Textos Modernistas Para Leitura e Análise POESIAS

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Textos modernistas para leitura e análise - POESIAS Texto 1 Quando eu morrer quero ficar Quando eu morrer quero ficar, Não contem aos meus inimigos, Sepultado em minha cidade, Saudade. Meus pés enterrem na rua Aurora, No Paissandu deixem meu sexo, Na Lopes Chaves a cabeça Esqueçam. No Pátio do Colégio afundem O meu coração paulistano: Um coração vivo e um defunto Bem juntos. Escondam no Correio o ouvido Direito, o esquerdo nos Telégrafos, Quero saber da vida alheia, O nariz guardem nos rosais, A língua no alto do Ipiranga Para cantar a liberdade. Saudade... Os olhos lá no Jaraguá Assistirão ao que há de vir, O joelho na Universidade, Saudade... As mãos atirem por aí, Que desvivam como viveram, As tripas atirem pro Diabo, Que o espírito será de Deus. Adeus. Mário de Andrade Sereia. Texto 2 Texto 3 Quando o português chegou O BICHO Debaixo de uma bruta chuva Vi ontem um bicho Vestiu o índio Na imundície do pátio Que pena! Catando comida entre os detritos. Fosse uma manhã de sol Quando achava alguma coisa, O índio tinha despido Não examinava nem cheirava: O português Engolia com voracidade. Oswald de Andrade O bicho não era um cão, Não era um gato, Não era um rato. O bicho, meu Deus, era um homem. Manuel Bandeira

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Seleção de textos modernistas para análise e fins pedagógicos.

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Textos modernistas para leitura e anlise - POESIAS

Texto 1Quando eu morrer quero ficarQuando eu morrer quero ficar,No contem aos meus inimigos,Sepultado em minha cidade,Saudade.

Meus ps enterrem na rua Aurora,No Paissandu deixem meu sexo,Na Lopes Chaves a cabeaEsqueam.

No Ptio do Colgio afundemO meu corao paulistano:Um corao vivo e um defuntoBem juntos.

Escondam no Correio o ouvidoDireito, o esquerdo nos Telgrafos,Quero saber da vida alheia,

O nariz guardem nos rosais,A lngua no alto do IpirangaPara cantar a liberdade.Saudade...

Os olhos l no JaraguAssistiro ao que h de vir,O joelho na Universidade,Saudade...

As mos atirem por a,Que desvivam como viveram,As tripas atirem pro Diabo,Que o esprito ser de Deus.Adeus.Mrio de Andrade

Sereia.

Texto 2 Texto 3 Quando o portugus chegou O BICHO Debaixo de uma bruta chuvaVi ontem um bicho Vestiu o ndioNa imundcie do ptio Que pena!Catando comida entre os detritos. Fosse uma manh de solQuando achava alguma coisa, O ndio tinha despidoNo examinava nem cheirava: O portugusEngolia com voracidade. Oswald de AndradeO bicho no era um co,No era um gato,No era um rato.O bicho, meu Deus, era um homem.Manuel Bandeira

Texto 4 POTICAEstou farto do lirismo comedidoDo lirismo bem comportadoDo lirismo funcionrio pblico com livro de ponto espediente protocolo e manifestaes de apreo ao sr. diretor.

Estou farto do lirismo que para e vai averiguar no dicionrio o cunho vernculo de um vocbulo.

Abaixo os puristas.Todas as palavras sobretudo os barbarismos universaisTodas as construes sobretudo as sintaxes de exceoTodos os ritmos sobretudo os inumerveis

Texto 5 Poesias - Eu (1912)

Estou farto do lirismo namoradorPolticoRaquticoSifilticoDe todo lirismo que capitula ao que quer que seja fora de si mesmo.

De resto no lirismoSer contabilidade tabela de co-senos secretrio do amante exemplar com cem modelos de cartas e as diferentes maneiras de agradar &agraves mulheres, etc.

Quero antes o lirismo dos loucosO lirismo dos bbadosO lirismo difcil e pungente dos bbadosO lirismo dos clowns de Shakespeare.

- No quero saber do lirismo que no libertao.Manuel Bandeira

Versos ntimos

Vs!NingumassistiuaoformidvelEnterrodetualtimaquimera.SomenteaIngratido, estapanteraFoituacompanheirainseparvel!

Acostuma-telamaqueteespera!Ohomem,que,nestaterramiservel,Mora,entreferas,senteinevitvelNecessidadedetambmserfera.

Tomaumfsforo.Acendeteucigarro!Obeijo,amigo,avsperadoescarro,Amoqueafagaamesmaqueapedreja. Seaalgumcausaindapenaatuachaga Apedrejaessamovilqueteafaga,Escarranessabocaquetebeija!Augusto dos Anjos