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1 A escola em que crescemos tinha inúmeros recursos mas (…), se continuar como foi, irá…estragar as crianças. Estragará se der mais importância ao repetir do que ao pensar. Estragará se continuar a separar o sofrimento do trabalho com o prazer de aprender. Estragará se confundir a perícia dos conhecimentos técnicos com a pluralidade dos gestos humanos (que precisam de tempo para serem configurados e amadurecerem). E estragará se os professores não fizerem parte da família alargada das crianças e permanecerem, porventura, como domadores de pequenos selvagens. (Eduardo Sá, 2005, p. 194)

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1

A escola em que crescemos tinha inúmeros recursos mas (…), se continuar como

foi, irá…estragar as crianças.

Estragará se der mais importância ao repetir do que ao pensar.

Estragará se continuar a separar o sofrimento do trabalho com o prazer de

aprender.

Estragará se confundir a perícia dos conhecimentos técnicos com a pluralidade

dos gestos humanos (que precisam de tempo para serem configurados e

amadurecerem).

E estragará se os professores não fizerem parte da família alargada das

crianças e permanecerem, porventura, como domadores de pequenos selvagens.

(Eduardo Sá, 2005, p. 194)

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Introdução

O meu trabalho vai incidir no modelo humanista de Carl Rogers. Escolhi este

modelo para aplicar na turma com a qual trabalho porque, tendo em conta a faixa etária

da turma (14 anos) e a metamorfose que é a adolescência, um processo de

desestruturação e reestruturação da imagem que cada um tem de si mesmo, com

respectivas repercussões (implícitas e explícitas), parece-me ainda mais importante

utilizar uma metodologia de ensino orientada também para o domínio afectivo e

construção pessoal no contexto de uma relação pedagógica empática onde o professor

surge como mediador de ordem afectiva.

Com a aplicação deste modelo, o meu objectivo é não só engrandecer o

desenvolvimento intelectual do aluno, mas também o seu crescimento enquanto pessoa,

promovendo a aprendizagem significativa e a interiorização do processo de aprender.

Deste modo, o percurso que me proponho percorrer passa por uma breve

apresentação teórica do modelo, salientando alguns princípios psico-pedagógicos e

técnicas de ensino baseadas no referido modelo, para a aplicação prática. Nesta última

parte procurarei, de uma forma muito sucinta, caracterizar a escola e a turma, para

depois apresentar o problema, as estratégias aplicadas, os resultados e estratégias

futuras.

3

I

Modelo de Carl Rogers

(Parte teórica)

Carl Rogers1 e o seu modelo identificam-se com a psicologia humanista e a

psicologia existencial.

A psicologia humanista opõe-se à concepção do ser humano como “robô”, ou

seja, as teorias humanistas recusam entender a aprendizagem como a aquisição de

mecanismos de estímulo - resposta (comportamentalismo). Esta corrente é mais

optimista em relação ao ser humano. Acredita que a pessoa, qualquer pessoa, contêm

dentro de si o potencial para um desenvolvimento saudável e criativo.

Podemos dizer que o modelo de Carl Rogers (e a psicologia humanista) vem

introduzir uma mudança relativamente às teorias anteriores e no modo de entender a

aprendizagem: defende que a resolução dos conflitos entre o individual e o social

encontra-se no íntimo da pessoa, na elaboração da sua identidade pessoal. Esta

psicologia do desenvolvimento e da realização de si mesmo chama a atenção para o

papel da experiência pessoal, em que nos encontramos implicados e que é restituída a

outrem com autenticidade (Postic, 2007).

Carl Rogers desenvolveu a sua teoria a partir da sua experiência clínica e com

base no relacionamento terapêutico com pacientes2. Criou e desenvolveu um método de

psicoterapia: terapia centrada no cliente. No essencial e nas palavras do autor, a terapia

centrada no cliente bem sucedida, significa que o terapeuta foi capaz de estabelecer um

relacionamento intensamente pessoal e subjectivo com o cliente, relacionando-se com

uma pessoa como outra pessoa. No fundo, de acordo com Carl Rogers, “a relação

terapêutica é apenas uma forma da relação interpessoal em geral, e que as mesmas leis

regem todas as relações deste tipo”3.

1 Carl Rogers nasceu em Oak Park, Illinois, a 8 de Janeiro de 1902. Durante o seu percurso académico e

profissional foi influenciado por diversos autores. Mas, embora as dinâmicas descritas por Rogers sejam

semelhantes às observadas em outras teorias (Maslow, por exemplo), as suas suposições acerca da

natureza humana são diferentes. 2 Rogers foi o autor da abordagem centrada no cliente ou não directiva da personalidade. Defende que as

pessoas, naturalmente, têm tendência para crescer em direcções saudáveis sendo a função do terapeuta

proporcionar as condições necessárias para que tal aconteça (Sprinthall & Sprinthall, 1993). 3 Rogers, C. (2009), p. 63.

4

Na sua conceptualização do processo terapêutico, o aspecto essencial consiste

em os clientes perceberem que o terapeuta tem uma consideração positiva incondicional

por eles, e um entendimento empático da sua estrutura interna de referência, iniciando-

se um processo de mudança. Se fosse atingida uma congruência completa, o cliente

tornar-se-ia uma pessoa com um funcionamento pleno.

Carl Rogers entende o processo terapêutico como exemplo de relação e

comunicação interpessoais. Assim, “quanto maior a congruência da experiência, a

consciência e a comunicação por parte de um indivíduo, mais o relacionamento

resultante envolverá uma tendência à comunicação recíproca com uma qualidade de

crescente congruência”4. A relação professor – aluno, cuja interacção consiste em

promover o crescimento, o desenvolvimento, a maturidade, um melhor funcionamento e

uma maior capacidade de enfrentar a vida, poderá, neste sentido, ser entendida com uma

espécie de relação de ajuda (Rogers, 2009). Deste modo, Rogers desenvolveu uma

teoria aplicável em qualquer tipo de relacionamento, seja entre professor e aluno, seja

entre pais e filhos, amigos ou mesmo na vida profissional. Passou da terapia centrada na

pessoa (paciente) para a aprendizagem5 centrada na pessoa (aluno). O bom ensino,

assim como o bom aconselhamento psicológico, deve basear-se na seguinte tríade:

empatia, aceitação incondicional positiva e congruência ou genuinidade. A aplicação

desta perspectiva à educação efectua-se com Carl Rogers ao propor um modelo de

apropriação pessoal do conhecimento. A pessoa em formação (aluno) está envolvida

numa aprendizagem experimental, que reveste aspectos afectivos e cognitivos. Agora a

mediação do professor é de natureza afectiva. Esta alteração aponta para a necessidade

de alterar a via afectiva no contexto escolar e corresponde a nova finalidade educativa –

“a do saber e poder ser”. De acordo com o autor, o desenvolvimento emocional do

aluno é tão importante quanto o desenvolvimento intelectual.

As teorias humanistas constituem mais uma tentativa na compreensão e

explicação da aprendizagem. Carl Rogers, um dos autores destas teorias, entende que o

aluno cresce e adquire experiência se se lhe deixa livre a iniciativa para descobrir o seu

próprio caminho, numa atitude de auto - realização e auto - avaliação, num processo de

4 Hall, Lindzey & Campbell, 2000, p. 365

5 Entendida como “processo que conduz a uma mudança relativamente permanente no comportamento

como resultado da experiência passada” (Sprinthall & Sprinthall, 1993; p. 596). Neste sentido, aprender

traduz-se num processo de construção pessoal, onde o aluno desempenha um papel decisivo na

construção do seu conhecimento e o professor adquire a função de facilitador desse processo.

5

tornar-se pessoa. Nesta perspectiva a aprendizagem é um processo pessoal, de índole

vivencial, no centro do qual está a pessoa que sente, pensa e vive. É um processo de

descoberta do significado pessoal do conhecimento que passa pelo interior do sujeito

com as suas experiências e visão de si mesmo e dos outros. Não exclui os aspectos

emocionais, entendidos como factores determinantes sobre o que se retém e o que se

aprende.

Desta teoria resultam os seguintes princípios psico-pedagógicos:

A aprendizagem deve ser vista numa perspectiva de desenvolvimento da

pessoa humana;

A aprendizagem deve centrar-se no aluno, nas suas necessidades, na sua

vontade e nos seus sentimentos;

Deve desenvolver-se no aluno a responsabilidade pela auto-aprendizagem e

incutir-lhe um espírito de auto-avaliação;

A aprendizagem deve centrar-se em actividades e experiências significativas

para o aluno;

Desenvolver relações interpessoais empáticas no seio do grupo;

Ensinar também a sentir e não só a pensar;

Ensinar a aprender;

Criar uma atmosfera emocional positiva que ajude o aluno a integrar novas

experiências e novas ideias;

Promover uma aprendizagem activa, orientada para um processo de

descoberta, autónomo e reflectido.

Técnicas de ensino baseadas nesta perspectiva:

Ensino individualizado;

Técnicas de trabalho grupo:

- Discussões;

- Debates;

- Jogo de papéis;

- Resolução de problemas.

6

Um mestre sufi contava sempre uma parábola no final de cada aula,

mas os alunos nem sempre entendiam o seu sentido...

- Mestre - perguntou um deles, certo dia -,

tu contas-nos contos mas nunca nos explicas o que significam...

- As minhas desculpas - disse o mestre –

Como compensação, deixa-me que te ofereça um belo pêssego.

- Obrigada, mestre - disse o discípulo comovido.

- Mais ainda: como prova do meu afecto, queria descascar-te o pêssego.

Permites que o faça?

- Sim, muito obrigada - disse o discípulo.

- E, já que tenho a faca na mão, não gostarias que eu cortasse o pêssego em pedaços,

para que te seja mais fácil comê-lo?

- Sim, mas não quero abusar da sua generosidade, mestre...

- Não é um abuso, sou eu que me estou a oferecer. Quero apenas agradar-te.

Permite-me também que mastigue o pêssego antes de to oferecer...

- Não, mestre! Não gostaria que fizesses isso! - Queixou-se o discípulo, surpreendido.

O mestre fez uma pausa e disse:

- Se vos explicasse o sentido de cada conto,

seria como dar-vos a comer fruta mastigada6.

6 http://palavraentrepalavras.blogspot.com/2007/09/um-mestre-sufi-contava-sempre-uma.html

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II

Aplicação do Modelo Rogeriano

(Parte prática)

2.1 - Contextualização da Escola

A Escola EB 2, 3/S de Oliveira de Frades, como o próprio nome assim o indica,

situa-se no Concelho de Oliveira de Frades, Distrito de Viseu. Trata-se de um Concelho,

integrador de doze freguesias, que foi sofrendo grandes alterações nos últimos vinte

anos, dada a forte presença industrial na zona.

A oferta educativa actual da Escola abrange os níveis de ensino básico e

secundário (5º ao 12º) e Cursos de Educação e Formação de Adultos (EFA’s – regime

nocturno). Tem um total de 122 docentes e 39 não docentes. Os alunos matriculados no

regime diurno são de 749 e no regime nocturno são de 146, fazendo um total de 895

alunos.

Ao longo dos anos tem-se registado um aumento na taxa de sucesso escolar que

ronda os 90%.

2.2 – Caracterização da Turma

A presente turma (9º ano) é constituída por 20 alunos, dos quais 15 são do sexo

feminino e 5 do sexo masculino. Dos 20 alunos apenas uma aluna não está inscrita nas

aulas de Educação Moral Religiosa e Católica. A média de idades é 14 anos.

A turma, de modo global, revela um desempenho escolar razoável e os alunos

manifestam interesse nas aulas. Devo salientar que 2 elementos manifestam algumas

dificuldades de aprendizagem e de relacionamento interpessoal, que constituem as

situações problemáticas.

2.3 – Identificação do Problema

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Passo a descrever sucintamente estes dois alunos e o seu comportamento em

contexto escolar:

A Maria de Fátima, tímida e muito reservada, passa a maior parte do tempo

sozinha e tem bastante dificuldade em relacionar-se com os colegas. Este é o seu

primeiro ano nesta escola. Morava noutra cidade (S. Pedro do Sul), mas no ano

passado, após divórcio dos pais, a mãe veio morar para esta vila (Oliveira de

Frades). A Maria de Fátima diz que a mãe trabalha muito, e raramente estão juntas -

Quando ela regressa a casa, à noite, a maior parte das vezes já estou a dormir,

quase nunca falamos - diz ela. Passa a maior parte do tempo sozinha ou a cuidar da

irmã mais nova. Diz que não tem amigos nesta escola e sente saudades da escola

anterior. Não se sente integrada e “bem-vinda” naquela turma e naquela escola.

Acrescentou que gosta de desenhar e pintar, ouvir música, passear e ver filmes.

O Fernando, distraído e inquieto, tem algumas dificuldades de aprendizagem, pois

está permanentemente a prestar atenção a tudo que passa à sua volta. Não raras

vezes envolve-se em conflitos com alguns colegas, pois costumam chamar-lhe

“nomes”. Diz ter alguns amigos na escola, mas que estudar e ir às aulas “é uma

seca”. Quanto às aulas de religião e moral diz que só está ali porque os pais

obrigam – “não percebo p’ra que isto serve?” Na escola gosta de estar com os

amigos e dos intervalos. Acrescentou que gosta muito de ouvir música, cinema e

que gostava de aprender a tocar viola, mas o pai diz que tem é que estudar.

Através de conversas com os alunos e com a Directora de Turma e com base nas

actividades propostas em sala de aula identifiquei as seguintes dificuldades:

1. Maria de Fátima

- Dificuldades de relacionamento interpessoal (isolamento);

- Dificuldade em adaptar-se ao novo contexto:

- Falta de motivação e concentração na aula;

- Apatia e desinteresse;

- Insegurança e baixa auto – estima.

2. Fernando

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- Desinteresse na aula e falta de motivação;

- Relações interpessoais conflituosas;

- Dificuldade em cumprir regras na sala de aula.

2.4 – Atitudes do Professor

Na relação com os alunos (não directiva7), actuei como facilitador da

aprendizagem, manifestando atitudes de:

Todas as actividades/estratégias de intervenção que apliquei ao longo das aulas

tinham como pressuposto deixar livre a iniciativa do aluno para descobrir o seu próprio

caminho, numa atitude de auto - realização e auto - avaliação.

2.6 – Estratégias aplicadas

As estratégias utilizadas, baseadas em métodos activos (relacionados com os

princípios da aprendizagem defendidos por Carl Rogers), tiveram como objectivo

7 O professor acredita na capacidade e autonomia do aluno para escolher a direcção a seguir e

responsabilizar-se pelas suas escolhas.

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promover nos alunos uma aprendizagem activa, orientada para um processo de

descoberta, autónomo e reflectido.

Estratégias adoptadas:

- Jogos pedagógicos - onde a aprendizagem é centrada no aluno e nas suas necessidades:

o brasão dos afectos (aula 1).

- Dinâmicas de grupo - relacionadas com experiências significativas para os alunos: o

chapéu dos medos (aula 6); o mapa das estradas (aula 7).

- Trabalhos de grupo - no sentido de desenvolver relações interpessoais empáticas no

seio da turma: debate (aula 4).

2.7 – Resultados

Dadas as exigências das estratégias adoptadas (maior envolvimento e

participação no processo de aprendizagem), por vezes, devido às suas dificuldades, foi

difícil para os alunos abordar determinados assuntos, nomeadamente os relacionados

com experiências pessoais significativas (ex. actividade para identificar os seus

projectos e como alcançá-los). Contudo, o resultado revelou-se positivo, pois a sua

“disponibilidade” para a aprendizagem mostrou-se maior, dado também o seu maior

envolvimento no processo, assim como aumentou o auto-conhecimento dos alunos e a

consciência do papel e responsabilidade de cada um ao longo do seu desenvolvimento e

relação com o outro (professor, colegas, família, etc.).

Posso ainda acrescentar as seguintes alterações:

Desenvolveu-se uma relação de cooperação entre alunos (Maria de

Fátima e Fernando) e o professor;

Os alunos passaram a ter uma participação mais activa e interventiva na

escola e especificamente na sala de aula.

A Maria de Fátima passou a interagir mais com alguns colegas, apesar de

se manterem algumas dificuldades.

Apesar destas evoluções mantêm-se algumas dificuldades. No caso da Maria de

Fátima, por vezes ainda se isola e manifesta alguma dificuldade de interacção com a

turma. Relativamente ao Fernando, também se mantêm alguns conflitos e inquietação

nas aulas.

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2.8 – Estratégias futuras

Tal como a aprendizagem, a mudança também é um processo…; continuando a

aplicar as estratégias mencionadas (estas estratégias), baseadas nos pressupostos do

modelo (processo de descoberta do significado pessoal do conhecimento que passa pelo

interior do aluno com as suas experiências e visão de si mesmo e dos outros), aguardo

novos desenvolvimentos.

Vou continuar atento e disponível para conversar e ouvir os alunos e vou

continuar a apostar em trabalhos com dinâmicas de grupo para desenvolver as relações

com os outros e promover o auto-conhecimento e aceitação.

2.9 – Aulas

Aula 1

Sumário: O papel dos afectos e da afectividade no desenvolvimento da pessoa e na

relação com o outro.

Durante a aula de hoje vamos abordar os afectos e a afectividade. Para tal, após

uma breve introdução acerca da afectividade e do seu papel no desenvolvimento do ser

humano, será efectuado um jogo pedagógico: o brasão dos afectos. O objectivo consiste

em apelar à experiência de cada aluno, para que de acordo com as suas aprendizagens e

história de vida partilhem com a turma os significados de cada afecto apresentado no

brasão.

Cada aluno deve então preencher em cada espaço o que para si significa cada um

dos afectos apresentados (amor, fraternidade, amizade e angústia) podendo até

descrever alguma experiência pessoal onde esteja implicado esse afecto, por exemplo: a

última vez que senti angústia foi…! Por fim, no espaço branco deve acrescentar outro

afecto importante na para si. Após reflexão individual e preenchimento do “brasão”,

cada aluno apresentará a sua experiência pessoal e o seu entendimento acerca daquilo

que são os afectos, promovendo o professor o debate entre todos e a liberdade de

expressão e a aceitação entre todos das diferentes perspectivas.

Para concluir a aula serão apresentadas “definições” dos afectos abordados e

daquilo que é a afectividade, integrando o contribuo de cada aluno e das suas

experiências/vivências pessoais.

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Pretendo enquanto professor com esta actividade fomentar a partilha de

significados entre todos e promover o auto – conhecimento e conhecimento do outro,

num contexto de construção pessoal e aceitação do outro, diferente de mim, com os seus

próprios significados, valores e experiências.

Actividade

Nome:

BRASÃO DOS AFECTOS

AMOR FRATERNIDADE

AMIZADE ANGÚSTIA

?

Aula 2

Sumário: Os afectos ao longo da nossa vida e o papel de cada um na construção do “seu

próprio ser”.

Caracterização dos dois alunos

Como já referi, 2 dos alunos da turma manifestam algumas dificuldades de

aprendizagem e de relacionamento interpessoal. Na última aula, com auxílio da

actividade proposta e depois de uma conversa com a Directora de Turma e os alunos,

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identifiquei algumas dificuldades, necessidades e características destes alunos (já

referidas no ponto 2.3 deste trabalho).

Dadas as dificuldades e particularidades de cada um dos alunos apresentados a

metodologia a utilizar na(s) aula(s) passa pela utilização de técnicas que “obriguem” ao

seu envolvimento e permitam a integração na turma, favorecendo desta forma o espírito

de equipa e adaptação à turma. Com as actividades seguintes, de acordo com os

interesses da Maria de Fátima e do Fernando, pretendo que a Maria partilhe mais com o

grupo de modo a obter a sua atenção e conseguir uma melhor adaptação à turma. De

modo a envolver mais o Fernando combinamos que em cada aula ele traria algumas

músicas/cânticos para a turma escolher e cantarmos no começo da aula. Desta forma irá

sentir que também tem um contributo a dar para a turma e para o grupo, colmatando o

“sentimento de desvalorização pessoal” e desinteresse que aparenta. Pretendo desta

forma evidenciar as potencialidades que cada um dos dois tem.

Uma vida como projecto

Vamos começar esta aula por ouvir com atenção uma canção que me disseram

gostar bastante numa das aulas. Chama-se o “teu caminho” e é do grupo Pólo Norte

(letra e música projectada).

Qual foi a frase da canção que mais vos tocou?

Em que pensaram quando estavam a escutar a canção?

Que significado tem para vós a frase: o destino foi traçado com um lápis de

carvão?

(15 minutos de diálogo)

Há duas frases na canção, para as quais quero chamar a vossa atenção: “o

destino não se esconde atrás de uma porta qualquer, tens de o saber procurar…” e “és

tu quem traça o rascunho”. Estão de acordo com elas?

Então isso quer dizer que a concretização dos vossos sonhos para o futuro

depende das vossas opções de hoje, e esta, por sua vez, dependem muito daquilo que já

viveram e são hoje. Por isso, convido-vos a reflectir e a falar do vosso passado e

principalmente dos vossos sonhos ou projectos para o futuro.

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Aula 3

Sumário: O sonho da humanidade e a criação do Mundo. Perspectivas.

Na sequência da aula anterior e da actividade desenvolvida (para identificar as

dificuldades e necessidades dos alunos) é agora pedido aos alunos para “representarem”

numa folha branca (na forma de texto ou desenho) os acontecimentos mais

significativos das suas vidas e quais os seus projectos ou “sonhos” para o futuro. Devem

ainda reflectir, para posteriormente discutir em grupo, como podem chegar lá, ou quais

as mudanças e comportamentos a efectuar para potenciar a concretização desses

projectos. Pretendo com esta dinâmica que a Maria de Fátima e o Fernando “tomem

consciência” das suas necessidades, e, neste contexto visualizem o que devem fazer

(mudanças) para chegar onde querem ou aquilo que são os seus projectos.

Objectivo: Conduzir à aceitação de si mesmo(a) (Maria de Fátima e Fernando),

das suas vivências e emoções, e simultaneamente “criar” a consciência em cada um

deles do seu papel na concretização dos seus projectos (sonhos, expectativas).

Resultados da actividade:

Maria de Fátima

Sonhos/Expectativas/Projectos de Vida:

Conseguir adaptar-se a esta escola, sentir-se bem-vinda e aceite pelos colegas; fazer

amigos novos e que a mãe estivesse mais tempo em casa. Quer passar de ano e seguir o

agrupamento de artes para posteriormente seguir este curso no ensino superior.

O que fazer para conseguir atingir os meus sonhos e concretizar os projectos:

- Estar menos tempo sozinha e “dar-me” a conhecer aos colegas;

- Não passar os intervalos sozinha mas ir conversar com os colegas;

- Ultrapassar o meu medo de ser rejeitada e “que gozem comigo”;

- Estudar mais para tirar boas notas e entrar no curso que quero (artes);

Fernando

Sonhos/Expectativas/Projectos de Vida:

Formar uma banda musical, “conquistar a miúda lá da escola de quem eu gosto” e

“passar de ano para os pais não me chatearem a cabeça”.

O que fazer para conseguir atingir os meus sonhos e concretizar os projectos:

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- Estudar mais um pouco para passar de ano, pois, uma “recompensa” por parte do

pai, poderá ser uma guitarra e autorização para frequentar aulas de música;

- Aprender música e encontrar amigos com o mesmo interesse (banda de música);

- Formar a banda para mais facilmente conquistar a Rosa Maria (“a miúda de quem

gosto”);

Aula 4

Sumário: Homem e a mulher criados à imagem de Deus.

Hoje levei a guitarra para começar a aula com um cântico…a atenção e a euforia

do Fernando foi notória.

Actividade: apresentação do powerpoint sobre a criação; trabalho de grupo; debate.

Terminada a apresentação o professor provoca o diálogo, na reacção dos alunos

ele vê quem é a favor da ciência e quem é a favor da fé. De seguida, conforme as

inclinações dos alunos, dividi a turma em dois grupos. Cada grupo vai tentar defender a

sua posição e refutar a do adversário. Colocando as questões:

- Afinal de onde viemos?

- Como harmonizar a ciência e a revelação?

Em síntese e depois do debate o professor termina realçando que a ciência e a fé

se podem harmonizar, visto que a mensagem bíblica atribui a Deus o acto criador mas

não o relata cientificamente.

Objectivo: incentivar as relações no grupo.

Nesta aula esperava que a Maria de Fátima e o Fernando tivessem um papel

mais activo e responsável. Sobretudo, que a Maria de Fátima fosse capaz de se envolver

mais com o grupo e de tomar a iniciativa de ser ela porta-voz do grupo. Creio que ainda

há um caminho a percorrer, apesar de se mostrarem mais interessados e atentos.

Aula 5

Sumário: Descobrir que cada pessoa necessita do outro para se completar. A construção

do “eu” a partir da relação com o outro.

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Actividade: responder às seguintes questões individualmente e no final comentar com

os colegas.

- O que eu dou à turma?

- O que a turma me dá a mim?

- O que eu posso dar à turma?

- O que a turma me pode dar a mim?

Objectivo: Conduzir à aceitação de si mesmo(a) e do Outro, das suas vivências e

emoções, e simultaneamente desenvolver relações empáticas no seio da turma.

Se a palavra disser: não é uma palavra que fará uma página,

…Não haverá livro.

Se a pedra disser: não é com uma pedra que se erguerá uma parede,

…Não haverá casa.

Se a gota de água disser: não é com uma gota de água se fará um rio,

…Não haverá oceano.

Se o grão de trigo disser: não é com um grão de trigo que semeará um campo,

…Jamais haverá seara.

Se cada um de vós disser não faço falta aqui,

…Jamais seríamos uma turma.

(texto projectado)

Cada um de nós é uma “peça” fundamental para este grupo. Cada um contribui

para a união e formação desta turma. Não vos parece que é um “Se” para esquecer? É

que o todo – o livro, a casa, o oceano, a seara, a turma – é feito por muitas partes. E, se

eu ficar de fora, a turma é menos turma.

Aula 6

Sumário: A responsabilidade no modo de viver a complementaridade dos sexos: na

vida familiar, escolar, profissional e eclesial. A importância de saber lidar com os

nossos medos.

Actividade: o chapéu dos medos. Com vista a promover a comunicação na turma, a

confiança e relações interpessoais.

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Os alunos sentam-se em círculo, em grupos de cinco, de modo a facilitar o

contacto visual entre todos. Cada aluno completa a seguinte frase: “nesta turma tenho

medo de…”. Colocam-se os pedaços de papel num chapéu que se encontra no meio do

círculo. O chapéu roda por todos os elementos e cada um retira um papel que irá ler

acrescentado mais frases e tentando expressar o que a pessoa sentiria. No final debate-se

na turma o que se descobriu com esta dinâmica.

Objectivo: Conduzir à tomada de consciência de experiências significativas e emoções

por eles desencadeadas. Evidenciar as potencialidades dos alunos para lidar com

situações negativas. Desenvolver a aprendizagem centrada no aluno e nas suas

necessidades.

Aula 7

Sumário: A experiência humana na procura de Deus

Na última aula disse ao Fernando que iria trazer a guitarra para esta aula e que

era ele a escolher um cântico para começar a aula. Escolheu, mais uma vez o Deus está

aqui. Ficou entusiasmado, disse que se portava bem para poder cantar outra vez no fim

e, prontamente, ofereceu-se para levar a guitarra à sala dos professores.

Actividade: O Mapa das estradas.

Pedi aos alunos para numa folha branca e a lápis desenharem um mapa das

estradas da sua vida até hoje (começando no nascimento até ao momento presente). Os

mapas devem mostrar os lugares bons e maus, assim como as barreiras, desvios e as

actuais perspectivas. Compara-se depois o curso da vida passada com o futuro que se

imagina (objectivos). Como serão atingidos? O que deu origem aos bons lugares.

Objectivo: integração no grupo.

Noto que a Maria de Fátima tem feito progressos, mas ainda não está

inteiramente à vontade com a turma. Como gosta de pintar e ouvir música, hoje já

estava melhor. A sua adaptação tem sido gradual. Pelo que vejo na sala de aula e

quando me cruzo com ela nos corredores já a vejo com as amigas a conversar.

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Conclusão

O modelo de Carl Rogers convida a uma reflexão sobre as mudanças necessárias

dentro e fora da sala de aula. Aponta para uma profunda mudança no relacionamento

professor – aluno, sendo que este relacionamento é capaz de produzir transformações

significativas nos comportamentos e conhecimentos a adquirir. Os pressupostos de

Rogers levam a repensar a educação e a “escola tradicional”. O modelo educativo

proposto por Rogers – Aprendizagem Centrada no Aluno, tem como principal objectivo

permitir ao aluno uma participação activa no seu processo de aprendizagem, ou, por

outras palavras, no seu processo de crescimento pessoal, pressupondo que esta

cooperação melhora a eficácia da acção pedagógica.

A aprendizagem deixa de estar centrada no professor e passa a estar centrada no

aluno: professor e aluno são co-responsáveis pela aprendizagem. O foco da

aprendizagem, mais do que nos conteúdos, está no processo. Desta forma, a qualidade

da aprendizagem e o acto de aprender depende também de um ambiente facilitador

dessa aprendizagem. Por um lado, refiro-me à construção de uma relação pedagógica

com base na aceitação e compreensão da pessoa do aluno, e, por outro lado, ao papel do

professor facilitador, cuja função primordial será estimular e desenvolver as

potencialidades do aluno e, simultaneamente, manter a motivação necessária ao seu

desenvolvimento pessoal (num processo de Tornar-se Pessoa).

Apesar das limitações, o modelo de Carl Rogers não fica circunscrito ao

contexto da sala de aula ou dentro dos muros das escolas, é um modelo que serve para a

vida, que me ajudou e vai ajudar a ser mais professor, a ser mais pessoa.

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Bibliografia

- Hall, S. C., Lindzey, G. & Campbell, B. J. (2000). Teorias da Personalidade (4ª

edição). Porto Alegre: Artmed editora.

- Postic, M. (2007). A Relação Pedagógica. Lisboa: Padrões Culturais Editora.

- Rogers, C. (2009). Tornar-se Pessoa (1ª edição). Lisboa: Padrões Culturais Editora.

- Sprinthall, N. A. & Sprinthall, R. C. (1993). Psicologia Educacional: Uma abordagem

desenvolvimentalista. Lisboa: McGraw-Hill.

- Sá, E. (2005). Chega-te a mim e deixa-te estar. Lisboa: Oficina do Livro.

Páginas Web consultadas:

- http://palavraentrepalavras.blogspot.com/2007/09/um-mestre-sufi-contava-sempre-

uma.html

- http://www.eb23sof.com/images/uploads/pe2009-2012_ultima_versao.pdf

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Índice

Introdução

I – O Modelo Humanista de Carl Rogers

(Parte Teórica)

II - Aplicação do Modelo Rogeriano

(Parte Prática)

2.1 – Contextualização da Escola

2.2 – Caracterização da Turma

2.3 – Identificação do problema

2.4 – Atitudes do Professor

2.6 – Estratégias aplicadas

2.7 – Resultados

2.8 – Estratégias futuras

2.9 – Aulas

Conclusão

Bibliografia