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  • 1

    UNIVERSIDADE FEDERAL DE VIOSA

    TRABALHO FINAL DE LICENCIATURA

    Wesley Souza Costa- 65478

    Trabalho apresentado como requisito de

    aprovao na disciplina HIS 461 - Estgio

    Supervisionado, do curso de licenciatura em

    Histria, da Universidade Federal de Viosa.

    Professor Disciplina: ngelo Assis

    Professor Orientador: Fbio Faria Mendes

  • 2

    Sumrio Historia, Pesquisa e Ensino: Um desafo ................................................................................................ 3

    1- A Instituio Escolar: EMCASB ................................................................................................. 5

    2- Do livro didtico ............................................................................................................................ 7

    3- Prtica didtica da Histria ....................................................................................................... 12

    4- Proposta de interveno pedaggica.......................................................................................... 16

    4.a- O ensino de Histria e o ofcio do historiador ........................................................................... 17

    4.b- Viagem Piranga ....................................................................................................................... 18

    4.c- Fontes Histricas e escravido ................................................................................................... 20

    5- Regncia e relato de experincia .................................................................................................... 23

    6- A experincia na EMCASB: Consideraes finais ....................................................................... 26

    7- Concluso ......................................................................................................................................... 31

    BIBLIOGRAFIA ................................................................................................................................... 33

  • 3

    Historia, Pesquisa e Ensino: Um desafo

    Vincular o aprendizado acadmico, relacionado a pesquisa e a extenso, alm do

    desenvolvimento de novas anlises histricas que vm tona de acordo com novos

    trabalhos documentais, com o ensino da disciplina Histria nas salas de aula tem sido ainda

    um grande desafio de pesquisadores tanto da universidade quanto da rea do ensino

    escolar. Por vezes a distncia do que a pesquisa histrica capta da anlise documental com

    aquilo que se ensina e que se pode ensinar nas salas de aula tm gerado uma ampla

    discusso do papel do historiador/ pesquisador na rea do ensino.

    Esse trabalho visa analisar as prticas educacionais do contedo histrico para o

    ensino fundamental, percebendo a influencia da histria no aprendizado social do aluno, as

    maneiras como esse ensino conduzido, os matrias disponveis e utilizados para a prtica

    educacional, a recepo dos alunos diante dos mtodos pedaggicos e a instituio escolar

    responsvel pelo sistema educacional estudado neste projeto.

    Atravs disso, dispondo do conhecimento histrico reunido na graduao,

    analisaremos as possibilidades de incluir novos contedos histricos adquiridos atravs das

    reas de pesquisa, relacionando ao ensino disponvel na metodologia didtica da instituio

    escolar, principalmente o livro didtico.

    Todo o desenvolvimento do trabalho ser comtemplado em prticas de intervenes

    educacionais que conduziremos com o andar da disciplina, atravs da indicao de

    possibilidades alternativas de ensino. Finalizando o processo produtivo do projeto, uma

    regncia ser apresentada como relato de experincia das observaes educacionais

    coletadas no final do projeto.

    A instituio escolhida para o desenvolvimento das atividades pertinentes ao

    projeto a EMCASB Escola Municipal Coronel Antnio da Silva Bernardes, localizada

    no permetro central de Viosa. Trs classes sero contempladas com a anlise: 7A, 8 A e

    8 C.

  • 4

    A escolha dois anos diferentes, visa organizar um sistema de comparao das

    prticas didticas e pedaggicas para diferentes faixas etrias, observando de que forma se

    dar o aprendizado de ambas as turmas, o universo de interesse das diferentes faixas

    etrias, a participao do programa na sala de aula, as possibilidades diferentes de ensino e

    interveno educativa.

    A escolha de duas classes diferentes, 8 A e 8 C, visa perceber de que forma um

    mesmo contedo absorvido para dois grupos diferentes, traando um sistema de

    comparao de ensino, buscando entender as diferentes formas de apreenso do

    aprendizado, os motivos do interesse e da falta de interesse, dentre outras diferenas

    fundamentais que possivelmente iro aparecer.

    Perceber as possveis correlaes destas reas que, apesar de prximas e essenciais

    se tornam to apartadas de significados e vnculos reais de suma importncia para se

    fortalecer o conhecimento acadmico como um desmistificador do conhecimento ratificado

    e estagnado, nos levando a indagar sobre questes percebidas como verdades histricas,

    podendo assim fortalecer a disciplina histrica como uma produtora de conhecimento e

    catalizadora de opinio e identidade.

  • 5

    1- A Instituio Escolar: EMCASB

    A escola Municipal Coronel Antnio da Silva Bernardes, est situada na Rua

    Benjamim Araujo, n 71, centro, na cidade de Viosa, Minas Gerais. A escola se encontra

    em uma regio central e de fcil acesso da cidade recebendo alunos de diversas situaes

    econmicas, atendendo principalmente a populao que no pode dar aos filhos o ensino

    privado. Sendo assim, grande parte dos alunos vinculados vrios alunos das zonas rurais

    de viosa.

    A instituio foi fundada no dia 16 de maio de 1916, sendo municipalizada em 18 de

    dezembro de 1998.1 O regimento escolar de 2000, assegura ao aluno, o igualdade de

    condies para o acesso e permanncia na escola2, demonstrando a abertura da escola para

    pessoas de diversas classes econmicas.

    A escola municipal CASB, oferece a comunidade o ensino fundamental ( 1 a 9

    ano), dividindo as classes, de acordo com o regimento escolar-2000, em critrios que

    garantam o atendimento aos alunos , no processo de aprendizagem.

    A instituio se dispe de um amplo espao, dividido em corredores variados que

    levam as salas de aulas, alm de um amplo ptio utilizado para a socializao do intervalo

    e para a distribuio da merenda. A cantina, no entanto, pequena diante do espao da

    escola e do nmero de alunos, que utilizam o ptio tambm para a merenda.

    Alm da merenda regular, ela apresenta uma cantina prpria, onde vende-se

    variados alimentos durante o intervalo. O dinheiro arrecadado com a venda de tais

    alimentos far parte do caixa escolar, utilizado a prestao de servios de assistncia ao

    educando, de acordo com o regimento.3

    O regimento prev tambm os objetivos especficos da escola, tendo alguns

    detalhes, completa relao com o ensino e desenvolvimento do conhecimento histrico.

    Entende-se por estes:

    1 Regimento escolar 2000. Escola Municipal Antonio da Silva Bernardes, Resoluo n 71 Centro- tel.3891

    3701- Viosa MG, histrico. 2 Ibidem, dos fins da educao nacional, art. 2,clausula I.

    3 Ibidem, Seo II, das instituies.

  • 6

    III- Propiciar ao aluno, desde o incio da escolarizao, o ensino necessrio a sua

    preparao como cidado consciente e participativo; (...)

    IV- Oferecer ao aluno condies e meios para o desenvolvimento do seu esprito

    crtico e reflexivo, tornando-o inserido em sua poca;

    V- Prover o aluno de condies que permitam se situar como agente de sua prpria

    histria da sociedade a que pertence(...)4

    Percebemos ento, que de acordo com o regimento que revigora na escola, o ensino

    do contedo histrico se apresenta de forma importantssima para se assegurar o projeto de

    cidadania e insero social das crianas. Alm de tal compromisso, assumido tambm a

    inteno de se vincular a comunidade e universo de aprendizagem destes alunos ao

    conhecimento que ser debatido em sala de aula, demonstrando a vontade de se incorporar

    a experincia de vida dos alunos ao currculo escolar.5

    Alm do ensino fundamental, a partir de fevereiro de 2000, a escola passou a oferecer

    para jovens e adultos turmas com acelerao de estudo6, que segundo o regimento:

    Art.59- O Ensino Fundamental com Acelerao de Estudos, ministrado nesta

    escola, tem por objetivo assegurar a escolarizao da populao no atendida

    oportunamente no Ensino Regular.7

    Sendo assim, a escola assume o papel de desenvolver as estagnaes educacionais de

    jovens e adultos, que no podem ou necessitam de acelerarem o processo educacional.

    Alm das salas de aula, a escola conta tambm com uma biblioteca com espaos

    regulares para se desenvolver as prticas pedaggicas, que alm de ser o depositrio de

    livros, tanto didtico quanto literrio, serve tambm de encontro para que professores

    discutam as prticas didticas, alm de ser a sala de vdeo da escola, utilizada para que os

    professores transmitam o contedo vislumbrado por filmes e documentrios, sendo que se

    encontra na biblioteca tambm uma pequena videoteca.

    Sendo assim, a escola municipal CASB possui uma instituio apropriada e de boa

    qualificao, principalmente se comparada com outras escolas da regio de viosa. Se

    4 Ibidem,Capitulo III. Dos objetivos especficos da escola.

    5 Ibidem, capitulo III, Dos objetivos especficos da escola.

    6 Ibidem, seo II, Da educao de jovens e adultos.

    7 Ibidem, seo II, Da educao de jovens e adultos. Art.59.

  • 7

    espao amplo, salas divididas em tamanhos adequados, as carteiras e demais instrumentos

    didticos em bom espao e em nmero suficiente, possibilitam que a escola atenda, em

    critrios materiais, os requisitos necessrios e mnimos para o desenvolvimento do

    aprendizado escolar.

    2- Do livro didtico

    Indispensvel para qualquer sistema de ensino escolar, faz-se necessrio uma anlise

    do livro didtico utilizado na stima e na oitava srie da EMCASB para o ensino de

    histria.

    Tanto a stima quanto a oitava srie, foi escolhido o livro de Alfredo Boulos Jnior,

    Histria, Sociedade & Cidadania para se ministrar o contedo histrico. Nas

    informaes da contracapa do livros, consta que Alfredo Boulos Jnior mestre em

    Historia Social pela Universidade de So Paulo ( USP) e doutor em Educao pela PUC-

    SP. Ainda segundo a contracapa de seu livro, o historiador educador possui uma grande

    experincia no ensino, tendo lecionado na rede pblica, particular, alm de cursinhos pr-

    vestibulares.8

    Talvez venha de seu trajeto de formao, histria social na USP, sua dedicao em

    relacionar o contedo estudado na grade curricular com questes relacionadas a nossa

    sociedade atual.

    Percebemos tal iniciativa, j no incio de cada captulo do seu livro de 7 srie, onde

    exposto sempre, junto com a numerao e o ttulo do captulo, uma relao entre uma

    imagem, geralmente uma imagem relacionada ao perodo atual, uma pintura ou uma cena

    de filme, com uma srie de perguntas simples, com a inteno de provocar no aluno

    relaes bsicas sobre imagem e escrita. Tais perguntas servem tambm para abrir brechas

    para uma discusso do tema do captulo em questo com a nossa sociedade atual.

    Ao lado de cada palavra ambgua, ou que possa gerar algum tipo de dvida do aluno,

    uma caixa de significao exibida, como um dicionrio histrico dentro do contedo.

    Assim, palavras e expresses so significadas de acordo com cada captulo.

    8 BOULOS, Alfredo Jnior, Histria, Sociedade & Cidadania, nova edio, p.9.

  • 8

    Alm da caixa de significado, palavras-chaves imersas no captulo so grifadas, para

    que o aluno entenda sua importncia dentro do contexto e possa mais facilmente relaciona-

    la com o contedo.

    Cada captulo dividido em curtos subcaptulos carregados de imagens, mapas,

    pinturas da poca, fotografias atuais, que tornam a compreenso do contedo mais prximo

    do aluno.

    Alm dos recursos visuais, o captulo conta com o Dialogando, onde atravs de

    uma relao entre imagem e uma srie de perguntas ligadas a ela, o autor busca incentivar

    o dilogo professor aluno, atravs do contedo do captulo mais questes de mbitos no

    dia-dia que por vezes passam despercebidos.

    No final das pginas, segue uma linha do tempo determinando os acontecimentos

    histricos ordenados, identificando a data do acontecido e a descrio do mesmo, enquanto

    cada quadro encontra-se pintado de uma cor.

    No final de cada captulo encontram-se as atividades correspondentes ao tema

    discutido. Tais exerccios se dividem em: Atividades, Atividades de aprofundamento,

    Discutindo o presente, A imagem como fonte, O texto como fonte e suas

    correspondentes questes.

    As Atividades correspondem aos exerccios de fixao do contedo. So uma

    sequencia maior de exerccios, enumerando em ordem os acontecimentos histricos

    descritos do captulo, perguntando sobre ele. Tal discusso serve como uma forma do

    aluno fixar de forma mais massiva o que foi aprendido. Segue o exemplo:

    Durante a crise do imprio Romano ocorreu um processo de ruralizao.

    Caracterize esse processo e explique por que ele ocorreu.9

    Percebe-se ento, que a questo tem por principal interesse, a sistematizao do fato

    histrico e a explicao sinttica e direta do mesmo. No entanto, dentro dos exerccios das

    Atividades, encontram-se tambm, algumas questes mais reflexivas. Um exemplo

    dessas:

    9 Ibidem, p. 22.

  • 9

    Observe a imagem de Carlos Magno, ao lado. Que elementos presentes nessa

    imagem nos ajudam a compreender melhor o imprio Carolngio? O que cada um

    desses elementos representa?10

    Percebe-se ento, neste exerccio, mais do que um esforo de sistematizao do

    contedo, mas uma reflexo baseada em uma imagem dada pelo livro. Atravs disso, o

    professor busca explorar o sentido de uma imagem e sua relao com o texto escrito.

    A Atividade de aprofundamento, como o prprio nome diz, visa levar o aluno a um

    mergulho no contedo estudado, permitindo que ele repense questes prprias sobre o

    tema, analisando-o atravs de outra perspectiva:

    Em dupla, pesquisem e descubram quais das palavras a baixo so de origem rabe.

    lcool, cifra, algodo, labor, militar, sorvete, circo, globo.11

    Percebe-se ento a inteno de levar o aluno a pensar o significado da cultura rabe

    em nossa sociedade atravs da importncia de se atinar para a lngua de tal sociedade e de

    que forma tal linguagem influencia nosso pas. Uma tpica atividade de aprofundamento do

    conhecimento que denota um trabalho de pesquisa e raciocnio maior do que sistematizar o

    contedo.

    Em seguida, percebemos duas atividades preparadas com a inteno de situar o aluno

    no universo do historiador: A imagem como fonte e o Texto como fonte. Em ambas as

    atividades, o aluno ter que utilizar das fontes para interpretar a questo pedida, situando-

    se assim no ofcio da prpria produo histrica:

    (...) Observe a imagem com ateno e responda: Quais sao os indcios de que a

    imagem foi produzida durante a idade mdia? Que elementos indicam a ocupao

    dos personagens?12

    A imagem que a questo se refere de uma cavalaria Carolngia em gravura do

    sculo VIII. Atravs desta imagem, o aluno teria que obter informaes histricas

    10

    Ibidem, p. 22. 11

    Ibidem, p.22. 12

    Ibidem,p. 23.

  • 10

    analisando a pintura referente, levando os alunos a uma reflexo histrica muito alm da

    compreendida no livro.

    Ainda no final de cada captulo e depois dos exerccios, encontra-se uma lista de

    indicaes de livros e filmes, para aprofundar o conhecimento do aluno ou para facilitar

    sua compreenso sobre o tema.

    No final do livro, encontra-se um interessante recurso: mapas polticos de diversas

    regies do globo facilitam ao aluno a compreenso regional do captulo estudo e facilita

    uma interdisciplinaridade entre o conhecimento histrico e geogrfico.

    Alm das questes referentes estrutura do livro, importante destacar tambm

    algumas caractersticas prprias de seu contedo.

    Hoje, atravs da percepo que a histria de nosso pas tambm est vinculado a um

    passado africado, muito antes dos escravos, mas sim da origem dos reinos da frica que

    remontam aos lugares natais de nossos ancestrais, a histria do continente africano se

    tornou obrigatria dentro de nosso sistema de ensino.

    E como no poderia ser diferente, o livro em questo contm a histria da frica de

    forma a introduzir ao aluno a referncia de que tal continente, assim como a Amrica,

    possua sua prpria identidade e seus costumes antes da chegada dos Europeus. Fazer tal

    anlise, assim como j aconteceu com a Amrica pr-colombiana, serve para descentralizar

    a viso corrente de que apenas as manifestaes histricas da Europa valem a pena serem

    estudadas.

    Alm disso, o captulo se preocupa em demonstrar as heranas africanas de nossos

    ancestrais no Brasil e como hoje essa cultura faz parte de nossa poca.

    A mesma estrutura encontrada no livro de 7 srie encontrada no livro de 8,

    fazendo-se assim desnecessrio a mesma discrio.

    A referncia importante do livro de oitava se faz logo no incio do livro, onde o autor

    destaca um captulo para a questo: Africanos no Brasil: dominao e resistncia.

    Percebe-se ento o interesse do autor em situar a capacidade do escravo de resistir ao

    sistema escravista, uma questo altamente debatida e de importncia para os nossos dias

    atuais.

  • 11

    Temos com o livro de Boulos um bom material didtico. Combativo, interessado em

    vincular o contedo histrico realidade social. Apesar da sua qualidade, um livro sempre

    construdo atravs do ponto de vista de um autor e sendo assim, permanece sendo uma

    nica inclinao terica e metodolgica sobre o tema. Resta ao professor que o utiliza,

    adapta-lo de acordo com as suas necessidades vigentes, no se esquecendo de demonstrar

    ao aluno que a histria, antes de mais nada, uma construo, podendo ser interpretada e

    validada de acordo com interesses daquele que conduz a mesma.

  • 12

    3- Prtica didtica da Histria

    Como o caso dos demais sistemas de ensino brasileiro, de forma institucional, o livro

    didtico na EMCASB o principal instrumento didtico utilizado pelos professores de

    histria. Sendo assim, o que promove as diferenas entre os sistemas educacionais no se o

    livro ou no utilizado, mas como o mesmo instrumentalizado para a produo do

    conhecimento.

    Nas aulas de histria da escola, as informaes contidas no livro ainda so transmitidas

    como sendo uma verdade histrica. No houve nenhum tipo de questionamento do material,

    nenhuma interrogao levantada acerca de como esse conhecimento foi produzido. A

    histria contida nos captulos uma histria oficial, que deve ser levada ao aluno de forma

    com que ele possa compreender assim, uma histria que segue arraigada a estruturas de

    desenvolvimento, linear aos captulos do livro.

    Apesar disso, a professora, de forma interessante, consegue extrapolar o contedo do

    material didtico, atravs de algumas prticas pedaggicas. Antes de se iniciar um captulo

    novo, a mesma levanta junto com os alunos, conceitos caros ao desenvolvimento do captulo,

    deixando com que eles apontem seus conhecimentos prvios sobre o tema. Feito isso e a

    partir da, a professora explora tais conceitos oferecidos pelos alunos, indicando novas

    questes a se pensar a partir dele e da por diante, desenvolve o contedo do captulo.

    Alm de explorar o contedo do livro, a professora sabe muito bem aproveitar os boxes

    oferecidos pelo material, bem como as imagens e os mapas. Ela no passa adiante das

    propostas de debate oferecida pelo livro, levando assim os alunos a relacionarem o contedo

    didtico as vivncias e acontecimentos do dia-dia.

    Apesar de o livro ser a principal ferramenta didtica utilizada, a professora possui

    outros meios de desenvolver a aprendizagem dos alunos. Percebe-se, por esses outros meios,

    uma intensa tentativa de se desenvolver uma interdisciplinaridade que favorea e facilite a

    aprendizagem do aluno.

    No entanto, essa escolha pelo apoio a outras disciplinas que vo alm da histria, no

    apenas uma opo. Essa iniciativa reflete a necessidade de se preencher lacunas importantes

  • 13

    que foram deixadas de acordo com a promoo anual dos alunos. Percebe-se assim que

    certos contedos histricos se tornam difceis de compreenso se no houver uma relao

    com outras reas do saber.

    Esse o caso do constante uso do mapa mundi pela professora de histria. Devido a

    fraca capacidade de localizao geogrfica de muitos alunos, para desenvolver certos

    contedos, como foi o caso, por exemplo, da Revoluo Inglesa. Para desenvolver este

    contedo, a professora necessitou de fazer uso do mapa mundi geogrfico, onde ela pode

    assim indicar a localizao da Inglaterra, bem como o continente Europeu.

    Pode parecer absurdo, mas a dificuldade de localizao geogrfica dos alunos se

    mostrava evidente, demonstrando a impossibilidade do desenvolvimento do contedo at o

    momento que se pde indicar aos mesmos a Inglaterra no territrio Europeu.

    Alm do mapa e da relao com a geografia, existe tambm a relao da histria com o

    portugus, a produo de texto.

    Devido as dificuldades de interpretao de texto mostrada pelos alunos e reclamada em

    vrias disciplinas, alm da carncia das leituras e dos problemas claros demonstrados na

    formulao de textos, a professora adotou o uso de cadernos de produo de texto. As

    dificuldades com a leitura e a escrita so evidentes nas turmas. Poucos so os alunos

    interessados a buscar livros e poucos praticam a escrita. Em algumas turmas, como o caso da

    6 E ( que no foi contemplada nessa anlise e trazemos a tona por ttulo de ilustrao), as

    dificuldades extrapolam o nvel tido como normal, levando a professora a deixar um pouco

    de lado o contedo e desenvolver a alfabetizao.

    Tais cadernos funcionam simultaneamente como avaliativos tanto para a histria

    quanto para o portugus. Atravs da relao com o contedo dado nas disciplinas, a

    professora pede que se desenvolva produes de textos, levando o aluno a fixar o

    conhecimento histrico e praticar a escrita. Dessa forma, a professora realiza bem o papel

    interdisciplinar, treinando o aluno nas prticas gramaticais, sofisticando sua leitura e

    mantendo assim o conhecimento histrico em pauta.

    Alm do sistema interdisciplinar, a professora utiliza de textos informativos

    relacionados ao contedo que completam o livro didtico. Dessa forma, em questes que o

  • 14

    livro no levam em aprofundamento, tais textos servem para o desenvolvimento de novas

    discusses e formao de pensamento e opinio.

    Esse foi o caso, por exemplo, de um texto levado sala sobre o universo feminino e o

    islamismo, na 7 A. Se a viso dos alunos, por vezes, ainda muito turva sobre o tema,

    interpretando o comportamento entre homens e mulheres islmicas, como manifestaes

    claras de machismo e autoritarismo, tal leitura tm como intuito, desenvolver uma anlise

    mais crtica sobre o tema, levando os alunos a questionarem tais questes e a repensarem

    seus prprios conceitos.

    Alm de tais fatores, para a aproximao do aluno ao contedo, a professora promove

    tambm viagens didticas. E o caso, por exemplo da viagem a Ouro Preto, que visa um

    aprendizado mais prtico e visual sobre temas da histria mineira, colocando o aluno em

    acordo com os bens materiais da cidade, desenvolvendo uma aula livre sobre minerao,

    unindo o passado e o presente.

    Tais viagens produzidas so pagas pelos prprios alunos, onde a escola busca

    descontos que facilitem o acesso dos mesmos. Para outros lugares mais prximos, muitas

    vezes a escola consegue o nibus de forma gratuita, que facilitam tais viagens.

    Ainda visando a aproximao do aluno ao tema estudado, a professora opta pela

    exibio de filmes e documentrios, que visam quebrar a sequencia das aulas que por vezes

    se tornam cansativas, levando o aluno a desenvolver a aprendizagem do tema em uma

    linguagem mais compreensvel.

    O cinema de forma bem utilizada, pode se tornar uma ferramenta primordial do

    conhecimento histrico, onde, atravs dele, o aluno pode vislumbrar um passado que mesmo

    figurativo, se adequa a imaginao do aluno ,levando o mesmo a se interessar pelo contedo

    estudado.

    Alm de todas essas prticas pedaggicas j citadas, a vida de professor precisa por

    vezes extrapolar o seu objetivo que desenvolver e transmitir o conhecimento. Por vezes, o

    professor precisa estar preparado para assumir papeis que no seriam, teoricamente

    relegados a ele.

  • 15

    o caso de se perceber as dificuldades particulares de seus alunos. Sendo por vezes, a

    dificuldade escolar reflexo da vida particular, o professor atua, voluntaria ou

    involuntariamente, como um tipo de psiclogo, ou membro da famlia do aluno. Ajudando

    os mesmos no seu problema particular, ele espera que assim, o caminho fique aberto para o

    desenvolvimento das prticas educacionais e neste caso, do ensino de Histria.

    Foi o caso, por exemplo, da menina da 8 srie que estava com suspeita de estar

    grvida. A professora funcionou como uma mediadora da famlia e da aluna, aconselhando,

    apaziguando, acompanhando os exames, enfim, ajudando de acordo com suas possibilidades.

    Constatado que era apenas uma suspeita, a menina iniciou os estudos normalmente.

    Todo esse sistema de ensino desagua, no final, nas prticas avaliativas. So atravs das

    provas que a professora visa perceber se a aprendizagem foi bem executada e

    desenvolvida ao longo do captulo.

    Como era de se esperar, os resultados so diferentes de acordo com a turma executada.

    Enquanto a 8 A mantm um alto ndice de acertos e notas azuis, a 8 C naufraga em

    notas vermelhas e em desinteresses crnicos. A prova das duas salas possuem questes

    diferentes, de acordo com o desenvolvimento do conhecimento nas diferentes classes.

    Depois que a prova entregue, os alunos devem leva-la aos pais ou responsvel para

    que eles a assinem, demonstrando hipoteticamente, que esto cientes do que acontece em

    sala de aula. Feito isso, os alunos devem reescrever as questes que erraram, refazendo-as.

    Ambas as atividades valem ponto.

    Ambas as atividades servem como um apoio as notas dos alunos, para que os

    resultados ruins demonstrados nas provas, no os levem a uma consequente reprovao.

    A prova da 6 E e da 7 A, alm de conterem contedos relacionados ao estudo de

    histria, vislumbram tambm temas caro ao prprio ofcio do historiador, onde interrogado

    ao aluno o que so fontes histricas ou que tipo de fontes existem, por exemplo.

    Alm destas prticas avaliativas, a professora incentiva os trabalhos em grupo, onde os

    alunos desenvolveriam pesquisas relacionadas a algum tipo de tema, que desaguariam em

    um trabalho de exibio de cartazes.

  • 16

    Um desses trabalhos uma pesquisa sobre os diferentes pases existentes na frica,

    indicando sua economia, poltica, geografia e demais caractersticas, demonstrando a

    variedade tnica existente no continente. Esse trabalho ser finalizado com cartazes criados

    pelos alunos que se dividiram em grupos.

    Atravs desta anlise dos meios didticos referentes ao colgio, bem como a utilizao

    das ferramentas de ensino e por fim, das prticas avaliativas, podemos indicar propostas de

    intervenes educacionais e possibilidades de aprendizagem da histria, que possam

    encaixar com o sistema de ensino da escola, demonstrando assim nossa contribuio para a

    prtica educativa e concluso desse trabalho.

    4- Proposta de interveno pedaggica

    Uma das etapas de continuidade do trabalho estabelecer meios e prticas

    pedaggicas do ensino de histria, utilizando como referncia a experincia adquirida at o

    momento atravs das etapas do curso de licenciatura de Histria e do acompanhamento das

    salas de aula atravs do Estgio. Tentaremos aqui delimitar formas viveis de interveno

    educacional e coloca-las em prtica como experincia de curso.

  • 17

    4.a- O ensino de Histria e o ofcio do historiador

    Como foi dito no incio de nossas atividades, vincular a pesquisa em histria com o

    ensino segue sendo um dos exerccios didticos mais difceis do professor deste contedo.

    Muitas vezes, a distncia entre o que de interesse dos rgos responsveis pelo programa

    educacional no batem diretamente com o que encontrado na pesquisa documental. Em

    outros casos, o professor que leciona no ensino obrigatrio no tem acesso a materiais ou

    fontes primrias que ele considera importante, seja por culpa dele ou no. A questo que

    segue um definitivo apartamento entre a pesquisa e o ensino em nossa disciplina.

    Produzir um sistema de ensino onde possamos vincular o que se encontrado nos

    documentos se torna ento de suma importncia para que a pesquisa histrica no se torne

    afastada do universo das salas de aula e sendo assim, desvinculada de uma prtica social.

    Para tal fim necessrio que os alunos tomem conscincia da importncia do

    documento histrico, entendendo assim que a histria no uma entidade metafsica, mas

    sim uma construo humana atravs de vestgios do passado. Atravs destes vestgios do

    passado deixado pelos homens, o historiador pode estabelecer uma lgica histrica

    realizada atravs de sua erudio e preparao para tal fim.

    Levar os alunos a terem contato com documentos no um preciosismo da profisso,

    mas sim uma maneira de demonstrar que ser historiador mais do que enumerar datas, mas

    sim elaborar uma lgica do passado. atravs desse contato que o aluno pode enfim

    compreender-se tambm como um agente de sua prpria histria, entendendo que tal

    disciplina vai alm dos fatos relacionados a grandes feitos de grandes homens, mas que

    ela acontece no contato dirio entre os seres humanos e suas escolhas.

  • 18

    4.b- Viagem Piranga

    Nossa proposta de contato com fontes primrias leva-los a conhecer o frum da

    cidade de Piranga, que se localiza a aproximadamente 80 km de Viosa. Tal cidade mais

    de 180 anos e ainda possui vestgio da arquitetura oitocentista. No centro possvel

    perceber casas histricas que esto em via de recuperao ( no cabe aqui uma discusso

    sobre conservao patrimonial), que apesar da alterao na pintura, mantm as suas formas

    tradicionais. Um teatro municipal bem no centro da cidade chama ateno pelo seu estilo e

    forma. No entanto, a parte de arquitetura que mais teria a acrescentar, fica por conta das

    igrejas, to tradicionais em Minas e que em Piranga no so diferentes. So trs igrejas

    principais que nos chamam ateno por suas diferentes formas e singela beleza.

    Tal contato com a cidade de Piranga, pode vir bem a calhar, pois levaria os alunos a

    pensarem que a histria de uma cidade vai alm do eixo conhecido, como em Mariana e

    Ouro Preto ( onde em breve iro visitar), mas sim a mesma est presente em todos os

    lugares de um estado to experiente como Minas Gerais. Esse contato com o patrimnio

    histrico de uma cidade to prxima, poderia despertar nos alunos o interesse tambm no

    patrimnio viosense, que poderia ser trabalhado atravs de uma atividade de pesquisa dos

    casares e outros bens tombados da cidade. Com esse contato, os alunos poderiam

    perceber melhor a relao de tombamento e a importncia da conservao patrimonial em

    sua cidade.

    Pensando ainda na viagem em Piranga, nos seria de total interesse ainda, levar os

    alunos a conhecerem o frum da cidade, onde mantido sob cuidado do departamento de

    histria, importantes fontes histricas que cada vez mais tem despertado o interesse dos

    pesquisadores da regio.

    O Frum conta com um rico arquivo de inventrios e testamentos, fontes de suma

    importncia tanto para a histria quantitativa quanto para a qualitativa. Alm disso,

    encontra-se em processo de higienizao e organizao, o arquivo de processos crime da

    cidade, que serve como uma curiosa fonte de relao para se entender diversas reas do

    conhecimento histrico, como as relaes sociais de diversos grupos, as prticas judiciais e

    punitivas, as questes conceituais como violncia, crime, relao escravo-senhor e tantos

    outros pontos caros para se entender o homem mineiro oitocentista.

  • 19

    Estado no frum, seria organizado uma aula demonstrativo sobre o manejo desta

    documentao, os matrias necessrios para se trabalharem com os mesmos, como luvas,

    mscaras, tesoura e instrumentos de catalogao, alm da possibilidade prtica dos alunos

    entrarem em contato com a caligrafia da poca, manusearem ( sob superviso do

    responsvel) o documento, enfim, tudo o que relaciona o aluno ao interesse pela fonte

    primria.

    Feito isso, mostraremos ao aluno o que realmente importante para se conhecer em

    uma fonte histrica, analisando perante eles um documento previamente escolhido. A

    importncia de se escolher um processo crime para tal fim demonstrar que o historiador

    no est interessado em punir seja qual for o criminoso exposto no processo e nem julga-

    lo, mas sim entender as motivaes, as classes sociais envolvidas no sistema, os

    acontecimentos do perodo, o sistema punitivo da poca, aproximando assim um pouco

    mais o aluno da atmosfera histrica.

    Tal proposta se torna ainda mais vivel, levando em conta que a viagem seria

    gratuita, posto que possvel a escola conseguir um nibus gratuito pela prefeitura, que

    levaria os alunos a terem essa experincia e retornarem antes do fim do horrio normal das

    aulas.

    Para esse projeto, infelizmente no seria possvel escolher qualquer turma, sendo que

    o frum um lugar reservado a esfera da justia e que necessita e impe um respeito s

    autoridades municipais, sendo necessrio assim um comportamento adequado ao ambiente.

    Logo, a turma escolhida seria a de comportamento mais tranquilo e concentrado, para que

    seja evitado maiores constrangimentos. Tal viagem ficaria sobre cargo de responsabilidade

    da supervisora da escola, da professora responsvel pelo estgio e do estagirio do projeto.

    Reforamos que a inteno de um projeto como esse incentivar o aluno a se

    interessar pela histria, demonstrando a ele que ela vai muito alm das questes factuais do

    livro didtico. O despertar do interesse ponto fundamental de apoio a disciplina, levando

    em conta que a curiosidade pelos temas envolvendo a histria desencadearia nos alunos o

    gosto pela leitura e interesse sobre o tema.

    Caso seja possvel e o tempo se encaixe no cronograma, entendendo a

    impossibilidade de trabalhar com o tema nas trs turmas contempladas pelo projeto,

  • 20

    traramos a anlise do processo crime para dentro da prpria escola, atravs de processos

    scaneados do frum, tentando simular o contato com as fontes dessa vez com os alunos

    dentro de viosa.

    4.c- Fontes Histricas e escravido

    A histria contada sobre a escravido tem sofrido diversas alteraes ao longo da

    poca no nosso pas. Vrios foram os sentidos que ela tomou de acordo com a proposta dos

    historiadores de cada poca, passando por modificaes sejam por interesses ideolgicos e

    polticos, sejam atravs do contato de novas fontes e perspectivas.

    Muito do que foi pesquisado e que ganhou importncia nos ltimos tempos, tem sido

    vnculo ao ensino de histria, como a questo de se estudar a histria do continente

    Africano ou de se perceber a capacidade de resistncia do negro durante o processo de

    escravido. No queremos aqui entrar em questes relacionadas a tal procedimento

    historiogrfico e se adentrar de forma afirmativa ou negativa nestas inclinaes, mas o

    objetivo desta anlise admitir que muito ainda precisa ser visto em relao a este

    momento histrico tal especial da nossa histria.

    Visamos ento, ao levarmos ao conhecimento e ao contato do aluno fontes histricas

    j citadas, dar nfase na relao senhor-escravo tal cara ao nosso estudo. Altamente

    aclamada em sala de aula a viso de que o escravo no passa de uma mercadoria de

    trabalho, que como uma ferramenta de servio, vendida, comprada e descartada

    facilmente pelo senhor. Nebulosa ainda a viso de que o senhor no passa de um

    proprietrio violento e dicotmico ao escravo, que pretende de todas as maneiras e

    principalmente com o uso de sua fora, levar o escravo ou limite do seu trabalho.

    Apesar de estar to em voga a viso do negro que resiste bravamente escravido,

    contraditoriamente, ele permanece em sala de aula sendo visto como um ser manipulado s

    necessidades de ganho e produo do senhor de escravo. Sendo assim, nos perguntamos

    qual o interesse em se propagar uma viso de resistncia a qualquer custo, deixando de

    lado a percepo do escravo como um agente social, que se envolve socialmente com uma

    elite, onde fica claro a impossibilidade da mercadorizao completa do mesmo.

  • 21

    Alm de anular a sociabilidade e mais grave ainda, a humanidade do negro, tal

    projeto pedaggico implcito no contedo, que mesmo no constando nos manuais

    didticos acabam sendo ratificados pela prtica engessada das salas de aula, anula a

    humanidade do senhor, o colocando como um vilo em dicotomia do escravo, tratando-o

    como um simples objeto descartvel.

    No temos o interesse em apologizar sistema escravista que respeitava o negro como

    sujeito, nem forar uma viso de resistncia e luta contra a escravido que ultrapasse uma

    leitura crtica das fontes histricas, muito menos em afirmar uma viso apoltica da

    escravido, mas sim questionar uma viso poltica que paira acima de uma viso

    historiogrfica.

    Vemos assim com muito mais interesse vincular nas salas de aula uma concepo de

    negros e brancos como agentes histricos que tecem suas relaes dentro de um sistema

    econmico, no lugar de uma viso onde o escravo resiste a um regime malfico contra um

    senhor que o propulsor deste mal.

    No o caso de se propagar um escravo liberto das vises que o coisificavam para

    poca, mas sim de demonstrar que as relaes sociais entre os homens esto muito alm de

    uma viso nica de realidade e lgica, entrando muitas vezes em choque com suas prprias

    crenas.

    Para elaborar tal anlise, lanaremos usos de processos crimes referentes a Piranga

    oitocentista, no que tange as relaes em que senhores de escravos vo a julgamento por

    assassinarem seus escravos. Independentemente de discutir se a justia realmente estava

    atendendo os interesses dos cativos em detrimento dos senhores, nos importa perceber que

    no discurso oficial do estado, o escravo extrapolava as barreiras de uma mera mercadoria.

    Esclareceremos assim um pouco a realidade entre senhores e escravos, mostrando o

    cotidiano judicial na qual ambos estavam envolvidos, em uma relao que vai alm da

    econmica, mas que tange tambm a questo de convvio social e a impossibilidade de se

    manter fixos os alicerces do escravo-propriedade.

    Acreditamos que tal anlise se faz totalmente possvel em sala de aula, mesmo o tema

    sendo complexo e discutvel academicamente. O espao da escola tambm um lugar onde

    possvel a formulao do conhecimento histrico atravs do debate professor-aluno.

  • 22

    Feito o primeiro passo que a aproximao do aluno com as fontes histricas e com

    o ofcio do historiador, seguiramos com as atividades prticas, mas desta vez, seriam os

    alunos os responsveis pela escolha do documento histrico.

    Acreditamos que as atividades anteriores incentivariam a curiosidade das classes em

    questo, o que poderia ser aproveitado passando por um ponto mais prtico, onde os prprios

    alunos montariam seu projeto histrico.

    Em grupos e sob orientao do professor e do estagirio, os alunos selecionariam sua

    prpria fonte histrica, que deveriam estar ligada a sua vivncia normal e proximidade, onde

    aprenderiam o que realmente importante vislumbrar no documento, o que deve ser tomado

    nota e o que deve ser, logicamente, excludo.

    A partir disso, suas descobertas iriam ser elaboradas de forma a serem exibidas para

    toda a escola, demonstrando a importncia de se perceber a histria tambm nas prticas do

    dia e nas manifestaes do cotidiano.

  • 23

    5- Regncia e relato de experincia

    A ultima etapa do estgio nos levou a elaborao e aplicao de uma aula em uma

    das turmas da EMCASB. Depois de um dilogo com a professora responsvel pelo estgio,

    decidimos que a turma selecionada pra tal aula seria a 8 A, devido a seu melhor

    comportamento e facilidade de aprendizagem.

    O contedo escolhido, devido ao atual momento do estgio e o calendrio escolar,

    no pde ser nenhum conhecimento relacionado escravido brasileira, tal tema que nos

    traria facilidade de trabalho. Ento, de acordo com o calendrio letivo, foi escolhido como

    contedo de aula o processo de independncia das 13 colnias da Amrica do Norte.

    O contedo em si no apresentou total dificuldade, no entanto, nos impediu de

    trabalhar com fontes primrias mais prximas, como aconteceria com o tema escravido em

    minas, onde a proposta original seria a de utilizar os processos crimes referentes ao Frum

    de Piranga, ilustrando as relaes sociais na escravido, bem como os mecanismos locais do

    sistema judicirio e legal da poca.

    Como fonte histrica para a anlise da independncia das 13 colnias, utilizamos a

    Declarao de Independncia dos Estados Unidos da Amrica, o documento oficial

    emitido em 1776, que proclamava livre do domnio ingls as referentes colnias.

    Neste documento possvel extrair diversas questes referentes da atualidade, o

    momento da poltica nacional, as questes diplomticas relacionadas aos Estados Unidos em

    nosso sculo, bem como fazer referncias a outros recortes histricos j estudados

    anteriormente e que so de suma importncia para a compreenso do processo histrico, bem

    como a compreenso das inspiraes iluministas presentes na declarao, com fortes

    referncias a Montesquieu e John Locke.

    Alm da declarao, foi utilizado tambm um mapa mundi onde foi possvel

    representar os estados atuais dos Estados Unidos e assim localiza-los geograficamente de

    acordo com a poca da independncia, facilitando a compreenso dos alunos sobre os

    estados do norte e os estados do sul, percebendo suas peculiaridades.

  • 24

    A aula, apesar do planejamento, no seguiu perfeitamente como imaginamos. A

    turma se manteve em silncio coma presena da professora, mas depois de um momento em

    que ela precisou sair da sala, a turma se desconcentrou.

    Apesar do nosso conhecimento sobre o tema, sentimos dificuldades em algumas

    questes e esse nervosismo acabou sendo transparecido para a turma, dificultando a

    aprendizagem sobre o tema.

    Outro problema encontrado foi a dificuldade de mesclar a linguagem acadmica

    sancionada na universidade, com a linguagem didtica para as salas de aula do ensino

    fundamental. preciso certo cuidado do professor recm formado, acostumado com o ritmo

    e com o entendimento prprio das universidades, para que os conceitos histricos

    necessrios para a aprendizagem do aluno estejam apresentados de forma que eles possam

    compreender de forma facilitada e ao mesmo tempo, precisamos manter a ideia original do

    prprio conceito, mantendo-o fiel ao significado estudado.

    Alm disso, outros problemas afetaram o desempenho da aula. Durante a regncia,

    diversos alunos saram da sala, para desempenharem uma atividade de outra matria. Tal

    questo dividiu a sala, desconcentrou os alunos que ainda permaneciam nela, tirando o foco

    do contedo em questo.

    Apesar disso, acreditamos que foi possvel criar um razovel dilogo com os alunos

    durante a regncia, sendo possvel apontar aquilo que considervamos de maior valia para a

    formao da cognio e do senso crtico da classe. Pontos que estavam alm da prpria

    questo da independncia e que tornavam o contedo atual e possvel de relao com a

    vivncia e a interpretao da realidade dos alunos.

    O exerccio dado como tarefa tambm contribuiu muito para alcanarmos um bom

    resultado. Utilizamos da Declarao de Independncia, para levar os alunos a pensarem

    sobre o contedo estudado anteriormente, como o iluminismo. Atravs da declarao, eles

    puderam perceber a inspirao de alguns pensadores j estudados, podendo assim fazer uma

    interessante relao.

    Alm disso, a declarao possibilita relacionar o EUA no momento de sua

    independncia, com o pas atual, bem como sua politica e sua forma de se relacionar com o

    mundo.

  • 25

    Concluindo, apesar das dificuldades encontradas na regncia, alguns pontos positivos

    foram alcanados. A utilizao da fonte da declarao surtiu efeito, levando os alunos a

    discutirem e interrogarem sobre ela. A inspirao iluminista possibilitou aos alunos

    perceberem a importncia de vincularem o estudo passado com o do momento.

    As discusses sobre a cultura norte americana tambm levou os alunos a dialogarem ,

    levando a pensar nas suas formas de interveno e politica com os demais pases do mundo.

    Infelizmente, o curto prazo de tempo pra desempenhar a regncia, devido ao fato dos

    alunos terem que sair para desempenhar atividade da outra matria, acabou prejudicando o

    processo de aprendizagem e a concentrao da turma, somado ao nosso nervosismo diante da

    sala.

    No entanto, acreditamos que a experincia tenha sido benfica e que tenha sido

    possvel transmitir pra classe, nossa viso e nossa compreenso histrica sobre o tema.

  • 26

    6- A experincia na EMCASB: Consideraes finais

    Encerrado nosso estgio na EMCASB, podemos finalmente fazer um balano geral

    dessa experincia, levando em conta as perspectivas educacionais depositadas at ento, as

    tentativas de interveno pedaggica, o dilogo e a relao com os alunos, professores e

    todos os demais funcionais. Atravs dessa anlise final, podemos constatar a importncia do

    estagio final de licenciatura, tanto para ns que estamos nos graduando, quanto para a escola

    que recebe nossa participao.

    No comeo de nosso trabalho, levantamos a questo da vinculao necessria da

    pesquisa histrica com o ensino de histria nas escolas de ensino mdio e fundamental,

    transformando o conhecimento histrico seja qual for a sua vertente, em uma produo

    intelectual completa, sendo produzida de forma dialtica entre universidade- professor-

    aluno.

    Atravs da prtica do estgio na EMCASB, percebemos as dificuldades inerentes de

    se vincular a pesquisa ao ensino nas escolas. Muitos so os fatores que dificultam uma maior

    utilizao desse recurso didtico. Dentre eles esto:

    1. O material didtico: Sabemos da necessidade de se buscar outras fontes de

    conhecimentos que vo alm do material didtico vigente. No entanto, nem

    todos os professores, devido a excessiva carga horria, ou at mesmo a falta

    de informao, buscam outros recursos que busquem somar ao estudo do

    aluno, fazendo com que os mesmos possuam como campo de viso apenas o

    que est presente no livro, sendo que tal material trs geralmente apenas um

    documento histrico diferenciado em cada captulo.

    2. O tempo de cada aula: Apesar de muitos professores do ensino mdio

    lecionarem vrias vezes por dia, o tempo decorrente de cada aula de histria,

    bem como as duas aulas por semana, muitas vezes no possibilitam de tempo

    para elaborarem melhor seu plano de aulas. Alm disso, os 50 minutos de

    cada aula no so suficientes, geralmente, para que o professor aplique o

    contedo obrigatrio presente na sua grade semestral e ainda mescle o

  • 27

    conhecimento atravs do campo de pesquisa de histria, suscitando outras

    discusses alm daquelas que no ultrapassariam o livro didtico.

    3. Presso por um contedo de vestibular/ENEM: Principalmente no ensino

    mdio, os alunos se encontram pressionados por um contedo relacionado ao

    exame que possibilitaro seu ingresso em uma universidade federal. Por isso,

    muitas vezes o prprio contedo histrico fica prejudicado, sendo transmitido

    de forma a se decorar o conhecimento, ignorando o raciocnio necessrio para

    se alcanar os resultados esperados do estudo histrico. Devido a essa forma

    de se colocar em foco o exame em detrimento do conhecimento, a pesquisa

    histrica tambm acaba sendo prejudicada.

    4. Despreparo e desinteresse por parte dos professores: No so apenas os

    problemas estruturais que impossibilitam a utilizao da pesquisa histrica

    nas escolas de ensino mdio e fundamental. Muitas vezes os professores no

    tiveram um preparo suficiente ao ponto de vincular a pesquisa com o ensino,

    utilizando de fontes e de perspectivas para os debates em sala de aula. Pecam

    tambm no prprio interesse, devido algumas vezes a desmotivao

    profissional, acabam por no se interessarem pela busca de outras ferramentas

    de ensino capazes de complementar o estudo e a aprendizagem.

    5. O Afastamento ensino obrigatrio/ Universidade: Algo recorrente nas escolas

    que recebem estagirios, o patente afastamento das escolas locais com a

    universidade, sendo que o contato mais largo e por maior tempo o contato

    entre estagirio e escola, que dura um perodo. Tal distanciamento entre

    academia e escola, leva prontamente tambm, ao afastamento entre

    ensino/escola e pesquisa/academia. Os professores, muitas vezes no se

    sentem preparados e em posio suficiente para produzir uma pesquisa

    histrica, assim como no h tambm um incentivo da universidade neste

    ponto.

    Esses so alguns dos pontos pertinentes que afastam os professores do ensino

    obrigatrio da pesquisa histrica, to em voga no meio acadmico. No entanto, pensamos

    que este patente vazio precisa ser preenchido, afinal, vivemos em tempos em que a

    informao corre rapidamente e todo esse dinamismo tem na pesquisa um grande ponto de

    articulao, fazendo com que o professor no se torne defasado diante do aluno, que tem na

    internet um ponto importante de conhecimento alm da sala de aula.

  • 28

    A EMCASB uma escola que possibilita a investigao histrica, possuindo sala de

    informtica e dando espao para que os professores avancem em sua formao nas diversas

    esferas do ensino. Resta agora escola e as prticas escolares fazerem desta juno entre

    pesquisa e ensino uma prtica cotidiana, tornando os alunos parte de uma construo

    histrica e indicando a eles que a histria dinmica, assim como outras reas cientficas.

    Uma outra perspectiva de interveno seria uma viagem agendada para a cidade de

    Piranga, onde se encontra o arquivo do frum.

    A regio de Guarapiranga corresponde, grosso modo, bacia do rio Piranga e seus

    afluentes ao sul de Mariana, com seus limites demarcados pelas Serras da Mantiqueira e do

    Espinhao, ao leste e sudeste. A malha fluvial organizou o espao e os caminhos da expanso

    das atividades econmicas nos incios do sculo XVIII, como principal meio de transporte e

    comunicao.

    A freguesia foi criada em 1724, e por volta de 1750 a contava com cerca de 5.200 pessoas,

    com trs igrejas erguidas custa dos moradores e com quatro irmandades de compromisso 13

    .

    Limite extremo da fronteira de expanso, a ocupao da promissora freguesia era limitada

    pelas mortes que o gentio da terra fazia a brancos e negros, limitando novos descobrimentos e

    arrasando as povoaes j existentes (Venncio, 1997). A barra do Xopot estava deserta por

    ter o gentio assolado tudo e queimado um engenho, como lamentava o mesmo Gouveia 14.

    Como nos inventrios paulistas do sculo XVII analisados por Muriel Nazzari (2001), os

    inventrios de Guarapiranga do incio do sculo XVIII arrolam ndios Carijs em meio aos

    plantis escravos j predominantemente africanos 15

    .

    Quando o arraial se transformou em vila em 1841, seu territrio contemplava as freguesias

    de Piranga, Barra do Bacalhau e So Jos do Xopot, e os distritos do Pinheiro, Conceio e

    Dores do Turvo, com a serra servindo de limites com os municpios de Presidio e Pomba.

    13

    . Informao das antiguidades da freguesia de Guarapiranga In: CDICE Costa Mattoso, Belo Horizonte: Fundao Joo Pinheiro/Centro de Estudos Histricos e Culturais, 1999. v. 1. Coord. Luciano R.A. Figueiredo e Maria Veronica Campos. p. 257-58. 14

    . Idem, 259. 15

    . ACSM, 1. Ofcio, 89, 1870, 1715. Francisca Luiz; ACSM, 1. Ofcio, 68, 1457, 1716. Capito Antnio Soares Ferreira.

  • 29

    No complexo vai-e-vem das mudanas jurisdicionais, o municpio suprimido em 1865 e

    seus distritos divididos entre Mariana e as Vilas de Queluz, Ub e Barbacena, para ser

    restaurado novamente trs anos depois 16

    . Em 1870 a vila elevada categoria de cidade 17

    .

    Sendo assim, tal regio torna-se local promissor para anlises histricas de diversos

    segmentos. Levar os alunos da EMCASB para uma anlise dos inventrios e dos processos

    que se encontram na cidade enriquecedor na medida que possibilita ao aluno, finalmente

    entrar em contato direto com a fonte primria, a ferramenta do historiador, a documentao

    que possibilita a produo histrica. Tal contato de importncia essencial para que os

    mesmos aprendam que a histria uma construo, no uma concepo estagnada, fixa e que

    no sofre mudana.

    Alm disso, tal passeio possui mais do que importncia educacional, fazendo parte de uma

    integrao entre aluno e professor, extrapolando as paredes fixas e fechadas da escola. Uma

    viagem possibilita ao aluno perceber que o conhecimento feito alm da escola, mas em

    qualquer lugar onde se possvel ensinar e aprender.

    No entanto, apesar dos esforos conjuntos entre a escola e o estgio, no foi possvel

    realizar tal interveno, por um conjunto de fatores:

    1. Aspectos financeiros: preciso levar em conta que a escola, apesar de central,

    possui ensino gratuito onde geralmente a populao mais carente o utiliza. Sendo

    assim, no se pode em hiptese alguma, cobrar financeiramente, mais do que os

    pais e responsveis pelos alunos podem investir no ensino.

    2. Falta de apoio da prefeitura: Na primeira hiptese, o transporte seria pela

    prefeitura, que arcaria com tais gastos. No entanto, por razes que nos so

    desconhecidas, no foi possvel realizar essa parceria com o rgo administrativo.

    3. Calendrio escolar: Apesar da importncia que tal viagem desempenha para a

    formao de conhecimento do aluno, a necessidade de contedo semestral nos

    impediu de investir ainda mais na possibilidade de viagem, levando em conta a

    importncia de se cumprir a grade escolar.

    4. Os alunos: Infelizmente, seria necessrio para a viagem, optar pela turma mais

    comportada, levando em conta que o local corresponde a um rgo jurdico. Sendo

    16

    . Coleo das Leis Mineiras, Lei Provincial 1.249, de 17 de novembro de 1865, Lei Provincial 1.537, de 20 de julho de 1868. 17

    . Coleo das Leis Mineiras, Lei Provincial 1.729, de 5 de outubro de 1870.

  • 30

    assim, seria a nosso ver, seria complicado escolher uma das turmas em detrimento

    das outras, o que poderia corresponder com a desmotivao das que no fossem

    selecionadas para o projeto.

    Sendo assim, infelizmente nossa concepo de interveno foi prejudicada por

    elementos estruturais que extrapolam nossas possibilidades. Podemos ao menos, dialogar com

    os alunos sobre nosso trabalho no frum, explicar sobre a concepo de anlise de fonte,

    formas de interpreta-la e entende-la, o que realmente deve ser percebido na fonte, o que

    interessante de se destacar.

    Os alunos se mostraram interessados com as possibilidades de anlises. de se

    lamentar o no aprofundamento em tais questes pertinentes ao trabalho histrico. Vale

    destacar que no o nosso papel formar estudantes para que sejam basicamente historiadores,

    mas dentro das possibilidades de hoje, onde a informao circula rpido, entendemos que

    preciso mais do que nunca demonstrar as possibilidades de construo dos conceitos

    histricos, onde o saber de forma alguma fechado e participa de uma construo coletiva.

    Em geral, podemos destacar como produto final que a experincia na EMCASB foi

    totalmente engrandecedora. A instituio colaborou na medida em que podia com todo o

    desenvolvimento do projeto. Fomos muito bem recebidos, tanto pelos professores, quanto

    pelos funcionrios da instituio, que se comprometeram a nos ajudar a compreender melhor

    os dias escolares.

  • 31

    7- Concluso

    Depois de todo o tempo de estgio investido na EMCASB, podemos ter a certeza do

    enriquecimento que a experincia nos trouxe. Antes dela, a percepo de sala de aula se

    restringia ao que entendamos na nossa concepo de aluno. Na frente da sala, tudo muito

    diferente. preciso firmeza pra conduzir o ensino, no entanto, precisa-se tambm manter a

    maleabilidade do saber, perceber o aluno tambm como uma fonte de engrandecimento do

    ensino, com potencia tambm para nos ensinar. E a nica forma de fazer isso tendo a

    compreenso da coletividade da construo do ensino.

    A EMCASB uma escola que apesar de pblica, possui sim uma boa estrutura para

    que o ensino funcione e consiga atingir os propsitos mnimos esperados pelos pais,

    professores e sociedade. No entanto, cabe ressaltar que para tudo sair como o esperado

    necessrio um esforo conjunto das diferentes esferas envolvidos no ensino. No adianta

    apenas os professores se envolverem nas aulas, prepararem prontamente o material didtico,

    cumprir com rigor sua carga horria, se os pais no trabalharem tambm em conjunto.

    preciso que o apoio em casa esteja seguido do apoio na escola, que os pais

    fiscalizem a participao e a frequncia dos seus filhos na escola, que eles acompanhem o

    aprendizado dos mesmos, visite a escola pra entender o andamento do seu filho, olhe o

    caderno de tarefa. Mas no s de cobranas funciona esse apoio. Os pais precisam apoiar seus

    filhos naquilo que eles melhor podem desempenhar, incentivando, participando das

    atividades, estando na escola da forma que puder.

    Da parte dos alunos, sabemos tambm, por experincia, que preciso muitas vezes

    mais do que o apoio dos professores e responsveis para que os mesmos desempenhem um

    bom rendimento escolar. No se pode jogar a culpa inteira diante de um sistema educacional,

    se o aluno, seja por qual razo, tambm no manifesta interesse e no entende, mesmo atravs

    dos incentivos, a importncia da escola.

    Nossa experincia na EMCASB, nos levou a perceber que muito do que aprendemos

    durante a graduao, durante a prtica acaba sendo por vezes utpico. Entendemos a

    importncia da academia transmitir as ferramentas e as perspectivas educacionais possveis,

    no entanto, na correria do dia-dia e do programa educacional, do calendrio, do caderno de

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    chamada e das reunies de conselho de classe, percebemos que muitas vezes os professores

    precisam de muito mais do que boa vontade para desempenharem seu melhor papel dentro do

    quadro escolar.

    No entanto, apesar de todas as dificuldades, no podemos desistir de focarmos o

    melhor possvel em desempenhar nosso ofcio de professor. Sejas quais forem as

    circunstncias existentes, excesso de trabalho, falta de apoio da instituio, baixos salrios,

    no se pode de maneira nenhuma descontar isso nos alunos e na escola.

    Ser professor nossa escolha, ento preciso considerar esse fato como uma bandeira

    a se seguir. No a desistncia de uma educao melhor que vai melhorar a nossa situao,

    mas sim o trabalho particular de cada um na buscar pela melhor maneira de se ensinar, falar e

    ser ouvido. O professor um cone social, mesmo sendo pra ns, uma poca difcil.

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    BIBLIOGRAFIA

    ACSM, 1. Ofcio, 89, 1870, 1715. Francisca Luiz; ACSM, 1. Ofcio, 68, 1457, 1716.

    Capito Antnio Soares Ferreira.

    BOULOS, Alfredo Jnior, Histria, Sociedade & Cidadania, nova edio.

    Coleo das Leis Mineiras, Lei Provincial 1.249, de 17 de novembro de 1865, Lei Provincial

    1.537, de 20 de julho de 1868

    Informao das antiguidades da freguesia de Guarapiranga In: CDICE Costa Mattoso,

    Belo Horizonte: Fundao Joo Pinheiro/Centro de Estudos Histricos e Culturais, 1999. v. 1.

    Coord. Luciano R.A. Figueiredo e Maria Veronica Campos.

    Regimento escolar 2000. Escola Municipal Antonio da Silva Bernardes, Resoluo n 71

    Centro- tel.3891 3701- Viosa MG, histrico.