Temperaturas Extremas - FRIO
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FUNDAÇÃO EDUCACIONAL LUCAS MACHADO
FACULDADE CIÊNCIAS MÉDICAS MINAS GERAIS
PÓS-GRADUAÇÃO EM HIGIENE OCUPACIONAL
DISCIPLINA
Temperaturas Extremas
UNIDADE 1
FRIO
TUTOR
Prof. Alexandre Silva
ATIVIDADE UNIDADE 1
Efeitos nocivos e recomendações para o trabalho
em condições severas ao frio
ALUNO
FLORENTINO TEIXEIRA MACHADO
DEZEMBRO/2015
1. Quais são os efeitos do trabalho em ambientes frios para os
trabalhadores?
De acordo com Matos (2007, p. 86), o trabalho realizado em ambientes
extremamente frios oferece risco potencial à saúde dos trabalhadores, que podem
causar desconforto, doenças ocupacionais, acidentes de trabalho e até mesmo a
morte. Os trabalhadores expostos ao frio devem estar protegidos de modo que a
temperatura central do corpo não caia abaixo de 36º C.
Para Saliba (2010, p. 236), os efeitos causados pela exposição à
temperaturas extremas interferem na eficiência do trabalho, na incidência de
acidentes, além de desencadear doenças reumáticas e respiratórias.
As lesões com maior gravidade causadas pela exposição ao frio decorrem
da perda excessiva de calor do corpo e diminuição da temperatura no centro do
corpo, ocorrendo a hipotermia, que é a perda de calor do corpo humano para o
ambiente em desequilíbrio térmico.
Conforme Brevigliero, Possebom e Spinelli (2006), além da hipotermia,
existem outros estados patológicos, conhecidos como lesões do frio, que podem
comprometer a saúde dos trabalhadores expostos a temperaturas extremas.
Segundo Saliba (2010, p. 235), a vasoconstrição periférica é a primeira
resposta do organismo humano visando a regularização entre perda e ganho de
calor, onde o fluxo sanguíneo é reduzido na mesma proporção que a diminuição
da temperatura, que resultará na redução gradual de todas as atividades
fisiológicas, que incluem a frequência do pulso, pressão arterial e taxa metabólica.
Diversas lesões são produzidas no organismo pela ação do frio, afetando
principalmente as extremidades e áreas salientes do corpo humano, como os pés,
mãos e face. As principais doenças dermatológicas causadas pela exposição ao
frio são ulcerações, frostbite, fenômeno de Raynaud, pé de imersão e
enregelamento dos membros (MATOS, 2007, p. 88).
1.1 Ulcerações
Ocorrem quando a temperatura do tecido cai abaixo do ponto de
congelamento, provocando danos ao tecido. Os sintomas são a mudança de cor
da pele para o branco ou amarelo acinzentado, surgimento de dores e,
posteriormente, bolhas (MATOS, 2007, p. 88).
1.2 Frostbite
Corresponde a lesões que atingem predominantemente as extremidades
do corpo humano, devido à intensa vasoconstrição periférica, à destruição de
enzimas e proteínas na pele e à deposição de microcristais nos tecidos quando a
parte exposta entra em contato com temperaturas inferiores a -2º C (ALI, 2009, p.
55).
1.3 Fenômeno de Raynaud
É uma sensibilidade ao frio, a pressão, a vibração ou a fatores emocionais,
que surge espontaneamente ou através de causa desconhecida, ocorrendo
principalmente nas extremidades das mãos e dos pés, através do surgimento de
palidez, vermelhidão ou coloração azulada na pele. Pode estar também associada
à esclerose sistêmica ou a outras patologias (ALI, 2009, p. 56).
1.4 Pé de imersão
É a estagnação do sangue e paralização dos pés e pernas, provocada pela
permanência dos trabalhadores com os pés umedecidos ou imersos em água fria
por longos períodos (BREVIGLIERO, POSSEBON e SPINELLI, 2006, p. 308).
1.5 Enregelamento de membros
É uma lesão causada pela exposição ao frio intenso ou contato com
objetos extremamente frios, que ocorre quando a temperatura do tecido alcança
valores abaixo de 0º C, causando lesões graves e irrecuperáveis à circulação
sanguínea, sendo suscetível à infecção, destruição do tecido e amputação dos
membros lesados (MATOS, 2007, p. 88).
2. Com base nos estudos desta unidade elabore recomendações para
execução de trabalho em condições severas ao frio.
Para Matos (2007, p. 89), a gravidade da exposição ocupacional ao frio
exige que alguns aspectos sejam considerados para a avaliação e controle do
desequilíbrio térmico, sendo eles: a temperatura do ar, a velocidade do ar e a
atividade física desenvolvida no ambiente de trabalho.
De acordo com Astete, Giampaoli e Zidan (1987), os ambientes de trabalho
com exposição constante às temperaturas extremas necessitam que sejam
adotadas medidas de controle dos fatores de riscos relacionados ao frio, visando
manter a temperatura interna do corpo dos trabalhadores na ordem de 37º C,
conservar o calor no corpo humano e assegurar a irrigação do sangue para as
extremidades dos membros superiores e inferiores.
Conforme Saliba (2010, p. 233), na solução de problemas relacionados à
Higiene Ocupacional, devem ser consideradas primeiramente as medidas
relativas ao ambiente, sendo reforçadas, quando necessário, pelas medidas
relativas ao pessoal. Entretanto, em determinados casos, por questões de ordem
técnica, as únicas medidas aplicáveis são as relativas à proteção da saúde e da
integridade física do trabalhador.
Saliba (2010), Brevigliero, Possebom e Spinelli (2006) e Astete, Giampaoli
e Zidan (1987), recomendam as seguintes medidas de proteção contra a
exposição ao frio:
2.1 Aclimatização
É uma medida aplicada para alguns trabalhadores que, estando expostos a
ambientes frios, e de acordo com determinados gradientes térmicos e com
controle da velocidade do ar, tem resultado em boa adaptação (SALIBA, 2010, p.
237).
− Os túneis de congelamento só podem ter o sistema de ventilação ligado quando
não tiver a presença de trabalhadores no local;
− As portas de câmaras frigorificadas ou outras dependências refrigeradas onde
haja trabalhadores operando devem ser dotadas de sistema que permita a
abertura das portas internamente, caso os trabalhadores fiquem
involuntariamente presos.
2.2 Vestimentas de trabalho
É necessário que o isolamento térmico do corpo feito pela vestimenta de
trabalho seja satisfatório e que a camada de ar compreendida entre a pele e a
roupa permita a eliminação parcial da transpiração para que ocorra uma troca
regular de temperatura (BREVIGLIERO, POSSEBON e SPINELLI, 2006, p. 309).
− Evitar sobrecarga de trabalho de forma a evitar sudorese intensa que possa
causar umedecimento da vestimenta;
− Quando o trabalho a ser realizado for leve e a roupa puder ficar molhada com o
trabalho realizado, a parte externa desta roupa deve ser de material
impermeável;
− Quando o trabalho é intenso, a parte externa da roupa deve ser de material
repelente a água, devendo ser trocada sempre que se molhe;
− A parte externa da roupa deve permitir evaporação de forma a diminuir a
umidificação causada pela sudorese;
− Quando o trabalho é realizado em ambientes frios e com temperaturas normais
ou quentes, antes de adentrar ao ambiente frio o trabalhador deve se certificar
de que sua roupa não esteja molhada. Se estiver úmida ou molhada deverá ser
trocada por uma seca;
− Os trabalhadores deverão trocar de meia ou palmilhas removíveis sempre que
as mesmas estiverem umedecidas;
− Se as roupas oferecidas aos trabalhadores não forem suficientes para prevenir
a hipotermia ou enregelamento, o trabalho deve ser modificado ou interrompido
até que roupas adequadas sejam providenciadas;
− Evitar o umedecimento de partes do corpo ou vestimentas com gasolina, álcool
e outros solventes devido ao risco adicional de danos pelo frio em
extremidades;
− Roupas de proteção são necessárias para a execução de trabalho realizado a
uma temperatura de 4°C ou abaixo;
− As vestimentas devem ser selecionadas de acordo com a intensidade do frio, o
tipo de atividade e o plano de trabalho;
− Devem ser usadas roupas compostas de camadas múltiplas, o que proporciona
maior proteção que o uso de uma única peça grossa.
2.3 Regime de trabalho
Quando a exposição ao frio é intensa, é necessário intercalar períodos de
descanso em local termicamente superior ao ambiente frio, para manter uma
resposta termorreguladora satisfatória do corpo humano (SALIBA, 2010, p. 238).
− Evitar o trabalho solitário em ambientes frios;
− O trabalhador deve estar em constante observação ou trabalhar em duplas;
− Quando da realização de trabalho intenso, devem-se adotar períodos de
descanso em abrigos aquecidos, com troca por vestimenta seca, sempre que
necessário;
− Devem ser oferecidas bebidas doces e sopas quentes no ambiente de trabalho
para aumentar as calorias e o volume de líquidos;
− O café deve ser limitado devido ao seu efeito diurético e sobre a circulação
sanguínea;
− Não exigir trabalho integral de recém-contratados em ambientes frios. Isto deve
ser feito aos poucos até que haja a ambientação com as condições de trabalho
e das vestimentas;
− O local de trabalho deve ser planejado de forma que o trabalhador não passe
longos períodos parados;
− Local frio não pode ser utilizado como área de repouso;
− Não deve existir no ambiente de trabalho assentos metálicos de cadeiras
desprotegidos.
2.4 Exames médicos
Os exames médicos admissionais devem considerar a exclusão de
diabéticos, epilépticos, fumantes, alcoólatras, aqueles que já tenham sofrido
lesões devidas ao frio, os que possuem reações alérgicas ao frio, os portadores
de problemas articulares e os que tenham doenças vasculares periféricas. Os
exames médicos periódicos devem realizados para apresentar um diagnóstico
precoce de doenças ocupacionais relacionadas a vasculopatias periféricas,
ulcerações térmicas, dores articulares, perda da sensibilidade tátil ou repetidas
infecções das vias aéreas superiores (ASTETE, GIAMPAOLI e ZIDAN, 1987).
− Trabalhadores em tratamento médico ou tomando medicação que possa
interferir na regulação da temperatura do centro do corpo devem ser excluídos
do trabalho exposto ao frio a temperaturas abaixo de -1°C;
− Trabalhos rotineiros a temperaturas inferiores a -24°C com velocidade do vento
menor que 8 km/h ou temperaturas inferiores a -18°C e velocidade do vento
superior a 8 km/h, devem ser realizados por trabalhadores com recomendação
médica que os declare aptos para tais exposições;
− Deve sofrer redução dos limites de exposição ocupacional ao frio quando os
trabalhadores estão expostos à vibração ou a substâncias tóxicas;
− Pessoas idosas, que tenham problemas circulatórios ou sejam alcoólatras,
devem ser excluídas no exame médico admissional para trabalhos em
ambientes extremamente frios.
2.5 Educação e treinamento
Fornecer as informações sobre a necessidade do uso de vestimentas
adequadas e da troca de roupas e calçados quando estiverem úmidos, molhados
ou apertados. O trabalhador na sala de repouso deve se manter quente, seco e
em movimento, realizando exercícios frequentes com os braços, as pernas e os
dedos dos pés e das mãos, para manter ativa a circulação. O trabalhador deve
ainda ser orientado para evitar nos intervalos das refeições, exercícios violentos,
como jogos coletivos, para não haver dispersão de calor excessivo, e para evitar
choques térmicos quando retornar ao trabalho (ASTETE, GIAMPAOLI e ZIDAN,
1987).
− Antes de assumir os seus postos de trabalho, todos devem ser treinados nos
procedimentos de segurança e saúde no trabalho, incluindo o seguinte
programa:
a) Procedimento adequado de reaquecimento e tratamento de primeiros
socorros;
b) Uso adequado de vestimentas;
c) Hábitos adequados de alimentação e ingestão de líquidos;
d) Reconhecimento de iminente enregelamento;
e) Reconhecimento e sinais de hipotermia iminente ou resfriamento excessivo
do corpo;
f) Práticas de trabalho seguro;
3 Referências Bibliográficas
ALI, Salim Amed. Dermatoses ocupacionais. 2. ed. São Paulo: Fundacentro, 2009. 412 p.
ASTETE, Martin Wells; GIAMPAOLI, Eduardo; ZIDAN, Leila Nadim. Riscos físicos. São Paulo: Fundacentro/SSST/MTE, 1987.
BRASIL. Portaria GM n.º 3.214, de 08 de junho de 1978. NR 9: Programa de prevenção de riscos ambientais. Diário Oficial da União. Poder Executivo. Brasília, DF, 06 jul. 1978. Disponível em:<http://acesso.mte.gov.br/data/files/FF80808148EC2E5E014961B76D3533A2/NR-09%20(atualizada%202014)%20II.pdf>. Acesso em: 03 dez. 2015.
BREVIGLIERO, Ezio; POSSEBON, José; SPINELLI, Robson. Higiene ocupacional: agentes, biológicos, químicos e físicos. 3. ed. São Paulo: Editora Senac, 2006. 437 p.
MATOS, Marcos Paiva. Exposição ocupacional ao frio. Revista Carne. São Paulo: p. 86-98, nov. 2007. Disponível em:< http://www.higieneocupacional.com.br/download/frio-paiva.pdf> Acesso em: 03 dez. 2015. SALIBA, Tuffi Messias. Curso básico de segurança e higiene ocupacional. 3. ed. São Paulo: LTr, 2010. 462 p.