TocaNews 10, de Abril de 2010

11
1 Boletim Informativo das Pesquisas de Paleotocas na Região Metropolitana de Porto Alegre Número 10 – Abril de 2010 Site: www.ufrgs.br/paleotocas Distribuição Dirigida Responsável: Prof. Heinrich Frank Contato: [email protected] Fone: 51.30320382 EDITORIAL A pesquisa de paleotocas nestes dois meses desde o último Boletim continuou e esteve em uma excelente fase. Mesmo assim, há muito por fazer. Neste sentido, há uma avaliação no texto a seguir “Estamos apenas começando”. Boa leitura. ESTAMOS APENAS COMEÇANDO A pesquisa de paleotocas na Região Metropolitana de Porto Alegre já tem quase dois anos de duração, mas três episódios nestes últimos meses mostraram que estamos apenas começando. Primeiro a notícia do Jornal NH, comentada mais adiante neste TocaNews. Uma simples notícia de jornal fez com que várias pessoas nos ligassem. Em função destas informações novas, encontramos, de imediato, quatro paleotocas novas. Isso mostra que deve haver muitas por aí ainda – falta achar. Em segundo lugar, as “cavernas” apresentadas na próxima página. Estão perto, são bem conhecidas pelos vizinhos, são visitadas há décadas por curiosos e até por ônibus com estudantes, mas só agora o Projeto Paleotocas conseguiu saber de sua existência. Finalmente, a paleotoca do Rincão Gaúcho, apresentada mais abaixo. Simplesmente circulando de carro em um bairro de Estância Velha, inspecionando barrancos com o carro a 40 km/h, identificamos esta paleotoca – ninguém que mora e trabalha ali se deu conta de que ela não era apenas um “buraco”, mas uma paleotoca importante. E gente é o que não falta no local – tem um Posto de Saúde e uma Escola. Portanto, estamos apenas começando. O desafio é achar as muitas paleotocas que estão espalhadas por aí. Abertas e plenamente visíveis, mas ignoradas. Para estudá-las e publicar os resultados das pesquisas. CAMPANHA DE MÍDIA ALCANÇA OBJETIVOS As sucessivas matérias publicadas nos jornais ao longo do último ano estão tornando o assunto “paleotocas” mais popular, o que pode ser medido pelo número de páginas na Internet que abordam o assunto. Em abril de 2009, apenas um ano atrás, a procura pelo termo “paleotocas” no mecanismo de busca Google localizava apenas 12 páginas. Hoje em dia o número subiu para quase 1.000, uma consciência coletiva importante para localizar mais paleotocas. FUNGOS DE PALEOTOCAS PODEM SER PERIGOSOS Os fungos coletadas pela equipe do Instituto de Biotecnologia da UFRGS já passaram por cultivo, extração do DNA e identificação. Dois fungos foram identificados. Um fungo é uma levedura e é inofensivo. O segundo, entretanto, é um Trichoderma e pode sim causar infecção pulmonar se a pessoa estiver com seu sistema imunológico comprometido. Este resultado justifica os cuidados que se tem ao entrar em paleotocas, usando máscaras cirúrgicas.

Transcript of TocaNews 10, de Abril de 2010

Page 1: TocaNews 10, de Abril de 2010

1

Boletim Informativo das Pesquisas de Paleotocas na Região Metropolitana de Porto Alegre Número 10 – Abril de 2010 Site: www.ufrgs.br/paleotocas Distribuição Dirigida Responsável: Prof. Heinrich Frank Contato: [email protected] Fone: 51.30320382

EDITORIAL A pesquisa de paleotocas nestes dois meses desde o último Boletim continuou e esteve em uma excelente fase. Mesmo assim, há muito por fazer. Neste sentido, há uma avaliação no texto a seguir “Estamos apenas começando”. Boa leitura.

ESTAMOS APENAS COMEÇANDO A pesquisa de paleotocas na Região Metropolitana de Porto Alegre já tem quase dois anos de duração, mas três episódios nestes últimos meses mostraram que estamos apenas começando. Primeiro a notícia do Jornal NH, comentada mais adiante neste TocaNews. Uma simples notícia de jornal fez com que várias pessoas nos ligassem. Em função destas informações novas, encontramos, de imediato, quatro paleotocas novas. Isso mostra que deve haver muitas por aí ainda – falta achar. Em segundo lugar, as “cavernas” apresentadas na próxima página. Estão perto, são bem conhecidas pelos vizinhos, são visitadas há décadas por curiosos e até por ônibus com estudantes, mas só agora o Projeto Paleotocas conseguiu saber de sua existência. Finalmente, a paleotoca do Rincão Gaúcho, apresentada mais abaixo. Simplesmente circulando de carro em um bairro de Estância Velha, inspecionando barrancos com o carro a 40 km/h, identificamos esta paleotoca – ninguém que mora e trabalha ali se deu conta de que ela não era apenas um “buraco”, mas uma paleotoca

importante. E gente é o que não falta no local – tem um Posto de Saúde e uma Escola. Portanto, estamos apenas começando. O desafio é achar as muitas paleotocas que estão espalhadas por aí. Abertas e plenamente visíveis, mas ignoradas. Para estudá-las e publicar os resultados das pesquisas.

CAMPANHA DE MÍDIA ALCANÇA OBJETIVOS

As sucessivas matérias publicadas nos jornais ao longo do último ano estão tornando o assunto “paleotocas” mais popular, o que pode ser medido pelo número de páginas na Internet que abordam o assunto. Em abril de 2009, apenas um ano atrás, a procura pelo termo “paleotocas” no mecanismo de busca Google localizava apenas 12 páginas. Hoje em dia o número subiu para quase 1.000, uma consciência coletiva importante para localizar mais paleotocas.

FUNGOS DE PALEOTOCAS PODEM SER PERIGOSOS

Os fungos coletadas pela equipe do Instituto de Biotecnologia da UFRGS já passaram por cultivo, extração do DNA e identificação. Dois fungos foram identificados. Um fungo é uma levedura e é inofensivo. O segundo, entretanto, é um Trichoderma e pode sim causar infecção pulmonar se a pessoa estiver com seu sistema imunológico comprometido. Este resultado justifica os cuidados que se tem ao entrar em paleotocas, usando máscaras cirúrgicas.

Page 2: TocaNews 10, de Abril de 2010

2

A CAVERNA QUE ATRAVESSA O MORRO No Bairro Rincão Gaúcho, em Estância Velha, existe uma “caverna que atravessa o morro”. Ouvimos a história e resolvemos conferir. Será que é uma paleotoca ? Achamos a “caverna” na segunda tentativa, devidamente guiados e acessando o morro pelo Norte. É um paredão de pedra-grês (arenito Botucatu) que apresenta na base uma fratura em forma de arco. O arco possui uma largura de 6 a 8 metros e forma um vão com no máximo 80 cm de altura. Realmente, 30 ou 40 metros adiante, sai no outro lado do morro. O topo é liso porque caíram placas de arenito. No piso, uma espessa camada de areia e poeira com um rastro bem definido de cobra ... Mas é uma “caverna”, não é uma paleotoca.

AS CAVERNAS DO CURTUME BENDER “Tu já conhece os buracos do Bender?”. Partindo desta pergunta, visitamos a área do Curtume Bender na saída Norte da cidade de Estância Velha. Perguntando moradores mais antigos, foi fácil encontrar as cavernas.

No meio da mata, na base de um paredão de pedra-grês (arenito Botucatu) com 6 a 8 metros de altura, há dois buracos retangulares, lado a lado, de tamanho praticamente idêntico: 4 metros de largura, 4 metros de profundidade e 2 metros de altura. Entre eles sobrou uma parede de pedra-grês com 80 cm de espessura, com uma abertura redonda de 30 cm que permite ver de uma caverna a outra. As paredes estão riscadas e pichadas e havia bastante lixo no chão. Na região, as cavernas são bem conhecidas há décadas, visitadas inclusive por escolares que vem de ônibus escolar, guiados pelas professoras. Numa ocasião uma pessoa morou nelas por dois meses. São paleotocas? Não. São cavidades naturais? Dificilmente. As “cavernas” são regulares demais para terem sido abertas por processos naturais. Cavernas feitas pelos índios? Muito improvável. A forma das cavernas e o grande volume escavado, 64 m3 de pedra-grês, sugerem que não foram os índios. Resta a possibilidade das cavernas terem sido escavadas por um colono, muito tempo atrás. Mas para que?

Aspecto da entrada da “caverna”, atrás do guia.

A “caverna”: a seta indica o ponto da saída da “caverna” no outro lado do morro.

Page 3: TocaNews 10, de Abril de 2010

3

NOVO FOLHETO DE DIVULGAÇÃO Depois de vários meses usando o mesmo folheto de divulgação, nova versão se fez necessária, enfatizando um aspecto que deixa muitas pessoas com receio de comunicar paleotocas – o medo de que a propriedade com a paleotoca seja tombada ou interditada. Desta forma, o novo folheto tem o seguinte formato:

Page 4: TocaNews 10, de Abril de 2010

4

Matéria sobre paleotocas no Jornal NH

Encaminhamos, através da jornalista Gabriela, uma matéria ao Jornal NH para investigar especificamente as paleotocas de Lindolfo Collor. Ouvimos um relato a respeito destas paleotocas, mas não tínhamos nenhuma pista para começar a procurar. Mais ainda: ouvimos que as entradas destas paleotocas foram tampadas porque se imaginava que eram estruturas indígenas. O retorno da matéria foi estupendo: não apenas recebemos a comunicação de um paleotoca em Lindolfo Collor, mas também de uma paleotoca em Lomba Grande (Novo Hamburgo) e de outras duas em São José do Hortêncio. No dia em que verificamos estas ocorrências encontramos mais uma paleotoca em Estância Velha, no Bairro Rincão Gaúcho, e mais outra em Lindolfo Collor. Assim, reproduzimos abaixo a matéria publicada que nos fez encontrar tantas paleotocas.

Page 5: TocaNews 10, de Abril de 2010

5

Matéria sobre paleotocas no Jornal da UFRGS

.

A reportagem pode ser conferida na homepage da Universidade, em

http://www.ufrgs.br/comunicacaosocial/jornaldauniversidade/ . Como o público do jornal envolve

mais de 2.000 professores e mais de 20.000 alunos, há uma expectativa grande sobre o retorno da

reportagem em termos de comunicações de paleotocas.

A reportagem

feita com a equipe do

Jornal da Universidade

Federal do Rio Grande

do Sul em dezembro

de 2009 foi publicada

na edição de março

2010.

Saiu muito

maior do que

imaginada – ocupa

uma página inteiro do

jornal, com chamada

na capa.

Com o exótico

título dado pela

jornalista - “As

descobertas do

homem-tatu” –

certamente vai chamar

a atenção das pessoas

e cumprir o seu papel:

fazer com que pessoas

comuniquem

prováveis paleotocas à

equipe do Projeto

Paleotocas, para que

possam ser estudados.

Page 6: TocaNews 10, de Abril de 2010

6

NOVAS ESTRUTURAS - 1 No TocaNews no 7, à página 5, foi descrito uma nova ocorrência de paleotocas entulhadas (crotovinas) encontrada em um corte feito em um loteamento em implantação em Campo Bom, o Loteamento Fauth. Da coxilha foi retirado um grande volume de terra e, no paredão assim criado, estavam várias crotovinas – contamos 9 naquela ocasião. Acompanhamos o andamento da implantação do loteamento e constatamos que surgiram muito mais crotovinas. Uma nova contagem mostrou que no momento há pelo menos 25 crotovinas neste corte. É um recorde. O mais interessante é que neste caso os túneis foram cortados não apenas perpendicularmente ao comprimento, mas também obliquamente ao comprimento, mostrando o túnel original e seu preenchimento com argilas e blocos de pedra grês desabados do teto do túnel. O local ficou muito mais interessante e vai exigir um trabalho de detalhe adicional. Este flanco de coxilha deve ter sido um ótimo lugar para os animais que escavaram estes túneis: muito sol de manhã, seguro, com água por perto e sem perigo de inundações. Provavelmente muitas gerações de animais viveram ali. Cada geração construía alguns túneis e abandonava outros e nós estamos encontrando os restos destas estruturas. É um lugar que conta a pré-história da região.

Acima, um túnel preenchido com areias e argilas e que foi seccionado obliquamente ao comprimento, mostrando seu preenchimento, uma estrutura muito bonita e difícil de encontrar. À direita, uma crotovina clássica, formada por um túnel seccionado perpendicularmente ao comprimento. No seu preenchimento, percebem-se nitidamente duas fases: na base, um material mais claro; acima, um material mais escuro com fragmentos da rocha da coxilha.

Page 7: TocaNews 10, de Abril de 2010

7

NOVAS ESTRUTURAS - 2 Uma das paleotocas encontradas graças à matéria do Jornal NH de 11/03/10 está em Lomba Grande. Trata-se da “Gruta do Eco Parque”. O Eco Parque é uma estrutura de lazer muito bem montada em Lomba Grande que possui uma homepage de divulgação: www.ecoparque.com.br. Na área há as ruínas de um antigo curtume, fechado em 1948, cujo abastecimento de água provinha da gruta, porque a gruta drena a água subterrânea da coxilha e não seca mesmo em verões tórridos. A nossa inspeção revelou que a “gruta” é uma paleotoca com pouco mais de 10 metros de comprimento, com a forma típica de uma paleotoca, marcas de garra nas paredes, algumas feições de colapso do teto e vários animais (aranhas, grilos, etc.). A água e a lama no piso da paleotoca vão exigir uma drenagem prévia para seu estudo, mas já está combinado com o proprietário do Parque um trabalho de investigação e a colocação de um painel mostrando fotos do interior da paleotoca. A partir desta paleotoca, fomos informados de uma outra que existe próxima ao local. Fomos conversar com o Sr. Ênio Haubrich que nos levou prontamente a essa nova “caverna”. Trata-se de uma paleotoca que surge na base da coxilha, em meio a árvores, a apenas 50 metros da paleotoca do Ecoparque. Como ela drena toda a água da coxilha e não seca nunca, foi construída uma caixa d´água na entrada e, anos atrás, a água abastecia o Colégio que existe na cidade. É uma paleotoca com pelo menos 10 metros de comprimento. Para entrar, precisamos limpar a área um pouco, drenar a água e aguardar secar. É um trabalho para o futuro próximo.

À esquerda: Aspecto geral da “gruta do Eco Parque”, uma magnífica paleotoca aberta há muitas décadas.

À esquerda: O perfil do túnel não deixa margem a dúvidas – trata-se de um paleotoca típica. Como a água no fundo da paleotoca é límpida, o teto se reflete na água e a toca aparenta ter uma base côncava, mas o piso na realidade é reto.

O Sr. Ênio durante a visita à paleotoca. Bem à esquerda na imagem, a paleotoca fica em meio às árvores.

Page 8: TocaNews 10, de Abril de 2010

8

NOVAS ESTRUTURAS - 3 A equipe do Projeto Paleotocas recebeu o auxílio de Inácio Weber para a localização de uma possível paleotoca em Lindolfo Collor. Subimos um morro onde havia antigamente uma pedreira de pedra-grês e, andando pelo meio da mata, encontramos o local. Trata-se de um paredão de pedra-grês (arenito Botucatu) com mais de 8 metros de altura no qual existe, a um metro do solo, um buraco com a forma de um ovo (elipsóide). Sua profundidade é de 1,8 metros, sua largura de 1,5 metros e sua altura de 1,3 metros. As paredes são lisas, sem marca nenhuma. Na entrada havia uma enorme colméia de abelhas nativas que hoje, entretanto, está destruída. Mesmo sem sinais evidentes de que se trata de uma paleotoca, fica muito difícil explicar a origem do buraco por causas naturais, geológicas. Em certas ocasiões formam-se buracos deste tipo abaixo e atrás de cachoeiras, mas no local não há nenhum sinal de uma cachoeira em épocas remotas. Em função disso, é mais provável que o buraco tenha sido, inicialmente, uma paleotoca.

Aspecto geral do paredão de pedra-grês e do buraco ali existente.

Page 9: TocaNews 10, de Abril de 2010

9

NOVAS ESTRUTURAS - 4 Também motivado pela matéria no Jornal NH, telefonou-nos o Sr. Josoé Amorim, de Lindolfo Collor. Visitamos a sua propriedade e tomamos conhecimento de uma história incrível. Na propriedade dele, formada por pedra-grês (arenito Botucatu), havia uma área aos pés de um barranco em que ele plantava aipim. Nesta área havia um ponto permanentemente úmido. Quando ele resolveu construir ali a sua casa, contratou uma retroescavadeira para alinhar o barranco. Durante os trabalhos, a retro subitamente afundou um pouco e o operador da retro se apavorou, porque surgiu um buraco na sua frente. Apareceu um túnel com um diâmetro de um metro, cheio de água (Foto 1), que foi esgotado com uma bomba. Curioso, Josoé foi até o fim e tirou uma foto do final (Foto 2), onde se via grandes sulcos na parede do túnel. Como o túnel encheu novamente com água, a solução encontrada foi usa-lo como poço. Assim foi construída uma torre com uma caixa d´água na boca do túnel, com uma bomba que tira água do túnel (Foto 3). O acesso ao túnel, hoje cheio de água, dá-se por dentro da torre, onde há um buraco na parede. Deve ser o único poço horizontal do mundo! A análise da Foto 2 permite concluir que o túnel é uma espetacular paleotoca, inteiramente preservada, sem desabamentos nem entupimentos, com as características grandes marcas de garra nas paredes. Com mais de 20 metros de comprimento, é uma feição muito interessante, cujo estudo precisa ser feito criteriosamente.

Foto 1 – Aspecto da obra, com o barranco escavado e a paleotoca aparecendo, já com a bomba de água instalada para seu esgotamento.

Foto 2 – O túnel possui 21 metros de comprimento. Na imagem, o duto amarelo é a mangueira de ar usada durante a medição da paleotoca..

Foto 3 – Vista da caixa d´água com a abertura através da qual se tem acesso à paleotoca que hoje forma o único poço horizontal do mundo.

Page 10: TocaNews 10, de Abril de 2010

10

NOVAS ESTRUTURAS - 5 Outra ocorrência comunicada em função da notícia publicada pelo Jornal NH está na localidade de Capela do Rosário, no interior de São José do Hortêncio, onde todos os moradores conhecem as duas paleotocas na propriedade do Sr. Führ. Mais uma vez, Inácio Weber foi o nosso guia. Na propriedade dos Führ fomos recebidos cordialmente pelo Paulo Führ, que nos levou até as cavernas, conhecida há muitos anos e de onde corre água que abastece um açude. A primeira é uma maravilhosa paleotoca com pouco mais de 20 metros de comprimento e com um diâmetro superior a um metro. A base está erodida e é um tanto quanto irregular, mas mais ao fundo aparecem centenas de marcas de garra nas paredes. As características destas marcas são muito diferentes das marcas encontradas nas paleotocas de Novo Hamburgo, mostrando que foram feitas por um outro tipo de animal.

À esquerda: a entrada da paleotoca fica em uma pastagem e tem quase 1,5 metro de altura.

À esquerda: finalmente, no fundo da paleotoca, as paredes cobertas de marcas de garra curtas e estreitas.

A outra paleotoca é um “salão”! Trata-se de um buraco enorme na pedra grês (arenito Botucatu), com mais de 2 metros de largura, uma altura que chega a 3,5 metros e uma profundidade de mais de 10 metros. Com a terra desabada na entrada formando um dique, acumulou quase um metro de água na caverna e tivemos que molhar botas e calças durante a visita. Trata-se de um resto de paleotoca cujo teto foi desabando ao longo dos tempos, com a areia desabada sendo carregada para fora da toca pela água que escorre pelo fundo. Já vimos este processo em outras ocorrências. O piso é aprofundado pela água, que também retira a areia. E o buraco só aumenta. Teto e paredes originais, com as marcas de garra, já não existem mais. É apenas um buraco que, entretanto, confirma o que já publicamos: paleotocas normalmente ocorrem juntas. Onde tem uma, deve ter mais. A distância entre esta paleotoca e a outra (“Novas Estruturas – 5”) é de apenas 70 metros, e pode existir mais uma toca na área.

Page 11: TocaNews 10, de Abril de 2010

11

NOVAS ESTRUTURAS – 6 Estávamos à procura da “Caverna do Rincão Gaúcho”, no Bairro Rincão Gaúcho em Estância Velha, quando passamos em frente do Posto de Saúde e Escola Infantil que existe no local. Em frente aos prédios o terreno foi escavado e, no corte assim exposto, vimos de relance um pequeno buraco. Fizemos meia volta com os carros e fomos olhar. É claro que é uma paleotoca ! Uma daquelas de diâmetros menores. Cheia de garrafas e de cacos de vidro, pedras, pedaços de tijolos, taquaras, sarrafos e muito lixo deste tipo, jogado para dentro ao longo dos anos pelas crianças que brincam no pátio e pela gurizada do bairro. No meio disso tudo, aranhas, opiliões, uma rã, lesmas e outros bichos. Voltamos outro dia com mais calma e disposição e limpamos o buraco, o que deu muito trabalho. Depois fizemos um programa de divulgação completo com a equipe do Posto de Saúde e da Escola, distribuímos folhetos às crianças e aos freqüentadores. Trata-se de um resto de paleotoca com três metros de comprimento, 70 a 80 cm de largura e 50 cm de altura. A orientação é Azimute 110 graus. Nas paredes, além de limo, poucas feições que lembram marcas, nada muito definido. A paleotoca é baixa e é muito difícil conseguir boas imagens de dentro. Mas é um importante indicador de freqüência e vai integrar nosso Banco de Dados como uma das paleotocas de diâmetros menores, que contrastam com as grandes, com mais de um metro de diâmetro. Quem escavou os dois tipos de paleotocas? Espécies de tatus gigantes diferentes? Outros tipos de bichos? Machos maiores e fêmeas menores? Adultos e filhotes? Quem sabe ...

Vista da paleotoca do Rincão Gaúcho. O túnel entra perpendicularmente ao corte para dentro da coxilha.

Aspecto do interior da paleotoca do Rincão Gaúcho. Apresenta a forma típica de uma paleotoca, mas nas paredes não se observa marcas de garra.