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O Teste das Pirmides Coloridas de Pfister e o Transtorno Obsessivo CompulsivoTtulo abreviado: Pfister e o TOCAnna Elisa de Villemor Amaral Telma Claudina da Silva Ricardo Primi Universidade So FranciscoResumo O diagnstico psicopatolgico uma atividade constante no trabalho de psiclogos e psiquiatras, porm ainda constata-se relativa carncia de recursos e instrumentos de avaliao. Nesse estudo procuramos contribuir oferecendo evidncias de validade para o teste de Pfister no diagnstico psicopatolgico do transtorno obsessivo compulsivo (TOC). A amostra foi formada por 12 pacientes diagnosticados com TOC (GE) e 18 pessoas que nunca procuraram ajuda psiquitrica ou psicolgica (GC). Em ambos os grupos foi aplicado o teste de Pfister, sendo que no GE tambm aplicou-se a SCID, para validao do diagnstico psiquitrico e uniformizao da amostra. Empregando a regresso logstica verificou-se um aumento significativo na cor marrom e nas formaes simtricas no grupo experimental resultando em uma sensibilidade de 58,3% e uma especificidade 88,9%. Palavras chave: Avaliao psicolgica; Pirmides Coloridas de Pfister, Transtorno Obsessivo Compulsivo, Psicopatologia, Psicodiagnstico Abstract The psychopathological assessment is a common professional task of psychologists and psychiatrists but there is still a lack of valid instruments to accomplish it. In this study our aim was to investigate the validity of The Pfisters Color Pyramid Test to identify Obsessive Compulsive Disorders (OCD). The sample was composed by 11 patients, selected according to the SCID criteria for OCD, and 18 non-patients, who never sought psychological or psychiatric assistance. By using logistic regression we found a significant increase in the use of brown color and in the symmetric configurations among TOC patients resulting in a sensitivity of 58.3% and a specificity of 88.9%. Key words: Psychological assessment, Pfisters Color Pyramid Test, Obsessive Compulsive Disorder, Psychopathology.

O diagnostico clnico atividade constante no trabalho dos profissionais da sade e contribui de forma decisiva no processo de atendimento do paciente. ele que determina as diretrizes a serem seguidas, sustentando o uso dos procedimentos adotados posteriormente, sendo muitas vezes indispensvel para o sucesso do tratamento. Diante disso faz-se necessrio o desenvolvimento de instrumentos que facilitem esse processo, poisEndereo para correspondncia: Universidade So Francisco, Programa de Estudos Ps-Graduados em Psicologia, Rua Alexandre Rodrigues Barbosa, 45, CEP 13251-900, Itatiba SP Correio eletrnico: [email protected] , Os autores agradecem ao Conselho Nacional de Pesquisa Cientfica (CNPq) pelo financiamento da bolsa de iniciao cientfica e Fundao de Amparo a Pesquisa do Estado de So Paulo (FAPESP) pelo financiamento do LabAPE.

quanto mais materiais auxiliares estiverem disponveis, mais o profissional dessa rea ter condies de atuar com maior segurana e eficincia garantindo um melhor prognstico a seus pacientes. No que se refere ao diagnstico psicopatolgico, sabemos que uma rea bastante carente de recursos, pois a doena mental abrange um vasto campo psquico sofrendo influencia de muitas variveis, de modo que nem sempre vivel um diagnostico rpido e preciso. Alm disso, o nvel de comprometimento mental das pessoas que necessitam deste servio dificulta o processo, pois muitas vezes no dispem de condies para fazer uso dos recursos existentes, limitando ainda mais o trabalho dos profissionais da rea. O desenvolvimento de instrumentos de avaliao psicolgica com caractersticas diversas ne-

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cessrio, sobretudo daqueles que prescindem da expresso verbal do paciente e no requerem habilidades culturais ou educacionais. O teste das pirmides coloridas de Pfister constitui um instrumento privilegiado nesse sentido, pois um teste de manejo simples, oferecendo uma srie de vantagens tanto para o profissional quanto para o paciente que est sendo avaliado (Villemor Amaral, 1978). As facilidades do uso desse material so, dentre outras, as seguintes: o pouco tempo gasto para sua aplicao; o carter ldico; facilidade de administrao; desempenho no verbal podendo ser utilizada por pessoas de todas as idades independente do nvel educacional e cultural; rapidez de avaliao. Este teste foi criado em 1948 pelo psiclogo suo, Max Pfister e publicado no Brasil no ano de 1966 pelo professor Fernando de Villemor Amaral, que apresentou a padronizao brasileira, alm de acrescentar valiosas observaes no modo como as pirmides so executadas e no aspecto formal das pirmides e das cores e combinaes utilizadas. Em sua segunda edio publicada em 1978, Villemor Amaral afirma que j em 1948, Max Pfister refere-se ao valor sintomtico das cores e suas relaes com estados ou reaes emocionais correspondentes. Nesta edio traz novas contribuies quanto a interpretao das cores e apresenta as tabelas construdas em 1973, manifestando sua insatisfao quanto a falta de estudos referentes a psicopatologia, afirmando que muito h ainda a acrescentar e pesquisar. Nosso propsito nesse estudo verificar a validade do Teste das Pirmides Coloridas de Pfister para o diagnstico psicopatolgico do transtorno obsessivo compulsivo (TOC). Obsesses so idias ou pensamentos que invadem a mente do indivduo lhe causando sofrimento, so carregados de contedos desagradveis, absurdos e sem conexo com a realidade. J as compulses so atos repetitivos cuja finalidade amenizar as idias obsessivas, de modo que a pessoa que sofre desse transtorno se v obrigada a executar um determinado comportamento para se ver livre dos pensamentos intrusivos (Associao Americana de Psiquiatria, 1994). Trata-se de um transtorno que se caracteriza pela ambivalncia, regresso e fixao as etapas iniciais do desenvolvimento, deslocamento do afeto para representaes distantes do conflito inicial, falta de insight, presena do sentimento de ansiedade, angstia, tenso interna, sendo muitas vezesAvaliao Psicolgica, 2002,2, pp. 133-139

acompanhado por episdios depressivos (Freud, 1909, 1918). A pessoa torna-se incapaz de tomar decises simples, tendo tambm seu contato social prejudicado como forma de evitar situaes desencadeantes das obsesses e/ou compulses. Segundo o Manual Diagnstico e Estatstico de Transtornos Mentais (DSM-IV Associao Americana , de Psiquiatria, 1994) esse transtorno igualmente comum nos dois sexos, sendo a idade de incio mais precoce nos homens, entre 6 e 15 anos, e entre 20 e 29 para as mulheres. Embora em geral se inicie na adolescncia e comeo da idade adulta, pode aparecer ainda na infncia. Afeta 2,5% da populao e prevalece ao longo da vida do indivduo. Ainda segundo o DSM-IV o TOC consiste uma manifestao especfica dos transtornos de ansiedade. Barlow (2000) em uma discusso sobre a natureza da ansiedade enfatiza que no cerne desta emoo est o sentido de incontrolabilidade focalizado largamente em possveis ameaas futuras, perigos, ou outros eventos vindouros negativos, em contraste ao medo no qual o perigo presente e iminente (p.1249). A apreenso ansiosa acompanhada por um estado de hipervigilncia cuja funo o preparo para enfrentar os eventos negativos. Este estado de vigilncia afeta os processos cognitivos de ateno e recuperao de informao da memria fazendo com que idias com a mesma tonalidade emocional sejam mais provveis de serem percebidas. Nos casos de TOC o foco da ansiedade est nos pensamentos, imagens e desejos e as compulses podem ser entendidas como tentativas de exercer controle sobre estes eventos negativos percebidos como incontrolveis. Para um diagnstico definitivo, segundo a Classificao Internacional de Doenas (CID-10, Organizao Mundial de Sade, 1993), sintomas obsessivos, atos compulsivos ou ambos devem estar presentes na maioria dos dias por pelo menos duas semanas consecutivas e ser uma fonte de angustia ou de interferncia com as atividades. Deve tambm ter as seguintes caractersticas: ser reconhecidos como pensamentos ou impulsos do prprio indivduo; haver pelo menos um pensamento ou ato que ainda resistido, sem sucesso; o pensamento de execuo do ato no deve ser em si mesmo prazeroso; os pensamentos, imagens ou impulsos devem ser desagradavelmente repetitivos. Cordioli e Heldt (2000), afirmam que as compulses mais comuns so as de lavagem das mos ou do corpo, verificao ou controle, repeti-

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es, de ordem, arranjo, simetria, seqncia ou alinhamento. Freud, ao longo de seus trabalhos procurou encontrar as causas psquicas para o desenvolvimento de tal doena tentando verificar como as manifestaes corporais estavam relacionada com a vida psquica e com as experincias emocionais vivenciadas pelo indivduo. Em Atos Obsessivos e Prticas Religiosas (Freud, 1907), diz que o que est sendo representado em atos obsessivos e cerimoniais deriva das experincias mais ntimas do paciente, principalmente das sexuais (pag.15). Em seu trabalho o Homem dos Ratos (Freud, 1909), afirmou que uma relao de amor e dio conta-se entre as caractersticas mais freqentes, mais marcantes e, provavelmente mais importantes da neurose obsessiva (pag. 240). J em 1918 em Histria da Neurose Infantil (Homem dos Lobos) afirma que a neurose obsessiva se desenvolve com base numa constituio anal sdica (pag. 91). Para a psicanlise, os contedos inconscientes que dominam as obsesses e compulses so carregados de caractersticas sexuais, predominantemente de ordem anal, onde a essncia desse transtorno residiria no fato de que algo, quando reprimido pela conscincia, se manifesta atravs de outros pensamentos e comportamentos. Verifica-se que um transtorno que carece de mais estudos e pesquisas, pois o desenvolvimento deste quadro psicopatolgico ainda envolve perguntas que desafiam aos pacientes e profissionais da rea e acredita-se que somente com novas pesquisas e integrao dos conhecimentos de diferentes reas do saber poder-se- chegar a um melhor prognstico e a uma melhor qualidade de vida para essas pessoas. Diante dessa carncia seria importante verificar em que medida o Pfister pode contribuir no diagnstico do TOC. Portanto o objetivo deste estudo verificar a validade diagnstica Pfister na avaliao psicopatolgica de quadros de TOC. Mtodo Participantes Foram sujeitos dessa pesquisa 30 pessoas com idade superior a 18 anos. Grupo Experimental: foi formado por 12 pacientes, ligados a instituies de sade mental (hospital dia e clnicas de atendimento psiquitrico ou psicolgico) diagnosticados pela SCID como portadores do TOC.

Grupo controle: foi composto de acordo com dados referentes a idade e escolaridade, buscando parear ao mximo com o grupo experimental. Participaram 18 pessoas provenientes da comunidade, funcionrios de uma empresa de transporte da cidade e funcionrios e alunos da prpria universidade. Instrumentos Entrevista Clnica Estruturada para os Transtornos do Eixo-I do DSM-IV (SCID-I). (First, Spitzer, Gibbon & Williams, 1996). Teste de Pfister, que consiste em um jogo de trs cartes contendo o desenho de uma pirmide, subdividida em 15 quadrculos e um jogo de quadrculos coloridos composto por dez cores subdivididas em vinte e quatro tonalidades (Villemor Amaral, 1978). Procedimento Aps entrar em contato com as instituies parceiras - uma clnica particular de atendimento psiquitrico, o hospital dia e a clnica de psicologia da prpria universidade - o projeto foi analisado pelas respectivas comisses de tica. Aps consentida a realizao da pesquisa, as entrevistas eram agendadas com antecedncia pelo profissional da instituio responsvel em selecionar os participantes. A nica exigncia foi que a instituio dispusesse de um espao onde a entrevista pudesse ser realizada sem que fossem incomodados. Os materiais necessrios foram uma mesa e cadeiras. Tambm foi solicitado que o participante tivesse idade superior a 18 anos e se encontrassem em condies de responder a uma srie de questes e cumprir as instrues para execuo do teste. Os aplicadores eram alunos de iniciao cientifica treinados minuciosamente na aplicao dos instrumentos. Com o propsito de treinar o procedimento utilizado e certificar que estavam aptos a executar da maneira correta a aplicao do teste efetuaram-se inicialmente aplicaes em pessoas voluntrias. Para que a amostra fosse composta com base em critrios uniformes optou-se por utilizar a Entrevista Clnica Estruturada para o DSM-IV, Transtornos do Eixo-I (SCID-I Verso clnica). Antes de iniciar a entrevista o paciente era informado sobre a pesquisa e esclarecido que as informaes obtidas eram confidenciais, sendo ento solicitado que preenchesse o termo de consentimento de participao.Avaliao Psicolgica, 2002,2, pp. 133-139

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Iniciava-se o contato com o paciente primeiramente com a aplicao da SCID-I verificandose a histria do paciente e de seu tratamento. Depois era a verificado a presena ou ausncia de episdios de humor, sintomas psicticos, uso de lcool e outras substncias, sintomas obsessivos compulsivos, transtornos do pnico e outros transtornos de ansiedade, de modo que se chegasse ao diagnstico psicopatolgico. Posteriormente era aplicado o teste de Pfister. A aplicao desse teste consiste em pedir para que o participante preencha a pirmide usando as cores que quiser, de modo que esta fique bonita. Ento apresentado um carto de cada vez e aps terminado os trs solicitado para que a pessoa diga qual a pirmide que mais gostou e qual menos gostou. Tambm se pergunta sobre qual a cor que mais gostou e menos gostou no teste e qual a cor que mais gosta e menos gosta em sua vida. Os atendimentos eram feitos em duplas e as dvidas levantadas eram anotadas e levadas posteriormente para discusso em superviso. Cada entrevista durava de uma a trs horas, variando conforme o estado clnico de cada paciente e tambm suas caractersticas individuais, sendo realizado no mximo duas aplicaes em um mesmo dia. Com relao ao grupo controle, este foi formado de acordo com dados apresentados pelo grupo experimental, considerando principalmente a idade e escolaridade dos participantes. Os sujeitos que compuseram esse grupo foram alunos e funcionrios da universidade, funcionrios de uma empresa de transporte da cidade e pessoas da prpria comunidade. A nica exigncia era que nunca tivessem procurado ajuda psiquitrica ou psicolgica. Na entrevista esclarecia-se sobre a pesquisa e solicitava-se que assinassem o termo de consentimento. Posteriormente faziam-se algumas questes sobre dados de identificao - nome, idade, escolaridade, profisso, estado civil, nmero de filhos, raa, religio, uso de medicao, necessidade de tratamento psiquitrico ou psicolgico, tratamento para uso de lcool ou drogas - para excluso de indivduos com histrico de algum tratamento psicolgico ou psiquitrico. Somente aps era aplicado o teste de Pfister. Os dados foram analisados em conjunto pelos pesquisadores, tendo sido consideradas a freqncia das cores utilizadas e o aspecto formal das pirmides realizadas, de acordo com a interpretao de Villemor Amaral (1978).Avaliao Psicolgica, 2002,2, pp. 133-139

Resultados O Teste Pfister proporciona inmeras variveis ligadas basicamente a dois aspectos: a freqncia de utilizao das cores e configurao das pirmides. O primeiro conjunto foi composto por dez variveis cujos valores podiam variar de 0 a 100 correspondentes freqncia de uso das cores (azul, vermelho, verde, violeta, laranja, amarelo, marrom, preto, branco e cinza). Calculou-se tambm uma varivel indicando o nmero de cores usadas nas pirmides variando de um a 10. Ainda, calculou-se para cada cor uma varivel indicando se ela aparecia nas trs pirmides (constncia absoluta) ou em pelo menos duas (constncia relativa). O segundo conjunto foi composto por indicadores de nove configuraes formais. Estas variveis poderiam assumir dois valores indicando a presena (1) ou no (0) de uma determinada configurao formal em pelo menos uma das trs pirmides construdas ou a presena ou no da constncia absoluta ou relativa. A estratgia de anlise empregada foi a de verificar quais variveis seriam capazes de prever a pertena ao grupo experimental, isto , o grupo com diagnstico de TOC. Para isto utilizou-se a regresso logstica. A regresso logstica procura estimar a probabilidade de um sujeito pertencer ao grupo experimental (P[GE=1]) a partir de um modelo contendo as variveis independentes empregando a seguinte frmula:

O modelo testado consiste em uma combinao linear de um conjunto de variveis independentes que se mostrarem significantes na previso de pertena ao grupo experimental: Mod = C + (V1 B1) + (V2 B2) + . . . + (Vn Bn). Nesta equao C, B1 . . . Bn., so parmetros estimados a partir dos dados empregando o mtodo de mxima verossimilhana. Assim como na regresso linear mltipla, o primeiro coeficiente representa o termo constante e os outros coeficientes de regresso das variveis independentes indicando o montante de mudana na probabilidade de pertencer ao grupo experimental em razo da mudana de uma unidade na varivel independente. Para cada coeficiente, a regresso logstica apresenta a estatstica de Wald indicando se o coeficiente estatisticamente diferente de zero (Tabachinick & Fidell, 1996). Adotou-se um procedimento estatstico para selecionar quais variveis iriam entrar na equao. Este

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procedimento seleciona as variveis passo a passo em razo de sua contribuio na previso de pertena ao grupo experimental. A cada passo uma varivel selecionada se conseguir melhorar a previso alm do que j foi atingido pelas variveis que entraram antes dela. Na Tabela 1 so apresentados os resultados da regresso logstica com os parmetros B da equao de regresso para trs variveis que obtiveram coeficientes significantes utilizando-se o critrio p < 0,15. Como pode ser observado trs variveis contriburam para o diagnstico do TOC: aumento na proporo de uso da cor marrom (P-MA), aumento de formaes simtricas (F-Sim) e diminuio de estruturas (E Sim) j que o coeficiente B foi negativo. Tabela 1- Resultados da Regresso LogsticaVariveis independentes P-MA F Sim E Sim Constante B 0,22 2,91 - 2,26 - 1,77 Erro Padro. 0,11 1,39 1,48 0,80

Discusso Avaliando os resultados obtidos quanto ao uso das cores, observamos que o grupo composto por pacientes com transtorno obsessivo compulsivo apresenta um aumento significativo no uso da cor marrom. Considerando que esse transtorno est ligado a conflitos originados na relao de amor e dio experimentados durante a fase anal do desenvolvimento, o aumento do marrom constitui um indicador importante para nossos estudos, j que de acordo com pesquisas anteriores e mesmo nas colocaes originais de Max Pfister, um aumento nesta

Wald 4,29 4,40 2,31 4,89

gl 1 1 1 1

sig 0,03 0,03 0,12 0,02

R 0,23 0,24 -0,08

Exp (B) 1,25 18,51 0,10

Tabela 2- Diagnsticos observados comparados aos previstos pela equao de regresso.Previso Com base no Pfister GC (0) Observao Com base na SCID GC (0) TOC (1) Total 16 5 21 TOC (1) 2 7 9 Total 18 12 30 Proporo de previses corretas 88,9% 58,3% 76,7%

Na Tabela 2 apresentamos a comparao entre o diagnstico observado obtido pela SCID e o diagnstico baseado nas trs variveis do Pfister. Observa-se uma sensibilidade de 58,3% (sete casos classificados corretamente dentre os 12 pacientes com diagnsticos de TOC pela SCID) e uma especificidade 88,9% (16 casos dentre 18 pessoas classificados corretamente como pertencentes ao grupo controle). Portanto observa-se uma maior chance de incorrer em erros do tipo falso negativo do que falso positivo.

cor seria um indicativo de presena de compulses e obsesses. Segundo Villemor Amaral uma maior afluncia de marrom indica dificuldade de adaptao, sintomas de fixao em etapas iniciais do desenvolvimento, insegurana interna.... De acordo com esse autor um aumento dessa cor em funo do Ma2 (tonalidade de aspecto mais obscuro) significaria a reteno, a coartao ou inibio do impulso; que conduziria a reaes do tipo obsessivo compulsivo. A prevalncia dessa cor significariaAvaliao Psicolgica, 2002,2, pp. 133-139

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ento o estancamento, a reteno, a analidade, caractersticas tpicas do TOC. Freud em 1918 j afirmara que a neurose obsessiva se desenvolve com base numa constituio anal sdica. Em outro momento argumenta que o pensamento obsessivo compulsivo aquele cuja funo est em representar um ato regressivamente (1909). Ambas afirmaes podem ser demonstradas no Pfister por meio do aumento do marrom. Com relao ao aspecto formal tambm encontramos neste grupo um aumento significativo nas formaes e diminuio de estruturas simtricas. Formao simtrica caracteriza um aspecto formal no qual as cores so dispostas sobre o esquema da pirmide, duas a duas, de maneira simtrica, ou seja, distribudas de um lado e do outro da pirmide, alternadamente. Sua diferena para as estruturas simtricas reside no fato de que nas estruturas podemos observar simetrias nos planos vertical e horizontal da pirmide, enquanto nas formaes encontramos apenas simetrias no sentido horizontal. Porm, organizaes formais que levam em conta o plano vertical da pirmide so encontradas entre indivduos com melhores nveis de estruturao emocional e maturidade afetiva (Villemor Amaral, 1978). Os resultados apontam que o indicador mais associado ao TOC so as formaes simtricas e no as estruturas simtricas. Esse dado igualmente significativo, uma vez que sua presena est relacionada a estados emocionais prprios desse quadro, tais como a falta de estabilidade emocional e forte tenso interna, acompanhados do sentimento de angstia e ansiedade. Cordioli & Heldt (2000), consideram a simetria como fazendo parte dos rituais obsessivos ou compulsivos mais comuns, apresentados pelo indivduo com TOC Pode-se pensar que como as pessoas com TOC vivenciam sentido de incontrolabilidade que conRefernciasAssociao Americana De Psiquiatria. (1994). Manual Diagnstico e Estatstico de Transtornos Mentais DSM-IV. Porto Alegre: Artes Mdicas. Barlow, D. H. (2000). Unraveling the mysteries of anxiety and its disorders from the perspective of emotion theory. American Psychologist, 55 (11), 1247-1263. Cordioli, A. V. & Heldt, E. (2000). O que o TranstornoAvaliao Psicolgica, 2002,2, pp. 133-139

siste o cerne da ansiedade, sua preferncia pelas formaes simtricas decorre do sentido oposto da previsibilidade e controle associada de certa forma s formaes simtricas. Construir as pirmides prestando ateno simetria seria um equivalente funcional a compulso j que traz a idia de previsibilidade ao contrrio de outras configuraes mais livres que se associariam a idia de descontrole, imprevisibilidade e consequentemente ansiedade (Bralow, 2000). De acordo com Villemor Amaral ( 1978 ), o aparecimento desse modo de disposio das cores liga-se insegurana, instabilidade interna, busca de equilbrio externo, atravs de uma atitude cautelosa, tmida e muito prudente. Essa atitude pode estender-se de maneira compulsiva, obstinada e esteriotipada, principalmente quando ocorre na execuo das trs pirmides. Atravs desse modo de colocao a pessoa busca reaver o equilbrio interno, que foi alterado com a presena das obsesses, mantendo um comportamento esteriotipado, no qual seguir uma determinada ordem e agir de uma certa forma lhe garante a sensao de que mantm novamente o controle sobre seus pensamentos e atitudes. Concluso Os resultados obtidos nos permitem afirmar que o teste das pirmides coloridas de Pfister constitui um instrumento confivel para diagnstico do transtorno obsessivo compulsivo, principalmente em razo de que os principais sintomas descritos na literatura para esse transtorno so expressos significativamente no teste pelo aumento tpico da cor marrom e das formaes simtricas. O mtodo estatstico utilizado anlise de regresso logstica apresentou uma discriminao do grupo com 76% de probabilidade de acerto geral.

Obsessivo Compulsivo (TOC) Retirado em 11 de julho de 2000 do World Wide Web: http:// WWW.ufrgs.br/toc/. First, M. B.; Spitzer, R. L.; Gibbon, M. & Williams, J. B. W. (1996). Entrevista Clnica Estruturada para o DSMIV Transtornos do Eixo I - SCID-I (C. M. Del Ben, A. W. Zuardi, J. A. A. Vilela e J. A. S. Ceippa, trad.) New York: New York State Psychiatric Institute. Freud, S. (1907). Atos Obsessivos e Prticas Religiosas Moral Sexual Civilizada e a Doena Nervosa

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Moderna e Outros Trabalhos.Vol.31. Pequena Coleo Obra de Freud. Rio de Janeiro. Imago Editora. Freud, S. (1909). Duas Histrias Clnicas (O Pequeno Hans e o Homem dos Ratos) Vol.X. Obras Completas . Rio de Janeiro. Imago Editora. Freud, S. (1918). Histria da Neurose Infantil (Homem dos Lobos).Vol.26. Pequena Coleo Obra de Freud. Rio de Janeiro. Imago Editora. Organizao Mundial de Sade. (1993). Classificao de Transtornos Mentais e de Comportamento da CID

10: Descrio e diretrizes diagnsticas. Porto Alegre: Artes Mdias. Tabachinick, B. G. & Fidell, L. S. Using multivariate statistics. New York: HarperCollins, 1996. Villemor Amaral, F. (1978). Pirmides Coloridas de Pfister. 2 ed. CEPA, Rio de Janeiro.

Recebido: 03/01/2002 Aceito: 11/09/2002

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