ano de idade, deve iniciar-se a introdução de verduras cruas sob a forma de salada, tomate, alface, cenoura, entre outros, bem como legumes em purés ou inteiros, por exemplo misturados com arroz, batata ou massa

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