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EXPOSIO OCUPACIONAL A RUDO E TOLUENO

EXPOSIO OCUPACIONAL A RUDO E TOLUENOOS EFEITOS NOCIVOS DA COMBINAO RUDO + TOLUENO

Barregard e Axelsson, em 1984, foram os primeiros a sugerir a possibilidade de uma interao ototraumtica entre rudo e solvente orgnico, aps terem observado que a incidncia de perdas auditivas neurosensoriais era mais elevada que a esperada em trabalhadores expostos a solventes . Eles comentaram que os solventes orgnicos tem reconhecidas propriedades neurotxicas, que podem causar disfunes no sistema nervoso centrale/ perifrico em trabalhadores expostos . Portanto, segundo Barregard e Axelsson ( 1984 ), seria biologicamente plausvel que os solventes pudessem afetar as clulas sensoriais e os terminais nervosos da cclea, e mesmo estruturas retroclocleares . Odkvist e col. ( 1987 ) examinaram trabalhadores expostos a mistura de solventes aromticos a alifticos e encontraram escores mais baixos que os esperados em provas de audiometria de fala distorcida quando comparados a seus limiares tonais . Nos testes de equilbrio tambm foi observada uma performance alterada .Grande parte das informaes hoje disponveis sobre os efeitos do Tolueno sobre a audio e o equilbrio vem dos estudos de caso sobre pessoas que inalavam voluntariamente o solvente ( Grabski, 1962; Knox and Nelson, 1966; Boor e col., 1977;) e de pesquisa feita com animais . Esses estudos provem evidncias de que uma exposio excessiva a Tolueno, por qualquer via de administrao ( oral, inalao ou subcutnea ) pode se acentuar uma perda auditiva; e ainda, em animais, o Tolueno interagiu sinergisticamente com a exposio ao rudo . Alm disso, h indicaes na literatura de que a exposio a Tolueno esta ligada a distrbios do equilbrio .Embora a exposio a Tolueno seja muito comum e diversificada, ela geralmente ocorre combinada com outros produtos qumicos . So raras as situaes que encontramos uma exposio uma exposio a este nico agente qumico .Um dos poucos ramos industriais nos quais observamos a exposio ocupacional ao Tolueno praticamente puro ( 7 a 99% ) o da impresso por rotogravura, aonde encontram-se nveis de vrias centenas de partes por milho ( ppm ) ( Santodonato e col. 1985 ) . devido a esta caracterstica, os trabalhadores de rotogravura so muitas vezes escolhidos para participar de estudos que investigam os efeitos crnicos da exposio a Tolueno . O nico estudo publicado sobre os efeitos do Tolueno sobre o equilbrio foi conduzido por Coscia e col. ( 1983 ). Eles observaram que o equilbrio daqueles impressores expostos a concentraes de Tolueno que variavam de 100 a 110 ppm estavam alterado . Observaram que 30% deles tinham perdas auditivas .O objetivo do presente estudo o de investigar a interao ototraumtica entre rudo e Tolueno, usando testes de audio e o equilbrio de fcil acesso a profissionais de sade .

Material e Mtodo

A fim de investigar a interao acima mencionada, foi escolhido o desenho transversal, quando grupos de trabalhadores de trs divises de uma indstria grfica foram entrevistados e tiveram sua audio e equilbrio testados .

POPULAO

Os critrios para seleo da amostra sexo ( masculino ) e tempo de servio na empresa estudada superior a um ano, em setores de produo .foram selecionados trabalhadores da diviso de Preparao para compor um grupo controle . estes sujeitos no se encontravam expostos a nenhum agente de conhecida ou suspeita ototoxidade . Eles encontram-se identificados por grupo 1 . A idade dos sujeitos do grupo 1 variava de 17 a 55 anos ( mdia = 34.7 anos ) e o tempo de servio na empresa variava d 1 a 25 anos ( mdia=13.1 anos ) .Os trabalhadores que compuseram o grupo 2 foram selecionados da diviso de acabamento, na qual eles se encontravam expostos exclusivamente a rudo . Os resultados das medies de nvel de presso sonora conduzidas neste estudo foram equivalentes aos resultados das medies realizadas anteriormente pela prpria empresa, quando resgistram-se nveis de 88 a 97 dBA de rudo contnuo . As dosimetrias realizadas neste estudo indicavam doses que variavam de 209 a 335% . Foram usados medidores e dosimetros Bruel&Kajer, devidamente calibrados .Os trabalhadores do grupo 2 no encontravam-se expostos a nenhum agente qumico .A idade de seus componentes variava de 22 a 64 anos( mdia=36.1 anos ) e seu tempo de servio de 1 a 24 anos ( mdia=11.6 anos ) .Os trabalhadores do grupo 3 foram selecionados da diviso de impresso de rotugravura . Eles encontravam-se expostos a concentraes excessivas de Tolueno e rudo . Os resultados das medies de nvel de rudo variam de 88 a 98 dBA . Os resultados da dosimetria revelaram doses de 140 a 350% . A idade dos componentes deste grupo variava de 17 a 51 anos ( mdia=32.5 anos ) e o tempo de servio variava de 1 a 23 anos ( mdia=8.1 anos ) . na diviso de rotugravura estudada dois fatores contribuiram para as altas concentraes registradas ( ver tabela I ) .

Um dos fatores responsveis pelas altas concentraes observadas o fato do sistema de ventilao ser desligado quando as prensas o so .Nessas ocasies os nveis de rusdo diminuem, enquanto os nvis de Tolueno aumentam .Outro fator que frequentemente o Tolueno usado para limpeza das prensas . Na Tabela I esto expostos medies retrospectivas e as medies feitas durante o estudo . Medies de Tolueno foram realizadas pela primeira vez em julho de 1978, depois que a indstria substituiu o Xileno pelo Tolueno no processo de impresso . O sistema de ventilao foi instalado em setembro do mesmo ano . Os registros fornecidos pela empresa no especificava a metodologia e o equipamento usado nas medies realizadas . O equipamento utilizado pelo Higienista industrial que realizou as medies para este estudo incluiam tubos de carvo ativado e bombas de ar Dupont, modelo 4000 .

TABELA I : Concentraes de Tolueno na Diviso de Impresso de RotugravuraNveis em ppm / No de amostrasPrensajulho/78Set/78Mar/79Mar/80Mar/90Frankenthal315/2140/5--100/4Cerutti II600/4*240/13200/2370/13*115/2D280/4ECerutti III265/1253/6150/2150/275/3Ceruti IV----100/3Cerutti V----365/8* concentraes acima de 1000 ppm foram observadasD - No lado direito da prensa .E - No lado esquerdo da prensa .

As bombas foram calibradas antes e depois que as avaliaes foram realizadas . As estratgias de amostragem seguiram recomendaes aceitas internacionalmente (NIOSH 1977 ) . Trs amostras foram colhidas por trabalhador em trs dias diferentes . O tempo de coleta foi de , em mdia 6 horas por dia . As amostras foram analisadas por cromatografia . Na tabela I encontramos os resultados obtidos neste estudo na coluna de 1990 .

QUESTIONRIO

Depois de analisar uma srie de questionrio em uso na rea, um novo protocolo foi formulado baseado nos questionrios usados pelo NIOSH e em clnicas audiolgicas . Este inclui dados demogrficos, histrico ocupacional com descrio da funo e de exposio insalubre .

TESTES REALIZADOS

TESTES DE AUDIO - Todos os testes foram realizados po0r fonoaudilogos treinados e supervisionados pela primeira autora . Todos os sujeitos passaram por testes de audiometria tonal nas frquencias de 500, 1000, 3000, 4000, 6000 e 8000 Hz para conduo area . Quando haviam indicaes de perda auditivas condutivas, atravs da otoscopia ou da avaliao da funo de ouvido mdio, realizavam-se audiometria por via ssea nas frequencias afetadas .Os trabalhadores foram testados numa cabine audiomtrica que atenda as especificaes da noema ANSI S3.1 DE 1977 . O audiometro usado foi um MAICO MA41, que foi calibrado eletroacusticamente uma semana antes do incio do processo de coleta de dados, e diariamente antes do incio dos testes, atravs da calibrao biolgica . Os resultados das audiometrias foram classificados nas seguintes categorias : normal, com todos os limiares acima de 25 dBA;perda auditiva neurosensorial nas altas frequencias ( atribuveis a condio amobientais )e, pelerdas auditivas condutivas ou unilaterais, no atribuveis a agentes do ambiente de trabalho .Todos os sujeitos passaram tambm pela avaliao da funo de ouvido mdio a fim de obtermos alguns dados sobre eventual localizao das alteraes encontradas . Este exame incluiu o teste do reflexo acstico e decai do reflexo nas frequencias d 500, 1000 e 2000 Hz por via ipsi e contralateral . Foi utilizado o impedanciometro Interacoustic AZ17, que foi calibrado antes e durante o processo de coleta de dados .

TESTE DE EQUILBRIO

Todos sujeitos passaram por uma triagem de equilbrio que se consistia na aplicao dos seguintes testes clnicos :Past pointing Teste ( Barany, 1910 ); Sharpened Romberg Teste ( Underberger, 1938 )stepping Test ( Fukuda, 1949 ) e Tandem Walking Test . Pela grande variabilidade individual de resultados entre indivduos normais e com alteraes, a perfiormance nestes testes no foi considerada de maneira isolada . Considerou-se falha quando o sujeito apresentava uma pe4formance fraca em pelo menos dois dos cinco testes .

RESULTADOS

Vrios testes estatsticos foram utilizados para analisar os dados atravs do programa de computador Statical Analysis System ( SAS ) . Os resultados so apresentados nas prximas edies .

AUDIOMETRIA TONAL E TIMPANOMETRIA

Os resultados das audiometrias foram classificados como descritos anteriormente . A informao fornecida pela via ssea e timpanometria foi utilizada para classificar as perdas auditivas como condutivas . A Tabela 2 mostra os resultados audiomtricos .A prevelncia das perdas auditivas de altas frequencias ( 53%) observadas no grupo 3 ( exposto a rudo e Tolueno simultaneamente ) foi mais alta que nos outros dois grupos:8% no grupo 1 ( no exposto ) e 26% no grupo 2 ( exposto a rudo ) . Foi realizada uma anlise de varincia multivariada ( MANOVA ) considerando as classificaes audiomtricas e foi observada uma diferena significativa entre os grupos [ Wilks Lambda=0.77804, F( 12,286)=3.19, p=0.0003] . Foram feitas anlises de varincia (ANOVA) subsequentemente para cada uma das classificaes . Quando comparadas as mdias da classificao Audio normal dos trs grupos estudados, foi observado que eles eram significativamente diferentes [ F(2, 148=6.58, p=0.0018] . Contrastes subsequentes indicaram que a mdia de indivduos com audio normal no grupo I era significativamente maior que nos grupos 2 (p=0.04)e 3 ( P=0.0004) .As perdas auditivas nas altas frequencias, atribuveis s condies do ambiente de trabalho, tambm foram examinadas como uma varivel binria ( audio normal x perda auditiva ) atravs da regresso logstica mltipla . Nessa anlise, os casos de perdas auditivas condutivas ou unilaterais somaram-se aos casos de audio normal por no poderem ser atribuveis s condies ambientais .As variveis includas no modelo foram : idade, durao e exposio no ocupacional aos mesmos . A nica varivel que preencheu os critrios para continuar no modelo, alm de grupo, foi a idade . Como a idade e o tempo de exposio so altamente correlacionados, no causa estranheza o fato de tempo de exposio acrescentar to pequeno poder de predio . A tabela 3 apresenta os resultados do modelo de regresso logstica mltipla eleito pelos autores . A razo de risco ( odds ratio ) foi calculada para cada varivel . A probabilidade de desenvolver uma deficincia auditiva nas altas frequencias foi calculada para cada um dos grupo e esta ilustrada na fig. 1 .

MEDIO DE REFLEXO ACSTICO

No presente estudo foram feitas medies do Reflexo Acstico, afim de se obter informaes concernentes ao local da leso das perdas auditivas observadas . As manifestaes analisadas foram : ausncia de reflexo, recrutamento e decay do reflexo. Inicialmente foram realizadas anlises de varincia multivariada considerando as seguintes variveis : grupo, ouvido testado, frequencia do estmulo e modo de estimulao ( ipsi ou contralateralmente ) . Foi observada uma diferena significativa entre os grupos estimulados [ Lambda=0.818, F( 6,2292)=5.13, p=0.0001] . ANOVA subsequente indicaram diferenas significativas entre os grupos no tocante a decay do reflexo [F ( 2.148)=12.87, p=0.0001] . Os contrastes entre os grupos indicaram que a mdia de casos de decay do reflexo no grupo 3 , era significativamente mais elevada que no grupo 1 ( p=0.01) ou grupo 2 (p=0.005) . Foi observada uma interao entre grupo frequencia do estmulo e modo de apresentao [Lambda=0.8086, F(12, 286)=2.67, p=0.002] ( ver fig. 2 ) .

TESTE DE EQUILBRIO

A performance nos testes de equilbrio foi comparada atravs da anlise de varincia e a diferena entre os grupos foi significativa[F(2,148)=13.31, p=0.0001] . Contrastes subsequentes revelaram que a mdia de falhas na bateria de testes de equilbrio no grupo 3 foi significativamente mais elevada que no grupo 1 ( p=0.0001) ou grupo 2 (p=0.0001) ver fig. 3 ) .

Um estudo transversal como o presente no permite uma clara distino entre efeitos crnicos e agudos da exposio do Tolueno sobre equilbrio . Idealmente, deveramos examinar se os efeitos observados seriam revertidos depois do trabalhador estar livre da exposio . entretanto, as observaes descritas sugerem a necessidade de outras pesquisas sobre os efeitos do Tolueno sobre o equilbrio .

DISCUSSO E CONCLUSES

Todas as anlises de associao realizadas indicaram que tanto a exposio exclusiva a rudo, como a exposio simultnea a nveis excessivos de rudo e Tolueno esto estatsticamente associadas a um aumento de casos de perdas auditivas . Os resultados, corrigidos para a idade, indicaram que a exposio a rudo representou um risco de perda auditiva de 4.6 vezes . Quando a exposio a rudo ocorreu simultaneamente a exposio de Tolueno, o risco aumentou dramaticamente para 27.5 vezes . Tanto a anlise de varincia como regresso mltipla indicaram que o grupo exposto aos dois agentes apresentou um nmero significativamente maior de perdas auditivas do que o grupo exposto exclusivamente a rudo . Alm disso, as medies do reflexo acstico indicaram que os grupos estudados so diferentes no que se refere ao local da leso no sistema auditivo ( ver resultados de decay do reflexo ) . Esse achado refora a afirmao de dkvist e colaboradores( 1987) que a audiometria tonal pode no ser um procedimento adequado para se avaliar os efeitos dos solventes sobre a audio . Os resultados da triagem de equilbrio indicaram que a exposio a Tolueno pode tambm alterar a funo de equilbrio em trabalhadores e que, este aspecto merece ser investigado com maior profundidade .

At hoje, os agentes agressivos no ambiente de trabalho e seus efeitos tem sido comumente estudados de maneira isolada . Os Limites de Tolerncia recomendados para estes agentes no levam em considerao as exposies simultneas , como no caso de rudo e produtos qumicos . O problema de interaes ototraumticas entre agentes citados ainda no foi estudado profundamente, embora represente um risco que pode atingir populaes muito numerosas . Os dados do presente estudo indicam que a perspectiva de estudo dos efeitos combinados aos agentes ambientais deve merecer maior ateno para que possamos planejar medidas adequadas de proteo aos trabalhadores .TEXTO EXTRADO DA REVISTA ACSTICA & VIBRAES JUNHO DE 1993 .REVISTA DA SOCIEDADE BRASILEIRA DE ACSTICA - SOBRACUFSC / EMC / LVA - CAMPUS UNIVERSITRIOCXA POSTAL 476 - CEP : 88040 - 900 - FLORIANPOLIS - SCATT : PROF SAMIR N.Y. GERGES, Ph.D