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GUIA TCNICO AMBIENTAL TINTAS E VERNIZES - SRIE P+L

Vernizes

Tintas

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GOVERNO DO ESTADO DE SO PAULO Cludio Lembo - Governador SECRETARIA DO MEIO AMBIENTE Jos Goldemberg - Secretrio CETESB - COMPANHIA DE TECNOLOGIA DE SANEAMENTO AMBIENTAL Otvio Okano - Diretor Presidente Alar Lineu Ferreira - Diretor de Gesto Corporativa Joo Antnio Fuzaro - Diretor de Controle de Poluio Ambiental Lineu Jos Bassoi - Diretor de Engenharia, Tecnologia e Qualidade Ambiental

Federao das Industrias do Estado de So Paulo- FIESP Paulo Skaf Presidente

- 2006 -

- 2007 -

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Diretoria de Engenharia, Tecnologia e Qualidade Ambiental Lineu Jos Bassoi Depto. de Desenvolvimento, Tecnologia e Riscos Ambientais Angela de Campos Machado Diviso de Tecnologias Limpas e Qualidade Laboratorial Meron Petro Zajac Setor de Tecnologias de Produo mais Limpa Flvio de Miranda Ribeiro Coordenao Tcnica Angela de Campos Machado Flvio de Miranda Ribeiro Meron Petro Zajac

Federao das Indstrias do Estado de So Paulo - FIESP Departamento de Meio Ambiente - DMA Nelson Pereira dos Reis Diretor Titular Arthur Cezar Whitaker de Carvalho Diretor Adjunto Nilton Fornasari Filho Gerente Coordenao do Projeto Srie P+L Luciano Rodrigues Coelho - DMA Elaborao Eng Hlio Tadashi Yamanaka EngFbio Saad Barbosa Flint Group Eng Neliane L. S. Bettiol Sherwin Williams Diviso Automotiva Bel. Renata M. Mariano Tamdjian- Montana Qumica S.A Bel. Jorge Fazenda - ABRAFATI Bel. Gisele Bonfim - ABRAFATI Tecnlogo Fernando Furlaneti Tupahue Eng Luis Eugnio P. Silva SunChemical Bel. Jaime Martins Sherwin Williams Bel. Airton Sicolin Sitivesp Bel. Ricardo Beger Afam Tec / Sitivesp Apoio ABITIM ABRAFATI DMA-FIESP SITIVESP

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PALAVRA DO PRESIDENTE DA CETESB

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Em prosseguimento aos documentos da Srie P + L, anteriormente lanados, referentes aos setores de Bijuterias, Cerveja e Refrigerantes, Cosmticos, Curtumes e Sucos Ctricos, com renovada satisfao que apresentamos mais um conjunto de guias ambientais, desta vez abordando os setores de Abate (Bovino e Suno), Graxarias, Industrializao de carne, Cermicas, Produtos Lcteos e Tintas e Vernizes. Esta iniciativa, fruto da parceria da CETESB com o setor produtivo, refora o intuito de apoiar o trabalho preventivo que as indstrias paulistas tm realizado, buscando a minimizao de resduos na fonte, evitando ou reduzindo assim o consumo de recursos e a necessidade de tratamento e destinao final. A adoo da P+L como uma poltica institucional das empresas, com tratamento efetivo da questo como um sistema de gesto, ao invs da adoo de aes pontuais, pode trazer resultados ambientais satisfatrios de forma contnua e perene. Estes devem ser avaliados periodicamente por intermdio de indicadores como a produtividade, reduo do consumo de matrias-primas e recursos naturais, diminuio do passivo ambiental, reduo da carga de resduos gerados nas plantas produtivas e reduo/ eliminao da utilizao de substncias txicas. Obtendo-se resultados positivos na anlise dos indicadores citados anteriormente, estes se refletiro na reduo de riscos para a sade ambiental e humana, alm de trazer benefcios econmicos para o empreendedor, contribuindo sobremaneira para a imagem empresarial, com melhoria na sua competitividade. Esperamos assim que as trocas de informaes iniciadas com estes documentos proliferem e desenvolvam-se, gerando um maior e mais maduro grau de intercmbio do setor produtivo com o rgo ambiental, reunindo esforos rumo soluo de um problema de todos ns: adequar-se ao desafio do desenvolvimento sustentvel sem comprometer a sustentabilidade dos negcios. Certo de que estamos no rumo acertado, deixamos por fim nossos votos de bom trabalho queles que forem implementar as medidas aqui propostas, lembrando que estes documentos so o incio de um processo, do qual esperamos outras empresas e setores participem, e no um fim em si mesmos.

Otvio Okano Diretor- Presidente da CETESB

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PALAVRA DO PRESIDENTE DA FIESP

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Produo mais limpa, pas mais desenvolvido! Os Guias Tcnicos de Produo Mais Limpa, com especificidades e aplicaes nos distintos segmentos da indstria, constituem preciosa fonte de informaes e orientao para tcnicos, empresrios e todos os interessados na implementao de medidas ecologicamente corretas nas unidades fabris. Trata-se, portanto, de leitura importante para o exerccio de uma das mais significativas aes de responsabilidade social, ou seja, a defesa do meio ambiente e qualidade da vida. Essas publicaes, frutos de parceria da Federao das Indstrias do Estado de So Paulo (Fiesp) e a Companhia de Tecnologia de Saneamento Ambiental (Cetesb), contribuem muito para que as indstrias, alm do devido e cvico respeito aos preceitos da produo mais limpa, usufruam a conseqente economia de matrias-primas, gua e energia. Tambm h expressivos avanos quanto eliminao de materiais perigosos, bem como na reduo, no processo produtivo, de quantidades e toxicidade de emisses lquidas, gasosas e resduos. Ganham as empresas, a economia e, sobretudo, a sociedade, considerando o significado do respeito ao meio ambiente e ao crescimento sustentvel. A Cetesb, referncia brasileira e internacional, aloca toda a sua expertise no contedo desses guias, assim como os Sindicatos das Indstrias, que contribuem com informaes setoriais, bem como, com as aes desenvolvidas em P+L, inerentes ao segmento industrial. Seus empenhos somam-se ao da Fiesp, que tem atuado de maneira pr-ativa na defesa da produo mais limpa. Dentre as vrias aes institucionais, a entidade organiza anualmente a Semana do Meio Ambiente, seminrio internacional com workshops e entrega do Prmio Fiesp do Mrito Ambiental. Visando a estimular o consumo racional e a preservao dos mananciais hdricos, criou-se o Prmio Fiesp de Conservao e Reso da gua. Sua meta difundir boas prticas e medidas efetivas na reduo do consumo e desperdcio. A entidade tambm coopera na realizao do trabalho e responsvel pelo subcomit que dirigiu a elaborao da verso brasileira do relatrio tcnico da ISO sobre Ecodesign. Por meio de seu Departamento de Meio Ambiente, a Fiesp intensificou as aes nesta rea. Especialistas acompanham e desenvolvem aes na gesto e licenciamento ambiental, preveno e controle da poluio, recursos hdricos e resduos industriais. Enfim, todo empenho est sendo feito pela entidade, incluindo parcerias com instituies como a Cetesb, para que a indstria paulista avance cada vez mais na prtica ecolgica, atendendo s exigncias da cidadania e dos mercados interno e externo.

Paulo SkafPresidente da Fiesp

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PALAVRA DO PRESIDENTE DA ABRAFATI

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As tintas e o meio ambiente A indstria de tintas tem feito grande progresso em suas atividades de proteo do meio ambiente. Atravs de seminrios especficos sobre o assunto, de palestras em congressos, de cursos e eventos tcnicos do setor, somados ao Programa Coatings Care - Responsbilidade em Tintas, administrado por esta entidade. O assunto tem sido constantemente divulgado, criando uma conscientizao nos empresrios e dirigentes de empresas. Como conseqncia, a formulao das tintas, o seu manuseio e transporte, as instrues para os pintores, aplicadores e usurios finais visam sempre a melhoria do meio ambiente e o cuidado com a segurana e a sade de todos os envolvidos. A publicao do GUIA TCNICO DE PRODUO MAIS LIMPA, que uma ferramenta valiosa para os fabricantes de tintas administrarem sua atividade industrial, vem se somar s outras iniciativas j existentes, em uma visvel demonstrao de comprometimento das entidades envolvidas. A CETESB e a FIESP esto de parabns pela criao deste programa. O SITIVESP, e a ABITIM pelo aporte de experincia com os produtos que representam. Alm de contribuir com a proteo do meio ambiente, a observao das prticas descritas neste guia propicia ao usurio a oportunidade de operar sua fbrica com sensveis economias de matrias primas, energia, gua e diminuio de efluentes e resduos slidos. A ABRAFATI, consciente de sua responsabilidade social, participou juntamente com as entidades acima neste importante projeto, na certeza de que o desenvolvimento setorial para o qual luta, somente ter valor se for ambientalmente sustentvel. O Guia Tcnico de Produo Mais Limpa em muito contribuir com a realizao desses objetivos. Colocamos a ABRAFATI disposio dos leitores para discutir as prticas deste guia e qualquer outro aspecto referente aos aspectos ecolgicos, de segurana e de sade relacionados com as tintas.

Dilson FerreiraPresidente Executivo da ABRAFATI - Associao Brasileira dos Fabricantes de Tintas

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PALAVRA DO PRESIDENTE DO SITIVESP

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A importncia do guia ambiental para a indstria de tintas Atravs de uma parceria importante das entidades representativas da rea de tintas, Sitivesp, Abrafati e Abitim, juntamente com a Fiesp e a Cetesb, foi formulado um guia tcnico de produo mais limpa, objetivando levar ao nosso segmento econmico maior segurana, menor desperdcio de insumos e prticas de gesto ambiental mais atualizadas. Agradecemos s empresas do nosso setor e seus tcnicos que propiciaram um avano tecnolgico e ambiental considervel e certamente o trabalho de atualizao e reformulao tornar-se- mais rpido e produtivo doravante.

Roberto FerraiuoloPresidente do Sitivesp - Sindicato da Indstria de Tintas e Vernizes do Estado de So Paulo

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Sumrio

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INTRODUO .................................................................................................................................. INTRODUO.......................................................................................................................................

. PERFIL DO SETOR.............................................................................................................................2 PERFIL DO SETOR........................................................................................................................ 2. DESCRIO DOS PROCESSOS PRODUTIVOS .........................................................................2 DESCRIO DOS PROCESSOS PRODUTIVOS ....................................................................2 2.. Matrias-primas ................................................................................................................... 2. Produo de Sebo / Gordura e de Farinhas de Carne e/ou de Ossos ............27 2.. Resinas de Farinha de Sangue .................................................................................2 2.2 Produo.................................................................................................................................. 2..2 Pigmentos Sebo / Gordura e de Adubo Organo-Mineral a partir de Ossos... 2 2. Produo de ........................................................................................................................... 2..4 Solventes............................................................................................................................... 2.4 Processos de Limpeza e Higienizao....................................................................... 2.. Aditivos Auxiliares e de Utilidades ..........................................................................6 2. Processos.................................................................................................................................. 2.2. Processo de Fabricao .....................................................................................................4 2.2.. Tintas para Revestimentos - Base Solvente ...........................................................4 . ASPECTOS E IMPACTOS AMBIENTAIS .................................................................................. 2.2.2. Produo de vernizes .................................................................................................... 6 . Consumo de gua............................................................................................................40 2.2.. Tintas para revestimentos - Base gua ....................................................................6 .2 Consumo de Energia .......................................................................................................4 2.2.4. Tinta em P .......................................................................................................................... . Uso de Produtos Qumicos............................................................................................4 2.2..Tinta para impresso .......................................................................................................40 .4 Efluentes Lquidos ............................................................................................................4 .4. Aspectos e Dados Gerais ............................................................................................4 . ASPECTOS E IMPACTOS AMBIENTAIS .......................................................................................4 .4.2 Processos Auxiliares e de Utilidades ......................................................................44 . Principais Insumos ................................................................................................................44 .4. Tratamento dos Efluentes Lquidos de Graxarias ..............................................44 .2 Principais interferncias do meio ....................................................................................4 . Resduos Slidos ...............................................................................................................4 .2. Emisses atmosfricas ....................................................................................................4 .6 Emisses Atmosfricas e Odor ....................................................................................46 .2.2 Efluentes lquidos ..............................................................................................................4 .7 Rudo .....................................................................................................................................4 .2. Resduos ................................................................................................................................4 4. MEDIDAS DE PRODUO MAIS LIMPA (P+L) ........................................................................ 4. MEDIDAS DE PRODUO MAIS LIMPA (P+L) ................................................................... 4. Uso Racional de gua ..................................................................................................... 4.2 Minimizao dos Efluentes Lquidos e de sua Carga Poluidora ......................4 ANEXOS ...................................................................................................................................................6 4. Uso Racional deLegislao .................................................................................................64 Anexo - Normas e Energia.................................................................................................6 4.. Fontes Alternativas de Energia.................................................................................7 Anexo 2 - Segurana no Manuseio de Produtos usados na fabricao de Tintas e 4.4 Gerenciamento dos Resduos Slidos....................................................................... Vernizes ............................................................................................................................................66 4. Minimizao de Emisses Atmosfricasnade Odor.............................................. Anexo Indicadores Ambientais Utilizados e Indstria ............................................6 4.. Substncias Odorferas ...............................................................................................60 4..2 Material Particulado e Gases .....................................................................................60 4.6 Minimizao de Rudo ....................................................................................................60 4.7 Medidas de P+L Quadro Resumo............................................................................6 4. Implementao de Medidas de P+L ..........................................................................70 . REFERNCIAS ...............................................................................................................................7

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Introduo

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Este Guia foi desenvolvido para levar at voc informaes que o auxiliaro a integrar o conceito de Produo mais Limpa (P+L) gesto de sua empresa. Ao longo deste guia voc poder perceber que, embora seja um conceito novo, a P+L trata, principalmente, de um tema bem conhecido das indstrias: a melhoria na eficincia dos processos. Contudo, ainda persistem dvidas na hora de adotar a gesto de P+L no cotidiano das empresas. De que forma ela pode ser efetivamente aplicada nos processos e na produo? Como integr-la ao dia-a-dia dos colaboradores? Que vantagens e benefcios trazem para a empresa? Como uma empresa de pequeno porte pode trabalhar luz de um conceito que, a primeira vista, parece to sofisticado ou dependente de tecnologias caras? Para responder a essas e outras questes, este Guia traz algumas orientaes tericas e tcnicas, com o objetivo de auxiliar voc a dar o primeiro passo na integrao de sua empresa a esse conceito, que tem levado diversas organizaes busca de uma produo mais eficiente, econmica e com menor impacto ambiental. Em linhas gerais o conceito de Produo mais Limpa pode ser resumido como uma sria de estratgias, prticas e condutas econmicas, ambientais e tcnicas, que evitam ou reduzem as emisses e geraes de resduos por meio de aes preventivas, ou seja, minimizando-as ou criando alternativas para que estas sejam reutilizadas ou recicladas. Na prtica, essas estratgias podem ser aplicadas a processos, produtos e at mesmo servios, e incluem alguns procedimentos fundamentais que inserem a P+L nos processos de produo. Dentre eles citamos o aumento da eficincia no uso de matrias-primas, gua e energia, reduo na gerao de resduos e efluentes, reuso de recursos, entre outros. As vantagens so significativas para todos os envolvidos, do indivduo sociedade, do pas ao planeta. Mas a empresa que obtm os maiores benefcios para seu prprio negcio. Para ela, a P+L reverte em reduo de custo de produo; aumento de eficincia e produtividade; diminuio dos riscos de acidentes ambientais; melhorias das condies de sade do trabalhador; melhoria da imagem da empresa junto a consumidores, fornecedores, poder pblico, mercado e comunidades; ampliao de suas perspectivas de atuao no mercado interno e externo; maior acesso a linhas de financiamento; melhoria do relacionamento com os rgos ambientais e a sociedade, entre outros. Por tudo isso, vale a pena adotar essa prtica, principalmente se a empresa for pequena ou mdia, e esteja dando os primeiros passos no mercado, pois, com a P+L, voc e seus colaboradores j comeam a trabalhar certo desde o incio. Ao contrrio do que possa parecer num primeiro momento, grande partes das medidas so muito simples. Algumas j so amplamente disseminadas, mas neste Guia, elas aparecem organizadas20

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segundo um contexto global, tratando da questo ambiental por meio de suas vrias interfaces; a individual relativa ao colaborador; a coletiva referente organizao; e a global que est relacionada s necessidades do pas e do planeta. provvel que, ao ler este documento, em diversos momentos voc pare e pense: mas isso eu j fao! Tanto melhor, pois isso apenas ir demonstrar que voc j adotou algumas iniciativas para que a sua empresa se torne sustentvel. Em geral, a P+L comea com a aplicao do bom senso aos processos, que evolui com o tempo at a incorporao de seus conceitos gesto do prprio negcio. importante ressaltar que a P+L um processo de gesto que abrange diversos nveis da empresa, da alta diretoria aos diversos colaboradores. Trata-se no s de mudanas organizacionais, tcnicas operacionais, mas tambm de uma mudana cultural que necessita de comunicao para ser disseminada e incorporada ao dia-a-dia de cada colaborador. uma tarefa desafiadora, e que, por isso mesmo consiste em uma excelente oportunidade. Com a P+L, possvel construir uma viso de futuro para sua empresa, aperfeioar as etapas de planejamento, expandir e ampliar o negcio, e o mais importante: obter simultaneamente benefcios ambientais e econmicos na gesto dos processos. De modo a auxiliar as empresas nessa empreitada, foi desenvolvido este Guia cujo objetivo demonstrar a responsabilidade de cada empresa, seja ela pequena, mdia ou grande, com o meio ambiente. Embora em diferentes escalas, todos contribumos de certa forma com os impactos ao meio ambiente. Entender, aceitar e mudar isso so atitudes imprescindveis para a gesto responsvel das empresas. Esperamos que este Guia torne-se uma das bases para a construo de um projeto de sustentabilidade na gesto de sua empresa. Neste sentido, convidamos voc a ler este material atentamente, discuti-lo com sua equipe e coloc-lo em prtica.

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1. Perfil do Setor

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1. Perfil do Setor O mercado de tintas e vernizes no Brasil Composto por produtos das linhas imobiliria, industrial e automotiva, o setor de tintas e vernizes tem nmeros expressivos e grande potencial para crescimento. O mercado brasileiro de tintas j bastante consolidado. Embora muitas vezes passem despercebidas, as tintas so produtos fundamentais onde quer que se v ou qualquer item que se fabrique: veculos automotivos, bicicletas, capacetes, mveis, brinquedos, eletrodomsticos, vesturio, equipamentos, artesanatos, em impresso e serigrafia e na construo civil, superando assim a marca de um bilho de litros de tintas produzidos anualmente. Este volume coloca o Brasil como o quarto produtor mundial de tintas, com um mercado formado por grandes empresas (nacionais e multinacionais) e fabricantes de mdio e pequeno porte, voltados para o consumo em geral e para segmentos com necessidades especficas. Estima-se que mais de 400 indstrias operem atualmente no Pas, responsveis pela gerao de quase 6 mil empregos diretos. Em 200 foram consumidos ,77 milhes de gales de tintas um incremento de ,0% sobre a demanda do ano anterior, que foi de 0,66 milhes de gales de tintas e vernizes. Este volume correspondeu a um faturamento, no ano passado, de US$ 2,04 bilhes, valor que em 2004 chegou a US$ ,7 bilho. O aumento de 6,77% no faturamento deve-se no apenas evoluo do setor, mas tambm desvalorizao do real frente ao dlar, ocorrida em 200. Tais nmeros, no entanto, ficaram abaixo do esperado por representantes do setor, devido pequena evoluo da economia como um todo e ao fraco crescimento do Produto Interno Bruto (PIB) em 200. O histrico de desempenho do setor indica que o mercado de tintas cresce em um nvel semelhante ao da economia brasileira em perodos de crescimento moderado. Embora alguns setores econmicos se desenvolvam a taxas bastante favorveis, como o automobilstico, por exemplo, outros fortemente atrelados ao de tintas deixam muito a desejar, como o da construo civil. E no difcil entender o por qu: enquanto o segmento automotivo (original e repintura) representa em torno de 7% do volume total de tintas produzido e entre % e 7% do faturamento do setor, o da construo civil chega a corresponder a 6% das vendas de tintas no Pas em torno de 60% do faturamento total. Assim, se a construo civil no cresce, tambm no se eleva a demanda pela maioria dos produtos fabricados pela indstria de tintas e vernizes. Comrcio Exterior Mesmo com a valorizao do real frente ao dlar, as exportaes tiveram um papel importante para o desempenho do setor de tintas e vernizes no ano passado. Assim24

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como o Sitivesp havia projetado, as vendas para o mercado externo atingiram um faturamento de US$ 06,76 milhes contra US$ ,2 milhes de 2004, o que representou um crescimento 4,44%. Em volumes, as exportaes totalizaram, em 200, 4. toneladas - um incremento de 2,6% em relao ao ano anterior, porm, com preo mdio subindo de US$ ,7 para US$ 2,2/kg. O bom desempenho nas vendas externas fez com que a relao entre importao e exportao de tintas melhorasse muito nesse ltimo ano: para cada US$ 0 de importao o setor est exportando US$ . Em 6, essa relao era de US$ 0 importados para US$ 6 exportados. Nas importaes, os negcios apurados em 200 foram de US$ 4,0 milhes ante US$ 2,76 milhes de 2004 - crescimento de apenas ,44%. Em relao aos volumes, foram importadas, em 200, .0 toneladas contra .260 toneladas de 2004, o que significou um crescimento de ,4% aproximadamente, porm, com pequena queda do preo mdio, que passou de US$ ,77 para US$ ,76. No que se refere aos negcios realizados com o Mercosul, os resultados tambm no decepcionaram. A balana comercial destes negcios fechou com crescimento de 27% em comparao a 2004. Foram exportados US$ 4,72 milhes contra US$ ,746 milhes no exerccio anterior. Em se tratando de importao originria dos pases do Mercosul, o montante foi de US$ ,4 milhes, um total ,% maior que em 2004, que somou US$ 0,0 milhes. Exportao 2006 O setor dever crescer mais de % nas exportaes e atingir um faturamento de mais de US$ milhes, em 2006. A pesquisa realizada junto ao SISTEMA ALICE - SECEX/ DECEX/SERPRO, indica que o setor totalizou at setembro 2006 exportaes de 7.7 toneladas, o que projeta para o ano um total de 4. toneladas, contra 4. toneladas de 200. Apesar de projetar um pequeno crescimento, em volume em relao a 200, o preo mdio de venda dever subir de US$ 2,2 para US$ 2,/kg. Em faturamento os negcios apurados nestes primeiros nove meses, de 2006, totalizaram US$ , milhes, indicando para o ano um faturamento de US$ , milhes, ante US$ 06,76 milhes em 200. Apesar de representarem pouco mais de % do faturamento total do setor de tintas e vernizes, as exportaes tm papel importante para o desempenho do mercado e possuem grande potencial para crescimento. O setor est muito bem preparado seja em nvel de produtos, servios, inovaes ou tecnologia. Dentro deste cenrio satisfatrio para as vendas externas, destacam-se nas exportaes as tintas e vernizes de maior valor agregado,indicadas para os segmentos automotivo,industrial e de impresso, tendo o Mercosul como o maior mercado internacional para os produtos brasileiros. Os segmentos que exportam itens j pintados, como os de eletrodomsticos, automveis ou mveis, tambm possuem papel importante nesses resultados.2

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2000 Consumo de tintas e vernizes em milhes de gales* Faturamento das empresas do setor em bilhes de US$ Balana Comercial (Importao) em milhes de US$ Balana Comercial (Exportao) em milhes de US$ Nmero de empregos gerados diretamente 2

2001 2

2002 27

2003 22

2004 0

2005

,2

,7

,6

,

,7

2,04**

2.44

.

24.6

.64

2.76

4.0

2.642 7.27

60.4 6.2

6.42 6.0

6.04 .

.2 6.24

06.76 .74

Fonte: Sitivesp (Sindicato da Indstria de Tintas e Vernizes do Estado de So Paulo) * gales de ,6 litros. Inclui os segmentos de revenda (construo civil, repintura, solventes e complementos) e setor industrial (autoveculos, tratores, eletrodomsticos, construo naval, grficas, tintas serigrficas, artsticas, madeiras, solventes, demarcao viria, ferrovirias, manuteno, etc). ** em funo da desvalorizao do dlar mediante o real.

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2. Descrio dos Processos Produtivos

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2. Descrio do processo produtivo A indstria de tintas para revestimentos utiliza um grande nmero de matrias-primas e produz uma e elevada gama de produtos em funo da grande variedade de produtos/ superfcies a serem aplicados, forma de aplicao, especificidade de desempenho. De modo geral, a tinta pode ser considerada como uma mistura estvel de uma parte slida (que forma a pelcula aderente superfcie a ser pintada) em um componente voltil (gua ou solventes orgnicos). Uma terceira parte denominada aditivos, embora representando uma pequena percentagem da composio, responsvel pela obteno de propriedades importantes tanto nas tintas quanto no revestimento. A tinta uma preparao, o que significa que h uma mistura de vrios insumos na sua produo. A combinao dos elementos slidos e volteis define as propriedades de resistncia e de aspecto, bem como o tipo de aplicao e custo do produto final. As tintas podem ser classificadas de vrias formas dependendo do critrio considerado. De acordo com o mercado atendido e tecnologias mais representativas as tintas podem ser assim classificadas: - Tintas imobilirias: tintas e complementos destinados construo civil; podem ser subdivididas em: Produtos aquosos ( ltex ): ltex acrlicos, ltex vinlicos, ltex vinil-acrlicos, etc. Produtos base solvente orgnico: tintas a leo, esmaltes sintticos, etc. 2 - Tintas industriais do tipo OEM (original equipment manufacturer) As tintas e complementos utilizados como matrias primas no processo industrial de fabricao de um determinado produto; incluem, entre outros os seguintes produtos: Fundos (primers) eletroforticos Fundos (primers) base solvente Esmaltes acabamento mono-capa e bi-capa Tintas em p Tintas de cura por radiao (UV), etc.. - Tintas especiais: abrange os outros tipos de tintas, como por exemplo. Tintas e complementos para repintura automotiva Tintas para demarcao de trfego Tintas e complementos para manuteno industrial Tintas martimas Tintas para madeira, etc As tintas tambm podem ser classificadas quanto formao do revestimento, isto levando-se em conta o mecanismo da formao do filme protetor e a secagem ou cura das tintas.0

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Lacas: a pelcula se forma atravs da evaporao do solvente. Exemplos: lacas nitrocelulsicas e lacas acrlicas. Produtos ltex: a coalescncia o mecanismo de secagem. Exemplos:as tintas ltex acrlicas, vinil-acrlicas usadas na construo civil Produtos termoconvertveis: a secagem ocorre atravs da reao entre duas resinas presentes na composio a uma temperatura adequada ( entre 00 a 20 C; os produtos utilizados na industria automotriz e em eletrodomsticos so exemplos. Sistemas de dois componentes: a formao do filme ocorre na temperatura ambiente aps a mistura dos dois componentes ( embalagens separadas ) no momento da pintura; as tintas epxi e o os produtos poliuretnicos so os exemplos mais importantes. Tintas de secagem oxidativa: a formao do filme ocorre devido ao do ar. Os esmaltes sintticos e as tintas a leo usados na construo civil so os exemplos mais marcantes. 2.1. Matrias-primas As matrias-primas bsicas para a produo de quase todos os tipos de tintas so constitudas pelas resinas, pigmentos, solventes e aditivos. 2.1.1 Resinas As resinas so formadoras da pelcula da tinta e so responsveis pela maioria das caractersticas fsicas e qumicas desta, pois determinam o brilho, a resistncia qumica e fsica, a secagem, a aderncia, e outras. As primeiras tintas desenvolvidas utilizavam resinas de origem natural (principalmente vegetal). Atualmente, com exceo de trabalhos artsticos, as resinas utilizadas pela indstria de tinta so sintticas e constituem compostos de alto peso molecular. As resinas mais usuais so as alqudicas, epxi, poliuretnicas, acrlicas, polister, vinlicas e nitrocelulose. Uma breve descrio de cada uma destas resinas, encontra-se a seguir: Resina alqudica: polmero obtido pela esterificao de policidos e cidos graxos com polilcoois. Usadas para tintas que secam por oxidao ou polimerizao por calor. Resinas epxi: formadas na grande maioria pela reao do bisfenol A com eplicloridina; os grupos glicidila presentes na sua estrutura conferem-lhe uma grande reatividade com grupos amnicos presentes nas poliaminas e poliamidas. Resinas acrlicas: polmeros formados pela polimerizao de monmeros acrlicos e metacrlicos; por vezes o estireno copolimerizado com estes monmeros. A polimerizao destes monmeros em emulso ( base de gua ) resulta nas denominadas emulses acrlicas usadas nas tintas ltex. A polimerizao em solvente conduz a resina indicada para esmaltes termoconvertveis ( cura com resinas melamnicas ) ou em resinas hidroxiladas para cura com poliisocianatos formando os chamado poliuretnicos acrlicos.

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Resina polister: steres so produtos da reao de cidos com lcoois. Quando ela modificada com leo, recebe o nome de alqudica. As resinas polister so usadas na fabricao de primers e acabamentos de cura estufa, combinadas com resinas amnicas, epoxdicas ou com poliisocianatos bloqueados e no bloqueados. Emulses vinlcas: so polmeros obtidos na copolimerizao em emulso ( base gua) de acetato de vinila com diferentes monmeros: acrilato de butila, di-butil maleato, etc. Estas emulses so usadas nas tintas ltex vinlicas e vinil acrlicas. Resina nitrocelulose: Produzida pela reao de celulose, altamente purificada, com cido ntrico, na presena de cido sulfrico. A nitrocelulose possui grande uso na obteno de lacas, cujo sistema de cura por evaporao de solventes. So usados em composies de secagem rpida para pintura de automveis, objetos industriais, mveis de madeira, avies, brinquedos e papel celofane. 2.1.2 Pigmentos Os pigmentos so substncias insolveis no meio em que so utilizados (orgnico ou aquoso) e tm como finalidades principais conferir cor ou cobertura s tintas. Os corantes so substncias geralmente solveis em gua e so utilizados para conferir cor a um determinado produto ou superfcie. Os corantes se fixam na superfcie que vo colorir atravs de mecanismos de adsoro, ou ligaes inicas e covalentes enquanto que os pigmentos so dispersos no meio (tinta) formando uma disperso relativamente estvel. Os corantes so muito utilizados na indstria txtil e os pigmentos so fundamentais em tintas para revestimento. H trs grandes categorias de pigmentos: pigmentos inorgnicos, pigmentos orgnicos e pigmentos de efeito. Pigmentos inorgnicos: dixido de titnio, amarelo xido de ferro, vermelho xido de ferro, cromatos e molibidatos de chumbo, negro de fumo, azul da Prssia, etc. Pigmentos orgnicos: azul ftalocianinas azul e verde, quinacridona violeta e vermelha, perilenos vermelhos, toluidina vermelha, aril amdicos amarelos, , etc. Pigmentos de efeito: alumnio metlico, mica, etc. 2.1.3 Cargas As cargas so minerais industriais com caractersticas adequadas de brancura e granulometria sendo as propriedades fsicas e qumicas tambm importantes. Elas so importantes na produo de tintas ltex e seus complementos, esmaltes sintticos foscos e acetinados, tintas a leo, tintas de fundo, etc,2

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Os minerais mais utilizados so: carbonato de clcio, agalmatolito, caulim, barita , etc. Tambm so importantes os produtos de sntese ( cargas sintticas ) como por exemplo: carbonato de clcio precipitado, sulfato de brio, slica, silico-aluminato de sdio, etc. As cargas alm de baratearem uma tinta tambm colaboram para a melhoria de certas propriedades: cobertura, resistncia s intempries, etc. 2.1.4 Solventes So compostos (orgnicos ou gua) responsveis pelo aspecto lquido da tinta com uma determinada viscosidade. Aps a aplicao da tinta, o solvente evapora deixando uma camada de filme seco sobre o substrato. Os solventes orgnicos so geralmente divididos em dois grupos: os hidrocarbonetos e os oxigenados. Por sua vez, os hidrocarbonetos podem ser subdivididos em dois tipos: alifticos e aromticos, enquanto que os oxigenados englobam os lcoois, acetatos, cetonas, teres, etc. As tintas de base aquosa utilizam como fase voltil gua adicionada de uma pequena quantidade de lquidos orgnicos compatveis. A escolha de um solvente em uma tinta deve ser feita de acordo com a solubilidade das resinas respectivas da tinta, viscosidade e da forma de aplicao. Uma exceo importante so as tintas ltex, onde a gua a fase dispersora e no solubilizadora do polmero responsvel pelo revestimento. Atualmente existe um esforo mundial no sentido de diminuir o uso de solventes orgnicos em tintas,com iniciativas tais como: substituio por gua, aumento do teor de slidos, desenvolvimento de tintas em p, desenvolvimento do sistema de cura por ultra-violeta dentre outras. 2.1.5 Aditivos Este grupo de produtos qumicos envolve uma vasta gama de componentes que so empregados em baixas concentraes (geralmente